Questões e Desafios Objeto de Aprendizagem: Análise Morfossintática Questões de Morfologia Leia o poema abaixo: De gramática e de linguagem (Mário Quintana) E havia uma gramática que dizia assim; “Substantivo (concreto) é tudo quanto indica Pessoa, animal ou cousa: João, sabiá, caneta”. Eu gosto é das cousas. As cousas, sim!... As pessoas atrapalham. Estão em toda a parte. Multiplicam-se em excesso. As cousas são quietas. Bastam-se. Não se metem com ninguém. Uma pedra. Um armário. Um ovo. (Ovo, nem sempre, Ovo pode estar choco: é inquietante...) As cousas vivem metidas com as suas cousas. E não exigem nada. Apenas que não as tirem do lugar onde estão. E João pode neste mesmo instante vir bater à nossa porta. Para quê? não importa: João vem! E há de estar triste ou alegre, reticente ou falastrão, Amigo ou adverso... João só será definitivo quando esticar a canela. Morre, João... Mas o bom, mesmo, são os adjetivos, Os puros adjetivos isentos de qualquer objeto. Verde. Macio. Áspero. Rente. Escuro. Luminoso. Sonoro. Lento. Eu sonho com uma linguagem composta unicamente de adjetivos. Como decerto é a linguagem das plantas e dos animais. Ainda mais: Eu sonho com um poema Cujas palavras sumarentas escorram Como a polpa de um fruto maduro em tua boca, Um poema que te mate de amor Antes mesmo que tu lhe saibas o misterioso sentido: Basta provares o seu gosto... Mario de Miranda Quintana nasceu na cidade de Alegrete (RS), no dia 30 de julho de 1906. Aprendeu a ler tendo como cartilha o jornal Correio do Povo. No ano de 1919. Começa a produzir seus primeiros trabalhos, que são publicados na revista Hyloea, órgão da Sociedade Cívica e Literária dos alunos do Colégio Militar de Porto Alegre. Dono de uma obra vastíssima, trabalhou na Livraria do Globo, que edita boa parte de sua obra, e na redação do diário O Estado do Rio Grande em Porto Alegre. Falece no dia 5 de maio de 1994, próximo de seus 87 anos. A propósito do texto: 1. Tomando como base o poema acima, conceitue: a) substantivo: b) adjetivo: 2. Retire os cinco primeiros substantivos constantes no poema e faça a análise morfológica: 3. A palavra cousa, hoje em dia, não é mais usada na língua falada. Que variante usamos em seu lugar? 4. Retire do seguinte trecho do poema os adjetivos existentes: “ Para quê? não importa : João vem! E há de estar triste ou alegre, reticente ou falastrão, Amigo ou adverso... João só será definitivo Quando esticar a canela.. Morre, João...” 5. Use seu dicionário e dê o sentido das palavras: a) falastrão b) reticente c) adverso 6. A expressão “quando esticar a canela” faz parte da linguagem informal. Explique o seu significado. 7. Volte ao texto de Mário Quitana e identifique de acordo com a legenda: (1) artigo (2) substantivo (3) pronome (4) adjetivo (5) verbo (6) advérbio (7) numeral Questões de Sintaxe Uma moto é constituída de peças. Cada peça possui um nome e uma função. O mesmo acontece com as palavras nas frases que falamos ou escrevemos. Cada palavra possui um nome (classe) e exerce uma função. Manopla: onde está localizada a embreagem Farol: serve para iluminar ou sinalizar Garfo: liga a roda ao guidão para direcionar o veículo Oração Predicado verbal sujeito Análise Sintática Adj. Adn. núcleo Verbo trans. direto Objeto direto Adj. adnominal núcleo Minha moto tem bons freios Análise Morfológica Pron. Posses. Subst. verbo adjetivo substantivo 1) Veja o exemplo e faça a análise morfossintática das orações a seguir: a) O cão desapareceu no campo vazio. b) João estava feliz. c) Ficou uma dúvida em cada olhar. d) Ainda não se fez a entrega dos jornais aos assinantes. e) Coube-lhe uma casa por herança. 2) Faça a análise morfossintática das expressões destacadas: a) A volta do professor ao colégio era esperada por todos: - volta: ______________________________________________________ - do professor: ________________________________________________ - ao colégio: __________________________________________________ - era esperada: ________________________________________________ - por todos: ___________________________________________________ b) Permaneci imóvel. - permaneci: __________________________________________________ - imóvel: _____________________________________________________ c) Há bons livros na sua estante. - há: ________________________________________________________ - bons livros: _________________________________________________ - na tua estante: _______________________________________________ d) Um estremecimento elétrico corre pelas veias dos valentes oficiais. - um estremecimento elétrico: ____________________________________ - corre: ______________________________________________________ - pelas veias dos valentes oficiais: _________________________________ e) Obedeça aos regulamentos. - obedeça: ____________________________________________________ - aos regulamentos: ____________________________________________ 3) Leia e analise o texto de Rubem Braga e as opções que ele fez para construí-lo. Depois retire dez orações do texto e faça a análise morfossintática. Aula de Inglês Rubem Braga — Is this an elephant? Minha tendência imediata foi responder que não; mas a gente não deve se deixar levar pelo primeiro impulso. Um rápido olhar que lancei à professora bastou para ver que ela falava com seriedade, e tinha o ar de quem propõe um grave problema. Em vista disso, examinei com a maior atenção o objeto que ela me apresentava. Não tinha nenhuma tromba visível, de onde uma pessoa leviana poderia concluir às pressas que não se tratava de um elefante. Mas se tirarmos a tromba a um elefante, nem por isso deixa ele de ser um elefante; mesmo que morra em conseqüência da brutal operação, continua a ser um elefante; continua, pois um elefante morto é, em princípio, tão elefante como qualquer outro. Refletindo nisso, lembrei-me de averiguar se aquilo tinha quatro patas, quatro grossas patas, como costumam ter os elefantes. Não tinha. Tampouco consegui descobrir o pequeno rabo que caracteriza o grande animal e que, às vezes, como já notei em um circo, ele costuma abanar com uma graça infantil. Terminadas as minhas observações, voltei-me para a professora e disse convincentemente: — No, it's not! Ela soltou um pequeno suspiro, satisfeita: a demora de minha resposta a havia deixado apreensiva. Imediatamente perguntou: — Is it a book? Sorri da pergunta: tenho vivido uma parte de minha vida no meio de livros, conheço livros, lido com livros, sou capaz de distinguir um livro a primeira vista no meio de quaisquer outros objetos, sejam eles garrafas, tijolos ou cerejas maduras — sejam quais forem. Aquilo não era um livro, e mesmo supondo que houvesse livros encadernados em louça, aquilo não seria um deles: não parecia de modo algum um livro. Minha resposta demorou no máximo dois segundos: — No, it's not! Tive o prazer de vê-la novamente satisfeita — mas só por alguns segundos. Aquela mulher era um desses espíritos insaciáveis que estão sempre a se propor questões, e se debruçam com uma curiosidade aflita sobre a natureza das coisas. — Is it a handkerchief? Fiquei muito perturbado com essa pergunta. Para dizer a verdade, não sabia o que poderia ser um handkerchief; talvez fosse hipoteca... Não, hipoteca não. Por que haveria de ser hipoteca? Handkerchief! Era uma palavra sem a menor sombra de dúvida antipática; talvez fosse chefe de serviço ou relógio de pulso ou ainda, e muito provavelmente, enxaqueca. Fosse como fosse, respondi impávido: — No, it's not! Minhas palavras soaram alto, com certa violência, pois me repugnava admitir que aquilo ou qualquer outra coisa nos meus arredores pudesse ser um handkerchief. Ela então voltou a fazer uma pergunta. Desta vez, porém, a pergunta foi precedida de um certo olhar em que havia uma luz de malícia, uma espécie de insinuação, um longínquo toque de desafio. Sua voz era mais lenta que das outras vezes; não sou completamente ignorante em psicologia feminina, e antes dela abrir a boca eu já tinha a certeza de que se tratava de uma palavra decisiva. — Is it an ash-tray? Uma grande alegria me inundou a alma. Em primeiro lugar porque eu sei o que é um ashtray: um ash-tray é um cinzeiro. Em segundo lugar porque, fitando o objeto que ela me apresentava, notei uma extraordinária semelhança entre ele e um ash-tray. Era um objeto de louça de forma oval, com cerca de 13 centímetros de comprimento. As bordas eram da altura aproximada de um centímetro, e nelas havia reentrâncias curvas — duas ou três — na parte superior. Na depressão central, uma espécie de bacia delimitada por essas bordas, havia um pequeno pedaço de cigarro fumado (uma bagana) e, aqui e ali, cinzas esparsas, além de um palito de fósforos já riscado. Respondi: — Yes! O que sucedeu então foi indescritível. A boa senhora teve o rosto completamente iluminado por onda de alegria; os olhos brilhavam — vitória! vitória! — e um largo sorriso desabrochou rapidamente nos lábios havia pouco franzidos pela meditação triste e inquieta. Ergueu-se um pouco da cadeira e não se pôde impedir de estender o braço e me bater no ombro, ao mesmo tempo que exclamava, muito excitada: — Very well! Very well! Sou um homem de natural tímido, e ainda mais no lidar com mulheres. A efusão com que ela festejava minha vitória me perturbou; tive um susto, senti vergonha e muito orgulho. Retirei-me imensamente satisfeito daquela primeira aula; andei na rua com passo firme e ao ver, na vitrine de uma loja, alguns belos cachimbos ingleses, tive mesmo a tentação de comprar um. Certamente teria entabulado uma longa conversação com o embaixador britânico, se o encontrasse naquele momento. Eu tiraria o cachimbo da boca e lhe diria: __ It's not an ash-tray! E ele na certa ficaria muito satisfeito por ver que eu sabia falar inglês, pois deve ser sempre agradável a um embaixador ver que sua língua natal começa a ser versada pelas pessoas de boa-fé do país junto a cujo governo é acreditado. Maio, 1945 A crônica acima foi extraída do livro "Um pé de milho", Editora do Autor - Rio de Janeiro, 1964, p. 33. Disponível in: http://www.releituras.com/rubembraga_aula.asp [Acesso 30/08/2007] Rubem Braga, considerado por muitos o maior cronista brasileiro desde Machado de Assis, nasceu em Cachoeiro de Itapemirim, ES, a 12 de janeiro de 1913. Seu primeiro livro, "O Conde e o Passarinho", foi publicado em 1936, quando tinha 22 anos. Como jornalista, Braga exerceu as funções de repórter, redator, editorialista e cronista em jornais e revistas. Foi correspondente de "O Globo" em Paris, em 1947, e do "Correio da Manhã" em 1950. Foi nomeado Chefe do Escritório Comercial do Brasil em Santiago, no Chile, em 1953. Em 1961, tornou-se Embaixador do Brasil no Marrocos. Mas Braga nunca se afastou do jornalismo. Fez reportagens sobre assuntos culturais, econômicos e políticos na Argentina, nos Estados Unidos, em Cuba, e em outros países. Quando faleceu, em 1990, era funcionário da TV Globo.