Anna Beatriz Zanine Koslinski, Doutoranda em Ciéncias Antropológicas – Universidad Autónoma Metropolitana (UAM-I), México, DF. Telefono: 5558044763 [email protected] Inventário Nacional de Referências Culturais do Maracatu Nação: entre desafios, acertos e tensões. Palavras chave: patrimônio imaterial, salvaguarda, cultura popular, cultura negra. O Programa Nacional do Patrimônio Imaterial (PNPI), fomentado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) no Brasil, desde princípios dos anos 2000 tem se destacado como política pública para a diversidade cultural. Desde seu início, de acordo com o website oficial do instituto1, cerca de 25 bens já foram registrados e 23 estão em processo de registro. Apesar do reconhecimento do programa, sua aplicação em diferentes contextos culturais tem revelado algumas limitações do método, ou por vezes, gerado conflitos e disputas de poder ou legitimidade entre os atores envolvidos, sejam eles pesquisadores, detentores do bem ou mesmo representantes do poder público. Converter um bem em Patrimônio Imaterial Nacional implica, segundo o IPHAN, manejar identidades culturais, promover ações de salvaguarda, inclusão social e melhoria de condições de vida de produtores e detentores do bem cultural2; consequentemente, negocia com interesses múltiplos e conflitivos. Tomando como exemplo minha experiência como supervisora do Inventário Nacional de Referências Culturais do Maracatu Nação, considerando o ponto de vista dos diversos atores envolvidos, o presente trabalho, tem por objetivo relatar o processo destacando seus desafios e logros. 1 2 www.iphan.gov.br Idem. A preocupação com questões relativas ao patrimônio imaterial no Brasil, se insere dentro de um cenário abrangente à nível mundial. A partir dos anos 90, organizações internacionais como a UNESCO passaram a apresentar preocupações relativas às culturas tradicionais que poderiam correr o risco de desaparecer, homogeneizar-se ou mesmo de serem expropriadas devido à globalização; isso porque o universo simbólico de tais culturas poderia ser cobiçado por um mercado cultural que cada vez mais valorizava aquilo que considerava exótico (Abreu, 2005). Baseando-se nessas preocupações a UNESCO cria na época um documento intitulado “Recomendações para a proteção e salvaguarda de manifestações culturais tradicionais” e o divulgou entre os países membros da organização. Já em 2003, é lançada a Convenção para a Salvaguarda do Patrimônio Cultural Imaterial, documento que formaliza e concretiza os esforços da UNESCO para a proteção dos bens de natureza intangível (Machuca, 2014). A instituição define patrimônio imaterial como “práticas, representações, expressões, conhecimentos e técnicas – junto com instrumentos, objetos, artefatos e lugares culturais que lhes são associados – que as comunidades, os grupos e em alguns casos, os indivíduos reconhecem como parte integrante de seu patrimônio cultural” 3. É preciso salientar que o surgimento da preocupação com o patrimônio imaterial foi importante no sentido de diminuir a desigualdade existente na lista de patrimônios da humanidade reconhecidos pela UNESCO já que a maioria dos bens materiais são de origem europeia (Mantecón, 2010; Nivón, 2010). Em se pensando nos patrimônios afros, tal medida foi ainda mais relevante já que diferentemente dos patrimônios pré-hispânicos, que ainda possuem representatividade à nível material, o legado da cultura afro se trata majoritariamente de artes performáticas (Carvalho, 2005). Ainda assim é preciso lembrar que apesar de todos esses esforços, a tentativa unificadora da patrimonialização a nível mundial da UNESCO não resolve conflitos interculturais (Gárcia Canclini, 2012, p.80); além disso, é preciso repensar a eficácia das noções de patrimônio tanto nacional como da humanidade dentro do atual contexto de interdependência global e circulação internacional de cultura (Idem). 3 http://portal.iphan.gov.br/bcrE/pages/conPatrimonioE.jsf?tipoInformacao=1 Antes do surgimento da convenção da UNESCO, o Brasil já articulava a criação de um programa com estes objetivos, então o Ministério da Cultura solicita ao antropólogo Antônio Augusto Arantes que formulasse uma metodologia de inventário voltada ao patrimônio cultural imaterial, e assim graças ao seu trabalho e de outros intelectuais engajados, no dia 04 de agosto de 2000 é promulgado o Decreto 3551 que institui o “registro de Bens Culturais de Natureza Imaterial” e assim cria-se o Programa Nacional do Patrimônio Imaterial (PNPI) 4 (Abreu, 2005). Segundo o IPHAN o programa “viabiliza projetos de identificação, reconhecimento, salvaguarda e promoção da dimensão imaterial do patrimônio cultural, além de ser um programa de fomento que busca estabelecer parcerias com instituições dos governos federal, estaduais e municipais, ONGs, agências de desenvolvimento e organizações privadas ligadas à cultura e à pesquisa” 5. Em poucas palavras, o programa objetiva salvaguardar bens culturais imateriais situados no Brasil, porém para tal, o bem deve ser registrado em um dos livros de registro do IPHAN e antes disso recomenda-se que o bem seja inventariado. Somente após esse processo o plano de salvaguarda entra em ação. Como já mencionado, o IPHAN possui uma metodologia específica para inventariar os bens imateriais, denominada Inventário Nacional de Referências Culturais (INRC). O inventário trata-se de um instrumento para conhecer e documentar um bem cultural, além de identificar possíveis problemas e soluções para a salvaguarda. Resumindo, para formular ações que visem à proteção, continuidade e sustentabilidade do bem, é preciso conhecê-lo detalhadamente. Por essa razão, o INRC prevê o preenchimento de fichas de Sítio, Localidade, Lugares, Edificações, Formas de Expressão, Celebrações, Ofícios e Modos de Fazer, referentes ao bem, além de fichas anexas com levantamento de material bibliográfico, registros audiovisuais. Além do preenchimento dessas fichas, é preciso documentar o bem por meio de registros audiovisuais de suas atividades e celebrações, entrevistas e documentário de caráter etnográfico e por fim um dossiê que relate o processo todo de inventário, questões pertinentes ao universo 4 5 O Brasil viria a ratificar a convenção proposta pela UNESCO em 2006. www.iphan.gov.br do bem a ser registrado além de recomendações para sua salvaguarda. Seguindo as recomendações da UNESCO, é indicada a participação direta de detentores do bem nos processos de inventário e planejamento da salvaguarda. Se o material entregue for aprovado pelo IPHAN, o bem cultural é registrado em um dos livros divididos nas categorias de Saberes, Celebrações, Formas de Expressão ou Lugares6. Como se pode perceber, o processo de inventário, registro e salvaguarda de um patrimônio imaterial no Brasil é bem extenso, e com os maracatus nação pernambucanos não foi diferente; porém antes de explanar acerca do INRC dos maracatus, é preciso defini-los e contextualizá-los. Maracatu nação ou “maracatu de baque virado” é uma manifestação da cultura popular e negra brasileira com forte presença no estado de Pernambuco. Encontrar uma descrição exata do que é o maracatu-nação se torna tarefa difícil, tamanha a complexidade do termo, mas em linhas bem gerais pode-se descrever o maracatu-nação como sendo uma manifestação cultural caracterizada por um cortejo real composto por rei, rainha, príncipes, princesas, figuras da nobreza, vassalos, baianas, dentre outras personagens, que executam uma dança específica, acompanhado por uma orquestra percussiva, composta por instrumentos como alfaias (tambores), caixas e taróis, gonguê, mineiro ou ganzá e por vezes, agbês e atabaques. As nações de maracatu são organizadas na forma de agremiações carnavalescas, localizadas em comunidades afrodescendentes de periferia (também conhecidas como favelas) da cidade do Recife e arredores, possuindo como lideranças na maioria dos casos pessoas de uma mesma família, contando também com a participação das pessoas residentes da comunidade dentro do batuque e do cortejo. De acordo com os maracatuzeiros 7, só são autênticos os maracatus nação que possuem vínculo de caráter religioso com os terreiros do xangô (nome da religião de culto aos orixás em Pernambuco) ou 6 www.iphan.gov.br Modo como são chamadas as pessoas que fazem maracatu (batuqueiros, bailarinos, costureiros, artesãos, etc.) 7 jurema (religião que cultua mestres, caboclos, exus e pomba-giras) (Motta, 1997), onde prestam algumas obrigações. (Koslinski, 2012) O período do carnaval e o mês que o antecede são quando os maracatus nação possuem maior atividade. Nesses meses, além dos ensaios nas suas comunidades (estes iniciam-se geralmente em setembro e se encerram com o fim do carnaval), os grupos realizam apresentações em palcos e desfiles nas ruas, geralmente contratados pelo poder público, como parte das atrações oferecidas pela cidade devido ao festejo mais popular do Brasil. Apesar de dividir a atenção com outras agremiações provenientes das culturas populares, ou mesmo com artistas de renome nacional e internacional que também se apresentam no período pré e carnavalesco, pode se afirmar que os maracatus são umas das principais atrações do carnaval do Recife, já que são protagonistas da Abertura do Carnaval, celebração que concentra milhares de turistas e foliões (Idem). Entretanto, tal protagonismo não resulta em boas condições estruturais para as nações de maracatu. A maioria dos grupos encontra-se em condições miseráveis, com baixo acesso à cidadania. A subvenção carnavalesca e demais cachês oferecidos pelo poder público, além de serem pagos em diversas parcelas e com atrasos, mal cobre os gastos para se “colocar o maracatu na rua”, ou seja, confeccionar e manter instrumentos, fantasias, adereços dentre outras demandas como transporte, alimentação etc. Além disso, salienta-se que o cachê pago aos maracatus que participam do espetáculo de abertura, é infinitamente inferior ao cachê pago à artistas de renome nacional que também são convidados para o evento (Carvalho, 2010). Por último, é preciso reiterar que, apesar do descaso dos organizadores do carnaval, os maracatus nação são peça chave na construção de uma identidade pernambucana num modelo de carnaval que se diferencia de carnavais como o de Salvador, ou do Rio de Janeiro, aos quais era associado antes da implementação do modelo de “Carnaval Multicultural da Cidade do Recife”, criado em 2002. (Koslinski, 2012) A importância dos maracatus nação para a identidade pernambucana, também foi um dos motivadores do pedido realizado pelo então governador Eduardo Campos, ao IPHAN em 2007, solicitando o registro não só do maracatu nação, bem como do maracatu de orquestra, caboclinho e cavalo marinho como Patrimônio Cultural do Brasil. Apesar de o pedido ter sido realizado em 2007, foi somente em 2011 que a o edital para seleção das equipes de pesquisa que desejassem inventariar os bens foi lançado pela FUNDARPE (Fundação do Patrimônio Histórico e Artístico de Pernambuco), instituição que intermediaria a relação das equipes com o IPHAN (Guillen, 2012) . Deste modo, com a aprovação da equipe da qual fiz parte, o INRC dos maracatus começaria em novembro de 2011, e teria o material entregue à FUNDARPE em setembro de 2012. Antes de concorrer ao edital, nossa equipe de pesquisa já havia conseguido a anuência dos maracatuzeiros participantes da AMANPE (Associação dos Maracatus Nação de Pernambuco) e isso sem dúvida colaborou muito para a nossa aprovação, já que tanto o IPHAN como a UNESCO recomendam que os detentores do bem estejam de acordo com a realização do inventário. A AMANPE existe desde 2009 e foi fundada para que os maracatus nação juntos pudessem lutar pelos seus direitos e interesses em comum, bem como para que pudessem assessorar-se mutuamente em questões de cunho burocrático, como cidadania jurídica, recebimento de subvenções dentre outros assuntos. Dentre os cerca de 27 8 maracatus existentes, apenas dois não estão filiados à associação, ainda assim, esses grupos também foram inventariados. Apesar da anuência prévia da associação, uma das primeiras atividades da equipe de pesquisa foi a realização de uma reunião com os maracatuzeiros para explicar-lhes como funcionaria a dinâmica do inventário, e também para esclarecer qualquer tipo de dúvida relacionada ao processo. Também fizemos questão de explicar para que servia o INRC, e quais seriam os benefícios da obtenção do 8 Para o INRC dos maracatus nação foram inventariados no total 27 grupos, entretanto, salienta-se que esse número pode variar de ano a ano devido à nações que surgem ou que encerram suas atividades pelos mais diversos motivos, destacando-se o da morte do principal articulador. Os grupos inventariados foram os maracatus nação: Almirante do Forte, Aurora Africana, Axé da Lua, Cambinda Estrela, Cambinda Africano, Centro Grande Leão Coroado, Elefante, Encanto da Alegria, Encanto do Pina, Encanto do Dendê, Estrela Brilhante do Recife, Estrela Brilhante de Igarassu, Estrela Dalva, Estrela de Olinda, Gato Preto, Leão da Campina, Leão Coroado, Linda Flor, Nação de Luanda, Oxum Mirim, Porto Rico, Raízes de Pai Adão, Rosa Vermelha, Sol Nascente, Tigre e Tupinambá. registro como patrimônio imaterial por parte dos maracatus nação. O esforço em trabalhar num diálogo constante com os maracatuzeiros numa perspectiva de construção conjunta esteve presente em todo o processo, porém não foi livre de conflitos. A maioria dos maracatuzeiros, mesmo havendo assinado a anuência, pareciam indiferentes à nossa fala. Acredito que diante da complexidade das políticas culturais no Brasil, e do histórico de dificuldades que os maracatuzeiros e outros grupos representantes das culturas populares enfrentaram em sua relação com os poderes públicos, tal postura não foi de todo uma surpresa para equipe; toda essa frieza por parte deles nos fez refletir também sobre os significados de se obter um título de patrimônio imaterial. De que adiantaria impor esse título a um grupo social que até então não via sentido naquilo tudo? Nesse contexto, como concretizar a recomendação de que os detentores do bem se apropriassem e fossem protagonistas de seu processo de patrimonialização e salvaguarda? Era preciso se tomar o cuidado para que o título não resultasse em algo meramente figurativo, sem gerar autonomia e acesso à cidadania aos grupos envolvidos. O caso chama a atenção também para as diferenças de um pedido de registro feito desde dentro, ou desde fora. No caso do jongo do sudeste por exemplo9, o pedido foi feito pelas comunidades jongueiras, assim que já havia entre eles uma predisposição a se engajarem e se apropriarem de todo o processo. O registro e salvaguarda do jongo funcionou também para fortalecer e aprimorar ações que já existiam entre as comunidades, não conferindo uma forma de política que somente instaurou novas práticas. Já no caso do samba de roda do Recôncavo Baiano, o pedido foi feito pelo governo, assim que o mesmo se configurou uma novidade para a comunidade de sambistas que, além de tudo, andava bem desarticulada. Por esta razão, o desafio dos intelectuais e gestores do processo de patrimonialização do samba de roda foi muito grande, no sentido de evitar que as decisões fossem tomadas e impostas desde acima (Sandroni, 2010). Felizmente, apesar dos conflitos e disputas de poder inerentes a qualquer processo político, as comunidades puderam se organizar e hoje são os gestores 9http://www.pontaojongo.uff.br/ de sua salvaguarda10. No caso dos maracatus nação, apesar do pedido ter sido feito desde fora, independentemente das expectativas e intenções do governo estadual ao solicitar o registro, é necessário engajar os maracatuzeiros na causa e direcionar ações de salvaguarda que fomentem a autonomia e melhoria de condições de vida para as comunidades detentoras do bem. Outras atividades que marcaram o início do processo de inventário foi a delimitação do sítio e localidades e o levantamento de material bibliográfico e de registros audiovisuais sobre o bem, já existentes. Para isso a equipe recorreu à museus, bibliotecas e arquivos públicos. Este início também foi marcado por inúmeras reuniões da equipe de pesquisa entre si11, e também com a FUNDARPE, para estruturar toda a metodologia que seguiríamos. As fichas do INRC são bastante extensas, e nem sempre os campos a serem preenchidos dentro delas, faziam sentido para a realidade dos maracatus nação. Ao mesmo tempo, haviam características presentes nos maracatus consideradas de extrema relevância para constar no inventário, mas que não possuíam espaço nas fichas onde poderiam adequar-se. Nessas reuniões também definimos os bens presentes no universo dos maracatus que seriam inventariados, as categorias onde eles se encaixariam, os roteiros de entrevistas que dessem conta de fornecer as informações suficientes para o preenchimento das fichas. A partir de janeiro de 2012 iniciamos a realização de entrevistas, paralelamente ao registro de ensaios, apresentações e demais atividades relacionadas aos maracatus. Como se iniciava o período pré-carnavalesco, havia muito que registrar pois como já foi mencionado, se trata do período onde os maracatus possuem maior atividade. A equipe registrou não só os eventos realizados no centro da cidade, mas também os ensaios realizados nas comunidades que sediavam os grupos. Esses registros foram muito importantes para constatar a difícil situação que se encontravam a maioria dos grupos, que 10 http://www.unesco.org/new/pt/brasilia/culture/world-heritage/intangible-cultural-heritage-listbrazil/samba-de-roda-do-reconcavo-baiano/ 11 As reuniões da equipe de pesquisa eram realizadas nas dependências do Laboratório de História Oral (LAHOI) da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). A parceria com a universidade foi fundamental para a realização do inventário, devido ao apoio logístico e acesso à estrutura do laboratório. possuíam sedes em condições precárias, com pouco espaço para alojar instrumentos, fantasias e adereços. Além disso, a maioria das sedes era também residência de famílias, ou seja, poucos eram os grupos que possuíam um espaço exclusivo para o maracatu. Os ensaios quase sempre eram realizados na rua em frente à sede. Após o término do carnaval, que em 2012 ocorreu no mês de fevereiro, seguimos com as atividades de entrevistas e preenchimento de fichas. Tínhamos seis meses de trabalho pela frente, mas diante da quantidade de dados que colheríamos, o tempo era muito curto. Na verdade, se não fosse pela familiaridade que a equipe de pesquisa já possuía com o bem e com a metodologia do INRC, o cumprimento do prazo seria praticamente impossível, ou não entregaríamos um material com qualidade satisfatória (Guillen, 2012). Como já foi mencionado, o preenchimento das fichas é algo um tanto complexo, a metodologia criada pelo IPHAN ainda é recente e existem poucos pesquisadores no Brasil preparados para capacitar outros pesquisadores no seu preenchimento (Carvalho, A.P, 2010). A criação do INRC abriu novas oportunidades para o trabalho dos antropólogos no Brasil, já que ele é indicado como profissional com legitimidade para orientar o processo, porém ainda há muito que avançar na compreensão e aprimoramento do método. As reuniões que a equipe teve com representantes do IPHAN, da FUNDARPE e entre si mesma, não seriam o suficiente para capacitar os pesquisadores e auxiliares. Entretanto, a maioria dos pesquisadores desse inventário, também participaram de dois projetos prévios, um deles utilizando o INRC como parte da metodologia. Entre os anos de 2010 e 2011, foram realizados com o apoio do FUNCULTURA e coordenação dos historiadores Isabel Guillen e Ivaldo Marciano de França Lima os projetos “História e Memória dos Maracatus Nação de Pernambuco” e “Inventário Sonoro dos Maracatus Nação de Pernambuco”. O primeiro projeto tinha como objetivo “colher depoimentos de maracatuzeiros e maracatuzeiras que fazem e fizeram tão importante manifestação cultural pernambucana, importantíssima na definição de identidades” 12 e o segundo buscava realizar um inventário da música dos maracatus, através da gravação de toadas de cada grupo em seus locais de ensaio por meio de um estúdio móvel e do preenchimento das fichas do INRC que tivessem relação com o seu universo sonoro, além de se ter colocado como uma ação de salvaguarda e preservação da diversidade musical existente entre os grupos de maracatu nação 13. As dificuldades para preencher as fichas nesse primeiro contato foram muito grandes, mas serviram de exercício e aprendizado para o que viria a ser o futuro inventário completo dos maracatus. Ainda em relação ao preenchimento das fichas, foi necessário decidir os critérios para realiza-lo, como padronizar a linguagem, já que distintos pesquisadores preencheriam um mesmo tipo de ficha, além do roteiro que guiaria as entrevistas. Cada ficha presente no manual do INRC é precedida de um questionário que tem por finalidade orientar o roteiro de entrevista que auxiliará na obtenção de informações para o preenchimento da mesma. Entretanto, no caso dos INRC do maracatus nação, o tempo disponível não era suficiente para aplicar os questionários tal qual estavam no manual. O que fizemos foi criar um questionário geral para ser aplicado aos representantes dos maracatus, questionário este que serviria para o preenchimento das fichas de forma de expressão de cada grupo além de outras fichas que unissem material de distintos informantes, acrescentando outras perguntas dependendo da área em que o representante pudesse auxiliar no conhecimento (costura, música, confecção de instrumentos, administração etc.). Havia ainda o problema de como abranger dentro do inventário, dimensões e questões relevantes dentro do universo dos maracatus que não tinham espaço nas fichas. Para isso, decidimos abrir espaço para a discussão de tais questões dentro do dossiê a ser entregue. Nele, pudemos expor com mais autonomia e liberdade questões acerca da relação dos maracatus com o mercado, religião, 12 13 http://www.historiamaracatusnacao.com/p/apresentacao.html http://inventariomaracatus.blogspot.mx/p/apresentacao.html gênero, tradição, salvaguarda, dentre outras dimensões que não poderiam ser ignoradas dentro do projeto. Além dos desafios relacionados ao curto tempo e ao preenchimento das fichas, também precisamos lidar com a desconfiança de alguns maracatuzeiros. Muitos deles já tiveram de se relacionar com pesquisadores representantes da academia ou do poder público em outras ocasiões e não obtiveram boas experiências. Esses ‘“traumas” fizeram com que alguns deles associassem nossa equipe de pesquisa com esses eventos anteriores. Se pensarmos no processo histórico de expropriação, e exploração a que a cultura popular vem sendo submetida desde que despertou o interesse de pesquisadores e do mercado cultural (Carvalho, 2005), tal desconfiança é justificada e construir novas relações com os representantes dessas culturas torna-se um desafio do qual não devemos esquivar-nos. Ademais, a presença de alguns maracatuzeiros pertencentes a grupos distintos dos pesquisados dentro da equipe de pesquisa também gerou desconfiança devido a rivalidades existentes entre os maracatus. As rivalidades e conflitos entre as diferentes nações de maracatu são históricos e tem a ver não só com os concursos carnavalescos como também com diferenças existentes na identidade, maneira de gerir os grupos, na compreensão de seu universo simbólico e também em relação à inserção no mercado cultural. Nesse sentido reforça-se que a criação da AMANPE está sendo fundamental não só no processo de empoderamento dos grupos em relação aos seus direitos como agremiação carnavalesca e representantes da cultura popular, como também no sentido de fazer com que os grupos administrem melhor seus conflitos, deixando-os de lado no momento de luta por um bem comum. O trabalho coletivo é importante para que os benefícios que antes eram destinados aos maracatus com melhores condições de dialogar e se inserir nas esferas das políticas e produção cultural, possam alcançar a totalidade dos grupos. Infelizmente não foi possível contemplar maracatuzeiros de cada grupo dentro da equipe. Incluir detentores do bem dentro do processo de inventário é uma recomendação não só do IPHAN como também da própria UNESCO, entretanto a realidade com a qual a equipe se deparou dificultou o cumprimento total dessa demanda. Mesmo a UNESCO reconhece a dificuldade em cumprir tal critério (Cendejas, 2014), portanto os empecilhos não se tratam de uma particularidade do contexto dos maracatus Primeiramente, era exigido um nível acadêmico mínimo para ser pesquisador do INRC, nesse caso, mestre nas áreas de História, Antropologia, Etnomusicologia ou áreas afins. Devido ao contexto sócio cultural no qual se encontram, e às dificuldades que o Brasil apresenta na área da educação, a quantidade de maracatuzeiros que consegue acessar o ensino superior é mínima, e uma pós-graduação, menor ainda. Além disso o tempo de trabalho que deveriam dedicar ao projeto não permitiria que eles o conciliassem com seus trabalhos originais, e o valor da bolsa paga aos pesquisadores e auxiliares de pesquisa não era suficiente para o sustento deles e de seus familiares. Ainda assim pudemos contemplar alguns maracatuzeiros como pesquisadores, auxiliares de pesquisa ou na área de produção. Foram eles Ivaldo Marciano de França Lima, então mestre do maracatu Cambinda Estrela, doutor em História, atuando como pesquisador, Jamesson Florentino, ex-mestre do maracatu Leão da Campina, pedagogo e Fábio Sotero, presidente do maracatu Aurora Africana, estudante de Dança na produção, Roberta Lúcia da Silva, representante do maracatu Cambinda Estrela e Walter de França Filho, representante do maracatu Estrela Brilhante do Recife como auxiliares de pesquisa. Saliento que a participação desses maracatuzeiros foi de grande contribuição para o inventário, no sentido de que contávamos com representantes do bem cultural dentro das reuniões, que nos auxiliavam na tomada de decisões e no diálogo com outros maracatuzeiros, bem como na compreensão do universo dos maracatus nação. Reitero ainda que a participação dos maracatuzeiros representou um aprendizado para ambos os lados (maracatuzeiros e demais pesquisadores) e foi um passo importante para seu empoderamento e apropriação das políticas públicas que beneficiam os patrimônios imateriais no Brasil. O contexto também traz a tona a importância de que as ações de salvaguarda também se preocupem em fornecer condições para que esse grupo social historicamente excluído possa também obter acesso pleno à educação de nível superior, tendo assim maiores possibilidades de protagonismo não só nas questões referentes ao bem registrado como também em outras esferas de suas vidas. Apesar da consciência da polissemia e permanente construção do conceito de salvaguarda14, havia uma preocupação por parte dos pesquisadores do INRC de que o conceito pudesse ser debatido entre os maracatuzeiros, e numa tentativa de ampliar as possibilidades desse campo, concretizando um diálogo horizontal e construção coletiva, realizamos em agosto de 2012 um seminário sobre salvaguarda nas dependências da Universidade Federal de Pernambuco. Nele estiveram presentes os maracatuzeiros, representantes da equipe do inventário, do IPHAN, FUNDARPE, além de representantes de outros bens já registrados e salvaguardados como o Jongo do Sudeste e o Samba de Roda do Recôncavo Baiano. O seminário foi composto de uma série de mesas redondas e também de grupos de trabalho onde os maracatuzeiros, após haverem assistido às discussões acerca do significado e possibilidades de salvaguarda, poderiam trocar experiências e colocar suas propostas para o maracatu nação. Assim como apontado por Elaine Monteiro e Mônica Pereira do Sacramento, em artigo que relata o processo da construção de ações para a salvaguarda do jongo, a equipe do INRC dos maracatus também estava preocupada com um “fazer com” e não um “fazer para” os maracatuzeiros e o seminário representou uma ação exitosa nesse âmbito. Após o fim dos GTs, as propostas foram reunidas e discutidas entre todos os maracatuzeiros. Durante as entrevistas que foram realizadas entre janeiro e julho de 2012, percebemos que a ideia de salvaguarda apresentada pela maioria dos maracatuzeiros estava muito relacionada ao mercado cultural. Dentre as 14 Ver Monteiro & Sacramento disponível em: http://www.pontaojongo.uff.br/sites/default/files/upload/pontao_de_cultura_de_bem_registrado_e_s alvaguarda_de_patrimonio.pdf propostas mais aclamadas, estava o pedido de aumento de contratos para apresentações e melhores cachês. O tema do mercado cultural é um tanto delicado, devendo-se tomar o cuidado com possíveis juízos de valor relacionados à sua influência sobre as culturas populares. Os maracatuzeiros, bem como os representantes de outras manifestações da cultura popular, não compõem grupos isolados, portanto compartilham com os demais cidadãos anseios não só por uma vida digna como também por bens de consumo, dentre outras ambições. Desse modo, seu desejo de inserir-se no mercado cultural é legítimo, não devendo ser ignorado ou reprimido. Assim como existe a preocupação com as possíveis imposições do mercado, é preciso refletir também sobre os riscos de uma possível imposição do comunitário. Tal atitude configuraria uma discriminação em relação ao protagonismo dos maracatuzeiros em suas decisões, além de uma postura ingênua em relação à realidade mais ampla nas quais se inserem as culturas populares, suas dinâmicas e ressignificações. Entretanto, apesar das preocupações relativas a qualquer tipo de imposição, é preciso estar atento para as diferentes percepções e interpretações existentes na recepção de um título de Patrimônio Cultural Imaterial, principalmente para não fazer com que os usos comerciais e turísticos do patrimônio distorçam seu caráter comunitário (que sim, existe) e beneficiem produtores e empresários ao invés dos detentores do bem. Na América latina não são poucos os estudiosos que já demonstraram tal preocupação. (Cendejas, 2014; García Canclini, 2012; Chaves, Montenegro & Zambrano, 2010; Machuca,2014; Mantecón 2010; Martín Barbero, 2009; Nivón, 2010). Diante do exposto, ressalta-se que nos âmbitos de ações de salvaguarda existe o risco de que se salvaguarde o bem no sentido de sua forma de expressão, e que se esqueça do mais importante que é a salvaguarda das pessoas que fazem o bem. É preciso estar atento para que a salvaguarda não ignore as disputas e dimensões de poder (García Canclini, 2012). Nesse sentido por meio dessas políticas é preciso garantir direitos sociais e culturais que diminuam as desigualdades nas quais os detentores do bem se inserem e condições para que eles possam dar continuidade à sua cultura de forma digna15. Após o seminário as propostas se expandiram; sendo assim foram propostas a construção de um museu para os maracatus que abrigasse além de exposições e documentos referentes à memória dos maracatus, atividades culturais; cursos de capacitação em produção cultural e audiovisual, condições para compra e reformas de sedes e um calendário fixo de apresentações garantido pelo poder público. Com o seminário foi possível retomar, sem imposições ou juízos de valor, a preocupação não só com o mercado cultural, como também com práticas mais comunitárias entre os maracatus. Por fim é importante mencionar os conflitos existentes entre os maracatus nação e os grupos percussivos pernambucanos. Diferente dos primeiros, os grupos percussivos são compostos por jovens, brancos e universitários em sua maioria, que se reúnem na região central do Recife ou Olinda nos fins de semana para tocar o ritmo e executar a dança dos maracatus. Dentro do estado é impossível não perceber a disputa existente entre as duas categorias de grupo dentro do mercado cultural, já que os grupos percussivos também são contratados para realizar apresentações, bem como movimentam um mercado de oficinas, mercado este que poderia beneficiar os maracatus nação. No processo do INRC, surgiu uma polêmica a partir do momento que notamos que alguns grupos percussivos, mesmo que não reconhecidos pelos maracatus nação como sendo maracatus autênticos, reivindicavam tal identidade para si. Se tais grupos fossem contemplados dentro do inventário, eles também teriam direito às políticas de salvaguarda, mesmo apresentando melhores condições estruturais para a realização de suas atividades. O surgimento de tais grupos é, dentre outras razões, consequência desse mercado cultural que nos últimos anos tem valorizado as formas de expressão do maracatu nação; 15 Ver: http://www.pontaojongo.uff.br/sites/default/files/upload/pontao_de_cultura_de_bem_registrado_e_s alvaguarda_de_patrimonio.pdf lembremos que a UNESCO desde a década de 1990 mostrou-se preocupada com as consequências do mercado que rodea os bens de natureza imaterial, e em sua convenção salienta a importância de políticas patrimoniais que possam proteger esses bens da influência mercantil de caráter negativo. A equipe que inventariou os maracatus nação optou por não inventariar tais grupos, porém entrevistamos alguns representantes para fundamentar nossa escolha, apresentando os resultados dessas entrevistas numa ficha anexa e nos conteúdos do dossiê. Intelectuais como Regina Abreu (2005) já salientaram sobre o poder do antropólogo em selecionar e definir os bens que serão registrados e o risco de hierarquiza-los; como pesquisadores que tentam auxiliar na construção de autonomia para os grupos tradicionais, não poderíamos permitir que as desigualdades e exclusão à que estão submetidos esses grupos na sociedade se reproduzissem em seu INRC. A preocupação com a desigualdade foi a razão pela qual também decidimos registrar, entrevistar e preencher fichas de forma de expressão para cada uma das nações de maracatus existentes. Entre os maracatus nação existe uma disparidade evidente entre os grandes grupos, que possuem melhores condições estruturais, divulgação e inserção em projetos culturais e no mercado e grupos menores que sobrevivem apesar das enormes dificuldades que enfrentam. Durante o inventário buscamos romper tais hierarquias sendo que os grupos que não foram contemplados com fichas próprias tiveram tal destino devido à falta de conteúdo devido ao encerramento parcial ou total de suas atividades (Elefante, Sol Nascente, Linda Flor) por dificuldades na relação com as lideranças do grupo (Cambinda Africano) ou mesmo pelo caráter muito recente do grupo, que também impossibilita o preenchimento de uma ficha completa (Estrela de Olinda, Lira do Morro da Conceição). Ainda assim as lideranças desses grupos foram entrevistadas, tiveram suas atividades (quando existentes) registradas e ficha preenchida nos campos anexos do INRC. As desigualdades existentes entre os maracatus nação e entre eles e os grupos percussivos, é resultado de uma complexa rede que envolve mercado e produtores culturais, turistas, jovens de classe média e poder público. Diante dessa realidade, é preciso repensar a noção de autonomia que a comunidade detentora do bem pode ter para se definir como patrimônio imaterial, já que existe uma interdependência dessas dimensões; como salienta Sandroni (2010) é preciso estar atento à ampla rede de mediações por meio da qual a comunidade se fortalece. É preciso tomar o cuidado também de diferenciar a autonomia que os grupos possuem em seus processos organizativos internos versus a autonomia diante da compreensão e participação de editais vinculados à produção cultural, redação de projetos e captação de recursos. A geração de uma autonomia mais abrangente se trata de um longo processo de aprendizagem16. Paralelamente à preocupação da a UNESCO, segundo a qual a globalização coloca os patrimônios imateriais em risco, existem intelectuais que observam dimensões positivas do fenômeno. Segundo Eduardo Nivón e Ana Rosas Mantecón (2010), a globalização exerceu papel fundamental no contexto da gestão dos patrimônios “reconociendo sus potencialidades económicas y como factor de desarrollo con la consiguiente multiplicación de los agentes involucrados y el redimensionamiento de sus ámbitos de negociación e influencia” (2010, p. 9). Outros intelectuais como Jesús Martín Barbero (2009) acrescentam ainda que na América Latina houve uma renovação do patrimônio, ou seja, uma reconversão em recurso econômico e em espaço de articulação produtiva do local com o global, enfatizando que a diversidade cultural implica o deslocamento do protagonismo do Estado para o cidadão. Acredito no entanto que cabe ao Estado, colaborar para o empoderamento do cidadão. No dia 03 de dezembro de 2014 o maracatu nação teve seu registro aprovado pelo IPHAN em Brasília, contando com a presença do presidente da AMANPE a articulador do maracatu Aurora Africana, Fábio Sotero. Já a cerimônia que entregou o título de Patrimônio Cultural Imaterial foi realizada no Recife no dia 18 de agosto de 2015, sendo também Fábio Sotero o escolhido para representar 16Ver: http://www.pontaojongo.uff.br/sites/default/files/upload/pontao_de_cultura_de_bem_registrado_e_s alvaguarda_de_patrimonio.pdf os maracatus nação. Em entrevista ao Portal Cultura PE o maracatuzeiro expressa a satisfação pela recepção do título por parte dos maracatus e também se mostra orgulhoso por haver participado do projeto que inventariou o bem. Por fim ele diz acreditar que com a concretização do registro, os maracatus conquistam mais respeito e oportunidades, principalmente os grupos menores. Não existem garantias de que as condições obtidas pelas diferentes nações de maracatu daqui por diante serão mais igualitárias, na verdade, para que tal premissa seja real será necessária muita colaboração e diálogo entre os grupos tradicionais. Entretanto, acredito que após todo o processo do INRC, os maracatus nação se fortaleceram politicamente, e já possuem muitas ferramentas que facilitam sua articulação entre si, o mercado e os poderes públicos. Fica então o desejo de que sua salvaguarda possa trazer melhoria para esses grupos e que possa ser gerida de maneira autônoma pelos detentores do bem e servir de exemplo para outros patrimônios imateriais que ainda terão seus registros e salvaguardas solicitados. Bibliografia Abreu, Regina (2005), “Quando o campo é o patrimônio: notas sobre a participação dos antropólogos nas questões do patrimônio”. En Revista Sociedade e Cultura 2 (8),Departamento de Ciências Sociais, FCHF/UFG, Goiânia, pp. 37-52. Carvalho, Ana Paula Comin de (2010), “O que um inventário de referências culturais poderá dizer? Os desafios da atuação dos antropólogos nos processos de mapeamento, identificação e registro do patrimônio cultural das populações afro-brasileiras”. En Campos, 11(1), Editora UFPR, Curitiba, pp. 31 – 46. Carvalho, José Jorge de (2005), “Las Culturas Afroamericanas en Iberoamérica: lo negociable y lo innegociable”. En García Caclini, Néstor (coordinador académico), Culturas de Iberoamérica: diagnósticos y propuestas para su desarrollo, OEI, Santillana, Madrid, pp. 97- 130. ______ (2010), “Espetacularização e Canibalização das Culturas Populares na América Latina”. En Revista Anthropológicas Ano 14, v.21 (1) Programa de Pós Graduação em Antropologia/UFPE, Edições Bagaço/Editora da UFPE, Recife, pp. 39-76. Cendejas, Alfonso Barquín (2014), “Los dilemas de la salvaguardia: una introducción”. En Diário de Campo año 1 num 2 abril-junio de 2014, Instituto Nacional de Antropología e História (INAH), Tercera época, México, pp. 4-6. Chaves, Margarita, Montenegro, Mauricio, Zambrano, Marta (2010), “Mercado, Consumo y Patrimonialización Cultural”. En Revista Colombiana de Antropologia, Vol 46 (I), ICANH, Bogotá, pp. 7-26. García Canclini, Néstor (2012), A Sociedade Sem Relato, EDUSP, São Paulo, 264 pp . Guillen, Isabel Cristina Martins (2012), “Inventariando experiências entre os maracatus nação em Pernambuco”. En Anais Eletrônico da 28ª Reunião Brasileira de Antropologia (RBA), São Paulo, pp. 1-12. Obra colectiva (2000), Inventário Nacional de Referências Culturais: manual de aplicação, Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, Brasília, 156 pp. Koslinski, Anna Beatriz Zanine (2012), “Estratégias e Ressignificações na Espetacularização dos Maracatus Nação Pernambucanos”. Em Anais Eletrônico da 28ª Reunião Brasileira de Antropologia (RBA), São Paulo, pp. 1-21. Machuca, Jesús Antonio (2014), “Evaluación del sector cultura de la UNESCO: ¿un nuevo enfoque de la Convención para la Salvaguardia del Patrimonio Cultural Inmaterial?” En Diário de Campo año 1 num 2 abril-junio de 2014, Instituto Nacional de Antropología e História (INAH), Tercera época, México, pp.7-12 Mantecón, Ana Rosas (2010), “El giro hacia el turismo cultural: participación comunitaria y desarrollo sustentable”. En Nivón, Eduardo, Mantecón, Ana Rosas (2010) Gestionar el patrimonio en tiempos de globalización, Universidad Autónoma Metropolitana, Unidad Iztapalapa, Juan Pablos Editor, México, pp. 161-184. Martín Barbero, Jesús (2009), “Desafios Políticos da Diversidade”. En Calabre, Lia (org.) Políticas culturais: reflexões e ações, Casa de Rui Barbosa, Rio de Janeiro, pp. 155-161. Monteiro, Elaine, Sacramento, Mônica Pereira do, “Pontão de Cultura de bem registrado e salvaguarda de Patrimônio Imaterial: a experiência do Jongo no Sudeste”, disponível em: http://www.pontaojongo.uff.br/sites/default/files/upload/pontao_de_cultura_de_bem _registrado_e_salvaguarda_de_patrimonio.pdf Motta, Roberto (1997), “Religiões Afro-Recifences, Ensaios de Classificação”. En Revista Antropológicas, ano II, v.2, série religiões populares, Ed. UFPE, Recife, pp.11-34. Nivón, Eduardo (2010), “Del patrimonio como producto. La interpretación del patrimonio como espacio de intervención cultural”. En Nivón, Eduardo, Mantecón, Ana Rosas. Gestionar el patrimonio en tiempos de globalización. Universidad Autónoma Metropolitana, Unidad Iztapalapa, Juan Pablos Editor, México, pp. 1536. Sandroni, Carlos (2010), “Samba de roda, patrimônio imaterial da humanidade”. En Estudos Avançados 24 (69), EDUSP, São Paulo, pp. 373-388. Sítios Consultados: www.iphan.gov.br consultado em 10/09/2015 http://www.pontaojongo.uff.br/ consultado em 10/09/2015 http://www.unesco.org/new/pt/brasilia/culture/world-heritage/intangible-culturalheritage-list-brazil/samba-de-roda-do-reconcavo-baiano/ consultado em 10/09/2015 http://www.historiamaracatusnacao.com/p/apresentacao.html consultado em consultado em 10/09/2015 http://inventariomaracatus.blogspot.mx/p/apresentacao.html 10/09/2015 http://www.pontaojongo.uff.br/sites/default/files/upload/pontao_de_cultura_de_bem _registrado_e_salvaguarda_de_patrimonio.pdf consultado em 10/09/2015