Confira abaixo a íntegra do discurso de Antonio Joaquim: Nos últimos 30 dias, ouvi uma definição e uma frase que têm relação direta com o nosso 3º Encontro Nacional dos Tribunais de Contas e com as expectativas que certamente vamos criar ao debater temas relacionados à efetividade do Controle Externo no Brasil. A definição veio nas palavras do Excelentíssimo Sr. Vice-Presidente da República, Michel Temer, e diz respeito ao que os órgãos de Controle Externo devem representar para o processo democrático brasileiro. Disse ele: - "Os Tribunais de Contas significam democracia, pois atuam na atividade de controle. Sem controle não existe democracia”. O vice-presidente Michel Temer fez essa afirmação na Assembleia Geral da Organização Latino Americana e do Caribe de Entidades Fiscalizadoras Superiores – a Olacefs, que ocorreu na semana passada, em Gramado, no Rio Grande do Sul. Já a frase, do eminente governador do Estado de Minas Gerais, Antonio Anastasia, além de ser uma verdadeira pérola, também é contundente. O governador Antonio Anastasia disse essa frase ao discorrer sobre as atividades de controle e, em especial, sobre as dificuldades do controle social - durante o Encontro Nacional sobre Transparência e Controle Social, organizado pelo destacado Tribunal de Contas de Minas Gerais. Disse ele: - É fácil dizê-lo. É difícil fazê-lo. Temos, em resumo, três ícones: os Tribunais de Contas, a democracia e o controle social. É elementar que os Tribunais de Contas respondem por uma parte apenas do que se convenciona por “sistema de controle”. Assim como é fato que o significado de democracia é bem mais elástico do que se pode querer definir em uma curta frase. Mas convenhamos: tanto a frase quanto a definição são inspiradoras. E, confessemo-nos, também: tanto a frase quando a definição causam sobressaltos, dada à realidade em que vivemos e às exigências que nos são impostas. Senão, vejamos: O nosso primeiro e grande desafio é ser um órgão de fiscalização que existe e funciona em uma sociedade que nunca foi e não é educada para controlar ou ser controlada, para fiscalizar e ser fiscalizada. Temos uma sociedade que não educa para a cidadania. Não podemos fingir ignorância de que a nossa sociedade tem em suas entranhas milhões e milhões de analfabetos políticos que batem no peito dizendo que não gostam de política, que não querem saber como funciona o Estado. E, nessa alienação, temos milhões e milhões de cidadãos totalmente indiferentes, que não participam das decisões e não têm a menor ideia de como se fiscalizam os gastos públicos, o uso do dinheiro dos seus impostos. Vivemos ainda outra incoerência: temos a liberdade democrática sonhada pelos ideólogos, notadamente no aspecto político-eleitoral. Escolhemos livremente entre partidos políticos e candidatos, mas comportamo-nos como se fossem problemas alheios tudo o mais que acontece depois. É a nossa cultura sendo posta em prática: passamos "cheques em branco" para os candidatos eleitos e, no máximo, vamos exercitar depois um dos perfis mais desoladores desses tipos de sociedades, que é o de apenas criticar, sem ter muita noção sobre o que, de fato, está acontecendo, sem conhecer razoavelmente o conteúdo dos problemas. Na vida pública, no campo político, na disputa pelo poder, esse perfil também se evidencia. O homem é voluntário – e, na maioria das vezes, solitário - na sua decisão de ser candidato a um cargo público, a um posto de poder. Mas, normalmente, esse mesmo homem não demonstra nenhum entusiasmo, nem voluntarismo, nem determinação, quando tem que prestar contas de suas ações na condução de interesses públicos. Esse é um traço típico de uma cultura onde se confunde o público com o privado. Um rápido exame histórico do Brasil vai confirmar, infelizmente, que essa assertiva vem nos servindo. É nesse cenário que se discursa com facilidade sobre a importância e a efetividade dos Tribunais de Contas para a democracia. É Fácil dizê-lo. Mas é nesse flagrante contraste que ainda existe uma parcela de nossas instituições com dificuldades para alcançar um nível razoável de efetividade no Controle Externo. É difícil fazê-lo. Eis, pois, o nosso desafio. A boa notícia é que temos que enfrentá-lo, não existe alternativa. É nossa responsabilidade contribuir, decisivamente, na educação política do cidadão e atuar, afirmativamente, no estímulo ao controle social. Entendo que estamos fazendo a nossa parte. O terceiro Encontro Nacional dos Tribunais de Contas é um dos passos nessa direção, pois aqui ocorrerão importantes debates e daqui sairão sair bons produtos de recomendação aos Tribunais - como a resolução sobre auditoria para fiscalizar a aplicação da Lei de Acesso à Informação e a resolução dispondo sobre a criação da Rede de Comunicação, instância que vai nos ajudar na proposição de medidas visando uma melhor comunicação dos Tribunais com a sociedade. A efetividade do controle externo depende da qualidade das nossas auditorias e da agilidade nos julgamentos. Precisamos avaliar resultados de políticas públicas, realizar auditorias concomitantes, cumprir com rigor os prazos, ter coerência na análise dos processos e praticar justiça nos julgamentos. Nosso esforço – e eu espero que todos os presentes mergulhem nesta compreensão - é trabalhar pela consolidação do sistema nacional de controle externo ou sistema nacional de Tribunais de Contas – já que o controle externo não é atividade exclusiva das nossas instituições. É para isso que estamos aqui reunidos nesta linda cidade de Campo Grande. Devemos, antes de tudo, agradecer à hospitalidade, na pessoa do presidente do Tribunal de Contas de Mato Grosso do Sul, o conselheiro Cícero. O TCE-MS é nosso anfitrião e co-organizador, dando todo o suporte necessário. Estender os agradecimentos aos conselheiros Waldir, Marisa e Ronaldo, que integraram o grupo da coordenação do encontro, juntamente com a diretoria executiva da Atricon e do Instituto Rui Barbosa. Como iniciei citando uma frase e uma definição, vou encerrar minha manifestação nesta abertura com outra frase-definição, que gosto muito de usar em minhas palestras. - É preciso ser útil à sociedade. A utilidade do Tribunal de Contas só existe quando se exercita e executa bem o seu papel institucional de fiscal da gestão dos recursos públicos. Cumprindo bem nosso seu papel institucional, estaremos oferecendo a desejada efetividade do Controle Externo brasileiro. Estaremos, em suma, contribuindo decisivamente para a democracia. Desejo a todos um bom aproveitamento nesses três dias de reunião. Muito obrigado.