UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA CENTRO DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS DEPARTAMENTO DE AQUICULTURA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM AQUICULTURA Indução a poliploidia por choque térmico em jundiá Rhamdia quelen (Quoy e Gaimard, 1824) Tese apresentada como requisito a obtenção do título de doutor em Aquicultura, Centro de Ciências Agrárias, Universidade Federal de Santa Catarina. Orientador: Evoy Zaniboni Filho Silvano Garcia Florianópolis 2014 A minha esposa Dayana, meus filhos Vitor e Silvano Filho e aos pais Sylvio e Anselma, pelos ensinamentos, que todo o trabalho, tem que ser feito com amor e dedicação, porque se assim não for, então não vale a pena fazê-lo. AGRADECIMENTOS A Deus, pela dádiva da vida e por tudo que me concede diariamente; Ao meu orientador Professor Dr. Evoy Zaniboni Filho, pela orientação e apoio; Aos mestres, que com seus conhecimentos, indicaram o caminho a seguir; A EPAGRI/CEPC, por disponibilizar o espaço, para que eu pudesse realizar meus experimentos; A FAPESC, pelo apoio financeiro, viabilizando o projeto; A UFSC/LAPAD, pela estrutura disponibilizada e apoio as pesquisas e análises; A USP - Campus Pirassununga, laboratório de teriogenologia FZEA; Ao CEPTA-ICM-Bio, pelo apoio no processamento das amostras; A todos amigos e companheiros de trabalho da EPAGRI/CEPC, por se mostrarem dispostos a ajudar da melhor maneira possível; Aos alunos e estagiários do Instituto Federal Catarinense Campus Camboriú; Aos meus familiares, meus pais, irmãos, cunhados e sobrinhos, pelo apoio e incentivo,principalmente minha esposa Dayana, meus filhos Vitor e Silvano Filho, que durante este período fui obrigado dividir o meu tempo, com o trabalho, eles e o computador; Aos amigos da compartilhados no curso; Pós-graduação, pelos bons momentos E a todos que não encontraram seus nomes aqui, mas que contribuíram comsuas críticas, discussões e sugestões, o meu sincero agradecimento. RESUMO O jundiá (Rhamdia quelen) é um bagre nativo da América do Sul que possui grande potencial para a aquicultura devido a sua rusticidade, rápido crescimento, tolerância à variação de temperatura e facilidade de reprodução. No entanto, pelo fato do macho atingir a maturidade sexual prematuramente, grande parte da energia fornecida por meio do alimento é direcionada para o desenvolvimento de suas gônadas e comportamento reprodutivo, favorecendo um declínio na sua taxa de crescimento corporal. A indução à poliploidia, feita por meio de choque químico, térmico ou de pressão hidrostática é uma das técnicas que vem sendo atualmente estudada para prevenir tais efeitos indesejados e favorecer a esterilidade gonadal. O presente estudo avaliou a eficiência do choque térmico duplo (calor e frio em sequência) na triploidização e tetraplodização de jundiá Rhamdia quelen com vistas à sua utilização em atividades de cultivo. Para induzir a triploidia, ovos aos 3 mpf (minutos pós fertilização) foram submetidos a choque térmico quente às temperaturas de 37, 39 e 41 °C por 2 minutos e, logo em seguida, submetidos a choque frio à 1 °C por 20 min. Houve mortalidade total dos ovos submetidos ao tratamento à 41°C. A porcentagem de triploides, confirmada por citometria de fluxo, foi de 98,5% à 37 °C e 100% à 39 °C, enquanto que a taxa de eclosão foi de 64,6 ± 36,81% (controle), 24,4 ± 15,49% (37°C) e 0,6 ± 0,07% (39°C). Para induzir a tetraploidia, o experimento consistiu em submeter ovos de Rhamdia quelen recém fertilizados (10, 15, 20, 25, 30 e 35 mpf) a choque térmico quente (39 ± 0,2 ºC) durante 3 minutos, seguido por choque térmico frio (1,0 ± 0,1 ºC) durante 30 minutos. A taxa de fertilização do tratamento controle foi de 87,83%, e de 23,4% 28,5%, 30,4%, 20,0%, 30,3%, 36,7%, para os tratamentos 10, 15, 20, 25, 30, 35 mpf, respectivamente. Larvas tetraploides foram encontradas somente nos grupos submetidos ao choque aos tratamentos 15 e 20 mpf (três e duas larvas, respectivamente). Os resultados indicam que é possível a obtenção de um lote homogêneo de larvas triploides por choque térmico quente e frio em sequência. Apesar disso, a nocividade do tratamento necessário é muito grande, resultando na sobrevivência inferior a 1%. Alternativamente, a técnica de tetraploidização de jundiá por choque térmico duplo é viável, abrindo oportunidades para aperfeiçoar essa técnica para a produção de larvas em larga escala. Palavras-chave: Aquicultura, tratamento térmico, triploidia. esterilidade gonadal, tetraploidia, ABSTRACT THERMAL SHOCK INDUCTION OF POLYPLOIDY IN THE SILVER CATFISH Rhamdia quelen (Quoy and Gaimard, 1824) The jundiá (Rhamdia quelen) is a native catfish from South America, with great potential in aquaculture systems due to its hardiness, rapid growth, tolerance to a wide range of water temperatures and easy breeding. Since males reach sexual maturity prematurely, most of the energy provided by food ends up being directed to gonadal development and reproductive behavior, with a subsequent decline in body growth rate. The induction of polyploidy, made by chemical, thermal or hydrostatic pressure shocks, is one of the used techniques to induce fish gonadal sterility and prevent the above-mentioned undesired effect in fish farming activities. Current assay assessed the efficiency of a dual thermal shock (heat shock followed by a cold one) in the triploidization and tetraploidizationof R. quelen for fish farming activities. Threeminute-old fertilized eggs were submitted to a heat thermal shock at 37, 39 and 41 °C during 2 minutes, followed by a cold one at 1 °Cfor20 minutes, to induce triploidy. No survival was observed in 41 °C treatment. Triploidization percentage,assessedby flow cytometry,was 98.5% at 37 °C and100% at 39 °C, while hatching rates were64.6±36.81% (control),24.4±15.49% (37 °C) and 0.6±0.07% (39 °C). In the case of tetraploidy, the experiment consisted of submitting newly fertilized eggs (10, 15, 20, 25, 30 and 35 minutes postfertilization (mpf)) to a three-minute heat thermal shock (39 ± 0.2 ºC), followed by a 30-minute cold thermal one (1.0 ± 0.1 ºC). Fertilization rates reached 87.83% for control and 23.4%, 28.5%, 30.4%, 20.0%, 30.3% and 36.7% for the following treatments 10, 15, 20, 25, 30, 35 mpf, respectively. Tetraploid larvae were only found in the groups submitted to thermal shock at 15 and 20 mpf (three and two larvae each, respectively). Results indicate that it is possible to obtain an homogenius group of triploid larvae by the induction of a heat thermal shock followed by a cold one. However, its noxiousness was too great that results in a very low survival (less than 1%). Alternatively, jundiá tetraploidization induced by dual thermal shock is viable, opening opportunities to improve its suitability for large-scale tetraploid larvae production. Keywords: Aquiculture, treatment, triploidy. gonadal sterility, tetraploidy, thermal LISTA DE FIGURAS Figura 1 - Histograma de citometria de fluxo de larva de jundia Rhamdia quelen, submetida a choque térmico (quente e frio) sequencial para induzir a triploidia. ......................... 37 Figura 2- Histograma de citometria de fluxo de larva de jundiá Rhamdia quelen, submetida a choque térmico (quente e frio) sequencial, para induzir a tetraploidia. Seta indica pico referente ao controle 2n que foi utilizada jutamente com as amostras tetraplóides. .......................... 52 Figura 3 – Valores médios das taxas de fertilização (A) e de eclosão (B) dos tratamentos submetidos ao choque térmico em diferentes períodos de tempo depois da fertilização (em minutos pós-fertilização – mpf) e do grupo controle. ...... 54 LISTA DE TABELAS Tabela 1 -Desenvolvimento e ploidia de jundiá após os tratamentos de temperatura. ................................................................... 38 Tabela 2 -Número de larvas sobreviventes, larvas analisadas e quantidade de diplóides (2N) e tetraplóides (3N) encontrados nos diferentes tratamentos (tempo para indução do choque térmico em minutos pós-fertilização). . 55 SUMÁRIO CAPÍTULO I ......................................................................................... 19 1. INTRODUÇÃO .......................................................................... 20 1.1 - TRIPLOIDIA .................................................................... 22 1.2 - TETRAPLOIDIA ............................................................... 24 2. JUSTIFICATIVA ....................................................................... 26 3. OBJETIVO ................................................................................. 28 3.1 OBJETIVO GERAL ........................................................ 28 3.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS ............................................. 28 CAPÍTULO II ....................................................................................... 29 4. RESUMO .......................................................................................... 30 5. ABSTRACT ............................................................................... 31 6. INTRODUÇÃO .......................................................................... 32 7. MATERIAL E MÉTODOS ........................................................ 34 7.1 REPRODUÇÃO E COLETA DAS AMOSTRAS .................... 34 7.2 PROCEDIMENTOS E ANÁLISES DE TRIPLOIDIZAÇÃO .... 35 7.3 ANÁLISE ESTATÍSTICA ................................................ 36 8. RESULTADOS .......................................................................... 37 9. DISCUSSÃO .............................................................................. 38 10. REFERÊNCIAS ......................................................................... 40 CAPÍTULO III ...................................................................................... 45 11. RESUMO ................................................................................... 46 12. ABSTRACT ............................................................................... 47 13. INTRODUÇÃO .......................................................................... 48 14. MATERIAL E MÉTODOS ........................................................ 50 14.1 REPRODUÇÃO ............................................................. 50 14.3 ANÁLISES ESTATÍSTICA .............................................. 52 15. RESULTADOS .......................................................................... 53 16. DISCUSSÃO.............................................................................. 55 17. REFERÊNCIAS ......................................................................... 57 18. CONCLUSÕES GERAIS E CONSIDERAÇÕES ..................... 63 19. REFERÊNCIAS DA INTRODUÇÃO ....................................... 65 20. ANEXOS.................................................................................... 71 19 CAPÍTULO I INTRODUÇÃO GERAL:Indução a poliploidia por choque térmico em jundiá Rhamdia quelen (Quoy e Gaimard, 1824) 20 1. INTRODUÇÃO O jundiá Rhamdia quelen (Quoy e Gaimard, 1824) é um peixe nativo com distribuição Neotropical, desde a região Central da Argentina até o Sul do México (SILFVERGRIP, 1996). Devido a sua taxa de crescimento elevada, docilidade e resistência ao manejo, essa espécie apresenta grande interesse por parte dos piscicultores (GOMES et al., 2000; CARNEIRO, 2002), Além disso, possui carne saborosa, sem espinhos intramusculares e grande aceitação pelo mercado consumidor (FRACALOSSI et al., 2004). É uma espécie estenoalina e euritérmica, suportando variações de salinidade de 0%o a 10%o (MARCHIORO, 1997), e de temperatura de 15 a 35 oC, respectivamente (BALDISSEROTO et al., 2004; ZANIBONI-FILHO, 2004). Devido a sua tolerância às baixas temperaturas, o jundiá é bastante aceito pelos produtores do sul do Brasil em função da temperatura que ocorre nesta região (CHIPPARI-GOMES et al, 1999; ESQUIVEL, 2005). O crescimento do jundiá é bastante pronunciado nos primeiros meses de vida. Contudo os machos, devido ao amadurecimento sexual precoce, desviam parte da energia para o desenvolvimento gonadal, fazendo com que nessa fase as fêmeas apresentem um crescimento entre 20 e 30% superior (FRACALOSSI, 2004; ZANIBONI-FILHO, 2004; ESQUIVEL, 2005). Em virtude do crescimento diferenciado entre os sexos, técnicas de inversão sexual são comumente utilizadas para obter peixes de um único sexo com as características de crescimento desejadas. No jundiá, por exemplo, a feminização por meio da utilização do hormônio 17 betaestradiol permite a obtenção de um crescimento mais rápido e homogêneo (AMARAL JUNIOR, 2007; SILVA et al., 2003; GARCIA et al., 2013). Outra técnica utilizada para otimizar o crescimento é a produção de animais estéreis pela poliploidia, que pode ser definida como variações no conjunto dos cromossomos das células, aumentando ou diminuindo o seu número conforme a técnica utilizada (VALENTI, 1975; THORGAARD, 1986; TAVE, 1993). A alteração dos conjuntos cromossômicos em peixes é viável devido à facilidade com que os gametas desses animais podem ser manipulados e fertilizados artificialmente. Dentre essas facilidades estão a fecundação externa, a alta fecundidade e o curto intervalo entre gerações (TSUKAMOTO e RIGOLINO, 1993). Uma das técnicas para obtenção de um organismo poliplóide é feita através da inibição da 2ª divisão meiótica, de modo a evitar a 21 extrusão do 2º corpúsculo polar, ou ainda, promover a supressão da 1ª clivagem do embrião, obtida por meio da inibição da primeira divisão mitótica. Essa indução a poliploidia pode ser obtida por meio de métodos físicos como choques térmicos e pressão hidrostática (CHOURROUT, 1987; TAVE, 1993) ou por métodos químicos, como a imersão dos ovos em citocalasina, colchicina, caseína ou azul de toluidina (THORGAARD et al., 1986; PEREZ & BEAUMONT, 1996). A indução à poliploidia por choque de pressão hidrostática tem sido utilizada tanto para bloquear a expulsão do 2º corpúsculo polar quanto para inibir a 1ª divisão mitótica. Porém, a aplicação desta técnica permite a utilização de pequenas quantidades de ovos e de equipamentos específicos. Este método consiste em introduzir os ovos recémfecundados em um cilindro de aço cheio de água e fechado com um pistão, equipado com um êmbolo, pelo qual é exercida uma força através de uma prensa hidráulica (LOZANO, et al., 1987; HUERGO & ZANIBONNI-FILHO, 2006; SHELTON, 2002; PIFERRER et al., 2009). O método físico através de choque térmico consiste em submergir os ovos recém-fertilizados dentro de um recipiente que contenha água com temperatura previamente estabelecida, mantendo-os durante o tempo do choque programado, depois os ovos são transferidos para recipiente com água na temperatura fisiológica de incubação para a continuidade do processo normal de cultivo (AVILA, 2004). Os detalhes do tempo pós-fertilização, a duração do choque e a temperatura dos diferentes tratamentos (que varia de 25,0 a 42,0 ºC para choques quentes e 0 a 11,0 ºC para frios, segundo PÉREZ (1996) vão depender do ciclo celular que, por sua vez, é de acordo com a espécie (SHELTON, 2002). TOLEDO et al. (1996) concluíram que a temperatura que produz os melhores resultados é aquela que se situa na proximidade do seu limite letal. Na indução à poliploidia, os choques térmicos são os mais facilmente aplicáveis por seus baixos custos e eficiência (THORGAARD, 1986; SHELTON, 2002; FUKUSHIMA et al., 2012). As manipulações cromossômicas podem contribuir com os programas de melhoramento genético de organismos aquáticos principalmente por meio da repetição maciça de material genético superior (androgênese e ginogênese) e pela formação de organismos com carga genética aumentada (poliploidia). Dentre estas técnicas se destacam a triploidia e a tetraploidia. 22 1.1 - Triploidia O processo citológico para indução à triploidia consiste em bloquear a segunda divisão meiótica (por retenção do segundo corpúsculo polar) pela aplicação de choques físicos ou químicos a ovos recém-fecundados, formando um zigoto triplóide, ou seja, com três conjuntos de cromossomos (CHOURROUT, 1987; CESAR et al., 2004; PIFERRER et al., 2009). Em geral estes três conjuntos de cromossomos durante a meiose impedem por completo a maturação sexual em fêmeas e parcialmente em machos (TIWARY et al., 2004). É o tipo de manipulação cromossômica mais comum em piscicultura, sendo normalmente aplicada devido a características importantes dos indivíduos triplóides em relação aos diplóides (CHERFAS et al.,1993; BASAVARAJU et al., 2002). Sob o aspecto teórico, espera-se que os indivíduaos triplóides sejam estéreis pela divisão meiótica irregular e consequentemente aformação de gametas aneuplóides (TIWARY et al., 2004). O interesse no uso de triplóides deve-se não só à expectativa da esterilidade, que evitaria o gasto energético com desenvolvimento das gônadas, comportamento reprodutivo, reprodução e cuidados com a prole, mas também por apresentarem maior peso e comprimento em relação aos animais diplóides, pois suas células conteriam 33% mais informação genética para o crescimento (LE COMBER & SMITH, 2004; MELO et al., 2006). Em salmonídeos têm-se verificado que diplóides e triplóides crescem igualmente até o início da idade da primeira maturação. Durante o período de maturação sexual os diplóides de ambos os sexos sofrem uma redução no crescimento devido ao desenvolvimento das gônadas. Entretanto, as fêmeas estéreis triplóides continuam aumentando em peso e comprimento e superam as fêmeas diplóides em 5% a 20% ao final do período de maturação. A esterilidade em salmonídeo evita ainda a susceptibilidade às doenças que estão relacionadas com a maturação sexual (OLUFEAGBA et al., 2000; TIWARY et al., 2004). Pesquisas realizadas com siluriformes demonstraram que a triploidia melhorou o desempenho zootécnico (WEISS & ZANIBONIFILHO, 2009), mostrando ser uma técnica capaz de propiciar redução do tempo de engorda e, conseqüentemente, amortização dos custos de produção (QIN et al., 1998 TURRA et al., 2012). De fato, fêmeas triplóides apresentam somente gônadas residuais e níveis de hormônios sexuais semelhantes aos das fêmeas diplóides 23 jovens imaturas. Machos triplóides também produzem quantidade limitada de sêmen e bastante fluído, com poucos espermatozóides móveis que, quando empregados em fecundações artificiais, demonstram alto grau de infertilidade e produzem abortos precoces (MELO et al., 2006; PIFERRER et al., 2009). A retenção do segundo corpúsculo polar pode acontecer por erro natural do processo de formação do ovo e indivíduos triplóides podem surgir na natureza sem a intervenção humana (LE COMBER & SMITH, 2004; TIWARY et al., 2004; PIFERRER et al., 2009). Mas, pode-se provocar o mesmo erro através de choque físico dos ovos recémfecundados por alteração térmica ou de pressão hidrostática (TIWARY et al., 2004; PIFERRER et al., 2009). As metodologias através de choques de pressão são difíceis de serem executadas, por exigirem equipamentos específicos e que comportam poucos ovos por vez, além de serem manuseio perigosos, mesmo em escala laboratorial (TURRA et al., 2012). Com isso, o processo de indução à triploidia mais empregado na piscicultura é o de choques térmicos pela sua facilidade de execução, podendo ser choques témicos quentes ou frios. Em peixes tropicais, como a tilápia do Nilo, choques frios mostraram-se mais eficientes (PRADEEP et al., 2014). Porém, o contrário também foi registrado para essa espécie (EL GAMAL et al., 1999; MELO et al., 2006). Em choques frios, as temperaturas variam de 9 a 13oC e o tratamento realizado durante 30 a 60 min de exposição. Em choques quentes, a temperatura usual varia entre 40 e 42oC, com duração de 3 a 5 min. Em ambas metodologias o processo é executado 3 a 5 min depois da fertilização dos ovócitos, sendo considerados como choques precoces. Um aspecto negativo da indução à triploidia através de choques físicos é que a sobrevivência larval é prejudicada em relação à obtida com larvas diploides (TURRA et al., 2012). Huergo e Zaniboni-Filho (2006) utilizaram ovos recém fertilizados de jundiás submetidos a sete tratamentos definidos pela interação entre diferentes intensidades de pressão (4000, 5000 e 6000 psi), tempos após a fertilização (2, 5 e 8 min) e duração dos choques (2, 5 e 8 min). Obtiveram o melhor resultado com exposição por 5 minutos a uma pressão de 5000 psi aplicada aos 2 minutos após a fertilização, tratamento que foi suficiente para induzir 100% de triploides em Rhamdia quelen, Esses autores obtiveram sobrevivência larval de 29,1% ao fim do período de alimentação endógena e a triploidização de todo o lote. 24 A indução de poliploidia, frequentemente está associada à ocorrência de altas taxas de mortalidade, conforme foi observado nos testes de triploidia realizados por outros autores (LE COMBER & SMITH, 2004; TIWARY et al., 2004; PIFERRER et al., 2009). Isto pode ter como causa o desenvolvimento anormal determinado pela adição de um novo conjunto cromossômico ao genoma diplóide, que poderia resultar em desbalanços da atividade gênica nas células, ou ainda, devido ao efeito latente da ação do choque térmico (TABATA et al., 1999; PIFERRER et al., 2009). Outra dificuldade da técnica de triploidização por choque consiste na identificação dos triplóides, já que são fenotipicamente idênticos aos diplóides e a técnica de avaliação geralmente não resulta em 100% de eficiência na caracterização (VOZZI et al., 2003; SILVA et al., 2007; PRADEEP et al., 2014). A técnica de avaliação do tamanho e do volume do eritrócito tem sido utilizada com bastante eficácia na identificação de triplóides, pois o tamanho das células tem uma relação direta com a ploidia (FUKUSHIMA et al., 2012). Técnicas como a citogenética, contagem de nucléolos e a medida da quantidade de DNA (citometria de fluxo), também são utilizadas, no entanto, demandam tempo, equipamentos e mão de obra especializada (EL GAMAL et al., 1999; FUKUSHIMA et al., 2012; TURRA et al., 2012). Uma alternativa para superar estas dificuldades é produzir triplóides a partir de tetraplóides. Os animais oriundos destes cruzamentos são chamados triplóides interplóides. O método triplóides interplóides, apesar de pouco explorado, é o mais promissor para a produção de indivíduos triplóides em larga escala. Este método consiste na utilização de reprodutores tetraplóides em acasalamentos com diplóides, produzindo progênie triplóide interplóide. Essa alternativa evita os efeitos deletérios dos choques físicos ou químicos nos ovos, aumentando o volume e segurança dos triplóides(PIFERRER et al., 2009). 1.2 - Tetraploidia Tetraplóides são peixes que possuem quatro conjuntos de cromossomos ao invés dos dois conjuntos comumente encontrados. Podem ser originados pelo choque aplicado em um zigoto diplóide antes da primeira clivagem. O choque deve acontecer exatamente no momento após o cromossomo ter se replicado e o núcleo do zigoto estar próximo de se dividir. O choque impede a divisão celular e nuclear, portanto, 25 resulta em núcleos zigóticos com quatro conjuntos de cromossomos (PIFIRRER et al., 2009). O principal interresse na criação de tetraplóides é para a produção de peixes triplóides interploides, os quais eliminariam a necessidade de continuamente induzir a triploidia manualmente a cada geração. Essa alternativa elimina os efeitos deletérios dos choques externos nos ovos, além da produção sistemática de triplóides. O processo já se provou confiável em trutas arco-íris Oncorhynchus mykiss e em outras espécies de peixes(PIFERRER et al., 2009). A obtenção de indivíduos tetraplóides se dá através do choque físico, normalmente térmico, antes da primeira divisão mitótica do ovo, causando o rompimento dos fusos mitóticos e a manutenção do material genético duplicado na mesma célula, resultando em uma célula 4n, que volta a se dividir normalmente e forma um organismo tetraplóide (TAVE, 1993; CHERFAS et al., 1993; HUSSAIN et al., 1993; CEZAR et al, 2004). Para a obtenção de tretraplóides, os choques são executados com pelo menos 15 min após a fertilização dos ovócitos, chamados de choques tardios, para que o momento da primeira divisão mitótica possa ser alcançado; logicamente depende da temperatura de incubação e biologia da espécie estudada ( PIFERRER et al., 2009). Os tetraplóides em piscicultura são usados para a produção de triplóides estéreis. Entretanto, os cruzamentos de machos tetraplóides com fêmeas diplóides, possuem taxas de fertilização reduzidas, pois os espermatozóides têm dificuldade de penetrar nas micrópilas dos óvulos (CESAR et. al., 2004; TEBALDI & AMARAL JUNIOR, 2010). Sendo assim, para evitar essa limitação, deve ser feito o cruzamento de fêmea tetraplóide com macho diploide. Uma vez criados alguns peixes tetraplóides, estes podem ser perpetuados por cruzamentos entre eles, como o obtido em trutas arco-iris (MOREIRA et. al., 2001; CESAR et al., 2004). 26 2. JUSTIFICATIVA A piscicultura da região sul do Brasil foi desenvolvida com base no cultivo de espécies dulcícolas exóticas, tais como: carpa-comum Cyprinus carpio carpio e carpas-chinesas Hypophthalmichthys nobilis, Hypophthalmichthys molitrix e Ctenopharyngodon idella, truta Oncorhynchus mykiss e tilápia do Nilo Oreochromis niloticus. Isto se deu, principalmente pela falta de disponibilidade de tecnologias aplicáveis ao cultivo de espécies nativas. Com isso em mente, a EPAGRI (Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina) a partir de 2005, formou um grupo de estudos para reunir esforços e definir uma espécie de peixe nativa, com interesse produtivo e comercial, que possuísse não somente bom desempenho reprodutivo, mas também bons índices zootécnicos. O resultado de tais esforços elegeu o jundiá Rhamdia quelen, que deixou de ser uma espécie desconhecida nos sistemas de cultivos de peixes em Santa Catarina e passou a figurar na estatística das espécies produzidas, passando de 12 toneladas comercializadas em 2005 para 900 toneladas em 2012 (GARCIA et al., 2013). Dessa forma, essa espécie nativa vem despontando como uma das mais promissoras ao cultivo em viveiro escavado no Estado devido a sua resistência ao manejo, crescimento acelerado (inclusive no inverno), boa eficiência alimentar e, sobretudo, por apresentar carne saborosa e sem espinhos intramusculares, propiciando boa aceitação pelo mercado consumidor (CARNEIRO et al., 2002). Entre os conhecimentos que favoreceram o aumento na produção e produtividade do jundiá, pode-se destacar o desenvolvimento de um protocolo para inversão sexual da espécie, com hormonio, que possibilitou a regularidade na produção de alevinos destinados ao cultivo. Deve-se lembrar que o tratamento com o hormônio apropriado, administrado em dosagem adequada durante a fase indiferenciada de desenvolvimento da gônada, é condição determinante do sucesso da inversão sexual. Atualmente, mais de trinta diferentes hormônios naturais e sintéticos têm sido usados por diferentes pesquisadores no estudo da inversão. O mais utilizado entre os andrógenos é a 17 -metiltestosterona, e entre os estrógenos é o 17 -estradiol. Não obstante, a inversão do sexo nem sempre é 100% efetiva, além da limitação de uso em determinadas espécies. Dessa forma, o desenvolvimento de estoques com a totalidade de indivíduos para cultivo monosexo e/ou estéreis, 27 pode ser alternativamente obtido por meio de técnicas de manipulação cromossômica através de choques físicos e químicos (MELO et al., 2006). O choque térmicoé o mais fácildeaplicar emgrandeescala, como observado nos salmonídeos (FORESTI & FORESTI, 2004; BENFEY & SUTTELIN, 1984). Considerando o baixodesempenho dos outros métodos já estudados em induzir a triploidianojundiá, foram realizados estudos a fim deproduzir triplóidesem larga escala. O método utilizadoé o duplo choque(calorseguido defrio), como testado porNametal. (2004)emMizolepismisgurnuspara induçãoa tetraploidia. 28 3. OBJETIVO 3.1 Objetivo Geral Verificar a efetividade do choque térmico duplo (calor e frio em sequência) na triploidização e tetraploidização de jundiá Rhamdia quelen com vistas à sua utilização em atividades de cultivo. 3.2 Objetivos específicos a) Avaliar a efetividade do choque térmico quente seguido de frio para a produção de larvas triplóides de Rhamdia quelen em diferentes temperaturas; b) Analisar as taxas de fertilização, deformação embrionária, eclosão e sobrevivência larval nos ovos induzidos a triploidia; c) Identificar o melhor momento pós-fertilização para induzir ovos de jundiá a tetraploidia, pela combinação de choque quente e frio sequencial; d) Verificar as taxas de fertilização, eclosão e aproveitamento larval nos ovos induzidos a tetraploidia. 29 CAPÍTULO II Indução a triploidia em Rhamdia quelen (Actinopterygii, Heptapteridae) por choque térmico quente e frio sequencial Silvano Garcia1,2 e Evoy Zaniboni-Filho1,3 1 Programa de Pós-Graduação em Aquicultura, Centro de Ciências Agrárias, Departamento de Aquicultura, Universidade Federal de Santa Catarina. Rodovia Admar Gonzaga 1346, 8803-001 Florianópolis, SC, Brazil. [email protected], [email protected]. 2 Campo Experimental de Piscicultura de Camboriú, Empresa de Pesquisa Agropecuária e Difusão de Tecnologia do estado de Santa Catarina. Rua Joaquim Garcia S/N, 88340-000 Camboriú, SC, Brazil. 3 Professor do Departamento de Aquicultura, Universidade Federal de Santa Catarina. Artigo submetido ao periódico Neotropical Ichthyology em 25/09/2014 30 4. RESUMO O objetivo deste estudo foi avaliar o choque duplo de temperatura (quente e frio) para produção de jundiáRhamdia quelen triploides. Ovos fertilizados foram submetidos a choques de calor de 37, 39 e 41 ºC, 3 min após a fertilização durante 2 min e imediatamente submetidos ao choque de frio a 1 ºC por 20 min. Após os tratamentos, os ovos foram incubados a 25 ºC. Ovos incubados normalmente, sem manipulação, foram utilizados como controle. A taxa de fertilização do grupo controle (sem choque de temperatura) foi significativamente maior (65,5±36,99%) que dos grupos tratados a 37 °C (58,2 ± 37,71%), 39 °C (1,8±0,33%) e 41 ºC (0%). A sobrevivência da larvicultura dos peixes do controle (64,6±36,81%) também foi maior comparado com os peixes tratados com choque de 37 ºC (24,4±15,49%) e 39 ºC (0,6±0,07%). A porcentagem de larvas deformadas foi significativamente maior nos peixes submetidos aos choques de 37 ºC (47,4±9,64%) e 39 ºC (65,2±8,38%) que nos peixes do tratamento controle, que não apresentaram deformidades. A porcentagem de triploides, confirmada por citometria de fluxo, foi de 98,5% e 100% para os peixes sobrevivente submetidos a 37 e 39 ºC, respectivamente. Considerando a alta mortalidade e deformidades das larvas obtidas após o choque duplo de temperatura, esse procedimento necessita de mais estudos para ser aplicável em produções de larga escala de jundiá triploide. Palavras chave: Jundiá, poliploide, choque de temperatura, manipulação cromossômica, citometria de fluxo. 31 5. ABSTRACT The aim of this study was to evaluate sequential double temperature shock (heat and cold shock) for triploidization in Rhamdia quelen. Fertilized eggs were heat shocked at 37, 39 and 41 °C, 3 min post fertilization and then immediately cold shocked at 1°C for 20 min. After temperature treatments, the eggs were incubated at ~25°C. Intact eggs were used as controls. Fertilization rate in control groups (without temperature shock) was significantly higher (65.5±36.99%) than at 37°C (58.2 ± 37.71%), 39°C (1.8±0.33%) and 41°C (0%). The survival of hatchery of control (64,6±36.81%) was higher compared to treatment of 37 ºC (24.4±15.49%) and 39 ºC (0.6±0.07%). The percentages of abnormal larvae was significantly higher at 37 °C (47.4±9.64%) and 39 °C (65.2±8.38%) than at control, in which no abnormality was detected. The percentage of triploids, confirmed by flow cytometry, were 98.5% at 37 °C and 100% at 39 °C. Considering the high mortality and abnormal larvae obtained after double shock, this procedure needs others studies to be applicable in large-scale productions of silver catfish triploid. Key words: Silver catfish, polyploid, temperature shock, chromosomeset manipulation, flow cytometry. 32 6. INTRODUÇÃO O jundiá Rhamdia quelen, é um peixe nativo, com ocorrência desde a região central da Argentina até o sul do México (Silfvergrip, 1996). Na região sul do Brasil, o cultivo do jundiá tem aumentando, devido a taxa de crescimento elevada em baixas temperaturas, docilidade, resistência ao manejo, carne saborosa, ausência de espinhos intramusculares e grande aceitação pelo mercado consumidor (ChippariGomes, et al., 1999; Fracalossi et al., 2004; Baldisserotto et al., 2004). A produção em Santa Catarina aumentou significativamente nos últimos anos, passando de 25 toneladas no ano de 2005 para 833 toneladas em 2011 (Silveira, 2014). Contudo, a maturação precoce dos machos, foi identificada como um entrave que atrasa o seu crescimento. Essa característica está relacionada ao fato dos peixes usarem energia que seria utilizada no crescimento somático para a maturação gonadal. Isto proporciona um crescimento desuniforme, aumentando o manejo, os custos de produção e estendendo o ciclo de cultivo. Adicionalmente, tal diferença entre machos e fêmeas gera problemas para o cultivo implicando no manejo e no custo de produção. (Fracalossi et al., 2004; Ribolli &Zaniboni-Filho, 2009). Uma possível solução para este problema é o cultivo de peixes triplóides em grande escala, porque, em geral, os triplóides são estéreis e não apresentam os problemas relacionados com a maturação sexual precoce (Chourrout, 1987;Lozanoet al., 1987;Fanjul e Toro, 1991;Cesaret al., 2004;Huergo& Zaniboni-Filho2006; Tebaldi & Amaral Junior, 2009; Preston et al., 2013). A triploidia é a forma de manipulação cromossômica mais comum na aquicultura. Peixes triplóides podem ser obtidos pela retenção do segundo corpúsculo polar em ovos recém-fertilizados, efetuada pela aplicação de choques químicos, térmicos ou de pressão, que impedem a metáfase durante a meiose. Pode também ser obtido pelo cruzamento interespecífico (triploidia híbrida), cruzamento entre fêmeas tetraplóides e machos diplóides, originando triplóides interplóides (Chourrout, 1987;Lozanoet al., 1987;Fanjul& Toro, 1991;Cesaret al., 2004;Huergo& Zaniboni-Filho2006; Tebaldi &Amaral Junior, 2009). Triplóides foram produzidos comercialmente ou experimentalmente, por choque de pressão em muitas espécies de peixes e mariscos (Garneret al. 2008; Chiassonet al.2009), e tambem por choque térmico quente (Benfey & Sutterlin 1984;. Rougeotet al. 2003) e choque térmico frio (Silvaet al., 2007). Atualmente, existem protocolos confiáveis de indução a triploidia para algumas espécies de salmonídeos 33 como por exemplo emSalmo salar e Oncorhynchus mykiss (Prestonet al. 2013). No entanto, o uso de peixes triplóides é muito discutível na aquicultura. Em primeiro lugar, embora as células de indivíduos triplóides sejam teoricamente maior quando comparado com diplóides, o tamanho do corpo é geralmente semelhante quando comparado com peixes diferentes níveis de ploidia (Benfey & Sutterlin 1984; Chourrou, 1987; Meloet al., 2006). Pradeep et al. (2014) afirmam que a triploidia leva ao aumento do conteúdo do DNA, que resulta em um aumento do volume celular e nuclear em um grande número de tecidos, mas o número de células é reduzido para manter o tamanho normal do corpo e dos órgãos. Em salmonídeos, que é a principal grupo de peixes induzidos a triplóidesproduzidos em grande escala, as fêmeas triplóides apresentam desempenho e aumento da qualidade de carne, especialmente após a primeira maturação sexual (Chourrout, 1987; Tabataet al., 1999; Gillet et al., 2001; Piferreret al., 2009; Preston et al., 2013). Nas espécies de bagres triplóides estes apresentam melhor desempenho quando comparados com diplóides, como observado com bagre do canal, Ictalurus punctatus (Wolters et al., 1982; Basavarajuet al., 2002), bagre asiático Clarias macrocephalus (Fast et al., 1995) e o bagre chines Clarias fuscus (Qin et al., 1998).Portanto, o aumento do desempenho e esterelidade de triplóides parecem depender da espécie. Além disso, espécies decultivo são comumente encontradas em ambientes naturais, devido ao escape.A triploidia elimina as interações genéticas entre populações cultivadas e naturais, sendo um excelente caminho para a utilização de espécies exóticas em programa de piscicultura, minimizando os possíveis problemas de impacto ambiental à biodiversidade aquática, pelo desaparecimento de espécies nativas em decorrência da competição, predação e cruzamentos (Cotteretal., 2000; Lutz, 2001; Foresti& Foresti 2004;Chiasson et al., 2009).A intensificação dos cultivos, impulsionada pela facilidade na reprodução artificial, manejo e desempenho zootécnico promissor da espécie, aumentam as chances de escapes acidentais que podem provocar danos na estrutura genética das populações naturais (Cotteret al., 2000; Lutz 2001; LeComber& Smith, 2004;Foresti e Foresti, 2004). Em jundiáRhamdia quelen, tal esterilização é importante porque a produção aquícola com esta espécie está aumentando rapidamente nos últimos anos no Brasil e em outros países da região neotropical (Garciaet al., 2013). 34 Estudos anteriores sobre triploidização emRhamdia quelen são registrados na literatura. O primeiro experimento feito por Vozziet al., (2003) que obteve triplóides por choque térmico quente, enquanto que Silvaet al. (2007) obteve com choque térmico frio, porém nos experimementos acima citados foram alcançadas taxas inferiores a 100%. No entanto Huergo & Zaniboni-Filho (2006) também obteveram experimentalmente 100% triplóides de jundiá com choque de pressão hidrostática, porém a indução a triploidia por choque de pressão hidrostática apresenta limitações em escala comercial, devido à pequena quantidade de ovos que cabe no cilindro (Tiwaryet al., 2004). Além disso, o choque por temperatura, não precisa de aparelhos sofisticados, desta forma é mais fácil de aplicar em grande escala, como observado em salmonídeos (Benfey & Sutterlin, 1984;Pifirreret al., 2009). Considerando o baixo desempenho até aqui obtido na triploidização de Rhamdia quelen, o objetivo do presente estudo foi o de aumentar a produção em larga escala de triplóides para fins de aquicultura. Um procedimento possível para aperfeiçoar esse desempenho é usar o choque duplo (calor seguido de frio), como observado por Namet al. (2004) em Misgurnus mizolepis para a indução tetraplóide. No entanto, esta é a primeira tentativa de usar este método para produzir peixes triplóides. 7. MATERIAL E MÉTODOS O presente estudo foi conduzido no Campo Experimental de Piscicultura de Camboriú (CEPC), pertencente ao Centro de Desenvolvimento em Aquicultura e Pesca (CEDAP) da Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina (EPAGRI); no Laboratório de Biologia e Cultivo de Peixes de Água Doce (LAPAD), pertencente ao Departamento de Aquicultura do Centro de Ciências Agrárias da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC); no Centro de Pesquisa e Gestão de Recursos Pesqueiros Continentais (CEPTA) conveniado com a Universidade de São Paulo (USP). 7.1 Reprodução e coleta das amostras Foram selecionadas12fêmeas (740 ±53g) (média ±desviopadrão)e 8machos (634 ±39g), as fêmeascom base na aparênciaexterna(volumena regiãoperitoneal e papila entumecida),e os machos queliberaram sêmen com leve pressão abdominal, (ChippariGomes, 1999;AmaralJunior,2007). Osreprodutoresselecionadosforam 35 distribuídos em hapas de 0,5m3(3 hapascom 4fêmeas cadae 8 machosemuma únicahapa). As hapasforamcolocadasnum tanque de concreto de 3,0m3, com areração constante(oxigénio dissolvido >6 mg.L-1) eatemperatura de25,0±0,3°C.Apenasas fêmeasforam induzidas àdesova,utilizandouma dose única deglândula pituitária decarpa na dose de 5mg.kg-1 (Amaral Júnior,2007;WoynarovicheHorvath, 1983). Para viabilizar os procedimentos durante o experimento, as fêmeas foram induzidas com intervalo de uma hora entre cada hapa. Os ovócitosforam coletadospor extrusão10h após a induçãoesomente os ovócitoscom boa qualidadeforam utilizados(translúcido e cor homogênea, forma e tamanho) para a fertilização. O sêmenfoi coletado com uma leve pressão abdominal liberado diretamente sobre os ovócitos,homogeneizado e, em seguida, os gametasforam ativadosutilizando a águada incubadora.A fim deestimara quantidade deovos, uma aliquota(0,5 g) decadalote foi coletada efixadaemformalina a 4%para posterior contagem do númerodeovos(Wirtz &Steinmann, 2006), estimado como1.356±73ovócitos.g-1. As espécimes após a coleta dos gametas, foram depositadas no Museude Zoologia daUniversidade Federal doRio Grandedo Sul, (voucher UFRGS 18263, UFRGS 18264, UFRGS 1865 e UFRGS 18266). 7.2 Procedimentos e análises de triploidização Em cada tratamento e no grupo controle, uma amostra de 20 mL de ovócitos fertilizados (1401,33±21,06) foram distribuídos em unidades experimentais constituídas por peneiras cônicas de plástico (15,0 cm de diâmetro, malha de 0,4 mm e volume de 900 ml), fixadas em um sistema de incubação composto por placas de isopor e dispostos em um tanque de concreto redondo com volume útil de 3000 litros com aeração constante para manter os ovos em movimento. A temperatura foi mantida em 25,0±0,3 ºC, o oxigênio dissolvido em 6,8±0,7 mg.L-1e o pH 7,8±0,5, monitorados diariamente com uma sonda multiparâmetro (YSI 556®). O experimento consistiu em submeter ovos de Rhamdia quelen recém fertilizados (3 min pós-fertilização - mpf) a choque térmico quente (37, 39 e 41 ºC) durante 2 min (Nam et al., 2004), seguido por choque térmico frio (1,0 ºC) durante 20 min (Vozzi et al., 2003). O choque térmico quente foi realizado em banhos-maria, simultaneamente para cada um dos tratamentos (as temperaturas foram estabilizadas 48 h antes do experimento) e o choque à frio foi realizado em caixa de isopor 36 (120 L) contendo gelo. Um grupo contendo ovos incubados à 25 ºC foi utilizado como controle. O experimento foi repetido três vezes ao longo do tempo, com intervalo de uma hora cada repetição, sendo utilizada uma única unidade experimental em cada tratamento. As taxas de fertilizaçãode ovosdecada loteforammedidasna fasede gástrulatardia (12 horaspós-fertilização -hpf) emumaamostrade260embriões(Rizzo etal., 2003, Zaniboni-Filho, 1992). As taxas de eclosãoeas porcentagens delarvasnormais e anormaisforam mensuradasem 30 hpf. Aos 60hpf, foram fixadas25larvas ou todas as sobreviventes, de cada unidade experimentalem metanol com ácido acético(3 partes de metanol : 1 parte ácidoacético) paraa confirmação da ploidiapor citometria de fluxo. Para a análisepor citometria defluxo, foi utilizado o kit Cystain (Partec Gmbh, Alemanha). Em resumo, cadalarvafoi lisadaem120µL desolução A, a fim de isolarosnúcleos, e em seguida os núcleosforam coradascom1,5mLdesoluçãoDAPI(4,6-diamidino-2-fenilindole). Asuspensãoresultante foi, em seguida filtrada emum filtro com malha de30 µL(Celltrics, PartecGmbh, Alemanha), e oconteúdo de DNAfoi medidoporumcitômetro de fluxo(Partec Cy Flow Ploidy Analyzer, Partec Gmbh, Alemanha). O citômetro foi calibrado com um padrão diplóide de jundiá, e utilizou-se célulassomáticasdeAstyanaxaltiparanae,como controle durante as análises de citrometria de fluxo. A triploidia foi validada para indivíduos que apresentaram conteúdo de DNA 50% maior que a dos diplóides (Lamatsch et al., 2000).O conteúdo de DNA correspondente foi expresso em histogramas(Figura 1). 7.3Análise estatística Os dados de viabilidade dos ovos (taxa de fertilização) e de deformidade das larvas (taxa de deformidade) foram agrupados por tratamento e estruturados em tabelas de contingência para a avaliação da dependência com a temperatura do choque através do teste do quiquadrado (α=0,05) (Zar, 2010). Os tratamentos que produziram diferenças significativas entre as proporções foram evidenciados através do particionamento das tabelas de contingência. 37 Figura 1- Histograma de citometria de fluxo de larva de jundia Rhamdia quelen, submetida a choque térmico (quente e frio) sequencial para induzir a triploidia. 8. RESULTADOS As taxas de fertilização(χ² =752,78, P<0,05), larvas deformadas(χ² =350,57, P<0,05) e eclosão (χ² =380,54, P <0,05)foram significativamentedependentesdastemperaturas dos choques(Tabela 1). Apercentagemdeaumento de peixes triplóidesproduzidos estádiretamente relacionada coma temperatura da água utilizada nochoque térmico, sendode98,6% (37 °C) e de 100% (39 ºC) (χ ² =165,89, P<0,05), masataxa de eclosãoreduziudrasticamente de24,4% (37 °C)para 0,6% no 39 ºC. Tambémnãofoiobservadasobrevivência de embriãoa 41 °C(Tabela 1). A produção delarvasanormaistambém aumentouem 30%com oaumento de temperatura37 para 39 °C. O tratamento 41ºC foi excluído das análises estatísticas porque não produziu ovos viáveis. 38 Tabela 1 - Desenvolvimento eploidiadejundiáapós os tratamentosde temperatura. Temperatura do choque (ºC) Variáveis Controle 37 39 41* Temperatura (ºC) Fertilização (%) 37,0±0,05 58,2±37,71b 39,0±0,04 1,8±0,33c b c 24,4±15,49 Eclosão (%) 47,4±9,64b Deformação (%) 72 Larvas analisadas (n) a 71 (98,6) Triploides (%) 0,6±0,07 65,2±8,38a 29 a 29 (100,0) 41,3±0,54 0,0 25,0±0,30 65,5±36,99a 0,0 0,0 0,0 0 (0,0) 64,6±36,81a 0,0c 66 b 0 (0,0) Letras diferentes na mesma linha indicam diferença estatisticamente significante no teste do qui-quadrado (p<0,05) seguido pela análise de partição. 9. DISCUSSÃO As temperaturas avaliadas neste estudo, nos tratamentos 37 ºC e 39 ºC, estão no limite da temperatura letal para incubação de ovos de jundiá. No entanto no tratamento 41 ºC a temperatura ultrapassou o limite tolerado pela espécie pois os ovos se tornaram inviáveis. Considerando a sobrevivência e a percentagem de larvas anormais, podemos concluir que o número de larvas viáveis foi severamente diminuido em função da temperatura. Tiwary et al. (2004) afirmaram que a temperatura que implica em melhores resultados são aquelas próximas a temperatura letal. As temperaturas de indução à triplóidia analisadas neste estudo, são muito próximas e com resultados diferentes, por isso se faz necessário avaliar a duração dos choques em estudos futuros. De acordo com Nam et al. (2004), a combinação choques quente e frio em sequência diminui as taxas de sobrevivência, mas por ser um tratamento muito traumático aumenta a porcentagem de poliploides. No entanto, outros estudos com jundiá apresentaram bons resultados após choque quente ou frio. Vozzi et al. (2003) observaram taxas de fertilização em 65,4 ± 3,1%, sobrevivência de 33,4% e 74,8% em triploidia, depois de induzir a triploidia com choque quente a 36° C durante 5 min, resultado semelhante ao nosso estudo, a 37 °C durante 2 min, seguido de 1 °C por 20 min. Em outro estudo realizado com jundiá por Silva et al. (2007) após choque frio de 4 °C, 3 min após a 39 fertilização por um período de 20 min, resultou em 97,9 ± 1,16% de triplóides, com taxa de sobrevivência de 65,4 ± 5,34%. Huergo & Zaniboni-Filho (2006), utilizando o choque de pressão hidrostática, 2 min pós-fertilização submeteram os ovos a pressão de 5000 psi durante 5 min, obtiveram 100% de triploides, porém apresentaram baixa taxa de sobrevivência (20,5%). Percentual de larvas de anormais foi maior em nosso estudo, quando comparado com Vozzi et al. (2003) e Silva et al. (2007). Resultados semelhante aos nossos também foi observado por Huergo & Zaniboni-Filho (2006), usando choque de pressão hidrostática. A temperatura do choque térmico quente afetou significativamente o desenvolvimento embrionário, inviabilizando os ovos submetidos à temperatura de 41 ºC. A taxa média de fertilização, deformação embrionária e eclosão foi diferente para cada temperatura testada, chegando a ser letal a 100% dos embriões na temperatura de 41 ºC (Tabela 1). As taxas de deformação embrionária encontradas no choque de térmico a 37 ºC foram maiores que as encontradas por Vozzi et al. (2003) e Silva et al. (2007), e inferiores as encontradas por Huergo e Zaniboni Filho (2006) usando choque de pressão hidrostática. Esta taxa de deformação acentuada está associada à interação dos choques quentes e frio, bem próximo ao limite letal suportado pela espécie. Silva et al. (2007) comparando os resultados do choque térmico quente com o choque frio, observaram que o choque frio deve ser aplicado em um tempo mais longo pós-fertilização, pois a temperatura baixa da água, provoca um atraso na velocidade da meiose. Neste estudo, apesar de não existir diferença significativa entre as temperaturas, pode-se notar que a associação de choques (quente e frio) produziu uma taxa de triploides de 98,61% na temperatura a 37oC e de 100% na temperatura 39oC. A indução a triploidia por choque térmico também foi bem sucedida no bagre (Clarias macrocephalus) submetidos a choque frio 4 ºC por 15 min. Nestas condições foram obtidos animais triplóides com poucas deformidades e maior sobrevivencia em comparação com criação diplóides (Fast et al., 1995). Pradeep et al. (2012) observaram que o choque térmico quente (41 ºC por 3,5 min) em tilápia vermelha (Oreochromis mossambicus) resultou em 67% de sobrevivência das larvas e 89,7% triploidia. No entanto, o choque frio (9 ºC durante 30 min) mostrou 98,7% triploidia e 75% de sobrevivência das larvas em tilápia vermelha (Peruzzi et al., 2007; Pradeep et al., 2014). Embora seja inovador e produzir alta porcentagem de triplóides, até 100% de peixes triploides, a taxa de sobrevivência diminuiu 40 significativamente. Portanto, outros procedimentos alternativos são necessários para determinar as melhores temperaturas e duração do choque térmico, e com isso otimizar a eficiência deste método afim de conseguir populações triplóides para cultivo em grande escala. 10. REFERÊNCIAS Amaral Junior, H. 2007. Manual de reprodução de peixes de água doce com cultivo comercial na região Sul do Brasil. Florianópolis, Epagri, Boletim Técnico 136: 53. Baldisserotto, B. & Radünz Neto, J. 2004. Criação de jundiá. Santa Maria, Universidade Federal de Santa Maria, 232p. Basavaraju, Y., Mair, G.C., MohanKumar, H.M., Pradeep Kumar, S., Keshavappa, G.Y., Penman, D.J. 2002. An evaluation of triploidy as a potential solution to the problem of precocious sexual maturation in common carp, Cyprinus carpio, in Karnataka, India. Aquaculture, 204 (3-4): 407-418. 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RESUMO O objetivo desteexperimento foi avaliar a eficiência do choque térmico duplo (quente seguido do frio) para induzir a tetraploidia emjundiá Rhamdia quelen em diferentes tempos pós-fertilização. Paraidentificar o melhor momento para aplicação dos choques,foram avaliadas as taxas de fertilização, de eclosão, de sobrevivência larval e quantificadas as larvas que sofreram alteração de ploidia.Foram selecionadas vinte femeas (730 ± 68g) e 8 machos (614 ± 49g). Para viabilizar os procedimentos durante o experimento as fêmeas foram induzidas por dose única (5mg.kg-1), com intervalo de 90 min entre cada tanque rede.O experimento consistiu em submeter 20 mL de ovócitos fertilizados (1392,35±22,17)de Rhamdia quelen a (10, 15, 20, 25, 30 e 35 minutos pós-fertilização - mpf) a choque térmico quente (39±0,2ºC) durante 3 min, seguido por choque térmico frio (1,0±0,1ºC) durante 30 min. O choque térmico quente foi realizado emcaixa de isopore cadatempo pós-fertilização representou um tratamento. Um grupo controle foi fertilizado sem sofrer nenhum choque térmico. As taxas de fertilização ede eclosãoforam medidas na fasede gástrulatardia (12 hpósfertilização -hpf) e 30hpf,respectivamente.Decorridas 60hpf, 25larvasde cada unidade experimentalforam fixadasem metanol com ácido acético,para verificação da ploidiapor citometria de fluxo.A taxa de fertilização do tratamento controle foi 87,83%, enquanto que os tratamentos apresentaram valorese de 23,4% 28,5%, 30,4%, 20,0%, 30,3%, 36,7%, para os tempos de 10, 15, 20, 25, 30, 35 mpf, respectivamente. Foram encontradas larvas tetraplóides apenas nos grupos submetidos aos tratamentos realizados a 15 mpf e 20 mpf, sendo observadas três e duas larvas em cada tratamento, respectivamente. Esse é o primeiro trabalho bem sucedido na produção de jundiás tetraplóides através de choque quente e frio sequencial, abrindo possibilidades para o aperfeiçoamento dessa técnica objetivando a produção em larga escala. Palavras-chave: poliploidia. Jundiá, tetraploide, choque de temperatura, 47 12. ABSTRACT Current assay assessed the efficiency of a dual thermal shock (heat shock followed by a cold one) to induce tetraploidy in the jundiá (Rhamdia quelen) at different post-fertilization time. The best moment to apply the shocks was evaluated by measuring the fertilization rate, eclosion rate, larvae survival rate and the success in theploidy changes. Fifteen females (730 ± 68g) and8 males (614 ± 49g) were selected. The females were induced by a single dose (5mg.kg-1) of the carp pituitary gland at 90-min intervals between each cage. Assay comprised the submission of 20 mL of fertilized oocytes (1392.35 ± 22.17) of R. quelen at 10, 15, 20, 25, 30 and 35 minutes post-fertilization (mpf) to a heat thermal shock (39 ± 0.2ºC) for 3 minutes, followed by a cold thermal shock (1.0 ± 0.1ºC) for 30 minutes. Heat thermal shock was undertaken in styrofoam boxes and each treatment consisted of one post-fertilization period. Control group was fertilized without any thermal shock. Fertilization and eclosion rates were measured at the late gastrula phase (12 h post-fertilization - hpf) and at 30 hpf, respectively. At 60 hpf, 25 larvae of each experimental unit were fixed in methanol with acetic acid to verify ploidy per flow cytometry. Fertilization rate reached 87.83% in control treatment and was 23.4% 28.5%, 30.4%, 20.0%, 30.3% and 36.7%, respectively for treatments 10, 15, 20, 25, 30 and 35 mpf. Tetraploid larvae were only found in the groups submitted to thermal shock at 15 and 20 mpf (three and two larvae, respectively). For the first time tetraploids of jundia was produced using simultaneous heat and cold shocks were employed, opening opportunities to improve its suitability for large-scale tetraploid larvae production. Keywords: jundiá, tetraploidy, heat thermal shock, poliploidy. 48 13. INTRODUÇÃO O jundiá Rhamdia quelen é um bagre nativo da América do Sul que apresenta grande potencial para a aquicultura na região Sul do Brasil. É um animal rústico que apresenta rápido crescimento, tolera variação de temperatura e se reproduz com facilidade. Entretanto, ocorre um declínio na taxa de crescimento quando os peixes atingem a maturidade sexual, quando passam a desviarparte da energia para o processo reprodutivo, fato que é agravado nos machos devido a precosidade da maturação gonadal (Fracalossi et al., 2004; Baldisserotto & Radunz-Neto, 2004, Huergo& Zaniboni-Filho, 2006). Isto proporciona um crescimento desuniforme, aumentando a necessidade de manejo e os custos de produção, além de prolongar o ciclo de cultivo (Garciaet al., 2013). Uma das técnicas utilizadas para mitigar o problema decorrente do crescimento desuniforme é a triploidia, a forma de manipulação cromossômica mais comumente usada na aquicultura. Um dos maiores interesses na produção de peixes triplóides está relacionado à esterilidade gonadal (Fanjul e Toro, 1991; Kusunokiet al., 1994; Melo et al., 2006; Huergo & Zaniboni Filho, 2006;Turra et al., 2012; Preston et al., 2013). Apesar das vantagens dos indivíduos triploides, a indução à triploidia está frequentemente associada à ocorrência de altas taxas de mortalidade. Além disso, a intensidade do choque pode possibilitar a ocorrência de deformações (Mello et al., 2006). Outra dificuldade da técnica de triploidização direta consiste na identificação dos triplóides, já que são peixes fenotipicamente idênticos aos diplóides e as técnicas de análise utilizadas para identificação da ploidia são pouco precisas ou onerosas(Vozzi et al., 2003; Silva et al., 2007). Peixes triploides também podem ser obtidos pelo cruzamento interespecífico (triploidia híbrida), obtido pelo cruzamento de fêmeas tetraplóides e machos diplóides, originando triplóidesinterplóides. Esse procedimento evita os efeitos deletérios dos choques físicos aplicados diretamente sobre os ovos e além disso os animais tetraploides poderão ser usados a cada ciclo reprodutivo (Lozanoet al., 1987; Chourrout, 1987; Cesar et al., 2004; Piferrer et al., 2009; Tebaldi & Amaral Junior, 2009). Sendo assim, a tetraploidiaé uma alternativa para superar estas dificuldades observadas na produção de peixes triplóides. Os tetraplóides podem ser originados pelo choque aplicado em um zigoto diplóide, no momento da primeira clivagem. (Onozato e Zhang, 2004). 49 O choque deve acontecer no momento exato em que o cromossomo tenha sido duplicado e o núcleo do zigoto esteja próximo a se dividir. O choque aplicado impede a divisão celular e nuclear, portanto, resulta em núcleos zigóticos com quatro conjuntos de cromossomos (Hong, 1990; Diter et al. 1993; Le Comber & Smith, 2004). Poucos casais de peixes tetraplóides maduros e férteis são suficientes parainiciar um programa de melhoramento genético orientado a aumentar a população de uma forma planejada, reduzindo o risco de endogamia (Gui et al., 1991; Ávila, 2004). Geraçãodelinhagenstetraplóidesfuncionaiséumpré-requisito paraaprodução em massadeprogêniestriplóides (Chourrout et al., 1986). Desdeadécada de 1980,váriastentativas foram feitaspara induzira tetraploidia de peixes, tais como:salmonídeos,ciprinídeose e ciclídeos. Tetraplóidesviáveis foram obtidosemalgumas espécies, por exemplo:Misgurnus anguillicaudatus,(Arai,1991);Cobitis biwae, (Kusunokiet al.,1994); Carassius Auratus langdorfii, (Kobayashi,1971; Cherfaset al, 1994).Tetraploides emsalmonídeos, foram obtidos por Chourrout et al.(1986), Blancet al.(1987) e Horstgen-Schwark (1993). Destestetraploides, progênies comdiferentes ploidias foram geradosapenas emMisgurnus anguillicaudatus. Ocorrência naturaldetetraploidefoi relatada poralgunspesquisadores em espécies tais como: Barbus sp., (Agneseet al. 1990);Clarias batrachus, (Pandey e Lakra1997);Fossilis heteropneustes, (Pandian e Koteeswaran1998) Inúmeras tentativas de utilizar o choque térmicoúnico(Thorgaardet al., 1981; Diter et al., 1993)parabloquearaprimeira clivagemmitóticaempeixes foram realizadas. No entanto, salvo raras exceções, as taxas de tetraploidia, sobrevivência e rendimento larval foram baixas (Flajshanset al., 1983; Weber et al., 2012). Para otimizar a produção de tetraplóides, um protocolo para a induçãoa tetraploidia, bloqueando aprimeira divisão mitoticacomumacombinaçãodechoque térmico quente de curta duração, seguidoporchoque térmico friode longa duração foi desenvolvido por Nam et al. (2004).Considerando o bom desempenho do protocolo de duplo choque térmico em outras espécies de peixes para induzir a tetraploidia, o presente estudo teve como objetivo determinar o intervalo de tempo em que a aplicação do choque térmico duplo (quente seguido de frio) é necessária para a produção de larvas tetraploides de jundiá. 50 14. MATERIAL E MÉTODOS O experimento foi realizado no Campo Experimental de Piscicultura de Camboriú, da Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina (EPAGRI) e no Centro de Pesquisa e Gestão de Recursos Pesqueiros Continentais (CEPTA) conveniado com a Universidade de São Paulo (USP). 14.1 Reprodução Para o experimento foram selecionados peixes maduros e aptos à reprodução, dentre as as fêmeas, aquelas que apresentavam região peritoneal avolumada e papila entumecida, e machos que liberavam sêmen com leve pressão abdominal (Gomes et al., 2000;Amaral Junior, 2007). Foram selecionadas 15 fêmeas (730 ± 68g)(peso médio ± desvio padrão) e 8 machos (614 ± 49g). Os peixes selecionados foram distribuídos em hapas de 0,5m3 (3 hapas com 5 fêmeas cada e 8 machos em uma única hapa). As hapas foram instaladas em um tanque de concreto de 2,5m3, com aeração constante (oxigênio dissolvido superior a 6 mg.L-1) e temperatura da água de 25,0±0,3°C. Somente as fêmeas foram induzidas à desova, utilizando a aplicação de uma dose única de 5mg.kg-1de extrato de pituitária de carpa (Woynarovich & Horvath, 1983; Amaral Júnior, 2007). Para viabilizar os procedimentos necessários para o manejo dos gametas durante o experimento, as fêmeas foram induzidas com um intervalo de 90 min entre cada lote de cinco fêmeas (hapas). Os ovócitos foram coletados por extrusão à seco aproximadamente 10 h após a indução hormonal, sendo recolhidos em um recipiente para análise e posterior fertilização. As desovas cujos ovócitos aparentavam boa qualidade, ou seja, coloração homogênea e translúcida, tamanho homogêneo e túrgidos foram selecionadas. O sêmen foi coletado com uma leve pressão abdminal diretamente sobre os ovócitos, homogenizado e, em seguida, os gametas foram ativados utilizando a água do tanque de incubação. Para estimar a quantidade de ovos, uma aliquota (0,5 g) de cada desova foi coletada e fixada em formalina a 4% para posterior contagem do número de ovos (Wirtz & Steinmann, 2006), tendo sido obtido o valor médio de1.356±78 ovócitos.g1. Após condução dos trabalhos, uma parte do lote de peixes foi depositada no Museu de Zoologia da Universidade Federal do Rio Grandedo Sul ( voucher UFRGS 18258, UFRGS 18259, UFRGS 18260).14.2 Delineamento e Procedimentos de tetraploidização 51 O experimento consistiu em submeter ovos de Rhamdia quelen recém-fertilizados (em diferentes tempos da fertilização: 10, 15, 20, 25, 30 e 35 minutos pós-fertilização - mpf) a um choque térmico quente (39±0,2ºC) durante 3 min (Nam et al., 2004), seguido por choque térmico frio (1,0±0,1ºC) durante 30 min (Vozzi et al., 2003). Dessa forma, foram testados seis tratamentos que consistiam na variação do tempo pós-fertilização que foi iniciado o choque térmico, além de um tratamento controle que não foi submetido a choque de temperatura. O choque térmico quente foi realizado em caixas de isopor contendo 120 L de água na temperatura prevista, de modo que o grande volume de água impedisse a variação da temperatura durante o procedimeto. O choque térmico frio foi realizado em caixa de isopor de 100 L contendo água e gelo. A temperatura da água para ambos os choques foi estabilizada momentos antes dos procedimentos. A cada desova e posterior fecundação, os ovos foram homogenizados e divididos ao acaso em sete porções iguais (seis tratamentos e um controle). O grupo controle foi fertilizado e incubado em água à cerca de 25 ºC. Em cada unidade experimental e no grupo controle, uma amostra de 20 mL de ovócitos fertilizados (1392,35±22,17) foram distribuídos em unidades experimentais constituidas por peneiras cônicas de plástico (15,0 cm de diâmetro, malha de 0,4 mm e volume útil de 900 mL) fixadas em um sistema de incubação composto por placas de isopor. Esse sistema de incubação foi colocado na superfície de em um tanque de concreto com volume útil de 2.500 L mantido com aeração constante, visando manter os ovos em movimento dentro das peneiras. A temperatura foi mantida em 25,0±0,3ºC, o oxigênio dissolvido em 6,8±0,7 mg.L-1e o pH 7,8±0,5, com valores mensurados diariamente com uma sonda multiparâmetro (YSI 556®). O experimento foi repetido três vezes no tempo (três desovas) e realizadas com intervalo de 90 min entre elas. A taxa de fertilização dos ovos de cada unidade experimental foi avaliada na fase de gástrula tardia (12 h pós-fertilização - hpf) em uma amostra de 260 embriões (Zaniboni-Filho, 1992; Rizzo et al., 2003). A taxa de eclosão foi estimada em 30 hpf. Decorridas 60 hpf, 25 larvas ou as sobreviventers, de cada unidade experimental foram fixadas em metanol com ácido acético (3 partes de metanol: 1 parte ácido acético) para a confirmação da ploidia por citometria de fluxo. Para a análise por citometria de fluxo, foi utilizado o kit Cystain (Partec Gmbh, Alemanha). Nesse procedimento, cada larva foi lisada em 120 µL de solução A(kit Cystain), para isolar os núcleos, e em seguida os núcleos foram corados com 1,5 mL de solução DAPI (4,6-diamidino-2fenilindole). A suspensão resultante foi então filtrada numa malha de 30 52 µm (Celltrics, Partec Gmbh, Alemanha) e o filtrado que mantém o conteúdo de DNA é mensurado por um citômetro de fluxo (Partec Cy Flow Ploidy Analyzer, Partec Gmbh, Alemanha). O citômetro foi calibrado com um padrão contendo células diploides de jundiá, e utilizou-se ainda células somáticas de lambari Astyanax altiparanae, como controle durante as análises de citrometria de fluxo. A triploidia foi validada para indivíduos que apresentaram conteúdo de DNA 50% maior que a dos diplóides (Lamatsch et al., 2000) e o conteúdo de DNA correspondente foi expresso em histogramas (Figura 2). 14.3 Análises estatística Os dados da taxa de fertilização e de eclosão larval foram submetidos ao teste de Levene para avaliar a homocedasticidade dos dados. Posteriormente, foi realizada análise de variância unifatorial, e quando necessário, foi feita a separação de média pelo teste SNK. Todas as análises utilizaram um nível de significância de 5%. (Zar, 2010) 2n 4n 8n Figura 2- Histograma de citometria de fluxo de larva de jundiá Rhamdia quelen, submetida a choque térmico (quente e frio) sequencial, para induzir a tetraploidia. Seta indica pico referente ao controle 2n que foi utilizada jutamente com as amostras tetraplóides. 53 15. RESULTADOS A taxa de fertilização e a eclosão larval foram maiores nos embriões do tratamento controle do que nos demais tratamentos. Dentre os peixes submetidos aos choques térmicos duplo, os que apresentaram maiores taxas de fertilização e eclosão foram aqueles submetidos ao choque 35 minutos pós-fertilização (mpf), enquanto que os submetidos ao choque 25 mpf foram os que apresentaram as menores taxas de fertilização (Figura 3A e 3B). A sobrevivência das larvas 60 horas após a eclosão foi idêntica entre os tratamentos, com valor inferior ao verificado no tratamento controle (Tabela 2). O valor médio da taxa de sobrevivência das larvas entre todos os tratamentos representa apenas 2,71% do valor obtido no tratamento controle, confirmando a nocividade dos choques térmicos aplicados na sobrevivência das larvas. 54 Taxa de fertilização A 100 a 100 80 80 60 40 b bc bc bc c % % 60 40 c 20 20 0 10 15 20 25 30 35 Controle mpf 100 Eclosão larval a B 80 % 60 b 40 20 cd c cd d cd b 10 15 20 25 30 35 0 35 cd 0 Controle A Ecl a Controle mpf Figura 3 –Valores médios das taxas de fertilização (A) e de eclosão (B) dos tratamentos submetidos ao choque térmico em diferentes períodos de tempo depois da fertilização (em minutos pós-fertilização – mpf) e do grupo controle. Os tratamentos que a sobrevivência nao atigiu o número mínimo de 25 larvas, foram usados todas as larvas sobreviventes para a análise de verificação de ploidia por citometria de fluxo, além de 25 larvas do grupo controle. Alem disso, houve dificuldade para extração do DNA das larvas, devido a fixação ter sido feita em solução de metanol com ácido acético, ocasionando a perda de cerca de 15% das larvas processadas. Dentre as larvas analisadas, apenas nos grupos submetidos 10 55 ao choque térmico depois de 15 mpf e de 20 mpf é que foram encontradas larvas tetraplóides (Tabela 2). Tabela 2 - Número de larvas sobreviventes, larvas analisadas e quantidade de diplóides (2N) e tetraplóides (3N) encontrados nos diferentes tratamentos (tempo para indução do choque térmico em minutos pós-fertilização). Tratamento Sobrevivência Larvas 2N 3N (n) analisadas (n) (n) 10 55 46 46 0 15 67 62 59 3 20 68 54 52 2 25 61 48 48 0 30 55 44 44 0 35 56 51 51 0 Controle 2357 73 73 0 16. DISCUSSÃO Os valores da taxa de fertilização foram fortemente afetadas pelos tratamentos com choques térmicos sequencial, independente se o tratamento foi iniciado entre 10 e 30 minutos pós-fertilização (mpf). Somente quando esse tempo foi de 35 mpf houve aumento na taxa de fertilização. O efeito deletério dos choques físicos aplicados sobre os ovos são conhecidos para diferentes espécies, sendo justificados pela deformação dos microtúbulos do citoesqueleto na formação do fuso mitótico(Tabata et al., 1999) ou ainda por desencadearem vários processos fisiológicos em ovos recém-fertilizados e que são totalmente desconhecidos, sendo determinados por reações no período compreendido entre a fertilização e a primeira clivagem (Almeida, 2007). Embora a aplicação de choques térmicos sequenciais (choque quente seguido de choque frio) diminua muito a taxa de fertilização e de eclosão, tem o benefício de aumentar a quantidade de tetraplóides produzidos (Cherfas et al., 1994). Nam et al. (2004) afirmaram que a baixa sobrevivencia de larvas tratadas com choques térmicos sequenciais (quente e frio), quando comparada com a sobrevivencia por choque térmico único, é compensada pelo aumento do número delarvas tetraplóides geradas pelo tratamento duplo, que é mais nocivo e mais 56 eficiente. Apesar de ainda desconhecidas as razões que impedem a primeira clivagematravés dacombinação dechoquestérmicos (quente e frio sequencial) (Nam et al., 2004), os trabalhos que utilizaram choques térmicos únicos para induzir a tetraploidia de Misgurnus mizolepis (Nam et al., 1999; Diter et al., 1993; Malison et al., 1993;Yamazaki e Goodier, 1993) sempre produziram quantidades inferiores de tetraplóidesdo que os testes feitos com choques térmicos sequenciais(Nam et al., 2004). Para induzir a tretraploidia o choque deve ser aplicado pouco antes que ocorra a primeira clivagem. Dessa forma, os resultados desse trabalho indicaram que o choque térmico aplicado aos ovos de jundiá deve ser iniciado entre 15 mpf e 20 mpf quando incubados em temperatura de água de 25 ± 0,5ºC oC. Esses foram os únicos tratamentos que produziram larvas tetraplóides. Considerando que a taxa metabólica dos peixes é fortemente influenciada pela temperatura da água, podemos supor que a manutenção de ovos incubados em temperatura mais baixa amplia o período de tempo em que o choque térmico deva ser iniciado para induzir a tetraploidia do jundiá, o que pode melhorar a eficácia da poliploidização. Para isso há necessidade de conhecer a amplitude térmica tolerável para a incubação dos ovos da espécie trabalhada, além da cronologia do desenvolvimento embrionário. Ovos de jundiá incubados a 24ºC eclodiram 26 horas pósfertilização (hpf), enquanto que aqueles incubados a21ºC eclodiram apenas depois de 43 hpf (Rodrigues-Galdino et al., 2009). Nesse caso, houve uma ampliação de 65% do tempo necessário para concluir o desenvolvimento embrionário do jundiá, desde a fertilização até a eclosão. Esse fato pode ser explorado na realização de novos estudos que busquem a produção de tetraploides de jundiá, a fim de determinar o melhor momento e otimizar a produção de tetraplóides. As taxas de tetraploidias variam muito dependendo da espécie, da qualidade dos ovócitos e da técnica aplicada (Nam et al., 2004; Almeida, 2007; Weber e Hostuttler, 2012). Neste trabalho foi possível estabelecer protocolo que produz larvas tetraploides de jundiá. A produção de poucos tetraploides já pode ser suficiente para a implantação de um programa de melhoramento genético(Gui et al., 1991; Ávila, 2004), quando pode ser produzido progêniestriplóidesem massa para sua aplicação no setor produtivo (Chourrout et al., 1986). Esse é o primeiro trabalho bem sucedido na produção de jundiás tetraplóides através de choque quente e frio sequencial, abrindo possibilidades para o aperfeiçoamento dessa técnica, objetivando a produção em larga escala. 57 17. REFERÊNCIAS Agnese, J.F., Berresi, P., Leveque, C., Guegan, J. F., 1990. Two lineages, 2n and 4n, demonstrated in African species Barbus (Osteichthyes, Cyprinidae): on the coding of differential gene expression. Aquat. Living Resour. 3, 305–311. Almeida, R.B. de C. 2007. Astyanax altiparanae (Pisces, Characiformes) como modelo biológico de espécie de peixe para exploração zootécnica e biomanipulação. Tese de doutorado, Universidade Estadual Paulista - UNESP, Botucatu, 119 pp Amaral Junior, H. 2007. Manual de reprodução de peixes de água doce com cultivo comercial na região Sul do Brasil. Florianópolis, Epagri, Boletim técnico 136, 53p. Arai, K. 1991. Genetic improvement of aquaculture finfish species by chromosome manipulation techniques in Japan. 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Valores intermediários não foram testados nesse trabalho. - Foram obtidas larvas tetraploides nos tratamentos iniciados depois de15 e 20 mpf, quando mantidos numa temperatura de 25± 0,5ºC o C. Outras temperatura de incubação poderão ser testadas, assim como outros valores de temperatura. Neste trabalho, não houve a indução a tetraploidia quando o choque térmico foi aplicado antes de 15 mpf ou depois de 25 mpf. 64 65 19. REFERÊNCIAS DA INTRODUÇÃO AMARAL JUNIOR, H. Manual de reprodução de peixes de água doce, com cultivo comercial na região Sul do Brasil. Boletim técnico n 136 Florianópolis: Epagri, 2007. ÁVILA, M.C. Indução à tetraploidia em tilápia nilotica, Oreochromis niloticus utilizando-se choque térmico.2004.( Dissertação em aquicultura) - Universidade Estadual Paulista. 2004. BALDISSEROTTO, B. Biologia do jundiá. In: BALDISSEROTTO, B; NETO, J.R.(Eds) Criação de Jundiá, 1. ed. Santa Maria: Ed. UFSM, cap. 3, p.67-72,2004. 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ANEXOS Temperatura da água do choque térmico frio (A) no início do experimento e no final do experimento (B); caixa de isopor contendo água à temperatura de 1 oC onde foram colocadas a unidades experimentais durante 30 minutos (C); fogareiro e panela com capcidade de 60 L onde a água foi aquecida (D). A C B D 72 Citômetro de fluxo onde foram processadas as análises (A), amostras fixadas em metanol e ácido acético (B), amostras sendo filtradas (C), aplicação de enzima (lisina) para extrair o material genético (D) A B C D 73 Extrusão de fêmea de jundiá Rhamdia quelen(A), óvulos recemestrusados (B), extrusão de macho de jundiá (C), tanque de concreto de 2,5 m3, contendo placas de isopor, onde foram colocadas as unidades experimentais (peneiras) (D). A B C D