Colóquio Internacional
CHINA / MACAU E GLOBALIZAÇÕES
PASSADO E PRESENTE
International Symposium
CHINA / MACAU AND GLOBALIZATIONS
PAST AND PRESENT
Comissão Científica
Scientific Committee
Isabel Murta Pina
Luís Filipe Barreto
Roderich Ptak
Wu Zhiliang
LIVRO DE RESUMOS
BOOKLET OF ABSTRACTS
Centro Científico e Cultural de Macau
14, 15, 16 de Outubro de 2013
Macau Scientific and Cultural Centre
14th, 15th, 16th October 2013
Lisboa – Portugal
ORGANIZAÇÃO / ORGANIZERS
Centro Científico e Cultural de Macau, I.P.
MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO E CIÊNCIA
APOIO / SPONSORS
LACCCM
LIGA DOS AMIGOS
AMIGOS DO
CENTRO CIENTÍFICO E
CULTURAL DE MACAU
2
Índice / Contents
Programa Program
A China no centro de dois períodos de globalização: séculos XVI e XXI
China at the centre of two periods of globalization: 16th and 21st century
6
10
11
François Gipouloux
O papel chave da China no sistema mundial Afro-Euroasiático, séculos I – XV
The leading role of China in the Afro-Eurasian world-system, 1st – 15th century
12
13
Philippe Beaujard
Entre aspirações globais e regionais: a fronteira chinesa do Pacífico nos finais
do século XVI e inícios do XVII
Between global and regional aspirations: China’s Pacific frontier in the late
16th and early 17th centuries
14
15
Roderich Ptak
文化和社会变迁背景下的中国人社会认同
Identidade social chinesa no contexto da transformação cultural e social
Chinese social identity in the context of cultural and social transformation
16
18
Yiyin Yang
Fronteiras na história da Ásia Oriental: a ordem chinesa do mundo e as ordens
subsidiárias regionais
Frontiers in East-Asian history: the Chinese world order and subsidiary regional
orders
20
21
Willy Vande Walle
Globalização e os Vazios Institucionais (Institutional Voids) – A política da
China em África
Globalization and “Institutional Voids” – the Chinese approach towards Africa
22
24
José Manuel Duarte de Jesus
Macau, China e os Países de Língua Portuguesa
Macau, China and the Portuguese-speaking Countries
26
28
Carmen Amado Mendes
A evolução de artesanato para arte. Uma análise dos mercados de artesanato /
arte na Indonésia, Índia e Japão
The evolution of craft into art. An examination of the crafts / arts markets
in Indonesia, India and Japan
30
33
Iain Robertson
Deusas dos Mares: Patronato religioso e história marítima sino-portuguesa
Goddesses of the Seas: Religious patronage and Sino-Portuguese maritime history
36
37
Ronnie Po-chia Hsia
3
Macau Global. Séculos XVI e XVII
Global Macau. 16th – 17th Centuries
38
39
Luis Filipe Barreto
Intérpretes e Compradores em Macau Antigo e Cantão
Interpreters and Compradors in early Macau and Canton
40
41
James K. Chin
Macau e o Japão no século XVI: confluências e conhecimento
Macau and Japan in the 16th century: interrelations and knowledge
42
43
Pedro Lage Correia
Xiangshan des-territorializada: Macau e o seu etnorama
Xiangshan deterritorialized: Macau and its ethnoscape
44
45
Elisabetta Colla
Macau Global. Séculos XIX – XX
Global Macau. 19th-20th Centuries
46
47
Alfredo Gomes Dias
“Casablanca do Oriente”: Macau durante a II Guerra Mundial
The "Casablanca of the Orient": Macau during the Second World War
48
49
Vincent Wai-kit Ho
Nómadas e o Ciclo do Ópio e do Chá
Nomads and the Opium and Tea Cycle
50
52
Arturo Giráldez
A comunicação científica recíproca entre o Extremo Oriente e o Ocidente
(séculos XVII – XVIII), descrita pelos ‘media’ usados
The mutual scientific communication between the Far East and the West
(17th – 18th centuries), described from the ‘media’ it used
54
55
Noël Golvers
A difusão europeia da obra de Álvaro Semedo, S.J. (1585-1658)
The European circulation of Álvaro Semedo’s work
56
57
Isabel Murta Pina
Notas Adicionais à Materia Medica: Bencao bu 本草補
de Pedro de la Piñuela (1650-1704)
Additional Notes of Materia Medica: the Bencao bu 本草補
by Pedro de la Piñuela (1650-1704)
58
59
Chiara Bocci
4
Pareceres jesuítas sobre os feitos científicos da China (séculos XVII – XVIII):
algumas reflexões metodológicas
Jesuit judgments about China's scientific attainments (17th and 18th centuries):
some methodological reflections
60
62
Ugo Baldini
Robbe d’Europa: ligações globais e o envio de cartas, dinheiro e mercadorias
na missão da China do século XVIII
Robbe d’Europa: global connections and the mailing of letters, money, and
merchandise in the eighteenth-century China mission
64
66
Eugenio Menegon
Da China Republicana para o Nanyang: Turismo e Nação
From Republican China to the Nanyang: The Nation on Tour
68
70
António Barrento
Urbanização e coesão social nas migrações de trabalhadores na China
Urbanization and social cohesion of migrant workers in China
72
73
Li Peilin e Tian Feng
5
Segunda-feira, 14 de Outubro / Monday, 14th October
09h30 Recepção / Reception
09h45 Sessão de abertura / Opening session
Presidência da mesa / Chairman: Luís Filipe Barreto
10h00 China at the centre of two periods of globalization: 16th and 21st century –
François Gipouloux
10h30 Debate
10h50 Pausa para café / Coffee break
11h10 The leading role of China in the Afro-Eurasian world-system, 1st – 15th
century – Philippe Beaujard
11h40 Debate
12h00 Between global and regional aspirations: China’s Pacific frontier in the late
16th and early 17th centuries – Roderich Ptak
12h30 Debate
13h00 Almoço / Lunch
Presidência da mesa / Chairman: François Gipouloux
14h30 Chinese social identity in the context of cultural and social transformation –
Yiyin Yang
15h00 Debate
15h20 Frontiers in East-Asian history: the Chinese world order and subsidiary
regional orders – Willy Vande Walle
15h50 Debate
16h10 Pausa para café / Coffee break
16h30 Globalização e os Vazios Institucionais (Institutional Voids) – A política da
China em África – José Manuel Duarte de Jesus
17h00 Debate
17h20 Macau, China and the Portuguese-speaking Countries – Carmen Amado Mendes
17h50 Debate
18h10 The evolution of craft into art. An examination of the crafts / arts markets in
Indonesia, India and Japan – Iain Robertson
18h40 Debate
6
Terça-feira, 15 de Outubro / Tuesday, 15th October
Presidência da mesa / Chairman: Roderich Ptak
09h30 Goddesses of the Seas: Religious patronage and Sino-Portuguese maritime
history – Ronnie Po-chia Hsia
10h00 Debate
10h20 Macau Global. Séculos XVI e XVII – Luís Filipe Barreto
10h50 Debate
11h10 Pausa para café / Coffee break
11h30 Interpreters and Compradors in Early Macau and Canton – James K. Chin
12h00 Debate
12h20 Macau e o Japão no século XVI: confluências e conhecimento –
Pedro Lage Correia
12h50 Debate
13h10 Almoço / Lunch
Presidência da mesa / Chairman: Ronnie Po-chia Hsia
14h30
Xiangshan deterritorialized: Macau and its ethnoscape – Elisabetta Colla
15h00
Debate
15h20
Macau Global. Séculos XIX-XX – Alfredo Gomes Dias
15h50
Debate
16h10
Pausa para café / Coffee break
16h30
17h00
The “Casablanca of the Orient”: Macau during the Second World War –
Vincent Wai-kit Ho
Debate
17h20
Nomads and the Opium and Tea Cycle – Arturo Giráldez
17h50
Debate
7
Quarta-feira, 16 de Outubro / Wednesday, 16th October
Presidência da mesa / Chairman: Willy Vande Walle
10h00
The mutual scientific communication between the Far East and the West
(17th – 18th centuries), described from the ‘media’ it used – Noël Golvers
10h30
Debate
10h50
Pausa para café / Coffee break
11h10
A difusão europeia da obra de Álvaro Semedo, S.J. (1585-1658) –
Isabel Murta Pina
11h40
12h00
Debate
Additional Notes of Materia Medica: the Bencao bu 本草補
by Pedro de la Piñuela (1650-1704) – Chiara Bocci
12h30
Debate
13h00
Almoço / Lunch
Presidência da mesa / Chairman: Arturo Giráldez
14h30
Jesuit judgments about China's scientific attainments (17th and 18th
centuries): some methodological reflections – Ugo Baldini
15h00
Debate
15h20
Robbe d’Europa: global connections and the mailing of letters, money, and
merchandise in the eighteenth-century China mission – Eugenio Menegon
15h50
Debate
16h10
Pausa para café / Coffee break
16h30
From Republican China to the Nanyang: The Nation on Tour –
António Barrento
17h00
Debate
17h20
Urbanization and social cohesion of migrant workers in China –
Li Peilin e Tian Feng
17h50
Debate
18h10
Cerimónia de encerramento / Closing session
8
Anónimo, Bartolomeu Velho, Carta do Mundo em fusos em projecção polar, c. 1560
Bibliothèque Nationale, Paris
RESUMOS
ABSTRACTS
9
A China no centro de dois períodos de globalização: séculos XVI e XXI
François Gipouloux | Centre National de la Recherche Scientifique
[email protected]
A Ásia reassumiu a sua posição central na economia mundial. O primeiro passo
consistiu na afirmação do formidável poder inovador do Japão, na década de 1980,
seguido pela súbita emergência do poder manufactureiro da China, no fim dos anos 90.
Esta globalização da economia mundial decorreu num contexto específico. Como se
constatou no caso dos Jogos Olímpicos, foram as cidades, mais do que os estados, que
competiram entre si, fossem elas centros financeiros, plataformas logísticas ou centros
de coordenação de operações internacionais de subcontratação.
Isto não constitui um fenómeno novo. No século XIV, no Mediterrâneo, nos séculos
XV e XVI no Mar Báltico, e nos séculos XVII e XVIII nos Mares do Sul da China,
modelos transnacionais de organização gozaram de longa existência, fruto das
instituições económicas estáveis e legais que desenvolveram fora da esfera do Estado,
assim como da vitalidade das redes de comércio cosmopolitas que criaram. Analisar
estes exemplos passados, permite iluminar a situação presente.
Estendendo-se entre Vladivostok e Singapura, um corredor marítimo abarca fragmentos
de vários estados nacionais, remodelando-os através de um processo dinâmico que
paulatinamente uniformiza os seus negócios uns com os outros. Forçada a esta operação
dinâmica ao longo do corredor marítimo da Ásia Oriental, a China vai gradualmente
abandonando as suas bases continentais, autárquicas e colectivistas, em prol de um
mundo aberto e centrado no comércio da Ásia marítima. Ao fazê-lo, está a reactivar
uma tradição extinta com as grandes expedições marítimas do início do século XV,
quando sob a liderança do Almirante Zheng He, as frotas chinesas avançaram até às
costas da África Oriental.
10
China at the centre of two periods of globalization: 16th and 21st century
François Gipouloux | Centre National de la Recherche Scientifique
[email protected]
Asia has returned to its central position in the world economy. The first step was Japan's
assertion of its formidable innovative power in the 1980s, and this was followed by the
sudden arrival of China's manufacturing power in the late 1990s. This globalization of
the world economy takes place in a specific context. As in the case of the Olympic
Games, it is cities rather than states which compete with each other, whether they are
financial centres, logistical platforms, or centres for co-ordinating international
subcontracting operations.
This is not a new phenomenon. In the 14th century around the Mediterranean, in the
15th and 16th centuries around the Baltic Sea, and in the 17th and 18th centuries around
the South China Sea, transnational models of organisation enjoyed a long existence,
thanks to the stable economic and legal institutions which they developed outside the
purview of the State, and to the vitality of the cosmopolitan trading networks which
they set up. To explore these past instances is to throw a revealing light onto the present
situation.
Extending from Vladivostok to Singapore, a maritime corridor takes in fragments of
various national states and refashions them through a dynamic process which
progressively standardises their dealings with each other. Forced into this dynamic
operating along the East Asian maritime corridor, China is gradually swinging away
from its continental, autarchic and collectivist foundations, towards the open, tradecentred world of maritime Asia. In so doing, it is reactivating a tradition which has been
extinct since the end of the great maritime expeditions of the early 15th century when,
under the leadership of Admiral Zheng He, Chinese fleets reached as far as the coasts of
East Africa.
11
O papel chave da China no sistema mundial Afro-Euroasiático,
séculos I - XV
Philippe Beaujard | Centre National de la Recherche Scientifique
[email protected]
A evolução das redes de troca, nos finais do I milénio a.C., conduziu à formação de um
sistema mundial Afro-Eurasiático único, nos inícios da era cristã. Entre os séculos I e
XVI, este sistema evoluiu através de quatro ciclos económicos, sincronizados com
desenvolvimentos políticos, sociais e ideológicos. Em cada ciclo, a unificação da China
e a sua ascensão parecem ter favorecido uma fase de crescimento do conjunto do
sistema mundial. Pelo contrário, cada recessão chinesa implicou uma tendência
descendente do sistema e da sua restruturação.
12
The leading role of China in the Afro-Eurasian world-system,
1st-15th century
Philippe Beaujard | Centre National de la Recherche Scientifique
[email protected]
The progress of exchange networks at the end of the first millennium BC leads to the
formation of a single Afro-Eurasian world-system, at the beginning of the Christian era.
Between the 1st and the 16th century, this system evolved through four economic
cycles synchronized with political, social and ideological developments. For each cycle,
the unification of China and its rise seems to have favoured a phase of growth in the
whole world-system. Conversely, each Chinese recession marked a downward trend in
the system and its restructuring.
13
Entre aspirações globais e regionais: a fronteira chinesa do Pacífico nos
finais do século XVI e inícios do XVII
Roderich Ptak | Ludwig-Maximilians Universität München
[email protected]
O final do século XVI ficou marcado pelo aumento do poder marítimo japonês e por
uma expansão lenta, mas firme, da influência comercial fujianense. Simultaneamente,
assistiu-se ao crescimento do comércio espanhol, sediado em Manila, e do português,
sediado em Macau, a par do declínio da rede de Ryukyu, com o seu centro em Okinawa.
Pelo início do século XVII, os holandeses entraram em cena e começaram a
desempenhar um importante papel em certas partes da Ásia do Sueste e em Taiwan.
Todos estes diferentes grupos, de um modo ou de outro, competiram entre si. A isto,
podem-se acrescentar as diversas rivalidades existentes entre identidades locais e
grupos religiosos.
Esta comunicação procura integrar este fenómeno numa visão de conjunto –
proporcionando ligações aos desenvolvimentos de longo prazo e, quando possível, a
acontecimentos globais. Particular atenção será dada ao caso de Taiwan que, até à sua
conquista, primeiro pelo clã Zheng e depois pelas forças manchus, constituiu uma
plataforma para as facções em conflito.
14
Between global and regional aspirations: China’s Pacific frontier in the
late 16th and early 17th centuries
Roderich Ptak | Ludwig-Maximilians Universität München
[email protected]
The late sixteenth century is marked by the rise of Japanese sea power and a slow but
steady expansion of Fujianese commercial influence. At the same time we see the
growth of Spanish trade based on Manila and Portuguese trade based on Macau, as well
as a decline of the Ryukyu network with its center in Okinawa. In the early seventeenth
century the Dutch enter the scene; they begin to play an important role in parts of
Southeast Asia and in Taiwan. All these different groups compete with each other in
one way or the other. To this we may add various rivalries between local entities and
religious bodies.
The present study aims at structuring these phenomena from the bird’s-eye view – by
offering links to long-term developments and, where applicable, to global events.
Particular attention will be given to the role of Taiwan, which emerges as a platform for
contending factions, until its conquest first by the Zheng clan and then by Manchu
forces.
15
文化和社会变迁背景下的中国人社会认同
Identidade social chinesa no contexto da transformação cultural e social
Yiyin Yang | Center for Social Psychology Studies, Institute of Sociology, CASS, Pequim
[email protected]
A identidade social chinesa apresenta algumas características particulares no contexto
da transformação cultural e social. Um conjunto de investigações analisou a identidade
de estatuto, a identidade nacional, a identidade cultural e o seu mecanismo psicológico.
Os resultados revelaram que, primeiro, a identidade nacional continua a ser
caracterizada pelo “padrão de sequências diferentes” (差序格局). Os dados da pesquisa,
relativamente ao apoio e participação dos habitantes de Pequim na recepção dos Jogos
Olímpicos, mostraram que a identidade nacional se afirma por intermédio do
alargamento do “pequeno ego” (小我) ao “grande ego” (大我), na circunstância de
mobilização pelo governo. Em segundo lugar, um estudo comparativo entre citadinos e
trabalhadores migrantes demonstrou que, a par da rápida urbanização e contínua
migração laboral do campo para a cidade dos últimos 30 anos, se afirma nos
trabalhadores migrantes, especialmente na nova geração, uma identidade marginaldupla. Esta, ou compreende as duas identidades de citadino e camponês, ou uma
identidade ambígua, sem relação com qualquer uma delas. Isto conduz a uma nova
questão de gestão social relativamente à integração de áreas urbanas e rurais. Em
terceiro lugar, o padrão multi-étnico, resultante da coexistência de grupos étnicos
minoritários e maioritários, distingue as afirmações de identidades. Tendo por pano de
fundo cognitivo as relações intra-grupos, a identidade das minorias constitui a principal
fonte de controlo da auto-estima, o que torna a protecção da pureza da cultura étnica o
grande atractivo da identidade. Porém, a maioria não mostrou respeito suficiente, nem
compreensão por este aspecto, o que pode levar a possíveis desvios, quando se trata das
relações entre grupos étnicos, assim como das relações entre os grupos étnicos e o
estado. Em quarto lugar, a investigação universitária da Associação regional (同乡会)
constatou que o conceito de “nós” pode constituir-se em duas vias diferentes, tais como
16
a “Guanxilização” (关系化) ou a “classificação” (类别化). Estes dois mecanismos
cruzam-se, competem e ajustam-se um ao outro no decurso da transição de uma
sociedade tradicional, com conhecidos, para uma sociedade moderna, com
desconhecidos, como sugere o processo particular do Confucionismo para a
modernidade.
17
文化和社会变迁背景下的中国人社会认同
Chinese social identity in the context of cultural and social transformation
Yiyin Yang | Center for Social Psychology Studies, Institute of Sociology, CASS, Beijing
[email protected]
Chinese Social identity has some distinguished features in the context of cultural and
social transformation. A series of researches focus on the status identity, the national
identity, cultural identity and their psychological mechanism.
Findings show that, firstly, the national identity is still featured with “the pattern of
difference sequence” (差序格局). Survey data concerning Beijing residents’ support
and participation in hosting Beijing Olympic Games shows the national identity comes
into being via the expansion from “the small self”(小我) to “the large self”(大我)
under the condition of government mobilization. Secondly, a comparison study of
citizens and migrant workers indicates that, along with the rapid urbanization and the
continuous labor migration from countryside to the city in the past 30 years, a doublemarginal identity referring to both the identities of citizen and peasant or identity
confusion referring to neither of them forms in migrant workers, especially the new
generation of them, which suggests a new issue of social management regarding the
integration of urban and rural areas. Thirdly, the multi-ethnic pattern with the
coexistence of the minority and the majority ethnic groups differentiates the demands of
identities. Taking the “minority-majority” intergroup relationship as cognitive
background, the identity of the minorities becomes the main source of containing selfesteem, which makes the protection of the purity of ethnic culture as main appealing for
the identity. However, the majority hasn’t show sufficient respect and understanding to
it, which may lead to possible deviation in dealing with the relationship among ethnic
groups as well as the relationship between the ethnic group and the state. Fourthly, the
research of hometown Association (同乡会) in campus shows the concept of “we” can
be formed in two different channels such as “Guanxilization” ( 关 系 化 ) or
“categorization” ( 类 别 化 ). Those two mechanisms intertwines, competes, and
18
negotiates with each other during the transition from a traditional society with
acquaintance to a modern society with strangers, which indicates the particular process
from Confucianism to modernity.
19
Fronteiras na história da Ásia Oriental: a ordem chinesa do mundo e as
ordens subsidiárias regionais
Willy Vande Walle | Katholieke Universiteit Leuven
[email protected]
Uma forma particular e antiga de globalização na Ásia Oriental é aquela que ficou conhecida
por “Ordem Mundial Chinesa”/“Chinese World Order”, um sistema ritualizado de regulação
e controlo, segundo princípios hierárquicos, das relações entre os estados e seus governantes,
por um lado, e o Império Chinês, por outro. O óleo que lubrificou este mecanismo foi o
comércio ou a perspectiva de o realizar. Assim, na prática, o sistema conceptual de
confirmação de uma aliança e reconhecimento da suserania chinesa foi combinado com a
prestação de tributo e as trocas comerciais, dando origem a uma estrutura que gerou
diferentes interpretações e, efectivamente, uma decepção mútua. Os chamados países
periféricos, que enviavam tributo à China, não só encaravam as suas missões sob uma
perspectiva completamente distinta, como, ao mesmo tempo, reproduziam o sistema
hierárquico ritualizado em variantes de menor dimensão e periféricas, para dar forma às suas
diversas relações. Assim, o reino de Ryukyu manteve uma relação dupla de tributo com a
China e com o Japão, que implicou grande quantidade de subterfúgios, enquanto a Coreia e
o Japão mantiveram uma versão adaptada do sistema, durante o período Tokugawa. Mesmo
nas suas relações com as nações ocidentais, os estados que integravam a chamada “Ordem
Mundial Chinesa” reproduziram esta estrutura hierárquica ritualizada, mesmo quando o
objectivo das nações ocidentais era sobretudo comercial.
Dentro das restrições desta estrutura, os papéis de Macau, no caso de Portugal, e de Nagasaki,
no caso da Holanda, foram práticos e simbólicos. As duas cidades encorporaram o
mecanismo que podia acomodar os vários e diferenciados objectivos dos agentes envolvidos.
Assim, a ordem globalizada da Ásia Oriental pré-contemporânea moveu-se em torno de um
punhado de portas giratórias locais, em particular estas duas cidades portuárias. Nesta
comunicação, pretende-se analisar as várias semânticas destes dois portos no seu contexto
globalizado.
20
Frontiers in East-Asian history: the Chinese world order and subsidiary
regional orders
Willy Vande Walle | Katholieke Universiteit Leuven
[email protected]
One particular and early form of globalization in East Asia is what has come to be
called the "Chinese world order", a ritualised system to regulate and control along
hierarchical principles the relations between states and their rulers on the one hand and
the Chinese empire on the other. The oil that lubricated this mechanism was commerce
or the prospect thereof. Thus, in actual practice, the conceptual system of confirming
one's allegiance to and recognizing Chinese suzeranity was amalgamated with the
practice of tribute-bearing and commercial exchange, producing a complex that allowed
differing interpretations, and indeed mutual deception. Not only did the so-called
peripheral states, which sent tribute to China, see their missions in a completely
different light, they also replicated the ritualized hierarchical system in smaller,
peripheral variants to shape their mutual relations. Thus the Ryukyu kingdom
maintained a dual tribute relationship to China and Japan involving a good deal of
subterfuge, while Korea and Japan maintained an adjusted version of the system during
the Tokugawa period. Even in their dealings with Western nations the states which
belonged to the so-called Chinese world order constructed similes of this ritualized
hierarchical structure, even when the motif of the Western nations was mainly
commercial.
Within the constraints of this structure the roles of Macau for Portugal and of Nagasaki
for Holland were both practical and symbolic. Both these cities embodied the
mechanism that could accommodate the various and differing objectives of the agents
involved. Thus the globalized order of pre-modern East Asia revolved around a few tiny
local revolving doors, in particular these two port cities. In this presentation I intend to
analyze the various semantics of these two ports in their globalized context.
21
Globalização e os Vazios Institucionais (Institutional Voids) – A política
da China em África
José Manuel Duarte de Jesus | Instituto do Oriente (ISCSP), Universidade Técnica
[email protected]
A Globalização da Sociedade é um fenómeno que existe desde o início do
comportamente social dos seres humanos. Podemos recuar à evolução dos Neandertal
ao Homo Sapiens. Os factores geográficos e os das comunicações foram formatando
estas globalizações de forma regional e por vezes temática.
As circunstâncias da evolução tecnológica avançam com os elementos de base das
globalizações para um patamar planetário em que os mesmos fenómenos adquirem a)
novos contornos, b) o tempo passa a ser simultâneo e d) os impactos imediatos e
universais.
Os “Institutional Voids” ou Vazios Institucionais podem ser encarados do ponto de
vista de “oportunidades novas de negócio em países emergentes”, como muitos
economistas hoje consideram, ou serem estudados de uma forma mais histórico-cultural.
É nesta segunda dimensão que vou tecer algumas considerações, tomando como
exemplos casos que melhor conheço, mas que são paradigmáticos.
Tomarei como “casos de estudo” alguns países africanos; o modo como se foram
constituindo os “Institutional Voids” durante a primeira grande globalização a partir dos
séculos XV, XVI e XVII, em que Portugal foi um dos actores internacionais
importantes, e as consequências desastrosas que ela veio trazer a prazo. Como esses
“Vazios” foram falsamente preenchidos, nos séculos XIX e XX e como, no actual
paradigma global, a China parece apresentar um modelo alternativo e mais válido para
ajudar a corrigir erros passados nessas mesmas regiões. Basta lembrar como os Reinos
do Benin e de Oyo constituíam Estados com um comércio internacional estabelecido, os
reinos Songhai desde o séc. XII tinham estruturas institucionais, o Império Mali ou os
povos do Congo, com seu reino de dupla estrutura dinástica cruzada – matrilinear e
22
patrilinear. Quando os portugueses lá chegaram, e foram os primeiros europeus,
posteriormente outros foram “esvaziando” aquelas estruturas socio-politico-religiosas e
substituindo-as por paradigmas completamente “falsos”.
Depois das independências, os pólos políticos antagónicos da guerra-fria, a URSS e o
Ocidente, procuraram através de outras estruturas “fantasmas” continuar a sua guerra
naqueles palcos, reintroduzindo novos conteúdos às instituições. Em todo este processo
enraizou-se a sucessiva “desresponsabilização” da África.
Nesta perspectiva tentarei caracterizar positivamente a política chinesa naquele
continente como procurando restituir a responsabilidade à sociedade africana.
23
Globalization and “Institutional Voids” – the Chinese approach towards Africa
José Manuel Duarte de Jesus | Instituto do Oriente (ISCSP), Universidade Técnica
[email protected]
Globalization is a natural social phenomenon since the beginning of human
development on earth. We can go back to the evolution of Neanderthal to Homo sapiens.
Geography and communications gave different shapes to regional or thematic
globalizations.
Circumstances of technological evolution develop with the basic factors of
globalization to a planetary platform (or standard) where the same factors achieve a
different nature, time becomes more simultaneous and impacts more instantaneous and
universal.
Institutional Voids may be seen as “new business opportunities in emerging countries”,
as is the opinion of many economic annalists, but they may also be studied from a
historical and cultural point of view.
Regarding this second approach, I will make some considerations, taking as examples
cases that I personally know better, but that can be considered as paradigmatic.
I will take as case-studies some African countries; the way these Institutional Voids
were formed during the first big globalization of early-modern times - the XV, XVI and
XVII centuries - when Portugal was an important international player, and I shall prove
the disastrous consequences to those societies on a medium and long-term period. On
the other hand, considering the present global paradigm, China seems to act by an
alternative model, which may help correcting earlier mistakes by the Western approach
to African countries, which can be defined as the colonialist era.
We just have to consider the Kingdoms of Benin and Oyo. Both were nations with a big
international trade, at the time, or the Kingdom of Songhai with its valid institutional
24
structures, since the XII century, or the Mali Empire and the people of Congo with its
Monarchy, based on a cross-dynastic structure, matrilineal and patrilineal.
When the first Europeans arrived – and they were Portuguese – they started emptying
those social, political and religious Institutions and replacing them by “fake” Western
paradigms.
After the independencies of the 60´s and 70´s, the two World Powers of the Cold War
period, continued with different “ghost” structures substituting the Institutional Voids
left over by colonialism. During all this historical and political process, the profound
sentiment of being free of political and social responsibility took root.
In this framework, I will try to show that the Chinese policy in Africa is a possibility of
helping the Africans to get their lost political responsibility back.
25
Macau, China e os Países de Língua Portuguesa
Carmen Amado Mendes | Núcleo de Relações Internacionais – Faculdade de Economia
da Universidade de Coimbra
[email protected]
A presença da China no Mundo Lusófono é antiga e inclui várias dimensões: histórica,
política, económica e social. A China tem relações históricas com Portugal,
estabelecidas através de Macau há 500 anos, e os movimentos de libertação na África
lusófona receberam apoio chinês. Hoje em dia, a Guiné-Bissau, Moçambique, Cabo
Verde e Timor Leste vêem com bons olhos o reforço da presença chinesa, enquanto São
Tomé e Príncipe ainda tem relações diplomáticas com Taiwan. Com Angola, a China
tem fortes laços económicos e comerciais, na lógica de obtenção de recursos em troca
de infra-estruturas, e com o Brasil tem relações políticas e económicas significativas,
incluindo objectivos comuns dentro dos BRICS e de organizações internacionais.
Apesar de estarem unidos pela língua e cultura no seio da CPLP, o Mundo Lusófono é
um grupo muito heterogéneo de países, espalhados por quatro continentes, em
diferentes estádios de desenvolvimento político e económico. Consequentemente, o seu
relacionamento com a China também assume características diversificadas. No entanto,
todos assumem que as relações bilaterais são o canal privilegiado de relacionamento; a
importância do multilateralismo aumenta nos casos em que a ligação bilateral é mais
frágil.
Com base num extenso trabalho de campo que abrangeu os países em questão, podemos
concluir que tal se verifica no Fórum China-África (2000) e no Fórum para a
Cooperação Económica e Comercial entre a China e os Países de Língua Portuguesa,
cujo Secretariado Permanente está em Macau (2003). Este Fórum Macau inspira-se no
legado lusófono que Portugal deixou nesta Região Administrativa Especial da China.
Depois da transferência da administração portuguesa para a China em 1999, Macau
manteve o seu papel de ponte entre o Oriente e o Ocidente, inspirado pela chegada dos
26
portugueses. O legado arquitectónico, cultural e linguístico testemunhado em Macau
tem sido acarinhado depois da transição, como ilustram as várias iniciativas
governamentais e da sociedade civil, conscientes dos benefícios que o conceito de
lusofonia pode trazer à Região. O interesse do Governo Central na utilização das
especificidades desta Região Administrativa Especial como símbolo da aproximação da
China a países com os quais, à partida, tinha poucas afinidades, reavivando o estatuto da
língua e cultura portuguesas no seu próprio território, revela o pragmatismo de Pequim.
A herança histórica que Portugal deixou na RAEM, única característica que a China
partilha com o mundo lusófono, contribui para criar entre continentes, que são
geográfica, política e culturalmente distantes, uma inovadora forma de cooperação. O
facto da língua e cultura portuguesas serem preservadas em Macau, juntamente com as
boas relações que Lisboa mantém com as ex-colónias e o papel de liderança na CPLP,
oferecem a Portugal a possibilidade de assumir um papel mais activo no Fórum Macau
e extrair alguns benefícios políticos e económicos.
27
Macau, China and the Portuguese-speaking Countries
Carmen Amado Mendes | Núcleo de Relações Internacionais – Faculdade de Economia
da Universidade de Coimbra
[email protected]
The Chinese presence in the Portuguese-speaking (lusophone) countries is old and
includes different dimensions: historical, political, economic and social. China has a
long tradition of historical links with Portugal, established through Macau 500 years
ago, and the Portuguese-speaking Africa liberation movements received Chinese
support until decolonization from Portugal in the mid-1970s. Nowadays, Guinea-Bissau,
Mozambique, Cape Verde and East Timor welcome the reinforcement of China’s
presence, while São Tomé and Prince still holds diplomatic relations with Taiwan.
China has meaningful political and economic relations with Brazil, including common
aims within the BRICS and international organizations; and expressive economic and
commercial connections with Angola, following the Resources for Infrastructures
model.
Despite being connected by language and culture within an inter-governmental
organization, the Community of Portuguese Language Speaking Countries (CPLP), the
lusophone world is a very heterogeneous group of countries, spread in four continents
and experiencing different stages of political and economic development. Thus, their
relationship with China has different characteristics as well. All lusophone leaders
acknowledge bilateral channels as the most important ones, but multilateralism is
perceived as a very useful tool to increase cooperation and mutual understanding when
the bilateral interaction with China is not very mature.
This is highlighted by their level of commitment towards the Forum for Economic and
Trade Cooperation between China and the Portuguese-speaking Countries. This Forum
was created by China’s Ministry of Commerce in 2003, with a permanent secretariat
based in the only Chinese region where Portuguese is an official language: Macau.
Beijing has developed a selected integration of this Special Administrative Region in its
28
foreign policy after the handover from Portuguese administration in 1999, using its
lusophone specificities as a platform for cooperation with other Portuguese ex-colonies.
Comparisons will be made between the Macau Forum and the Forum of China-Africa
Cooperation (FOCAC), which was created in 2000 within the Chinese Foreign Ministry.
Angola, Mozambique, Cape Verde and Guinea-Bissau belong to both.
Conclusions were drawn from findings of extensive fieldwork carried out in the above
mentioned countries, considering the perceptions of their political, economic and
business elites and civil societies.
29
A Evolução de artesanato para arte. Uma análise dos mercados de
artesanato / arte na Indonésia, Índia e Japão
Iain Robertson | Sotheby's Institute of Art
[email protected]
O artesanato tem uma elevada posição na Indonésia, na Índia e no Japão, onde se
entrelaça com a vida quotidiana e se associa a um sistema de valores para lá do mercado
livre das sociedades Liberais e Democráticas do Ocidente. Na Indonésia (e na China) o
artesanato sobreviveu ao colonialismo, em larga medida devido à reduzida sensibilidade
cultural das potências ocidentais. No Japão, um esforço concertado de preservação da
diferença cultural permitiu que o país institucionalizasse o seu artesanato. Na Índia,
uma sociedade culturalmente tão diversa e rica que nem o governo Mogol (1526-1757),
nem o Britânico (1757-1947) conseguiram anular a identidade cultural das suas regiões,
um renascimento da excepção cultural conduziu a um incentivo ao artesanato.
Um país avançado como o Japão atribui grande valor ao seu artesanato e,
fundamentalmente, ao processo pelo qual este é criado. A institucionalização do
artesanato em Kyoto, em 1926, fez-se em torno de um grupo de artistas. Mais tarde,
noutras perfeituras, assentou nos conselheiros para os artesãos e, por fim, nos próprios
artesãos. O denominador comum foi o salvador da Arte Popular, Soetsu Yanagi (18891961) e os artistas-ceramistas Kanjiro Kawai (1890-1966) e Shoji Hamada (1894-1978)
– o último dos quais teve uma influência determinante no ceramista britânico Bernard
Leach (1887-1979).
A utilidade do artesanato no Japão e a integração do espírito artístico na realização de
objectos artesanais constitui um elemento fulcral no valor destes trabalhos no mercado
doméstico (e internacional). A linguagem do artesanato japonês, caracterizada pela
naturalidade, no período pré-guerra, foi, em certa medida, corrompida por uma
abordagem mais rebuscada, no pós-guerra.
30
Na Indonésia, particularmente nas ilhas de Bali e Java, o artesanato está intimamente
associado à dança e sobretudo ao teatro Wayang. O tema da pintura centra-se na vida
quotidiana das pessoas, nos seus artefactos e bem-estar espiritual. O espaço pictórico é
representado a partir do dançarino e integra elementos de uma cultura sincrética.
A Índia, cuja religião hindú teve uma influência tão marcante na cultura do arquipélago
indonésio, dispõe de um rico leque de conhecimentos e tradições artesanais, que tanto
evoluíram para o novo, como persistiram no antigo.
Embora sendo importante ter em consideração que o artesanato apenas pode existir em
determinadas circunstâncias sociológicas e culturais, o exemplo do Japão sugere que o
desenvolvimento económico não implica necessariamente o fim do artesanato numa
sociedade em que pode florescer. Este é um fundamental, que não será tratado em
pormenor nesta comunicação, embora seja crucial aludir-lhe para compreender a
principal questão em análise, a passagem de artesanato para arte.
Esta proposta será examinada com base em trabalhos de arte e de artesanato de
referência. Quando e como um trabalho de artesanato se transforma numa peça de arte?
Os elementos definidores são:
− O próprio objecto e as qualidades que o definem como artesanato, ou como
arte contemporânea internacional. Uma preocupação secundária são os
materiais com que os objectos são realizados.
− A aspiração do artista, que pode ser considerado como parte do trabalho, ou
pelo menos como seu autor. Uma questão secundária é o processo pelo qual o
artefacto é criado.
− As intenções do intermediário. O impacto de um agente estranho,
comercialmente interessado, num contexto em que o artesanato prospera, pode
ser comparado ao impacto negativo dos colonialistas do período
contemporâneo noutra civilização. De forma mais imediata, pode ainda ser
comparado à incursão do mercado livre do liberalismo económico numa
31
sociedade com uma noção diferente de valores. Deve fazer-se uma distinção
entre o custo de troca do artesanato e o da sua comercialização, que se
encontra a um passo da transição para um produto de arte.
− Forum de troca. O negociante, a feira de arte, a bienal, o leilão, o museu, tudo
determina o carácter do artesanato e da arte.
− O preço.
32
The evolution of craft into art. An examination of the crafts /arts markets
in Indonesia, India and Japan
Iain Robertson | Sotheby's Institute of Art
[email protected]
Craft has an elevated position in Indonesia, India and Japan. It is interlaced in daily
life. It is connected to a value system that lies outside that of the free market
Liberal and Democratic societies of the West. In Indonesia (and China) crafts
survived colonialism largely because of the light cultural touch of the Western
powers. In Japan, a concerted effort to retain its cultural distinctiveness determined
that that nation institutionalise its crafts. In India, a society so diverse and
culturally rich, that neither Mughal (1526-1757) nor British (1757-1947) rule could
dissipate the cultural identity of the regions, a rebirth of cultural exceptionalism has
led to an encouragement of the crafts.
An advanced country like Japan attaches a great deal of value to craft and, crucially,
the process by which craft is created. The institutionalisation of craft in Kyoto in
1926 centred around a group of artists. Later in other prefectures it revolved around
advisors to craftspeople and finally the crafts people themselves. The common
denominator was the Folk Art saviour, Soetsu Yanagi (1889-1961) and the artistpotters Kanjiro Kawai (1890-1966) and Shoji Hamada (1894-1978) – the latter a
key influence on the British potter, Bernard Leach (1887-1979).
The utility of the crafts in Japan and the integration of the artistic spirit into making
craft objects is a crucial element in the value of these works in the domestic (and
international) market place. The pre-war, unselfconscious language of Japanese
craft, has to some extent been eroded by a more mannered approach after the war.
In Indonesia and specifically the islands of Bali and Java, craft has a close
association to dance and specifically Wayang theatre. The subject matter in
painting revolves around the daily lives of people, their artefacts and their spiritual
33
well-being. The pictorial space is drawn from that of the dancer and incorporates
elements from a syncetric culture.
India, whose Hindu religion had such a powerful influence on the culture of the
Indonesian archipelago, has a rich array of craft-based skills and traditions, that
both evolve into the new or persist with the old.
While it is important to understand that craft can only exist in certain sociological
and cultural circumstances, the example of Japan suggests that economic
development need not signal an end to a society in which crafts may flourish. This
is a fundamental question that will not be dealt with in any detail in this paper,
although its presence is crucial to an understanding of the central concern of this
paper; namely the transition of craft into art.
This proposition will be examined with reference to seminal works of art and craft.
When and how does a work of craft become a piece of art? The defining triggers
are:
− The object itself and the qualities that define it as either craft or
international contemporary art. A subsidiary concern are the materials
with which the object is made.
− The volition of the artist, who may be regarded as either a part of his work
or at the least, its maker. A subsidiary concern is the process by which the
artefact is created.
− The intentions of the intermediary. The impact of a commercially
motivated outsider on an environment in which craft prospers, can be
likened to the deleterious impact of modern age colonialists on another
civilisation. It can be compared more immediately to the incursion of free
market Liberal economics into a society that has a different notion of
value. A distinction should be drawn between the exchange value of craft
34
and its commoditisation, which is one step removed from its transition
into an art commodity.
− The exchange forum. The dealer, the art fair, the biennale, the auction, the
museum all determine the character of craft and art.
− The price.
35
Deusas dos Mares: Patronato religioso e história marítima
sino-portuguesa
Ronnie Po-chia Hsia | Pennsylvania State University
[email protected]
A sinergia é o tema central desta comunicação, que irá analisar as devoções religiosas
dos marinheiros chineses e portugueses no mundo moderno. Se divindades como Mazu
e Tianhou se tornaram padroeiras e protectoras dos marinheiros fujianenses, já os
marinheiros portugueses invocaram a protecção da Virgem Maria, no decurso das suas
longas e perigosas viagens entre Lisboa e Goa e para outras costas da Ásia Portuguesa.
Irei basear-me em relatos de viagens de missionários católicos, assim como em relatos
de viagens marítimas chinesas do século XVII.
36
Goddesses of the Seas: Religious patronage and Sino-Portuguese
maritime history
Ronnie Po-chia Hsia | Pennsylvania State University
[email protected]
Synergy is the key theme of this paper, which will examine the religious devotions of
Chinese and Portuguese sailors in the early modern world. While deities such as Mazu
and Tianhou became the patrons and protectors of Fujianese sailors, Portuguese sailors
invoked the protection of the Virgin Mary during their long and perilous voyages from
Lisbon to Goa, and to the further shores of Portuguese Asia. I shall draw on records of
their voyages by Catholic missionaries as well as 17th century records of Chinese
maritime shipping.
37
Macau Global. Séculos XVI e XVII
Luís Filipe Barreto | Centro Científico e Cultural de Macau
Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa – Estudos Asiáticos
[email protected]
Macau nasce nos anos de 1555-1557 para cumprir funções nucleares ao comércio
internacional asiático de ligação tripartida China, Japão, Ásia do Sueste. O processo de
consolidação e de afirmação de Macau no período Ming vai, no entanto, promover um
alargamento de escala planetária a partir destes mares e monções com uma articulação
ao Índico e Atlântico (Macau – Malaca – Goa/Cochim – Lisboa) bem como uma não
menos importante articulação ao Pacífico (Macau – Manila – Acapulco).
Entre os meados de Quinhentos e de Seiscentos, o serviço portuário internacional de
Macau, “Boca de Cantão”, faz surgir um micro ponto litoral e marítimo da Ásia
Oriental para o mundo Europeu Ibérico em expansão (e vice-versa). Esta cidade de
condição global torna-se fórmula prática de acomodação e plataforma intercultural
chave nas relações Europa, China, Japão.
38
Global Macau. 16th – 17th Centuries
Luís Filipe Barreto | Centro Científico e Cultural de Macau
Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa – Estudos Asiáticos
[email protected]
Macau came into existence between 1555-1557 and was to fulfill a pivotal role in Asian
international trade and its triangular China – Japan – Southeast Asia connection.
Notwithstanding, the consolidation and affirmation process of Macau during the Ming
period fostered enlargement on a worldwide scale, going from these seas and monsoons
to the Indian and Atlantic Oceans (Macau – Melaka – Goa/Cochin – Lisbon), as well as
to the equally important link of the American Pacific (Macau – Manila – Acapulco).
Between the mid-16th and mid-17th centuries, the international port service of Macau,
“the Guangzhou’s Mouth”/ “Boca de Cantão”, gave rise to a coastal and maritime micro
space, linking between East Asia with the expanding European Iberian world (and vice
versa). This global city became a key intercultural platform and pratical means of
accommodating the European, Chinese and Japanese relations.
39
Intérpretes e Compradores em Macau Antigo e Cantão
James K. Chin | The University of Hong Kong
[email protected]
Com o estabelecimento dos portugueses em Macau e a posterior chegada de outras
companhias de comércio europeias às costas do Sul da China, um grupo considerável de
intérpretes ou tongshi, a designação habitual que encontramos nos registos imperiais
chineses, começou paulatinamente a tomar forma em Macau e Cantão. Estes elementos
não eram apenas intérpretes e tradutores dos mercadores portugueses e outros europeus,
pois funcionavam também como agentes comerciais, tanto das autoridades locais
chinesas, como das companhias europeias. Por vezes, até controlavam e regulavam as
operações quotidianas de negócios nas cidades portuárias, ao mesmo tempo que
desempenhavam um papel de ligação na fase inicial da globalização. Gradualmente,
este grupo único de intérpretes começou a enriquecer e a alterar as suas competências,
acabando por se tornar nos compradores dos comerciantes europeus nos mercados. Isto,
por sua vez, permitiu que, inconscientemente, estes antigos intérpretes e compradores
tivessem um importante contributo no crescimento célere da economia do Sul da China
e na sua integração no mercado mundial. Tendo por base arquivos publicados e relatos
coevos, esta comunicação examina este conjunto particular de indivíduos em Macau
antigo e Cantão, centrando-se no seu papel e contributo para o crescimento e
desenvolvimento do comércio estrangeiro nas duas cidades.
40
Interpreters and Compradors in early Macau and Canton
James K. Chin | The University of Hong Kong
[email protected]
With the coming of the Portuguese in Macau and the subsequent arrival of other
European trading companies in coastal south China, a sizable group of interpreters or
Tongshi as it is habitually recorded in imperial Chinese records quietly came into
existence in Macau and Canton respectively. They were not only interpreters or
translators for the Portuguese and other European merchants, but also functioned as
trade agents or representatives for both local Chinese authorities and European
companies. Sometimes they even monitored and regulated the daily business operations
in the port cities while playing a bridge role in the early phase of globalization.
Gradually this unique group of interpreters started to enrich and change their capacities
and eventually became the compradors for the European merchants in the marketplaces,
which in turn enabled these early interpreters and compradors unconsciously making
important contributions towards the rapid growth of South China’s economy and its
integration with the world market. Based on the published archives and contemporary
accounts, this paper examines this unique group of people in early Macau and Canton
with a focus on their roles, functions and contributions in the growth and development
of foreign trade in Macau and Canton.
41
Macau e o Japão no século XVI: confluências e conhecimento
Pedro Lage Correia | Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa – Estudos Asiáticos
[email protected]
A conquista de Malaca, em 1511, abriu as portas da Ásia Oriental aos mercadores lusoasiáticos. É neste contexto que, a partir dos anos de 1550, a integração em circuitos
comerciais permite um contacto quase simultâneo com a costa sul chinesa e o
arquipélago japonês. A gradual fixação destas comunidades em Macau e na ilha de
Kyushu vai intensificar-se ao longo da segunda metade do séc. XVI, particularmente
após a concessão de Nagasaki à Companhia de Jesus em 1571. Com o eixo MacauNagasaki, a comunidade luso-asiática afirma-se como intermediária comercial entre a
China e o Japão. Simultaneamente, a presença jesuíta vai estando associada à
comunidade mercantil macaense. Neste sentido, a cidade portuária de Macau torna-se
numa base de dados sobre o Japão, na qual se conjugam experiências e conhecimentos.
Uma partilha que resulta fundamental para a presença mercantil e missionária em
território japonês.
42
Macau and Japan in the 16th century: interrelations and knowledge
Pedro Lage Correia | Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa – Estudos Asiáticos
[email protected]
After the conquest of Melaka, in 1511, the doors of East Asia were open to the lusoasian merchants. The settlement of these mercantile communities in Macau and in
Kyushu takes shape after the 1550’s, mainly following the concession of Nagasaky to
the Jesuits in 1571. The articulation between the Society of Jesus and the mercantile
community of Macau allowed a share of knowledge and experiences. Thus, Macau
becomes a privileged data base regarding the Japanese reality, a port city where the
sharing of information becomes crucial for the establishment of both Jesuits and
merchants in Japan.
43
Xiangshan des-territorializada: Macau e o seu etnorama
Elisabetta Colla | Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa – Estudos Asiáticos
[email protected]
O objectivo deste ensaio é o de utilizar o conceito de des-territorialização e aplicá-lo à
história de Xiangshan em geral e mais especificamente de Macau durante o período
Kangxi, Yongzheng e Qianlong. A des-territorialização é um processo complexo que
veio a ser adoptado pelas teorias antropológicas e sociais para definir um fenómeno
segundo o qual as dinâmicas culturais de diferentes grupos sociais transcendem um
território específico (atribuído historicamente) e residem em zonas fronteiriças ou em
contexto cultural misto. O termo des-territorialização é utilizado para representar a
dissolução do vínculo histórico entre um determinado espaço geográfico e o seu povo,
causado por fenómenos globais ou – ainda – é utilizado para explicar o estabelecimento
de grupos sociais em locais transformados por fenómenos globais. Aomen 澳門/Macau,
localizado no distrito de Xiangshan, é o resultado de um processo de desterritorialização e consequente re-territorialização, o qual tem acabado por criar
discursos e práticas multiculturais únicas e dinâmicas. Estes discursos e práticas foram
o resultado de relações globais-locais que se manifestaram na arquitectura, no etnorama,
na língua, de Macau, entre outros aspectos.
44
Xiangshan deterritorialized: Macau and its ethnoscape
Elisabetta Colla | Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa – Estudos Asiáticos
[email protected]
The aim of this paper is to aply the concept of deterritorialization to the history of
Xiangshan in general and Macau more specifically, during the Kangxi, Yongzheng and
Qianlong periods. Deterritorialization is a complex process that has been adopted by
anthropological and social theories to define a phenomenon by which the cultural
dynamics of different social groups transcend a specific (historically attributed) territory
and inhabit borderlands or mixed cultural milieux. Deterritorialization is used as a
concept for the representation of the dissolution of a historical link between a specific
geographical territory and its people that has been caused by global cultural phenomena
or to account for social groups that inhabit a locality transformed by global phenomena.
Aomen 澳 門 /Macau, located in the Xiangshan district, is the result of
deterritorialization and reterritorialization processes, which have been creating unique
and dynamic multicultural discourses and practices. These discourses and practices
were the result of global-local relations manifested in the architecture, the ethnoscape,
the language, and other aspects of Macau.
45
Macau Global. Séculos XIX-XX
Alfredo Gomes Dias | Centro de Estudos Geográficos da Universidade de Lisboa
Escola Superior de Educação de Lisboa
[email protected]
Nas duas últimas décadas do século XX, o fenómeno da globalização transformou-se
num processo multidimensional, pelo que a sua análise, para além da componente
cientifico-tecnológica e económica, integra também as dimensões política, humana e
cultural.
A inclusão da China e do Japão no sistema económico mundial, em meados de
oitocentos, alterou profundamente a posição de Macau no tabuleiro regional da Ásia
Oriental, obrigando a cidade a encontrar novas formas de se integrar num mundo cada
vez mais interdependente. Assim, de meados do século XIX até ao final do século XX,
Macau, cidade portuária multicultural, passou a fazer parte de sistemas diversos –
políticos, económicos, sociais e culturais –, mas obedecendo a geografias variáveis que
importa equacionar.
No âmbito deste processo analítico, propomo-nos privilegiar três tópicos: (i) relevância
dos tratados luso-chineses; (ii) continuidades e rupturas económicas no Território; (iii)
mudanças nos fluxos migratórios a partir de Macau.
46
Global Macau. 19th-20th Centuries
Alfredo Gomes Dias | Centro de Estudos Geográficos da Universidade de Lisboa
Escola Superior de Educação de Lisboa
[email protected]
In the last two decades of the 20th, the phenomenon of globalization has become a
multidimensional process. Thus, its analysis has a scientific, technological and
economic component, but it further includes the political, cultural and human
dimensions.
The integration of China and Japan in the global economic system in the mid-19th
century profoundly changed the position of Macau in the East Asian region, forcing the
city to find out new ways of integration in an increasingly interdependent world.
Therefore, since the mid-19th century until the late 20th century, Macau, a multicultural
port city, has become part of many systems – political, economic, social and cultural –,
and at the same time it fulfilled different geographies that must be explored.
Within this analytical process, we will focus on three main topics: (i) the relevance of
the Luso-Chinese treaties; (ii) the economic continuities and discontinuities in the
Territory; (iii) and the changes in migration flows from Macau.
47
“Casablanca do Oriente”: Macau durante a II Guerra Mundial
Vincent Wai-kit Ho | University of Macau
[email protected]
Macau ficou conhecido como Monte Carlo ou Las Vegas do Oriente pelo facto de a
sua economia assentar, em larga medida, na indústria do jogo. Este género de epíteto
leva-nos a comparar o estatuto especial de Macau numa perspectiva global, sobretudo
durante a II Guerra Mundial. Embora Portugal fosse oficialmente um país neutral,
Timor sofreu o ataque da aviação japonesa, a 26 e 30 de Janeiro de 1942. Quando os
japoneses ocuparam Timor, Macau estava ainda sob o domínio português, sendo
também conhecido como “Casablanca do Oriente”, uma vez que foi o único
estabelecimento europeu na costa da China que pôde subsistir durante a Guerra do
Pacífico. Macau tornou-se um asilo dos refugiados britânicos e chineses de Hong Kong.
Oficiais japoneses e chineses de Taiwan estiveram activos em Macau, para observar o
movimento de resistência dos Nacionalistas chineses. Por sua vez, os comunistas
chineses usaram Macau como um corredor para resgatar algumas importantes figuras
que tinham escapado da China. Há registos que confirmam o interesse dos nazis
alemães em Macau, na década de 1930, no âmbito do transporte de ouro. O
bombardeamento americano da forte D. Maria II, em Macau, em Janeiro de 1945,
resultou do papel especial atribuído ao território, pela marinha Aliada no Pacífico. Tudo
isto mostra a rede global única de Macau com os Aliados, com o Eixo e com os países
neutrais, nesses anos de crise. Esta comunicação tenta ainda explicar, de um ponto de
vista global, a razão pela qual os japoneses não atacaram Macau no decurso da II
Guerra Mundial.
48
The "Casablanca of the Orient": Macau during the Second World War
Vincent Wai-kit Ho | University of Macau
[email protected]
Macau was known as Monte Carlo or Las Vegas of the Orient because the economy
relies quite heavily on its gambling industry. Such kind of sobriquet reminded us to
compare Macau’s special status from a global perspective, especially during the Second
World War. Although Portugal was officially a neutral country, Timor came under
attack from Japanese aircraft on January 26 and 30, 1942. When the Japanese did
occupy Timor, Macau was still under Portuguese rule which also known as "Casablanca
of the Orient" since it was the only European settlement on China coast able to exist
during the Pacific War. Macau became an asylum of British and Chinese refugees from
Hong Kong. Japanese officers and Chinese from Taiwan were active in Macau for
observing the resistance movement by Chinese Nationalists. Chinese communists using
Macau as a corridor to rescue some important Chinese figures escape from China.
There was record showing Nazi Germany interested in Macau in the 1930s and it also
related to the gold transportation. The American bombing of Macau’s fortification of D.
Maria II in January, 1945 reflected the special role of Macau from the perspective of the
Allied navy in the Pacific. All of the above show Macau’s unique global network with
the Allies, Axis and the neutral in those crisis years. This paper also attempts to answer
the question of why the Japanese did not attack Macau during the Second World War
from a global perspective.
49
Nómadas e o Ciclo do Ópio e do Chá
Arturo Giráldez | University of the Pacific (Stockton – CA)
[email protected]
Na China, o século XVIII testemunhou três fenómenos inter-relacionados com
consequências à escala mundial: um considerável crescimento da população chinesa
Han, a duplicação do território chinês na Ásia Central e o estabelecimento dos
europeus em Cantão. A actividade militar Qing na Ásia Central constituíu uma
empresa onerosa, sustentada através de impostos cobrados em forma de prata. Este
metal, embora sendo produzido e cunhado no México, viu o seu valor global
dependente da procura chinesa. Durante séculos, para obter a pretendida prata, os
chineses exportaram grandes quantidades de mercadorias. As mudanças económicas
ocorreram na trepidante costa marítima chinesa, a qual contrastava amplamente com
as economias da China setentrional e da Ásia Central. Os recursos necessários à
manutenção dessa política foram desviados do sul, para apoio da hegemonia Qing na
Ásia Central.
Desde meados do século XVIII, o chá foi expedido de Cantão, em quantidade
crescente, pela Companhia Britânica das Índias Orientais, a troco de prata em barra.
O consumo cada vez maior de açúcar e chá repercutiu-se à escala mundial, pois
permitiu alimentar a classe operária britânica envolvida na Transformação Industrial,
forneceu mais impostos à Coroa na Grã-Bretanha e na Índia, e requereu enormes
cifras de escravos africanos para as plantações de cana-de-açúcar. Devido ao elevado
preço da prata, os britânicos exportaram o ópio da Índia, no intuito de substituir os
dispendiosos “pesos de ocho”. Os conflitos ligados ao comércio nas costas chinesas
vieram a desembocar na Guerra do Ópio e nos Tratados Desiguais. Estas séries de
transformações corresponderam à capacidade da economia chinesa para produzir
enormes quantidades de mercadorias destinadas ao mercado global e, do mesmo
modo, à sua procura de prata em barra, que se revelou essencial no sistema
financeiro global. Simultaneamente, o imperador chinês exerceu a sua autoridade
50
sobre um território que se estendia das fronteiras da Ásia do Sueste à Manchúria, à
Mongólia e aos oásis da Ásia Central. Desenvolvimentos nos mercados globais e a
hegemonia militar chinesa estavam dependentes do poder da economia sínica que,
até ao século XIX, conseguiu manter o império sob uma autoridade comum.
51
Nomads and the Opium and Tea Cycle
Arturo Giráldez | University of the Pacific (Stockton – CA)
[email protected]
The eighteenth century in China witnessed three interrelated phenomenon of worldwide consequences: a considerable growth of Han Chinese population, the doubling
of Chinese territory in Central Asia and the establishment of Europeans in Canton.
Qing’s military activities in Central Asia were an expensive undertaking supported
by taxes collected in the form of silver. Silver was produced and minted in Mexico
but its global value was dependent upon Chinese demand. For centuries, to gather
the required bullion the Chinese exported large quantities of commodities.
Economic exchanges took place in China’s vibrant maritime façade that contrasted
sharply with the economies of Northern China and Central Asia. The required
resources to maintain such policy were siphoned off from the south to support
Qing’s Central Asian hegemony.
Since the middle of the eighteenth century tea was shipped in increasing quantities
from Canton by the British East India Company in exchange for bullion.
Consumption of increasing quantities of sugar and tea had worldwide
reverberations such as feeding the British working class engaged in the Industrial
Transformation, providing large amount of taxes for the Crown in Britain and India
and requiring large numbers of African slaves to harvest sugar cane. Due to the
high price of silver the British exported opium from India to replace the expensive
pieces of eight. Conflicts about trade in the Chinese coast ended in the Opium War
and the unequal treaties. These series of transformations corresponded to the
Chinese economy ability to produce enormous quantities of goods for the global
market and correspondingly its demand for bullion was essential on the global
financial system. Simultaneously the Chinese Emperor exercised its authority over
a territory that covered from the borders of Southeast Asia to Manchuria, Mongolia
and Central Asian oases.
52
Developments on the global markets and Chinese military hegemony were
dependent upon the power of the Chinese economy that was able until the
nineteenth century to maintain the Empire under a common authority.
53
A comunicação científica recíproca entre o Extremo Oriente e o Ocidente
(séculos XVII-XVIII), descrita pelos ‘media’ usados
Noël Golvers | Ferdinand Verbiest Institute, Katholieke Universiteit Leuven
[email protected]
Nesta apresentação irei proceder a uma primeira análise sintética da comunicação
científica entre Oriente e Ocidente, com base nos resultados da minha anterior
investigação sobre a difusão na Europa da astronomica de Verbiest, assim como no
actual projecto sobre a difusão de livros ocidentais na China: dois lados opostos, mas
complementares de um fenómeno de trocas intercontinentais e interculturais. Isto pode
ser definido de acordo com quatro elementos, viz. os media, as rotas de circulação, os
locais de contacto e as pessoas envolvidas. Nesta ocasião, centrar-me-ei nos vários
media e no seu papel nesta comunicação: livros e manuscritos; correspondência,
periódicos, ilustrações e informação oral. Uma série de exemplos fornecidos pelas
provas recolhidas irão demonstrar a contribuição particular de cada um deles na criação
de uma circulação – mais ou menos – firme de informação e conhecimento nas duas
direcções, com diferentes objectivos, mas permitindo formas de “conhecimento global”.
Uma primeira tentativa irá ser feita para compreender o lugar de Macau neste processo
de trocas.
54
The mutual scientific communication between the Far East and the West
(17th-18th centuries), described from the ‘media’ it used
Noël Golvers | Ferdinand Verbiest Institute, Katholieke Universiteit Leuven
[email protected]
In this paper I will bring a first synthetical analysis of the scientific communication
between East and West, on the basis of the results of my previous research on the
distribution of Verbiest’s astronomica through Europe, and the current project on the
diffusion of Western books in China: two opposite but complementary sides of one
phenomenon of inter-continental and inter-cultural exchange. This can be defined
according to four components, viz. the media, the routes of circulation, the places of
contact and the people involved. On this occasion, I will focus on the various media and
their role in this communication: books and manuscripts; correspondence, periodicals,
illustrations and oral information: a series of examples from the collected evidence will
demonstrate the particular contribution of each of them in creating a – more or less –
steady circulation of information and knowledge in both directions, with different
purposes but creating forms of ‘global knowledge’. A first attempt will be made to
define the part of Macau in this exchange process.
55
A difusão europeia da obra de Álvaro Semedo, S.J. (1585-1658)
Isabel Murta Pina | Centro Científico e Cultural de Macau
Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa – Estudos Asiáticos
[email protected]
Nomeado, em 1637, procurador da vice-província da China à Europa, Álvaro Semedo
para ali embarcou nesse mesmo ano. Para trás ficava uma experiência da China de mais
de duas décadas e a autoria da carta ânua de 1622 que, integrada na obra Lettere Annue
del Giappone dell'Anno MDCXXII e della Cina del 1621. & 1622 (Roma, 1627),
permitira que o seu nome não fosse já estranho a um público europeu interessado em
informação sobre a Ásia Oriental. Mas foi durante os quatro anos então passados na
Europa, em trânsito entre cidades como Lisboa, Évora, Madrid, Bordéus ou Roma, que
Semedo pôde assistir à publicação da obra que lhe iria conferir mais notoriedade:
Imperio de la China y Cultura Evangelica en el. Publicado pela primeira vez em 1642,
por Manuel de Faria e Sousa, em Madrid, o livro logo registou uma segunda impressão
nesse mesmo ano. No ano posterior, vertido de castelhano para italiano, foi reeditado,
em Roma, sob o título Relatione della Grande Monarchia della Cina. Tendo por base
esta edição italiana, rapidamente surgiram outras em língua francesa (1645) e inglesa
(1655), a que se seguiram reedições nos quatro idiomas mencionados, ainda nesse
século e no sequente. O impacto e ampla circulação deste livro, em diferentes línguas
vernáculas, faz de Semedo uma figura relevante na difusão do conhecimento sobre a
China e Macau na Europa dos séculos XVII e XVIII. Através da análise e comparação
das várias edições da obra, iremos observar a forma como a mesma foi, ao longo do
tempo, sofrendo ajustes e melhorias, mas também curiosas deturpações, factores que
tornam o seu estudo tanto mais interessante.
56
The European circulation of Álvaro Semedo’s work
Isabel Murta Pina | Centro Científico e Cultural de Macau
Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa – Estudos Asiáticos
[email protected]
Álvaro Semedo, S.J. (1585-1658) was appointed as the procurator of the Jesuit ViceProvince of China to Europe, in 1637 and set sail that same year. By then he not only
had over 20 years’ experience of China, but was also the author of the annual letter
from 1622, included in the Lettere Annue del Giappone dell'Anno MDCXXII e della
Cina del 1621 & 1622 (Rome, 1627). Due to this account his name was not strange to
European readers who took interest in East Asia. However it was during his four year
stay in Europe, when he visited cities such as Lisbon, Evora, Madrid, Bordeaux and
Rome, that he witnessed the publication of the book that was to bring him most fame:
Imperio de la China y Cultura Evangelica en el. First published in 1642, in Madrid, the
book was reissued in that same year. Shortly after, a new version was published, in
Italian, in 1643, under the title Relatione della Grande Monarchia della Cina. New
versions followed quickly in French (1645) and English (1655) based on this Italian
edition; subsequently, there was further re-editions in these four languages during that
same century and the next. Thanks to the circulation of this book in different
vernaculars, Semedo took a prominent role in the spread of the knowledge of China and
Macau in Europe in the 17th and 18th centuries. In this paper my aim is to analyze and
compare the various editions of Semedo’s book, so as to identify how the original
edition was adjusted and improved over the course of the time, as well as some curious
distortions, all of which make the study of this book so interesting.
57
Notas Adicionais à Materia Medica: Bencao bu 本草補
de Pedro de la Piñuela (1650-1704)
Chiara Bocci | Ludwig-Maximilians Universität München
[email protected]
Inúmeros estudos têm sido dedicados aos missionários jesuítas na Ásia Oriental,
especialmente ao seu trabalho e legado na área das ciências naturais, enquanto a
produção de outras ordens religiosas activas na China parece ter merecido, até agora,
muito menos atenção.
Esta comunicação apresenta uma primeira tradução anotada da obra Bencao bu,
preparada pelo missionário franciscano Pedro de la Piñuela, com o objectivo explícito
de alargar o conhecimento de botânica e de mineralogia dos chineses. O autor analisou
algumas plantas e pedras, na sua maioria de origem estrangeira, salientando o uso das
mesmas como medicamento ou amuleto: dedicou, assim, toda uma obra às necessidades
do corpo humano, tão importantes, na sua perspectiva, quanto as da alma. Além disso,
parece ser o protagonista de uma primeira iniciativa de globalização do conhecimento
médico ocidental ao levar para a China algumas noções daquele. A par da tradução
desta obra, procura-se identificar as substâncias descritas por Piñuela, assim como as
fontes escritas que o autor possa ter usado como referência.
58
Additional Notes of Materia Medica: the Bencao bu 本草補
by Pedro de la Piñuela (1650-1704)
Chiara Bocci | Ludwig-Maximilians Universität München
[email protected]
Several studies have been dedicated to the Jesuit missionaries in the Far East, especially
to their work and legacy in the field of natural sciences, while the achievements of other
religious orders active in China seem to have enjoyed much less attention until the
present day.
This paper presents a first annotated translation of the book Bencao bu, written by the
Franciscan missionary Pedro de la Piñuela with the explicit purpose of increasing the
knowledge of the Chinese about botany and mineralogy. The author examines a certain
number of plants and stones, for the most part of foreign origin, stressing their uses as
medicines or amulets: he thus dedicates a whole work to the necessities of the human
body, as important to his eyes as those of the soul. Moreover, he seems to be the
protagonist of an early attempt of globalizing western medical knowledge by bringing
some notions of it to China. Besides translating the work, it has been attempted to
identify the substances described by Piñuela, as well as the written sources that the
author might have used as reference.
59
Pareceres jesuítas sobre os feitos científicos da China
(séculos XVII-XVIII): algumas reflexões metodológicas
Ugo Baldini | Università di Padova
[email protected]
Desde o trabalho pioneiro de J. Needham que se tem verificado entre os autores
asiáticos e ocidentais uma tendência crescente para classificar como exagerada, ou
mesmo falsa, a posição tradicional dos historiadores europeus que consideravam a
ciência chinesa (sobretudo nos seus aspectos teóricos) como manifestamente retrógrada
em relação à europeia – pelo menos desde finais do século XVI. Independentemente
desta alegação ser ou não verdadeira, há uma questão que os seus defensores devem
necessariamente considerar: como surgiu tal equívoco, e como pôde prevalecer tão
generalizado e por tanto tempo. Algumas respostas prima facie podem ser facilmente
avançadas: a maior parte dos historiadores não tinha um conhecimento directo nem da
China, nem da sua literatura; uma tendência eurocêntrica prevalecia numa abordagem
que era preconceituosa e puramente documental; os mandarins mantinham o cerne da
tradição científica chinesa fora do alcance dos europeus; a China era um gigantesco país
e o seu passado um enorme oceano, de modo que os viajantes e autores europeus mais
não podiam apreciar que pequenas parcelas da mesma. Estas respostas – e outras
possíveis – exprimem seguramente verdades parciais. Ainda assim a sua soma não
parece formar uma verdade completa. Algo como um contra-facto existe: a China dos
séculos XVII e XVIII foi visitada e habitada por um grupo de pessoas relativamente
pequeno, mas altamente qualificado e que procurava o conhecimento, nomeadamente os
missionários jesuítas. Eles estudaram o corpus Confuciano e outros clássicos chineses,
travaram conhecimento com muitos mandarins cientificamente habilitados (alguns dos
quais se tornaram convertidos cristãos e seus amigos íntimos durante décadas),
trabalharam nos laboratórios técnicos da Corte de Pequim e, durante mais de um século,
dirigiram o Tribunal Astronómico imperial, o local onde se fez uso do mais avançado
conhecimento matemático-astronómico. Ainda se pode acrescentar que – de um modo
geral – eles não podem ser acusados de serem ‘Eurocentricos’ em qualquer sentido
60
trivial. De Matteo Ricci aos missionários do final do século XVIII, o conhecimento dos
feitos chineses em muitas áreas da civilização estava bastante generalizado. Além disso,
não havia qualquer motivo para que ocultassem o verdadeiro estado do progresso chinês,
mesmo nos relatórios privados enviados para o Superior da Companhia em Roma,
porque isso teria implicado erros na estratégia missionária. A despeito disto, os escritos
desses mesmos homens são praticamente unânimes em avaliar como bastante reduzido
o nível puramente científico da China. A presente comunicação oferece uma lista de
posições tomadas pelos mais importantes missionários cientistas jesuítas; e discute, de
seguida, a forma como essas posições devem ser abordadas pela historiografia
contemporânea.
61
Jesuit judgments about China's scientific attainments
(17th and 18th centuries): some methodological reflections
Ugo Baldini | Università di Padova
[email protected]
Starting from J. Needham’s pioneering work, there has been among both Asian and
Western scholars a continuously growing tendency to consider the traditional European
historians’ assumption that Chinese science (mainly in its theoretical aspects) was
markedly backward with respect to the European – at least since the end of the 16th
century – as a gross exaggeration, if not as mere falsity. Independently from this
contention being true or not, there is a question that its advocates must necessarily
consider: how did such a misunderstanding originate, and why could it prevail so
generally, and for such a long time? Some prima facie answers are easily conceived:
most historians did not know China and its literature directly; an Eurocentric bias
prevailed on an unprejudiced, purely documentary approach; the mandarins kept the
core of Chinese scientific tradition out of the Europeans’ reach; China was a gigantic
country and its past an enormous ocean, so European voyagers and scholars could only
taste small portions. These answers – and possible others – surely convey partial truths.
Yet, their sum does not seem to form a complete one. Something like a counterfact
exists: 17th and 18th centuries China was travelled and inhabited by a relatively little,
but highly qualified and knowledge-oriented group of persons, namely the Jesuit
missionaries. They studied the Confucian corpus and the other Chinese classics, made
the acquaintance of many scientifically qualified mandarins (some of whom became
Christian converts and their intimate friends during decades), worked in the Beijing
court’s technical laboratories, and during more than a century directed the imperial
‘Astronomial Tribunal’, the place where the most qualified Chinese mathematicalastronomical knowledge should have been employed. It may also be added that –
generally speaking – they cannot be accused of being ‘Eurocentrists’ in any trivial sense.
From Matteo Ricci to the late 18th century missionaries, aknowledgment of Chinese
attainments in many areas of civilizations was fairly common; moreover, there would
62
have not been no point in occulting China’s real state of advancement, even in the
private reports sent to the Society’s superiors in Rome, because this would have
entailed mistakes in missionary strategy. This notwithstanding, the writings of those
same men are almost unanimous in evaluating China’s purely scientific level as rather
low.
The present paper first provides a list of assertions by the most significant Jesuit
scientists-missionaries; then it discusses the way in which those assertions are to be
dealt with by contemporary historiography.
63
Robbe d’Europa: ligações globais e o envio de cartas, dinheiro e
mercadorias na missão da China do século XVIII
Eugenio Menegon | Boston University
[email protected]
Se hoje conhecemos algo sobre a vida dos europeus na China durante o período
moderno, devemo-lo aos valiosos relatos e cartas manuscritos, redigidos na China,
Macau e Cantão, e que ainda se encontram dispersos por arquivos de todo o mundo. As
cartas cruzaram oceanos e continentes em navios de alto mar, embarcações fluviais,
carruagens, cavalos e mulas, palanquins, etc, fazendo uso tanto dos sistemas europeus
de transporte, providenciados pelas várias Companhias das Índias Orientais e governos,
como de outros serviços postais locais, públicos e privados.
Nesta comunicação, centrar-me-ei no correio enviado e recebido em nome da missão da
China. Para além das cartas, no entanto, as agências missionárias também enviavam
mais “robbe d’Europa” (‘coisas europeias’), incluindo verbas (frequentemente sob a
forma de moedas de prata e de ouro), comida e drogas (chocolate, vinho, queijo, azeite,
tabaco, etc.), medicamentos, galanterie (objectos de luxo), livros, objectos devocionais
e estampas, entre outros. Produtos chineses (tais como chá, seda, medicamentos,
objectos de luxo, livros, etc.) eram remetidos na direcção oposta para agradar a patronos
na Europa.
Ainda não temos um retrato nítido de como as cartas e outros produtos circulavam
dentro da rede da missão da China (tanto da Europa para a China, como vice-versa), que
intermediários eram usados (incluindo núncios papais, Companhias das Índias Orientais,
mercadores asiáticos, o correio imperial Qing, etc.), como é que os objectos maiores
chegavam aos destinatários, como eram embalados, e quanto custava para os expedir.
Esta comunicação irá apresentar uma descrição preliminar deste complexo ‘sistema
postal’ e o tipo de objectos que eram enviados pela Congregação da Propaganda Fide,
pelos seus procuradores, e pelos seus missionários em Macau, Cantão e Pequim (com
referências ocasionais também à missão jesuíta), recorrendo a fontes preservadas nos
64
arquivos históricos da Propaganda Fide em Roma. Sem este sistema postal
multifacetado, imperfeito, mas ainda assim viável, o fluxo de informação e de cultura
material que alimentou a globalização moderna e, dentro dela, as missões chinesas, teria
sido impossível.
65
Robbe d’Europa: global connections and the mailing of letters, money,
and merchandise in the eighteenth-century China mission
Eugenio Menegon | Boston University
[email protected]
If today we know anything about the life of Europeans in China during the early
modern period, we owe it to the precious manuscript reports and letters written in
China, Macau, and Canton, and still found scattered in archival repositories all over
the world. Letters criss-crossed the oceans and the continents on sea ships, river
boats, carts, horses and mules, palanquins etc., using both European systems of
transportation provided by the various East India Companies and governments, and
other local public and private postal arrangements.
In this paper, I will focus on the mail sent and received on behalf of the China
mission. Besides letters, however, missionary agencies also mailed other “robbe
d’Europa” (‘European things’), including funds (often in the form of silver or gold
coins), foodstuff and drugs (chocolate, wine, cheese, olive oil, tobacco etc.),
medicines, galanterie (luxury objects), books, devotional objects and prints, and so
on. Chinese goods (such as tea, silk, medicines, luxury objects, books etc.) were sent
in the opposite direction to please patrons in Europe.
We still do not have a clear picture of how letters and other goods were transmitted
within the network of the China mission (both from Europe to China, and viceversa),
what intermediaries were used (including papal nuntii, East India Companies, Asian
merchants, the Qing imperial post, etc.), how long items took to reach their
addressees, how they were packaged, and how much it cost to mail them. This paper
will offer a preliminary description of this composite ‘postal system’ and the kind of
items being mailed by the Propaganda Fide Congregation, its procurators, and its
missionaries in Macau, Canton, and Beijing (with occasional references to the Jesuit
mission as well), using materials preserved in the Historical Archives of Propaganda
Fide in Rome. Without this multi-layered, imperfect, yet ultimately workable
66
mailing system, the flow of information and material culture that fuelled the early
modern globalization and, within it, the Chinese missions, would have been
impossible.
67
Da China Republicana para o Nanyang: Turismo e Nação
António Barrento | Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa – Estudos Asiáticos
[email protected]
Durante as décadas de 20 e 30 do século XX, aumentaram em todo o mundo,
nomeadamente na China Republicana, o interesse pelo turismo e a prática turística.
Neste enquadramento, o Nanyang constituiu-se na China como um relevante espaço
turístico no exterior, ao nível do discurso incidente sobre a temática da viagem de lazer,
ao mesmo tempo que era um destino turístico de uma pequena elite económica. São
indicativas destes aspectos múltiplas referências ao fenómeno turístico na região
encontradas em diferentes tipos de fontes, entre as quais se contam publicações
efectuadas por parte de instituições com objectivos de promoção da prática turística
assim como outras de índole menos especializada e com ligação menos clara a tais
objectivos. A China Travel Service teria um papel fundamental neste domínio. Veio,
através da sua estrutura organizativa constituída na China, a promover o turismo para o
Nanyang, v.g. através de várias publicações, assim como a fornecer serviços
relacionados com a prática turística nesse espaço geográfico, e veio, para além disso, a
estabelecer sucursais em Singapura em 1934 e em Manila em 1936, que lhe permitiram
prosseguir localmente a sua tarefa de assistência a turistas provenientes da China.
As visões turísticas do Nanyang encontradas nas diferentes fontes do período
republicano reflectem uma variedade de interesses, tais como uma atracção pelo exótico
e uma curiosidade especial no que diz respeito às particularidades dos costumes locais.
Em todo o caso, é de notar que as comunidades chinesas no Nanyang e os elementos
culturais chineses existentes na região eram importantes atracções turísticas propostas
ou visitadas na prática. Para além disso, o ‘olhar turístico’ era por vezes também
condicionado por considerações nacionalistas independentemente das atracções
turísticas em causa. Na verdade, tudo isto era uma manifestação de uma realidade mais
vasta. O nacionalismo era na China uma presença ocasional em matéria de turismo, tal
como se pode claramente observar em especial ao nível do discurso. Tal era, por sua
68
vez, o resultado de um contexto nacionalista forte, em que a questão nacional não
deixava de invadir o domínio da vida privada. Os textos incidentes sobre turismo
relativo ao Nanyang produzidos no período de ocupação do território durante a Segunda
Guerra Sino-Japonesa viriam, em particular, a ser muito visivelmente reveladores de
ansiedades nacionalistas e de intenções de afirmação nacional. Deste modo, as visões
turísticas do Nanyang, ao mesmo tempo que eram tanto o resultado como uma
materialização de tendências de globalização, viriam, em vários contextos, a assumir
contornos nacionalistas muito marcados também. As viagens turísticas para o Nanyang
viriam, neste sentido, a constituir experiências não apenas translocais ou transregionais
mas também de natureza nacional.
69
From Republican China to the Nanyang: The Nation on Tour
António Barrento | Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa – Estudos Asiáticos
[email protected]
During the 1920s and the 1930s, interest in tourism and tourist practice expanded
worldwide, including in Republican China. Within this framework, the Nanyang
emerged in China as a significant outbound touristic locus on the level of the discourse
on leisure travel, while it was furthermore to be the tourist destination of an affluent few.
These aspects are indicated by multiple references to tourism in the region, which are
found in a wide array of sources that include not only publications by institutions with
aims of tourism promotion but also others of a less specialized nature and less clearly
linked to such aims. The China Travel Service was to play a crucial role in this respect.
It was, through its China-based organizational structure, to promote tourism to the
Nanyang, e.g. through various publications, and to provide services connected to tourist
practice in the area, and was moreover to establish branches in Singapore in 1934 and in
Manila in 1936, which allowed it to locally pursue its task of assistance to tourists from
China.
Touristic visions of the Nanyang found in the different sources of the republican period
reflect a variety of interests, such as an attraction for the exotic and a specific curiosity
with regard to the particularities of local customs. Interestingly, however, the Nanyang
Chinese communities and the Chinese cultural elements extant in the region ranked
high amongst proposed and actual touristic attractions. In addition, the ‘tourist gaze’
was sometimes also to be formatted by nationalist considerations irrespective of the
specific attractions involved. In fact, all this was a manifestation of a broader reality.
Nationalism was to occasionally permeate tourism in China, as can clearly be observed
in particular on the level of discourse. This in turn was the result of a strong nationalist
context, in which the national issue did not refrain from invading the domain of private
life. Tourist material related to the Nanyang that was produced in the period of
occupation during the Second Sino-Japanese War was, in particular, to very visibly
70
reveal nationalist anxieties and intentions of national assertion. Thus, much as touristic
visions of the Nanyang were both the progeny and a materialization of globalizing
trends, they were, in distinct contexts, to assume very markedly national trappings as
well. In this sense, the Nanyang tour was to be not just a translocal, transregional
experience but a nation-related one too.
71
Urbanização e coesão social nas migrações de trabalhadores na China
Li Peilin | Center for Social Psychology Studies, Institute of Sociology, CASS, Pequim
[email protected]
Tian Feng | Center for Social Psychology Studies, Institute of Sociology, CASS, Pequim
[email protected]
Com base nos dados do Levantamento Social da China em 2011 (China GSS – dados
demográficos e sociológicos das paisagens demográfica, urbana, rural, familiar, etc.),
esta comunicação descreve a diferença na coesão social entre a antiga e a nova geração
migratória chinesa das forças de trabalho em quatro dimensões: económica, social,
psicológica e identitária.
Com base em modelos, linear e Logit, de retrogressão são analisados factores que
afectam a coesão social dos trabalhadores emigrantes na sociedade urbana como os de
capital humano, capital social e sistema social. Pelo controle doutras variáveis concluise que não existem diferenças significativas, quanto à coesão social, entre as gerações
antiga e nova dos trabalhadores migratórios chineses. No processo de urbanização a
coesão social dos trabalhadores migrantes (do campo para a cidade, de região para
região) não segue uma progressão linear do tipo economia, social, psicológica e
identitária mas sim uma progressão paralela e multidimensional. Apresentamos pois a
seguinte sugestão: o governo chinês deve desenvolver, quanto mais cedo melhor, um
planeamento para encontrar soluções acerca da coesão social dos trabalhadores
migrantes em processo de urbanização.
72
Urbanization and social cohesion of migrant workers in China
Li Peilin | Center for Social Psychology Studies, Institute of Sociology, CASS, Beijing
[email protected]
Tian Feng | Center for Social Psychology Studies, Institute of Sociology, CASS, Beijing
[email protected]
Based on the data of China Social Survey 2011, this article descript the difference of
social cohesion between the older generation and the new generation migrant workers
on four dimensions: economic, social, psychological and identity. In the linear
regression model and Logit regression model, we analysis factors which would effect
the social cohesion of migrant workers in urban society, such as human capital, social
capital and social system, etc. By controlling other variables, there is no significant
difference between the older generation and the new generation migrant workers on
social cohesion. In the process of urbanization, the social cohesion of migrant worker
not follow the linear progress in the order of economy – social – psychological –
identity, but it is likely to be parallel and multi-dimensional. Then we give some
suggestion: the China government should develop a roadmap to solve the social
cohesion of migrant workers in the urbanization process as soon as possible.
73
Download

Resumos - Centro Científico e Cultural de Macau