Vinicius de Moraes
Vinicius de Moraes
Vinicius – 1ª fase (antes da Canção Popular):
• Neo-simbolista;
• Místico;
• Formal;
• Traz o tema da religiosidade;
• Exemplos: O Caminho para a Distância (1933),
Forma e Exegese (1935), etc.
Soneto da Separação
De repente do riso fez-se o pranto
Silencioso e branco como a bruma
E das bocas unidas fez-se a espuma
E das mãos espalmadas fez-se o espanto.
De repente da calma fez-se o vento
Que dos olhos desfez a última chama
E da paixão fez-se o pressentimento
E do momento imóvel fez o drama.
De repente, não mais que de repente
Fez-se de triste o que se fez amante
E de sozinho o que se fez contente
Fez-se do amigo próximo o distante
Fez-se da vida uma aventura errante
De repente, não mais que de repente.
Os Acrobatas
Subamos!
Subamos acima
Subamos além, subamos
Acima do além, subamos!
Com a posse fisica dos braços
Inelutavelmente galgaremos
O grande mar de estrelas
Através de milênios de luz.
Subamos!
Como dois atletas
O rosto petrificado
No pálido sorriso do esforço
Subamos acima
Com a posse física dos braços
E os músculos desmesurados
Na calma convulsa da ascensão.
(...)
Num último impulso
Libertados do espírito
Despojados da carne
Nós nos possuiremos.
E morreremos
Morreremos alto, imensamente
IMENSAMENTE ALTO.
Vinicius (no caminho da mudança) – 2ª fase:
• Forte Sensualidade;
• Oscila entre as angústias de um pecador e desejo
libertino;
• Linguagem direta e ardente;
• Amor na sua condição carnal;
• Engajamento – poesia social
• Exemplos: Cinco Elegias (1943), Poemas, Sonetos e
Baladas, etc.
A Rosa de Hiroshima
Pensem nas crianças
Mudas telepáticas
Pensem nas meninas
Cegas inexatas
Pensem nas mulheres
Rotas alteradas
Pensem nas feridas
Como rosas cálidas
Mas, oh, não se esqueçam
Da rosa da rosa
Da rosa de Hiroshima
A rosa hereditária
A rosa radioativa
Estúpida e inválida
A rosa com cirrose
A anti-rosa atômica
Sem cor sem perfume
Sem rosa sem nada
Operário em Construção
“Era ele que erguia casas
Onde antes só havia chão.
Como um pássaro sem asas
Ele subia com as casas
Que lhe brotavam da mão.
Mas tudo desconhecia
De sua grande missão:
Não sabia, por exemplo
Que a casa de um homem é um
templo
Um templo sem religião
Como tampouco sabia
Que a casa que ele fazia
Sendo a sua liberdade
Era a sua escravidão.
De fato, como podia
Um operário em construção
Compreender por que um tijolo
Valia mais do que um pão?
Tijolos ele empilhava
Com pá, cimento e esquadria
Quanto ao pão, ele o comia...
Mas fosse comer tijolo!
E assim o operário ia
Com suor e com cimento
Erguendo uma casa aqui
Adiante um apartamento
Além uma igreja, à frente
Um quartel e uma prisão:
Prisão de que sofreria
Não fosse, eventualmente
Um operário em construção.
Mas ele desconhecia
Esse fato extraordinário:
Que o operário faz a coisa
E a coisa faz o operário.
De forma que, certo dia
À mesa, ao cortar o pão
O operário foi tomado
De uma súbita emoção
Ao constatar assombrado
Que tudo naquela mesa
– Garrafa, prato, facão –
Era ele quem os fazia
Ele, um humilde operário,
Um operário em construção.
Olhou em torno: gamela
Banco, enxerga, caldeirão
Vidro, parede, janela
Casa, cidade, nação!
Tudo, tudo o que existia
Era ele quem o fazia
Ele, um humilde operário
Um operário que sabia
Exercer a profissão
(...)”
O Caminho para a Canção Popular:
• Orfeu da Conceição (1956)
Cenário: Oscar Niemeyer
Música: Vinicius e Tom Jobim
Parceiros durante a Vida:
• Tom Jobim – A Felicidade, Garota de Ipanema,
Chega de Saudade, Insensatez, Eu Sei Que Vou te
Amar, etc.
• Carlos Lyra – Você e Eu, Coisa Mais Linda, A
Primeira Namorada, Nada Como te Amar, etc.
• Baden Powell – Samba em Prelúdio, Berimbau,
Canto de Ossanha, Samba da Benção, etc.
• Francis Hime;
• Edu Lobo;
• Toquinho – Tarde em Itapuã, entre outras;
Chega de Saudade
Tom Jobim / Vinicius de
Moraes
Vai minha tristeza
E diz a ela que sem ela não
pode ser
Diz-lhe numa prece
Que ela regresse
Porque eu não posso mais
sofrer
Chega de saudade
A realidade é que sem ela
Não há paz não há beleza
É só tristeza e a melancolia
Que não sai de mim
Não sai de mim
Não sai
Mas, se ela voltar
Se ela voltar que coisa
linda!
Que coisa louca!
Pois há menos peixinhos a
nadar no mar
Do que os beijinhos
Que eu darei na sua boca
Dentro dos meus braços, os
abraços
Hão de ser milhões de abraços
Apertado assim, colado assim,
calado assim,
Abraços e beijinhos e carinhos
sem ter fim
Que é pra acabar com esse
negócio
De você viver sem mim
Não quero mais esse negócio
De você longe de mim
Vamos deixar esse negócio
De você viver sem mim
Berimbau
Vinicius de Moraes / Baden Powell
Quem é homem de bem não trai
O amor que lhe quer seu bem
Quem diz muito que vai não vai
Assim como não vai, não vem
Quem de dentro de si não sai
Vai morrer sem amar ninguém
O dinheiro de quem não dá
É o trabalho de quem não tem
Capoeira que é bom não cai!
E se um dia ele cai, cai bem!
Capoeira me mandou
Dizer que já chegou
Chegou para lutar
Berimbau me confirmou
Vai ter briga de amor
Tristeza camará...
Consolação
Vinicius de Moraes / Baden Powell
Se não tivesse o amor
Se não tivesse essa dor
E se não tivesse o sofrer
E se não tivesse o chorar
Melhor era tudo se acabar
Eu amei, amei demais
O que eu sofri por causa do amor
Ninguém sofreu
Eu chorei, perdi a paz
Mas o que eu sei
É que ninguém nunca teve mais
Mais do que eu
Canto de Ossanha
Vinicius de Moraes / Baden
Powell
O homem que diz "dou“ não dá
Porque quem dá mesmo não diz
O homem que diz "vou“ não vai
Porque quando foi já não quis
O homem que diz "sou” não é
Porque quem é mesmo "é“ não sou
O homem que diz "tou“ não tá
Porque ninguém tá quando quer
Coitado do homem que cai
No canto de Ossanha traidor!
Coitado do homem que vai
Atrás de mandinga de amor...
Vai! Vai! Vai! Vai!
Não vou...
Que eu não sou ninguém de ir
Em conversa de esquecer
A tristeza de um amor
Que passou
Não! Eu só vou se for prá ver
Uma estrela aparecer
Na manhã de um novo amor...
Amigo sinhô, Saravá
Xangô me mandou lhe dizer
Se é canto de Ossanha, não vá!
Que muito vai se arrepender
Pergunte pr'o seu Orixá
O amor só é bom se doer
Vai! Vai!
Amar!
Vai! Vai!
Sofrer!
Vai! Vai!
Chorar!
Vai! Vai!
Dizer!...
Vai! Vai!
Vai! Vai!
Vai! Vai!
Vai! Vai!
Samba da Benção
Vinicius de Moraes / Baden
Powell
É melhor ser alegre que ser
triste
Alegria é a melhor coisa que
existe
É assim como a luz no coração
Mas pra fazer um samba com
beleza
É preciso um bocado de tristeza
É preciso um bocado de tristeza
Senão, não se faz um samba não
Fazer samba não é contar piada
E quem faz samba assim não é de
nada
O bom samba é uma forma de
oração
Porque o samba é a tristeza
que balança
E a tristeza tem sempre uma
esperança
A tristeza tem sempre uma
esperança
De um dia não ser mais triste
não
Ponha um pouco de amor numa
cadência
E vai ver que ninguém no mundo
vence
A beleza que tem um samba, não
Porque o samba nasceu lá na
Bahia
E se hoje ele é branco na
poesia
Se hoje ele é branco na poesia
Ele é negro demais no coração
Download

Vinicius de Moraes