EMPRESA Uma mochila nas costas e um sonho A REALIZAR texto e fotos Patrícia Melo e Souza Os estagiários da Usina de Furnas: sonho realizado de trabalhar numa hidrelétrica; ao lado, Altieres de Paula Vitor (em primeiro plano) e Agno Guido de Oliveira Abílio dividem tarefas na república onde moram, na Vila de Furnas 32 Revista FURNAS - Ano XXXIV - Nº 351 - Abril 2008 Centenas de estudantes de todo o Brasil vivem anualmente nas unidades de FURNAS o sonho de estagiar em uma hidrelétrica C om uma mochila nas costas e longe da família. Mas ele não pensa eletrônica, engenharia elétrica, me- muita coragem, jovens ingres- em desistir. “Meu maior desejo é tra- cânica, administração, técnico agríco- sam anualmente no programa de es- balhar numa hidrelétrica. Sei que sou la, secretariado e telecomunicações. tágio de FURNAS buscando a realiza- apenas estagiário, mas tenho consci- Cada estagiário ganha R$ 139 de bol- ção de um sonho: trabalhar em uma ência da responsabilidade da minha sa, mais auxílio-alimentação de R$ hidrelétrica. Apenas no Departamen- função”, afirma. 299, totalizando R$438. A entidade to de Produção Minas (DRM.O), a cada ano mais de 200 estagiários passam de ensino deve ter convênio com Desafio FURNAS, renovado a cada dois anos. pelas usinas de Marechal Mascare- A estudante Daiane Miranda Soa- No caso de curso superior, o período nhas de Moraes, Luiz Carlos Barreto res (foto abaixo), 18 anos, preferiu o de estágio dura um ano e não pode de Carvalho (Estreito), Furnas, além abrigo de uma casa de família. Esta- ultrapassar o fim do curso. das subestações de Itutinga e Poços giária da sala de operação, ela conta Coordenando desde 1999 o Pro- de Caldas. Os estudantes vêm de diver- que na equipe de profissionais que grama de Estágio do DRM.O, Maria sos lugares do Brasil e vivem a experi- lhe orienta existe apenas uma mu- Bernadete dos Santos conta que a ência de morar longe de casa, assumin- lher. “Quero ser como ela, acho um maioria dos estagiários mora em ou- do o primeiro desafio profissional sob desafio”, diz a jovem, que não se tras cidades e estados e, por isso, a supervisão de técnicos experientes. sente intimidada com a função. reúne-se em repúblicas. Muitos uni- Foi assim com os amigos Altieres versitários aproveitam o período de de Paula Vitor e Agno Guido de Olivei- férias escolares, janeiro e fevereiro, ra Abílio, ambos de 19 anos. Morado- para viver a experiência, trazendo res da cidade de Guapé (MG), desde movimento à Vila de Furnas, próxima os 16 anos estão cursando Eletrotéc- à usina. “Aqui, tento dar toda a assis- nica na Escola Estadual de Furnas, em tência que eles precisam, pois sei que São José da Barra (MG). Há três me- estão longe de casa. Nosso trabalho ses, eles começaram a estagiar na vai além do horário de expediente. usina. A distância de 66 quilômetros Existe a preocupação com o bem-es- da cidade natal os obrigou a montar tar dos estudantes”, conta Maria uma república, onde vivem com mais Bernadete, já apelidada de “mãe- sete amigos. Na casa de três quar- zona” pela turma. tos, as tarefas são divididas, mas a O estágio exigido para a forma- Durante o período de trabalho, união é grande: um apóia o outro ção de um profissional de curso técni- os estagiários se deparam com as quando a saudade aperta. “Apren- co dura, no mínimo, 54 dias, período mesmas condições que vão enfren- di a ter responsabilidade, a viver só. no qual os estudantes lotados nas tar no mercado, após a conclusão Quero fazer faculdade, ter um bom diversas unidades do DRM.O cumprem do curso. “Aqui em Furnas traba- emprego e essa experiência na carga horária variável, de acordo com lhamos em grupo e aprendemos a Empresa é muito importante para a grade curricular de cada curso. O solucionar os problemas do dia-a- mim”, explica Altieres. acompanhamento é feito por super- dia. Para nós, tudo é novo. Todo Agno liga para casa três vezes por visores de cada divisão onde o estagi- dia, aprendemos uma lição que semana e aponta as horas de doença ário é lotado. A experiência corres- vamos guardar para o resto da como as mais difíceis em sua jornada ponde à parte prática de cursos como vida”, conclui Agno. Revista FURNAS - Ano XXXIV - Nº 351 - Abril 2008 33 EMPRESA O curso tem duração de um ano e meio e as aulas são ministradas à noite. Os alunos passam por matérias como Mecânica, Informática, Eletricidade e Conservação de Energia. A cada semestre, em média, 60 novos profissionais recebem seus diplomas. Duas vezes por ano, a escola abre o “vestibulinho”, prova na qual os candidatos disputam as vagas, respondendo a questões objetivas de Matemática, Física e Português. Não há limite de idade e os candidatos têm CELEIRO de talentos que estar cursando, no mínimo, o segundo ano colegial. Além disso, FURNAS arca com a manutenção, alimentação, conta de água, luz e telefone de toda a escola, que possui 600 alunos. A Empresa Funcionando na vila construída para perta o interesse dos alunos, que também realiza, assiduamente, a abrigar os primeiros empregados que vêm de vários lugares do Brasil, como doação de móveis, além de obras de trabalhavam na usina, a Escola Esta- Mato Grosso e Goiás. Eles chegam melhorias e a construção de salas. A dual de Furnas tornou-se um celeiro de aqui com muita vontade de vencer, parceria faz com que a unidade tor- talentos, formando profissionais em acreditam em um sonho e agarram a ne-se uma referência em qualidade Eletrotécnica que hoje estão espalha- oportunidade”, conta a diretora da na região, atraindo, inclusive, alunos dos pelas principais empresas do setor unidade Maristela Alvarenga. de outros municípios. Resultados Futuro de energia do Brasil. Tudo começou em 1995, quando FURNAS fechou um 34 convênio com o unidade de ensino, Para se ter um exemplo prático dos Enfrentando as 13 horas de ôni- comprometendo-se a patrocinar o resultados da parceria, no concurso de bus que separam a cidade de curso gratuito. O estado paga apenas 2006 da Petrobras, a escola teve 134 Itumbiara, no Sul de Goiás, da Vila o salário dos professores, ficando a ex-alunos aprovados. Em julho do ano de Furnas, os amigos Marcelo cargo da Empresa arcar com o mate- passado, levantamento feito pela uni- Vinícius de Paula, Salatiel Nogueira rial usado nas aulas, inclusive as prá- dade mostrou que de 1.100 profissio- Figueira e Célio Guissoni Júnior, to- ticas, como fios e equipamentos ele- nais lá formados, 80% estavam em- dos de 17 anos, começaram o curso trônicos e computadores. pregados. O ex-aluno Messias Almeida de Eletrotécnica há um ano, com Além de garantir toda a infra- Faria, formado na turma de dezem- muita disposição para investir na estrutura necessária ao curso, a Em- bro de 2003, conta que na Companhia carreira. “Viemos fazer a prova jun- presa oferece 18 vagas de estágio, Energética de Goiás (Celg), aproxima- tos e passamos. Acho que FURNAS semestralmente, para os melhores damente 30 funcionários são oriundos oferece o melhor para seus funcio- alunos do último período. A disputa da escola. “O curso já ganhou nome nários. Nosso objetivo é conseguir a pela oportunidade é acirrada e a clas- entre os técnicos do setor. O conteúdo aprovação em um concurso da Em- sificação leva em conta todas as mé- do programa e a dedicação dos profes- presa”, explica Salatiel. O trio só dias obtidas, além da realização de sores foram de suma importância para volta para casa nos feriados e divi- uma prova. “O nome FURNAS des- meu crescimento”, afirma. de as despesas com moradia. Revista FURNAS - Ano XXXIV - Nº 351 - Abril 2008 NA MÍDIA A diretora explica que o governo do estado repassa R$ 0,22 por aluno para o lanche. “Servimos estrogonofe, lasanha, suco, com muita qualidade. Sei que, para muitos alunos, é a única refeição do dia. Tudo isso, graças ao convênio com FURNAS, que complementa a diferença. Não há como mensurar a importância desse apoio na vida dessas pessoas e para nós, educadores”, afirma. Para ela, também ex-aluna da escola, o investimento feito na formação das novas gerações é um dos resultados positivos da instalação da usina, iniciada há 51 anos em Minas Gerais: “Os avós de muitos desses alunos tiveram suas terras ocupadas pelo reservatório. Hoje, seus netos estão prontos para trabalhar nas melhores empresas do país”. Folha da Manhã (MG) Publicou em 2 de março que FURNAS pagou R$ 10 milhões em royalties para 14 cidades da região por meio do CFURH (Compensação Financeira pela Utilização de Recursos Hídricos). Esses valores servem como reforço de caixa para os municípios que tiveram parte de suas terras inundadas para a construção de hidrelétricas na década de 50. Informou ainda que a Empresa pagou, ano passado, de royalties em todo o Brasil o equivalente a R$ 159.073 milhões. A Tribuna (RJ) Noticiou em 3 de março que FURNAS, através do Núcleo de Educação Ambiental (NEA), estabeleceu uma parceria com a Fundação Municipal de Educação de Niterói (FME), para promover o Programa de Educação Ambiental “A Natureza da Paisagem: Energia – Recurso da Vida”. Os professores serão capacitados tendo como foco o cuidado com o meio ambiente e o combate ao desperdício de energia elétrica. O projeto abrangerá, também, os alunos da Rede Municipal niteroiense. As unidades escolares envolvidas receberão um kit contendo o material didático. Valor Econômico (SP) “Sou de Piumhi (MG), que fica a 80 quilômetros da Usina de Furnas. Por ser filha única, meus pais, que moram em uma fazenda, sofreram bastante quando vim para cá. Mas estou aproveitando a oportunidade que FURNAS me deu: sei que se eu me formar e conseguir um bom emprego, com o conhecimento técnico adquirido aqui, darei uma vida melhor a eles. Na usina, as pessoas nos recebem muito bem e, apesar de sermos estudantes, confiam em nosso trabalho”. Daliane Silva Reis, 25 anos, aluna do curso de Sistema de Informação O “VESTIBULINHO” DA ESCOLA ESTADUAL DE FURNAS, EM MINAS GERAIS, ESTARÁ COM INSCRIÇÕES ABERTAS ENTRE 1 DE ABRIL E 31 DE MAIO. A INSCRIÇÃO, COM TAXA DE R$ 20, DEVE SER FEITA NA RUA VARGINHA 770, BAIRRO DE FURNAS, NO MUNICÍPIO DE SÃO JOSÉ DA BARRA, DE 8H ÀS 21H. A PROVA ACONTECERÁ EM 8 DE JUNHO. MAIS INFORMAÇÕES PODEM SER OBTIDAS NO TELEFONE (35) 3523-5434. Informou em 3 de março que FURNAS e Petrobras assinaram um acordo de suprimento de gás natural liquefeito (GNL) para a Usina de Santa Cruz (RJ). FURNAS é o primeiro consumidor do estado a se tornar “livre”, pagando apenas uma tarifa pelo uso da infraestrutura de gasodutos da Ceg. O preço do gás será baseado no mercado americano mais o custo de frete. O contrato é do tipo preferencial, com FURNAS se tornando um cliente firme e inflexível a partir do momento em que solicitar o gás. O Globo (RJ) Informou em 15 de março que FURNAS assinaria no dia 18 do mesmo mês, com o BNDES, um contrato no valor de R$ 1.034 bilhão para a construção da hidrelétrica de Simplício, na divisa do Rio de Janeiro com Minas Gerais. Por ser uma obra prioritária do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), o crédito para a usina foi uma exceção, uma vez que o Conselho Monetário Nacional impõe restrições ao financiamento de estatais. O empreendimento é 100% da Empresa. Jornal do Commercio (RJ) Noticiou em 18 de março que, segundo o presidente da Empresa de Pesquisa Energética (EPE), Maurício Tolmasquim, o leilão para a Usina de Jirau (RO) deverá ocorrer no início de junho. Tomalsquim ressaltou que a Odebretch e FURNAS, vencedoras do leilão de Santo Antônio (RO), já anunciaram a antecipação do final das obras para maio de 2012. Revista FURNAS - Ano XXXIV - Nº 351 - Abril 2008 35