47a Reunião Anual da Sociedade Brasileira de Zootecnia Salvador, BA – UFBA, 27 a 30 de julho de 2010 ___________ Empreendedorismo e Progresso Científicos na Zootecnia Brasileira de Vanguarda UFBA Salvador, BA Perfil celular sanguíneo em touros da raça Nelore de diferentes classes de consumo alimentar residual1 Miguel Henrique de Almeida Santana2, Paulo Rossi Junior3, Rodrigo de Almeida3, Amanda Massaneira de Souza Schuntzemberger4, Ana Luiza Bachmann Schogor5, Isabel Cristina Benometti B Stieven4 1 Parte da dissertação de mestrado do primeiro autor Doutorando do Programa de Pós-Graduação Graduação em Qualidade e Produtividade Animal – FZEA/USP, Pirassununga, SP. e-mail: e [email protected] 3 Professor Adjunto do Departamento de Zootecnia - UFPR/Curitiba, PR. email: [email protected], [email protected] 4 Mestranda do CPGCV - Curitiba, PR. PR email: [email protected], [email protected] 5 Doutoranda do Programa de Pós-Graduação Graduação em Zootecnia – UEM/Maringá, PR. email: [email protected] 2 Resumo: Em função das diversas alterações metabólicas relacionadas com o consumo alimentar residual (CAR),, o presente estudo teve como objetivos correlacionar o CAR com o perfil celular sanguíneo e avaliar as possíveis diferenças das classes de CAR (alto, médio e baixo) nesse perfil em reprodutores da raça Nelore. lore. Para tanto, quarenta e seis animais com 22 ± 2 meses de idade e 409 409 ± 49 kg no início do experimento foram confinados e alimentados com a mesma dieta durante 84 dias, sendo estes pesados e coletados amostras de sangue, sangue a cada dia 21 dias, para avaliar o perfil celular sanguíneo. O CAR não foi correlacionado (P>0,05) com nenhuma das variáveis das células do sangue e não houve diferença (P>0,05) entre as classes de CAR para essas medidas. O perfil das células do sangue parecem não se alterar em animais de diferentes classes de CAR. Palavras–chave: bovinos de corte, eficiência alimentar, hemograma, leucograma Blood cell profile of Nellore bulls of different classes of residual feed intake Abstract: Due to the various metabolic changes related to the resdiual feed intake (RFI), ( the objectives of this study were to evaluate the correlation of RFI with the blood cell profile and to determine the possible different classes of RFI on these features to Nellore bulls. Therefore, forty six animals with 22 ± 2 months-old and 409 ± 49 kg at the beginning of this trial were confined and fed the same diet for 84 days, during this period were weighed and blood samples and collected every 21 days for evaluation of blood cell profiles. There weren't found significant correlations (P>0.05) among RFI and blood variables and there was no difference (P>0.05) between RFI classes for these traits.. The blood cell profile does not seem to change among animals of different RFI classes. Keywords: beef cattle, feed efficiency, hemogram, leukogram Introdução A eficiência alimentar é importante para a lucratividade dos sistemas de produção de bovinos de corte, mesmo tendo sido relegada a um segundo plano pela indústria da carne bovina, certamente pela p dificuldade de mensurar o consumo alimentar de bovinos de corte, bem como pela maior ênfase para características como pesos a diferentes idades, ganho de peso diário, circunferência escrotal, entre outras (Lanna & Almeida, 2004). Nas últimas décadas constata-se um interesse crescente no estudo para eficiência alimentar, principalmente o consumo alimentar residual (CAR). O perfil sanguíneo celular está relacionado com a forma na qual os animais reagem a fatores estressores tais como o período de confinamento, confinamento, mudanças na dieta e também manejo geral de pesagem. Alterações no perfil celular sanguíneo em bovinos selecionados para CAR foram encontrados em taurinos por Richardson et al. (1996 ( e 2002). ). Em virtude do exposto acima, este estudo teve como objetivo vo verificar a associação do CAR com variáveis hematológicas e também verificar as possíveis diferenças entre as classes de CAR para essas medidas. Material e Métodos O experimento foi conduzido em um confinamento experimental dotado de baias individuais no município de Guapirama, norte do Paraná, no período de 22 de dezembro de 2008 a 16 de março de 47a Reunião Anual da Sociedade Brasileira de Zootecnia Salvador, BA – UFBA, 27 a 30 de julho de 2010 Empreendedorismo e Progresso Científicos na Zootecnia Brasileira de Vanguarda Salvador, BA 2009. Foram utilizados 46 touros da raça Nelore, provenientes de 10 criatórios da região norte do Paraná e sul de São Paulo com aproximadamente 22 ± 2 meses de idade e 409 kg ± 49 de peso vivo. Os touros foram pesados cinco vezes nos dias 0, 21, 42, 63 e 84 do período experimental de confinamento, precedido de jejum alimentar de 16 horas. O ganho de peso diário (GPD) foi calculado por regressão linear entre o tempo de confinamento e os pesos vivos (PV) individuais obtidos nas pesagens. O consumo alimentar observado (CMSobs) foi obtido pela média da subtração da quantidade de alimento diário fornecido pela quantidade de sobras diárias (ambos ajustados para MS). O consumo de MS predito (CMSest) foi calculado pelo procedimento REG do pacote estatístico SAS (Statistical Analysis System, 1998) estimando-se as regressões do CMS diário no peso vivo metabólico (PVmédio0,75) e GPD. Utilizando a metodologia proposta por Koch et al. (1963), o CAR de cada animal foi obtido da diferença do CMSobs pelo CMSest. As estimativas de CAR foram divididas em três classes (alto, médio e baixo) sendo o desviopadrão em relação à média o critério de divisão das classes, na qual, animais com baixo CAR (mais eficientes) tinham desvio-padrão menor que -0,5, com médio CAR (mediano) tinham desvio-padrão entre -0,5 e +0,5 e alto CAR (menos eficiente) os animais que tiveram desvio-padrão acima de +0,5. Em todas as pesagens foram colhidas amostras de sangue de cada animal. Posteriormente, essas amostras foram resfriadas e utilizadas para análise de eritrograma e leucograma, determinando: contagem total de hemácias (HEMA), concentração média de hemoglobina (CMH), contagem de hemoglobinas (HGB), volume globular médio (VGM), proteína plasmática total (PPT), fibrinogênio (FBN), hematócrito (HCR), contagem de leucócitos totais (LEU), eosinófilos (EOS), basófilos (BAS), monócitos (MONO), linfócitos (LIN) e neutrófilos (NEU). Também foi calculada a razão dos neutrófilos por linfócitos (NEU/LIN). O delineamento experimental utilizado foi a correlação simples de Pearson entre o CAR e as variáveis do hemograma sendo consideradas como significativas as probabilidades inferiores a 5%. Para analisar o efeito da classe de CAR foi utilizado o teste ANOVA e as médias comparadas pelo teste de Tukey-Kramer também a 5% de significância. Todas as análises foram realizadas com o pacote estatístico SAS (Statistical Analysis System, 1998) pelo procedimento CORR e GLM, respectivamente. Resultados e Discussão Na Tabela 1 estão os resultados das correlações entre o consumo alimentar residual (CAR) com o perfil celular sanguíneo bem como as médias das variáveis do perfil celular sanguíneo para os diferentes grupos de eficiência do CAR. Tabela 1. Correlações entre consumo alimentar residual (CAR) e o perfil celular sanguíneo entre as classes de CAR para esse perfil CAR (classes)1 Variáveis rCAR Alto Médio Baixo Hematócrito (%) -0,10 37,97ª 39,59a 39,35a a a Proteína plasmática total (%) +0,15 7,00 6,83 6,91ª 0,32a 0,36ª Fibrinogênio (mg/dL) +0,12 0,38a 13,53a 13,71ª Hemoglobinas (g/100ml) -0,12 13,26a 44,62a 43,72a Volume globular médio (fL) +0,12 45,44a a a 34,25 40,00a Concent. média de hemoglobina (%) -0,04 34,99 3 a -0,18 8,51ª 8,66 8,98a Hemácias (milhões/mm ) 3 a -0,02 9631ª 8904 9395ª Leucócitos (milhares/mm ) Eosinófilos (%) +0,11 3,74ª 3,30ª 3,02ª Basófilos (%) +0,26 0,08ª 0,06ª 0,04ª Monócitos (%) -0,03 4,05ª 4,02ª 4,40ª Linfócitos (%) -0,03 60,69ª 55,71ª 58,79ª Neutrófilos (%) -0,01 31,44ª 36,92ª 33,75ª Neutrófilos/Linfócitos +0,01 0,54ª 0,70ª 0,59ª 1 letras distintas nas linhas são médias diferentes pelo teste de Tukey-Kramer (α=0,05) e diferenças P>F 0,48 0,41 0,32 0,66 0,75 0,58 0,44 0,49 0,83 0,81 0,86 0,25 0,16 0,14 47a Reunião Anual da Sociedade Brasileira de Zootecnia Salvador, BA – UFBA, 27 a 30 de julho de 2010 Empreendedorismo e Progresso Científicos na Zootecnia Brasileira de Vanguarda Salvador, BA Não foram encontradas correlações significativas (P>0,05) entre o CAR e nenhuma das variáveis hematológicas no presente estudo. Richardson et al. (2002) encontraram correlações genotípicas do CAR com perfil celular sanguíneo (LEU, HGB, HCR e LIN) em um estudo com bovinos Bos taurus, evidências essas que não foram encontradas por correlações fenotípicas no presente estudo. Apesar de não significativa, as correlações do CAR com BAS foram medianas. Esses resultados concordam com os resultados obtidos por Gomes et al. (2008) que também não verificaram diferenças significativas do perfil das células do sangue para animais de baixo ou de alto CAR. Já Richardson et al. (1996) e Richardson et al. (2002) encontraram diferenças em características sanguíneas mensuradas na progênie (LEU, HGB, HCR e LIN) proveniente de touros com valores genéticos médios divergentes para CAR. Vários estudos têm procurado correlacionar às células sanguíneas com características de interesse econômico, com o propósito de tentar encontrar marcadores fenotípicos fáceis de mensurar para uma seleção indireta. Essas mudanças encontradas por Richardson et al. (2002) no perfil hematológico para animais provenientes de touros com valor genético estimado divergente para CAR é um possível indicativo que os animais menos eficientes são mais suscetíveis às situações que promovam o estresse. Porém, para tourinhos zebuínos em crescimento confinados essas diferenças parecem não existirem. Conclusões O perfil celular sanguíneo de touros da raça Nelore parece não se alterar nas diferentes classes de eficiência alimentar medidas pelo consumo alimentar residual. Aparentemente não existe associação do CAR com as variáveis do hemograma. Literatura citada GOMES, R.C. et al. Blood cell profiles and plasma concentrations of glucose and cortisol of Nellore steers and bulls selected for low and high residual feed intake before and following a mild stressor. In: 2008 ADSA-ASAS JOINT MEETING, 2008, Indianapolis. Anais... Indianapolis, FASS, 2008. KOCH, R. et al. Efficiency of feed use in beef cattle. Journal of Animal Science, Savoy, v.22, p.486-494, 1963. LANNA, D.P.D.; ALMEIDA, R. Exigências nutricionais e melhoramento genético para eficiência alimentar: Experiências e lições para um projeto nacional. In: Reunião Anual da Sociedade Brasileira de Zootecnia, 41., 2004, Anais... Campo Grande: Sociedade Brasileira de Zootecnia, 2004. p.248-259. RICHARDSON. E.C. et al. Possible physiological indicators for net feed intake conversion efficiency. Proceedings…, Australian Society of Animal Production, v.21, p.103-106, 1996. RICHARDSON, E.C. et al. Blood cell profiles of steer progeny from parents selected for and against residual feed intake. Australian Journal of Experimental Agriculture, Collingwood, v.42, p.901-908, 2002. STATISTICAL ANALYSIS SYSTEM. SAS/STAT User’s Guide Release.7.0 Edition. Cary: SAS Institute, 1998