Disciplina de Psicologia Médica
Aula:
Reações psicológicas ao
adoecer e à internação
Prof. José Henrique Cunha Figueiredo
“Mens sana in corpore sano: utopia humana”
Autor: José Henrique Figueiredo
A mente sã e o meu corpo são
É tudo o que eu quero na vida
Mas, é só isso a minha vida?
Este é o todo necessário pra me sentir feliz?
E felicidade é só isso?
O que, então, é ser infeliz?
Um momento. Eu estou tergiversando.
Não é a felicidade que quero abordar
Eu não quero filosofar
Estou aqui pra discutir
Aquilo que mais me assusta na vida
Dividir com vocês o meu medo de adoecer
De me perder nas brenhas da minha mente
Envolto nas sombras e nevoeiros
Que cegam meu discernimento
E tiram a minha paz
Mas o que é adoecer?
Alguém aqui já adoeceu?
Experimentou a dor de não estar com o
corpo são?
Talvez sim, talvez não
Sim, porque pra adoecer não tem idade
Muito menos imunidade
Ah! Isto me faz pensar
Que adoecer é desenterrar
É remover sentimentos acomodados
Jamais tocados
Todos imaculados
Desconhecidos até…
Será que eu quero saber?
E depois o que fazer?
Pensar já me faz estremecer
Como uma bomba a ensurdecer
Sem nada mais escutar
A mente a estreitar
Fazendo a morte se aproximar
Não, não, isso não
Antes, muitas águas vão rolar
A ameaça a fustigar
Fazendo as idéias desencontrar
Sentimentos se confundir
O rosto esconder
O choro engolir
Sozinho querer ficar
Será que o adoecer
É tão cheio de poder
A ponto de vazar
O desejo de alegrar?
Quanto poder detém
Pra sobrepor vida de glórias
Cheia de vitórias
Repleta de histórias
Sem pagar um único vintém?
Tal qual entrada franqueada
Sensações desenfreadas
Invadem o corpo e a mente
Sem sequer se anunciar
Quanta vergonha minha gente
Sinto ao ficar doente
Ver meu corpo fraquejar
Como se fosse estilhaçar
Como um ser desprezível
Envergonhado, desonrado
Ultrajado e humilhado
Inferiorizado e praguejado
Que vergonha!
Não dá pra encarar
Quanta culpa minha gente
Sinto ao ficar doente
Responsável pelo desastre
Pelo mal a mim causado
Descumpridor de uma norma
Social, afetiva ou moral
Uma verdadeira catástrofe
Que inimigo é este
Será de dentro ou de fora
Silencioso ou canoro
Cuja harmonia é maldosa
Envolvendo sistemas e órgãos
Em agressão silenciosa
Cuja nota final é dolorosa?
Este inimigo existe?
Será real o que sinto
Ou querem me convencer
Obrigar a conceber
O que não quero acreditar?
Ou será que a minha recusa
É uma inaptidão profusa
Rejeição inconsciente
De fragilidades recalcadas
Travestidas ou fantasiadas
Às limitações, dores, paralisias
Aos tumores, cansaços, arritmias
Bronquiectasias, pneumonias, leucemias…
Negar é confirmar pelo avesso,
O que não é bom
Ou não se quer aceitar
Negar pode só adiar
A aceitação do que se quer evitar
Como verdade incontestável
Fundamentada, evidenciada e explicada
Quanta raiva, quanta raiva!!!
Pobre sentimento, mas alivia
Não sendo nobre o que sente
Que canção comporia
Tendo a revolta, frustração e tristeza
como melodias?
Preciso de forças pra resistir
Ao peso dos grilhões do adoecer
Que turvam a minha mente
E aparvalham o meu ser
Marioneta minhas emoções
Causando flutuações
Pondo o meu humor em provação
Para, à depressão não sucumbir
Outra faceta a lembrar
É a inquietude do pensar
Refletindo no corpo e no agir
Muita secura ante o ar
Aerofagia de tanto falar
Respiração ofegante a brandir
Tremores, suores a anunciar
Que o simpático ativou
E está próximo de sua vitória alardear
Internação foi o que ouvi?
O que vai ser de mim?
Que lugar é este que eu não escolhi?
HOSPITAL?
Este lugar lembra doença
Será que lá vêem doentes também?
Terra estranha, desconhecida
Corredores, CTIs, enfermarias,
Gente grande e pequena
Clínica geral, pediatria
Cirurgia, gastroenterologia e até psiquiatria
Agitação, calmaria
Adultos compenetrados em correria
São os doutores e a freguesia
É a equipe de saúde e sua fantasia
Doutor, como eu estou?
Por enquanto, nada posso responder
Preciso investigar
Investigar o que?
Ouvindo-me, observando-me?
Ou o senhor vai me auscultar?
Ah! Também vai me apalpar?
Tenho que localizar
A dor que lhe incomoda
E que passa a me incomodar
Entenda, não é tão simples
Um paciente curar
A medicina é mais difícil
Porque é complexo diagnosticar
Nem sempre basta só os sentidos explorar
Por vezes, aparelhos há que adentrar
Se entranhar pra ver
O que os órgãos têm a dizer
E a minha vida lá fora
Meu trabalho, quem vai fazer?
Minha vaga está garantida?
O que o senhor tem a dizer?
Será a minha mente caída
Que perturbada quer saber
Como está minha família
E quando daqui vou sair?
Aqui não é minha casa
Na minha cama quero dormir
Com tanta luz nos meus olhos
Vozes ao longe a me confundir
Se é um hospital ou feira, ignoro
Só sei que quero sair
E a resposta que não chega
Do que tenho a me corroer
Será que o doutor não fala
Pra não me fazer sofrer?
Ou será que ele não sabe o que está
a acontecer?
Bom-dia, senhor!
Já conheço o seu mal
Sei o seu diagnóstico
É mesmo patológico
Mas tem algo de normal
Ouvi os seus murmúrios
Esteve sempre a se queixar
Da doença, do hospital
E muitas outras lamúrias
Que procurei atentar
Primeiro, foi o medo
Por ignorar o adoecer
Não saber que caminho seguir
Muito menos o que fazer
Nem como lidar
Com o despertar de sentimentos
Até então desconhecidos
Surgindo enfurecidos
Como lavas a queimar
Depois, foi tristeza e vergonha
Do julgamento de outrém
Em recato exagerado
Com os brios afetados
E o narcisismo também
E culpa de ter facilitado
A um inimigo sorrateiro
Misterioso e traiçoeiro
Atacar seu organismo
E exibí-lo fragilíssimo
Sem querer acreditar
Agiu com negação
Como se fosse solução
Mas, em tempo concluiu
Que era tudo frustração
Mas, pra finalizar
É bom explicar pra compreender
Que é nebuloso adoecer
Faz a gente enfraquecer
A mente, o corpo e todo o ser
Até que se possa entender.
Que a canção cantada ao fundo
Não é a doença, a internação ou o adoecer
É aquilo que recusamos
Não conversamos e negamos
Que é a infelicidade do MORRER!
Assim se conta uma história
Em uma aula ou coisa assim
Sobre um assunto penoso
Rejeitado mas, curioso
Pra MÉDICOS, ALUNOS, ARTISTAS
De uma arte sem fim
MEDICINA,
ARTE,
POESIA,
Que diferença há entre si?
MEDICINA – conjunto de
conhecimentos relativos à manutenção
da saúde, bem como à prevenção,
tratamento e cura das doenças,
traumatismos e afecções, considerada
por alguns uma técnica e, por outros,
uma ciência.
2 – arte e ciência de curar ou prevenir
as doenças.
ARTE – segundo tradição que remonta ao
platonismo, habilidade ou disposição dirigida
para a execução de uma finalidade prática
ou teórica, realizada de forma consciente,
controlada e racional.
2 – segundo tradição que remonta ao
aristotelismo, conjunto de meios e
procedimentos através dos quais é possível a
obtenção de finalidades práticas ou a
produção de objetos; técnica.
POESIA – composição em versos (livres
e/ou providos de rima) cujo conteúdo
apresenta uma visão emocional e/ou
conceitual na abordagem de idéias,
estados de alma, sentimentos,
impressões subjetivas etc., quase
sempre expressos por associações
imagétiicas.
2 – arte de compor ou escrever versos.
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