SOBRE O FUNCIONAMENTO DAS DISCIPLINAS DE ANÁLISE MATEMÁTICA NA FCT/UNL ESTUDO COMISSIONADO PELO DIRECTOR DA FCT/UNL Manuel L. Esquı́vel R ESUMO . Neste estudo, descreve-se um problema relativo ao funcionamento das disciplinas de análise matemática das licenciaturas em engenharia da FCT/UNL, aponta-se a necessidade de definir objectivos constituindo uma solução para o problema e propõe-se um conjunto de iniciativas a implementar com vista a atingir os objectivos definidos. São ainda apresentados alguns dados que esclarecem aspectos do problema e um modelo matemático que permite, com auxı́lio de simulações, calcular estimativas a três anos para o número de alunos inscritos no conjunto das disciplinas de análise matemática consoante três cenários distintos. Sublinha-se que o problema é muito complexo pelo que só apelando às melhores contribuições de todos e, de cada um dos intervenientes, é que se poderá ter esperança na sua resolução. Acentua-se, também, que o Conselho Directivo deve assumir as suas competências de lı́der dos processos a implementar para resolver o problema, definindo objectivos, apelando às contribuições dos intervenientes para tornar estes objectivos propostos em objectivos comuns e providenciando os meios para a implementação das soluções encontradas. 1. O PROBLEMA O funcionamento das disciplinas de Análise Matemática vem colocando ao Conselho Directivo da FCT/UNL um problema que, apesar das medidas tomadas desde há mais de oito anos, continua a agravar-se. Esse problema pode ser assim descrito: 1. número anormalmente elevado de alunos a frequentar o conjunto de disciplinas de Análise Matemática I e II; 2. número anormalmente elevado de alunos inscritos com algumas das disciplinas de análises matemática em atraso e, muitas vezes, com todas essas disciplinas por realizar. O normal funcionamento da instituição ressente-se com as consequências gravosas e com outros aspectos deste problema. Referimos, apenas, 1. o esforço extraordinário que é requerido aos docentes encarregados dessas disciplinas; 2. o significativo aumento do tempo necessário para o aluno médio concluir a sua licenciatura (7,5 anos em vez dos 5 anos previstos nos planos curriculares em geral); Date: 6 de Junho de 2003. Este trabalho foi muito influenciado por troca de ideias com alguns membros do Conselho Directivo, muito em especial com o Subdirector, Professor Doutor Luı́s Monteiro. 1 2 ESTUDO COMISSIONADO PELO DIRECTOR DA FCT/UNL 3. a sobrecarga nos custos financeiros para acomodar o aumento necessário do número de docentes e 4. a perda de qualidade que naturalmente incide sobre o ensino em geral. É ponto assente que a causa deste problema reside nas duas condicionantes seguintes sendo a primeira a causa determinante e a mais importante. 1. Elevadas taxas de reprovação, com especial relevo para as taxas da Análise Matemática I e da Análise Matemática II. 2. Elevado número de alunos que, tendo uma disciplina do conjunto em atraso ou nela não se inscrevem ou inscrevendo-se não a frequentam. O agravamento deste problema é nı́tido nos dados reportados nas tabelas apresentadas na figuras da secção 4. Por exemplo, na tabela da página 9 pode-se constatar o aumento do número de alunos inscritos pela terceira, quarta ou mais vezes. Com o fim de tentar resolver o problema descrito, o Conselho Directivo decidiu implementar em 1996-1997 a repetição, no semestre par, da Análise Matemática I, tendo-se-lhe seguido a implementação das repetições das outras disciplinas de análise matemática 1 . Tendo-se constatado que a repetição das análises não permitiu melhorar a situação (veja-se a secção 4) é pois imperativo que este problema seja tratado de outra forma. Sublinhamos que dada a complexidade deste problema não é de esperar que uma solução simples, baseada numa visão mecanicista do problema - por exemplo, uma alteração do modo de funcionamento com diminuição do número de alunos por turma ou a passagem a aulas teórico-práticas - possa vir a constituir-se em fonte de progresso significativo. Apresentamos seguidamente uma proposta de um programa abrangente de acções. 2. A T ÁCTICA Aquella Arte militar que ensina como as tropas devem executar os seus movimentos, como devem formar as suas ordens de batalha , e como deve combater, chama-se Tactica; e divide-se em Tactica elementar, e Tactica sublime: esta he relativa aos Exercitos, e aquella he relativa aos corpos particulares, de que elles se compõe. A Tactica sublime divide-se em Strategia e grande Tactica. Strategia he a parte da Tactica sublime, que tem por objecto os movimentos das tropas, que não se referem aos combates senão de huma maneira indirecta, ou mediata, isto he, os movimentos, que as tropas executão, quando se achão ainda a tal distância do inimigo que não podem ataca-lo, nem podem ser atacadas por elle. Estes movimentos chamão-se movimentos strategicos. in José de Sousa Moreira, Principios Geraes de Tactica Elementar, Castrametação e Pequena Guerra, Lisboa, Imprensa Nacional 1834. Propomos seguidamente um programa para a promoção do sucesso escolar nas disciplinas de análise matemática Este programa repousa no princı́pio descrito seguidamente. Na instituição cada órgão, sector, comissão, etc, tem as competências e as responsabilidades associadas que lhe são próprias. Só apelando a estas competências e responsabilidades próprias é que se poderá esperar resultados significativos de um conjunto de medidas abrangentes. 1 Na altura, o Departamento de Matemática exprimiu as suas preocupações quanto ao previsı́vel aumento do número de alunos que se iria verificar com a modalidade das repetições. Um estudo de simulação, efectuado por um conjunto de docentes deste departamento (vejase [Comissão ad-hoc/DM95]), apontava para que com uma probabilidade inferior a 10% se iriam ter entre 4938 e 5351 alunos inscritos no conjuntos das duas primeiras análises em 1998-1999. Veio a verificar-se que nesse ano se inscreveram 5077 alunos. AS DISCIPLINAS DE ANÁLISE MATEMÁTICA NA FCT 3 É responsabilidade, do Conselho Directivo da FCT/UNL, implementar o conjunto de quatro iniciativas descritas nos pontos seguintes. Ponto 1: Propor um objectivo comum pragmático e realista, definindo-o de forma clara para o conjunto dos intervenientes no problema - docentes das disciplinas, alunos, Comissão Pedagógica da Licenciatura, Coordenador da Licenciatura, Conselho Cientı́fico, Conselho Pedagógico, etc. Propomos que este objectivo seja o seguinte: 1. Aumentar gradual e sustentadamente as taxas de escoamento nas disciplinas de Análise Matemática, para atingir um mı́nimo de 60% em todas elas, num prazo máximo de três anos; 2. Concomitantemente, melhorar a preparação escolar, o nı́vel cientı́fico e as capacidades de desempenho dos alunos aprovados; 3. Ter sempre em consideração que a distribuição estatı́stica das classificações finais deve reflectir a não homogeneidade da população e ser obtida como resultado de aplicação de avaliações exigentes, mas de nı́vel adequado, apresentando, em consequência, uma dispersão estatı́stica significativa. Ponto 2: Solicitar, ao conjunto de todos os intervenientes, reflexão sobre o objectivo fixado e, seguidamente, obter, de cada interveniente, propostas relativas aos meios e condições necessárias a cada parte para atingir o objectivo comum. Ponto 3: Negociar e formalizar contratos, com todos os intervenientes, contendo as condições os meios, o objectivo final e os objectivos intercalares, bem como, os prazos inerentes à concretização de cada um destes objectivos. Ponto 4: Acompanhar permanentemente o cumprimento dos contratos estabelecidos por cada um dos intervenientes suscitando, sempre que necessário, as medidas de correcção e controlo para que os objectivos acordados sejam atingidos nos prazos definidos. 3. A E STRAT ÉGIA ... E porque nenhũa regra que tem ho fundamento na parte especulativa ou theorica: pode ser bem praticada e entẽdida: sem noticia daqueles principios em que se funda: porque doutra sorte os que della usassem facilmente se enganarião. in Pedro Nunes - 1537 - Tratado em defensam da arte de marear, Obras, Imprensa Nacional de Lisboa 1945, vol. I, pág. 218. ...1 - Sendo os Exercicios necessarios em todas as Faculdades, para obrigar os Estudantes a darem a attenção, que convem ás Lições, e Explicações dos Professores; e para tirarem dellas o maior fruto, que for possivel; ainda nas Mathematicas são mais necessarios; porque estas são entre todas as Sciencias as que requerem maior attenção, constancia, e esforço do entendimento; e as que mais necessitam da voz do Mestre. 2 - Por isso os Lentes de Mathematica deveráõ distinguir-se na maior diligencia em fazer circular pelos seus Discipulos hum Exercicio vivo, e efficaz, que os anime, e interesse no estudo importante destas Sciencias: Considerando que Ellas estão collocadas em huma esféra de luzes muito sublime, e distante das idéas vulgares, aonde se não póde chegar sem grande trabalho, e applicação: E valendo-se para isso dos meios, que Tenho indicado na Primeira Parte deste Livro, Titulo Quarto, Capitulo Primeiro; e de tudo o mais, que lhes suggerir o zelo, que devem ter do aproveitamento dos seus Discipulos. in Titulo V. Dos Exercicios Literarios do Curso Mathematico, Capitulo I Dos Exercicios em Geral, Estatutos Pombalinos da Universidade de Coimbra (1772) página 197. Com o fim de criar as condições para atingir o objectivo definido acima é imperativo que se tomem em consideração os conhecimentos existentes sobre o problema em apreço. Por exemplo, uma primeira ideia que naturalmente surge é a de identificar a fonte principal do problema como residindo no facto de estarmos face a 4 ESTUDO COMISSIONADO PELO DIRECTOR DA FCT/UNL um ensino de massas; a consequência natural é propor a diminuição do número de alunos por turma. No entanto, de acordo com [Krantz 99][p. 78]: ... There are no studies that show significant improvement in learning performance, or retention when students are taught in small classes rather than large classes. Assim, para além de contribuir para aumentar os custos com o ensino das Análises, esta proposta a ser implementada não iria, provavelmente, contribuir para melhorar a situação. Os problemas associados ao ensino de massas foram objecto de estudos num passado recente, nomeadamente a propósito da reforma, nos finais dos anos 80, do ensino superior no Reino Unido. Em [Leclercq 98][p. 137–159] são passadas em revista algumas das metodologias já experimentadas para lidar com o problema dos grandes números e são referidos os resultados de aplicação dessas metodologias em casos concretos. Por outro lado, no ensino superior os problemas pedagógicos - como lidar com o ensino a grande número de alunos? - não podem ser desligados do contexto cientı́fico em que ocorrem, nomeadamente o tratar-se, neste caso, de disciplinas de Matemática. Também neste contexto há estudos feitos que importa conhecer. Por exemplo, a International Comisssion for Mathematics Instruction (divisão da International Mathematical Union), reunida numa conferência em Singapura em 1998 (veja-se [ICMI 98]) estudou algumas perspectivas do problema dos grandes números no ensino da Matemática. Impõe-se, portanto, estudo e reflexão sobre as abordagens referidas - nestes e noutros documentos - com o fim de delinear estratégias que possam vir a ter alta probabilidade de sucesso. 3.1. Algumas Propostas Concretas. Importa clarificar as responsabilidades próprias de cada um dos intervenientes neste problema. Neste sentido, apresentamos algumas propostas indicando a quem se deve atribuir a responsabilidade da respectiva execução. Docentes As disciplinas de Análise Matemática poderiam ser reestruturadas contemplando os aspectos seguintes. 1. Definição muito clara dos objectivos da disciplina separando os objectivos do conhecimento dos objectivos operativos relacionados com o saber fazer. Sem uma definição clara do que se pretende que aluno seja capaz de saber fazer - análises crı́ticas, cálculos, problemas tipos, etc - o aluno médio não consegue dirigir o seu trabalho de forma produtiva e, ou desiste ou, adopta métodos contraproducentes. Note-se que os objectivos relacionados com o conhecimento serão sempre atingidos de forma muito variável de aluno para aluno. Em consequência, a imposição de nı́veis standard únicos, para este tipo de objectivos, vai conduzir a resultados gerais maus, não permitindo, por outro lado, que os bons alunos se exprimam. 2. Indicação de materiais de estudo adequados a todo o momento para os nı́veis e para as capacidades dos alunos. Note-se que se é certo que o aluno médio saı́do do secundário não domina a linguagem matemática então é AS DISCIPLINAS DE ANÁLISE MATEMÁTICA NA FCT 3. 4. Directivo 1. 2. 3. 2 5 inútil e contraproducente que os materiais de estudo iniciais sejam redigidos de acordo com os cânones de rigor que só um matemático treinado pode apreciar. Redistribuição dos conteúdos programáticos pelas três disciplinas iniciais, contemplando uma curva de aprendizagem menos exigente a princı́pio, na Análise Matemática I e mais exigente no final, isto é, na Análise Matemática III ou IV. Tal permitiria ter em consideração a insuficiente preparação dos alunos à saı́da do secundário, sem que no conjunto se alterassem, substancialmente, os conteúdos programáticos de Análise Matemática nas licenciaturas. Implementação de processos de avaliação que estimulem os alunos a trabalhar fornecendo-lhes auto controlo sobre os trabalhos efectuados. A este propósito limitemo-nos a citar David Bressoud (veja-se ainda a obra [Krantz 99][p. 176–177]). Assessment is the carrot and the stick that you can use to shape student attitudes and study habits and to communicate what you want students to learn from your course. ...If you want students to be able to use definitions and theorems correctly and unambiguously, then have them write assignments where this is required. If there are basic skills that you want students to master, then test these skills and set the bar for as passing grade as high as you feel is needed, whether that be 80%, 90% or 100%. Assess early; assess often. In my experience students react positively to this. They appreciate the feedback and direction it gives to them. ...There is nothing wrong with putting probing challenging questions in your examinations provided that this is nothing new and that the students have been given the means to tackle such questions. There lies the nub of the difficulty. Implementação de regras de controlo de fluxos do tipo: um aluno deve estar sempre inscrito nas disciplinas em atraso. Diferenciação do tipo de aulas/apoio à aprendizagem segundo o número de inscrições na disciplina em que o aluno se encontra. Por exemplo: só em casos excepcionais devidamente justificados, por motivos de saúde por exemplo, deveria ser permitido a um aluno em terceira inscrição, quarta inscrição, etc, ter acesso à frequência das aulas leccionadas nas condições usuais para alunos de primeira e segunda inscrição. Em contrapartida, os alunos em terceira inscrição, quarta inscrição, etc, deveriam ter meios de apoio à sua preparação para exame (planificação personalizada e semanal do trabalho, sessões de problemas com avaliação para preparação de exames, gravações de aulas de resolução de problemas, acesso a tutores de acompanhamento de progresso e avaliação, etc). Apoio à preparação de meios de auxı́lio à inserção nas matemáticas de nı́vel universitário. Damos como exemplo a tradução para lı́ngua portuguesa e/ou a adaptação para o nosso contexto de obras como as seguintes: [Miller 91a], [Miller 91b] e [Miller 91c]. Ou ainda, tradução e adaptação das metodologias de preparação para as matemáticas superiores que se podem encontrar na página da Universidade de Missouri-Columbia 2 . http://www.math.missouri.edu/escgi/math10test.cgi 6 ESTUDO COMISSIONADO PELO DIRECTOR DA FCT/UNL 4. O S D ADOS Nesta secção apresentamos algumas tabelas referidas na secção 1 com vista a melhor esclarecer as afirmações feitas. Os dados com que estas tabelas foram construı́das foram retirados do MIAU-FCT/UNL e, em certos casos, os dados foram fornecidos pela docente encarregada das duas primeiras análises. Por vezes, os dados relativos a anos mais recuados, constantes em tabelas diferentes, não são exactamente coerentes. Tal fica a dever-se ao método que foi usado pelo Serviço de Informática da FCT/UNL para a recuperação da informação relativa a esses anos em que esta informação não foi lançada no MIAU pelos docentes. Nas tabelas desta secção, usaram-se as seguintes denominações. • Escoamento: a rácio dada pelo número dos alunos aprovados sobre o número dos alunos inscritos; • Aprovação: a rácio dada pelo número dos alunos aprovados sobre o número dos alunos avaliados. AMI Anos 93-94 94-95 95-96 96-97 97-98 1º 97-98 2º 97-98 1º+2º 98-99 1º 98-99 2º 98-99 1º+2º 99-00 1º 99-00 2º 99-00 1º+2º 00-01 1º 00-01 2º 00-01 1º+2º 01-02 1º 01-02 2º 01-02 1º+2º 02-03 1º Inscritos 1168 1158 1481 1679 1598 1380 2978 1854 1674 3528 1806 1612 3418 2066 1176 3242 1576 783 2359 1777 Avaliados 845 852 1137 1286 1103 863 1966 1198 1074 2272 977 881 1858 1346 784 2130 1305 568 1873 1370 Aprovados Escoamento 638 55% 337 29% 564 38% 702 42% 198 12% 385 28% 583 20% 168 9% 466 28% 634 18% 373 21% 277 17% 650 19% 475 23% 357 30% 832 26% 454 29% 93 12% 547 23% 386 22% Aprovação 76% 40% 50% 55% 18% 45% 30% 14% 43% 28% 38% 31% 35% 35% 46% 39% 35% 16% 29% 28% F IGURA 1. Os resultados de Análise Matemática I Os resultados para a Análise Matemática I permitem as conclusões seguintes. • Não se constata melhoria sensı́vel das taxas de aprovação ou das taxas de escoamento quando se compara com os quatro anos lectivos anteriores (93-94 a 96-97) em que não houve repetições. • Ao longo do tempo as repetições não conduziram a uma melhoria sensı́vel das taxas. Pode, de facto, observar-se uma ligeira tendência para a deterioração das taxas de aprovação. Os resultados para Análise Matemática II permitem as conclusões seguintes. AS DISCIPLINAS DE ANÁLISE MATEMÁTICA NA FCT 7 AMII Anos 93-94 94-95 95-96 96-97 97-98 98-99 1º 98-99 2º 98-99 1º+2º 99-00 1º 99-00 2º 99-00 1º+2º 00-01 1º 00-01 2º 00-01 1º+2º 01-02 1º 01-02 2º 01-02 1º+2º 02-03 1º Inscritos Avaliados 812 1155 1351 956 856 693 1549 711 872 1583 620 736 1356 595 955 1550 763 Aprovados 525 791 1103 729 561 564 1125 441 623 1064 443 573 1016 489 762 1251 661 Escoamento 356 352 507 342 282 366 648 199 277 476 275 350 625 228 117 345 445 Aprovação 44% 30% 38% 36% 33% 53% 42% 28% 32% 30% 44% 48% 46% 38% 12% 22% 58% 68% 45% 46% 47% 50% 65% 58% 45% 44% 45% 62% 61% 62% 47% 15% 28% 67% F IGURA 2. Os resultados de Análise Matemática II. • O ano 2001-2002 teve resultados excepcionalmente baixos. • Sob reserva da excepção feita no ponto anterior, constata-se uma estabilização das taxas de aprovação ou das taxas de escoamento relativamente aos quatro anos lectivos anteriores (93-94 a 96-97) em que não houve repetições. • Não é possı́vel distinguir qualquer tendência marcada nos resultados, ao longo das repetições. AM-III 2002/2003 1º Sem 2º Sem Insc 587 513 Apro 333 Rep 100 Fal 101 Ex 53 Au 0 2001/2002 1º Sem 2º Sem 789 353 417 75 163 177 205 101 0 0 0 0 4 0 71% 30% 53% 21% 2000/2001 1º Sem 2º Sem 736 490 386 137 134 148 216 204 0 0 0 0 0 1 74% 48% 52% 28% 1999/2000 1º Sem 2º Sem 656 521 317 178 101 242 0 0 339 0 48% 64% 48% 34% 1º Sem 2º Sem 727 0 461 0 63% 0 0 0 266 0 63% 0 1998/1999 Lançar A p r o v a ç ã o Escoamento 0 69% 57% F IGURA 3. Os resultados de Análise Matemática III. Os resultados para a Análise Matemática III, obtidos no MIAU-FCT/UNL, permitem as conclusões seguintes. • O valor médio das taxas de aprovação da disciplina no semestre ı́mpar foi de 65%. Na repetição, a ocorrer no semestre par, este valor foi de 47%. 8 ESTUDO COMISSIONADO PELO DIRECTOR DA FCT/UNL • Para a disciplina realizada no semestre ı́mpar, é apreciável uma melhoria das taxas de aprovação. Para a repetição que é realizada no semestre par os resultados pioram significativamente. • Para a disciplina realizada no semestre ı́mpar, é menos apreciável a melhoria das taxas de escoamento. Para a repetição, realizada no semestre par, o valor médio das taxas de escoamento piora (28% contra 55%). AM-IV 2002/2003 1º Sem 2º Sem Insc 107 297 Apro 38 Rep 25 Fal 39 Ex 5 Au 0 Lançar A p r o v a ç ã o Escoamento 0 56% 36% 2001/2002 1º Sem 2º Sem 174 440 34 215 88 125 52 68 0 30 0 0 0 2 28% 58% 20% 49% 2000/2001 1º Sem 2º Sem 298 407 117 255 76 67 104 85 0 0 0 0 1 0 60% 79% 39% 63% 1999/2000 1º Sem 2º Sem 236 385 93 175 16 73 127 132 0 0 0 0 0 5 85% 69% 39% 45% 1998/1999 1º Sem 2º Sem 0 422 0 226 0 0 0 0 0 196 54% 54% F IGURA 4. Os resultados de Análise Matemática IV. Os resultados para a Análise Matemática IV, obtidos no MIAU-FCT/UNL, permitem as conclusões seguintes. • O valor médio das taxas de aprovação na disciplina no semestre par foi de 65%. Na repetição, a ocorrer no semestre ı́mpar, este valor foi de 57%. • Para a disciplina realizada no semestre par, não é perceptı́vel uma qualquer tendência nas taxas de aprovação tendo-se verificado oscilações de grande amplitude. Para a repetição realizada no semestre ı́mpar os resultados pioram. • Não se constata variação apreciável nas taxas de escoamento. Para a repetição realizada no semestre ı́mpar o valor médio das taxas de escoamento piora (33% contra 53%). 4.1. A evolução do número de alunos consoante o número de inscrições. Na tabela relativa a esta secção pode observar-se que corresponde já a um valor médio de 41% a percentagem de alunos inscritos três ou vezes em Análise Matemática I, sendo o correspondente valor para a Análise Matemática II de 31%. Estes números são uma medida não só do esforço imposto aos docentes mas também do desaproveitamento desse esforço por parte dos discentes. 5. U M MODELO Nesta secção apresentamos um modelo e os correspondentes resultados de aplicação, obtidos por simulações efectuadas com o objectivo de estimar, para o prazo de três anos, o número de alunos inscritos nas diferentes disciplinas e, no caso de estarmos a considerar repetições, o número de alunos inscritos nas edições semestrais destas disciplinas. AS DISCIPLINAS DE ANÁLISE MATEMÁTICA NA FCT Ano 2002-2003 2º Semestre 2001-2002 2º Semestre 2000-2001 2º Semestre 1999-2000 2º Semestre 1998-1999 2º Semestre 1997-1998 2º Semestre 1996-1997 Inscritos 1777 1095 1576 784 2038 1176 1822 1612 1902 * 1614 * 1686 2002-2003 2º Semestre 2001-2002 2º Semestre 2000-2001 2º Semestre 1999-2000 2º Semestre 763 845 595 955 619 736 711 878 120 380 333 475 248 443 368 333 329 138 156 272 149 121 113 243 314 327 106 208 222 172 230 302 41% 39% 18% 22% 36% 23% 32% 34% 31% A M - I I I 2002-2003 2º Semestre 2001-2002 2º Semestre 2000-2001 2º Semestre 1999-2000 2º Semestre 587 515 788 353 736 490 656 521 145 384 404 197 438 258 416 166 230 39 188 82 15 135 162 230 212 92 196 74 283 97 78 125 36% 18% 25% 21% 38% 20% 12% 24% 24% A M - I V 2002-2003 2º Semestre 2001-2002 2º Semestre 2000-2001 2º Semestre 1999-2000 2º Semestre 107 300 174 440 298 407 236 385 35 139 94 242 148 243 90 210 43 79 45 96 72 71 79 78 29 82 35 102 78 93 67 97 27% 27% 20% 23% 26% 23% 28% 25% 25% AM-I AM-II 1ª Insc. 2ª Insc. 3 ª + 4 ª + . . . 906 45 826 4 650 441 733 49 794 7 438 339 1016 4 1018 2 654 520 891 490 441 76 760 776 1063 419 420 * * * 836 424 354 * * * 868 374 444 9 % 46% 40% 50% 43% 50% 44% 24% 48% 22% * 22% * 26% 41% F IGURA 5. A variação do excesso de inscrições. 5.1. Os resultados. Nas tabelas seguintes apresentamos os resultados para os quantis da distribuição do número de alunos, obtida por simulação segundo regras simples que são explicitadas na subsecção 5.3. Primeiramente o caso em que se consideram as repetições. 10 ESTUDO COMISSIONADO PELO DIRECTOR DA FCT/UNL 1 % 5% 10% 20% 50% 80% 90% 95% 99% AMI-1 2089 2150 2186 2231 2328 2430 2484 2523 2600 AMI-2 1631 1696 1733 1781 1876 1980 2033 2078 2160 AMII-1 739 807 854 908 1024 1158 1226 1283 1386 AMII-2 642 704 742 797 909 1027 1089 1138 1234 AMIII-1 396 430 453 485 569 664 710 744 806 AMIII-2 128 143 153 167 198 233 252 268 296 AMIV-1 360 389 407 432 486 543 572 594 639 AMIV-2 284 310 325 346 387 433 456 476 513 Total 6268 6628 6855 7147 7775 8467 8822 9104 9633 Um exemplo de utilização da primeira tabela é o seguinte. Com uma probabilidade de 80%(= 100% − (10% + 10%)), o número de alunos inscritos em Análise Matemática I no primeiro semestre estará no intervalo [2186, 2484] e o número total de alunos nas análises estará no intervalo [6855, 8822]. Na tabela seguinte o caso sem repetições supondo-se precedências estritas, isto é, só se inscrevem numa dada análise os alunos que tiverem obtido a aprovação na análise anterior ou que estejam a ingressar na FCT pela primeira vez. 1 % 5% 10% 20% 50% 80% 90% 95% 99% AMI-1 2953 3030 3077 3143 3288 3438 3512 3569 3668 AMII-2 1104 1186 1232 1295 1421 1553 1617 1671 1761 AMIII-1 631 690 725 778 892 1009 1067 1114 1180 AMIV-2 487 530 553 587 658 731 770 800 863 Total 5175 5435 5587 5802 6259 6730 6966 7154 7473 Na tabela seguinte o caso sem repetições mas supondo-se que são admitidos a frequentar uma dada análise não só os aprovados na anterior mas também uma percentagem correspondendo aos alunos que obtiveram frequência. Pressupõe-se, nesta simulação, que aproximadamente 50 % dos alunos satisfaçam as condições necessárias para frequentarem as disciplinas mais avançadas sem terem obtido a aprovação nas atrasadas. 1% AMI-1 2954 AMII-2 2212 AMIII-1 1246 AMIV-2 967 Total 7379 5% 3029 2305 1329 1047 7710 10% 3077 2359 1387 1090 7914 20% 3142 2435 1473 1152 8201 50% 3285 2613 1656 1279 8833 80% 3435 2805 1840 1415 9495 90% 95% 99% 3510 3563 3656 2893 2961 3069 1921 1985 2081 1485 1539 1641 9808 10048 10447 5.2. Uma conclusão. Os resultados apresentados acima permitem muitas leituras e conclusões. Observe-se que o modelo utilizado não incorpora, entre outros factos observados na realidade, o dos alunos não se inscreverem nas análises que têm em atraso. Em consequência, a principal utilidade deste modelo é permitir estabelecer uma comparação entre diferentes regimes de funcionamento das análises. Na tabela seguinte, que apresentamos para melhor comparação, transcrevem-se os limites superiores e inferiores com uma probabilidade de 80 %, para o número total de inscritos nas disciplinas de análise matemática, de acordo com os três AS DISCIPLINAS DE ANÁLISE MATEMÁTICA NA FCT 11 cenários distintos explorados na secção anterior. Note-se que, em qualquer dos três cenários, não consideramos haver alteração substancial das taxas de escoamento observadas até agora, e se supõe que os alunos se inscrevem sempre nas disciplinas em atraso. Total de Inscritos nas Análises c/ prob 80% Lim. Inf. Lim. Sup. S/ repetições c/ precedências estritas 5587 6966 C/ repetições 6855 8822 S/ repetições c/ precedências frouxas 7914 9808 Fica claro, tal como já fora observado em 1995, que o cenário com menor número de alunos é o do funcionamento sem repetições com com precedências estritas e que o cenário sem repetições mas com precedências frouxas, isto é, em que se permite que alunos frequentem as análises avançadas sem obterem a aprovação nas análises matemáticas precedentes, fará aumentar muito o número de alunos. O cenário das repetições tem um número de alunos intermédio. Sublinha-se ainda que as diferenças entre os números totais de alunos para os três cenários escolhidos são da ordem do milhar de inscrições, isto é, são muito significativas. Com efeito, com quarenta alunos por turma prática, mil alunos correspondem a 25 turmas, ou seja, nas condições actuais, a pelo menos oito docentes. 5.3. Descrição do modelo. O modelo tem como variáveis (Eijn )n∈{1,...,N } com i = 1, . . . , 4, j = 1, 2 em que para n, i, j fixos n representa o número de alunos inscritos na disciplina Análise Matemática • Ei1 i no ano n. n representa o número de alunos inscritos na repetição da disciplina Análise • Ei2 Matemática i no mesmo ano n. Os parâmetros do modelo são as taxas de escoamento (aij ) com i = 1, . . . , 4, j = 1, 2 tendo-se para cada i, j fixos: aij = número de alunos aprovados número de alunos inscritos na disciplina Análise Matemática i em que j = 2 se se tratar de uma repetição e j = 1 no caso contrário. Também consideramos como parâmetro do modelo o número de alunos admitidos a frequentar o primeiro ano denominado nc. Utilizamos como notação: N C = (nc, 0, . . . , 0)t . 12 ESTUDO COMISSIONADO PELO DIRECTOR DA FCT/UNL Para a transição de alunos entre disciplinas, supomos serem verificadas as regras naturais que representamos nas fórmulas seguintes. n n−1 =(1) nc + (1 − a12 )E12 E11 n n E12 =(2) (1 − a11 )E11 n n n E21 =(3) a11 E11 + (1 − a22 )E22 (1) n n−1 n−1 E22 =(4) a12 E12 + (1 − a21 )E21 n n−1 n−1 E31 =(5) a21 E21 + (1 − a32 )E32 n n E32 =(6) (1 − a31 )E31 n n n E41 =(7) a31 E31 + (1 − a42 )E42 n n−1 n−1 E42 =(8) a32 E32 + (1 − a41 )E41 . Em que se tem a justificação destas relações dada com dois exemplos seguidamente. (1) O número de alunos inscritos na edição normal de Análise Matemática I à data n é a soma do número de alunos que ingressaram nesse ano com o número de alunos inscritos à data n − 1 na repetição que não aprovaram. (2) O número de alunos inscritos na edição repetição de Análise Matemática I à data n é igual ao número de alunos inscritos à data n na edição normal da disciplina que não aprovaram3 . Tendo como objectivo exprimir os efectivos à data n como resultado de uma transformação linear (de facto, trata-se de uma transformação afim) dos efectivos à data n − 1 podem-se efectuar algumas substituições de umas fórmulas noutras no série de fórmulas 1. Assim sendo, obtem-se o seguinte. n n−1 = N C + (1 − a12 )E12 E11 n n−1 E12 = (1 − a11 )N C + (1 − a11 (1 − a12 )E12 n n−1 n−1 E21 = a11 N C + (a11 (1 − a12 ) + a12 (1 − a22 )) E12 + (1 − a22 )(1 − a21 )E21 n n−1 n−1 E22 = a12 E12 + (1 − a21 )E21 n n−1 n−1 E31 = a21 E21 + (1 − a32 )E32 n n−1 n−1 E32 = (1 − a31 ) a21 E21 + (1 − a31 )(1 − a32 )E32 n n−1 n−1 n−1 E41 = a31 a21 E21 + (a31 (1 − a32 ) + a32 (1 − a42 )) E32 + (1 − a42 )(1 − a41 )E41 n n−1 n−1 E42 = a32 E32 + (1 − a41 )E41 . Em consequência, se for n n n n n n n n , E12 , E21 , E22 , E31 , E32 , E41 , E42 ), E n = (E11 3 Note-se que este modelo supõe que um aluno está sempre inscrito na disciplina de Análise Matemática em que ainda não obteve aprovação. Na realidade isto não acontece. AS DISCIPLINAS DE ANÁLISE MATEMÁTICA NA FCT 13 virá, finalmente, que E n = AE n−1 + N˜C em que, pondo ρij := 1 − aij , vem que a matriz A é dada por: 0 ρ12 0 0 0 ρ11 ρ12 0 a11 ρ12 + a12 ρ22 ρ22 ρ21 ρ21 a12 0 A= 0 a21 0 0 0 0 0 0 a31 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 ρ32 0 ρ31 ρ32 0 0 ρ31 a21 0 0 a31 ρ32 + a32 ρ42 ρ42 ρ41 ρ41 0 0 a32 0 0 0 0 0 0 0 0 e o vector N˜C é dado por N˜C = (nc, (1 − a11 ) nc, a11 nc, 0 . . . , 0)t . 5.4. Protocolo para as simulações. Pretende-se determinar estimativas para os números de alunos inscritos nas disciplinas de análise matemática no ano lectivo de 2005/2006, isto é num horizonte a três anos. Consideram-se como efectivos iniciais os alunos inscritos em 2002/2003 isto é: E 1 := (1777, 1087, 763, 844, 587, 513, 107, 297) , somando 5975 inscrições. Consideram-se como taxas de escoamento as que podem ser observadas na secção sobre os dados e determinam-se os correspondentes valores médios E[aij ] e desvios padrões σ[aij ]. Para efeitos de simulação considera-se que aij é aleatória e está uniformemente distribuı́da no intervalo [E[aij ] − σ[aij ], E[aij ] + σ[aij ]] . Note-se que em consequência a matriz A é aleatória. Considera-se ainda que nc é aleatório e uniformemente distribuı́do no intervalo [950,1050]. Determina-se E 2 = AE 1 + N˜C seguidamente E 3 = AE 2 + N˜C e, finalmente, E 4 = AE 3 + N˜C, obtendose assim uma observação (ou amostra) dos efectivos três anos após a data inicial escolhida. Efectuaram-e 10000 simulações obtendo-se assim uma série de 10000 amostras que permite descrever a variável aleatória vectorial E 4 que tem como componentes os efectivos previstos nas disciplinas de Análise Matemática no ano 2005/2006. Estudou-se sumariamente a distribuição empı́rica de E 4 e determinaram-se os quantis empı́ricos desta variável. Procedeu-se de igual modo para o modelo das disciplinas de análise matemática mas sem repetições. Os resultados e as correspondentes conclusões foram apresentados nas subsecções 5.1 e 5.2. 14 ESTUDO COMISSIONADO PELO DIRECTOR DA FCT/UNL R EFER ÊNCIAS [Comissão ad-hoc/DM95] Comissão ad-hoc JTM, BL, JPL, AS, MLE, Modelos Matemáticos para a Evolução do Número de Alunos em AM1 e AM2, Departamento de Matemática FCT/UNL, 26 de Junho de 1995. [ICMI 98] ICMI, On the Teaching and Learning of Mathematics at University Level, Proceedings of the ICMI Study Conference, 1998. [Krantz 99] S G. Krantz, How to Teach Mathematics, second edition, American Mathematical Society 1999. [Leclercq 98] D. Leclercq, Pour une Pédagogie Universitaire de Qualité, Mardaga 1998. [Miller 91a] B. Miller, Bob Miller’s Pre-Calc Helper, McGraw-Hill 1991. [Miller 91b] B. Miller, Bob Miller’s Calc I Helper, McGraw-Hill 1991. [Miller 91c] B. Miller, Bob Miller’s Calc II Helper, McGraw-Hill 1991.