UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE CENTRO DE ESTUDOS GERAIS INSTITUTO DE QUÍMICA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM QUÍMICA ORGÂNICA KATIA REGINA SILVA ALVES DA ROSA ESTUDO DE PRODUTOS NÃO AGRESSIVOS AO MEIO AMBIENTE PARA ATUAR COMO INIBIDORES DE INCRUSTAÇÃO Niterói Março/2007 KATIA REGINA SILVA ALVES DA ROSA ESTUDO DE PRODUTOS NÃO AGRESSIVOS AO MEIO AMBIENTE PARA ATUAR COMO INIBIDORES DE INCRUSTAÇÃO Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Química Orgânica da Universidade Federal Fluminense como requisito parcial para a obtenção do Grau de Mestre em Química Orgânica. Orientadores: Prof. Dr. Gilberto Alves Romeiro Prof. Dr. Anderson de Araújo Rocha Niterói março/2007 R 788 Rosa, Kátia Regina Silva Alves da Estudo de produtos não agressivos ao meio ambiente para atuar como inibidores de incrustação/Kátia Regina Silva Alves da Rosa. – Niterói: [s. n.], 2007. 89f. Dissertação – (Mestrado em Química Orgânica) – Universidade Federal Fluminense, 2007. 1. Síntese orgânica. 2. Quitosana. 3. Incrustação. 4. Química – Tecnologia. I. Título. CDD 547.2 KATIA REGINA SILVA ALVES DA ROSA ESTUDO DE PRODUTOS NÃO AGRESSIVOS AO MEIO AMBIENTE PARA ATUAR COMO INIBIDORES DE INCRUSTAÇÃO Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Química Orgânica da Universidade Federal Fluminense como requisito parcial para a obtenção do Grau de Mestre em Química Orgânica Niterói março/2007 “Cientistas malucos ou desagradáveis invasores vindos do espaço já foram os personagens habituais dos autores de ficção científica a transformar o nosso mundo – normalmente para pior. No final do século XX, esses artifícios tornaramse redundantes tanto na ficção como na realidade, pois é o próprio homem que vem alterando o planeta, acidental e intencionalmente, às vezes em escala impressionante. Além das mudanças climáticas que se verificam no decurso de milhares de anos, o homem é hoje o mais poderoso agente individual da alteração das condições na superfície terrestre.” David Drew Agradecimentos À Deus, primeiramente, pelas oportunidades e pessoas que coloca em nosso caminho e que nos ajudam a crescer. Aos meus familiares e amigos pela minha pequena disponibilidade nos momentos de estudo. Ao professor Gilberto Alves Romeiro pela amizade, orientação e, por acreditar e aceitar a proposta de dissertação. Ao professor Anderson de Araújo Rocha pela amizade, co-orientação e ajuda nos testes específicos para a inibição da incrustação. Ao Antonio Pinto, gerente da Tecnologia de Reservatório/CENPES em 2004, pelo forte incentivo à minha capacitação e a oportunidade de ingresso no mestrado. À Maria Carmen, coordenadora do grupo de incrustação/CENPES, pelo incentivo e compreensão. A todos do grupo de Incrustação/CENPES, pelo apoio e auxílio nos testes de avaliação da atividade de inibição. A Rosane Alves Fontes, amiga e química de petróleo da Geoquímica/CENPES, pela ajuda na formatação deste trabalho. À Mônica Teixeira da Silva, amiga e química de petróleo da Gerência de Química/CENPES, por seu auxílio na interpretação dos espectros infravermelho. À Vânia, técnica do IQ/UFF, pelas análises de IV e à Naira Machado da Silva, pelas análises de RMN. Ao Nelson Duarte pela colaboração na realização dos ensaios e à Lívia Maria, por toda a sua dedicação como aluna de iniciação científica, interesse e companheirismo desde o início da realização deste trabalho. A todos os colegas do LabCon/UFF, pelos auxílios e por fazerem do laboratório um lugar de companheirismo e amizade. Resumo O presente trabalho descreve o estudo dos biomateriais, quitosana e ácido algínico, para aplicação como inibidores de incrustação salina. As atividades foram iniciadas com o estudo de diferentes matrizes para solubilização dos produtos, seguida da avaliação de performance dos produtos como inibidores de incrustação que engloba o estudo de compatibilidade química com o meio salino e eficiência de inibição estática. Adicionalmente, análises utilizando métodos físicos, como IV, RMN e titulação condutimétrica foram realizadas para determinar o grau de desacetilação da quitosana, que está diretamente relacionado com suas propriedades físicas, tais como solubilidade. Devido à baixa solubilidade da quitosana avaliou-se também a possibilidade do uso desta na forma de esferas, com e sem a impregnação de inibidores de incrustação. Tanto a quitosana quanto o ácido algínico, em sua estrutura básica, não se mostraram eficientes na atuação como inibidores de incrustação. Entretanto, a utilização desses produtos não é descartada e sugerem-se reações de funcionalização para potencializar suas propriedades de complexação, além de explorar a confecção de esferas de quitosana como uma matriz para sistemas de liberação controlada de inibidores de incrustação. Palavras-chave: incrustação, inibidores tecnologia limpa, quitosana, ácido algínico. de incrustação, meio ambiente, Abstract The present work describes the study on two biomaterials, chitosan and alginic acid, for application as brine scale inhibitor. The activities were started with the study of different matrices for solubilization of the products, following by the evaluation of the products’ performance as scale inhibitor that embody the study of chemical compatibility with the brine medium and efficiency of static inhibition. Additionally, analyses using physical methods, as IV, RMN and condutimetric titration were carried through to determine the degree of desacetilation of the chitosan that is directly related with its physical properties, such as solubility. Due to low solubility of the chitosan, it was also evaluated the possibility of the use of the chitosan in form of spheres with and without the scale inhibitor impregnation. Chitosan as well as alginic acid, in their basic structures, didn’t show up efficient in the performance like scale inhibitor. However, the use of theses products wasn’t rejected and it is suggested functionalization reactions to increase their chelation properties, besides exploring the manufacture of chitosan spheres like matrice for systems of control released of scale inhibitors. Key words: scale, scale inhibitors, environment, clean technology, chitosan and alginic acid. Sumário Lista de Figuras v Lista de Tabelas viii I – INTRODUÇÃO 1 I.1 – A indústria petrolífera e a ocorrência de incrustação 1 I.1.1 – Tipos de incrustação 2 I.1.2 – Principais inibidores de incrustação 4 I.1.3 – Mecanismos de atuação dos inibidores de incrustação 6 I.2 – Desenvolvimento sustentável 10 I.2.1 – Química verde 12 I.2.2 – Petróleo x Química Verde 14 I.2.3 – Classificação de substâncias verdes 15 I.3 – Inibidores verdes de incrustação 19 I.3.1 – Biomateriais em estudo 22 I.3.1.1 – Quitosana 22 I.3.1.2 – Ácido algínico 26 II – OBJETIVOS 28 III – METODOLOGIA 29 III.1 – Quitosana 29 III.2 – Ácido algínico 30 i IV – EXPERIMENTAL 31 IV.1 – Teste de solubilidade 31 IV.1.1 – Quitosana 31 IV.1.2 – Ácido algínico 32 IV.2 – Preparo de solução 32 IV.2.1 – Quitosana 32 IV.2.2 – Ácido algínico 32 IV.3 – Purificação da quitosana 32 IV.4 – Parâmetros físico-químicos das soluções de quitosana 33 IV.5 – Determinação do grau de desacetilação da quitosana 33 IV.5.1 – Espectroscopia na região do infravermelho (IV) 33 IV.5.2 – Ressonância magnética nuclear de hidrogênio (RMN 1H) 34 IV.5.3 – Titulação condutimétrica 34 IV.6 – Teste de compatibilidade química 35 IV.7 – Teste de eficiência estática de inibição 36 IV.8 – Imobilização de quitosana em esferas 38 IV.8.1 – Preparo das esferas de quitosana 38 IV.8.2 – Teste de adsorção de Ca2+ pelas esferas de quitosana 38 IV.8.3 – Encapsulamento do inibidor à base de fosfonato em esferas de quitosana 39 IV.8.4 – Teste de eficiência estática de inibição, usando esferas de quitosana 39 ii V – RESULTADOS E DISCUSSÃO 40 V.1 – QUITOSANA 40 V.1.1 – Teste de solubilidade 40 V.1.2 – Preparo de solução 42 V.1.3 – Purificação da quitosana 46 V.1.4 – Parâmetros físico-químicos das soluções de quitosana 49 V.1.5 – Determinação do grau de desacetilação da quitosana 50 V.1.5.1 – Espectroscopia na região do infravermelho (IV) 50 V.1.5.2 – Ressonância magnética nuclear de hidrogênio (RMN 1H) 53 V.1.5.3 – Titulação condutimétrica 56 V.1.6 – Teste de compatibilidade química 60 V.1.7 – Teste de eficiência estática de inibição 63 V.1.7.1 – AF1 misturada a AM 63 V.1.7.2 – AF2 misturada a AM enriquecida com íons sulfato 66 V.1.8 – Imobilização de quitosana em esferas 68 V.1.8.1 – Preparo das esferas de quitosana 68 V.1.8.2 – Teste de adsorção de Ca2+ pelas esferas de quitosana 69 V.1.8.3 – Encapsulamento do inibidor à base de fosfonato em esferas de quitosana 71 V.1.8.4 – Teste de eficiência estática de inibição, usando esferas de quitosana 72 iii V.2 – ÁCIDO ALGÍNICO 73 V.2.1 – Teste de solubilidade 73 V.2.2 – Preparo de solução 74 V.2.3 – Teste de compatibilidade química 74 V.2.4 – Teste de eficiência estática de inibição 76 VI – CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES 80 VII – REFERÊNCIAS 83 iv Índice de Figuras Figura 1. Exemplo de incrustações no sistema de produção de petróleo: A: Tela de gravel pack, B: coluna de produção e C: linha de chegada na estação de tratamento do óleo. Figura 2. 2 Estruturas dos inibidores de incrustação: (a) pentafosfonato, (b) fosfinopolicarboxilato, (c) polivinilsulfonato, (d) copolímero poliacrílicosulfonatado e (e) poliacrilato. Figura 3. Esquema genérico do mecanismo 5 de deposição de incrustações (adaptado). 6 Figura 4. Unidade de remoção de sulfato. 8 Figura 5. Representação esquemática do processo de separação com membrana. Figura 6. 9 Síntese do poliaspartato: (a) 30% ligações α e (b) 70% ligações β. 20 Figura 7. Síntese da carboximetilinulina. 21 Figura 8. Estrutura da quitina. 22 Figura 9. Estrutura da quitosana. 22 Figura 10. Ciclo da quitina (adaptado). 23 Figura 11. Estrutura do ácido algínico. 26 Figura 12. Organização das estruturas do ácido algínico: (a) unidades MM, (b) unidades GG e (c) unidades GM. 26 Figura 13. Alga marrom da espécie Laminaria. 27 Figura 14. Esquema de ensaios realizados com a quitosana. 29 Figura 15. Esquema de ensaios realizados com o ácido algínico. 30 Figura 16. Razões de mistura água/etanol testadas. 41 Figura 17. Espectro de IV da amostra de quitosana Sigma (QS). 44 Figura 18. Figura 19. Espectro de IV da amostra de quitosana Farmacêutica (QF). 44 Espectro de IV da amostra do material que permaneceu insolúvel durante a solubilização da quitosana Farmacêutica (QF). 45 v Figura 20. Espectro de IV da quitina. 46 Figura 21. Espectro de IV da amostra de quitosana Farmacêutica (QF), após evaporação do solvente. Figura 22. 47 Espectro de IV da amostra de quitosana Sigma (QS), após purificação. Figura 23. Espectro de IV do acetato de sódio. Figura 24. Espectro de IV da amostra de quitosana Farmacêutica (QF), 49 para cálculo do grau de desacetilação. Figura 25. 50 Espectro de IV da amostra de quitosana Sigma (QS), para cálculo do grau de desacetilação. Figura 26. Figura 27. Figura 28. 51 Espectro de RMN 1H da quitosana Sigma (QS) 1%, para determinação do grau de desacetilação. 53 Espectro de RMN 1H da quitosana encontrado na literatura. 54 Espectro de RMN de Sigma (QS) 13 C CPMAS da amostra de quitosana sólida, para determinação do grau de desacetilação. Figura 29. Espectro de RMN de 55 13 C CPMAS de quitosana encontrada na literatura. Figura 30. Figura 32. Curva potenciométrica das soluções de quitosana (QF e QS). 56 57 Precipitado branco gelatinoso formado durante a titulação potenciométrica das soluções de quitosana. Figura 33. 55 Curva condutimétrica da solução de quitosana sigma (QS), para o cálculo do grau de desacetilação. Figura 31. 48 58 Eficiência de inibição de incrustação de sulfato de bário para a mistura entre AM e AF1 (50:50) à 60oC, por 1h e 24h, com 100 ppm de produto. Figura 34. 64 Eficiência de inibição de incrustação de sulfato de estrôncio para a mistura entre AM e AF1 (50:50) à 60oC, por 1h e 24h, com 100 ppm de produto. Figura 35. 64 Eficiência de inibição de incrustação de sulfato de bário para a mistura entre AM e AF1 (50:50) à 60oC, por 1h e 24h, com 100 ppm de matéria ativa. 65 vi Figura 36. Eficiência de inibição de incrustação de sulfato de cálcio para a mistura AM enriquecida e AF2 (50:50) à 70OC, por 1h, 24h e 48h. Figura 37. 66 Eficiência de inibição de incrustação de sulfato de estrôncio para a mistura AM enriquecida e AF2 (50:50) à 70OC, por 1h, 24h e 48h. Figura 38. 67 Eficiência de inibição de incrustação de sulfato de bário para a mistura AM enriquecida e AF2 (50:50) à 70OC, por 1h, 24h e 48h. 67 Figura 39. Aspecto das esferas de quitosana: a) secas; b) reidratadas. 69 Figura 40. Esferas de quitosana, preservadas em meio alcalino. 69 Figura 41. Eficiência de inibição de incrustação de sulfato de bário para a mistura entre AM e AF1 (50:50) à 60oC, por 1h e 24h, com 100 ppm de produto. Figura 42 Eficiência de inibição de incrustação de sulfato de estrôncio para a mistura entre AM e AF1 (50:50) à 60oC, por 1h e 24h, com 100 ppm de produto. Figura 42 77 77 Eficiência de inibição de incrustação de sulfato de bário para a mistura entre AM e AF1 (50:50) à 60oC, por 1h e 24h, com 100 ppm de matéria ativa. 78 vii Índice de Tabelas Tabela 1. Histórico de iniciativas para o despertar a atenção das questões ambientais. 10 Tabela 2. Princípios básicos da filosofia da química verde. 13 Tabela 3. Testes toxicológicos requeridos pela HMCS. 17 Tabela 4. Principais aplicações da quitina e da quitosana. 25 Tabela 5. Principais aplicações do ácido algínico. 27 Tabela 6. Composição química dos fluidos aquosos utilizados. 35 Tabela 7. Produtos testados para avaliação da atividade antiincrustante com suas, respectivas, especificações. Tabela 8. Resultados obtidos no teste de solubilidade para as amostras de quitosana. Tabela 9. Tabela 15. Tabela 16. 59 Resultados obtidos no teste de compatibilidade dos inibidores, em estudo, com o cálcio da água de formação à 60 60ºC. Resultados obtidos no teste de compatibilidade dos inibidores, em estudo, com o cálcio da água de formação à 61 25ºC. Valor do número de mol inicial e final de cálcio para o teste de adsorção pelas esferas de quitosana. Tabela 17. 49 Comparação do grau de desacetilação das amostras de quitosana, nas diferentes técnicas empregadas. Tabela 14. 47 Parâmetros físico-químicos determinados nas soluções de quitosana. Tabela 13. 43 Comparativo do teor de resíduos recuperados durante a purificação da QF em diferentes soluções. Tabela 12. 42 Comparativo do teor de insolúveis de QF para diferentes preparos de soluções. Tabela 11. 40 Teste de solubilidade da QF em mistura de água – álcool (90:10). Tabela 10. 36 70 Teor de fósforo determinado nos fluidos do ensaio de encapsulamento do inibidor à base de fosfonato. 71 viii Tabela 18. Resultados obtidos no teste de solubilidade para as amostras de ácido algínico. Tabela 19. Solubilidade de ácido algínico em diferentes concentrações de NaOH. Tabela 20. 73 74 Resultados obtidos no teste de compatibilidade dos inibidores, em estudo, com o cálcio da água de formação à 60ºC. 75 Tabela 21 Resultados obtidos no teste de compatibilidade dos inibidores, em estudo, com o cálcio da água de formação à 75 25ºC. ix I. INTRODUÇÃO I.1. A INDÚSTRIA PETROLÍFERA E A OCORRÊNCIA DE INCRUSTAÇÃO Um problema comum na indústria de petróleo está relacionado à produção de água associada ao óleo e ao gás natural. A água produzida (AP) pode ser proveniente da rocha reservatório (água da formação – AF), ou até mesmo de acumulações de água, denominadas aqüíferos. Os reservatórios, cujos mecanismos de fluxo de óleo são pouco eficientes e que por conseqüência, retêm grandes quantidades de hidrocarbonetos após a exaustão da sua energia natural, são candidatos ao emprego de processos que visam à obtenção de uma recuperação de óleo adicional. Esses processos são chamados de Métodos de Recuperação que, de uma maneira geral, tentam interferir nas características do reservatório que favorecem a retenção de óleo.(1) Um dos métodos clássicos de recuperação baseia-se na injeção de água nos reservatórios,(2 – 4) tendo como finalidade manter a pressão e maximizar a recuperação de óleo.(5) Esta água injetada mistura-se à AF constituindo-se em outro tipo de água produzida (AP). Na recuperação de reservatórios em sistemas marinhos, a água do mar (AM) é utilizada como água de injeção (AI), podendo ocasionar sérios problemas à produção de petróleo.(6) Estes problemas estão associados à formação de incrustações resultantes da incompatibilidade química entre a AM e a AF, que em condições termodinâmicas específicas favorecem a precipitação de sais de sulfato. Outro tipo de incrustação bastante comum é proveniente da precipitação de sais de carbonato, que estão relacionados a condições inerentes ao meio, tais como, presença de CO2, composição química da AF e da rocha reservatório, variação de pressão e temperatura.(2) 1 Os principais problemas ocasionados por incrustações são obstruções (figura 1) em válvulas e equipamentos, colunas e linhas de produção, telas de contenção de areia (gravel pack), na região próxima aos poços produtores e aos injetores, perda de produtividade e custos com intervenção. A B C Figura 1. Exemplos de incrustações no sistema de produção de petróleo: A – tela de gravel pack, B – coluna de produção e C – linha de chegada na estação de tratamento do óleo. O método mais prático e econômico para prevenir o problema de incrustações consiste na utilização de inibidores químicos de incrustação. Os inibidores de incrustação são substâncias com a função de inibir ou evitar a deposição de material inorgânico ou orgânico e formação da incrustação (7) . Atuam na estabilidade termodinâmica da maturação dos núcleos, causando dissolução de incrustações nucleadas e/ou interferindo no processo de aumento do cristal, resultando no bloqueio dos sítios de crescimento (2). I.1.1. Tipos de incrustação As precipitações comumente observadas nos campos de petróleo são: • Carbonato de cálcio (CaCO3), • Sulfato de cálcio (CaSO4), • Sulfato de estrôncio (SrSO4) e • Sulfato de bário (BaSO4). 2 - Carbonato de cálcio Os reservatórios de petróleo são constituídos de rochas (arenito, calcáreo ou dolomita) que podem ser cimentadas por carbonato de cálcio. O ácido carbônico é formado pela ação das bactérias sobre as fontes de matéria orgânica presentes no reservatório que por sua vez dissolve o carbonato de cálcio das rochas para formar bicarbonato de cálcio solúvel. (8) CaCO3 + H2CO3 Ca2+ + 2 HCO3- Dióxido de carbono está presente nos campos de óleo e gás e encontrase em equilíbrio nas fases aquosa, gasosa e orgânica (óleo). No processo de produção, a diminuição da pressão perturba esse equilíbrio e o dióxido de carbono dissolvido na água é deslocado para as fases do óleo e do gás. (8) Precipitações de carbonato de cálcio podem ocorrer nos campos de petróleo, como conseqüência do aumento da temperatura e/ou queda de pressão. Este efeito é provocado pelo aumento do pH da água causado pela liberação do dióxido de carbono e pode ser representado pela seguinte reação (8) Ca2+ + 2HCO3- CaCO3 + CO2 + H2O Solubilidade: 6,6 mg/L à 20ºC - Sulfatos de bário, de estrôncio e de cálcio Em geral, estas incrustações ocorrem nos campos submetidos à recuperação por injeção de AM. A AM contém alta concentração de sulfato (~2900 mg/L) enquanto a AF contém quantidades significativas de cátions divalentes, tais como cálcio, magnésio, bário e estrôncio. A mistura da AM com a AF varia ao longo do processo de produção do campo e, quando se torna supersaturada em relação a determinado composto, pode ocorrer precipitação e cristalização, com conseqüente formação de incrustação. (8) 3 Ba2+ + SO42- BaSO4 Solubilidade: 3,1 mg/L à 20ºC Sr2+ + SO42- SrSO4 Solubilidade: 135 mg/L à 25ºC Ca2+ + SO42- CaSO4 Solubilidade: 2050 mg/L à 25ºC Dentre esses sais, o sulfato de bário apresenta a menor solubilidade(9) atingindo a supersaturação mais rápido e, consequentemente, forma os primeiros cristais que poderão originar a incrustação. I.1.2. Principais inibidores de incrustação Atualmente, existem vários produtos que são aplicados na inibição de incrustações inorgânicas na indústria do petróleo. Os inibidores pertencem a diversas classes químicas (fosfonato, policarboxilato, poliacrilato, sulfonato, ácidos correspondentes, entre outros) e, normalmente, são compostos hidrófilos e apresentam massa molecular variável.(10) Suas propriedades variam em termos de: • Estabilidade térmica, • Comportamento de adsorção/ desorção e partição nas fases água e óleo, • Variação de pH, • Compatibilidade com cálcio, • Eficiência de inibição da formação de incrustações e, • Biodegradabilidade. 4 Na figura 2 são apresentadas as estruturas moleculares dos inibidores de incrustação mais utilizados na indústria de petróleo. (10) (a) (b) (c) Figura 2. (d) Estrutura dos inibidores (e) de incrustação: (a) ácido dietilenotriaminpenta (metilenofosfônico), (b) ácido fosfinopolicarboxílico, (c) ácido polivinilsulfônico, (d) Copolímero de ácido poliacrílico sulfonatado e (e) ácido poliacrílico. 5 I.1.3. Mecanismos de atuação dos inibidores de incrustação Na figura 3 é apresentado um esquema geral do mecanismo de deposição de incrustação e, os parâmetros de controle mais importantes em cada estágio são destacados (11). SÓLIDOS EM SUSPENSÃO ÁGUA MINERAIS DISSOLVIDOS DISSOLUÇÃO SOLUBILIZAÇÃO SUPERSATURAÇÃO NUCLEAÇÃO PRECIPITAÇÃO CRESCIMENTO DOS CRISTAIS Deposição e endurecimento dos sólidos Parâmetros de controle: -Tempo -Temperatura -Pressão -pH -Fatores ambientais -Tamanho de partícula -Agitação/velocidade Parâmetros de controle: -Velocidade de fluxo -Temperatura -Composição -Arranjo átomos/moléculas -Difusão -Energia de ativação INCRUSTAÇÃO Figura 3. Esquema genérico do mecanismo de deposição de incrustações (adaptado) (11). 6 Cowan e Weintritt (11) ressaltam que a deposição de incrustação requer três fatores simultâneos: • Supersaturação, • Nucleação e, • Tempo de contato. Dependendo do estágio de formação da incrustação o inibidor poderá atuar de modo distinto: evitando a formação de núcleos ou impedindo o crescimento dos cristais. A inibição durante a nucleação envolve uma adsorção endotérmica do inibidor provocando a dissolução dos núcleos embrionários de precipitado. Um mecanismo proposto para esta inibição seria a de que a adsorção do inibidor aumentaria a energia livre do núcleo e, conseqüentemente, resultaria num aumento da barreira energética para o crescimento do cristal. Entretanto, há teoria de que a força primária que rege a adsorção é simplesmente a repulsão hidrófoba da molécula do inibidor pela solução.(10) O mecanismo de inibição durante o crescimento de cristais consiste na adsorção, idealmente, irreversível do inibidor sobre uma superfície ativa do cristal de precipitado. A interação eletrostática, força de ligação e configuração serão aspectos fundamentais neste processo. Os grupos funcionais aniônicos do inibidor são responsáveis pela aproximação inicial à superfície do cristal, e a presença de vários grupos proporciona uma alta densidade de carga negativa, que resulta numa forte interação eletrostática com a superfície. Grupos funcionais adicionais com capacidade de formar complexos com cátions do cristal complementam a ação do inibidor. Caso o cristal já tenha se formado, o inibidor ainda poderá coibir a extensão da incrustação através dos efeitos de distorção e dispersão do cristal.(10) 7 Dentre os fatores que influenciam a eficiência de atuação do inibidor destacam-se pH, compatibilidade com cálcio, presença de agentes quelantes, massa molecular e, principalmente, estabilidade química e térmica.(10) É importante ressaltar que a utilização de inibidores de incrustação é uma atividade de caráter essencialmente preventivo. Sendo assim, faz-se necessário um estudo de avaliação do potencial de precipitação ao longo do processo produtivo do campo, desde o reservatório até as facilidades de superfície. De acordo com o local em que se deseja prevenir a incrustação, diferentes estratégias de aplicação do inibidor serão adotadas. Uma alternativa eficaz na prevenção de incrustações de sulfato é a unidade de remoção de sulfato (URS). A unidade de remoção de sulfato (figura 4) tem como objetivo tratar a água de injeção (água do mar), evitando a formação de incrustações de sulfatos, ocorrentes nos processos que envolvem produção de petróleo. A remoção dos íons sulfato da AM (processo de dessulfatação) de forma seletiva é realizada com o uso de nanomembranas, seguindo um princípio semelhante ao da osmose reversa. Figura 4. Unidade de remoção de sulfato. 8 A remoção do íon sulfato presente na AM é realizada por um processo de separação por membranas, também conhecido como nanofiltração (funciona sob pressão – de 5 a 25 atm). Essas membranas atuam como barreira que separa duas fases, restringindo a passagem total ou parcial dos íons sulfato. No processo são geradas duas correntes, uma denominada “concentrado”, mais rica em sulfato, e outra, chamada “permeado”, mais diluída. A figura 5 apresenta um esquema que representa um sistema de filtração por membranas. Neste caso a separação ocorre por exclusão, ou seja, em função do tamanho das partículas ou solutos presentes no sistema a purificar. Figura 5. Representação esquemática do processo de separação com membrana. Na dessulfatação da AM, para posterior injeção em poços de petróleo, a alimentação será a AM (~ 2900 mg/L de sulfato), o permeado, água a ser injetada para produção de petróleo sem riscos de incrustações, será a água com concentração de sulfato reduzida (100 a 20 mg/L de sulfato) e o concentrado será o descarte. É válido ressaltar que o concentrado obtido é um fluido rico em sulfato, com alto potencial de precipitação (CaSO4), e por este fato é recomendado o uso de inibidores de incrustações nas URS.(12) 9 I.2. DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL Segundo Mainier e Silva, o desenvolvimento dos processos químicos tem gerado, progressivamente, o lançamento anual de uma grande quantidade de formulações químicas no mercado mundial. Atualmente, o passivo tecnológico não está somente ligado à obsolescência técnica das máquinas, mas também a fatores como instrumentação, controle, conhecimento tecnológico, adequações de software e principalmente à tecnologia de produtos químicos utilizados nos diversos segmentos. Já o passivo ambiental corresponde ao investimento que uma empresa deve fazer para corrigir os impactos ambientais gerados e não controlados ao longo dos anos de operação. (13) Historicamente, várias iniciativas com o objetivo de despertar a atenção para as questões ambientais têm sido realizadas, e estas estão descritas na tabela 1. Tabela 1. Histórico de iniciativas para o despertar da atenção às questões ambientais (14). Ano Local Objetivos Alertar o mundo para os malefícios que os 1972 Estocolmo (Conferência) danos ao ecossistema poderiam causar à humanidade. Elaboração da 1992 Rio de Janeiro (ECO-92) comprometimento com Agenda o Verde, Desenvolvimento Sustentável. Tem-se notado um aumento significativo nos custos de tratamento, principalmente, em função da redução dos níveis de contaminação determinados pelas Agências Governamentais e coadjuvado pelas intensas campanhas de esclarecimentos da opinião pública e das auditorias ambientais realizadas pelas organizações não governamentais (ONGs), no sentido de evitar e minimizar as contaminações ambientais. (13) 10 Atualmente, entre as diversas normas internacionais de gestão (ISO), encontra-se a ISO 14000 que se aplica à gestão ambiental. Estas normas contêm requisitos técnicos sobre gestão ambiental que podem ser auditados para fins de certificação, registro e/ou autodeclaração. As atividades produtivas na área de química são normalmente de risco e potenciais causadoras de poluição, visto que trabalha com substâncias muitas vezes tóxicas e/ou inflamáveis e, após um processo químico, normalmente, geram um “lixo tóxico” que precisa ser tratado (resíduo). (15) Para minimizar o desperdício e a emissão de efluentes para o meio ambiente, têm sido adotados nas empresas dois tipos de rotas tecnológicas: • Tratamento dos resíduos no final do processo (end-of-pipe) - engloba a concentração e a disposição controlada de resíduos em áreas específicas, dispersão de efluentes em menor escala e/ ou transformações de resíduos aceitáveis pelas Agências Ambientais (13). • Tecnologia limpa (clean tecnology) – conjunto de métodos e de técnicas que objetiva a minimização dos resíduos e tem como eixo central a preservação do meio ambiente (13). Inserida neste cenário está a Química Verde, também conhecida como Química Limpa, que é um tipo de prevenção de poluição causada por atividades na área de química. 11 I.2.1. Química Verde A química verde (ou green chemistry, ou química sustentável) foi introduzida há cerca de dez anos, nos EUA, pela EPA (Environmental Protection Agency) agência de proteção ambiental deste país, em colaboração com a American Chemical Society (ACS) e o Green Chemistry Institute. (15) A química verde pode ser definida como a utilização de técnicas químicas e metodologias que reduzem ou eliminam o uso de solventes e reagentes ou a geração de produtos e subprodutos tóxicos, que são nocivos à saúde humana ou ao ambiente. Este conceito não é novidade em aplicações industriais, principalmente em países com controle rigoroso na emissão de poluentes.(14 - 16) O que hoje está sendo chamado de química verde, na verdade, não apresenta nada de novo, uma vez que a busca por um desenvolvimento autosustentável há anos está incorporada nos ideais do homem moderno. A química verde pode ser encarada como a associação do desenvolvimento da química à busca da auto-sustentabilidade.(15, 16) Criou-se, ao longo dos anos, um consenso sobre os principais pontos ou princípios básicos da química verde. Os doze pontos que precisam ser considerados quando se pretende implementar a química verde em uma indústria ou instituição de ensino e/ ou pesquisa na área de química são apresentados na tabela 2 com destaque para os itens 7 e 10.(14 - 17) 12 Tabela 2. Princípios básicos da filosofia da química verde. Item Princípios 1 Prevenção 2 Eficiência Atômica 3 Síntese Segura 4 5 6 Desenvolvimento de Produtos Seguros Uso de Solventes e Auxiliares Seguros Busca pela Eficiência de Energia Uso de Fontes de 7 Matéria-Prima Renováveis 8 Evitar a Formação de Derivados 9 Catálise 10 Produtos Degradáveis Análise em Tempo Real 11 para a Prevenção da Poluição Considerações é mais barato evitar a formação de resíduos tóxicos do que tratá-los depois que são produzidos; as metodologias sintéticas devem ser desenvolvidas de modo a incorporar o maior número possível de átomos dos reagentes no produto final; devem-se desenvolver metodologias sintéticas que utilizam e geram substâncias com pouca ou nenhuma toxicidade à saúde humana e ao ambiente; deve-se buscar o desenvolvimento de produtos que após realizarem a função desejada, não causem danos ao ambiente; a utilização de substâncias auxiliares como solventes, agentes de purificação e secantes precisa ser evitada ao máximo; quando inevitável a sua utilização, estas substâncias devem ser inócuas ou facilmente reutilizadas; os impactos ambientais causados pela geração de energia utilizada em um processo químico precisam ser considerados. É necessário o desenvolvimento de processos que ocorram à temperatura e pressão ambientes; o uso de biomassa como matéria-prima deve ser priorizado no desenvolvimento de novas tecnologias e processos; processos que envolvem intermediários com grupos bloqueadores, proteção/ desproteção, ou qualquer modificação temporária da molécula por processos físicos e/ ou químicos devem ser evitados; o uso de catalisadores (tão seletivos quanto possível) deve ser escolhido em substituição aos reagentes estequiométricos; os produtos químicos precisam ser projetados para a biocompatibilidade. Após sua utilização não deve permanecer no ambiente, degradandose em produtos inócuos; o monitoramento e controle em tempo real, dentro do processo, deverão ser viabilizados. A possibilidade de formação de substâncias tóxicas deverá ser detectada antes de sua geração; Química 12 Intrinsecamente Segura para a Prevenção de Acidentes a escolha das substâncias, bem como sua utilização em um processo químico, deve procurar a minimização do risco de acidentes, como vazamentos, incêndios e explosões. 13 Ao se procurar tecnologias que empregam a química verde, deve-se estar atento a três pontos principais: (15) • O uso de rotas sintéticas alternativas para a química verde, tais como: Catálise e biocatálise; Processos neutros, tais como fotoquímica utilizando luz solar e síntese biomimética; Matériasprimas alternativas, que sejam mais inócuas e renováveis (biomassa, por exemplo). • O uso de condições reacionais alternativas para a química verde, tais como: Uso de solventes que tenham impacto reduzido na saúde humana e no ambiente; Aumento da seletividade e redução de resíduos e emissões. • O desenvolvimento de produtos químicos que sejam, por exemplo: Menos tóxicos que as alternativas atuais; Mais seguros com relação à ocorrência de um possível acidente. I.2.2. Petróleo x Química Verde Existe uma forte vertente para o desenvolvimento de novos produtos químicos, que é a Agenda Verde, onde há o compromisso com a minimização de descarte, uso de compostos biodegradáveis ou de baixo impacto ao Meio Ambiente. E a indústria do petróleo tem que estar preparada para o aumento da restrição legislativa quanto ao uso e disposição das substâncias usadas em campos de petróleo.(18) A indústria do petróleo é definida, segundo a legislação brasileira, como o conjunto de atividades econômicas relacionadas com a exploração, desenvolvimento, produção, refino, processamento, transporte, importação e exportação de petróleo, gás natural e outros hidrocarbonetos fluidos e seus derivados.(18) 14 A Lei nº. 9.478, de 6 de agosto de 1997, dispõe sobre a política energética nacional e as atividades relativas ao monopólio do petróleo, além de instituir o Conselho Nacional de Política Energética (COPENE) e a Agência Nacional de Petróleo (ANP).(18) Esta lei define que as políticas nacionais para o aproveitamento racional das fontes de energia visarão, entre outros objetivos, proteger o meio ambiente e promover a conservação de energia; e que a ANP terá como finalidade promover a regulação, a contratação e a fiscalização das atividades econômicas integrantes da indústria do petróleo, cabendo-lhe fazer cumprir as boas práticas de conservação e uso racional do petróleo, dos derivados e do gás natural e de preservação do meio ambiente.(18) Os problemas ambientais mais citados nos setores e ramos ligados ao petróleo são decorrentes das atividades de refino e petroquímica. Os produtores de nafta, gasolina, diesel, óleos combustíveis e gás (GLP), bem como as refinarias produtoras de matérias-primas básicas como eteno, propeno, butadieno e xileno, após severas críticas dos ambientalistas e de ações dos órgãos de fiscalização, tem destinado recursos para o controle de emissões de efluentes líquidos e atmosféricos.(18) I.2.3. Classificação das Substâncias Verdes Como classificar as substâncias verdes é uma discussão que tem recebido atenção dos cientistas internacionais e numerosos testes existem para unificar a descrição das substâncias verdes. A OECD (19) (Organisation for Economic Co-operation and Development) tem definido um número de testes os quais são tratados em: (a) Seção 1: Propriedades físicas e químicas; (b) Seção 2: Efeitos em sistemas bióticos; (c) Seção 3: Biodegradabilidade e acumulação; (d) Seção 4: Efeitos à saúde. 15 O propósito da OSPAR Harmonised Offshore Chemical Notification Format (Recomendação 2000/5) é fornecer às autoridades dados e informações sobre substâncias a serem usadas e descartadas no mar, habilitando-os a propor ações regulatórias apropriadas de acordo com o escopo da Decisão OSPAR aplicável ao Harmonised Mandatory Control System, para o uso e redução de substâncias no ambiente marinho (Decisão 2000/2).(20, 21) A Decisão 2000/2 requer substâncias para aplicação offshore classificadas pelos seus, respectivos, quociente de risco (QR), onde o QR é a razão entre a concentração ambiental predita (PEC) e a concentração predita sem efeito (PNCE). As autoridades são também compelidas a usar o CHARM (Chemical Hazard Assessment and Risk Management) – módulo de avaliação de risco – como uma ferramenta primária para a classificação das substâncias. (20) O que é classificado como “verde” difere dependendo do local e há grandes diferenças entre algumas das maiores nações produtoras de óleo, as quais refletem diretamente as diferenças em suas legislações. Como por exemplo, na região do Atlântico Nordeste (que inclui Reino Unido, Noruega, Dinamarca e Países Baixos), os aspectos utilizados para classificação são: 1. Toxicidade – os testes estão especificados nas normas de procedimento que acompanham a Recomendação 2000/5. As espécies marinhas selecionadas não somente representam as diferentes posições físicas dentro do ambiente marinho, isto é, superfície da água, coluna d’água e fundo do mar, mas também o encadeamento na cadeia alimentar (peixe se alimenta de crustáceos que se alimentam de algas).(21) Os testes de toxicidade usuais são apresentados na tabela 3. 16 Tabela 3. Testes toxicológicos requeridos pela HMCS. Espécie Marinha Protocolo Teste EC50 – 72 h: Skeletonema costatum Alga ISO/DIS 10253. Crustáceo LC50 – 48 h: Acartia tonsa ISO TC 147/SC5/WG2 LC50 – 96 h: Schophthalamus maximus, juvenile Peixe OECD 203 modificado para espécies marinhas EC50: Efeito de concentração para 50% dos organismos. LC50: Concentração letal para 50% dos organismos. 2. Biodegradação – degradação de substâncias orgânicas influencia a exposição do meio ambiente e, por isso, é um parâmetro para avaliar o risco em longo prazo dos efeitos adversos à biota. Taxa de degradação ou meia-vida pode, preferencialmente, ser determinada em simulação de testes de biodegradação conduzidos sob as condições ambientais reais.(22) Para avaliar a biodegradabillidade da substância teste é executado o método OECD 306 (Biodegradabilidade em água do mar): método Closed Bottle, uma variação do teste Closed Bottle (OECD 301 D). A substância teste é adicionada à água do mar enriquecida com nutriente dentro de um recipiente fechado, mas nenhum microorganismo é adicionado em adição aos já pré-existentes na água do mar. O consumo de oxigênio (DBO) é medido por um período de 28 dias, e o resultado é calculado como uma percentagem de degradação relativa à demanda de oxigênio teórico. Embora o teste seja destinado basicamente para substâncias solúveis em água, este pode, em princípio, também ser aplicado para substâncias pouco solúveis em água.(23) 17 Alternativamente, um teste que é especificamente feito para substâncias pouco solúveis em água é o Marine BODIS-test (DBO – Teste para substâncias insolúveis). O princípio deste método é conhecido como “Two Phase Closed Bottle Test”, no qual o recipiente fechado é preenchido parcialmente com a mistura aquosa. O teor de oxigênio na fase gasosa (ar) aumenta muito a capacidade de oxigenar do teste, desta maneira uma quantidade muito maior da substância teste pode ser pesada dentro do recipiente com maior precisão. O consumo de oxigênio (DBO) na fase aquosa é medido por um período de 28 dias, para o cálculo do percentual de degradação. O teste é adaptado das condições de água do mar de acordo com o método OECD 306.(23) 3. Bioacumulação – é o nome genérico do processo de captação e retenção de uma substância (contaminante) por um organismo a partir de qualquer fonte (água, sedimento, outro organismo), via qualquer rota (dieta, pele), e se constitui um efeito nocivo quando induz resposta biológica adversa. O termo bioacumulação tem sido aplicado quando organismos vivos estão envolvidos, e biosorção é o termo mais adotado para o uso de organismos mortos.(24) Para avaliar o potencial de bioacumulação da substância teste é executado o método Coeficiente de Partição (OECD 117). O coeficiente de partição (P) é definido como a razão das concentrações de equilíbrio de uma substância dissolvida em um sistema duas fases contendo dois solventes bastante imiscíveis. No caso o n-octano e a água,(25) Poa = [n-octano] [água] O coeficiente de partição, sendo o quociente de duas concentrações, é adimensional e é usualmente expresso na forma de seu logaritmo na base dez.(25) 18 Valores de Poa na faixa de log Poa entre 2 e 4 podem ser experimentalmente determinado pelo método Shake-Flask (OECD 107). Valores de Poa na faixa de log Poa entre 2 e 4 podem ser estimados usando cromatografia de alta performance (HPLC). O método HPLC requer avaliações preliminares de Poa, geralmente feito através de cálculos. (25) I.3. INIBIDORES VERDES DE INCRUSTAÇÃO A maioria dos produtos para a prevenção de incrustação de carbonatos e sulfatos em sistemas com fluxo de água é baseada nos ácidos fosfônicos e policarboxilatos (tais como os acrilatos - PAC). Eles são usualmente distinguidos pela excelente eficiência em conjunção com a baixa toxicidade humana e aquática. Adicionalmente, seus comportamentos ecológicos em longo prazo são bem documentados devido a consideráveis esforços em pesquisas. (26) Avaliações de risco têm mostrado que essas substâncias não representam um risco para o meio ambiente. Entretanto, a baixa biodegradabilidade e o teor de fósforo destes compostos tem tornado-se, de modo crescente, uma razão para preocupação. O livre descarte de grandes quantidades de ácidos fosfônicos de baixa biodegradabilidade ou policarboxilatos nas correntes de água representa um considerável fardo ao meio ambiente. (27) Novos sistemas de inibidores de incrustação têm sido desenvolvidos para atender às demandas ambientais. Duas famílias diferentes de inibidores de incrustação verdes, chamadas poliaminoácidos e polissacarídeos carboxilados têm sido comparadas aos inibidores convencionais (fosfonatos ou poliacrilatos) quanto as suas capacidades de reduzir a formação de incrustação de carbonato e sulfato. (27) 19 Recentemente, poliaminoácidos (em particular, poliaspartatos, por exemplo, o ácido poliaspártico – TPA) tem sido identificado como um inibidor de incrustação. (27-32) Ensaios com o TPA indicam que este é tão bom quanto e, em muitos casos, ultrapassa o desempenho do ácido poliacrilico (PAC) como inibidor de incrustação. Não somente o seu processo de manufatura é verde, por causa de sua ocorrência natural e ser fonte renovável (ácido aspártico), mas sua manufatura é limpa, eficiente num processo de duas etapas que não usa solventes orgânicos. (33) Poliaspartatos são polipeptídios derivados, via polimerização térmica, do ácido aspártico, que é um dos vinte aminoácidos mais comuns encontrados em proteínas. A polimerização térmica não catalisada do ácido aspártico é um excelente exemplo de processo de manufatura de um produto verde, pois o único subproduto da reação é água (figura 6). (27-31) O H 2N O OH O H OH H N H O α Calor O β O H + 2 H 2O H N O n 3-metil-2,5-pirrolidona NaOH O Ácido aspártico O α α NH O O- (a) H N β H O H O O- m n Poliaspartato (b) Figura 6. Síntese do poliaspartato: (a) 30% ligações α e (b) 70% ligações β. 20 Uma nova classe química de substância biodegradável que tem sido estudada é a carboxi-metil-inulina (CMI). Carboxi-metil-inulinas são derivados da Inulina, um β (2-1) polifrutosídeo natural com uma unidade de glicose reduzida na terminação. É extraída da raiz da chicória e é usada, principalmente, em aplicações alimentícias. Grupos carboxilados são ntroduzidos no polissacarídeo pela carboximetilação com monocloroacetato de sódio em meio alcalino (figura 7). O produto baseado na carboxi-metil-inulina é inerentemente biodegradável com mais de 20% de biodegradação de acordo com o método de teste OECD 306 e tem muito baixa ecotoxicidade. (31, 34) HO O H HO O H HO H OH H H OH OH O H OH OH Inulina H OH ClCH2CO2Na H2O/ NaOH OH H HO O H H O OH OH HO H OH HO H OH H H OH H OH O H HO OH OH H O HO OCH2CO2 Na O NaCO2CH2O H OH Carboximetilinulina Figura 7. Síntese da carboximetilinulina. 21 I.3.1. Biomateriais em Estudo I.3.1.1. Quitosana A quitina, denominação usual para o polímero β-(1-4)2-acetamido-2deoxi-D-glicose (N-acetil-D-glicosamina), figura 8, que é o precursor direto da quitosana (figura 9), foi descoberta em cogumelos pelo professor francês Henri Braconnot, em 1811, recebendo então a denominação inicial de fungina. O nome quitina foi dado por Odier, em 1823, quando esta foi isolada de insetos. Somente em 1843, Payen descobriu que a quitina continha nitrogênio em sua estrutura (35). H H CH 2 OH O H H R HO O HO O NH H NH H H CH 2 OH O H H H CH 2 OH O H H HO H O O H O H 3C H 3C R NH H H 3C n Figura 8. Estrutura da quitina. H H HOH2C R H HO H H HOH2C O H O NH2 H H HO H O O H NH2 H HOH2C H HO O R H H NH2 H n Figura 9. Estrutura da quitosana. A quitina é encontrada em maior abundância na natureza do que a quitosana e tem como principais fontes naturais as carapaças de crustáceos (notadamente o caranguejo, o camarão e a lagosta), sendo também encontrada em insetos, moluscos, e na parede celular de fungos. A quitina constitui 1,4% do peso de insetos, e 15-20% do peso de carapaças de crustáceos. (35) 22 A quitina e a quitosana são biologicamente sintetizadas em um total de aproximadamente 1 bilhão de toneladas anualmente, sendo biodegradadas sem acúmulo excessivo na natureza, através do “ciclo da quitina” (figura 10). As enzimas hidrolíticas envolvidas nesse processo [lisoenzima, quitinase, quitina desacetilase e quitosanase] estão largamente distribuídas nos tecidos e fluidos corporais dos animais e plantas, e também no solo. (35) QUITINA Quitina deacetilase Quitinase QUITOSANA Quitosanase Lisozima QUITINA - Oligossacarídeos QUITOSANA - Oligossacarídeos N-acetil-β-D-glicosaminidase N-acetil-D-glicosamina D-glicosamina Figura 10. Ciclo da quitina (adaptado) (35). A quitosana foi descoberta em 1859, pelo professor C. Rouget, quando este pesquisador colocou em ebulição uma solução de hidróxido de potássio com quitina. A desacetilação microbiológica, utilizando enzimas específicas ou microrganismos, representa uma opção de produção industrial de quitosana. (35) Durante o curso da desacetilação alcalina, parte das ligações N-acetil do polímero são rompidas com formação de unidades de D-glicosamina que contém um grupo amínico livre. Entretanto, a quitosana não é uma espécie química uniforme, mas um grupo de polímeros parcialmente desacetilados, dos quais os que apresentam grau de desacetilação acima de 30% já podem ser considerados como quitosana, sendo que as aplicações e características do 23 polímero dependem do grau de desacetilação e do tamanho da cadeia do polímero. Industrialmente, é importante um rígido controle das condições reacionais para que se obtenha um polímero de cadeia longa e com grau de desacetilação na faixa desejada. (35) Quimicamente, a quitosana é um polímero de alto peso molecular, normalmente comercializada entre 100.000 a 1.200.000 Daltons, sendo uma poliamina na qual os grupos amino estão disponíveis para reações químicas (preparação de derivados) e formação de sais com ácidos. Os grupos hidroxila C-6 (primário) e C-3 (secundário) também podem ser utilizados na preparação de derivados. (35) A qualidade e as propriedades da quitosana – de pureza, viscosidade, grau de desacetilação, de peso molecular, e estrutura do polímero – variam, dependendo dos fatores empregados na manufatura, que influenciam de forma decisiva as características do produto final. (35) A quitosana é insolúvel em água, ácidos concentrados, álcalis, álcool e acetona, sendo completamente solúvel em soluções de ácidos orgânicos, quando o pH da solução é menor do que 6. Alguns ácidos inorgânicos diluídos, tais como ácido nítrico, perclórico ou fosfórico, podem ser utilizados para a preparação de soluções de quitosana somente após prolongada agitação e aquecimento. (35, 36) Uma importante propriedade da quitosana é a sua capacidade de formar complexos com vários íons metálicos, sendo, desse modo, útil na quelação do ferro, cobre e magnésio, possibilitando sua utilização para remover íons de metais pesados tóxicos, tais como prata, cádmio, mercúrio, chumbo, níquel e cromo, que se encontrem em níveis acima daqueles que podem ser tolerados. (35, 37) A quitosana é um excepcional agente coagulante ou floculante em razão da alta densidade dos grupos amino, que interagem com substratos carregados 24 negativamente, como as proteínas, corantes e polímeros. Essa importante propriedade pode ser aplicada nas áreas farmacêuticas, de saúde, de purificação de água e alimentícia. (35) Uma ampla revisão (38) das inúmeras possibilidades de aplicações da quitina e da quitosana foi apresentada recentemente, onde a versatilidade física que pode ser obtida desses polímeros foi destacada, como por exemplo, a obtenção de fibras, filmes, géis, microesferas e membranas. Um resumo das aplicações da quitosana na área industrial, nutricional e de saúde está contido na tabela 4 (35, 36, 38). Tabela 4. Principais aplicações da quitina e da quitosana. Industrial Saúde/Nutricional • Purificação de água residual de indústrias; • Estabilizantes de gorduras em preparações de alimentos; • Estabilizante de aromas; • Meio de troca iônica; • Aditivos de cosméticos e xampus; • Absorvente na remoção de metais pesados; • Proteção bactericida de sementes; • Estabilizante de frutas e verduras perecíveis; • Agente imobilizante de microrganismos • Agente absorvedor de gordura; • Redução de colesterol LDL; • Regeneração de ferimentos; • Antiácido; • Auxiliar no controle da pressão arterial; • Regenerador da estrutura óssea; • Redução do nível de ácido úrico; • Promoção da perda de peso; • Auxilia o colesterol HDL; • Bactericida/ antiviral; • Inibe a formação de placas dentárias; • Aumenta a absorção de cálcio; • Membranas artificiais 25 I.3.1.2. Ácido Algínico O Ácido Algínico é um polissacarídeo do tipo poliuronídeo composto por diferentes proporções de unidades do ácido β-D-manurônico (M) e do ácido αD-gulurônico (G) ligados por ligações β-1-4 e α -1-4, como mostra a figura 11. (39) CH3 H3C HO COOH O CH3 CH3 O COOH H3C OH CH3 O H3C O H3C OH H3C H3C H3C OH O CH3 H3C O OH CH3 H3C HO CH3 CH3 HO O CH3 O OH CH3 O H3C OH O H3C CH3 COOH H3C COOH H3C COOH OH CH3 H3C Figura 11. Estrutura do ácido algínico. Estas unidades podem estar organizadas de variadas formas, seja com consecutivas unidades GG, consecutivas unidades MM, alternadas unidades GM, MG, como mostra a figura 12. A organização destas unidades confere características específicas como, por exemplo, ligações alternadas GM aumentam a solubilidade em menores pH’s. (39) HOOC OH O HO OH COOH H O O HO O O O OH (a) HOOC HO O HO O OH O OH HO O (b) OH COOH OH O O H OH OH COOH (c) Figura 12. Organização das estruturas de ácido algínico: (a) unidades MM, (b) unidades GG e (c) unidades GM. 26 É encontrado em geral nas algas marrons (figura 13), comumente obtido das espécies de algas Macrocystir pyrifera, Laminaria e Eklonia. Nestas espécies de algas a quantidade de ácido varia de 14 a 40% do peso sólido destas algas. O Alginato funciona como material de base de troca para as algas. (39) Figura 13. Alga marrom da espécie Laminaria. O ácido algínico é um biopolímero que possui muitos grupos hidroxilas capazes de formar complexos com íons metálicos. Foi observado que o ácido algínico tem alto poder de adsorção de íons metálicos quando comparado com a carboxi-metil-celulose. (36) Os alginatos apresentam afinidade por íons divalentes, e esta cresce com o aumento de resíduos L-gulurônicos (G) na cadeia polissacarídica. A afinidade de alginatos com metais alcalinos terrosos segue a ordem: Ba2+ > Sr2+ > Ca2+ >> Mg2+. (39) Um resumo das aplicações do ácido algínico encontra-se na tabela 5 (39). Tabela 5. Principais aplicações do ácido algínico. Indústria Aplicação • Imobilização celular, encapsulação de medicamentos devido Farmacêutica à sua biocompatibilidade e como antiácido Redução de colesterol LDL; • Modelador no caso de próteses dentárias. Alimentícia Química • Emulsificante para sopas e geléias. • Remoção de metais pesados. 27 II. OBJETIVOS Este trabalho tem como principal objetivo estudar a aplicação da quitosana e do ácido algínico como inibidor da formação ou do crescimento de cristais de incrustação inorgânica. Pretende-se também: • Estudar diferentes matrizes para solubilização dos produtos; • Avaliar a compatibilidade com fluidos comuns à atividade de produção de petróleo; • Realizar testes de eficiência de inibição de incrustação com o produto. 28 III. METODOLOGIA III.1. QUITOSANA Para avaliar a quitosana quanto a sua potencial atividade antiincrustante seguiu-se a metodologia proposta na figura 14. Quitosana Teste de Solubilidade Preparo da Solução Parâmetros FisicoQuímicos Purificação Grau de Desacetilação Imobilização em Esfera Teste de Compatibilidade Viscosidade Infravermelho (IV) Densidade Ressonância Magnética Nuclear (RMN) Teste Eficiência Inibição Teste de Adsorção de Ca2+ Encapsulamento de inibidor Teste Eficiência Inibição Titulação Potenciométrica Figura 14. Esquema de ensaios realizados com a quitosana. 29 III.2. ÁCIDO ALGÍNICO Para avaliar o ácido algínico quanto a sua potencial atividade antiincrustante seguiu-se a metodologia proposta na figura 15. Ácido Algínico Teste de Solubilidade Preparo da Solução Teste de Compatibilidade Teste de Eficiência de Inibição Figura 15. Esquema de ensaios realizados com o ácido algínico. 30 IV. EXPERIMENTAL REAGENTES Os reagentes e solventes utilizados foram de grau analítico (PA). Amostra de quitosana obtida da marca Sigma® (QS), segundo especificação do fabricante foi extraída da carapaça do caranguejo e possui grau de desacetilação (GD) de 85%. A amostra de quitosana obtida em farmácia de manipulação (QF) passou por purificação prévia. Com relação à amostra QF nenhuma especificação foi informada. O ácido algínico (AA) foi obtido da empresa ACROS Organics ®. IV.1. TESTE DE SOLUBILIDADE Colocar a amostra sólida (aproximadamente 0,01 g) em tubo de ensaio. Adicionar 1 mL do solvente e agitar o tubo durante alguns minutos, acompanhando o comportamento da mistura (teste em branco). As medidas de solubilidade deverão ser feitas à temperatura ambiente e sob agitação vigorosa. Se uma pequena quantidade da amostra não se dissolve em um solvente é considerada insolúvel naquele solvente. IV.1.1. Quitosana Para ambas as amostras de quitosana, QF e QS, a solubilidade foi testada nos seguintes solventes e soluções: • Água • Solução aquosa de hidróxido de sódio 10% • Éter etílico • Etanol • Cicloexanol • Água/Etanol (diferentes razões) em pH 4,0 • Iso-propanol • Ácido 1% • n-Butanol • Cicloexano • Ácido acético PA • Acetato de Eetila • Benzeno • Ácido acético 1% • Acetona • Clorofórmio clorídrico 31 IV.1.2. Ácido Algínico A amostra de ácido algínico (AA) teve sua solubilidade testada com os seguintes solventes: • Água • Etanol • Hidróxido de sódio IV.2. PREPARO DE SOLUÇÃO IV.2.1. Quitosana Seguindo a metodologia de Signini, et. Al., (40) a quitosana (3,0 g) foi dispersa em 300 mL de ácido acético diluído (1%), e a suspensão foi mantida sob agitação constante durante aproximadamente 24 h à temperatura ambiente. A solução resultante foi filtrada sob pressão atmosférica. IV.2.2. Ácido Algínico O ácido algínico (1,0 g) foi disperso em 100 mL de hidróxido de sódio diluído. Foram preparadas duas soluções com NaOH (6% e 2%). IV.3. PURIFICAÇÃO DA QUITOSANA. Segundo a literatura, (40) à solução preparada no item IV.2.1 foi adicionado, aos poucos, hidróxido de amônio concentrado até a ocorrência de precipitação. Em seguida o precipitado foi filtrado e lavado com água até a neutralidade, em seguida com etanol e seco à temperatura ambiente. 32 IV.4. PARÂMETROS FÍSICO-QUÍMICOS DAS SOLUÇÕES DE QUITOSANA A viscosidade e densidade das soluções de quitosana foram avaliadas na temperatura de 21ºC, utilizando os equipamentos Brook Field Model DV-III e DMA 500 Density meter, respectivamente. IV.5. DETERMINAÇÃO DO GRAU DE DESACETILAÇÃO DA QUITOSANA IV.5.1. Espectroscopia na região do Infravermelho (IV) Quitosana sólida foi analisada por espectroscopia no infravermelho médio com transformada de Fourier (FTIV) em um espectrofotômetro Thermo NICOLET AVATAR 360 com um acessório de refletância total atenuada (ATR) utilizando cristal de germânio de uma reflexão. O grau de N-acetil das amostras de quitosana pode ser determinado pelo método que envolve o uso da absorção de amida, a 1600 cm-1, e da absorção de hidroxila a 3400 cm-1 (42). O grau de desacetilação é calculado pela equação (1). A porcentagem dos grupos amino-acetilados (% N-acetil) foi determinada pela equação (2). %GD= 100 - %N-acetil (1) % N-acetil = (A1600 / A3450).100/1,33 (2) onde: A1600 = Absorbância a 1600 cm-1 A3400 = Absorbância a 3400 cm-1 1,33 = razão A1600/A3400 para quitina completamente N-acetilada. 33 IV.5.2. Ressonância Magnética Nuclear A quantificação dos grupamentos acetila foi realizada, através de RMN 1 H, em espectrômetro Varian INOVA-300 (7,1 T de campo magnético), a partir da solubilização de 10 mg de quitosana em 1,0 cm3 de D2O contendo pequena quantidade de HCl. O grau de N-acetil foi determinado pela relação entre as áreas abaixo dos sinais que correspondem aos hidrogênios dos resíduos de glicosamina (4,5 ppm) e do CH3 (1,95 ppm) do grupo amida (42). A análise por RMN de 13 C no estado sólido foi realizada no equipamento Varian Infinity Plus - 400 (14.5 T de campo magnético). As áreas dos sinais dos resíduos de glicosamina (110 ppm) e do carbono da metila (25 ppm) do grupo amida foram correlacionadas. IV.5.3. Titulação Condutimétrica Preparou-se uma solução contendo 200 mg de quitosana em 450 mL de solução de NaCl 0,001 M e 5,0 mL de HCl 1,0 M. A solução foi titulada com NaOH 0,1 M (41, 43, 44) . As variações de condutância durante a titulação foram medidas por um condutivímetro SevenMulti Mettler Toledo, equipado com célula condutimétrica Mettler Toledo Inlab 730 (NTC 0,01 a 1000 mS/cm). A calibração do aparelho foi realizada à temperatura ambiente, utilizando os padrões de 12,88 mS/cm e 14,13 mS/cm. Adicionalmente, a variação de pH foi monitorada através do 744 pHmeter Metrohm utilizando o eletrodo combinado de platina. O grau de desacetilação foi obtido pela equação (3). %GD =161 .[base].(V2-V1) x 100 (3) m onde: V1= volume de titulante para a neutralização de HCl em excesso (mL); V2 – V1= volume de titulante para a neutralização dos grupos ácidos de quitosana (mL); [base]= concentração do titulante (M); 161 = massa molar da unidade D-glicosamina (mg/mol); m= massa da amostra de quitosana (mg). 34 IV.6. TESTE DE COMPATIBILIDADE QUÍMICA O ensaio de compatibilidade consiste em verificar visualmente mudanças físicas (mais precisamente turvação ou formação de precipitado) na solução resultante da mistura entre inibidor de incrustação (em diferentes concentrações) e água da formação. A compatibilidade foi avaliada variando-se as concentrações de inibidor em 100, 200, 500, 1000, 2000, 5000 e 10000 mg/L. Os ensaios foram conduzidos na temperatura ambiente e a 60°C. Nas tabelas 6 e 7 constam, respectivamente, a composição química da água de formação utilizada no ensaio de compatibilidade e os produtos testados para a atividade antiincrustante. Tabela 6. Composição química dos fluidos aquosos utilizados. Constituintes (mg/L) AF1 AM AF2 AM enriquecida SO42- Na+ 53000 11500 65000 11500 + 460 226 41 226 2+ 5700 504 800 1390 Ca 2+ 710 1390 7100 504 Ba 2+ 210 - 44 - Sr 500 - 580 - Cl- K Mg 2+ 96100 21300 116982 21300 SO42- - 2834 - 9000 HCO3- - 150 - 150 5,6 8,0 6,4 8,0 158584 35150 193029 35150 pH Salin. (NaCl) Os ensaios foram conduzidos com fluidos aquosos sintéticos, preparados em laboratório com base na composição química determinada nas amostras recuperadas dos poços de exploratórios de petróleo. 35 Tabela 7. Produtos testados para avaliação da atividade antiincrustante com suas, respectivas, especificações. Inibidor Classe química % Matéria Ativa Produto A * Pentafosfonato 47 Produto B ** Carboximetilinulina 15 Quitosana Farmacêutica (QF) D-glicosamina 1 Quitosana Sigma (QS) D-glicosamina 1 Quitosana Sigma purificada (QS purif.) D-glicosamina 1 Ácido Algínico/ NaOH 2% Ácidos β-D-manurônico e αD-gulurônico 1 Ácido Algínico/ NaOH 6% Ácidos β-D-manurônico e αD-gulurônico 1 Glicerina/Quitosana Sigma Propanotriol/ D-glicosamina Glicerina Propanotriol * Inibidor de referência 30/ 0,3 50 ** Inibidor verde de referência IV.7. TESTE DE EFICIÊNCIA ESTÁTICA DE INIBIÇÃO A avaliação da eficiência dos inibidores foi realizada através do método de precipitação estática. (45) Nesta metodologia, as águas sintéticas, representativas da água de injeção e água da formação, aquecidas previamente, são misturadas e submetidas à temperatura do processo por um tempo pré-determinado. Ensaios similares são conduzidos na presença e ausência dos inibidores de incrustação. A determinação dos cátions bário, cálcio, estrôncio remanescentes em solução permite o cálculo da porcentagem de eficiência do inibidor. Para o cálculo da eficiência do inibidor são consideradas as concentrações de bário, cálcio, estrôncio determinadas na amostra representativa da água da formação, no ensaio em branco (EB) e no ensaio contendo o inibidor (EA). 36 As concentrações dos cátions precipitantes (cálcio, bário e estrôncio) foram determinadas pelo espectrômetro Perkin Elmer Optima 4300DV de emissão ótica com plasma indutivamente acoplado (ICPOES) (46) , nas águas preparadas (AF e AM) e nas soluções resultantes dos ensaios EB e EA. O EB realizado na ausência de inibidor de incrustação permite verificar o potencial de precipitação do sistema. A equação que descreve a percentagem de eficiência do inibidor é dada por: % E (th) = (Ca – Cb) .100 / (Co – Cb) onde: th = tempo de ensaio, h; Ca = concentração (mg/L) do cátion analito em solução após ensaio; Cb = concentração (mg/L) do cátion analito em solução após ensaio em branco; Co = concentração (mg/L) do cátion analito resultante da média das soluções Água da formação (AF) e Água do mar (AM). Teoricamente, o valor de Co pode ser calculado pela seguinte equação: Co = (CCAM . % AM + CCAF . % AF) / 100 onde: CCAM = concentração (mg/L) do cátion analito na AM; CCAF = concentração (mg/L) do cátion analito na AF; % AM = percentagem de Água do mar na mistura do ensaio; % AF = percentagem de Água da formação na mistura do ensaio. Os produtos em estudo foram testados quanto a sua eficiência de inibição de incrustação quando adicionados à mistura de AF e AM na razão de 1:1. Dois cenários de teste foram propostos: 1º) AF1 misturada a AM; 2º) AF2 misturada a AM enriquecida com íons sulfato. A composição química dos fluidos utilizados nos ensaios de eficiência estática de inibição e os produtos testados se encontram nas tabelas 6 e 7, respectivamente. 37 IV.8. IMOBILIZAÇÃO DE QUITOSANA EM ESFERAS IV.8. 1 Preparo das esferas de quitosana Com base na literatura, (43, 47) dissolveu-se 2g de quitosana em 100 ml de ácido acético 5% (m/v). A solução polimérica de quitosana foi gotejada sobre uma solução de NaOH 2 M, com agitação constante. As esferas formadas foram deixadas durante 30 minutos sob agitação para completar a precipitação, posteriormente lavadas até meio neutro. As esferas de quitosana foram secas à temperatura ambiente. IV.8. 2. Teste de Adsorção de Ca2+ pelas esferas de quitosana Dois procedimentos foram adotados para o teste de adsorção de cálcio pelas esferas de quitosana: 1º) As esferas de quitosana foram retidas em um funil de vidro e verteuse sobre elas uma solução de cloreto de cálcio 1%. Ao sobrenadante foi adicionada uma solução de carbonato de sódio. 2º) As esferas de quitosana e a solução de cloreto de cálcio foram misturas em um becher, após agitação por 2 minutos, as esferas foram filtradas e ao sobrenadante foi adicionada uma solução de carbonato de sódio 1%. Pela conversão da massa precipitada de carbonato de cálcio, em ambos os procedimentos, calculou-se a quantidade de cálcio retido nas esferas. Cabe ressaltar que as esferas são armazenadas em meio alcalino (NaOH 2 M), logo devem ser lavadas com água até pH neutro antes de sua utilização, para que não haja formação de hidróxido de cálcio, evitando assim um resultado errôneo. 38 IV.8.3. Encapsulamento do Inibidor à base de fosfonato em esferas de Quitosana Dissolveu-se 2g de QS em 100 ml de ácido acético 2,5% (m/v), adicionou-se 1,25 mL do inibidor de incrustação à base de fosfonato. A solução resultante foi gotejada em solução de NaOH 2 M para a formação das esferas. IV.8.4. Teste de eficiência estática de inibição, usando esferas de quitosana O procedimento é descrito no item IV.7, entretanto os ensaios são conduzidos na presença das esferas de quitosana, com e sem o inibidor encapsulado, utilizando AF1 misturada a AM na razão de 1:1. 39 V. RESULTADOS E DISCUSSÃO As amostras testadas (quitosana e ácido algínico) por apresentarem comportamento distinto, foram tratadas independentemente. V.1. QUITOSANA Relembrando a estrutura da quitosana (figura 9), um polissacarídeo com unidades D-glicosamina. H H HOH2C R H HO H H HOH2C O H O NH2 H HO H H O O H NH2 HOH2C H HO H O R H NH2 H H n Figura 9. Estrutura da quitosana. V.1.1. Teste de Solubilidade Os resultados obtidos nos testes de solubilidade para as amostras de quitosana farmacêutica (QF) e quitosana Sigma (QS) são apresentados na tabela 8, onde se constata a dificuldade de solubilização destas. Tabela 8. Resultados obtidos no teste de solubilidade para as amostras de quitosana. Solvente H2O Etanol Ac. Acético PA Ac Acético 1% NaOH dil. HCl 1% Acetato de Etila Acetona CHCl3 Éter Etílico Cicloexano Benzeno QF Insolúvel Insolúvel Insolúvel Solúvel* Insolúvel Solúvel Insolúvel Insolúvel Insolúvel Insolúvel Insolúvel Insolúvel QS Insolúvel Insolúvel Insolúvel Solúvel N.R. Solúvel N.R. N.R. N.R. N.R. N.R. N.R. * Presença de pelo menos 10% de resíduo insolúvel. N.R.: não realizado. 40 Inicialmente, nos testes de solubilidade optou-se por usar solventes que não fossem agressivos ao meio, mas em virtude da dificuldade de solubilização, resolveu-se explorar uma faixa mais ampla de solventes, variando a polaridade. Segundo Muzzarelli (36) a quitosana seria insolúvel em água e em solventes orgânicos, porém solúvel em mistura de água-álcool em meio ligeiramente ácido. Por isso, a solubilidade da QF foi testada em diferentes razões de mistura água-etanol, onde o pH foi ajustado para 4 com a adição de ácido acético ao meio. A figura 16 abaixo sintetiza as razões de mistura testadas. 100 90 80 70 60 50 40 30 20 10 0 EtOH H2O 0 10 20 30 40 50 60 Insolúvel 70 80 90 100 insolúvel Figura 16. Razões de mistura água/etanol testadas em pH 4,0 e temperatura ambiente. Nenhuma das proporções testadas conseguiu solubilizar a QF. Entretanto, as razões de mistura água-etanol de 80:20 e 90:10, se aproximaram mais de uma solubilização, pois nestas foi observada uma fase gel, mantendo a quitosana em suspensão. Após a inspeção visual das misturas água-etanol de 80:20 e 90:10, comparativamente, a última proporção conseguiu manter mais a QF em solução. Testes com esta razão de mistura foram repetidos, porém variando os álcoois (tabela 9). Os álcoois utilizados foram: iso-propílico, n-butílico e cicloexanol. 41 Tabela 9. Teste de solubilidade da QF em mistura água-álcool (90:10). Álcool iso-propílico n-butílico Observações Partículas em suspensão e alguns depósitos. Aparecimento de uma espuma na superfície do líquido. Partículas em suspensão, porém em menor quantidade que a 1ª solução, consequentemente mais depósito. A quitosana em contato com a mistura forma grumos que, com cicloexanol a agitação se desfaz, porém há formação de uma emulsão água-álcool. Com o repouso há separação lenta das fases, o que retardou a deposição da QF. V.1.2. PREPARO DE SOLUÇÃO Após os testes de solubilidade, que confirmaram o meio ácido como o mais favorável à dissolução da quitosana, optou-se pelo ácido acético 1% como solvente para o preparo da solução de quitosana a 1%, pela solubilização ser mais rápida. As amostras de quitosana (QF e QS) apresentaram comportamentos distintos: enquanto a QS dissolveu-se completamente sem necessidade de muito tempo de agitação (~ 2 h), a QF, mesmo com 24 h de agitação, não solubilizou totalmente. Alguns ensaios de preparo de solução com a QF, variando-se a quantidade de massa do produto e volume de solução, resultaram em soluções contendo teor de insolúveis entre 11 e 34% (tabela 10). Acredita-se que a amostra, por ser material farmacêutico, deve estar misturada a um veículo inerte (placebo). 42 Tabela 10. Comparativo do teor insolúvel de QF para diferentes preparos de soluções. Solução Massa QF Vol. HAc* 1% [Quitosana] Massa insolúvel % teor insolúvel 1 1,00 g 200 ml 0,50 % 0,30 g 30 2 1,02g 300 ml 0,33 % 0,24 g 24 3 1,00 g 300 ml (HAc* 3%) 0,33 % 0,22 g 22 4 1,00g 300 ml 0,33 % 0,11 g 11 5 2,00 g 300 ml 0,67 % 0,68 g 34 6 3,00g 300 ml 1,00 % 0,52 g 17 * HAc = ácido acético Comparando-se as soluções 1 e 2, onde a massa de quitosana é mantida e aumentando o volume da solução não se observa um aumento significativo da solubilidade. Nas soluções 2 e 3, a diferença está na concentração da solução ácida, e foi observado que o aumento de acidez não aumentou a solubilidade da quitosana. As soluções 2 e 4, mantiveram as mesmas condições (massa de quitosana e concentração da solução ácida), porém observa-se uma redução à metade do teor de massa insolúvel. Nas soluções 5 e 6, a massa de quitosana foi duplicada e triplicada, respectivamente, entretanto, o teor de insolúveis não acompanhou esse aumento de massa. Os resultados obtidos nas diferentes soluções preparadas não apresentaram coerência. Baseando-se no fato de que todas as soluções 43 tiveram o mesmo tratamento, acredita-se que a quitosana farmacêutica (QF) não se trata de uma amostra homogênea. Amostras sólidas de QS e QF sem tratamento prévio e o resíduo insolúvel obtido durante a tentativa de solubilização da QF, foram caracterizadas por espectroscopia na região do infravermelho (IV) e os espectros de absorção foram obtidos em um espectrômetro Perkin Elmer® modelo 1420, utilizando pastilhas de KBr. Os espectros são mostrados nas figuras 17, 18 e 19. Figura 17. Espectro de IV da amostra de Quitosana Sigma (QS). Figura 18. Espectro de IV da amostra de Quitosana Farmacêutica (QF). 44 Os espectros das amostras de QS e QF (figuras 17 e 18) estão semelhantes, observando-se a presença de absorções em 3400 cm-1, que pode conter o estiramento OH, o estiramento N – H de amida secundária e um sinal duplo do estiramento NH2 , em 2900 cm-1, o estiramento C – H de alifáticos e, em 1650 cm-1, que pode conter tanto o estiramento C = O de amida quanto a deformação angular NH2. Na região de “impressão digital” observam-se duas outras absorções, não tão bem definidas e que indicam um acoplamento de absorções. Na região próxima a 1400 cm-1, a absorção pode ser devido a deformação angular do grupo CH2 e a outra, na faixa de 1200 a 1000 cm-1, referente ao estiramento C – O de álcool primário. Figura 19. Espectro de IV do material que permaneceu insolúvel durante a solubilização da Quitosana Farmacêutica (QF). Com relação ao material que permaneceu insolúvel durante a solubilização da QF (figura 19), este apresenta um espectro similar aos das amostras de QF e QS, onde se observa também as absorções de estiramento OH (~ 3435 cm-1) e de estiramento C – H (~ 2900 cm-1). Na região de 1630 a 1000 cm-1 os sinais não estão bem definidos, entretanto o perfil do espectro se assemelha bastante ao espectro da quitina (figura 20). Este fato sugere que nas amostras de quitosana (QF e QS) deve haver uma mistura com sua precursora, quitina. 45 Figura 20. Espectro de IV da quitina (42). Após o preparo das soluções, com as diferentes quitosanas, foi observado que estas apresentaram diferença quanto à fluidez, isto é, a solução de QS mostrou-se muito mais viscosa que a QF. Este fato sugere que a amostra de QF esteja sofrendo hidrólise na presença da solução ácida. V.1.3. PURIFICAÇÃO DA QUITOSANA Como a amostra de QF não solubiliza totalmente, provavelmente devido ao material insolúvel (placebo), realizou-se o ensaio de purificação para obtenção do produto (QF) isento deste material e com isso preparar uma solução 1% de QF. Para que as amostras tivessem o mesmo tratamento o ensaio de purificação foi realizado, também, para a amostra de QS. Durante a purificação das soluções de quitosana, comportamentos distintos entre elas também foram constatados. Ao se adicionar base (NH4OH ou NaOH) à solução de QS, praticamente todo o sólido dissolvido foi recuperado com a neutralização. Enquanto que, na solução de QF, muito pouco sólido foi recuperado. Os ensaios com a QF foram repetidos alterandose o volume de base adicionada e, o teor de resíduos recuperados em cada ensaio consta na tabela 11. 46 Tabela 11. Comparação do teor de resíduos recuperados durante a purificação da QF em diferentes soluções. Solução Base/ Volume adicionados Massa do Precipitado % teor recuperado 1 NH4OH conc. / 3 mL 0 0 2 NH4OH conc. / 5 Ml 0 0 3 NH4OH conc. / 14 mL 0 0 4 NH4OH conc. / 11 mL 0,10 5 5 NH4OH conc. / 8 mL 0,13 4 6 NaOH 10%/ 25 mL 0,10 10 Constata-se que independentemente do volume adicionado de base pouco sólido é recuperado com a neutralização. A fim de obter amostras do sólido dissolvido na solução de QF, promoveu-se a evaporação do solvente. Amostras sólidas de QF, após a evaporação do solvente, e QS, após a purificação, foram obtidas e caracterizadas por espectroscopia na região do infravermelho (IV) e os espectros de absorção foram obtidos em um espectrômetro Perkin Elmer® modelo 1420, utilizando pastilhas de KBr. Os espectros são mostrados nas figuras 21 e 22, respectivamente. Figura 21. Espectro de IV da amostra de Quitosana Farmacêutica (QF), após evaporação do solvente. 47 O espectro da QF após evaporação do solvente difere um pouco do espectro da QF (figura 18). Este espectro encontra-se mais “limpo”, com apenas três absorções significativas, porém estas estão bastante alargadas e, na de 1055 cm-1 especificamente, mais intensa. O que sugere que a amostra de QF, ou durante a solubilização com o ácido ou com a evaporação do solvente, sofreu alteração na sua estrutura. A não reversibilidade da dissolução da QF quando a solução é neutralizada, sugere que a amostra esteja sofrendo algum tipo de transformação, possivelmente uma hidrólise. Figura 22. Espectro de IV da amostra de Quitosana Sigma (QS), após purificação. O espectro da QS purificada está semelhante ao da QS (figura 17), entretanto, observa-se o aparecimento de duas absorções (1560 cm-1 e 1400 cm-1), que indica que na reprecipitação da quitosana também foi obtido sal de ácido acético (acetato de sódio). Na figura 23 é apresentado o espectro deste sal, onde pode ser constatado estas duas absorções bem definidas. 48 3428.13 60 50 40 3002.13 %Transmittance 2997.50 70 30 20 10 1577.83 0 -10 -20 -30 4000 3500 3000 2500 2000 1500 1003.48 80 *ACETIC ACID, SODIUM SALT *ACETIC ACID, SODIUM SALT 1584.73 1443.34 1436.68 1040.26 1006.50 90 1000 Wavenumbers (cm-1) Figura 23. Espectro de IV do acetato de sódio (48). V.1.4. PARÂMETROS FÍSICO-QUÍMICOS DAS SOLUÇÕES DE QUITOSANA A medida dos parâmetros físico-químicos das soluções de quitosana foi realizada, principalmente, devido a diferença visual na fluidez destas. Este fato reforça a hipótese de que haja hidrólise da QF quando do seu preparo e da QS após ser purificada, uma vez que a solução de QS sem a purificação mostra-se bastante viscosa. A tabela 12 apresenta os resultados de viscosidade e densidade para as soluções de quitosana na temperatura de 21ºC. Tabela 12. Parâmetros físico-químicos determinados nas soluções de quitosana. Quitosana 1% QS QS purificada QF Viscosidade Dinâmica (mPa.s) 241,77 33,18 1,05 Densidade (g/m3) 1,0019 1,0011 1,0041 Verifica-se que os valores de densidade para as soluções, praticamente, não diferem. Entretanto, o parâmetro viscosidade destoa consideravelmente entre as soluções, pois apresenta uma variação significativa nos valores deste. 49 V.1.5. DETERMINAÇÃO DO GRAU DE DESACETILAÇÃO DA QUITOSANA O grau médio de desacetilação (GD) é definido como o número de grupos amino em relação aos grupos amida da cadeia polimérica, podendo ser determinado por meio de várias técnicas (41) , no presente caso, as adotadas 1 foram IV, RMN H e titulação condutimétrica. V.1.5.1. Espectroscopia na região do Infravermelho (IV) A principal vantagem da utilização do IV é a facilidade de obtenção da análise, que pode ser feita sob a forma de filme ou pastilha de KBr. Nas figuras 24 e 25 encontram-se os espectros de IV dos produtos QF e QS, respectivamente, onde se constata tratar-se da mesma espécie, pois apresentam o mesmo perfil, diferindo apenas na intensidade dos picos. Figura 24. Espectro de IV da quitosana farmacêutica (QF), para determinação do grau de desacetilação. 50 Figura 25. Espectro de IV da quitosana sigma (QS), para determinação do grau de desacetilação. Com base nas absorções, convertidas dos valores de transmitância nos espectros (figuras 24 e 25), de estiramento OH de hidroxilas (~3400 cm-1) e de estiramento C – N da amina secundária (~1600 cm-1) foi calculado, utilizando as equações 1 e 2, o grau de desacetilação para a QF e a QS. Os cálculos, obtidos com as absorções da QF (figura 24), são apresentados a seguir. Equação 2: % N-acetil = (A1655 / A340).100/1,33 % N-acetil = (1,0101 / 1,0152).100/1,33 % N-acetil = 75 Equação 1: %GD= 100 - %N-acetil %GD= 100 – 75 %GD= 25 51 Os cálculos, obtidos com as absorções da QS (figura 25), são apresentados a seguir. Equação 2: % N-acetil = (A1655 / A340).100/1,33 % N-acetil = (1,0526 / 1,0753).100/1,33 % N-acetil = 74 Equação 1: %GD= 100 - %N-acetil %GD= 100 – 75 %GD= 26 Para ser considerado como sendo quitosana (35) , o produto deve ter um GD ≥ 30%, portanto, pode-se dizer que foi achado um GD muito baixo para as amostras de quitosana, principalmente para a QS, cujo fabricante diz ter 85% de GD. Apesar da facilidade de obtenção da análise a resolução das absorções pode mascarar os estiramentos, como por exemplo, através do acoplamento das absorções, impossibilitando assim a leitura precisa dos pontos necessários para a determinação do grau de desacetilação. Na região entre 3700 e 3400 cm-1, a quitosana apresenta uma larga absorção de estiramento OH, entretanto, estiramento de NH de aminas, livres e associadas, podem ser observadas nesta região. Ligações hidrogênio, mudança da constante dielétrica e/ou interações entre moléculas adjacentes em sólidos, líquidos e soluções concentradas, também, são responsáveis por esta absorção A intensidade e o alargamento da absorção na região entre 3700 e 3400 cm-1, tem a contribuição do teor de água que pode ser absorvido pela amostra e do grau de interação por ligações hidrogênio das hidroxilas da quitosana e da água absorvida. Ligações estas que podem ser favorecidas pela forma como a quitosana é obtida, isto é, a forma de cristalização da quitosana durante sua obtenção. 52 V.1.5.2. Ressonância Magnética Nuclear de Hidrogênio (RMN 1H) O espectro da quitosana sigma (QS) 1%, figura 26, obtido na análise de RMN 1H foi referenciado em relação ao DMSO-d6. As condições experimentais utilizadas estão destacadas abaixo. Freqüência: 300 MHz Janela espectral: 4.5 kHz Tempo de aquisição: 3,6 s Pulso: 45 o Intervalo entre pulsos: 1,0 s Número de transientes: 256 Figura 26. Espectro de RMN 1 H da quitosana sigma (QS) 1%, para determinação do grau de desacetilação. No espectro de RMN 1H da amostra de quitosana sigma (QS) 1% foi possível identificar os sinais referentes à unidade básica da quitosana, porém, não se pode afirmar que o grupo substituinte R (substituinte do grupo NH) tratase do grupo CH3-C=O devido à ausência do pico a 2,0 ppm característico dos hidrogênios relativos à metila do mesmo, conforme observado no espectro de RMN de 1H da quitosana obtido da literatura (figura 27). Cabe chamar a atenção de que o sinal largo observado a 4,5 ppm no espectro experimental, refere-se ao pico de 1H da H2O, contaminante do solvente utilizado (D2O). 53 2 Figura 27. Espectro de RMN 1H da quitosana encontrado na literatura 49. Como não foi possível fazer a relação entre os sinais que correspondem aos hidrogênios dos resíduos de glicosamina (4,5 ppm) e do CH3 (1,95 ppm) do grupo amida, foi realizado uma análise de RMN 13 C CPMAS da quitosana Sigma (QS) no estado sólido. A análise por RMN de 13 C no estado sólido foi realizada no equipamento Varian Infinity Plus - 400 (14.5 T de campo magnético). O espectro (figura 28) foi referenciado em relação ao HMB (hexametil benzeno – pico metila em 17.3 ppm). As condições experimentais estão descritas abaixo. Freqüência: 100.5 MHz Janela espectral: 50MHz Tempo de aquisição: 0.5s Pulso: 5.0μs (90°) Intervalo entre pulsos: 1s Tempo de contato: 1ms Núcleo desacoplado:1H Modo do desacoplador:”Gated” Número de transientes: 5000 54 Figura 28. Espectro de RMN de 13 C CPMAS da amostra de quitosana Sigma (QS) sólida, para determinação do grau de desacetilação. O assinalamento dos sinais referentes à cadeia principal da quitosana pôde ser identificado com razoável clareza no espectro da amostra de quitosana, se comparado ao espectro (figura 29) obtido da literatura. 2 Figura 29. Espectro de RMN de 13 C CPMAS de quitosana encontrada na literatura 49. 55 Admitindo uma correlação com as áreas dos sinais que correspondem ao carbono, posição 1, dos resíduos de glicosamina (110 ppm) e do carbono da metila (25 ppm) do grupo amida, calculou-se o grau de desacetilação para a amostra de quitosana Sigma (QS). % GD = área C 1 glicosamina x 100 área C (CH3) amida % GD = 1,000 x 100 3,057 % GD = 33 V.1.5.3. Titulação Condutimétrica Na titulação condutimétrica espera-se duas inflexões na curva, a primeira representando a neutralização do ácido presente, e a segunda correspondente à neutralização de prótons dos grupos amino da quitosana. O resultado da titulação condutimétrica da QS é apresentado na figura 30. Titulação Condutimétrica - Grau de Desacetilação 5 4,5 4 Condutância (mS/cm) 3,5 3 2,5 2 1,5 1 0,5 0 0,0 5,0 10,0 15,0 20,0 22,8 24,8 28,0 33,0 38,0 43,0 48,0 Vol. NaOH (mL) Figura 30. Curva condutimétrica da solução de quitosana sigma (QS), para o cálculo do grau de desacetilação. 56 Substituindo os valores de volume encontrados no gráfico na equação 3, foi calculado o grau de desacetilação para a quitosana Sigma (QS). %GD = 161 .[base].(V2-V1) x 100 m %GD = 161 .[0,1].(26 - 20) x 100 200 %GD = 48 % Adicionalmente à curva condutimétrica, foi plotada a curva potenciométrica para as 2 amostras de quitosana (QS e QF). O resultado da titulação potenciométrica tanto da QS quanto da QF é apresentado na figura 31, onde se tem a relação entre volume de titulante gasto e a variação de pH em solução. Titulação Potenciométrica - Grau de Desacetilação 13 12 11 10 9 pH 8 7 QF QS 6 5 4 3 2 1 0 0 5 10 15 20 25 30 35 40 45 50 Vol. NaOH (mL) Figura 31. Curva potenciométrica das soluções de quitosana (QF e QS). 57 As curvas obtidas para as 2 soluções foram bastante similares, porém com um deslocamento de volume de titulante. Apesar disto, a variação de volume de NaOH nos pontos de equivalência (V2 – V1) foram concordantes, logo o cálculo abaixo é representativo de ambas as amostras. %GD = 161 .[base].(V2-V1) x 100 m %GD = 161 .[0,1].(6) x 100 200 %GD = 48 % Os resultados obtidos tanto na titulação condutimétrica quanto na titulação potenciométrica coincidem, e o valor de 48% de grau de desacetilação classifica as amostras como sendo quitosana. Cabe ressaltar que o valor de grau de desacetilação encontrado está abaixo do esperado para a quitosana sigma (QS). Entretanto, a formação de um gel branco (figura 32), em torno do pH 7, foi verificada durante a titulação, sugerindo que com a neutralização do ácido uma parte da quitosana tenha saído de solução. Figura 32. Precipitado branco gelatinoso formado durante a titulação potenciométrica das soluções de quitosana. 58 Segundo Muzzarelli (36), ácidos inorgânicos (HNO3, HCl) podem dissolver a quitosana, em certos valores de pH e depois de prolongada agitação e aquecimento, mas algum tempo depois da dissolução pode-se observar um precipitado gelatinoso branco. A título de comparação, os resultados de grau de desacetilação obtido nas três técnicas são resumidos na tabela 13. Tabela 13. Comparação do grau de desacetilação das amostras de quitosana, nas diferentes técnicas empregadas. Amostra Infravermelho (IV) RMN 13C Condutimetria Potenciometria QS 26 33 48 48 QF 25 - - 48 As técnicas empregadas apresentaram resultados discordantes entre si. Com exceção do IV, que apresentou um grau de desacetilação abaixo de 30%, as demais técnicas caracterizam as amostras como sendo quitosana. Cabe ressaltar que os valores obtidos para a quitosana Sigma estão fora do esperado, uma vez que a especificação do fabricante era de um grau de desacetilação de 85 %. 59 V.1.6. TESTE DE COMPATIBILIDADE QUÍMICA Este teste avalia a tolerância ou a capacidade do inibidor manter-se em solução na presença dos íons cálcio. Esta propriedade depende de fatores, tais como, estrutura do inibidor e dosagem, pH da solução e temperatura, tempo de contato e concentração de cálcio. Os inibidores foram testados quanto a sua compatibilidade com o cálcio (710 mg/L) na água da formação. Uma ampla faixa de concentração dos inibidores foi avaliada e os resultados obtidos são apresentados nas tabelas 14 e 15 para os inibidores em estudo. Tabela 14. Resultados obtidos no teste de compatibilidade dos inibidores, em estudo, com o cálcio (710 mg/L) da água de formação à 60ºC. 100 mg/L INIBIDOR 200 mg/L 500 mg/L 1000 mg/L 2000 mg/L 5000 mg/L 10000 mg/L t0 30’ t0 30’ t0 30’ t0 30’ t0 30’ t0 30’ t0 30’ Produto A C C C C C C C C C C C C C C Produto B C C C C C C C C C C C C C T QF C C C C C C C C C C C C C C QS purif. C C C C C C C C C C C C C C QS C C C C C C C C C C C C C C Glicerina C C C C C C C C C C C C C C Glic + QS C C C C C C C C C C C C C C Legenda: t0 – tempo zero (imediato a complementação de inibidor); C – compatível; T – turvação; ppt – precipitado. 60 Tabela 15. Resultados obtidos no teste de compatibilidade dos inibidores, em estudo, com o cálcio (710 mg/L) da água de formação à 25ºC. INIBIDOR 100 mg/L 200 mg/L 500 mg/L 1000 mg/L 2000 mg/L 5000 mg/L 10000 mg/L t0 30’ t0 30’ t0 30’ t0 30’ t0 30’ t0 30’ t0 30’ Produto A* C C C C C C C C C C C C C C Produto B C C C C C C C C C C C C C C QF C C C C C C C C C C C C C C QS purif. C C C C C C C C C T T T T T QS C C C C C C ppt ppt ppt ppt ppt ppt ppt ppt Glicerina C C C C C C C C C C C C C C Glic + QS C C C C C C C C C C C C T T Legenda: t0 – tempo zero (imediato a complementação de inibidor); C – compatível; T – turvação; ppt – precipitado. * a partir da concentração de 5000ppm, a adição do produto ocasionava a formação de sólidos que eram solubilizados com a agitação. 61 A glicerina foi proposta em princípio, como um solvente para a quitosana. Porém, devido à característica pouco solúvel da quitosana, só foi possível preparar a solução fazendo-se uma mistura de água/ glicerina/ ácido acético. A fim de verificar a contribuição da glicerina, quanto a uma possível participação na inibição da incrustação, foi preparada uma solução tendo como base somente a glicerina. Para a maioria dos produtos testados foi constatada compatibilidade com o cálcio da AF1, nas concentrações variando de 100 mg/L a 10000 mg/L de inibidor, tanto na temperatura de 60ºC quanto a temperatura ambiente, imediatamente após a mistura do inibidor com a AF1 e após 30 minutos decorridos da mistura. À 60ºC, a exceção ficou a cargo do produto verde de referência Produto B, que apresentou turvação quando a concentração deste no ensaio era de 10000 mg/L. À temperatura ambiente, chama-se a atenção para a incompatibilidade da QS a partir de 1000 mg/L do produto, QS purif. a partir de 2000 mg/L e Glic.+ QS, a partir de 10000 mg/L. Essas concentrações indicam o ponto em que a quitosana foi saturada pelos íons cálcio, precipitando-a. Nota-se que a incompatibilidade ocorre com as soluções de QS e QS purif. e, não com a QF. Provavelmente isto é devido a alteração que estas sofreram durante seu preparo (hidrólise), onde o produto QF pode não mais se apresentar na forma polimérica, e com isso as interações que ocorram com o cálcio não sejam suficientes para precipitá-la. Como há indícios que a QS purif., também, tenha sofrido uma hidrólise parcial, está precisou de uma concentração maior para precipitar. Com relação a mistura Glic.+QS, a precipitação é devida a quitosana e a precipitação só ocorreu em alta concentração, porque a quitosana estava diluída (0,3 %). 62 V.1.7. TESTE DE EFICIÊNCIA ESTÁTICA DE INIBIÇÃO Os produtos em estudo foram testados quanto a sua eficiência de inibição de incrustação quando adicionados à mistura de água de formação e água do mar. Dois cenários de teste foram propostos: 1º) Água da Formação 1 (AF1) misturada a Água do Mar (AM); 2º) Água da Formação 2 (AF2) misturada a Água do Mar (AM) enriquecida com íons sulfato; A composição química das águas utilizadas nos ensaios encontra-se na tabela 6. V.1.7.1. Água da Formação 1 (AF1) misturada a Água do Mar (AM) O teste do cenário 1 foi conduzido à 60ºC, com retirada de alíquota com 1h e 24h de ensaio, utilizando AF1 com baixo teor de cálcio (710 mg/L) e maior concentração de bário (210 mg/L). A mistura entre AF1 e AM ocorreu na razão de 50:50. A água de formação (AF1), por ter baixo teor de cálcio, não apresentou variação do elemento cálcio durante o ensaio, indicando que não houve precipitação deste elemento. Os resultados obtidos para eficiência de inibição de precipitação de sulfato de bário e sulfato de estrôncio são apresentados nas figuras 33 e 34. 63 Eficiência de Inibição para Bário [Inibidor] = 100 mg/L 100,0 90,0 Produto A QF QS QS purif. Produto B Glicerina Glicerina + Quitosana 80,0 % Eficiência 70,0 60,0 50,0 40,0 30,0 20,0 10,0 0,0 1h 24h Tempo Figura 33. Eficiência de inibição de precipitação de sulfato de bário para a mistura entre AM e AF1 (50:50) à 60°C, por 1 h e 24h, com 100 mg/L de produto. Eficiência de Inibição para Estrôncio [Inibidor] = 100 mg/L 100,0 90,0 Produto A QF 80,0 QS % Eficiência 70,0 QS purif. Produto B 60,0 Glicerina 50,0 Glicerina + Quitosana 40,0 30,0 20,0 10,0 0,0 1h 24h Tempo Figura 34. Eficiência de inibição de precipitação de sulfato de estrôncio para a mistura entre AM e AF1 (50:50) à 60°C, por 1 h e 24h, para 100 mg/L de produto. 64 Pode se observar que os produtos de referência (Produto A e Produto B) foram os únicos a apresentarem eficiência de inibição tanto para sulfato de bário quanto para sulfato de estrôncio. Os testes foram realizados dosando 100 mg/L de produto, sem levar em consideração o teor de matéria ativa dos produtos. Acredita-se que como os produtos A e B possuem um teor de matéria ativa maior (47% e 15% respectivamente) que os produtos propostos para estudo (1%) estes tenham demonstrado ser bem mais eficientes. A fim de que os produtos fossem avaliados na mesma condição, a concentração de ensaio foi fixada em termos de matéria ativa. Portanto, o ensaio foi repetido, garantindo que cada produto estivesse com 100 mg/L de matéria ativa. Para este ensaio a solução de Glicerina não foi avaliada, pois no ensaio anterior foi verificado que está não contribui para a eficiência de inibição. Nesta nova situação, somente os resultados para inibição de sulfato de bário foram obtidos e encontram-se na figura 35. Eficiência de Inibição para Sulfato de Bário 100 ppm MA 100 90 80 Eficiência (%) 70 Produto A Produto B QS QS Purif. QF Glic.+QS 60 50 40 30 20 10 0 1h 24 h Tempo (h) Figura 35. Eficiência de inibição de precipitação de sulfato de bário para a mistura entre AM e AF1 (50:50) à 60°C, por 1 h e 24h, com 100 mg/L de matéria ativa. 65 Conforme se pode observar, a figura 35 ratifica os inibidores de referência (Produto A e Produto B) como eficientes. V.1.7.2. Água de Formação 2 (AF2) misturada a Água do Mar (AM) enriquecida com íons sulfato No teste do cenário 2 utilizou-se AF2 e AM enriquecida com íons sulfato, se aproximando do valor esperado (9000 mg/L) para o rejeito da unidade de remoção de sulfato (URS). O teste foi realizado à 70ºC por 48h e a razão de mistura entre AF2 e AM foi de 50:50. Os inibidores Produto B e QF foram testados com teor de matéria ativa de 10 e 100 mg/L. Os resultados obtidos para eficiência de inibição de precipitação de sulfato de cálcio, sulfato de estrôncio e sulfato de bário são apresentados nas figuras 36, 37 e 38, respectivamente. Eficiência de Inibição para Sulfato de Cálcio 100 90 80 Eficiência (%) 70 60 Produto B 10 mg/L Produto B 100 mg/L QF 10 mg/L QF 100 mg/L 50 40 30 20 10 0 1h 24 h 48 h Tempo (h) Figura 36. Eficiência de inibição de precipitação de sulfato de cálcio para a mistura entre AM enriquecida e AF2 (50:50) à 70°C, por 1 h, 24h e 48h. 66 Eficiência de Inibição para Sulfato de Estrôncio 100 90 80 Eficiência (%) 70 60 Produto B 10 mg/L Produto B 100 mg/L QF 10 mg/L QF 100 mg/L 50 40 30 20 10 0 1h 24 h 48 h Tempo (h) Figura 37. Eficiência de inibição de precipitação de sulfato de estrôncio para a mistura entre AM enriquecida e AF2 (50:50) à 70°C, por 1 h, 24h e 48h. Eficiência de Inibição para Sulfato de Bário 100 90 80 Eficiência (%) 70 60 Produto B 10 mg/L Produto B 100 mg/L QF 10 mg/L QF 100 mg/L 50 40 30 20 10 0 1h 24 h 48 h Tempo (h) Figura 38. Eficiência de inibição de precipitação de sulfato de bário para a mistura entre AM enriquecida e AF2 (50:50) à 70°C, por 1 h, 24h e 48h. 67 Observa-se, para os diferentes tipos de incrustação, eficiência do inibidor verde de referência (Produto B) para ambos os teores de matéria ativa, com desempenho um pouco melhor para a concentração mais alta (100 mg/L). O produto quitosana farmacêutica (QF), somente com o maior teor de matéria ativa (100 mg/L), apresentou um bom desempenho para a inibição da precipitação dos sais de sulfato de cálcio e sulfato de estrôncio. V.1.8. IMOBILIZAÇÃO DE QUITOSANA EM ESFERAS Conforme observado na literatura (38) , das inúmeras possibilidades de aplicações da quitosana, esta se encontra basicamente na forma sólida (fibras, filmes, géis, microesferas e membranas), provavelmente devido a dificuldade de sua solubilização. Por isso, foi proposto o estudo desta na forma de esferas, para verificar se sua capacidade de adsorção seria eficiente na inibição da incrustação salina. V.1.8. 1. Preparo das esferas de quitosana As esferas de quitosana se formam imediatamente após o contato da solução ácida de quitosana com o meio alcalino (NaOH 2M). Pórem, durante a lavagem das esferas de quitosana com água, até pH neutro, observou-se turvação da água, porém não houve a dissolução das esferas. As esferas foram filtradas e secas à temperatura ambiente. Depois de secas, as esferas continuavam brancas e não aderidas umas as outras. As esferas foram reidratadas, em separado, tanto em água quanto em solução alcalina. Em ambas as soluções, as esferas voltaram a sua forma original. Na figura 39 pode ser observado o aspecto das esferas de quitosana em dois momentos, um após sua secagem e o outro após sua reidratação. 68 a b Figura 39. Aspecto das esferas de quitosana: a) secas; b) reidratadas. Para armazenamento das esferas de quitosana, estas foram preservadas em solução alcalina (figura 40). Figura 40. Esferas de quitosana, preservadas em meio alcalino. V.1.8.2. Teste de Adsorção de Ca2+ pelas esferas de quitosana Para avaliar a interação das esferas de quitosana com íons Ca2+ foram realizados dois testes simples nos quais as esferas foram mantidas em solução aquosa de cloreto de cálcio. No primeiro procedimento, a solução de cálcio permeia as esferas de quitosana sendo recolhida em um becher, onde foi adicionada a solução de carbonato. Entretanto com este procedimento praticamente todo o cálcio 69 precipitou na forma de carbonato de cálcio. Conclui-se que o tempo de contato não foi suficiente para a absorção do cálcio pelas esferas de quitosana. Na tentativa de obter um resultado mais satisfatório, com o aumento do tempo de contato entre a solução de cálcio e as esferas de quitosana, foi realizado o segundo procedimento, onde a solução e as esferas ficam por 2 minutos em contato e sob agitação. Ao final, separou-se a solução das esferas e adicionou-se a solução de carbonato, onde foi verificada a precipitação de carbonato de cálcio. Com o conhecimento do número de mol de cálcio inicial e final, apresentado na tabela 16, foi possível calcular a quantidade de cálcio absorvido pelas esferas. Tabela 16. Valor do número de mol inicial e final de cálcio para o teste de adsorção pelas esferas de quitosana após 2 minutos. CaCl2 CaCO3 Massa inicial (g) 3,0 - Massa final (g) 1,7 Mol inicial 0,027 - Mol final 0,017 Considerando que: 0,027 mol de Ca ---- 100% 0,017 mol de Ca ---- X . x = 63 % Remoção = 100 – 63 = 37% O resultado do cálculo indica uma retenção de 37% do cálcio pelas esferas de quitosana. Entretanto, não é possível inferir quanto a capacidade de adsorção das esferas de quitosana somente com este resultado, pois provavelmente o tempo de contato não foi suficiente para a adsorção de uma quantidade maior de cálcio. Replicatas do ensaio, variando-se o tempo de contato entre as esferas e a solução de cálcio, devem ser realizadas. O teste realizado é bastante simples, porém requer atenção, pois como os cálculos são baseados na diferença de massa, cuidados durante a medida de massa, para não haver perdas de material, ou secagem do resíduo são exigidos. 70 V.1.8.3. Encapsulamento do inibidor à base de fosfonato em esferas de Quitosana Em virtude do baixo teor de retenção do íon cálcio obtido no teste anterior (V.1.8.2), foi realizado um ensaio para encapsular inibidor de incrustação nas esferas de quitosana. A inclusão de inibidor as esferas de quitosana visam aumentar o seu poder de absorção. Em 100 mL da solução de quitosana 1% foi adicionado 1,25 mL do inibidor. Sabendo que o inibidor é a base de fosfonato, foi dosado o teor de fósforo contido no inibidor, e em seguida analisou-se a concentração de fósforo tanto na solução de preparo e armazenagem das esferas (NaOH 2M) quanto na água de lavagem das esferas, a fim de verificar se o inibidor foi encapsulado durante o preparo das esferas. Os teores determinados são apresentados na tabela 17. Tabela 17. Teor de fósforo determinado nos fluidos do ensaio de encapsulamento do inibidor Dequest 2066A. Solução Teor de P (mg/L) Conc. Inibidor (mg/L) Fosfonato 1,25% 1995 16618 NaOH 2M 400 3332 Água 71 591 Os resultados indicam que aproximadamente 76% do inibidor adicionado ao meio foi encapsulado pelas esferas de quitosana. Este fator foi considerado satisfatório e as esferas foram encaminhadas para o teste de eficiência estática de inibição para avaliação. 71 V.1.8.4. Teste de eficiência estática de inibição, usando esferas de quitosana Neste teste foram utilizadas esferas de QS, sem e com impregnação do inibidor de incrustação à base de fosfonato. Os testes foram realizados na temperatura de 60°C e tempo de residência de 1h e 24h. A mistura entre AF1 e AM ocorreu na razão de 50:50. Os resultados da eficiência de inibição para sulfato de bário e sulfato de estrôncio da QS e da QS impregnada com o inibidor à base de fosfonato não foram considerados satisfatórios, pois em ambos os casos apresentaram eficiência abaixo de 10%. 72 IV.2. ÁCIDO ALGÍNICO Relembrando a estrutura do polissacarídeo do tipo poliuronídeo, o ácido algínico (figura 11). CH3 H3C COOH O HO CH3 CH3 O COOH H3C OH CH3 O H3C O H3C OH H3C H3C H3C O OH H3C HO H3C CH3 OH O CH3 HO H3C H3C O H3C COOH CH3 CH3 COOH CH3 O CH3 O OH OH O H3C COOH CH3 CH3 OH H3C Figura 11. Estrutura do ácido algínico. IV.2.1. TESTE DE SOLUBILIDADE Os resultados obtidos nos testes de solubilidade para a amostra de ácido algínico são apresentados na tabela 18. Tabela 18. Resultados obtidos no teste de solubilidade para as amostras de ácido algínico. Solvente Característica pH Água Forma suspensão 4,0 Etanol Parcialmente solúvel com formação de suspensão 4,0 Solução amarelada 12,0 NaOH 10% O ácido algínico (AA) mostrou-se solúvel em meio básico, o que era de se esperar, pois este sofreu uma reação de neutralização dando origem a um sal solúvel (alginato de sódio). A solução resultante da neutralização do AA apresentou um elevado valor de pH, devido a concentração da base utilizada. Em virtude disso, fez-se diferentes soluções de AA com diferentes concentrações de NaOH, na tentativa de reduzir o pH e continuar solubilizando-o. O resumo dos resultados obtidos no teste encontra-se na tabela 19. 73 Tabela 19. Solubilidade do AA em diferentes concentrações de NaOH. Solução AA 1% [NaOH] pH 10% 12 Observação Solução translúcida, porém amarelada (amarelo leve). Solução levemente turva, após repouso, 5% 4 pequena quantidade de resíduo decantou. 1% 3 Suspensão. 0,7% 2% 4 Solução praticamente homogênea 0,1% 1% 6 Solução homogênea e límpida. Observa-se que para soluções com menos de 1% de AA, baixas concentrações de base conseguem uma boa solubilização. Entretanto, solução de AA na concentração de 1% requer mais base, para a neutralização do ácido com a conseqüente solubilização. IV.2.2. PREPARO DE SOLUÇÃO As soluções de AA a 1%, preparadas utilizando NaOH (6% e 2%), apresentaram diferença no aspecto final das soluções: enquanto a do AA em NaOH 6% mostrou-se límpida, a do AA em NaOH 2%, apresentou ligeira turvação, sem a observação de depósitos com o repouso. IV.2.3. TESTE DE COMPATIBILIDADE QUÍMICA Os inibidores foram testados quanto a sua compatibilidade com o cálcio presente na água da formação (710 mg/L). Uma ampla faixa de concentração dos inibidores foi avaliada e os resultados obtidos são apresentados nas tabelas 20 e 21 para os inibidores em estudo. 74 Tabela 20. Resultados obtidos no teste de compatibilidade dos inibidores, em estudo, com o cálcio (710 mg/L) da água de formação à 60ºC. 100 mg/L INIBIDOR 200 mg/L 500 mg/L 1000 mg/L 2000 mg/L 5000 mg/L 10000 mg/L t0 30’ t0 30’ t0 30’ t0 30’ t0 30’ t0 30’ t0 30’ Produto A C C C C C C C C C C C C C C Produto B C C C C C C C C C C C C C T AA NaOH 6% C C C C C T T T T T T ppt ppt ppt AA NaOH 2% C C C C C C C C C C C C C C Legenda: t0 – tempo zero (imediato a complementação de inibidor); C – compatível; T – turvação; ppt – precipitado. Tabela 21. Resultados obtidos no teste de compatibilidade dos inibidores, em estudo, com o cálcio (710 mg/L) da água de formação à 25ºC. 100 mg/L INIBIDOR 200 mg/L 500 mg/L 1000 mg/L 2000 mg/L 5000 mg/L 10000 mg/L t0 30’ t0 30’ t0 30’ t0 30’ t0 30’ t0 30’ t0 30’ Produto A* C C C C C C C C C C C C C C Produto B C C C C C C C C C C C C C C AA NaOH 6% C C C C C C T T T T T T T ppt AA NaOH 2% C C C C C C C C C C C C C C Legenda: t0 – tempo zero (imediato a complementação de inibidor); C – compatível; T – turvação; ppt – precipitado. * a partir da concentração de 5000ppm, a adição do produto ocasionava a formação de sólidos que eram solubilizados com a agitação. 75 Para os produtos de referência (Produto A e Produto B) e o AA em NaOH 2% testados foi constatada compatibilidade com a AF1, nas concentrações variando de 100 mg/L a 10000 mg/L de inibidor, tanto na temperatura de 60ºC quanto a temperatura ambiente, imediatamente após a mistura do inibidor com a AF1 e após 30’ decorridos da mistura. À 60ºC, a exceção ficou a cargo da solução de AA em NaOH 6%, que a partir de 500 mg/L do produto apresentou incompatibilidade e, ao produto verde de referência Produto B, que apresentou turvação quando a concentração deste no ensaio era de 10000 mg/L. À temperatura ambiente, chama-se a atenção para a incompatibilidade do AA em NaOH 6%, a partir de 1000 mg/L do produto. O AA tem uma boa interação com os metais alcalinos terrosos e pode formar com o cálcio um precipitado gelatinoso de alginato de cálcio. Outro fator a se considerar é o teor de NaOH em solução, que em maior concentração (NaOH 6%) pode ter favorecido a precipitação de hidróxido de cálcio. IV.7. TESTE DE EFICIÊNCIA ESTÁTICA DE INIBIÇÃO A eficiência de inibição de incrustação do ácido algínico foi testada quando adicionado à mistura 50:50 de água de formação (AF1) e água do mar. O teste foi conduzido à 60ºC por 24h, utilizando AF1 com baixo teor de cálcio (710 mg/L) e uma maior concentração de bário (210 mg/L). Como observado nos testes envolvendo a quitosana, a água de formação (AF1), por ter baixo teor de cálcio, não apresentou variação do elemento cálcio, indicando que não houve precipitação deste elemento, também, durante o ensaio com o ácido algínico, Os resultados obtidos para eficiência de inibição de precipitação de sulfato de bário e sulfato de estrôncio são apresentados nas figuras 41 e 42. 76 Eficiência de Inibição para Bário [Inibidor] = 100 mg/L 100,0 90,0 80,0 Produto A Produto B AA NaOH 2% AA NaOH 6% % Eficiência 70,0 60,0 50,0 40,0 30,0 20,0 10,0 0,0 1h 24h Tempo Figura 41. Eficiência de inibição de incrustação de sulfato de bário para a mistura entre AM e AF1 (50:50) à 60°C, por 1 h e 24h, com 100 ppm de produto. Eficiência de Inibição para Estrôncio [Inibidor] = 100 mg/L 100,0 90,0 Produto A 80,0 Produto B % Eficiência 70,0 60,0 AA NaOH 2% 50,0 AA NaOH 6% 40,0 30,0 20,0 10,0 0,0 1h 24h Tempo Figura 42. Eficiência de inibição de incrustação de sulfato de estrôncio para a mistura entre AM e AF1 (50:50) à 60°C, por 1 h e 24h, para 100 ppm de produto. 77 Pode se observar que os produtos de referência (Produto A e Produto B) foram os únicos a apresentarem eficiência de inibição tanto para sulfato de bário quanto para sulfato de estrôncio. Os testes foram realizados dosando 100 ppm de produto, sem levar em consideração o teor de matéria ativa dos produtos. Acredita-se que como os produtos A e B possuem um teor de matéria ativa maior (47% e 15% respectivamente) que os produtos propostos para estudo (1%) estes tenham demonstrado ser bem mais eficientes. A fim de que os produtos fossem avaliados na mesma condição, a concentração de ensaio foi fixada em termos de matéria ativa. Portanto, o ensaio foi repetido, garantindo que cada produto estivesse com 100 mg/L de matéria ativa. Nesta nova situação, somente resultados para inibição de sulfato de bário foram obtidos e encontram-se na figura 43. Eficiência de Inibição para Sulfato de Bário 100 ppm MA 100 90 80 Eficiência (%) 70 60 Produto A Produto B AA NaOH 6% AA NaOH 2% 50 40 30 20 10 0 1h 24 h Tempo (h) Figura 43. Eficiência de inibição de incrustação de sulfato de bário para a mistura entre AM e AF1 (50:50) à 60°C, por 1 h e 24h, com 100 ppm de matéria ativa. 78 Conforme se pode observar, a figura 43 ratifica os inibidores de referência (Produto A e Produto B) como eficientes. Entretanto, observa-se que neste cenário a solução 1% de AA em NaOH 6%, esboçou uma tentativa de inibição. 79 VI. CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES A solução de ácido algínico é solúvel em meio alcalino. Nos testes de compatibilidade com a água de formação, contendo teor de cálcio de 710 mg/L, a solução de AA em NaOH 6% apresentou turvação, o que sugere uma incompatibilidade ou pela formação de alginato de cálcio e/ou formação de hidróxido de cálcio. Nos ensaios de eficiência estática, em comparação com os inibidores de referência (Produto A e Produto B), não foram considerados eficientes na inibição da incrustação. Entretanto, observa-se que no cenário estudado, mistura 1:1 entre a AF, baixo teor de cálcio (710 mg/L) e alta concentração de bário (210 mg/L), e a AM, a solução 1% de AA em NaOH 6%, esboçou uma tentativa de inibição do sulfato de bário, 10% na primeira hora do ensaio. As amostras de quitosana (QF e QS) mostraram-se solúveis somente em meio ácido. Entretanto, foi observado que a amostra QF, durante o preparo da solução, deixava um resíduo insolúvel que se assemelha bastante à quitina, precursora da quitosana, e que é menos solúvel que esta. Foi verificado também que a solução obtida com a QF diferia da solução feita com QS quanto à viscosidade, QS era aproximadamente 240 vezes mais viscosa que QF, sugerindo que a QF estivesse sofrendo uma hidrólise. O ensaio de purificação da amostra ratificou a alteração da QF, pois esta após neutralização não foi regenerada. Cabe ressaltar que a QS após a purificação também apresentou alteração na sua constituição, pois ao se preparar uma solução com a QS purificada a sua viscosidade foi reduzida. As aplicações e características da quitosana dependem do grau de desacetilação (GD). Por isso foram realizadas análises pelas técnicas de infravermelho (IV), RMN 1H e 13C e titulação condutimétrica para determinação do grau de desacetilação das amostras de quitosana. Os resultados obtidos pelas diferentes técnicas não foram concordantes entre si e, no caso do IV, o valor 80 menor que 30% descaracteriza as amostras como sendo quitosana. Das demais técnicas utilizadas, o método potenciométrico apresentou o maior grau de desacetilação (48%), porém durante a titulação quando o pH atingiu 7, verificouse a turvação da solução, provavelmente com neutralização do meio a quitosana precipitou. Nos testes de compatibilidade, à temperatura ambiente, com a água de formação com teor de cálcio de 710 mg/L, foi observada a formação de turvação com as amostras contendo QS a partir de 1000 mg/L, o que indica que a quitosana foi saturada pelos íons cálcio. Na amostra de QF isto não foi observado, provavelmente devido à alteração ocorrida durante a solubilização. Para os ensaios de eficiência estática, foram propostos dois cenários, um com baixo teor de cálcio e maior concentração de bário, e o outro com uma água do mar enriquecida com íons sulfato. No primeiro cenário, as soluções de quitosana (QF e QS) não foram eficientes na inibição da incrustação, quando comparados aos inibidores de referência (Produto A e Produto B). No segundo cenário, a QF na concentração de 100 mg/L de matéria ativa apresentou uma boa eficiência de inibição para precipitação de sais de sulfato de cálcio e sulfato de estrôncio. Devido a baixa solubilidade da quitosana, foram realizados ensaios de preparo de esferas de quitosana, que tiveram sua capacidade de adsorção testada, com e sem a impregnação de inibidores de incrustação, e em ambos os casos não se mostraram eficientes na inibição de incrustação. Os resultados dos ensaios realizados, tanto para a quitosana quanto para o ácido algínico na sua estrutura básica, indicaram que estes não são apropriados para atuarem como inibidores de incrustação. 81 As principais recomendações deste trabalho foram: - Com relação ao ácido algínico: Estudo de novas formulações, aumentando-se o teor do ácido algínico em solução, fazendo um estudo amplo com relação ao efeito da variação de pH na solubilização. Testar as novas formulações quanto a sua eficiência de inibição de incrustação. Cabe ressaltar que o ácido algínico tem grande afinidade pelos metais alcalinos terrosos e pode vir a precipitar com estes. - Com relação à quitosana: Na literatura (50-52) diversos exemplos de reações de funcionalização que modificam a morfologia da quitosana com a agregação de substâncias, como o anidrido succínico e o hidroxibenzopiridínico, são relatados como alternativas para potencializar a propriedade de complexação da quitosana, principalmente de metais pesados. A aplicação da quitosana na forma sólida também é sugerida (53) como encapsuladora e transportadora de diferentes substâncias. Sendo assim, sugiro para continuação dos estudos com a quitosana como agente antiincrustante, que esta sofra alterações que potencialize sua propriedade de complexação, e também explorar a confecção de esferas de quitosana como uma matriz para sistemas de liberação controlada de inibidores de incrustação. 82 VII. REFERÊNCIAS 1. Thomas, J. E. (org.). Fundamentos de Engenharia de Petróleo. 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