XXXV ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Perspectivas Globais para a Engenharia de Produção Fortaleza, CE, Brasil, 13 a 16 de outubro de 2015. ANÁLISE DO ÍNDICE DE CAPACIDADE PARA O TRABALHO (ICT) DE TRABALHADORES DO SEGMENTO EDUCACIONAL: UM LEVANTAMENTO COM PROFESSORES DO ENSINO PÚBLICO INFANTIL E FUNDAMENTAL. Ricardo Aparecido Govea (UNIARA) [email protected] Jose Luis Garcia Hermosilla (UNIARA) [email protected] jorge alberto achcar (UNIARA) [email protected] Ethel Cristina Chiari da Silva (UNIARA) [email protected] Fabio Henrique Ribeiro (UNIARA) [email protected] O índice de capacidade para o trabalho reflete a percepção do trabalhador sobre sua capacidade de desempenhar as atividades laborais quando comparado ao seu melhor. Fatores como a organização do trabalho, características sócio demográficas, estilo de vida e envelhecimento influenciam esta percepção. O objetivo deste estudo é identificar associações entre o Índice de capacidade para o trabalho (ICT) de professores do ensino infantil e fundamental e suas condições sócio demográficas e de trabalho. A amostra foi constituída por 94 professores pertencentes a rede pública municipal de ensino de uma pequena cidade do interior do estado de São Paulo. O instrumento de coleta teve como base o questionário ICT cujos dados foram tratados pelo software Minitab (ANOVA). Dentre as variáveis investigadas, 3 apresentaram associação com o ICT: idade, acidentes e especialidade médica. Apesar da classe trabalhadora apresentar boa capacidade para o trabalho (84,04% condição ótima), não apresentaram otimismo com relação ao futuro. A pesquisa aponta para políticas de manutenção da capacidade para o trabalho do profissional por meio de melhorias das condições de trabalho e das políticas sócio econômicas que permitam acesso a condições melhores de vida como moradia e saúde. Palavras-chave: Índice de Capacidade para o Trabalho; Professores; Ensino Básico; Serviço Público. XXXV ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Perspectivas Globais para a Engenharia de Produção Fortaleza, CE, Brasil, 13 a 16 de outubro de 2015. 1. Introdução Marinho et al. (2011) afirmam que apesar da importância do professor para a sociedade, há incoerência entre as inúmeras atribuições deste profissional e suas reais condições de trabalho, como salários incoerentes com suas atribuições, falta de infraestrutura mínima nas escolas, falta de material didático e tecnológico, precariedade das salas de aula, e instabilidade profissional no caso dos professores não efetivos, o que incorre em sérios prejuízos ao ensino e ao trabalhador como exaustão, desmotivação e esgotamento emocional. Este cenário se torna mais complexo em função da carência de pesquisas que avaliam as repercussões do trabalho docente na saúde física e mental do profissional, principalmente no Brasil. (REIS et al., 2005) A atividade docente tem sido apontada pela Organização Internacional do Trabalho (OIT) como uma profissão que expõe seu trabalhador a riscos tanto físicos quanto mentais, suscetíveis a sofrimento psicológico, depressão, doenças musculoesqueléticas e distúrbios vocais, em função das condições de trabalho, da violência nas instituições e da sobrecarga sobre o profissional. (CASTELO-BRANCO, 2014; ESTEVE, 1999; GRAZZOTI; COCO, 2002; LAPO; REIS et al., 2005; PEREIRA et al., 2002). Segundo Reis et al. (2005, p.1481) “no Brasil, pouco se tem feito para avaliar as repercussões do trabalho sobre a saúde do professor, cujos riscos são menos visíveis quando comparados a outros trabalhadores como metalúrgicos, petroquímicos etc”. A realização de estudos relacionando trabalho e saúde são primordiais, justamente por desenvolver medidas de promoção à saúde e de manutenção da qualidade de vida, tanto no ambiente de trabalho quanto fora dele. (ANDRADE; MONTEIRO, 2007). Segundo Moura et al. (2013), as condições de trabalho e o processo de envelhecimento da população são dois dos fatores que exercem influência sobre a capacidade para o trabalho do trabalhador, o qual reflete seu bem estar e sua aptidão para executar as atividades laborais. Ainda segundo o mesmo autor há profissões que além das exigências mentais, demandam esforços físicos, repetitivos, levantamento e transporte de peso e posturas incorretas, e nestes casos medidas preventivas de promoção ou até mesmo de manutenção da saúde deveriam ser adotadas. Segundo Renosto et al. (2009) o envelhecimento da população, inclusive aquela em idade ativa, e a conjugação de fatores políticos, sociais e econômicos, tem pressionado o trabalhador 2 XXXV ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Perspectivas Globais para a Engenharia de Produção Fortaleza, CE, Brasil, 13 a 16 de outubro de 2015. a permanecer por mais tempo na atividade, expondo-o a riscos mais elevados devido a diminuição de sua capacidade para o trabalho com a idade. Para Moura et al. (2013), a diminuição da capacidade para o trabalho, apresenta efeitos nocivos a saúde e a capacidade do trabalhador, apresentando alterações de natureza fisiológica, psicológica e comportamentais, com o agravante de estar afetando trabalhadores em plena vida ativa e ainda longe da aposentadoria. Uma das formas de se mensurar a capacidade para o trabalho do trabalhador é através do índice de capacidade para o trabalho (ICT) que foi desenvolvido na década de 1980 na Finlândia, e toma como base a auto avaliação do trabalhador sobre sua capacidade para o trabalho (RENOSTO et al., 2009). Este índice tem se mostrado importante diante da transformação demográfica e da alteração das relações da produção e do trabalho. (ILMARINEN, 2001). O processo de envelhecimento funcional do trabalhador é influenciado por demandas mentais e físicas da atividade, com reflexos diretos sobre sua capacidade para o trabalho, a qual deveria ser preservada com a adoção de medidas corretivas e principalmente preventivas em qualquer idade. (MARTINEZ; LATORRE; FISCHER, 2010; SILVA et al.,2010). Para Andrade e Monteiro (2007) a manutenção da capacidade para o trabalho está relacionada a boas condições de trabalho e de saúde do profissional, com reflexos na produtividade do profissional, em sua perspectiva para a aposentadoria e consequentemente na redução dos custos previdenciários. A avaliação da capacidade para o trabalho contribui com a identificação de colaboradores necessitados ou que necessitarão brevemente do auxílio dos órgãos de saúde ocupacional, constituindo-se em uma política de natureza preventiva para a saúde do trabalhador. (SILVA et al., 2010). Neste contexto, o objetivo deste estudo é calcular o índice de capacidade para o trabalho de professores do ensino infantil e fundamental tomando como referência quatro escolas municipais de uma cidade do interior do estado de São Paulo. Outro objetivo desta pesquisa é levantar as possíveis associações entre o Índice de Capacidade para o Trabalho e as características sócio demográficas da população trabalhadora. 2. Capacidade para o trabalho 3 XXXV ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Perspectivas Globais para a Engenharia de Produção Fortaleza, CE, Brasil, 13 a 16 de outubro de 2015. A capacidade para o trabalho representa de uma maneira geral a capacidade que o trabalhador tem de realizar suas atividades laborais, considerando suas condições físicas e mentais; esta característica é influenciada em grande parte por aspectos como idade, estado de saúde e condições de trabalho. (MARINHO et al., 2011; POHJONEN, 2001; SEITSAMO; TUOMI; MARTIKAINEN, 2007; TUOMI et al., 2001). Esta capacidade é influenciada também por outros fatores, além daqueles associados ao trabalho, como a situação familiar e a prática de atividades esportivas, de lazer e de recreação. O envelhecimento para o trabalho também influencia a capacidade laboral do indivíduo, cujo declínio se acentua após os 50 anos, e pode afetar sua produtividade no emprego; esta capacidade está associada em maior grau as atividades com elevada exigência física em comparação aquelas com exigência mental, fato que vem despertando interesse por parte do poder público, tanto no Brasil quanto de diversos outros países, para a prevenção ou mesmo manutenção da capacidade produtiva do trabalhador. (COSTA et al.,2012; PADULA et al., 2013; RENOSTO et al., 2009). Diversos estudos destacam a importância de medidas preventivas para a preservação ou até mesmo para a promoção da capacidade para o trabalho, não só em idades avançadas como em qualquer idade, com reflexos na redução da incapacidade do indivíduo e das aposentadorias precoces, e aumento na produtividade do trabalhador. (HENNINGTON, 2005; MARTINEZ, LATORRE e FISCHER, 2010; RAFFONE; SILVA et al., 2010; WALSH et al., 2004). O nível de formação e a remuneração apresentam uma associação direta entre si e benéfica para com a capacidade para o trabalho. Isso porque um elevado nível de escolaridade propicia o acesso a trabalhos mais qualificados, com melhor remuneração. Tais condições influenciam favoravelmente o estado de saúde e a preservação da capacidade para o trabalho por mais tempo. (PADULA et al., 2013). O principal instrumento utilizado para medir a capacidade para o trabalho é o índice de Capacidade para o trabalho (ICT), desenvolvido por uma equipe multidisciplinar (psicólogos, médicos, bioestatísticos, epidemiologistas e pesquisadores da área de Saúde Ocupacional) do Instituto Finlandês de Saúde Ocupacional (Finnish Institute of Occupational Health- FIOH), desenvolvido na década de 80 para acompanhamento de funcionários municipais em processo de envelhecimento. (MARINHO et al.,2011). 3. Índice de capacidade para o trabalho (ICT) 4 XXXV ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Perspectivas Globais para a Engenharia de Produção Fortaleza, CE, Brasil, 13 a 16 de outubro de 2015. Segundo Martinez e Latorre (2009), O Índice de Capacidade para o Trabalho (ICT) é o instrumento mais utilizado para se medir a capacidade de trabalho e toma como referência a percepção do próprio trabalhador, através de dez questões agrupadas em sete itens envolvendo as exigências laborais físicas e mentais como mostra o Quadro1. (FASSI et al., 2013; MARTINEZ; LATORRE, 2009). Quadro 1 - Estrutura do Índice de Capacidade para o Trabalho. Item Nº de Pontuação questões 1. Capacidade atual para o trabalho comparada com a De 0 a 10 pontos 1 melhor de toda a vida 2. Capacidade para o trabalho em relação as exigências do De 0 a 10 pontos (considera a 2 trabalho natureza do trabalho física e/ou mental) De 0 a 7 pontos (inversamente 3. Número de doenças atuais diagnosticadas por médico 1 (lista de 51 doenças) proporcional ao número de doenças diagnosticadas apenas, sendo nenhuma doença 0, e 5 ou mais doenças, 1 ponto) 4. Perda estimada para o trabalho por causa de doenças 1 De 1 a 6 pontos De 1 a 5 pontos (inversamente ao 5. Faltas ao trabalho (dias) por doenças nos últimos 12 meses 1 valor apontado). Para nenhum dia 5 pontos e no mínimo 100 dias 1 ponto. 6. Prognóstico próprio da capacidade para o trabalho 1, 4 ou 7 pontos (respectivamente 1 incapaz, incerto e capaz) daqui a 2 anos 7. Capacidade de apreciar a vida, de se sentir alerta e da esperança no futuro. Cada questão varia de 0 a 4 sendo 3 respectivamente nunca e sempre. Os valores das questões são 5 XXXV ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Perspectivas Globais para a Engenharia de Produção Fortaleza, CE, Brasil, 13 a 16 de outubro de 2015. somados e a pontuação final varia de 1 a 4 proporcional a soma. Fonte: adaptado de TUOMI et al. (2010). Os resultados obtidos nas sete dimensões do Quadro 1 produz o índice de capacidade de trabalho que varia de 7 a 49 pontos. Este número retrata o próprio conceito que o trabalhador tem sobre sua própria capacidade para o trabalho. Através da pontuação alcançada, é possível definir os objetivos e medidas necessárias a serem tomadas, de acordo com o Quadro 2 (MARINHO et al. 2011). Quadro 2 - Pontos do ICT e seus objetivos. Pontos Capacida Objetivos das de para o medidas Ações Trabalho 7 – 27 28 – 36 37 – 43 Baixa Moderada Restaurar a Agir sobre o ambiente de trabalho e a capacidade para o capacidade de restaurar as condições trabalho do trabalhador Melhorar a Incentivar atitudes positivas como a capacidade para o prática de exercícios físicos, dieta, trabalho sono, repouso e atividades sociais. Apoiar a capacidade Esclarecer ao trabalhador os fatores para o trabalho ligados ao trabalho e ao estilo de Boa vida que auxiliam ou deterioram sua capacidade para o trabalho 44 - 49 Ótima Manter a capacidade Esclarecer ao trabalhador os fatores para o trabalho ligados ao trabalho e ao estilo de vida que auxiliam ou deterioram sua capacidade para o trabalho Fonte: adaptado de TUOMI et al. (2010). 4. Metodologia A pesquisa é caracterizada como um estudo transversal de caráter descritivo exploratório com tratamento estatísticos dos dados. A amostra analisada foi composta por professores do ensino 6 XXXV ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Perspectivas Globais para a Engenharia de Produção Fortaleza, CE, Brasil, 13 a 16 de outubro de 2015. infantil e fundamental, pertencentes à rede municipal de ensino de quatro escolas de uma pequena cidade do interior do Estado de São Paulo, totalizando 94 professores. O instrumento utilizado para a coleta dos dados foi o Índice de Capacidade para o Trabalho (ICT). O instrumento foi acrescido de questões de cunho sócio demográfico e ocupacional com 23 variáveis como: situação de moradia, número de pessoas com quem mora, raça, tempo total de trabalho, prática de atividade física, presença de hábitos não saudáveis, frequência ao médico e sua especialidade, expectativa de trabalho após os 60 anos, e expectativa de emprego após os 60 anos e o respectivo setor, gênero, idade, estado civil, escolaridade, turno, tempo na função, dias afastados devido acidente nos últimos 12 meses, condição de desconforto no ambiente de trabalho, região do corpo que mais sente dor após o expediente, atividade no exercício da profissão, acidente durante o percurso e dias afastados devido acidente durante toda carreira. Os dados do questionário foram submetidos a análise de variância (ANOVA), a fim de determinar quais variáveis poderiam estar associadas aos valores de ICT. O software utilizado foi o Minitab, versão 2011. 5. Resultados A análise foi realizada em quatro etapas: a análise descritiva dos dados com a avaliação baseada nas evidências qualitativas das informações; a análise estatística com a avaliação dos dados através das sistemáticas tradicionais de regressão linear simples envolvendo os valores do ICT e as variáveis individualmente; a regressão ANOVA, como complemento da anterior, e a análise de regressão múltipla, envolvendo todas as variáveis sobre o valor resposta (ICT). 5.1. Análise descritiva dos dados O Quadro 3 apresenta as características sócio demográficas e sua distribuição dentre os respondentes. Quadro 3 - Distribuição percentual da amostra por categoria. Variável Categoria Respondentes Percentual Feminino 85 90,43 Masculino 9 9,57 Gênero 7 XXXV ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Perspectivas Globais para a Engenharia de Produção Fortaleza, CE, Brasil, 13 a 16 de outubro de 2015. 22 a 35 46 48,94 36 a 45 29 30,85 ≥45 19 20,21 Solteiro (a) 23 24,47 Casado (a) 59 62,77 Vive com companheiro (a) 4 4,25 Separado (a) 1 1,06 Divorciado (a) 5 5,32 Viúvo (a) 2 2,13 Faculdade Completa 69 73,40 Pós- Incompleta 2 2,13 Pós- Completa 23 24,47 Manhã 36 38,30 Tarde 38 40,42 Manha e Tarde 19 20,21 Diurno e Noturno 1 1,07 0|-10 54 57,45 Tempo de trabalho na 10|-20 22 23,40 função em anos 20 |-30 14 14,90 30 |-40 4 4,25 94 100 Idade (anos) Estado Conjugal Escolaridade Turno Total Fonte: O próprio autor. A maioria dos professores é do gênero feminino (90,43%), com faixa etária entre 22 a 35 anos (48,94%), casados (62,77%) e nível de escolaridade predominante superior completo (73,40%), trabalhando no turno da tarde (40,42%) com tempo de experiência na atividade inferior a dez anos (57,45%). Quanto ao Índice de capacidade para o trabalho (ICT) da amostra de professores, pode ser na tabela 1 a distribuição percentual por capacidade, sendo N o número de respondentes em cada categoria. 8 XXXV ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Perspectivas Globais para a Engenharia de Produção Fortaleza, CE, Brasil, 13 a 16 de outubro de 2015. Tabela 1 - Capacidade para o trabalho dos docentes Pontos Capacidade para o trabalho N % 7 - 27 Baixa 0 0,00 28 - 36 Moderada 7 7,45 37 - 43 Boa 8 8,51 44 - 49 Ótima 79 84,04 Total 94 100,00 Fonte: O próprio autor Como pode ser observado, a maioria dos indivíduos avaliados (84,04%) dispõem de ótima capacidade para o trabalho. 5.2. Análise estatística dos dados (regressão univariável) A análise estatística foi precedida do teste de normalidade dos dados, o que indicou a necessidade de transformação (logito) para efeito de adequação a distribuição normal e posterior tratamento. A análise de regressão uni variável dos dados referentes as 23 variáveis analisadas concluiu que apenas quatro (especialidade médica, setor de emprego após os 60 anos, idade e região do corpo que mais sente dor ao final do expediente) apresentaram diferença significativa entre as médias de ICT (índice de capacidade para o trabalho). Indivíduos que procuram a especialidade médica ortopedia apresentaram menores índices de capacidade quando comparados aos que procuram as demais especialidades como urologia, ginecologia, clinico geral e pneumologia, indicando que limitações físicas limitam mais os profissionais, que outras enfermidades; já quanto a expectativa de emprego futura, indivíduos que indicaram o setor público como sendo o de maior probabilidade de empregar após os 60 anos, apresentaram maior ICT, quando comparados aos demais que responderam não saber, autônomo, empacotador, serviços domésticos ou nenhum, indicando que aqueles dispõem de 9 XXXV ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Perspectivas Globais para a Engenharia de Produção Fortaleza, CE, Brasil, 13 a 16 de outubro de 2015. melhores condições atuais e futuras para o trabalho. De maneira oposta, os indivíduos que responderam que os serviços domésticos serão os de maiores chances de emprego após os 60 anos, apresentaram as menores capacidade para o trabalho, demostrando a percepção pessimista destes trabalhadores para com suas capacidades futuras de trabalho. Quanto a influência da idade na capacidade para o trabalho dos docentes, a análise indicou que os indivíduos com idades mais elevadas tendem a apresentar ICT menores quando comparados aqueles com idades menores, fortalecendo outras constatações científicas semelhantes como as de Martinez e Latorre (2009), Monteiro, Ilmarinen e Gomes (2005) e Reis et al. (2005). Com relação a presença de dores no corpo, indivíduos que sentem dores no pescoço apresentaram um ICT maior que os indivíduos que sentem dores de cabeça, no braço, nas costas, nas pernas, no pé e no tornozelo, podendo indicar que este sintoma é característico de menor limitação que os demais apresentados. 5.3. Análise de Variância (ANOVA) Os dados das variáveis foram submetidos a análise de variância (ANOVA) para se determinar quais destas apresentam ou não influência nos valores de ICT. Adotou-se como padrão, os pvalores menores ou iguais a 0,05 como sendo significativos em um nível de confiabilidade de 95%. O Quadro 4 a seguir mostra as variáveis analisadas e seus valores de p correspondentes. Quadro 4 - Valores de p para as variáveis da pesquisa (destaque para os significativos). 10 XXXV ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Perspectivas Globais para a Engenharia de Produção Fortaleza, CE, Brasil, 13 a 16 de outubro de 2015. Fonte: O próprio autor Dentre as variáveis avaliadas, três delas se mostraram associadas aos valores do índice de capacidade para o trabalho, apresentando p-valor ≤ 0,05, a um nível de 95% de significância (especialidade médica, setor para conseguir emprego após os 60 anos e turno de trabalho). O Quadro 5 a seguir mostra que os indivíduos que apresentaram os menores índices foram os que responderam ter procurado a especialidade médica “Ortopedista”. Isto pode ser explicado pelo fato de os indivíduos que foram diagnosticados com problemas ortopédicos, passaram a apresentar menor capacidade para o trabalho, implicando na redução final de seu ICT, fato que comprova a análise anterior que apontou a mesma evidência. Quadro 5 - ANOVA dos dados de ICT transformado por especialidade médica. 11 XXXV ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Perspectivas Globais para a Engenharia de Produção Fortaleza, CE, Brasil, 13 a 16 de outubro de 2015. Fonte: O próprio autor O Quadro 6 a seguir confirma a análise anterior mostrando que os respondentes que indicaram o setor de emprego após os 60 anos “Serviços Domésticos” apresentaram valor médio de ICT transformado menor, no entanto vale destacar que apenas um indivíduo respondeu esta opção. Por outro lado, 31 dos 94 indivíduos entrevistados responderam o setor de emprego após os 60 anos como sendo “Nenhum”, evidenciando a falta de expectativa e crenças em um futuro melhor; curiosamente estes indivíduos foram os que tiveram os mais altos valores de ICT denotando boas capacidades atuais para o trabalho. Quadro 6 - ANOVA dos dados de ICT transformado por setor de emprego após os 60 anos. 12 XXXV ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Perspectivas Globais para a Engenharia de Produção Fortaleza, CE, Brasil, 13 a 16 de outubro de 2015. Fonte: O próprio autor. O Quadro 7 aponta para uma questão não evidenciada na análise anterior quando mostra que trabalhadores com dupla jornada (diurno e noturno) apresentam valores médios de capacidade menores quando comparados aos demais (manhã, tarde, manhã e tarde), no entanto deve ser ressalvado que apenas um dentre os respondentes apresentou tal situação. Porém nota-se que os professores que trabalham em um único turno apresentaram valor de ICT maior, se comparado aos indivíduos que trabalham em mais de um turno, destacando que os trabalhadores matutinos apresentarem as melhores condições. Quadro 7 - ANOVA dos dados de ICT transformado por turno. Fonte: dados da pesquisa. 5.4. Análise de regressão múltipla A análise de regressão múltipla dos dados apresentou diferença significativa entre as médias do ICT para 3 variáveis (idade, acidente durante o percurso e especialidade médica) como visto no Quadro 8. Quadro 8 - Valores de p na análise de regressão múltipla. 13 XXXV ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Perspectivas Globais para a Engenharia de Produção Fortaleza, CE, Brasil, 13 a 16 de outubro de 2015. Variáveis p-valores Idade 0,099 Acidente durante percurso 0,015 Especialidade Médica (Cardiovascular) 0,094 Fonte: dados da pesquisa. Como pode ser observado no Quadro 8, a variável “Acidente durante percurso” apresentou p-valor de 0,015, enquanto “Idade” e “Especialidade Médica Cardiovascular” apresentaram p-valores de 0,099 e 0,094, respectivamente. Esta constatação reforça a associação entre essas variáveis e a capacidade para o trabalho do docente pesquisado. 6. Conclusões Apesar da classe trabalhadora ter apresentado boa capacidade para o trabalho, não apresentou uma visão positiva a respeito do futuro, fato que deveria ser melhor considerado pelas políticas públicas na proposição de medidas de manutenção das boas condições físicas e mentais dos profissionais. Características econômicas como a da moradia, indicam também que trabalhadores que possuem casa própria apresentam valores mais elevados de ICT, fato que se nota também dentre os que exercem suas atividades em turnos específicos de trabalho sem duplicação de jornada e preferencialmente diurnos. Aspectos como este denotam condições de vida melhores por parte de seus trabalhadores ao mesmo tempo que apontam para a importância de políticas sócio econômicas que possam beneficiar classes menos privilegiadas quanto ao acesso a moradia e melhores condições salariais. A pesquisa aponta para o uso mais frequente do instrumento (ICT) desde o ingresso do trabalhador na carreira como forma de identificar precocemente alterações no estado físico e psicológico, e consequentemente agir na promoção da saúde e bem-estar do docente, implicando em melhores condições de trabalho. Esta medida poderá implicar na redução dos afastamentos, no aumento da produtividade, e minimização dos custos previdenciários por parte do estado. REFERÊNCIAS 14 XXXV ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Perspectivas Globais para a Engenharia de Produção Fortaleza, CE, Brasil, 13 a 16 de outubro de 2015. ANDRADE, C. B.; MONTEIRO, M. I. 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