Universidade de Brasília Programa de Graduação em Comunicação Disciplina: Estética e Cultura de Massa (145548) Professor: Dr. Gustavo de Castro e Silva (1009478) Mestranda: Verônica Brandão (11/0022505) Discente: Helena Cusinato Santos (09/0007115) Monstro: Dr. Jekyll and Mr. Hyde Data: 24/10/2011 Segunda-feira (14h - 17h40) DR. JEKYLL E SR. HYDE: Análise do Monstro Interior de Cada Ser Humano Nome: Helena Cusinato Santos - estudante de Publicidade e Propaganda na Universidade de Brasília - cursa atualmente o quarto semestre de acordo com o fluxo acadêmico, apesar de ter entrado na universidade há seis semestres – e-mail: [email protected] Resumo A famosa história de Dr. Jekyll e Sr. Hyde foi criada e apresentada em um livro que recebe o nome de The Strange Case of Dr. Jekyll and Mr. Hyde, ou, em português, O Médico e o Monstro. A obra, escrita por Robert Louis Stevenson, lançada no ano de 1886, narra a trama de um advogado que começa a analisar coincidências entre a vida de seu amigo, renomado médico da cidade de Londres, e do sociopata Edward Hyde, abordando temas psicológicos, principalmente voltados para múltiplas personalidades. Desde o ano em que a obra foi primeiramente divulgada, o enredo tem rendido inúmeras adaptações para o cinema, televisão, quadrinhos, entre outros, devido a seu enorme valor cultural e a ótima receptividade perante o público. Palavras-chave: Monstro; ciência; psicologia; mistério. O artigo aqui apresentado pretende analisar a obra de Robert Louis Stevenson, bem como suas adaptações cinematográficas e os fatores contribuintes para a construção do sucesso da trama. Para tal, estudos sobre o autor, o contexto e época em que o livro foi elaborado, e os impactos que teve na sociedade, bem como as modificações marcantes dentro de cada adaptação serão apresentados no presente documento para facilitar e guiar a compreensão do tema abordado, de forma que a análise proposta possa atingir o sucesso almejado. O AUTOR Figura 1 – Robert Louis Stevenson: Retrato desde a infância até a maturidade (Fonte: http://www.robert-louisstevenson.org/life) O escritor da narrativa aqui analisada nasceu em Edimburgo, capital da Escócia, no ano de 1850. Filho de um engenheiro civil, Robert Louis Stevenson sempre foi estimulado a seguir a carreira de seu pai. No entanto, sua debilidade física, já que sofria de tuberculose desde pequeno, e sua inclinação artística foram fatores que o afastaram da profissão que lhe havia sido planejada. Ainda assim, o autor chegou a cursar a faculdade de engenharia, apesar de nunca ter se motivado para o ofício. Já no início de seu período universitário, Stevenson começou a escrever para o jornal da faculdade e acabou encontrado na escrita uma verdadeira paixão. No entanto, antes de se decidir por tornar escritor, se comprometeu a estudar Direito, sem que exercesse, também, tal profissão. Página | 2 Devido a grande sentimento de deslocamento dentro do ambiente familiar, Robert Louis Stevenson se mudou para Londres em 1873, onde passou a frequentar salões literários e se engajar cada vez mais com a arte que seguiu como carreira. Em 1876 o autor conheceu uma mulher norte-americana chamada Fanny, onze anos mais velha que ele, já separada e com dois filhos. Estabeleceram-se, então, na Califórnia em 1878, onde se casaram em 1880. A seguir, o autor voltou para a Inglaterra trazendo sua esposa e um enteado, só retornando aos Estados Unidos no ano de 1887, após a morte de seu pai. A tuberculose acompanhou Robert Louis por muitos anos de sua vida. Mesmo após internar-se para tratamentos na cidade de Davos, na Suíça, e intensificar os cuidados médicos nos Estados Unidos, o escritor vem a falecer por conta da doença em dezembro do ano de 1894, em Ápia, nas Ilhas Samoa, onde havia se estabelecido definitivamente com a família após um veleiro pelas ilhas do Pacífico Sul. Considera-se que Robert Louis Stevenson tenha atingido a fama literária ao escrever a obra aqui prioritariamente estudada, The Strange Case of Dr. Jekyll and Mr. Hyde. No entanto, o livro que retrata sua jornada para a Califórnia, The Amateur Emigrant, também foi considerado uma de suas melhores obras. O autor, que em vida foi conhecido com escritor renomado e respeitado, tornou-se desvalorizado com o advento da literatura moderna, sendo considerado por alguns críticos como quase pertencente a uma segunda classe literária, restrito a obras infantis e de terror. No entanto, sua obra passou por inúmeras reavaliações e hoje sua contribuição para a literatura é novamente bastante valorizada, tendo sua importância reconhecida. Robert Louis Stevenson é um dos autores mais traduzidos e mais lidos no mundo, de acordo com o Index Translationum, organizado pela UNESCO. O ENREDO Página | 3 A obra de Robert Louis Stevenson é marcada por mistério e terror, bem como a maioria de suas adaptações. O livro, na época em que foi lançado, foi considerado bastante assustador, ao usar de artifícios literários que, até então, eram considerados quase inéditos. A trama nos apresenta uma cidade de Londres escura, coberta por um nevoeiro intenso mesmo durante o dia. A cidade é marcada por uma enorme onda de ataques e vive sob o terror provocado por um homem desconhecido. O advogado Gabriel Utterson, então, resolve investigar a vida de tal personagem, apresentado como Edward Hyde. Em suas investigações, o advogado se atenta para determinadas coincidências entre episódios envolvendo Sr. Hyde e episódios da vida de seu amigo próximo, o respeitado e admirado, Dr. Henry Jekyll. Dr. Jekyll é um homem voltado para a ciência, famoso e competente, renomado na cidade de Londres. Seus estudos profundos sobre o ser humano o levaram à elaboração de uma teoria relacionada à psicologia, que o médico fará de tudo para comprovar. Tal tese propõe que todo homem tem, em si, um lado bom e um lado ruim. O lado bom é aquele que é aceito pela sociedade, que se encaixa nos padrões estabelecidos pelo meio, sem dar margem a instintos baixos ou primitivos. Esse lado é considerado mais belo, bondoso, generoso e capaz de se adequar a um determinado grupo, sendo, então o lado que todos nós escolhemos por deixar transparecer. Já o lado ruim, de acordo com os estudos do cientista, é uma parte de nós considerada mais feia, rude e egoísta. Tal lado não impõe limites a seus instintos e vontades mais ofensivas e agressivas, ignorando regras sociais e quaisquer sentimentos das outras pessoas a seu redor. Assim, o lado ruim deve ser oprimido, mantendo-se o equilíbrio de cada ser humano. Dr. Henry Jekyll acredita, então, que é possível criar-se uma fórmula química para liberar o lado ruim que temos dentro de nós. Após muitos estudos, desenvolve tal solução e a ingere para provar suas teorias. Surge, assim, Edward Hyde: um homem sem limites dentro da Página | 4 sociedade, primitivo e agressivo que é, na verdade, o próprio lado ruim do famoso médico, apesar da transformação também se dar na aparência física. O Sr. Hyde é descrito no livro como um homem baixo, feio, com uma voz e sorriso maliciosos e, embora não apresente nenhuma deformidade física explícita, sua aparência é negativa e bastante incômoda aos que o cercam. O personagem Gabriel Utterson o descreve como “a marca de Satanás em um rosto”. Edward Hyde passa então a realizar ataques dentro da cidade de Londres, à medida que o cientista vai perdendo o controle de suas transformações. A curiosidade do advogado já apresentado é despertada, e quando Utterson recebe uma declaração de Dr. Jekyll lhe pedindo que passe todos os seus bens ao delinquente caso algo lhe aconteça, as desconfianças aumentam. A partir desse dia, Henry Jekyll some da sociedade inglesa coincidentemente no mesmo período em que os incidentes envolvendo Hyde se intensificam. Um episódio envolvendo o assassinato de um rico homem londrino é decisivo para aumentar a perseguição da polícia e da Scotland Yard contra Hyde. Indicado como principal suspeito por uma criada que presenciara o crime, Edward Hyde desaparece novamente na mesma época em que Dr. Jekyll retorna ao convívio social. A esse acontecimento principal, seguido de muitos outros incidentes, levam ao desenrolar da trama até a conclusão da verdade por Gabriel Utterson. Quando se chega ao final da história e a verdade é desmascarada, o nevoeiro que incide sobre Londres desaparece e a cidade volta a sua normalidade. Para contar tal história, Robert Louis Stevenson desenvolve a trama a partir de diversas vozes narrativas, expondo o ponto de vista dos personagens envolvidos. A inspiração para o enredo, segundo informações não comprovadas, veio de um homem chamado William Brodie, que, morador de Edimburgo, cidade natal do autor, era marceneiro durante o dia, mas assaltava casa dos conterrâneos pela noite, sem despertar maiores suspeitas. ANÁLISES E ASSOCIAÇÕES Página | 5 A trama aqui apresentada é passível de diversas análises e associações dentro da história e contexto em que se inseriu, além de encontrar fortes referências em estudos psicológicos e psicanalíticos apresentados por Sigmund Freud. A primeira questão a ser abordada é referente ao avanço da ciência. Assim como a obra de Mary Shelley (Frankenstein), O Médico e o Monstro de Stevenson retrata um avanço desenfreado da ciência e a perda do controle do criador perante sua criatura. Tais fatores eram marcantes na Página | 6