20, 21 e 22 de junho de 2013 ISSN 1984-9354 PROPOSTAS DE DIRETRIZES PARA ANÁLISE DE SISTEMA DE GESTÃO DE SAÚDE E SEGURANÇA. O CASO DA INDÚSTRIA SIDERÚRGICA. Marcos Jorge Gama Nunes (UFF) Robson Spinelli Gomes (UFF) Resumo O fenômeno da globalização trouxe alterações substanciais na gestão de todo o sistema produtivo das empresas e para que possa garantir condições de trabalhos isentos de riscos, torna-se imprescindível ter sistema de gestão que objetive a inntegridade física e mental do trabalhador. Uma análise do sistema, direcionada ao diagnóstico real, levará às medidas de redução dos riscos, com maiores chances de prevenir a ocorrência de acidentes e doenças originadas a partir dos processos de trabalho. O presente estudo visou identificar, através da favorabilidade das ferramentas preventivas, a eficiência do sistema de gestão na execução das atividades siderúrgicas. A metodologia utilizada foi desenvolvida a partir do processo exploratório, por meio de revisão da literatura e utilização de questionário, onde avaliou o conhecimento dos trabalhadores a partir do conhecimento prático dos aspectos preventivos do sistema. Da pesquisa realizada, resultaram sugestões de melhorias para o sistema de gestão, liderança e as condições dos postos de trabalho, e concluiu-se acerca da importância do líder como exemplo, conhecedor das técnicas e do gerenciamento das ferramentas preventivas. Neste contexto inserido, está a relevante participação dos trabalhadores na concepção e aprimoramento de sistemas de gestão de saúde e segurança do trabalho. Palavras-chaves: Acidente. Siderurgia. Sistema de Gestão. Segurança do Trabalho. IX CONGRESSO NACIONAL DE EXCELÊNCIA EM GESTÃO 20, 21 e 22 de junho de 2013 1 INTRODUÇÃO A preocupação com a Segurança do Trabalho no Brasil se deu por meio da obrigatoriedade dos Serviços de Segurança e Medicina do Trabalho nas empresas, regulamentada por intermédio do então Ministério do Trabalho e da Previdência Social, que posteriormente transformou em Normas Regulamentadoras, baixadas pela Portaria n° 3.214/78 do Ministério do Trabalho e Emprego (ARAÚJO, 2002). Sabe-se que a Segurança no Trabalho já se encontra verdadeiramente instituída em muitas empresas, embora em outras se faça muito pouco, sendo descumpridas as regras mais elementares. O retrato disso aparece nas estatísticas sobre acidentes e doenças do trabalho, as quais apresentam um quadro de dor e sofrimento para as vítimas. Segundo Oliveira (2001), os indicadores divulgados no Brasil dão indícios de que os números de acidentes, mortes e doenças com seqüelas, aumentaram no decorrer de vinte anos (1974 a 1994), acidentaram-se no Brasil, 23.905.916 trabalhadores, resultando em 91.656 mortes. Em estudos mais recentes, verifica-se que os acidentes fatais persistem mesmo com a chegada dos sistemas de gestão (SANTANA et al., 2006), Correia ( 2007), verificou que entre o ano 2000 e 2005, mais de 20.462 empresas tiveram algum tipo de certificação, o que não resultou em uma variável positiva relativa a acidentes do trabalho, apesar das mais diversas certificações, estas muitas vezes, não são fatores que inibem acidentes e muito menos que os evitem. Por que mesmo diante da existência de sistemas de gestão de saúde e segurança do trabalho nas empresas, resistem os altos índices de acidentes de trabalho, já que os sistemas de gestão são considerados instrumentos eficazes para a melhoria das condições no ambiente de trabalho, configurando-se como uma alternativa possível para a evolução da gestão de saúde e segurança nas empresas? (VIEIRA et al., 2009). 2 SITUAÇÃO-PROBLEMA 2 IX CONGRESSO NACIONAL DE EXCELÊNCIA EM GESTÃO 20, 21 e 22 de junho de 2013 As empresas para serem competitivas, têm em seus processos a busca por trabalhadores mais especializados nos arranjos produtivos: os trabalhadores chamados multifunções, onde predominam o domínio de padrões, processos operacionais e os programas de manutenção autônoma. Os processos de reestruturação produtiva e globalização da economia de mercado em curso têm acarretado mudanças significativas na organização e gestão do trabalho, com repercussões importantes sobre a saúde e a segurança do trabalhador (CARDELLA, 2009). Vinte e um anos após a entrada da legislação em vigor, que ensejou as regras de saúde e segurança do trabalhador, com a Portaria 3.214/78 do MTE, e mais de duas décadas da chegada dos sistemas de gestão no Brasil, observa-se que não houve a redução dos números de acidentes. Face a isso, o presente estudo pretende investigar as razões e motivos pelos quais os indicadores não estão sendo alterados. Incluem-se nesse contexto, os acidentes ocorridos na siderurgia, que contribuíram com altos índices de acidentes, totalizando 64.904 nos últimos 5 anos, tendo uma frequência de 36 acidentes por dia (MPS, 2010). Muito além dos acidentes, famílias envolvidas e tributos pagos, a quantidade de casos, assim como a gravidade geralmente apresentada como consequência dos acidentes do trabalho, ratifica a necessidade emergencial de construção de melhores práticas nas empresas, melhor assessoria na gestão de saúde e segurança do trabalho e novas ações para alterar esse cenário (ALEVATO, 2004). 3 OBJETIVO O presente estudo visa identificar, através da favorabilidade das ferramentas preventivas do sistema de gestão de saúde e segurança do trabalho, a eficiência no atendimento aos requisitos do sistema, na Siderurgia. 4 METODOLOGIA 4.1 Método da Pesquisa 3 IX CONGRESSO NACIONAL DE EXCELÊNCIA EM GESTÃO 20, 21 e 22 de junho de 2013 A abordagem escolhida para este trabalho foi o estudo de caso exploratório de acordo com Gil (2010, p. 27). Estas condições são pertinentes à realidade do conhecimento sobre os acidentes do trabalho na Siderurgia, apesar de muito discutido por sua importância e relevância, sistema de gestão de SST na Siderurgia é um fenômeno recente, experimentado por um seleto grupo de empresas brasileiras, não havendo por essa razão, muitos trabalhos explorando o assunto. Foi realizado um plano de pesquisa, seguindo o esquema proposto por Gil (2010, p. 117), o qual procura focar as questões relevantes para o estudo. Os dados levantados foram obtidos em duas etapas, por meio de análise de documentos e aplicação de questionário. A primeira etapa foi obtida através dos laudos de Periculosidade e Insalubridade da empresa selecionada para o estudo de caso, onde foi mapeada a existência das áreas com trabalhadores executando atividades perigosas em locais insalubres, o pior cenário da Siderurgia. Para a coleta de dados, foram utilizadas algumas técnicas: aplicação de questionário, análise de padrões operacionais, análise de documentos legais e práticas preventivas do sistema de gestão saúde e segurança do trabalho. Para a escolha da empresa, foram coletados dados das siderúrgicas que praticam sistema de SST, por meio de consultas ao instituto que as representam. A pesquisa considera a aplicação de um questionário com os trabalhadores que assinalaram a execução de atividades descritas na Norma Regulamentadora -16 Atividades e Operações Perigosas e que tiveram envolvidos nas práticas de gestão de saúde e segurança integradas no dia a dia de trabalho. Com relação à aplicação do questionário, seguem as seguintes observações: Perguntas fechadas com cinco opções de marcações. Perguntas relacionadas aos requisitos preventivos do sistema SST, transformados em ferramentas de prevenção do sistema de saúde e segurança, com marcação de três fatores: Liderança, Trabalhadores e Condições dos postos de trabalho; Liderança: perguntas 1, 2, 3, 5, 8, 9, 12,14, 16 e 22. Trabalhadores: perguntas 4, 6, 10, 11, 13, 15 e 18. Condições dos postos de trabalho: perguntas 7, 17, 19, 20 e 21. Vinte e duas perguntas no total. A marcação é válida somente para uma opção. 4 IX CONGRESSO NACIONAL DE EXCELÊNCIA EM GESTÃO 20, 21 e 22 de junho de 2013 Em todas as ocasiões de aplicação do questionário, logo após a discussão inicial dos objetivos da pesquisa, foi enfatizada a importância de as respostas serem dadas de forma sincera e que os questionários por eles devolvidos não deveriam conter os seus nomes, ou seja, a participação foi anônima. Gil (2008b, p. 89-90) define universo ou população da pesquisa como “um conjunto bem definido de elementos que possuem determinadas características”. Para os propósitos do presente estudo, foi considerada uma amostragem em um universo de 356 trabalhadores mapeados. O estudo considerou que, pelo fato de a empresa ter sistema de gestão de SST, a população pesquisada corresponde a um padrão de gestão destacado, ou, no mínimo equivalente, se comparado com as demais empresas que praticam SST no Brasil. Após os ajustes necessários, os dados foram coletados em número suficiente para a manifestação de todos os atores relevantes para entendimento da pesquisa. (GIL, 2010, p.121). A análise dos resultados apresentados foram agrupados de acordo com a similitude, e adaptado da metodologia Hay Group, por meio de respostas positivas denominadas “favorabilidade”, a qual possibilita medir o nível de eficiência dos trabalhadores nas ferramentas do sistema de gestão. A seguir, são apresentados os agrupamentos analisados: O Índice de Favorabilidade de cada fator refere-se à soma dos resultados “frequentemente” e “sempre”, demonstrados separadamente no gráfico. Favorabilidade por pergunta para cada fator. Estes resultados foram comparados com a literatura existente para estabelecer cadeias lógicas de evidências e construção da coerência conceitual e teórica (GIL, 2010, p.123). 5 ASPECTOS TEÓRICOS ENVOLVIDOS 5.1 A SIDERURGIA NO BRASIL A Indústria Siderúrgica brasileira desenvolve posição competitiva bastante favorável no cenário mundial, tendo por base elevados investimentos na modernização das usinas e 5 IX CONGRESSO NACIONAL DE EXCELÊNCIA EM GESTÃO 20, 21 e 22 de junho de 2013 importantes vantagens comparativas na estrutura de suprimento de suas matérias-primas básicas (IBS, 2008). Por se tratar de um insumo básico da indústria de transformação e construção civil, o consumo de aço depende do nível de investimento e do desempenho dos demais setores da atividade econômica (KUPFER; HASENCLEVER, 2002). Segundo Arcioni (2008), as indústrias siderúrgicas são de extrema importância para o país e a produção de aço é um forte indicador do estágio de desenvolvimento econômico. O setor siderúrgico emprega, traz divisas para o país, estimula o desenvolvimento e fortalece a independência econômica, contribuindo assim, para a melhoria da qualidade de vida da população. Paralelo a essas vantagens, encontra no sistema de gestão um meio para reduzir suas perdas com reparos, multas, reprocesso e custos dos acidentes pessoais, contribuindo para a competitividade e sustentabilidade da organização. 5.2 BENEFÍCIOS DE UM SISTEMA DE GESTÃO Antes de debruçar sobre o tema é conveniente definir sistema de gestão, anotação relatada por Pereira (2006): “Sistema de gestão é um conjunto de instrumentos interrelacionados, interatuantes e interdependentes que a organização utiliza para planejar, operar e controlar suas atividades para atingir objetivos.” Pela importância do cenário, implantar sistema de SST nas empresas foi estudado por diversos pesquisadores. Segundo Benite (2004), sistema de gestão busca um ambiente de trabalho seguro e saudável com a consequente redução dos acidentes, melhoria das relações de trabalho e a redução dos passivos trabalhistas. Na mesma linha de raciocínio, Gazzi (2005) descreve que as vantagens da implantação de sistema de gestão em SST nas empresas, sejam tanto para a redução dos perigos e riscos, como para o acréscimo de produtividade, têm conquistado um crescente reconhecimento da sociedade, governantes, empregadores e trabalhadores. As iniciativas observadas nas empresas que implementam sistema de gestão de SST, a partir de requisitos de normas reconhecidas, têm sido creditadas pela mídia e comunidade com resultados positivos na sua totalidade, descreve (OLIVEIRA, 2003). Concordando, Fernandes (2005) coloca que sistema de gestão significa ter, de uma forma organizada e modelada de controle, a utilização dos recursos da organização, monitorando, através de indicadores, o resultado esperado. Na mesma direção, Rocha (2007) afirma que após a 6 IX CONGRESSO NACIONAL DE EXCELÊNCIA EM GESTÃO 20, 21 e 22 de junho de 2013 implementação de um sistema de gestão de SST, os indicadores reativos melhoraram, a partir do conhecimento e participação dos colaboradores. Por fim, Althoff (2007 apud QUELLAS et al., 2003) concorda com as abordagens acima e, de forma pragmática, sugere que ter sistema de gestão vai além intramuros. Com relação ás questões sociais da comunidade de entorno e aspectos ambientais relacionados à sua atividade, as organizações como forma de evitar acidentes e garantir a saúde de seus trabalhadores, devem desenvolver sistemas de gestão de SST num ambiente de “colaboração mútua entre os empregadores, trabalhadores e comunidade”. 5.3 A PARTICIPAÇÃO DOS TRABALHADORES NO DESENPENHO DO SISTEMA DE GESTÃO Para o sucesso do sistema de gestão de SST, é importante ouvir os trabalhadores, fazer com que conheçam e se conscientizem da importância do sistema para a melhoria da qualidade dos ambientes. Estas são condições fundamentais, mas não suficientes para a redução de perdas. Mais do que isso, é preciso que cada trabalhador esteja comprometido com o processo desde sua implementação e que de forma permanente, contribua para que de fato, seja eficaz (OLIVEIRA, 2005). Este estágio não é alcançado somente com informações e treinamento, mas com mudança de visão, a qual conduza todos a crerem que a totalidade dos perigos e riscos presentes nos ambientes pode e deve ser identificada e eliminada. É necessário, portanto, que uma nova cultura seja incorporada por todos que compõem a empresa. Condição escrita no Manual de auditoria em segurança e saúde no setor Siderúrgico (2002) conforme abaixo: A análise do sistema de gestão de riscos implementado pela empresa é o ponto de partida para a inspeção de uma indústria siderúrgica. Alguns pontos básicos devem ser identificados na análise do SGR de uma empresa, dentre os quais, destacam-se: Comprometimento da alta direção. Participação dos trabalhadores na elaboração, implementação e controle dos programas. Segundo Gazzi (2005), o não comprometimento expresso da alta direção da empresa e o distanciamento dos trabalhadores na elaboração e na condução dos programas de SST 7 IX CONGRESSO NACIONAL DE EXCELÊNCIA EM GESTÃO 20, 21 e 22 de junho de 2013 dentro de uma empresa, implicam em uma provável falência de seu sistema de gestão. Nesta direção, menciona como instrumentos participativos: reuniões gerenciais, reuniões de produção, inspeções, auditorias internas e planos de sugestões. 6 RESULTADOS DA PESQUISA O questionário foi aplicado em 126 trabalhadores executantes de atividades perigosas em locais insalubres, sendo que destes, 122 são do gênero masculino e 4 do gênero feminino. Da população pesquisada, 28% estão na empresa desde o início da implantação do sistema de gestão de saúde e segurança e por ter o sentimento do antes e depois, são capazes de determinar um viés positivo na pesquisa. Do total que respondeu à pesquisa, mais da metade executa tarefas que envolvem energia elétrica e produto químico inflamável, por se tratar de processos contínuos este resultado pode ser a combinação dos agentes estudados. Foram ainda encontrados oito trabalhadores executando atividades envolvendo o agente radiação ionizante, número que se torna expressivo por ter o risco significante perigoso e com capacidade ilimitada de provocar danos (GOMES, 2007). Observa-se a ausência do agente explosivo na empresa pesquisada e fica confirmada a presença de atividades envolvendo energia elétrica, químicos inflamáveis e radiação ionizante, bem como o claro conhecimento dos trabalhadores que a executam. 6.1 Distribuição da Síntese dos fatores Os resultados a seguir, apresentam os percentuais obtidos através da síntese das respostas de todas as perguntas referentes a cada um dos fatores que contribuem para a eficiência do sistema. Esta análise indica o fator cujo índice de favorabilidade é o mais alto em relação aos demais. Para facilitar a análise comparativa, os fatores foram organizados em ordem decrescente. O índice de favorabilidade, apresentado logo abaixo de cada fator, refere-se à soma dos resultados das respostas "sempre" e "frequentemente", demonstrados no resultado. O índice é adaptado da metodologia Hay Group, e se dá por meio das respostas positivas que 8 IX CONGRESSO NACIONAL DE EXCELÊNCIA EM GESTÃO 20, 21 e 22 de junho de 2013 compõem a favorabilidade. Assim, possibilita medir o nível de eficiência dos trabalhadores no atendimento às ferramentas do sistema de gestão de SST. Finalmente, considerar-se-á eficiente quando o resultado convergir mais de 70% para favorabilidade do fator Condições dos Postos de Trabalho e a média dos fatores liderança e trabalhadores mencionados na pesquisa superar 50% de favorabilidade, conforme sistema de pontuação progressiva do sistema aplicado na empresa pesquisada (SCIS, 2000). O fator trabalhador teve o melhor resultado com 77,56% de favorabilidade, o que confirma que os requisitos preventivos do sistema são conhecidos pela maioria dos trabalhadores. O fator liderança, com a segunda melhor pontuação com 51,62% de favorabilidade, fica próximo ao requisito mínimo para manter o nível de reconhecimento do sistema de pontuação progressivo do SCIS, que é de 50%. E longe do melhor valor esperado para o último nível, com 90% de atendimento aos requisitos do sistema (SCIS, 2000). O fator condições dos postos de trabalho teve alta desfavorabilidade para as condições do ambiente com 64,74%. Obteve, da soma das respostas favoráveis, somente 35,26% dos trabalhadores não se importando em realizar atividades perigosas em condições envolvendo ruído, calor e agentes químicos. Por último, o valor encontrado para a empresa foi de 56,13% de favorabilidade, e aponta que trabalhadores executantes de atividades perigosas necessitam de ajustes na forma de conduzir suas atividades e não devem administrar os riscos. Segundo Oliveira (2006), as percepções e práticas desenvolvidas no tocante à segurança do trabalhador têm suas bases assentadas e consolidadas no valor conferido ao assunto. Foi assim com a qualidade e agora deve ser relativo ao SST. 6.2 Distribuição das perguntas por fator e favorabilidade Os índices a seguir, demonstram os percentuais de respostas favoráveis e desfavoráveis obtidas em cada uma das 22 perguntas que compõem os três fatores, iniciando em ordem decrescente. Fator - Trabalhadores; Fator - Liderança; Fator – Condições dos postos de Trabalho; 9 IX CONGRESSO NACIONAL DE EXCELÊNCIA EM GESTÃO 20, 21 e 22 de junho de 2013 Figura 1 – Distribuição por pergunta por categoria – Fator Trabalhadores Fonte: Empresa objeto do estudo de caso. O resultado das perguntas do fator trabalhador teve os valores direcionados às respostas que representam alta eficiência na aplicação das ferramentas preventivas do sistema, num total de 77,56% de favorabilidade. Percebe-se ainda, que mesmo a pergunta 11, com melhor resultado 88,89%; alguns trabalhadores ao se depararem com uma situação de risco considerado grave, não se recusam a realizar a tarefa, até que a situação seja corrigida. Esta condição é de extrema relevância para o sistema. Na continuação da análise, as perguntas: 6 - Independente da situação de produção ou emergência, é eliminado ou reduzido o risco antes da execução de tarefas de maneira insegura e pergunta 10 - Nas paradas por quebra/interrupção de equipamentos (manutenção corretiva) 10 IX CONGRESSO NACIONAL DE EXCELÊNCIA EM GESTÃO 20, 21 e 22 de junho de 2013 o atendimento das ferramentas do SST é facilitado pela preparação, tiveram resultados semelhantes com 61,90% de favorabilidade. Não sendo uma coincidência, mas quando um processo é interrompido “parado”, deveria ter no mínimo 90% de favorabilidade, o que torna o resultado encontrado abaixo do esperado. 11 IX CONGRESSO NACIONAL DE EXCELÊNCIA EM GESTÃO 20, 21 e 22 de junho de 2013 Figura 2 – Distribuição por pergunta por categoria – Fator Liderança Fonte: Empresa objeto do estudo de caso. O resultado das perguntas do fator liderança teve os valores direcionados às respostas que representam média eficiência para as ferramentas preventivas do sistema, num total de 51,62% de favorabilidade, o que indica média efetividade do líder. Espera-se de um bom líder um resultado acima de 88,5% de favorabilidade (SCIS, 2000). Percebe-se na pergunta 2 – Participação da matriz de capacitação, com 68,25% de desfavorabilidade, uma não conformidade grave. Os trabalhadores executantes de atividades perigosas têm suas necessidades de capacitação e habilidades decididas por outras pessoas que nem sempre sabem da sua real necessidade. Outro resultado negativo é a realização dos treinamentos exigidos para trabalhos perigosos, pois mesmo planejados, não estão acontecendo. Fato percebido pelos trabalhadores que apontam a desfavorabilidade dessa pergunta em 40,48%. Em outra oportunidade de envolver o trabalhador na construção do sistema, pergunta 14 - Elaboração das regras de trabalho específico e de conduta teve a participação de apenas 30,16%, essa oportunidade também não foi aproveitada. Por fim, o resultado da pergunta 22 – Sou reconhecido por meu desempenho em segurança do trabalho - Retrata uma difícil tarefa para o analista de sistema, pois com 47,62% de desfavorabilidade, pode ser a barreira a ultrapassar para a aplicação eficiente e eficaz das outras ferramentas de prevenção. O reconhecimento por parte do trabalho é tema discutido em diversos fóruns acadêmicos, o que se sabe é que para manter a motivação no trabalho, não basta salário e outros benefícios, o trabalhador necessita ser reconhecido pelo seu desempenho destacado ou coletivo. Esta troca pode ser o viés para ter processos estáveis e consolidados (OLIVEIRA, 2003). No mesmo sentido, Alevato (2009) ressalta que os trabalhadores que executam atividades perigosas, é essencial um líder conhecedor das tarefas e técnicas a serem utilizadas para o sucesso. Estes conhecimentos vão facilitar a observação do liderado na execução dessas atividades com intervenção nos momentos de falhas e erros de execução. 12 IX CONGRESSO NACIONAL DE EXCELÊNCIA EM GESTÃO 20, 21 e 22 de junho de 2013 Figura 3 – Distribuição por pergunta por categoria – Fator Condições dos postos de trabalho Fonte: Empresa objeto do estudo de caso. O resultado das perguntas do fator condições dos postos de trabalho teve o menor percentual entre os fatores pesquisados. Com apenas 35,26% de favorabilidade, reflete a real percepção das condições ambientais atuais para a realização de atividades perigosas. Segundo Cardella (2009) e Oliveira (2003), o fator tempo de convivência com situações de risco, sem os controles devidos, é por demais relevante, visto que quanto mais tempo o indivíduo convive com uma determinada realidade mais familiar ela se faz e mais difícil se torna corrigi-la. Esta combinação de resultados evidencia a correta visão dos trabalhadores que anotaram baixa favorabilidade no fator liderança, talvez por entenderem que o líder é o principal responsável pelas condições de trabalho, ou mais, quem tem o poder de mudar o cenário e não mudou. Na análise por agente ambiental, a favorabilidade, para trabalhos em atividades perigosas concomitantes com o agente ruído foi de 30,95%, para o agente calor, diminui a favorabilidade para 17,46% e para os agentes químicos, poeira, fumos metálicos e outros, a favorabilidade foi de 18,25%. Por estarem em um processo siderúrgico, os agentes percebidos com o tato e olfato, tiveram os piores resultados. As condições físicas do trabalho com 13 IX CONGRESSO NACIONAL DE EXCELÊNCIA EM GESTÃO 20, 21 e 22 de junho de 2013 inclusão dos agentes ambientais e ergonômicos há pela frente um grande desafio para a empresa. Isto por se tratar de iniciativa onde não há limites para se avançar; por mais que se invista na melhoria dos postos de trabalho siderúrgicos, sempre há muito mais a fazer. Ou seja, realmente é um desafio constante em que a favorabilidade unânime quase certamente não será atingida em tempo algum (ARCIONI, 2008). 7 CONCLUSÃO O presente estudo identifica que a empresa pesquisada pratica o sistema de gestão saúde e segurança do trabalho e tem investido em melhorias dos postos de trabalho e na capacitação dos trabalhadores. Isso permitiu o reconhecimento do sistema como ficou evidenciado quando da aplicação do questionário. Confrontando os resultados analisados neste estudo de caso, com os objetivos definidos, pode-se concluir que a empresa analisada tem se beneficiado do sistema de gestão de SST. Contudo, observa-se que alguns fatores analisados apresentam-se desbalanceados, o que compromete o sistema em itens como: manter resultados estabilizados, avançar de reconhecimento de nível e passar para a fase de sistema independente. Ainda neste contexto, observa-se a baixa capacidade de preservar no decorrer do tempo, as medidas de controles implementadas e de manter os trabalhadores alinhados perante o que foi tratado, sem paternalismo ou omissão das atitudes abaixo dos padrões desejados. Entretanto, como objetivo principal da pesquisa, é possível afirmar através da favorabilidade das ferramentas preventivas, a eficiência do sistema de gestão para as atividades siderúrgicas, bem como, que o sistema é dependente da atuação da liderança, desde o planejamento, implantação, gerenciamento das ferramentas preventivas e principalmente da capacidade de praticar o discurso versus prática. Outros parâmetros indicam um desempenho abaixo do esperado para empresa reconhecida com nível 8 em uma escala até 10; resultado em auditoria realizada pela detentora do direito de comercializar o sistema. Os dados mostram que algumas respostas primordiais na preservação do sistema e, consequentemente, redução da probabilidade de acidente, não condizem com o conceito da pirâmide de segurança utilizado pela empresa. Pelos dados analisados, nota-se uma relação pobre entre a eficiência do sistema e o comportamento aceitável de alguns trabalhadores. 14 IX CONGRESSO NACIONAL DE EXCELÊNCIA EM GESTÃO 20, 21 e 22 de junho de 2013 Sendo assim, é um fator fundamental para o sistema, inserir o trabalhador na construção das práticas preventivas para redução dos acidentes. Este, quando construtor, aumenta a favorabilidade das práticas do sistema de gestão. Vale ressaltar que o comportamento seguro pode ser muitas vezes, a ligação de causa e efeito das atitudes da liderança, necessariamente um fator importante a ser trabalhado com o propósito de se evitar acidentes. É importante salientar que a empresa pesquisada tem incluído parte dos trabalhadores nas elaborações das ferramentas do sistema. Cabe ainda destacar, que para implementar uma cultura de segurança com tolerância zero, todos devem fazer parte do sistema, pois certamente vão contribuir para sucesso. Com relação aos indicadores, há necessidade de direcionar esforços em controles e checagem, mais precisamente nos indicadores preventivos envolvidos com as atividades perigosas. Quando se trabalha com indicadores preventivos, os analistas de sistema não abordam os erros numa visão de busca por culpado, mas sim, numa visão eminentemente de ações sistêmicas para solução. Um aspecto observado, na análise da pesquisa, é não ter indicadores preventivos que permitam a liderança ter maior confiabilidade antes da execução de uma atividade perigosa. Alinhadas à visão pouco favorável dos indicadores preventivos, várias sugestões de melhorias, envolvendo esses aspectos ora tratados, foram listados: Indicadores de Análise Preliminar de Riscos. Indicadores de Permissão de Trabalho. Indicadores de condições de trabalho. Indicadores de treinamento para atividades perigosas. Indicadores de atos abaixo do padrão (comportamental). Indicadores de incidentes e acidentes com danos materiais, entre outros. Por fim, para baixa favorabilidade nas questões do Fator Condições dos Postos de Trabalho, percebe-se um conjunto de fatores que concorrem para dificultar o avanço do fator na empresa pesquisada. Figura-se em primeiro plano: a falta de informação sobre o tema; o foco da competitividade em uma economia globalizada; a baixa eficácia dos programas PPRA e Ergonomia; liderança pouco participativa e inspiradora e o convívio passivo de trabalhadores expostos ao risco. 15 IX CONGRESSO NACIONAL DE EXCELÊNCIA EM GESTÃO 20, 21 e 22 de junho de 2013 As ferramentas preventivas, por mais aprimoradas que sejam, não são suficientes para acabar com as condições ambientais apresentadas. Ou seja, seu uso correto depende fundamentalmente do nível cultural dos ambientes, da liderança e do trabalhador, que quando em situação de risco eminente sem o mínimo controle ou condição ambiental, se recusar a trabalhar. Por outro lado, é nos objetivos estratégicos que se define o foco das atenções e do envolvimento das pessoas. Uma boa análise crítica da alta direção vai definir o envolvimento desde a liderança até os trabalhadores do piso de fábrica no sistema de gestão de SST. Quando o líder entender que segurança está intrínseca no processo produzir, não vai aguardar o Técnico ou Engenheiro de Segurança resolver um problema que é de sua competência. Referências 16 IX CONGRESSO NACIONAL DE EXCELÊNCIA EM GESTÃO 20, 21 e 22 de junho de 2013 ALEVATO, Hilda M.R. Gestão de pessoas, grupalidade e saúde no trabalho. Porto Alegre: International Stress Management Association (ISMA), 2004. 26 p. ______. A importância da leitura e interpretação dos indicadores reativos de SMS como ferramenta para redução dos acidentes do trabalho. In: ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUÇÃO, 18, Rio de Janeiro, 2008. Anais...Niterói: ABEPRO, 2008. 7p. ______. Organização do Trabalho e Sofrimento. 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