i UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO FACULDADE DE ECONOMIA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM AGRONEGÓCIOS E DESENVOLVIMENTO REGIONAL AGRICULTURA FAMILIAR E O PROGRAMA DE AQUISIÇÃO DE ALIMENTOS EM CUIABÁ – MT GENI CECÍLIA FIGUEIREDO DO CARMO MELLO Cuiabá - MT 2011 ii GENI CECÍLIA FIGUEIREDO DO CARMO MELLO AGRICULTURA FAMILIAR E O PROGRAMA DE AQUISIÇÃO DE ALIMENTOS EM CUIABÁ – MT Dissertação apresentada ao Programa de PósGraduação em Agronegócios e Desenvolvimento Regional da Faculdade de Economia da Universidade Federal de Mato Grosso como requisito para a obtenção do título de Mestre em Agronegócios. Orientador: Prof. Dr. Adriano Marcos Rodrigues Figueiredo Cuiabá - MT 2011 iii Dados Internacionais de Catalogação na Fonte xxxxx Mello, Geni Cecília Figueiredo do Carmo Agricultura familiar e o programa de aquisição de alimentos em Cuiabá – MT / Geni Cecília Figueiredo do Carmo Mello. – 2011. xvi, 142 f.; il. color. ; 30 cm. -- (inclui figuras e tabelas). Orientador: Adriano Marcos Rodrigues Figueiredo Dissertação (mestrado). Universidade Federal de Mato Grosso. Faculdade de Economia. Programa de Pós-Graduação em Agronegócios e Desenvolvimento Regional, 2011. 1. Agricultura Familiar. 2. Programa de Aquisição de Alimentos. 3. Nova Economia Institucional. CDU 330. Catalogação na Fonte: iv Geni Cecília Figueiredo do Carmo Mello AGRICULTURA FAMILIAR E O PROGRAMA DE AQUISIÇÃO DE ALIMENTOS EM CUIABÁ – MT Dissertação apresentada à Universidade Federal de Mato Grosso como requisito para obtenção do título de Mestre em Economia no Programa de Pós-Graduação em Agronegócios e Desenvolvimento Regional. BANCA EXAMINADORA ____________________________________________________________ Prof. Dr. Adriano Marcos Rodrigues Figueiredo - UFMT ____________________________________________________________ Prof. Dr. José Manuel Carvalho Marta - UFMT ____________________________________________________________ Prof. Dr. Sérgio Schneider – UFRGS v Dedico este trabalho ao meu esposo José Francisco Moreira Mello, pelo carinho, apoio e compreensão, e com gratidão aos meus pais, Ninito e Leda (in memoriam). vi AGRADECIMENTOS Agradeço a DEUS pelo primeiro chamado - vocação à vida, e pelas possibilidades que me concedeu para enfrentar os obstáculos e alcançar vitórias. Aos meus pais, Ninito e Leda, in memoriam, que possibilitaram condições para que todos seus filhos estudassem o que considero como a principal herança que nos concedeu. Ao meu orientador, professor Dr. Adriano Marcos Rodrigues Figueiredo, pela paciência e compromisso para comigo, aliados à sua competente e dedicada orientação durante a elaboração deste trabalho. Aos professores do curso de mestrado em Agronegócios e Desenvolvimento Regional, pelos conhecimentos ministrados, que contribuíram significativamente para a minha formação profissional. Agradeço especialmente ao professor Arturo Zavala pela disponibilidade, acessibilidade e orientação, referente aos assuntos ligados à estatística, à econometria e outros inerentes ao curso. Aos membros da banca examinadora, pela leitura paciente, comentários e sugestões a este trabalho. Aos colegas do curso de mestrado, pela amizade e companheirismo, em especial, a Carlos Magno, Roberta Maria Penna, Jayr Lemos, e aos demais, solidários nas longas horas de estudo. À Secretaria e Coordenação do Mestrado, em especial à Enildes, pela dedicação, preocupação, atenção, incentivo e amizade com os alunos do Mestrado. Ao Sr. Almir Ferro, técnico da EMPAER, pela disponibilidade e informações cedidas; Sr. Edivaldo, presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Cuiabá; Marly, técnica da CONAB; Sr. Edson Anelli, técnico do Banco do Brasil; Sr. Rogério Monteiro, técnico da SEDRAF; Nilton José de Macedo, Diretor de Política Agrícola da FETAGRI, Rubens Neto Santos, Presidente da Associação de Agricultores Familiares da Mineira, Madre Maria de Fátima; Sr. Francisco Gilberto, Rosely Miranda, Agricultores Familiares, por terem me concedido atenção e conhecimento. Aos técnicos da Prefeitura Municipal de Cuiabá, em especial aos colegas de trabalho Reginaldo, César, Ênio e Bete por terem me acompanhado nas comunidades rurais durante a aplicação das entrevistas, além de terem fornecido dados importantes para elaboração desta dissertação. Ao Sr. Praxedes e a Sra. Maria, técnicos do IBGE, pela orientação e pelo acesso aos dados necessários para a minha pesquisa. vii Aos meus sobrinhos, Fábio Henrique, Letícia; e ao meu amigo Emerson Figueiredo de Mattos que auxiliaram na finalização deste trabalho. Meu muito obrigada a todos. viii RESUMO Estudos têm apontado que a agricultura familiar vem despontando como modelo alternativo de desenvolvimento para o meio rural, capaz de reduzir a pobreza, as disparidades de renda e de propiciar o uso racional dos recursos naturais. Nessa ótica, este estudo busca investigar: como acontece a escolha de produtores, beneficiários e produtos no Programa de Aquisição de Alimentos, no município de Cuiabá. A hipótese geral é que existem dificuldades operacionais relacionadas com os filtros institucionais de primeiro nível que delimitam a escolha entre os agentes e os produtos contemplados. A intenção é: investigar a operacionalização do PAA em Cuiabá; avaliar o cumprimento das metas do PAA no Município; comparar resultados produtivos entre produtores participantes do PAA e não participantes; averiguar eventuais dificuldades ou imperfeições na execução do programa e contribuir com sugestões de melhoria do programa. A análise é feita na ótica da Nova Economia Institucional (NEI). Devido às características do estudo, adotou-se a pesquisa exploratória, envolvendo levantamento bibliográfico, questionários e entrevistas com agentes chave do processo. Na análise estatística das variáveis tecnológicas, utilizou-se o teste Z para as proporções de duas amostras: dos participantes e dos não participantes do PAA. Para comparar a quantidade produzida e a área plantada, utilizou-se um teste unilateral de distribuição t de comparação das médias dos dois grupos. Os resultados apontam que o PAA está sendo executado no Município de Cuiabá com algumas dificuldades e /ou imperfeições devido à estrutura de governança responsável pela gestão do Programa, que atualmente é bastante precária. A meta do PAA no âmbito do “MDS-Prefeitura” foi considerada cumprida pelos órgãos oficiais, porém quanto às entidades socioassistenciais, cuja proposta era de 175 entidades, foram atendidas 83. No caso do Programa em nível de “MDS-Conab” para Cuiabá, até o momento não foi cumprida a meta inicial. Dentre as variáveis tecnológicas, a única que apresentou diferença favorável ao grupo do PAA foi a participação em organizações, portanto, não se detectou diferença entre quem participa ou não do PAA na utilização dessas variáveis. Não existiu diferença na produção média entre os grupos participantes e não participantes do PAA; e foram detectados filtros institucionais em ambos os Programas. Palavras-chave: Agricultura Familiar, Programa de Aquisição de Alimentos, Nova Economia Institucional. ix ABSTRACT It is known that family farming has been emerging as an alternative model for rural development, which can reduce poverty, income disparities and promote the rational use of natural resources. From this perspective, this study sought to investigate the Food Acquisition Program (FAP): in which way producers and beneficiaries are chosen and how products are selected in the city of Cuiabá-MT. The objective is: to investigate the FAP implementation in the municipality; evaluate the fulfillment of its planned goals; compare the results between two groups - participants and not participants in the FAP; detect eventual difficulties or imperfections in the program process; and contribute with suggestions to enhance the program. The analysis is done using the New Institutional Economics (NIE) literature. Given the characteristics of the study, we used exploratory research involving literature review, questionnaires and interviews with key actors in the process. The statistical analysis of technological variables used a Z test for differences in two proportions: participants and not participants in the FAP. To compare the produced quantity and harvested area, a unilateral t test for differences in two means was calculated. The results showed that the FAP in action at Cuiabá-MT has some difficulties and/or imperfections due to the governance structure responsible for the program‟s administration, which is actually too precarious. The FAP goal under the “MDS-Municipal Government” was said accomplished by official representatives, though according to the social and welfare beneficiaries, the initial proposal established 175 entities, but only 83 were actually contemplated. In the case of the “MDS-Conab” level for Cuiabá, until now the initial goal was not fulfilled. Among the technological variables, the unique difference favorable to FAP participants was the organizational engagement, and so, there was no difference between the two groups regarding these technological variables. There was no difference in average production between the two groups; and, there were institutional filters in the FAP under both models. Keywords: Family farming, Food Acquisition Program, New Institutional Economics. x SUMÁRIO LISTA DE SIGLAS .................................................................................................................. xi LISTA DE TABELAS ............................................................................................................xiii LISTA DE QUADROS ........................................................................................................... xvi LISTA DE FIGURAS ............................................................................................................xvii INTRODUÇÃO ........................................................................................................................ 18 1 O MUNICÍPIO DE CUIABÁ-MT ....................................................................................... 24 1.1 Antecedentes e Histórico ................................................................................................... 24 1.2 Caracterizações do município............................................................................................. 28 2 A POLÍTICA AGRÍCOLA E SEGURANÇA ALIMENTAR ............................................. 36 2.1 O Programa de Aquisição de Alimentos (PAA): Seguranaça Alimentar ........................... 45 2.2 O PAA em Mato Grosso..................................................................................................... 54 2.3 O PAA em Cuiabá .............................................................................................................. 59 3 REFERENCIAL TEÓRICO ................................................................................................. 64 3.1 A Nova Economia Institucional ........................................................................................ 64 3.1.1 Os custos de transação .................................................................................................... 66 3.1.2 O Ambiente Institucional................................................................................................ 68 3.1.3 Os Filtros Institucionais .................................................................................................. 71 4. MÉTODOLOGIA E FONTE DOS DADOS ....................................................................... 74 5 RESULTADOS .................................................................................................................... 83 5.1 Análise da proposta governamental ................................................................................... 83 5.1.1 Programa no âmbito do MDS-Prefeitura de Cuiabá....................................................... 83 5.1.2 Programa no âmbito do MDS-Conab ............................................................................. 89 5.2 Análise da amostra de produtores rurais............................................................................ 91 5.2.1 Caracterização do sistema de produção e comercialização ........................................... 108 5.3 PAA: dificuldades e sugestões de melhoria .................................................................... 116 CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................................. 124 REFERÊNCIAS ..................................................................................................................... 127 ANEXO .................................................................................................................................. 132 ANEXO A .............................................................................................................................. 132 APÊNDICE ............................................................................................................................ 139 APÊNDICE A ........................................................................................................................ 139 APÊNDICE B ......................................................................................................................... 141 APÊNDICE C ......................................................................................................................... 142 xi LISTA DE SIGLAS ARPA Associação Regional de Produtores Agro ecológicos ATER Assistência Técnica e Extensão Rural CAE Conselho de Alimentação Escolar CAR Cadastro Ambiental Rural CDAF Compra Direta da Agricultura Familiar CDA/MT Conselho de Desenvolvimento Agrícola de Mato Grosso CLPR Coordenadoria de Propriedades Rurais CMDA Conselho Municipal de Desenvolvimento Agrícola CMAS Conselho Municipal de Assistência Social e Direitos Humanos CNPA Conselho Nacional de Política Agrícola COMSEA Conselho Municipal de Segurança Alimentar CONAB Companhia Nacional de Abastecimento CONSEA Conselho Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional CPR-DOAÇÃO Compra com Doação Simultânea CPR-ESTOQUE Formação de Estoque pela Agricultura Familiar DAA Diretoria de Agricultura e Abastecimento DAP Declaração de Aptidão ao PRONAF EIA Estudos de Impacto Ambiental EMBRAPA Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária EMPAER Empresa Mato-Grossense de Pesquisa, Assistência Técnica e Extensão Rural FASE Federação de Órgãos para Assistência Social e Educacional FETAGRI Federal Estadual da Agricultura Familiar FLV‟s Frutas, Legumes e Verduras FUMPAGRO Fundo Municipal de Política Agropecuária FUNDAPER Fundação de Amparo à Pesquisa, Assistência Técnica e Extensão Rural de Mato Grosso FNDE Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística IDH Índice de Desenvolvimento Humano INCRA Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária INTERMAT Instituto de Terras de Mato Grosso xii LAU Licença Ambiental Única MAPA Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento MDA Ministério de Desenvolvimento Agrário MDS Ministério de Desenvolvimento Social e de Combate à Fome NEI Nova Economia Institucional ONG‟s Organizações Não Governamentais PAA Programa de Aquisição de Alimentos PDDE Plano Diretor de Desenvolvimento Estratégico de Cuiabá PIB Produto Interno Bruto PNUD Programa das Nações Unidas PROCERA Programa Especial de Crédito para a Reforma Agrária PRONAF Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar SAN Segurança Alimentar e Nutricional SEDRAF Secretaria de Desenvolvimento Rural e Agricultura Familiar SESAN Secretaria Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional SGF Superintendência de Gestão Florestal SMASDH Secretaria Municipal de Assistência Social e Direitos Humanos SMTDE Secretaria Municipal de Trabalho e Desenvolvimento Econômico TAC Terminal de Abastecimento de Cuiabá VAB Valor Adicionado Bruto xiii LISTA DE TABELAS Tabela 1 Evolução do PIB a preços constantes de 2008 do município de Cuiabá, Mato Grosso e do Brasil em R$ milhões Tabela 2 Comparação dos valores adicionais de Cuiabá, Mato Grosso e Brasil, a preços constantes de 2008 Tabela 3 33 Quantidade de produtos de origem animal produzidos no município de Cuiabá no período compreendido entre 2004-2009 Tabela 7 32 Rebanho produzido no município de Cuiabá durante o período compreendido entre 2004-2009 Tabela 6 31 Produção por área de cultivo na lavoura permanente de Cuiabá – MT, durante o período compreendido entre 2008 e 2009 Tabela 5 30 Produção por área de cultivo na lavoura temporária de Cuiabá – MT, durante o período compreendido entre 2008 e 2009 Tabela 4 29 33 Aplicação dos recursos do Pronaf (em R$ bilhões), por safra: 2002 a 2010 38 Tabela 8 Limites das modalidades do PAA nas safras 2008-09 e 2009-10 46 Tabela 9 Execução do PAA no período de 2003/2010 – Brasil 50 Tabela 10 Evolução dos recursos nominais aplicados na aquisição de produtos: 2003-2010 50 Tabela 11 Participantes consumidores do PAA: 2008-2010 52 Tabela 12 Municípios atendidos pelo PAA por região em 2010 53 Tabela 13 Indicadores do MDS aplicados em Mato Grosso – modalidades: CDAF; CPR-Doação: 2008-2009 Tabela 14 Indicadores do MDA aplicados em Mato Grosso – modalidades: CDAF; CPR-Estoque: 2008-2009 Tabela 15 Tabela 17 58 Comunidades e estabelecimentos pesquisados na zona rural de CuiabáMT em 2009 Tabela 16 55 80 Dados da proposta do PAA-MDS com a Prefeitura de Cuiabá – 20072008 83 Número de entidades e pessoas beneficiadas – dados da proposta 83 xiv Tabela 18 Áreas totais e médias das comunidades rurais pesquisadas em Cuiabá – MT, 2009 90 Tabela 19 Situação sobre a posse da terra dos agricultores familiares em 2009 91 Tabela 20 Tipos de relevo das propriedades pesquisadas – 2009 91 Tabela 21 Tipos de solo das propriedades pesquisadas – 2009 91 Tabela 22 Fluxo de água na região das propriedades pesquisadas em 2009 93 Tabela 23 Fontes de água utilizadas pelos produtores em 2009 93 Tabela 24 Tipos de irrigação utilizada pelos produtores pesquisados em 2009 94 Tabela 25 Situação das estradas na região das propriedades pesquisadas em 2009 95 Tabela 26 Energia elétrica das propriedades pesquisadas – 2009 96 Tabela 27 Recebimento de assistência técnica pelos produtores pesquisados em 2009 96 Tabela 28 Utilização de adubação nas propriedades pesquisadas em 2009 98 Tabela 29 Utilização de conservação de solo nas propriedades pesquisadas, por tipo, em 2009 99 Tabela 30 Utilização de adubação verde pelos produtores pesquisados em 2009 99 Tabela 31 Utilização de mecanização própria ou alugada, para a amostra em 2009 100 Tabela 32 Participação dos produtores em organizações associativas em 2009 101 Tabela 33 Participação dos produtores em sindicato em 2009 101 Tabela 34 Teste da presença de diferença estatística das variáveis tecnológicas entre os grupos: participantes do PAA x não participantes 102 Tabela 35 Participação do produtor no Pronaf em 2009 103 Tabela 36 Área, produção e produtividade dos produtos da lavoura temporária da amostra em 2009 Tabela 37 107 Área, produção e produtividade dos produtos da lavoura permanente da amostra em 2009 108 Tabela 38 Área, produção e produtividade de hortaliças da amostra em 2009 108 Tabela 39 Produtos com diferença estatística entre a produção dos grupos: participantes do PAA > não participantes, em 2009 Tabela 40 Destino da produção da amostra, segundo o mercado (local ou regional), em 2009 Tabela 41 Tabela 42 109 113 Destino da produção vendida ou entregue a terceiros, para a amostra, em 2009 113 Meios de transporte da produção da amostra em 2009 113 xv Tabela 43 Produtores segundo a participação no PAA, tipo de comercialização e transporte, em 2009 115 xvi LISTA DE QUADROS Quadro 1 Municípios limítrofes com Cuiabá e seus pontos extremos 28 Quadro 2 Modalidades do PAA 47 xvii LISTA DE FIGURAS Figura 1 Mapa de localização geográfica do município de Cuiabá, macrozona urbana e limites 23 Figura 2 Organograma de funcionamento do PAA (conselho gestor e instituições) 48 Figura 3 Rede de atuação do PAA 49 Figura 4 Organograma (informal) de funcionamento do PAA em Cuiabá 60 Figura 5 Organograma (informal) de funcionamento do PAA (MDS/CONAB) em Cuiabá 62 Figura 6 Filtros institucionais no crédito rural 71 Figura 7 Análise da proposta: número de pessoas beneficiadas nas instituições 84 Figura 8 Número de produtores rurais da proposta, por tipo de produto 85 Figura 9 Contagem de propriedades segundo a participação no PAA, tipo de relevo e de solo Figura 10 Contagem de propriedades segundo a participação no PAA, tipo de irrigação e fonte de água Figura 11 92 95 Produtores segundo a participação no PAA, tipo de comercialização e transporte 114 18 INTRODUÇÃO A expressão “agricultura familiar” vem ganhando legitimidade social e científica no Brasil, passando a ser utilizada com frequência nos discursos dos movimentos sociais do meio rural, por instituições governamentais e por estudiosos das Ciências Sociais que se ocupam de análises do meio rural (SCHNEIDER, 2003). Estudos têm apontado que o debate sobre os elementos caracterizadores da agricultura familiar é bastante intenso. A agricultura familiar segundo a Food and Agriculture Organization of the United Nations (FAO) pode ser definida a partir de três características centrais: a) a gestão da unidade produtiva e os investimentos nela realizados são feitos por indivíduos que mantém entre si laços de sangue ou de casamentos; b) a maior parte do trabalho é igualmente fornecida pelos membros da família; e c) é em seu interior que se realiza sua transmissão em caso de falecimento ou de aposentadoria dos responsáveis pela unidade produtiva (FAO/INCRA, p.4, 1996). O Estatuto da Terra no seu inciso II do artigo 4º da Lei Federal nº 4.504 de 30 de novembro de 2004, diz: II – propriedade familiar: o imóvel que, direta e pessoalmente explorado pelo agricultor e sua família, lhes absorva toda a força de trabalho, garantindo-lhes a subsistência e o progresso social e econômico, com área máxima fixada para cada região e tipo de exploração e eventualmente trabalhado com a ajuda de terceiros (BRASIL, 2004) Segundo Guanziroli et al. (2001), “o universo familiar foi caracterizado pelos estabelecimentos que atendiam, simultaneamente, às seguintes condições: a) a direção dos trabalhos do estabelecimento era exercida pelo produtor; b) o trabalho familiar era superior ao trabalho contratado”. Portanto, o elemento chave para definir o produtor familiar é produzir com base na mão de obra familiar. Têm-se, também, algumas características de agricultura familiar para efeito de obtenção de financiamento do Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (PRONAF), os beneficiários deverão residir na propriedade ou perto dela. Quando se tratar de propriedades que produzam produtos da lavoura permanente ou temporária, exige-se que tenham até 4 módulos fiscais e para pecuária até 5 módulos fiscais, e mantenham até dois empregados permanentes, sendo admitida a ajuda eventual de terceiros, dentre outras. 19 Como um dos critérios para que o agricultor familiar receba os recursos do Programa de Aquisição de Alimentos (PAA) é estar cadastrado no Ministério de Desenvolvimento Agrário (MDA) pelo Documento de Aptidão ao PRONAF (DAP), optou-se, para fins deste trabalho, a definição de “agricultor familiar”, como estabelecido na Lei Federal nº 11.326/2006, aquele que: não detém área maior do que quatro módulos fiscais; utiliza predominantemente mão de obra da própria família; possui renda familiar predominantemente originada de atividades agropecuárias; e dirige seu estabelecimento com sua família (BRASIL, 2006). A agricultura familiar foi considerada, durante muito tempo, um segmento marginal e de pouca relevância para os interesses econômicos de uma sociedade capitalista que vislumbra lucro, principalmente com a chamada agricultura de grande porte, com plantios voltados à monocultura (cana-de-açúcar, café, trigo, soja, etc.). O agricultor familiar era considerado pequeno produtor e, por ser pequeno, limitado, quando comparado ao grande. Durante muito tempo, o poder público não demonstrava interesse voltado à promoção de políticas engajadas para o desenvolvimento desse segmento da sociedade (CASTELÕES, 2005). A década de 1990 foi um marco para essa inclusão no Brasil. Com a redemocratização e abertura econômica, houve um fortalecimento deste e de outros segmentos sociais, considerados apenas de subsistência. A sociedade passou a discernir e a valorizar a agricultura familiar, que passou a ser vista como a melhor e mais econômica opção para a geração de emprego e como uma das ocupações produtivas para o desenvolvimento de uma sociedade. Essa visão proporciona um marketing peculiar, possivelmente, a forma social de produção mais adequada a satisfazer as exigências de mercado, nos aspectos social e ambiental (ABREU, 1997). O conceito contemporâneo de desenvolvimento sustentável, com base no tripé da sustentabilidade em suas dimensões econômica, social e ambiental, privilegia o desenvolvimento humano. Cabe à agricultura, principalmente a familiar, a desconcentração de renda, geração de divisas, a criação de ocupações produtivas, o aumento da produtividade e da qualidade e a diversificação e verticalização da produção. Isso se justifica ao analisar o impacto que o segmento familiar representa no total dos estabelecimentos rurais. Segundo Censo Agropecuário de 2006, aproximadamente 85% do total de propriedades rurais do país pertenciam a grupos familiares, cuja área média era de 18,37 hectares. Outro resultado apontado pelo Censo é o número de pessoas ocupadas na agricultura: 12,3 milhões de trabalhadores no campo estão em estabelecimentos da agricultura familiar, que representa 20 74,4% do total de ocupados no campo (IBGE, 2009). Ou seja, de cada dez ocupados no campo, sete estão na agricultura familiar, que emprega 15,3 pessoas por 100 hectares. Contribuindo assim, para uma forma de produção onde haja no campo um desenvolvimento, não somente um crescimento (BRAVO, 2002). A agricultura no Brasil desde sua colonização evoluiu de monocultura para a diversificação da produção e é considerada uma importante base da economia brasileira devido às exportações de produtos agrícolas e os encadeamentos nos elos do chamado agronegócio. Ainda assim passa por problemas que envolvem as questões fundiárias (reforma agrária, regularização de títulos de propriedade), as ambientais (desmatamento, queimadas, contaminações de solo e água, desrespeito ao uso dos recursos naturais entre outros). Também como problemas a serem vencidos pela agricultura familiar comparecem: a êxodo rural; as dificuldades com o acesso aos produtos e insumos, financiamento e escoamento da produção e de se alcançar a viabilidade econômica. Esse quadro de retratores passa a refletir de forma variada nos aspectos políticos, sociais, tecnológicos, econômicos e ambientais da sociedade na qual a agricultura familiar está inserida. Apesar das dificuldades elencadas acima, o trabalho de Guilhoto et al. (2007) deixa claro a importância da participação dos agricultores familiares na construção da riqueza nacional. Essa característica se materializa, por exemplo, no ano de 2005, quando o segmento familiar da agropecuária brasileira e as cadeias produtivas a ela interligadas respondiam por 9,0% do PIB brasileiro, representando R$ 174 bilhões em valores daquele ano, em que o agronegócio nacional foi responsável por 27,9% do PIB. Assim, torna-se importante ressaltar que o segmento familiar além de reduzir o êxodo rural e servir como fonte de renda para as famílias rurais, é um importante segmento na geração de renda do país. Na sequência, são descritas algumas características do meio rural no Brasil, conforme dados do Censo Agropecuário 2006, para demonstrar a importância da agricultura familiar no Brasil, no Estado de Mato Grosso e em Cuiabá. Em 2006, existiam no Brasil, 4.367.902 estabelecimentos rurais familiares com área média de 18,37ha e 807.587 estabelecimentos rurais não familiares com área média de 309,18 hectares, distribuídos respectivamente em 80,25 e 249,69 milhões de hectares. Do total dos estabelecimentos, a agricultura familiar representava 84,4% e ocupava 24,3% dessa área total e foram responsáveis por 38,0% da produção de todos os estabelecimentos do país (IBGE, 2009). 21 Os dados (IBGE, 2009) mostram que a agricultura não familiar apresentou maior valor da produção na maioria das atividades rurais. Entretanto, a agricultura familiar obteve melhores resultados sobre o total produzido no Brasil, nas seguintes áreas: produção de animais de grande porte (56,0%), valor agregado na agroindústria (57,0%), horticultura (63,0%) e extração vegetal (80,0%). Em relação à produção brasileira de alimentos (IBGE, 2009), observa-se a predominância da agricultura familiar nas seguintes culturas: 87,0% da produção nacional de mandioca; 70,0% da produção de feijão; 46,0% do milho; 38,0% do café; 34,0% do arroz; 21,0% do trigo. Os dados mostram também que a agricultura familiar foi responsável por 59.0% do plantel de suínos; 50,0% do plantel de aves; 30,0% dos bovinos e 58,0% da produção de leite. A cultura com menor participação da agricultura familiar foi a da soja (16,0%) (IBGE, 2009). No Estado de Mato Grosso, a agricultura familiar é a principal forma social de produção no meio rural, sendo responsável pela de produção de alimentos básicos como arroz, feijão, mandioca, farinha de mandioca, milho em grão, frutas, hortaliças e outros. Do total de 112.978 estabelecimentos rurais, 86.167 dentre estes, pertencem aos agricultores familiares (76,27%), ocupam área de 4.88 milhões de hectares que perfazem 10,22% do total da área rural. Os estabelecimentos não familiares, representam 23,73% do total dos estabelecimentos rurais e 89,78% do total da área rural (IBGE, 2009), o que caracteriza o estado como sendo de estrutura agrária concentrada. Segundo o Censo Demográfico 201 (IBGE, 2010), Cuiabá, capital do Estado de Mato Grosso, possui população de 551.250 habitantes e densidade demográfica de 156,27 habitantes por km². A população urbana corresponde a 541.002 (98,12%) habitantes e a rural 10.348 (1,88%). Portanto, possui muitos consumidores de alimentos e prováveis potenciais compradores dos produtos oriundos da agricultura familiar. A agricultura familiar no município de Cuiabá tem características particulares por ser destinada ao autoconsumo. No entanto, sua importância aumenta porque se apresenta também como uma alternativa socioeconômica de manutenção de parte da população no campo, com forma de diversificação das atividades econômicas e como manutenção de hábitos culturais, além de contribuir para com o sustento e a melhoria da qualidade de vida dos agricultores e seus familiares. Uma política que vem sendo importante para a agricultura familiar é o Programa de Aquisição de Alimentos (PAA), instrumento de política pública instituído pelo artigo 19 da Lei Federal nº. 1.696/03. Através do Programa, alimentos são adquiridos de agricultores 22 familiares que se enquadram no Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf), e destinados à formação de estoques de segurança ou canalizados para populações em situação de risco alimentar. Portanto, o Programa torna-se um fortalecedor do mercado interno, pois eleva o poder aquisitivo da população rural; melhora a dieta das famílias e garante a demanda dos alimentos produzidos na agricultura familiar. Segundo informações da Conab (2010), foi investido no Programa de Aquisição de Alimentos, período compreendido entre 2003 a 2010, cerca de R$ 3,5 bilhões na aquisição de aproximadamente 3,1 milhões de toneladas de alimento, com participação média de 160 mil agricultores da agricultura familiar por ano o que resultou no atendimento para mais de 15 milhões de pessoas em todo o Brasil. No estado de Mato Grosso, de acordo com dados da Conab (2009), os recursos do PAA foram aplicados nas modalidades: CDAF - Compra Direta da Agricultura Familiar, CPR-Doação - Compra para Doação Simultânea e CPR-Estoque - Formação de Estoque pela Agricultura Familiar. A modalidade CPR-Doação foi a mais expressiva, visto que, em 2009, de 916 produtores foram adquiridas 1.627 toneladas de produtos alimentícios, que foram distribuídas a 66.527 beneficiários. Para analisar o “Programa de Aquisição de Alimentos (PAA) executado no município de Cuiabá”, optou-se por utilizar o referencial teórico da Nova Economia Institucional (NEI), de base nos seguintes fundamentos dentre outros: o ambiente institucional; estrutura de governança e os filtros institucionais. A utilização dos filtros institucionais para análise da execução do PAA no município de Cuiabá possibilita o entendimento de como funciona a gestão dessa política, pois o filtro de primeiro nível avalia a oferta da política, ou seja, como são transmitidos os incentivos aos agentes no tocante a preços, recursos produtivos e condições de trabalho. Já o filtro de segundo nível, denominado filtro de “transmissão do incentivo”, está vinculado ao comportamento e às regras criadas pelos agentes que participam do ambiente de operacionalização da política. Nesse caso, trata-se da programação dos incentivos de preços e recursos produtivos para a efetiva produção, consumo e investimento. O terceiro filtro institucional atua como nível de “tomada de decisão”, está relacionado com o comportamento dos atores que compõem o publico alvo da política. No caso do PAA, diz respeito com o repasse da produção aos beneficiários das doações e aos aspectos finais de compra e doação entre produtores, CONAB e entidades beneficiadas. Diante dessa realidade, o problema desta pesquisa foi assim formulado: Como acontece a escolha de produtores, beneficiários e produtos no Programa de Aquisição de 23 Alimentos? A hipótese geral é que existem dificuldades operacionais relacionadas com os filtros institucionais de primeiro nível que delimitam a escolha entre os agentes e os produtos contemplados. Nessa diretriz, este trabalho tem por objetivo geral investigar a operacionalização do PAA em Cuiabá. Para isso pretende atingir os seguintes objetivos específicos: a) Avaliar o cumprimento das metas do PAA no município; b) Comparar resultados produtivos entre produtores participantes do PAA e não participantes; c) Averiguar eventuais dificuldades ou imperfeições na execução do programa; e, d) Contribuir com sugestões de melhoria do programa. Como hipóteses secundárias tem-se: a) O programa não vem cumprindo as metas estabelecidas para o município de b) A produção média entre os grupos participantes e não participantes do PAA Cuiabá; não é diferente; c) O grau de participação em organizações comunitárias como associações ou cooperativas é diferente entre os participantes e não participantes do PAA; d) Em relação à utilização de técnicas modernas como assistência técnica, irrigação e outras, existem diferenças de emprego entre os produtores que participam do PAA e aqueles que não participam; e, e) Existem filtros institucionais que interferem na escolha de quem participa entre os produtores e entre os beneficiários, assim como dos produtos. O estudo está organizado com este capítulo introdutório, seguido pelo capítulo 2 que faz a caracterização da cidade de Cuiabá, foco de análise; o capítulo 3 trata da política agrícola e segurança alimentar; o capítulo 4 apresenta a revisão teórica na ótica da Nova Economia Institucional (NEI), que aborda aspectos das instituições, a governança e os contratos; o capítulo 5 apresenta a metodologia e fontes dos dados; o capítulo 6 analisa os resultados; e a seguir são apresentadas as conclusões e as fontes utilizadas para elaboração deste trabalho. 24 1 O MUNICÍPIO DE CUIABÁ-MT 1.1 Antecedentes e Histórico A Ata de Fundação de Cuiabá é datada de 8 de abril de 1719, ato esse determinado por Pascoal Moreira Cabral, e o município apresenta área total 3.538,17 km² , sendo 254,57 km² correspondentes à macrozona urbana (Lei, nº. 4.719/04) e 3.283,60 km² à área rural. Em 2010, segundo Censo Demográfico 2010, IBGE o município abrigava uma população de 551.250 habitantes e apresentava densidade demográfica de 156,27 habitantes por km². A população urbana correspondia a 541.002 (98,12%) habitantes e a rural 10.348 (1,88%). Tem por limites os municípios de Chapada dos Guimarães, Campo Verde, Santo Antônio de Leverger, Várzea Grande, Jangada e Acorizal. A área do município de Cuiabá situa-se no entroncamento rodoviário-aéreo-fluvial e o centro geodésico da América do Sul, nas coordenadas 15º06‟56”,80 de latitude sul e 56º06‟05”,55 de longitude oeste (Figura 1). Figura 1 – Mapa de localização geográfica do município de Cuiabá, macrozona urbana e limites Fonte: Prefeitura Municipal de Cuiabá (2004). 25 Cuiabá está localizada na mesorregião centro-sul mato-grossense, na microrregião Cuiabá. Esta microrregião é formada pelos municípios de Chapada dos Guimarães, Cuiabá, Nossa Senhora do Livramento, Santo Antônio de Leverger e Várzea Grande (MATO GROSSO, 2005). O Município é cercado por três grandes ecossistemas: a Floresta Amazônica, o cerrado e o pantanal; está próximo da Chapada dos Guimarães e ainda é considerado como a principal porta de entrada da Amazônia Legal. Está situado às margens do Rio Cuiabá, e forma uma conurbação com o Município de Várzea Grande. A cidade de Cuiabá, fundada em 1719, ficou praticamente estagnada desde o fim das atividades de exploração das jazidas de ouro até o início de século XX. Desde então, apresentou um crescimento populacional acima da média nacional, atingindo seu auge nas décadas de 1970 e 1980. Atualmente, a economia de Cuiabá está centralizada no comércio, indústria e principalmente na prestação de serviços especializados. No comércio, a representatividade é varejista, constituída por casas de gêneros alimentícios, vestuários, eletrodomésticos, de objetos e artigos diversos. O setor Industrial que dantes era basicamente representado pela agroindústria, hoje mostra expressiva diversificação. Segundo dados do Perfil Socioeconômico de 2009, o município de Cuiabá, em 2007, possuía indústrias extrativas: extração de petróleo, de minerais e indústrias de transformação: fabricação de produtos alimentícios e bebida, fabricação produtos têxteis, confecção de artigos de vestuário e acessórios, dentre outros (PREFEITURA MUNICIPAL DE CUIABÁ, 2009). Observa-se que o setor de prestação de serviços está fortemente relacionado ao ensino superior, saúde e da engenharia. Em 2000, segundo o Atlas do Desenvolvimento Humano da ONU (PNUD, 2000), o Índice de Desenvolvimento Humano Médio de Cuiabá - IDH-M foi de 0,821, portanto, superior ao alcançado pelo Estado (0,773) e pelo Brasil (0,766). Registra-se para esse município no mesmo ano, os índices de 0,938 para IDH – Educação, 0,734 para IDH de Longevidade e 0,790 para IDH de Renda. Em 2007, o município de Cuiabá ocupou, a 15ª e a 380ª posição, respectivamente, no Índice Firjan de Desenvolvimento Municipal – IFDM, levantado entre todas as capitais brasileiras, e no levantamento feito entre todos os municípios brasileiros. Nesse mesmo ano Cuiabá ocupou a 4ª posição entre todos os municípios do estado mato-grossense (FIRJAN, 2009). 26 Diante do quadro acima exposto, o Governo do Município de Cuiabá tem se esforçado para promover políticas de inclusão social, de geração de renda e de segurança alimentar. Isso se exemplifica com a elaboração do Plano Diretor – Lei Complementar nº. 150 de 29 de janeiro de 2007 que dispõe sobre Planejamento Estratégico, e define prioridades, ações estratégicas, estabelece políticas públicas urbanas e rurais para que Cuiabá se torne uma cidade mais solidária e socialmente justa. Histórico de Cuiabá Segundo registro histórico, a região de Cuiabá foi ocupada por bandeiras que partiram de São Paulo, por volta do século XVII, com o objetivo de capturar índios. Os mesmos documentos indicam que o primeiro homem branco a chegar às terras cuiabanas foi o bandeirante paulista Manoel de Campos Bicudo, no período de 1673 a 1680, quando fundou o arraial de São Gonçalo, situado na confluência do rio Coxipó com o rio Cuiabá. Em 1717, a bandeira de Antonio Pires de Campos, filho de Manoel Campos Bicudo, chegou a este município, na região denominada São Gonçalo Velho para prear índios. Já em 1718, Pascoal Moreira Cabral chega a São Gonçalo Velho (hoje Comunidade de São Gonçalo Beira – Rio) para prear índios. No ano seguinte, a bandeira de Pascoal Moreira Cabral, também com a intenção de aprisionar índios, chega ao mesmo lugar e encontrou ouro de aluvião, nas proximidades do Ribeirão Mutuca. Desse modo, o objetivo que antes era capturar índios, passa agora a ser o de lavra ouro. Em fase contínua, acontece a fundação da primeira povoação do Estado, denominada Forquilha, e a atividade de garimpo, torna-se a sustentação econômica dessa época. No dia 8 de abril de 1719, em Forquilha, Pascoal Moreira Cabral lavra a ata de fundação de Cuiabá. Porém, em outubro de 1722, com o novo achado de ouro, denominado Lavras do Sutil, localizado no córrego da “Prainha”, todo o arraial de Forquilha foi transferido para o sítio atual. Essas jazidas situavam-se nas proximidades do morro onde hoje se encontra a Igreja do Rosário, em pleno centro da capital. Em 1º de janeiro de 1727, Dom Rodrigo César de Menezes, capitão-General de São Paulo, eleva Cuiabá à categoria de vila, com o nome de Nosso Senhor Bom Jesus de Cuiabá. Em 9 de maio de 1748, foi criada a Capitania de Mato Grosso, que teve D. Antônio Rolim de Moura Tavares como seu primeiro governador. 27 Em 19 de março de 1752 foi fundada Vila Bela da Santíssima Trindade, primeira capital do Estado de Mato Grosso. Já em 17 de setembro de 1818, por Carta Régia de D. João VI, a vila de Cuiabá foi elevada à categoria de Cidade. Também, nessa época, Vila Bela era elevada à categoria de Cidade. Um fato curioso é que, apesar da Capital de Mato Grosso ser Vila Bela, muitos governadores administrava a Capitania de Mato Grosso residindo em Cuiabá, devido à insalubridade daquela cidade naquela época. Foi no governo de Francisco de Paula Magessi (1819-1821), que se iniciou o processo da mudança da capital de Vila Bela para Cuiabá, pois, vários acontecimentos ocorreram: remoção de várias instituições do Governo para Cuiabá, como: a Junta da Fazenda, a Casa de Fundição. Porém, somente em 22 de setembro de 1834, no governo de Antônio Pedro Alencastro, foi concretizada a mudança da capital para a Cidade de Cuiabá (SÁ J. B., 1975; MENDONÇA, R., 1982; CORRÊA FILHO, V., 1994). Hábitos alimentarres dos grupos humanos envolvidos com o processo histórico de Cuiabá Garcia (2003) traçou um guia de como era o nível de sobrevivência dos Matogrossenses durante o período compreendido entre 1800 a 1840. Para isso, ele buscou informações das mais diversas, como: Hércules Florence e Luis d‟Alincourt; Sérgio Buarque de Holanda; João Antônio Botelho Lucídio; documentos públicos, dentre outros. Na extensa área que cobre os núcleos urbanos de Vila Bela e Cuiabá e nos corredores de tropeiros e canoeiros que ligam estes núcleos às províncias de Goiás e de São Paulo encontra-se uma paisagem dominada por grandes planícies, cortada por muitos rios e, vez ou outra, por algumas pequenas serras, onde existe a predominância das vegetações do cerrado e pantaneira. Essas caracterísiticas permitem concluir que em toda aquela província era possível encontrar as mesmas plantas, frutos e animais de caça, com variações de incidência de uma região para outra (Garcia, 2003). Dentre os hábitos alimentares dos grupos humanos que viviam nesses núcleos, Garcia (2003) cita os provenientes das seguintes atividades: o extrativismo, defendido pelos índios Guatós, Caiapós, Paiaguás e Bororos, que baseava sua alimentação na pesca, caça e coleta de frutos e cereais selvagens; agricultura, desenvolvida pelos Guanás; pecuária exercida pelos Guaicurus. Garcia destaca a riqueza nutricional, a diversidade e a facilidade de se obter os alimentos utilizados pelos grupos humanos residentes nos núcleos de Vila Bela e de Cuiabá. 28 Essa dieta rica em proteína (caça e pesca) abundante na região, foi posteriormente completada pela criação de animais. Também estava presente nessa dieta a proteína vegetal (amendoim e feijão) nativos do pantanal; além dos alimentos ricos em glicídios (feijão, arroz e o amendoim); alguns alimentos ricos em fósforo (abóbora, feijão, milho, carne de jacaré e pacu). A farinha de milho, a farinha de mandioca e seus derivados: broa de milho, bolinho de tapioca, compunham o cardapio da dieta dos habitantes das regiões da província. O colono também adotava em sua dieta alimentar as verduras, frutas, legumes, além dos cereais e carnes. Garcia (2003), através da documentação pesquisada, traz uma estimativa das dietas alimentares (dieta alimentar padrão), de acordo com as necessidades dos habitantes da província à época (1800-1840). Assim, a dieta média recomendada era: “farinha de milho 300g; feijão 150g; arroz 150g; milho (cozido) 30g; mandioca (cozida) 50g; farinha de mandioca 10g; banana (crua) 60g; abóbora (cozida) 30g; carne bovina 110g; carne de caça 20g; toucinho 30g; carne de peixe 30g; carne de aves 30g” (GARCIA, 2003, p.78). Percebe-se que a dieta predominante da época era reflexo da cultura indígena e de acordo com dados apresentados sobre a alimentação nesse período, verifica-se que existe grande ligação com os alimentos produzidos atualmente pelo segmento da agricultura familiar no município de Cuiabá. Dessa forma esses produtos ainda representam a maioria dos alimentos ofertados pelos agricultores para serem comercializados via Programa de Aquisição de Alimentos (PAA) no município, pela Prefeitura (feijão, mandioca, farinha de mandioca, milho verde, abacaxi, melancia, banana, abóbora, maxixie, couve, alface), e pela Conab (abóbora, banana, berinjela, mamão, maxixe, malancia, melão, milho verde, pepino, quiabo, mandioca). 1.2 Caracterizações do município Além do distrito-sede de Cuiabá, integram o município os distritos do Coxipó da Ponte, do Coxipó do Ouro e o da Guia (PREFEITURA MUNICIPAL DE CUIABÁ, 2007). A sede municipal, situada à altitude de 177 metros, segundo demarcação realizada pela Comissão Rondon em 1909, encontra-se no Centro Geodésico da América do Sul, nas coordenadas geográficas 15º35‟56” de latitude Sul (S) e 56º06‟01” de longitude Oeste (W) de Greenwich (Gr). 29 No Quadro 1 constam os municípios que fazem limites com o município de Cuiabá e seus respectivos pontos extremos. Orientação Norte Municípios Limítrofes Acorizal, Rosário Oeste, Chapada dos Guimarães Leste Chapada dos Guimarães Sul Santo Antônio de Leverger Oeste Várzea Grande, Acorizal Pontos Extremos Cabeceira do Córrego Soberbo Córrego Monjolinho Rio Cuiabá, próximo ao ribeirão dos Cocais Foz do ribeirão Baús Quadro 1 – Municípios limítrofes com Cuiabá e seus pontos extremos Fonte: Prefeitura Municipal de Cuiabá (2007). Cortam o Município de Cuiabá rodovias federais, estaduais e estradas vicinais. Na esfera federal, as rodovias são: BR 364; BR 163; BR 070. Na esfera estadual, merecem destaques especiais as rodovias: MT 010; MT 040; MT 251/020 (PREFEITURA MUNICIPAL DE CUIABÁ, 2007). Para se ter uma dimensão da capacidade econômica do município, tomou-se como base o comportamento do produto interno bruto – PIB, uma vez que esse indicador expressa o valor monetário de toda a riqueza gerada numa região. Com relação ao PIB de Cuiabá, o primeiro aspecto a ser considerado é a posição ocupada pelo município no ranking: 44º lugar no Brasil e 1º no Estado (Tabela 1). 30 Tabela 1 Evolução do PIB a preços constantes de 2008 do município de Cuiabá, Mato Grosso e do Brasil, em R$ milhões PIB (R$ Milhões) Ano Brasil Mato Grosso Cuiabá 2003 2.418.459,18 38.845,97 7.026,99 2004 2.556.609,10 45.087,76 7.995,53 2005 2.637.389,11 47.444,26 8.890,47 2006 2.741.751,15 45.272,67 9.216,17 2007 2.908.763,03 50.408,01 9.325,97 2008 3.031.864,49 53.023,27 9.014,92 Fonte: Tabela elaborada pela autora com dados da CONAC/DPE/IBGE – Diretoria de Pesquisas, Coordenação de Contas Nacionais (2008). Quanto à agricultura, neste município, conforme registro do censo agropecuário de 2006, dos 1.311 estabelecimentos rurais, 1.031 dentre estes são de agricultura familiar, representando 78,64% do total e 280 são estabelecimentos de agricultura não familiar (21,36%). Quanto à área, os estabelecimentos de agricultura não familiar detêm 111.550 ha, que representa 88,98% do total, enquanto que os de agricultora familiar estão distribuídos em 13.816 ha e, portanto, essa característica não difere do que acontece no estado e no Brasil, ou seja, há concentração de terras. Quanto à produção de alimentos, a agricultura familiar é responsável pela produção de alimentos básicos como: mandioca (60,48%), abacaxi (9,45%), cana-de-açúcar (20,67%), milho em grão (4,68%), melancia (2,77%), produtos típicos da lavoura temporária, que se compõem de 386 estabelecimentos familiares, e 58 não familiares. Já os produtos da lavoura permanente são: banana (52,23%), coco-da-baía (5,87%) e manga (41,97%), cujos agricultores familiares representam 73 estabelecimentos e 44 são de não familiares (IBGE, 2009). Outro aspecto importante a ser considerado é a composição do valor adicionado bruto – VAB no município, para o qual o setor de serviços foi responsável por 63,13%, a indústria por 21,03%, a administração pública por 15,44% e a agropecuária por 0,40%. Esses dados mostram que a base econômica do município é sustentada pelo setor de serviços seguido pela indústria (Tabela 2). 31 Tabela 2 Comparação dos valores adicionados de Cuiabá, Mato Grosso e Brasil, a preços constantes de 2008 Setor Região Valor R$ 1000 152.273,00 13.702,03 30,93 Percentual Brasil Mato Grosso 100,00 9,00 100,00 0,02 0,22 0,40 Agropecuária Brasil MT (a) Cuiabá (b) (a/b) Indústria Brasil MT (a) Cuiabá (b) (a/b) 719.874,00 7.776,37 1.6087,64 100,00 1,08 0,22 Serviços Brasil MT (a) Cuiabá (b) (a/b) 1.300.892,00 20.086,27 4.828,82 100,00 1,54 0,37 Administração Pública Brasil MT (a) Cuiabá (b) (a/b) 406.958,00 6.479,85 1.181,08 100,00 1,59 0,29 100,00 20,69 21,03 100,00 24,04 63,13 100,00 18,23 15,44 Fonte: Construção da autora com dados da CONAC/DPE/IBGE – Diretoria de Pesquisas, Coordenação de Contas Nacionais (2008). A mandioca e a cana-de-açúcar são os principais produtos neste grupo, pois possuíam o maior valor de venda no ano de 2009 (Tabela 3). O abacaxi e o milho em grão, respectivamente, também ocupavam lugar de destaque tanto na quantidade produzida como no valor da produção. O valor da produção evoluiu 24,76% entre as safras 2008 e 2009, a área plantada aumentou 10,83%. e a área colhida cresceu em 15,25%, caracterizando aumento de produtividade. 32 Tabela 3 Produção por área de cultivo na lavoura temporária de Cuiabá-MT, durante o período compreendido entre 2008 e 2009 Ano 2008 2009 Lavoura Temporária Abacaxi (Mil frutos) Arroz em casca (t) Cana-deaçúcar (t) Mandioca in natura(t) Melancia (t) Milho em grão (t) Total Abacaxi (Mil frutos) Arroz em casca (t) Cana-deaçúcar (t) Mandioca in natura (t) Milho em grão (t) Total Produção Valor Quant. R$ % Mil Área Plantada ha Colhida % ha % 560 560 16,50 30 2,56 20 2,40 0 0 0 0 0 0 0 5.400 297 8,75 180 15,35 180 21,61 4.480 2.240 66,02 650 55,41 320 38,42 234 94 2,77 13 1,11 13 1,56 630 202 5,95 300 25,58 300 36,01 3.393 100,00 1.173 100,00 833 100,00 500 400 9,45 30 2,31 20 2,08 108 56 1,32 60 4,62 60 6,25 6.250 875 20,67 250 19,20 250 26,04 3.200 2.560 60,48 650 50,00 320 33,33 660 198 4,68 300 23,10 300 31,25 4.233 100,00 1.300 100,00 Fonte: IBGE – Produção Agrícola Municipal (2009). Rio de Janeiro: IBGE, 2010. Disponível em:<http://www.ibge.gov.br>. Acesso em: 07.dez.10. 960 100,00 33 Em relação à lavoura permanente no ano de 2009, destacou-se no município de Cuiabá a banana, a manga e o coco-da-baía como é demonstrado na Tabela 4. A lavoura permanente teve uma queda de 14,86% no valor de sua produção, aumentou sua área plantada em 8% e aumentou 13,64% a área colhida, entre as safras de 2008 e 2009. Tabela 4 Produção por área de cultivo na lavoura permanente de Cuiabá-MT, durante o período compreendido entre 2008 e 2009 Ano 2008 2009 Lavoura Permanente Banana (t) cacho Coco-dabaía (mil frutos) Manga (t) Total Banana (t) cacho Coco-dabaía (mil frutos) Manga (t) Total Produção Valor Quant. R$ % Mil Área Plantada ha % Colhida ha % 312 499 59,33 40 32,00 40 36,36 70 42 4,99 10 8,00 10 9,09 600 300 35,67 841 100,00 312 374 52,23 40 29,63 40 32,00 70 42 5,87 20 14,81 10 8,00 750 300 41,90 716 100,00 75 60,00 125 100,00 75 55,56 135 100,00 60 54,55 110 100,00 75 60,00 125 100,00 Fonte: IBGE – Produção Agrícola Municipal (2009). Rio de Janeiro: IBGE, 2010. Disponível em: <http://www.ibge.gov.br>. Acesso em: 07.dez.10. Na pecuária observa-se que em 2009 o efetivo do rebanho era de 201.873 cabeças contra 185.556 cabeças em 2004, o que representou um aumento de 8,79% no período. Os números mais expressivos são de: bovinos, galináceos, ovinos, suínos (Tabela 5). 34 Tabela 5 Rebanho produzido no município de Cuiabá durante o período compreendido entre 2004 2009 Evolução no Período Rebanho 2004/2009 2004 2005 2006 2007 2008 2009 (%) Asininos 31 9 98 100 100 100 222,58 Bovinos 101.965 109.508 114.932 109.783 101.205 92.498 9,28 Bubalinos 153 290 448 196 235 161 5,23 Caprinos 415 376 759 788 805 900 116,87 Equinos 2.330 2.868 2.363 7.838 7.236 6.801 191,89 Galináceos 71.471 41.440 74.559 75.615 78.515 76.534 7,08 Muares 151 160 1.683 2.285 2.299 2.015 1.234,44 Ovinos 2.415 4.222 12.609 13.818 13.517 13.572 461,99 Suínos 6.625 4.754 9.379 9.887 9.740 9.292 40,26 Total 185.556 163.627 216.830 220.310 213.652 201.873 8,79 Fonte: IBGE, Pesquisa da Pecuária Municipal (2009). Disponível em: < http://www.ibge.gov.br>. Acesso em: 12.dez.10. Quantidade Quanto aos produtos de origem animal, percebe-se queda tanto da produção do leite quanto do mel e a produção de ovos mantém-se constante no período analisado compreendido entre 2004 a 2009. Porém, percebe-se que o leite foi o mais importante produto de origem animal no município (Tabela 6). Tabela 6 Quantidade de produtos de origem animal produzidos no município de Cuiabá no período compreendido entre 2004 - 2009 Quantidade Produto 2004 2005 2006 2007 2008 2009 Evolução no Período 2004/2009 (%) -27,87 Leite (mil litros) 4.212 4.423 4.517 4.187 3.893 3.038 Ovos galinha (mil dúzias) 130 129 124 127 132 131 0,77 Mel abelha (kg) 320 4.550 3.725 1.570 773 367 14,69 Fonte: IBGE, Pesquisa da Pecuária Municipal (2009). Disponível em: <http:// www.ibge.gov.br>. Acesso em: 12.dez.10. De acordo com informações da Prefeitura Municipal de Cuiabá – coordenadoria de Mercados, em 2010 o município possuía 03 mercados públicos, 626 boxes e total de área construída de 12.150 m². Em relação a feiras livres, tem-se 50 feiras livres funcionando em Cuiabá, realizadas de terça a domingo em 21 bairros, com um total de 1.323 feirantes 35 cadastrados junto a Diretoria de Agricultura e Abastecimento da Secretaria Municipal de Trabalho e Desenvolvimento Econômico do município de Cuiabá. Após a caracterização do município de Cuiabá, a relação existente entre política agrícola e o Programa de Aquisição de Alimentos (PAA) será apresentada no capítulo seguinte. 36 2 A POLÍTICA AGRÍCOLA E SEGURANÇA ALIMENTAR A história econômica tem demonstrado que até meados do século XX a política agrícola foi um dos principais fatores de organização da sociedade brasileira. Nesse sentido, ressaltam-se três períodos importantes: o tempo das sesmarias, que marca o início da colonização e se estende até a independência; o período imperial, cujo marco principal é a Lei de Terras ou 1850 e a era republicana, cujo marco essencial é a Constituição de 1934. O sistema das sesmarias foi criado em Portugal pela Lei das Sesmarias de 1375, pelo então rei D. Fernando, com o objetivo de remediar a crise de abastecimento que afligia aquele reino. Então o instrumento jurídico da Sesmaria normalizou a distribuição de terras como forma de estimular a produção agrícola e penalizava o titular da propriedade que não iniciasse a produção dentro dos prazos estabelecidos, com a perda de seu direito de posse e com o pagamento do dízimo à Ordem de Cristo (à Coroa). Já durante o Império, a Resolução nº 76 do Príncipe Regente, de 17 de julho de 1822, suspendeu em todo território nacional a concessão de sesmarias. A partir desse momento várias leis foram criadas para reprimir ações de resistências no meio rural. Durante aproximadamente 30 anos não havia legislação específica, permitindo a expansão da população de baixa renda. Em 18 de setembro de 1850 foi promulgada a Lei de Terras nº 601, que representou vitória dos grandes proprietários rurais. Com ela, ficariam doravante “proibidas às aquisições de terras devolutas por outro título que não seja o de compra”. Reconheceu, contudo, as sesmarias antigas, ratificou formalmente o regime das posses, e instituiu a compra como a única forma de obtenção de terras. No período republicano, após o rompimento com a oligarquia cafeeira, na Revolução de 1930, Vargas tratando do tema na Constituição de 16 de julho de 1934, trouxe a preocupação com o trabalhador rural, no artigo 121 § 4º que dizia “fixar a homem no campo, cuidar da sua educação rural, e assegurar ao trabalhador nacional a preferência na colonização e aproveitamento das terras públicas” (BRASIL, 1934). Quando o Brasil adotou o regime democrático de direito, em 1945 procurou respeitar a vontade popular consagrados na Constituição Federal com divisão dos poderes Executivo, Legislativo e Judiciário exercidos harmônica e independentemente. As leis foram elaboradas no Congresso Nacional pelo Poder Legislativo – o representante do povo, que tem por princípio legislar em prol da sociedade. No entanto, percebe-se que o sistema presidencialista 37 adotado no Brasil passou a ser feito de coalizões, nas quais se sobrepõem os interesses dos mais fortes sobre os mais fracos. Significa dizer que sobressaem os interesses da classe dominante, ou seja, grandes proprietários rurais. As diversas Leis que norteiam a questão da política agrícola no geral e especificamente sobre a agricultura familiar, tanto, em nível federal, estadual e municipal governos, passam a ser objeto de interesse dos governos. A Constituição Federal de 1988 reservou o artigo 187 para disciplinar e instituir os princípios e elementos básicos da política agrícola a ser implementada no Brasil, que determina uma política agrícola planejada e executada na forma da lei, com participação efetiva dos produtores e trabalhadores rurais, levando em conta os seguintes instrumentos: I – os instrumentos creditícios e fiscais; II – os prazos compatíveis com os custos de produção e a garantia de comercialização; III – incentivo à pesquisa e à tecnologia; IV - assistência técnica e extensão rural; V – seguro agrícola; VI – o cooperativismo; VII – a eletrificação rural e irrigação e finalmente; VIII – a habitação para o trabalhador rural (BRASIL, 1988). A Lei Federal nº 8.171, de 17 de janeiro de 1991, dispõe sobre a política agrícola a ser desenvolvida pelo Estado. Em seu artigo 4° estabelece as ações e instrumentos de política agrícola: I - planejamento agrícola; II - pesquisa agrícola tecnológica; III - assistência técnica e extensão rural; IV - proteção do meio ambiente, conservação e recuperação dos recursos naturais; V - defesa da agropecuária; VI - informação agrícola; VII - produção, comercialização, abastecimento e armazenagem; VIII - associativismo e cooperativismo; IX formação profissional e educação rural; X - investimentos públicos e privados; XI - crédito rural; XII - garantia da atividade agropecuária; XIII - seguro agrícola; XIV – tributação e incentivos fiscais; XV - irrigação e drenagem; XVI - habitação rural; XVII - eletrificação rural; XVIII - mecanização agrícola; XIX - crédito fundiário. No que diz respeito a agricultura familiar, o inciso I da referida Lei que dispõe sobre o planejamento agrícola, regulamenta, desde 2003/2004, o Plano Safra da Agricultura Familiar. Esse plano especifica instrumentos para seu público-alvo e normatiza o crédito rural via o Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (PRONAF). A implementação da política agrícola é feita pelo Conselho Nacional de Política Agrícola (CNPA), presidido pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) e composto pelo Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior. As finalidades desse conselho são: articular e negociar, entre os setores público e privado, a implementação dos mecanismos, diretrizes e estratégias competitivas para as propostas de política agrícola; propor ajustamentos e alterações na política agrícola e nos planos anuais de 38 safra; orientar na identificação das prioridades a serem estabelecidas na formulação de políticas agrícolas e no estabelecimento de metas socioeconômicas; assessorar o Ministro da Agricultura, Pecuária e Abastecimento na fixação de diretrizes e metas de desempenho do setor nos mercados interno e externo; emitir parecer quanto a assuntos relacionados à tributação interna e também sobre tributação compensatória em caso de concorrência desleal ou predatória; e coordenar e organizar Câmaras Setoriais e Temáticas voltadas ao agronegócio brasileiro. A legislação que regulamenta o CNPA é o Decreto nº. 4.623, de 21 de março de 2003 (BRASIL, 2011). O Decreto nº 4.623, de 21 de março de 2003, dispõe sobre os Conselhos Nacional de Política Agrícola (CNPA) e Deliberativo de Política do Café (CNPC), ambos vinculados ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. O CNPA foi instituído como um conselho multidisciplinar, que envolve representantes públicos, patronais, instituição financeira e de trabalhadores em diferentes elos institucionais, com objetivo de sugerir prioridades na formulação de políticas agrícolas, via articulação e negociação com os diversos setores envolvidos nesse processo. O Plano Safra da Agricultura Familiar 2009/2010 fortalece e amplia políticas públicas do Governo Federal que beneficiam 4,1 milhões de unidades produtivas familiares em todo o Brasil. Os produtores familiares, que respondem por 70% dos alimentos que chegam à mesa dos brasileiros e por 10% do Produto Interno Bruto (PIB) do País, têm à disposição R$ 15 bilhões de crédito, um aumento de 531% em relação aos R$ 2,38 bilhões nominais aplicados na safra 2002/2003 (Tabela 7). Os recursos atendem às linhas de custeio, investimento e comercialização do Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf) (MDA, 2009). 39 Tabela 7 Aplicação dos recursos do Pronaf (em R$ bilhões), por safra: 2002 a 2010 Safras Recursos aplicados no Pronaf 2002/2003 2,38 2003/2004 4,49 2004/2005 6,13 2005/2006 7,61 2006/2007 8,42 2007/2008 9,07 2008/2009 11,70 2009/2010 15,00 Fonte: MDA (2009). Disponível em: <http:// www.mda.gov.br>. Acessado em 25.abr.2011. Outra política de comercialização incluida no Plano Safra da Agricultura Familiar 2009/2010 é o Programa de Aquisição de Alimentos (PAA), que será tratado com mais detalhes em capítulo específico. A Lei Complementar n° 339, de 12 de dezembro de 2008 de âmbito estadual, institui a criação do Conselho de Desenvolvimento Agrícola de Mato Grosso – CDA/MT que tem por objetivo estabelecer e melhorar as políticas públicas voltadas ao desenvolvimento sustentável da economia agrícola mato-grossense, para torna-la mais competitiva no cenário regional e nacional. Assim, em seu § 4° estabelece que cabe ao CDA/MT além das prerrogativas previstas no artigo 4º da Lei Federal nº 8.171, outras atribuições relevantes como as relacionadas com a Inspeção da Defesa Animal e da sanidade vegetal. Para tanto, recomenda a criação de câmaras técnicas relacionadas com as áreas de: produtos, insumos, comercialização, armazenamento, transporte, crédito, seguro rural, dentre outros. Outra determinação dessa Lei é a constituição de câmaras setoriais para avaliação de matérias específicas de interesse da política agrícola e agrária. No âmbito municipal, a Lei Orgânica do Município de Cuiabá, de 5 de abril de 1990, dispõe sobre a organização legal da Cédula Federativa Democrática do Município de Cuiabá, Capital do Estado de Mato Grosso, e apresenta em diversos artigos como a política agrícola do Município deve ser planejada e executada, para fomentar as atividades agropecuária, agroindustriais e florestais. 40 [...] Art. 5º Ao município de Cuiabá cabe, sem prejuízo da competência da União e do Estado, observando normas de cooperação estabelecidas por lei complementar federal: [...] VIII – fomentar a produção agropecuária e organizar o abastecimento alimentar; Da Política Agrícola: [...] Art. 212 Se houver interesse social, o Município poderá mediante prévia indenização em dinheiro, promover desapropriações para o fim de fomentar a produção agropecuária e de organizar o abastecimento alimentar. Art. 213 Os proprietários rurais municipais que se fizerem representar por entidades de classe, terão espaço garantido para comercialização nas feiras livres. Art. 214 Nos limites de sua competência, o Município colaborará na execução do Plano Nacional de Reforma Agrária, com os meios, instrumentos e recursos ao seu alcance. Art. 215 Observados os limites de sua competência, o Município, através de lei específica, sua própria “política Agrícola”, em que serão atendidas as particularidades da agricultura regional. § 1º Será assegurada a participação de produtores rurais, de trabalhadores rurais, de engenheiros agrônomos e florestais, de médicos veterinários e zootécnicos e técnicos agrícolas, representados por associações de classe, na elaboração do planejamento e execução da Política Agrária do Município. § 2º Participarão do planejamento e execução da Política Agrícola, efetivamente produtores e trabalhadores rurais, representados por suas entidades de classe. § 3º Incluem-se no planejamento da Política Agrícola, as atividades agroindustriais, agropecuárias, pesqueiras e florestais. § 4º Serão compatibilizadas as ações da Política Agrícola com a do Meio Ambiente. A Lei Orgânica do Município de Cuiabá estabelece que o planejamento e execução da Política Agrícola sejam feitos por engenheiros agrônomos e florestais, não sendo mencionada a participação de economistas, administradores; o que pode fragilizar o resultado da política de comercialização e abastecimento do Município. Na formulação da Política Agrícola Municipal são priorizados os mesmos instrumentos constantes no art. 4º da Lei Federal nº 8.171 que estabelece ações de planejamento agrícola; produção, comercialização, abastecimento e armazenagem; seguro agrícola, dentre outros. A Lei nº 3.652, de 10 de julho de 1997 dispõe sobre a criação do Conselho Municipal de Desenvolvimento Agrícola – CMDA com função de definir, controlar e fiscalizar as atividades da política de desenvolvimento agrícola no município de Cuiabá. Art. 1º O Conselho Municipal de Desenvolvimento Agrícola – CMDA, órgão consultivo, orientador e fiscalizador da política de desenvolvimento 41 agrícola, nos termos dos artigos 17 e 18 das disposições gerais e transitórias da lei orgânica do município de Cuiabá, terá a seguinte composição: I – Conforme exigido pelo artigo 18 das Disposições Gerais e Transitórias da Lei Orgânica do Município de Cuiabá, todos os conselhos criados pela referida Lei serão compostos paritariamente pelo Poder Executivo, representante de Trabalhadores do setor e representante dos Usuários; II – A representação de trabalhadores do setor e dos usuários dar-se-á por instituições ou entidades de classes formadas exclusivamente por agricultores que desenvolvam a agricultura de âmbito familiar; formada pela sociedade Civil Organizada (usuários) e Trabalhadores imbuídos no conjunto de ações que compõem a Política Agrícola do Município de Cuiabá, representado no mínimo 50% (cinquenta por cento) do CMDA; [...] Das Atribuições do Conselho [...] Art. 7º O Conselho Municipal de Desenvolvimento Agrícola – CMDA terá as seguintes atribuições: I – definir e aprovar a política agrícola municipal e o plano de abastecimento alimentar; II – propor diretrizes relacionadas à política agrícola, segundo os ditames estabelecidos pela lei orgânica do município de Cuiabá, constituição do estado de Mato Grosso e a Constituição Federal; III – analisar e deliberar sobre as propostas do poder executivo municipal, quanto à execução de ações relacionadas ao meio rural do município e ao abastecimento alimentar; IV – apreciar e deliberar sobre a política agrícola municipal, submetendo-a, quando necessária, a posterior aprovação da Câmara Municipal; V – propor programas inter-setoriais de abastecimento alimentar e de desenvolvimento do meio rural; VI – apreciar e deliberar sobre os estudos de impacto ambiental – EIA e respectivos relatórios de impacto ambiental – RIMA, no que tange a adequação das atividades desenvolvidas; VII – apoiar a criação de consórcios intermunicipais, para estabelecer ações voltadas ao meio rural e para a política de abastecimento alimentar; VIII – solicitar, sempre que necessário, informações e subsídios técnicos relativos à política agrícola; IX – elaborar e aprovar seu regimento interno; X – participar da elaboração, acompanhar a execução e avaliar os resultados dos planos, programas e projetos destinados ao setor rural, em especial do Plano de Desenvolvimento Rural; XI – assegurar que a utilização dos recursos aprovados pelo Conselho Municipal se dê naqueles setores considerados como prioritários pelo Plano de Desenvolvimento Rural; XII – além das atribuições previstas neste artigo, outras poderão ser criadas através de alterações do Regimento Interno definido pelo CMDA. Conforme o artigo 12 desta Lei, “o Conselho Municipal de Desenvolvimento Agrícola (CMDA) reunir-se-á ordinariamente uma vez por mês e, extraordinariamente, quando convocado pelo presidente ou pela maioria simples dos conselheiros”. 42 [...] Art. 23-A Fica criada a Câmara Técnica Municipal como órgão auxiliar, responsável pela análise prévia das matérias a serem deliberadas pelo CMDA. § 1º A Câmara Técnica será responsável pelo acompanhamento e supervisão dos recursos do PRONAF Reforma Agrária (Grupo A), então aplicados no Município de Cuiabá, juntamente com o INCRA/MT. Outra norma legislativa no âmbito municipal é a Lei nº. 3.868, de 5 de julho de 1999, que dispõe sobre a criação do FUMPAGRO – Fundo Municipal de Política Agropecuária, que tem por objetivo proporcionar suporte técnico aos agricultores familiares na gestão de suas atividades. [...] Art. 2º Fundo Municipal de Política Agropecuária – FUMPAGRO, objetiva proporcionar suporte técnico para auxiliar no planejamento e desenvolvimento das comunidades rurais na área de agricultura familiar e abastecimento em consonância com o estabelecido no artigo 4º, incisos I e IX do artigo 11 e incisos da Lei Complementar nº 003 de 24 de dezembro de 1992, objetivando: I – Promover a integração das sedes de distritos, vilas e povoados rurais do Município na Política Municipal do Desenvolvimento Urbano, compatibilizando as relações campo-cidade; II – Desenvolver programas de fomento à atividade agropecuária, notadamente a hortifrutigranjeiros, para o abastecimento alimentar da população, bem como gerar novas oportunidades de emprego e renda no campo; III – Promover maior integração entre as instituições do município e dos Governos Federal e Estadual ligadas ao setor agropecuário e de abastecimento; IV – Promover, em cooperação técnica e financeira com o Estado e a União, a implantação de programas localizados de desenvolvimento rural integrado, com prioridade para o setor hortifrutigranjeiro; V – Promover a organização de produtos na produção e comercialização; VI – Apoiar programas de agroindustrialização, comercialização e de logística voltada a estas duas áreas; VII – Incentivar a produção regional de hortifrutigranjeiros e o intercâmbio de informações entre produtores, bem como o acesso deste a melhor tecnologia disponível e adequada; VIII – Fomentar e realizar parcerias com instituições habilitadas para pesquisa, assistência técnica e/ou extensão rural em benefício da agricultura familiar e abastecimento alimentar; IX – Estruturar, em colaboração com instituições públicas e/ou com a iniciativa privada, o Sistema Municipal de Abastecimento de produtos de primeira necessidade, notadamente hortifrutigranjeiros; X- Elaborar e implantar um Plano Setorial de Abastecimento, visando à adequação dos equipamentos municipais de abastecimento, simultaneamente aos objetivos maiores de diminuir e regular os preços pagos pelos consumidores e aumentar a renda rural, via diminuição das margens de intermediação; XI – Fomentar e apoiar a implantação e estruturação de cooperativas de produtores rurais; 43 XII – Articular junto aos órgãos públicos e iniciativa privada e a outros municípios a instalação e viabilização do Terminal de Abastecimento de Cuiabá – TAC, de forma a concentrar neste local os segmentos que comercializem a nível atacadista, bem como instrumento de apoio à produção; XIII – Promover estudos voltados à instalação e viabilização de abatedouros municipais; XIV – Aplicar os recursos do Fundo Municipal de Política Agropecuária – FUMPAGRO no aval a financiamento ou financiar contrapartidas a produtores rurais familiares, prioritariamente aos organizados em associações ou cooperativas, destinados às atividades de produção de hortifrutigranjeiros, olericultura, fruticultura, pesca profissional artesanal e aquicultura, agroindústria e equipamentos coletivos de produção e comercialização e logística produtiva, agroindustrial de comercialização, além de atividade de capacitação, assistência técnica e extensão rural dos produtores rurais familiares. [...] Art. 5º Os recursos do FUMPAGRO serão administrados e operacionalizados pelo Órgão Gestor da Política Agrícola Municipal, conforme diretrizes fixadas anualmente pelo CMDA – Conselho Municipal de Desenvolvimento Agrícola, sendo por este fiscalizado. § 1º O CMDA, deverá criar Câmara Técnica par deliberar sobre a utilização de recursos do FUMPAGRO, onde sempre propostas coletivas deverão preceder as propostas individuais; § 2º Deverá ser apresentada trimestralmente ao CMDA prestação de contas das aplicações de recursos oriundos do FUMPAGRO. Conforme o artigo 3º desta Lei, os recursos do FUMPAGRO são provenientes dos seguintes elementos: taxas de licenças para localização e funcionamento dos equipamentos de comercialização e das feiras livres; taxas de licença para ocupação de solo nos equipamentos de comercialização e nas feiras livres; taxas de autorização de transferência de permissão; taxas de expedição e renovação dos termos de permissão; taxas a serem cobradas dos estabelecimentos inscritos, registrados, inspecionados e fiscalizados pelo Serviço de Inspeção Municipal (SIM); taxas de emissão de carteira de produtor; taxas de licença para o exercício de comércio ou atividade eventual ou ambulante de produtos de origem primária em Equipamentos Públicos de Comercialização e feiras livres; recursos oriundos de doações, auxílios, legados, contribuições, convênios ou parcerias com instituições públicas ou privadas, nacionais ou internacionais; dotações orçamentárias específicas oriundas dos poderes públicos nas três esferas governamentais; recursos arrecadados com a regularização fundiária de áreas e lotes rurais, licenciamento para utilização de espaços públicos municipais e da extração e utilização não predatória de recursos naturais, de arrendamento de lotes pertencentes ao Município para produção em granjas comunitárias e de taxas a serem estabelecidas pela cessão já havida ou por ocorrer de espaços públicos municipais a terceiros; outras receitas destinadas ao FUMPAGRO. 44 O Plano Diretor – Lei Complementar nº. 150 de 29 de janeiro de 2007 dispõe sobre Planejamento Estratégico, que define prioridades, ações estratégicas, estabelece políticas públicas urbanas e rurais para que Cuiabá se torne uma cidade mais solidária e socialmente justa. Dessa forma o Plano Diretor de Desenvolvimento Estratégico de Cuiabá – PDDE, no seu inciso VIII do art. 1º, deixa claro o compromisso Institucional em melhorar, através de parcerias, a cadeia produtiva do Agronegócio Familiar do Município de Cuiabá: “Art. 1º [...] VIII – ampliar e apoiar parcerias e iniciativas na produção, distribuição e comercialização de alimentos como forma de promover ações de combate à fome”. (PREFEITURA MUNICIPAL DE CUIABÁ, 2007). Como diretrizes gerais norteadoras de políticas públicas direcionadas à zona rural, o PDDE destaca no inciso XXVII do art. 9º, determina que o município realiza ações nas área de educação, saúde, trabalho e infraestrutura, e desta forma contribuir para melhorar a qualidade de vida da população rural: “Art. 9º [...] XXVII – promover o desenvolvimento da zona rural, ampliando a oferta de educação, saúde e trabalho, e melhorando o acesso ao saneamento básico, à energia, à sustentabilidade, com o intuito de melhorar a qualidade de vida da população”. (PREFEITURA MUNICIPAL DE CUIABÁ, 2007) O PDDE delega ao município as seguintes responsabilidades: promover, via cooperação técnica e financeira entre o Estado e a União, o desenvolvimento rural integrado; organizar e comercializar a produção do segmento da agricultura familiar; incentivar a educação alimentar; firmar parcerias com o intuito de promover ações de combate à fome; fomentar ações de assistência técnica; ofertar programas de desenvolvimento tecnológico (financiamento da terra); implementar programa para agricultura urbana; incentivar atividades solidárias e associativas; estruturar o sistema municipal de abastecimento (PREFEITURA MUNICIPAL DE CUIABÁ, 2007). Diante do exposto, observa-se que existem, a nível federal, estadual e municipal, normas jurídicas que norteiam como se deve planejar, executar, fiscalizar e monitorar as atividades agrícolas, entretanto, o que é determinado em lei nem sempre é concretizado na prática. Essas dificuldades e imperfeições na execução do Programa de Aquisição de Alimentos – PAA também serão analisadas por este trabalho. Destaca-se, também, que na Política Agrícola existem instrumentos que têm por objetivo o fortalecimento da agricultura familiar, e que direta ou indiretamente influenciam no Programa de Aquisição de Alimentos (PAA), como: planejamento agrícola; assistência 45 técnica e extensão rural; produção, comercialização, abastecimento e armazenamento; associativismo e cooperativismo, dentre outros. Segundo Nóbrega (1995), entre as principais políticas agrícolas no Brasil estão o crédito rural e a política de garantia de preços mínimos (PGPM). A Política de Garantia de Preços Mínimos foi criada no Brasil pelo Decreto-Lei nº 5.212, de 21 de janeiro de 1943, com o objetivo de garantir o abastecimento nacional com alimentos de qualidade e assegurar ao produtor preços que permitam sua manutenção na atividade rural. Também, os estoques públicos são formados pelo exercício por parte dos produtores que adquirem opções de venda da Conab e pelas compras da agricultura familiar. A Conab em parceria com o Ministério de Desenvolvimento Agrário (MDA), que é o responsável direto pela condução da política agrícola para a agricultura familiar, e o Ministério Especial da Segurança Alimentar (MESA), tem a função de apoiar a comercialização dos produtos da agricultura familiar melhorando as condições de renda e de inclusão social. A política agropecuária e a PGPM tem como foco, também, a segurança alimentar, pois, esta se mantém através da obtenção de uma disponibilidade nacional de alimentos suficiente, estável em longo prazo e de acesso universal. Assim, através do financiamento da estocagem, a armazenagem, a venda de estoques públicos de produtos agropecuários e a equalização de preços e custos são alguns mecanismos para garantir segurança alimentar e a comercialização dos produtos agropecuários. Diante do exposto, percebe-se que há estreita ligação entre Política Agrícola, PGPM, estoque e o Programa de Aquisição de Alimentos (PAA). Por ser um dos instrumentos do Programa Fome Zero (PFZ), o PAA e promove: o acesso a alimentos às populações em situação de insegurança alimentar, a inclusão social e econômica no campo por meio do fortalecimento da agricultura familiar. Também contribui para a formação de estoques estratégicos e para o abastecimento de mercado institucional de alimentos, que compreende as compras governamentais de gêneros alimentícios para fins diversos, e ainda permite aos agricultores familiares que estoquem seus produtos para serem comercializados a preços mais justos. O PAA, então, foi concebido em conjunto com um grupo de políticas que estruturam o PFZ e a segurança alimentar, com o objetivo de fortalecer a política global de combate à fome, e garantir a comercialização dos alimentos produzidos pela agricultura familiar. 2.1 O Programa de Aquisição de Alimentos (PAA): Seguranaça Alimentar 46 O Programa de Aquisição de Alimentos – PAA é um programa associado às políticas de Segurança Alimentar e Nutricional (SAN) da Secretaria Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional (SESAN) do Ministério do Desenvolvimento Social e de Combate à fome (MDS). Foi instituído pelo artigo 19 da Lei nº 10.696 de 2 de julho de 2003, regulamentado pelo Decreto nº 5.873 de 15 de agosto de 2006, se apresenta como uma das ações do Fome Zero, e como importante inovação do Plano Safra 2003/2004. Tem por finalidade comprar alimentos e recompor os estoques públicos. Os objetivos do PAA são: garantir o acesso aos alimentos em quantidade, qualidade e regularidade necessárias às populações em situação de insegurança alimentar e nutricional e promover a inclusão social no campo por meio do fortalecimento da agricultura familiar; melhoria da qualidade das refeições das entidades socioassistenciais; recomposição dos estoques públicos de alimentos. O PAA é voltado ao agricultor com dificuldades de inserção de seu produto no mercado. Este programa beneficia toda a cadeia produtiva: o agricultor, que passa a ter preço justo e mercado garantido para seus produtos; o comércio local, que conta com consumidores com melhor poder aquisitivo; o município, que arrecada mais impostos com a geração de renda; as pessoas, que são atendidas por entidades beneficiadas pelo Programa, as comunidades com situação de insegurança alimentar, que passam a receber alimentação mais saudável e de acordo com seus hábitos alimentares; e toda a sociedade, com a melhoria das condições de vida da população. O programa visa por um lado, adquirir alimentos produzidos por agricultores familiares enquadrados no Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf), sem licitação, desde que os preços sejam compatíveis com os praticados no mercado regional, e por outro, fornecer alimentos destinados às ações de alimentação e nutrição, como restaurantes populares, cozinhas comunitárias e bancos de alimentos. Ainda nessa linha, também, os produtos podem compor estoques estratégicos do Governo Federal e serem direcionados para complementar a alimentação de famílias em situação de vulnerabilidade social e grupos populacionais específicos. O limite de compra por agricultor ao ano, no PAA, em 2003 foi de R$ 2.500,00. O Decreto nº 5.873 de 15 de agosto de 2006 ampliou este valor para R$ 3.500,00 por agricultor no ano, porém o Decreto nº 6.959 de 15 de setembro de 2009 ampliou o valor para R$ 8.000,00 ao ano por agricultor familiar. No decorrer desses anos de funcionamento do PAA, percebeu-se a necessidade de ampliar os valores dos limites de todas as modalidades do Programa, conforme Tabela 8. 47 Tabela 8 Limites das modalidades do PAA nas safras 2008-09 e 2009-10 Valor (R$ anual) Valor (R$ anual) 2008-09 2009-10 CDAF 3.500,00 8.000,00 CPR – Estoque 3.500,00 8.000,00 CPR – Doação 3.500,00 4.500,00 3.500,00 (por semestre) 4.000,00 (por semestre) Modalidade PAA Leite Fonte: MDA (2010) Disponível em: <http:// www.mda.gov.br>, acesso em 25.abr.2011. Nota: PAA – Programa de Aquisição de Alimentos; CDAF – Compra Direta da Agricultura Familiar; CPREstoque – Formação de estoque pela Agricultura Familiar; CPR-Doação – Compra com Doação Simultânea; Existem diferentes modalidades de acesso, conforme mostra o Quadro 2, a modalidade Compra Direta da Agricultura Familiar (CDAF) permite a aquisição de produtos da agricultura familiar, para distribuição ou para formação de estoques públicos; a Compra para Doação Simultânea propicia a compra de alimentos produzidos por agricultores familiares e sua disponibilização para doação a entidades da rede de promoção e proteção social, e assumi importante papel na promoção da segurança alimentar do público atendido; a Formação de Estoque pela Agricultura Familiar propicia aos agricultores familiares instrumentos de apoio à comercialização de seus produtos, sustentação de preços e agregação de valor à produção; a Aquisição de Alimentos atende a merenda escolar, com base na Lei nº 11.947/2009 determina a utilização de, no mínimo, 30% dos recursos repassados pelo Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE) para alimentação escolar, e compra de produtos da agricultura familiar. 48 SIGLA CDAF TÍTULO Compra Direta da Agricultura Familiar CDLAF Compra para Simultânea Doação CPR-Estoque Formação de Estoque pela Agricultura IPCL Incentivo a produção a ao consumo do Leite Aquisição de Alimentos para atendimento da merenda escolar EMENTA A aquisição de alimentos pelo Governo Federal, a preços de referência, de produtores organizados em grupos formais (cooperativas e associações), via compra direta de sua produção. Os preços de referência e as normas operacionais constam nos títulos 27 e 31 do Manual de Operações da Conab (MOC). É operada pela Conab. Destinado para suplementação alimentar e nutricional de escolas, creches, abrigos, albergues, asilos, hospitais públicos e outros, e dos programas sociais. É operada pelos governos Estaduais, Municipais através do MDS e pela Conab. Visa adquirir alimentos da safra vigente. A formação de estoques se dá pelas organizações de agricultores familiares, na aquisição de alimentos objetivando a sustentação de preços e agregação de valor. É operada pela Conab. Destina-se a incentivar o consumo e a produção familiar de leite, visando diminuir a vulnerabilidade social, e contribuir para o fortalecimento do setor produtivo familiar, com garantia de preços. É operado pelo MDS, apenas nos Estados de Alagoas, Bahia, Ceará, Maranhão, Minas Gerais, Paraíba, Pernambuco, Piauí, Rio Grande do Norte e Sergipe. Esta modalidade foi aprovada através da Lei nº. 11.947 de 16/06/09. Destina-se a promover a articulação entre a produção de agricultores familiares e as demandas das escolas para atendimento da merenda escolar. Quadro 2- Modalidades do PAA Fonte: Portal MDS e Conab (s.d). O PAA é desenvolvido com recursos dos Ministérios do Desenvolvimento Social e Combate à Fome (MDS) e do Desenvolvimento Agrário (MDA). As diretrizes do PAA são definidas por um Grupo Gestor, coordenado pelo Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome e composto por mais cinco Ministérios: Fazenda; Planejamento Orçamento e Gestão; Agricultura, Pecuária e Abastecimento, representado pela Companhia Nacional de 49 Abastecimento – CONAB; Desenvolvimento Agrário e Educação, representado pelo Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação – FNDE (Figura 2). Figura 2- Organograma de funcionamento do PAA (conselho gestor e instituições) Fonte: Adaptado de Müller (2007). Além do grupo gestor podem ser incluídos os demais agentes os quais configuram a rede de atuação do PAA: gestores executores: Conab, Estados, Municípios; atores locais: conselhos, cooperativas, associações de agricultores familiares e entidades da rede socioassistenciais, conforme a Figura 3. 50 Figura 3 - Rede de atuação do PAA Fonte: Portal do MDS, MDA e CONAB (s.d). A rede de atuação de PAA possibilita a influência das instituições na formulação de políticas públicas. No caso o Programa de Aquisição de Alimentos, como “regras do jogo” – os Órgãos Federais (o grupo gestor), e as organizações, como “jogadores” – as entidades que direta ou indiretamente fazem parte do processo (gestores executores e atores locais). Com a estrutura de governança (gestão) os atores envolvidos se relacionam para dirimir conflitos que por ventura venham a existir e solucionar problemas sobre assimetrias de informações. Portanto, percebe-se a importância da utilização dos fundamentos da Nova Economia Institucional na análise de atuação do PAA no município de Cuiabá, apresentados no capítulo 4. Analisando a Tabela 9, observa-se que, em pouco mais de sete anos da criação do PAA, foram investidos mais de R$ 3,5 bilhões na aquisição de aproximadamente 3,1 milhões de toneladas de alimentos, com participação, em média, de 164 mil agricultores familiares por ano. Os dados da Conab (2010) mostram que mais de 2.300 municípios brasileiros foram beneficiados pelo programa, e os alimentos adquiridos contribuíram para o abastecimento, em média, de 25 mil entidades por ano, as quais atenderam cerca de 15 milhões de pessoas. Observa-se, também, que nesse período houve incrementos constantes de recursos 51 orçamentários, passando de R$ 145 milhões em 2003 para uma expectativa de execução de mais de R$ 800 milhões em 2010, representando mais de 500% de aumento nesse período. Tabela 9 Execução do PAA no período de 2003 / 2010 – Brasil (Resumo em: 09/11/2010) Período 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010* Total Geral Média (2007-2010) Recursos Nominais Aplicados (em R$ milhões) 144,92 180,00 333,06 492,09 461,06 509,47 591,03 807,13 3.518,76 Número de Agricultores Familiares Participantes** 42.077 68.576 87.292 147.488 138.900 168.548 137.185 213.114 - 592,17 164.437 Atendimentos Realizados** Alimentos Adquiridos (toneladas) 226.414 4.261.462 6.450.917 10.700.997 14.512.498 15.407.850 13.028.986 18.875.174 - 135.864 339.925 341.755 466.337 440.837 403.155 509.955 539.722 3.177.550 15.456.127 473.417 Fonte: Leite, CONAB, Estados e Municípios conveniados. Notas: Dados sujeitos a atualização. * Estimativa para 2010, calculada considerando o montante de recursos previstos, a execução parcial no ano e as médias de execução do programa em anos anteriores. ** Omitiu-se o total geral devido ao fato de haver repetição de participantes em diferentes anos. Na tabela 10 observa-se que no período compreendido entre 2003 a 2010 apresentou incremento significativo de recursos (460%), passando de R$ 81,54 para R$ 379,73 milhões que foram repassados à Conab pelo MDS e MDA. Porém, imagina-se que esses recursos são inferiores à demanda das organizações produtivas, uma vez que os limites eram de apenas R$ 3.500 anuais para cada produtor, passando para valores entre R$ 4 mil e R$ 8 mil na safra 2009-10. Tabela 10 Evolução dos recursos nominais aplicados na aquisição de produtos: 2003-2010 Ano 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 Total 81,54 107,18 112,79 200,95 228,35 272,49 363,38 (milhões) Fonte: SUPAF/GECAF. 2010 379,73 52 Segundo dados da Conab, em 2010, a região Sul foi a que mais demandou recursos do PAA (34%), seguida pelas regiões Nordeste (32%), Sudeste (21%), Norte (7%) e Centro Oeste (6%). Essa realidade está diretamente relacionada com a forma de organização social e de acesso à informação de cada região. Esses dados podem ser verificados na Tabela C1 do Apêndice C. De acordo com a Tabela C1 do Apêndice C, no período compreendido entre 2008 a 2010, os recursos provenientes do MDS, a modalidade CPR-Doação apresentou o melhor desempenho, com crescimento de 49,1%. Já, os números apresentados pela modalidade de Compra Direta tiveram queda de 82,43%, isso se deve a pouca demanda para aquisição dos produtos, causada pela alta de preços1. Dos recursos provenientes do MDA, houve diminuição no período analisado na modalidade „Formação de Estoques‟, isso pode de observado ao analisar a Tabela C1 do Apêndice C. Essa modalidade atende exclusivamente agricultores familiares organizados em associações ou cooperativas, fato esse que justifica a menor procura no período analisado, pois se exige melhor estruturação e maior planejamento da organização. Diante dessa realidade, percebe-se que a Região Sul é a mais representativa e suas cooperativas e associações apresentam mais experiência no acesso aos instrumentos de comercialização mais complexos. A maior quantidade de produtos adquiridos nas operações do PAA período: 20082010 está na modalidade CPR-Doação. Porém, observa-se que houve queda na quantidade de produtos de 2008 para 2009 da ordem de (44,32%). De 2009 para 2010 houve uma sensível recuperação da ordem de (67,40%). Segundo informações da Conab (2010), no período de funcionamento do PAA, ou seja, mais de sete anos, milhares de famílias agricultoras foram beneficiadas pela venda de seus produtos ao Governo Federal, obtendo vários benefícios: garantia de renda e de melhoria na qualidade de vida, por exemplo. De acordo com a Tabela C3 do Apêndice C, a Região Sul foi a que apresentou maior número de famílias nos anos de 2008 e 2009. Porém em 2010, observa-se que a Região Nordeste foi a que apresentou o maior número de famílias de agricultores beneficiadas, superando inclusive a Região Sul. A região Nordeste apresentou crescimento contínuo durante o período de análise, passando de 27.135 famílias em 2008 para 32.146 em 2010. 1 O leitor interessado poderá observar as tabelas do Apêndice C contendo as informações detalhadas de distribuição dos recursos, quantidade de produto e número de participantes do PAA, conforme a origem dos recursos (MDS e MDA), por macrorregião brasileira e para Mato Grosso, de 2008 a 2010. 53 Analisando a Tabela 11, percebe-se que no ano de 2010 o número de consumidores participantes do Programa aumentou em quase todas as regiões do País, exceto a Sudeste onde, em 2008, o número de participantes consumidores representava mais de quatro mil entidades e em 2010 caiu para pouco mais de três mil. Essa realidade se deve ao aumento da demanda pela modalidade CPR-Doação. Durante o período analisado o número de participantes consumidores aumentou de dez mil e quinhentas entidades para mais de dezessete mil entidades participantes. É importante frisar que os resultados acima destacados devem principalmente aos seguintes fatores: divulgação do Programa, atuação de alguns órgãos como o Conselho Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional – CONSEA, Movimentos e Organizações Sociais e Organizações Não Governamentais – ONGs (CONAB, 2010) Tabela 11 Participantes consumidores do PAA: 2008-2010 CPR – Doação Nº de participantes consumidores (mil) 1.218 3.102 4.519 1.282 403 10.525 Ano Regiões 2008 Norte Nordeste Sudeste Sul Centro Oeste Total 2009 Norte Nordeste Sudeste Sul Centro Oeste Total 231 2.726 3.410 1.464 296 8.127 2010 Norte Nordeste Sudeste Sul Centro Oeste Total 1.755 7.979 3.354 2.937 1.739 17.764 Fonte: CONAB (2010). Nota: Elaborado pela autora com adequações. Segundo dados da Conab (2010), os recursos aplicados no PAA vêm beneficiando inúmeros municípios com geração de renda para os produtores familiares e melhoria na 54 alimentação das pessoas em situação de insegurança alimentar, e esse número vem crescendo ano após ano. A Tabela 12 mostra que no ano de 2010 o número de municípios operados pela Conab através do PAA foi de 1.076, representando 19% do total dos municípios brasileiros, sendo que na Região Centro- Oeste 23% do total dos municípios foram atendidos pelo Programa, e no Estado de Mato Grosso esse atendimento atingiu 40% dos municípios. Essa atuação vem mudando a realidade de muitos agricultores familiares participantes do PAA e da sociedade em si, pois o mercado recebe maiores recursos proveniente desse Programa o que aquece a economia local. Tabela 12 Municípios atendidos pelo PAA por região em 2010 Nº. Município Nº. Município Região Total PAA Norte 449 125 Nordeste 1.793 392 Sudeste 1.668 240 Sul 1.188 211 Centro Oeste 466 108 MT 141 56 Total 5.564 1.076 % Município Atendido 28 22 14 18 23 40 19 Fonte: CONAB (2010). Nota: Elaborado pela autora com adequações. 2.2 O PAA em Mato Grosso Segundo informações da Conab (2009), a modalidade CDAF tem como finalidade garantir, com base nos preços de referência, a compra de produtos agropecuários, em conformidade com o art. 19 da Lei n.° 10.696, de 2 de julho de 2003, e com o Decreto n.° 6.447, de 7 de maio de 2008. Podem ser adquiridos produtos de agricultores enquadrados no Pronaf, e de povos e comunidades tradicionais qualificados de acordo com o Decreto n.° 6.040, de 7 de fevereiro de 2007, a saber: extrativistas, quilombolas, famílias atingidas por barragens, trabalhadores rurais sem terra, acampados (definidos de acordo com a Portaria MDA n° 111, de 20 de novembro de 2003), comunidades indígenas e agricultores familiares em condições especiais (autorizados pela Conab). Os participantes deverão estar organizados preferencialmente em grupos formais (cooperativas e associações) ou informais. Através da modalidade CDAF, em 2009, foram adquiridas 1.376 toneladas de milho e feijão, ao custo total de R$ 781 mil reais, beneficiando 304 famílias, conforme detalhado na 55 Tabela 13. Segundo informação da Conab (2009), não houve aquisição de produtos por essa modalidade, no exercício de 2008, em função dos preços comerciais estarem mais atrativos que o preço de referência estabelecido pelo Grupo Gestor do PAA. A modalidade CPR–Doação, cujo objetivo é o atendimento às populações em situação de insegurança alimentar e nutricional, por meio de doação de alimentos adquiridos de agricultores familiares, em todo o território nacional, conforme o art. 19 da Lei n.° 10.696, de 2 de julho de 2003, e o Decreto n.° 6.447, de 7 de maio de 2008, será descrito, na sequência, o que ocorreu entre 2008 e 2009 segundo informações da Conab (2009). Analisando a Tabela 13, verifica-se que em 2009, por meio da modalidade CPRDoação, foram adquiridas de 916 produtores familiares, 1.627 toneladas de diversos produtos alimentícios, distribuídos a 66.527 beneficiários consumidores. Observa-se também que em 2009 houve, quando comparado com os dados de 2008, redução significativa da participação de municípios, passando de 44 em 2008 para 16 em 2009, assim como quanto ao número de agricultores familiares, em 2008 eram 1.816 e em 2009 916 e do número de pessoas beneficiadas, 592 em 2008 e 226 em 2009. Isso se justifica, segundo informações da Conab/MT, por ter ocorrido que em 2008 houve uma grande demanda na modalidade CPRDoação, e as proposta foram enviadas à Conab Matriz nos últimos meses do ano, devido a atraso nas propostas pelos próprios agricultores (associações), em conseqüência desse atraso, faltaram recursos para liberar o pagamento dessas propostas. Porém, foi informado pela técnica da Conab/MT que essas propostas foram pagas em 2010. 56 Tabela 13 Indicadores do MDS aplicados em Mato Grosso – modalidades: CDAF; CPR – Doação: 2008-2009 Modalidade Indicadores Ano 2008 Nº Municípios Nº Agr. Familiares Quantidade (ton) Recursos (R$ Milhões) CDAF CPR–Doação Nº Municípios Nº Agr. Familiares Quantidade (ton) Nº Pessoas Beneficiadas Nº Entidades Beneficiadas Recursos (R$ Milhões) 2009 0 0 0 0 5 304 1.376 0,781 44 1.816 3.535 210.239 592 5,517 16 916 1.627 66.527 226 2,671 Fonte: Conab/Dipai/Supaf/Gecaf (2009). Nota: Elaborado pela autora com adequações. Segundo informações da Conab/Sureg/MT (2010) os 16 Municípios que atuaram no PAA (contados na Tabela 13 para 2009) com os respectivos produtos na modalidade CPRDoação foram: 1) Alto Paraguai: abacaxi, abóbora, açúcar, alface, almeirão, amendoim, banana, batata, beterraba, biscoito, cenoura, couve, farinha de mandioca, mamão maxixe, melado, ovos de galinha, pimentão, quiabo, raiz de mandioca, rapadura, tomate; 2) Cáceres: abóbora, alface, almeirão, batata, beterraba, cenoura, cheiro verde, couve, feijão, limão, pimentão, quiabo, raiz de mandioca, rúcula, tomate; 3) Carlinda (abacaxi, abóbora, abobrinha, alface, arroz, banana, batata, beterraba, cará, cebolinha, couve, cupuaçu, figo, jiló, laranja, mamão, maracujá, melancia, melão, pepino, pimentão, quiabo, raiz de mandioca, repolho, rúcula, salsa, tangerina, tomate); 4) Cláudia: abacaxi, abobrinha, agrião, alface, almeirão, banana, batata, berinjela, beterraba, carne de frango, cebolinha, cenoura, couve, couve-flor, jiló, limão, mamão, maracujá, maxixe, melancia, melão, milho, ovos de galinha, pepino, pimentão, quiabo, rabanete, raiz de mandioca, rúcula, tangerina, tomate, vagem; 57 5) Castanheira: abacate, abacaxi, abóbora, açafrão, acerola, alface, almeirão, arroz, banana, batata, beterraba, caju, cebola, cebolinha, cenoura, corante, couve, cupuaçu, farinha de mandioca, feijão, goiaba, inhame, laranja, limão, mamão, manga, maracujá, melancia, milho, ovos de galinha, palmito, pepino, pimentão, quiabo, raiz de mandioca, rapadura, repolho, rúcula, salsa, tomate, vagem; 6) Conquista D‟Oeste: mel de abelha; 7) Cotriguaçú: abacaxi, abóbora, abobrinha, açúcar, agrião, alface, almeirão, amendoim, arroz, banana, batata, berinjela, beterraba, bolacha, cará, cebolinha, cenoura, chuchu, coentro, couve, farinha de banana, farinha de mandioca, feijão, goiaba, inhame, jiló, laranja, limão, mamão, maracujá, maxixe, melado, melancia, mel de abelha, milho, ovos de galinha, palmito, pão, pepino, pimentão, polpa de frutas, polvilho, queijo, quiabo, rabanete, raiz de mandioca, rapadura, repolho, rúcula, salsa, tangerina, tomate, vagem, castanha do Brasil, cheiro verde, chicória; 8) Curvelândia: abóbora, alface, almeirão, batata, beterraba, cenoura, cheiro verde, couve, feijão, limão, pimentão, quiabo, raiz de mandioca, rúcula, tomate; 9) Juruena: castanha do Brasil; 10) Mirassol D‟Oeste: abóbora, alface, almeirão, banana, batata, cenoura, cheiro verde, couve, inhame, limão, pimenta, raiz de mandioca, rúcula, tomate, berinjela, beterraba, jiló, maxixe, pepino, pimentão, quiabo, rabanete, raiz de mandioca, rúcula, tomate, vagem; 11) Nova Olímpia: abacaxi, abobrinha, amendoim, banana, batata, carne bovina, laranja, limão, mamão, maracujá, melancia, milho, raiz de mandioca, vagem; 12) Poconé: abacaxi, abóbora, abobrinha, alface, banana, batata, carne bovina, laranja, limão, mamão, maracujá, melancia, milho, raiz de mandioca, vagem; 13) Porto dos Gaúchos: abacaxi, abóbora, abobrinha, agrião, alface, almeirão, amendoim, banana, batata, bebida lacta, berinjela, beterraba, cará, carne de peixe, carne suína, cebolinha, cenoura, milho verde, chuchu, coco, corante, couve, doce de fruta, doce de leite, feijão, frango, hortelã, jiló, laranja, limão, mamão, maracujá, maxixe, melado, melancia, melão, mel de abelha, milho, ovos de galinha, pão, pepino, pimentão, polpa de frutas, queijo, quiabo, 58 rabanete, raiz de mandioca, rapadura, repolho, requeijão, rúcula, tangerina, tomate, vagem; 14) São José dos Quatro Marcos: abacaxi, abóbora alface, almeirão, banana, batata, berinjela, beterraba, cenoura, cheiro verde, couve, feijão, jiló, limão, mamão, maracujá, melancia, pepino, pimentão, quiabo, rabanete, raiz de mandioca, rúcula, tomate; 15) São José do Rio Claro: abacaxi, banana, mel de abelha, queijo; 16) Terra Nova do Norte: abacaxi, abóbora, abobrinha, açafrão, alface, banana, batata, berinjela, beterraba, cará, carne de frango, cebolinha, cenoura, cheiro verde, couve, doce de abóbora, doce de leite, farinha de mandioca, inhame, jiló, limão, mamão, maracujá, maxixe, melancia, milho, ovos de galinha, pepino, queijo, quiabo, raiz de mandioca, rúcula, tomate, doce de goiaba, urucum. Já na modalidade CDAF, em 2009, têm-se os seguintes municípios com propostas aprovadas e executadas: Aripuanã, Juína, Colniza, Cotriguaçú ofertaram o produto feijão e Itanhangá ofertou o milho. Analisando os recursos provenientes do MDA investidos no PAA em Mato Grosso, a Tabela 14 mostra que, em 2009, através do instrumento CDAF, foram adquiridas 2.678 toneladas de diversos produtos agrícolas, perfazendo o custo total de R$ 563mil reais, beneficiando 162 famílias, considerado, portanto, um grande salto visto que em 2008 não foi operacionalizado no Estado de Mato Grosso essa modalidade. A modalidade CPR–Estoque, cuja finalidade é a formação de estoques pelas organizações de agricultores familiares, por meio da aquisição de produtos alimentícios oriundos de agricultores enquadrados nos grupos A ao E do Pronaf, visa à sustentação de preços e agregação de valor, conforme o art. 19 da Lei n.° 10.696, de 2 de julho de 2003 e Decreto n.° 6.447, de 7 de maio de 2008. A Tabela 14 mostra que em 2009, pelo CPR-Estoque foram adquiridas de 174 produtores familiares, 386 toneladas de diversos produtos agrícolas, perfazendo o total de R$ 571 mil reais. Houve redução de municípios praticando essa modalidade, porém aumentou o número de agricultores familiares que acessaram tal instrumento. Segundo informação da técnica da Conab/MT, o motivo que justifica essa queda é a inadimplência de alguns agricultores familiares, pois, a Conab adianta o recurso, porém, o agricultor é quem tem que buscar mercado para seus produtos, no entanto alguns não conseguiram concretizar essa negociação. 59 Em 2009, na modalidade CPR-Estoque os municípios que participaram segundo seus produtos foram: Apiacás (castanha do Brasil); Colniza (café); Conquista D‟Oeste (mel); Juína (café e castanha do Brasil); Juruena (castanha do Brasil); Nova Bandeirantes (café) e Poconé (amêndoa cumbaru) (CONAB/SUREG/MT, 2010). Ainda analisando a Tabela 14, e segundo informações da Conab/Sureg/MT (2010), na modalidade CDAF o único município que participou com proposta no exercício de 2009 foi Itanhangá, ofertando o milho. Tabela 14 Indicadores do MDA aplicados em Mato Grosso – modalidades: CDAF; CPR – Estoque: 2008-2009 Modalidade Indicadores Ano 2008 CDAF CPR–Estoque 2009 Nº Municípios Nº Agr. Familiares Quantidade (ton) Recursos (R$ Milhões) 0 0 0 0 1 162 2.678 0,563 Nº Municípios Nº Agr. Familiares Quantidade (ton) Recursos (R$ Milhões) 9 145 494 0,465 7 174 386 0,571 Fonte: Conab/Dipai/Supaf/Gecaf (2009). Nota: Elaborado pela autora com adequações. 2.3 O PAA em Cuiabá A modalidade do PAA no município de Cuiabá é a Compra Direta Local da Agricultura Familiar – CDLAF “Compra para Doação Simultânea”, cujo objetivo é a compra de alimentos produzidos por agricultores familiares e a doação desses alimentos para entidades integrantes da rede socioassistencial. O PAA destina-se à aquisição de produtos agropecuários com recursos liberados pelo Ministério do Desenvolvimento Social e Combate a Fome, através de Convênio com o Município de Cuiabá, produzidos por agricultores que se enquadram no Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar – PRONAF, no limite de R$ 3.500,00 (2007/2008) por família ano com dispensa de licitação. 60 O Programa de Aquisição de Alimentos – PAA/MDS foi realizado através de convênio entre o Ministério de Desenvolvimento Social e Combate à Fome, e a Prefeitura Municipal de Cuiabá – Convênio 177/2007, oriundo do Processo nº. 71000.008006/2007-58, cujo objeto trata do apoio financeiro para implantar o Programa de Aquisição de Alimentos, através da Compra Direta Local da Agricultura Familiar – CDLAF (compra para Doação Simultânea), referente ao exercício 2007/2008, e teve seu prazo prorrogado por Termo Aditivo nº 01 ao Convênio nº 177/2007 até 30/09/2009. Como objetivo, o Programa pretendia adquirir produtos de 240 (duzentos e quarenta) produtores da Agricultura Familiar do Município de Cuiabá, ofertando os seguintes produtos: feijão carioca, mandioca in natura, farinha de mandioca, milho verde, abacaxi, melancia, banana da terra, abóbora cabotiã, maxixe, couve e alface; e distribuir esses produtos alimentícios a 175 (cento e setenta e cinco) entidades cadastradas no COMSEA, que participam dos programas sociais locais. Como foi mencionado acima, o Município de Cuiabá só começou a utilizar o PAA em 2007, através do convênio firmado entre MDS e a Prefeitura de Cuiabá. Na modalidade CDLAF (Compra para Doação Simultânea), no qual os alimentos são adquiridos dos agricultores familiares pela Prefeitura Municipal de Cuiabá, a um preço de referência, equivalente ao preço de atacado do produto pesquisado no mercado regional, e posteriormente doados às instituições socioassistenciais devidamente cadastradas no Banco de alimentos O PAA ainda conta com a participação do COMSEA e do CMAS, ligados à Secretaria Municipal de Assistência Social e Direitos Humanos (SMASDH) e o Conselho Municipal de Desenvolvimento Agrícola (CMDA), ligado à Secretaria Municipal de Trabalho e Desenvolvimento Econômico (SMTDE), esses conselhos funcionando como mecanismo de controle social dos projetos, conferindo maior confiabilidade à sua fiscalização e execução. Os produtos adquiridos são destinados a populações em insegurança alimentar, através de instituições reconhecidas de amparo a essas pessoas (Figura 4). 61 Figura 4 – Organograma (informal) de funcionamento do PAA em Cuiabá Fonte: elaborado pela autora. Através desse organograma informal de funcionamento do PAA/MDS/Prefeitura Municipal de Cuiabá, percebe-se como o arranjo institucional do PAA em Cuiabá vem sendo executado, isto é, o MDS firmou convênio com a Prefeitura de Cuiabá (regras formais) dentro do ambiente institucional e por outro lado existe a estrutura de governança – gestão de funcionamento do Programa em nível local, onde se identifica quem são os atores que direta ou indiretamente coordenam a execução do Programa (SMTDE – Diretoria de Agricultura e Abastecimento e Conselho; SMASDH – Conselhos e Banco de Alimentos; Produtores e Entidades Socioassistenciais). Assim, verifica-se a influência das vertentes da NEI (ambiente institucional e estrutura de governança) na investigação: no Programa de Aquisição de Alimentos do município de Cuiabá, como se dá a escolha de quem participa entre produtores e entre os beneficiários, e a escolha dos produtos, assunto a ser tratado no decorrer desta pesquisa. Já o Programa de Aquisição de Alimentos – PAA/Conab foi realizado através de Termo de Cooperação n°. 003/2009 (Processo n°. 71000.036137/20090-7; vigência: 04/05/2009 até 31/07/2011), cujo objetivo é estabelecer parceria entre o Ministério de Desenvolvimento Social e Combate à Fome - MDS, e a Companhia Nacional de Abastecimento – CONAB. Na proposta do PAA/Conab (Sureg/MT) o Município de Cuiabá, através da comunidade Marcolana, constava a participação de 27 (vinte e sete) agricultores familiares, que forneceriam os seguintes produtos: abóbora paulista, abóbora menina, banana da terra, banana maçã, berinjela, mamão formosa, maxixe, melancia, melão caipira, milho verde em espiga com palha, pepino caipira, quiabo, mandioca in natura; e uma entidade – o Banco de 62 Alimentos, o qual seria o responsável pela entrega dos alimentos às entidades socioassistenciais cadastradas. Percebe-se, através da Figura 5, que os recursos advêm do MDS via CONAB-matriz liberados após análise das propostas formalizadas pelas respectivas associações junto à Conab/Sureg/MT, que, também, deverão ser aprovadas pelo Conselho Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional (CONSEA) em nível estadual ou pelo Conselho de Alimentação Escolar (CAE), porque o Conselho Municipal de Segurança Alimentar não estar totalmente estruturado.. Após a análise da política agrícola e segurança alimentar, será apresentado o referencial teórico, que oferece embasamento para entender como o Programa de Aquisição de Alimentos (PAA) funciona sob a ótica da Nova Economia Institucional (NEI). 63 Figura 5 – Organograma (informal) de funcionamento do PAA (MDS/CONAB) em Cuiabá Fonte: elaborado pela autora. 64 3 REFERENCIAL TEÓRICO A Nova Economia Institucional fornece para este trabalho o referencial teórico necessário para o estudo proposto, através dos seus fundamentos: custos de transação; o ambiente institucional (regras formais e informais); direitos de propriedade da terra e filtros institucionais. 3.1 A Nova Economia Institucional A Nova Economia Institucional (NEI) surgiu nas décadas de 1960 e 1970, onde um grupo de economistas, dentre os principais, Ronald Coase, Oliver Williamson e Douglas North, começaram a se preocupar com aspectos micro e macroeconômicos das instituições. Assim, a NEI trabalha com duas vertentes: a primeira o ambiente institucional (macroinstituições), onde se destacam as regras formais (leis, políticas, regulamentação); regras informais (códigos de ética, laços familiares, valores culturais e étnicos); e direitos de propriedade da terra. A segunda vertente trata das estruturas de governança (microinstituições) que regulam uma transação específica – os custos de transação, que são definidos como o conjunto de regras a exemplo de contratos entre particulares e normas internas às organizações. (AZEVEDO, 2000). Para North (1994), as instituições podem ser definidas como sendo as regras que as sociedades impõem para estruturar as relações políticas, econômicas e sociais entre os agentes. Segundo Gala (2003), o crescimento de longo prazo, ou a evolução histórica, de uma sociedade é condicionado pela formação e evolução de suas instituições. Para North (1991) as instituições representaram ao longo da história humana a manutenção da ordem e redução das incertezas nas sociedades. Também, estudos têm apontado que a fiscalização do cumprimento das instituições é exercida por códigos de conduta autoimpostos, pelas represálias ou por sanções impostas pelo Estado. Dessa forma, as instituições criam e delimitam o ambiente onde ocorrerá a transação e onde as organizações irão atuar. Nessa linha de raciocínio, Farina (1994) afirma que as transformações no ambiente institucional podem mudar a estrutura de governança. Portanto, percebe-se que as instituições juntamente com as restrições econômicas definem o conjunto de alternativas e oportunidades a que os agentes econômicos se sujeitam na sociedade, favorecendo, ou não, a elevação dos custos de transação, transformação e lucratividade existentes no sistema econômico. 65 Assim, o conjunto de instituições econômicas e políticas formam a matriz institucional da sociedade. E a dinâmica evolutiva das economias surge da interação entre as instituições e as organizações, definidas como “os jogadores” (organização) que estão enquadradas nas “regras do jogo” (as instituições). De acordo com Milani e Solínis (2002), a governança engloba a constituição de uma legitimidade do espaço público, a repartição do poder entre os que governam e os que são governados, os processos de negociação entre os atores sociais e a descentralização da autoridade e das funções ligadas ao ato de governar. Dessa forma, a governança seria a prática pela qual se dá a gestão do desenvolvimento, prática na qual se dá um processo de acordo entre atores, pela formação e solução de conflitos e assimetrias, bem como pela constituição mínima de consensos. Estes elementos balizam a organização dos atores locais, ou seja, associações, cooperativas, ONGs entre outras organizações da agricultura familiar. Portanto, entende-se que as experiências de organização dos atores locais/regionais no âmbito da agricultura familiar, caracterizam jogadores que atuam dentro das regras do jogo, que emanam de escalas para além da local/regional. Neste sentido, North (1990) afirma ainda que as instituições não apenas constrangem as escolhas como também modelam o comportamento e destaca que “[...] é preciso haver instituições que ampliem o leque de oportunidades a fim de promover o surgimento das organizações” (NORTH, 1994). Percebe-se, então, que o processo de mudança institucional é um processo lento, que não ocorre com facilidade, mas que se faz de maneira gradativa, em função dos conhecimentos e habilidades adquiridos e exercidos pelos agentes ao longo do tempo. Dessa forma, a rede de externalidades que surge de uma matriz de regras formais ou restrições informais irá enviesar os custos e os benefícios das escolhas em favor da estrutura existente. Este capítulo descreverá os fundamentos da Nova Economia Institucional aplicados para a agricultura: i) custos de transação, isto é, análise de estruturas de governança, como o conjunto de regras, tais como: contratos entre particulares e normas internas às organizações, que governam uma determinada transação e a ocorrência de filtros institucionais; e ii) o ambiente institucional: regras formais (políticas agrícolas e regulamentação); regras informais (código de ética, laços familiares, valores culturais e éticos); e direitos de propriedade da terra. 66 3.1.1 Os custos de transação Em 1991 Ronald Coase recebeu o Prêmio Nobel de Economia por sua contribuição ao estudo da natureza da firma, cuja ênfase está não só nos custos de produção mas também nos custos de transação ou transacionais, ou seja, nos diversos custos de negociar, pesquisar, lavrar e afiançar o cumprimento de um determinado contrato (KUPFER; HASENCLEVER, 2002). Williamson (1985) descreve que os custos transacionais são definidos como os custos relacionados ao funcionamento da economia e se tornam aparentes no instante em que se abrangem as organizações e as instituições econômicas como um obstáculo contratual. Neste mesmo pensamento, Begnis, Zerbielli e Estivalete (2006) esclarecem que os custos de transação têm como composição os custos de elaboração, negociação e manutenção dos contratos, mensuração e fiscalização dos direitos de propriedade, monitoramento do desempenho e organização da atividade, e adaptações ineficientes às mudanças do sistema econômico. Portanto, ao se referir aos custos de transação, procura-se trazer como exemplo o PAA que está sendo executado no município de Cuiabá, pois, existe uma estrutura de governança, como o conjunto de regras, o convênio entre o MDS e a Prefeitura de Cuiabá, que determina quais normas irão gerir o comportamento entre as partes: agricultores familiares, banco de alimentos, entidades socioassistenciais, conselhos, que por sua vez pode ocorrer a presença de filtros institucionais. . Nessa linha de raciocínio, Azevedo (2000) analisa a economia dos custos de transação sob duas abordagens: aspectos estáticos – que tratam dos limites à mensuração de informações intrínsecas aos produtos - e aspectos dinâmicos – que tratam da mutação de contratos à medida que as empresas aprofundam uma relação de dependência mútua. Azevedo (2000) enfatiza que não basta apenas ser eficiente em um determinado sistema produtivo, onde cada um de seus segmentos equaciona seus problemas de produção, mas torna-se imprescindível existir coordenação entre os seus componentes, pois só assim serão menores os custos de cada um deles, conseguirão adaptação mais rápida às modificações de ambiente e serão de menos custos as resoluções dos conflitos inerentes às relações entre clientes e fornecedores. A coordenação é uma característica dos agentes econômicos, onde estes fazem uso de mecanismos apropriados para regular uma determinada transação, denominados “estruturas de governança” (WILLAMSON, 1985). São exemplos de estrutura de governança, os 67 contratos de suprimento regular, os contratos de longo prazo com cláusula de monitoramento, a integração vertical, os contratos do PAA/MDS/ Prefeituras, PAA/CONAB, entre outros. No entanto, para os participantes da Nova Economia Institucional ocorre existência de assimetria de informação (conhecimento diferenciado das informações pelos agentes atuantes na economia) ocasionada pela racionalidade limitada; pelo oportunismo dos agentes econômicos (os indivíduos são fortemente autointeressados; podendo, mentir, trapacear ou quebrar promessas); pelas relações de mercado complexas e incertas; e pelos problemas da especificidade dos ativos na economia. Diante desses pressupostos, os agentes constroem estruturas de governança para lidar com as lacunas inevitavelmente presentes em contratos internos e externos às organizações. Diante da existência de assimetria de informações nas celebrações de contratos, depara-se com problemas complexos para mensurar as informações relevantes para a transação de um determinado acordo, havendo necessidade de construção de arranjos institucionais que sinalize adequadamente as informações relevantes. Como exemplo, no caso de saúde pública, o Estado estabelece regulamentação social, inspecionando e punindo infratores. Portanto, quanto maior o problema de mensuração das informações relevantes, maior é o papel reservado ao arranjo institucional. Outro assunto levantado pela NEI diz respeito aos problemas de adaptação dos agentes às mudanças externas. Assim Williamson (1985), preocupou-se mais com custos de transação observados durante a execução dos contratos, sobretudo aqueles derivados de uma menor capacidade de os agentes adaptarem-se às mudanças externas. Williamson (1985) identifica nas transações três dimensões principais, que, em conjunto, permitem inferir os custos de transação: frequência, incerteza e especificidade dos ativos. A frequência é uma medida da recorrência com que uma transação se efetiva, ou seja, quanto maior a frequência, menos serão os custos médios associados à coleta de informações e à elaboração de um contrato complexo que imponha restrições ao comportamento oportunista. Outro papel, se a frequência for muito elevada, os agentes terão motivos para não impor perdas aos seus parceiros, na medida em que uma atitude oportunista poderia implicar a interrupção da transação e a consequente perda dos ganhos futuros derivados da troca. Outro fator que influencia nos custos de transação da economia são as incertezas dos agentes do mercado. A dúvida gerada pela impossibilidade de determinar e discriminar todos os acontecimentos que podem interferir na economia é originário da própria racionalidade 68 limitada humana. Isso tem como consequência, a elevação das dificuldades na definição e diferenciação das informações entre os indivíduos envolvidos, o que pode afetar os resultados do produto e serviço. Assim, em um ambiente de incerteza, os agentes não conseguem prever os acontecimentos futuros. Na agricultura, a incerteza se manifesta em variadas formas, como acidentes naturais ou intervenções não antecipadas nos mercados de alimentos. Essas situações podem acarretar conflitos, renegociação dos contratos, e por conseqüência, gerar custos maiores para todo o sistema envolvido. Williamson (1991, p.281) distingui seis tipos de especificidades de ativos: [...] a) especificidade locacional – a localização próxima de firmas de uma mesma cadeia produtiva economiza os custos de transporte e armazenagem e significa retornos específicos a essas unidades produtivas; b) especificidade de ativos físicos; c) especificidades de ativos humanos, ou seja, toda a forma de capital humano específico a uma determinada firma; d) ativos dedicados – relativos a um montante de investimento cujo retorno depende da transação com um agente particular e, portanto, relevante individualmente; e) especificidade de marca, que se refere ao capital – nem físico nem humano – que se materializa na marca de uma empresa, sendo particularmente relevante no mundo das franquias; e f) especificidade temporal, em que o valor de uma transação depende, sobretudo do tempo em que ela se processa, sendo especialmente relevante no caso da negociação de produtos perecíveis. Diante do exposto, observa-se que as especificidades dos ativos comparecem como elementos importantes a serem considerados para se alcançar o sucesso de uma transação comercial. 3.1.2 O Ambiente Institucional Complementando o tópico anterior no qual foram apresentados aspectos microinstitucionais da NEI, aqui será destacado o papel das macroinstituições que compõem o ambiente institucional: as regras formais; as restrições informais e o direito de propriedade da terra. Segundo Conceição (2002, p.85), as instituições são definidas “ora como normas ou padrão de comportamento, ora como formas institucionais, ora como padrão de organização da firma, ou, ainda como direito de propriedade”. 69 Estudos têm apontado que, a humanidade é gerida por normas, sejam estas formais ou informais, com o propósito de regular o comportamento das pessoas dentro de uma determinada sociedade. Essa realidade também está presente nas instituições. Percebe-se que as regras formais são as mais evidentes no ambiente institucional, e se materializam sob diversas formas: constituição, legislações complementares, conjunto de políticas públicas, dentre outros. No caso da agricultura, por exemplo, uma política de preços mínimos para o milho pode induzir os agricultores a ampliar este cultivo, em detrimento de outras culturas que não são objetos de incentivos para a produção. Essa análise pode ser vivenciada com o Programa de Aquisição de Alimentos (PAA), pois o governo se compromete em adquirir produtos agropecuários com recursos do MDS e/ou MDA, através de convênio, produzidos por agricultores familiares e, dessa forma, estes produtores passam a ter segurança na comercialização de seus produtos por preços mais justos. No entanto, o comportamento humano está condicionado, também, por regras informais, que são tão importantes quanto às formais. As regras informais consistem em valores, tabus, costumes, religiões, código de ética, laços étnicos e familiares, que representam importante papel para desenhar o comportamento dos agentes e as formas de organizações de trabalho. Regras informais também desempenham um importante papel na constituição de cooperativas e pools de produção agropecuária. Tradicionalmente, a produção agrícola defronta-se com uma estrutura oligopsônica na venda de seus produtos, o que pode implicar condições desiguais de comercialização. Uma estratégia consagrada para situações desse tipo é a coordenação horizontal de produtores, na forma de uma cooperativa, associação ou um pool informal, permitindo a comercialização conjunta em melhores condições de barganha (AZEVEDO, 2000, p.43). Porém, não é tão simples criar uma cooperativa e/ou associação, pois exige custos, a saber, os custos ex-ante, relacionados com as ações de: negociar, coletar informações relevantes, estabelecer acordos, e os custos ex-ante. Assim como, os custos ex-post, decorrentes do monitoramento das práticas dos membros da associação, incentivo à fidelidade, quebra de compromisso e morosidade de resposta às mudanças no ambiente econômico. O Programa de Aquisição de Alimentos (PAA) é um programa único que se desdobra em diferentes modalidades executadas por vários agentes operadores. Assim, algumas modalidades permitem o atendimento de agricultores familiares, organizados ou não 70 em associações ou cooperativas. Possibilitando, dessa forma, a constituição de diferentes tipos de arranjos institucionais, de acordo com a realidade de cada segmento. Do acima exposto, conclui-se que é possível a aplicação dos fundamentos da Nova Economia Institucional, tanto em níveis microinstitucionais (custos de transação), como macroinstitucionais (regras formais, informais, dentre outros), para entender se um arranjo específico está permitindo a redução de risco de mercado, a garantia de preço e a comercialização dos produtos. Os direitos de propriedade são definidos por instituições (formais e informais). Alston e Mueller (2003) afirmam que direitos de propriedade são importantes, pois determinam o uso de recursos (bem ou serviço). Portanto, direitos de propriedade são direitos que proprietários de recursos possuem sobre esse recurso, como o direito de venda do recurso, como o de aluguel, o de uso exclusivo, o de transferência e o de herança. Assim, a propriedade e uso de terras no Brasil é assegurada pela escritura, código civil e constituição (instituições formais); também há normas informais da sociedade que asseguram os direitos de propriedade do dono (como o respeito a cercas ou muros). Entretanto, o dono da terra não pode cultivar nela o que deseja (por exemplo: pelas leis brasileiras, não é permitido o plantio de drogas). Segundo Alston e Mueller (2003), o Estado possui o papel de assegurar os direitos de propriedade, em três sentidos: definir, interpretar e enforcement. Dessa forma, o papel de definir fica a cargo do poder legislativo, o de interpretar para o poder judiciário e o de obrigar as pessoas a obedecer a uma lei é função da polícia, ou seja, do poder coercivo do Estado. Entretanto, o papel de defender os direitos de propriedade seguros pode ser muito custoso e eles podem não ser plenamente seguros. Quando isso ocorre, os agentes econômicos não possuem direitos exclusivos no uso de recursos. Pela não exclusividade e o problema do free-rider (carona), não há incentivos para o investimento privado nesses recursos. Por outro lado, quando há direitos de propriedade seguros, há incentivos para melhorar o valor dos recursos, por exemplo, pelo investimento (ALSTON E MUELLER, 2003). Portanto, a definição de direitos de propriedade da terra é relevante para a apropriação dos investimentos agropecuários, pois, a maior parte dos investimentos agropecuários é tipicamente incorporada à terra, de tal forma que a apropriação dos retornos a eles associados depende da manutenção do direito do usufruto da terra. 71 3.1.3 Os Filtros Institucionais Estudos têm demonstrado que atores e organizações, orientados por um conjunto de regras formais (leis, normas, regulamentos, etc.) e informais (tradições, hábitos, conduta ética, etc.), constroem determinado mercado. Portanto, é importante entender como esses atores se interagem e quais as instituições (normas e convenções) estabelecidas nesse processo de construção, com objetivo de buscar um aperfeiçoamento contínuo desse ambiente institucional, através do estímulo da cooperação entre os atores, e o combate às incertezas. Nesse enfoque é que a Nova Economia Institucional, através da aplicação dos seus conceitos, vem possibilitar uma melhor compreensão do funcionamento do mercado institucional do Programa de Aquisição de Alimentos (PAA) adotado no município de Cuiabá, uma vez que esta abordagem privilegia a análise das regras (formais e informais) presentes no ambiente e como elas interferem na eficiência das organizações. Para isso, as organizações devem intervir nas lacunas e imperfeições criadas pela racionalidade limitada e assimetria de informações dos agentes do mercado institucional do PAA. Mundo Neto e Souza Filho (2005) entendem que essas lacunas e imperfeições criam filtros institucionais que acabam dificultando o alcance das metas do programa. Assim, Zezza e Llambí (2001) conceituam filtros institucionais como sistemas operacionais que podem danificar ou mesmo invalidar as regras definidas pelos gestores públicos aos agentes do mercado. Nesses casos, os filtros institucionais trabalhariam como entraves para qualquer efetivação de normas e acordos entre indivíduos deste mercado, tornando ineficaz alguma política planejada. Mundo Neto e Souza Filho (2005) apresentam três tipos de filtros institucionais, classificados como: primeiro nível (macroanalítico); segundo nível (mesoanalítico); e o terceiro nível (microanalítico). Na figura 6 são apresentados os três níveis de filtros. Os filtros de primeiro nível estão relacionados com o desenho e concepção da política. Podem ocorrer equívocos no planejamento desta, pois, trata-se de uma fase que envolve o conhecimento das variáveis exógenas (ambientes político, econômico, dentro outros) que podem impactar negativamente a implementação de uma determinada política. Assim, este filtro atua como redutor da eficácia transacional, transmitindo entraves, dificultando ou mesmo anulando os objetivos e as metas das regras recém-lançadas. A partir desta oferta política, transmitem-se os incentivos aos agentes no tocante a preços, recursos produtivos e condições de trabalho. 72 O filtro de segundo nível, denominado filtro de “transmissão do incentivo” está vinculado ao comportamento e às regras criadas pelos agentes que participam do ambiente de operacionalização da política. Assim, o sucesso ou o fracasso da política nesse nível depende da estratégia adotada pelo agente para que a divulgação das informações sobre os objetivos, incentivos e benefícios cheguem com clareza ao publico alvo. Nesse caso, trata-se de propagação dos incentivos de preços e recursos produtivos para a efetiva produção, consumo e investimento. O terceiro filtro institucional que atua como nível de “tomada de decisão”, está relacionado com o comportamento dos atores que compõem o publico alvo da política. Mundo Neto e Souza Filho (2005) descrevem que, por algum motivo específico, os atores não empregam a política criada e não respondem ao planejamento dos gestores públicos. Este filtro tem fortes ligações com os caracteres qualitativos dos atores, como a formação educacional e valores culturais. No caso do PAA, está relacionado com o repasse da produção aos beneficiários das doações e aos aspectos finais de compra e doação entre produtores, CONAB e entidades beneficiadas. A Figura 6 apresenta estes três níveis e suas peculiaridades na ação de deterioração das políticas públicas. Figura 6-Filtros institucionais no crédito rural Fonte: Mundo Neto e Souza Filho (2005). 73 Portanto, a ideia de usar os filtros institucionais e rede no acesso ao Programa de Aquisição de Alimentos ajuda a entender como funciona a gestão do PAA no Município de Cuiabá: quem são os agentes envolvidos no processo (Conselhos, Sindicatos, Associações); como se dá a escolha de quem participa entre os produtores, entre os beneficiários, escolha dos produtos, entre outros. A seguir, são apresentados a metodologia e a fonte dos dados utilizados nesta pesquisa. 74 4. MÉTODOLOGIA E FONTE DOS DADOS Tendo em vista o objetivo geral desta dissertação, de investigar a operacionalização do PAA em Cuiabá, a metodologia foi dividida em duas etapas: a de obtenção dos dados (fase exploratória, dados secundários e dados primários) e a de processamento e análise dos dados. Na fase exploratória buscou-se caracterizar o município de Cuiabá, objeto da pesquisa, e levantar os documentos páginas eletrônicas da internet com informações sobre a agricultura familiar. Os dados secundários bem como os documentos foram obtidos junto aos órgãos oficiais estaduais e federais, como IBGE, Secretarias de Governo do Estado de Mato Grosso, Prefeitura Municipal de Cuiabá, CONAB, entre outros. São informações sobre o perfil demográfico do município de Cuiabá, indicadores socioeconômicos, aspectos quantitativos da produção agropecuária e da agricultura familiar, e informações sobre as demandas e ofertas de políticas públicas orientadas para a agricultura. A coleta de dados secundários foi complementada pela análise de documentos e diagnósticos já realizados sobre o município de Cuiabá. Os dados primários foram coletados por meio de questionários, aplicados em 14 comunidades, que totalizam 143 propriedades, e entrevistas semiestruturadas com atores locais, representantes da agricultura familiar e/ou de instituições relacionadas a este segmento. Os atores entrevistados foram escolhidos em amostra intencional segundo a ideia de agenteschave, a saber: técnicos da SEDRAF-MT; técnicos da EMPAER; técnicos da Prefeitura Municipal de Cuiabá; Diretoria de Agricultura e Abastecimento do município de Cuiabá; Asilo Santa Rita (entidade socioassistencial); Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Cuiabá; Associação dos Agricultores Familiares da Comunidade Mineira; CONAB; Banco do Brasil; FETAGRI; produtores participantes e não participantes do PAA. As variáveis utilizadas na pesquisa foram: I. Participação no Programa de Aquisição de Alimentos (PAA) – esse programa é importante como instrumento facilitador de aquisição direta de alimentos pelos órgãos públicos junto ao produtor familiar, portanto, impacta diretamente na garantia da comercialização dos produtos desses produtores com condição de pagamento de preço justo. A questão investigou a participação dos produtores familiares no PAA. II. Participação em Associação – trata-se de uma variável que funciona como instrumento de modificação social, ou seja, como um vetor que guia os produtores 75 para obtenção de benefícios proporcionados em diversos programas (PRONAF, PAA e outros). A questão investigou a participação em associações, cooperativas e de outros tipos. Na nova conjuntura, segundo Holanda (2006), ser associado obriga os trabalhadores rurais a intensificar experiências que, na sua situação de vida anterior, dificilmente ocorreriam, os quais passam a organizar-se, procurar os poderes públicos, demandar, pressionar, negociar, enfim a vivenciar um amplo espectro de atividades que os colocam frente ao exercício da participação política. As associações são a forma predominante de organização representativa das comunidades pesquisadas. Sua existência é praticamente obrigatória, pois, como personalidades jurídicas dos produtores, viabilizam os contatos com organismos de estado e outras agências, no sentido de reivindicar direitos e ter acesso às políticas públicas cuja disponibilidade está condicionada à existência das Associações. Assim, a título de exemplo da importância de participar em associações é a exigência para participar do Programa de Aquisição de Alimentos (PAA), visto que no âmbito da Companhia Nacional de Abastecimento (CONAB), a formalização da proposta é feita por meio da Cédula de Produtor Rural – CPR Doação, a partir da apresentação de Proposta de Participação pelos agricultores familiares, organizados em grupos formais (cooperativas e associações), comprometendo-se a entregar os alimentos às instituições governamentais ou não governamentais as quais desenvolvem trabalhos publicamente reconhecidos, de atendimento às populações em situação de risco alimentar e nutricionais (CONAB, 2006). III. Participação em Sindicato – é uma variável complementar às associações, que objetiva defender os direitos da classe dos agricultores familiares através da representação destes em todos os organismos legais (câmaras e conselhos). A questão investiga a situação dos agricultores familiares quanto à sindicalização. IV. Acesso ao PRONAF – considerou-se essa variável devido a sua importância como instrumento de fortalecimento da agricultura familiar, porque disponibiliza crédito acessível ao produtor familiar para estimular a produção de alimentos, integrando-o à cadeia de agronegócios. Trata-se de um instrumento de modificação social, pois proporciona a esse segmento aumento de renda e agregação de valor ao produto e à propriedade, através da modernização do sistema produtivo, da valorização do produtor rural e da profissionalização desses produtores, portanto, permite ao produtor familiar vislumbrar melhoria de qualidade de vida no campo. A pesquisa investigou a 76 participação do produtor familiar no PRONAF, grupos: A, A/C, B, AF e Mais Alimentos. V. Acesso à Assistência Técnica – trata-se de instrumento fundamental para o sucesso dos arranjos produtivos do município de Cuiabá, pois objetiva levar aos produtores familiares capacitação, através de palestras, seminários, orientação: quanto à eficiência na utilização do solo, e à escolha de sementes de qualidade, do manejo integrado, do controle de pragas e doenças sobre colheita, armazenagem, etc. Isso se procede através de visitas técnicas no campo, e do respectivo acompanhamento dos resultados. A pergunta prevê a possibilidade de assistência via EMPAER, prefeitura ou ainda empresas privadas. VI. Posse da Terra – trata-se de um dos principais fatores de produção (terra). Veiga (2002) esclarece que sem a ampliação do acesso a terra e sem o fortalecimento da agricultura familiar, essas pessoas reduzem sua capacidade de permanecer no meio rural. Portanto, a terra juntamente com outros fatores (capital, conhecimento, inovação) são os impulsionadores do crescimento da agricultura familiar, se bem utilizada e com implantação de políticas públicas que venham a auxiliar na fixação dos agricultores familiares no campo: políticas creditícias, políticas sociais, orientação técnica entre outras. O acesso a terra torna-se instrumento para a redução das desigualdades regionais e sociais, assim como da redução da pobreza extrema. A pergunta investiga a situação da posse da terra desses agricultores, se proprietário, meeiro, arrendatário ou outra situação. VII. Tipo de Relevo – o conhecimento do tipo de relevo existente na região permite traçar estratégias de qual modelo tecnológico precisa ser utilizado para melhorar a produtividade da produção. Assim, a questão identifica as características do relevo existente nas propriedades, como: plano, suave ondulado, ondulado. Segundo Vieira; Santos; Vieira (1988), [...] Para o estudo do solo 6 classes de relevo são consideradas: a) Plano – relevo das baixadas, tabuleiros, etc. onde predominam superfícies horizontais ou levemente inclinadas com declive de até 3 por cento; b) Suave ondulado – relevo correspondente às meio-encostas e aos terrenos ligeiramente movimentados (elevações da ordem de 50m), com predominância de declives entre 3 e 8 por cento; c) Ondulado – relevo de superfícies pouco movimentadas (elevações com 50 a 100m) e ligeiramente amorrados, com declives entre 8 e 20 por cento; (VIEIRA; SANTOS; VIEIRA, 1988, p. 34). 77 VIII. Tipo de Solo – também é importante conhecer o tipo de solo existente na região para que se tomem as decisões corretas quanto ao tipo de tecnologia a ser empregada, para melhorar a produtividade da agricultura. A pesquisa investiga os tipos de solos existentes nas propriedades: arenoso, misto, argiloso, pedregoso. IX. Irrigação – trata-se de uma variável de suma importância, pois é um indicador que permite tecnologias alternativas para produção em diferentes momentos do ano. Essa variável permite que o produtor defina o que plantar e suas respectivas colheitas, principalmente nas épocas de entressafras. São inúmeras as vantagens quando se utiliza irrigação de forma correta: define-se a época apropriada para plantar, produtos com melhor qualidade, comercialização contínua dos seus produtos, redução de riscos de secas entre outras. Sabe-se que a produtividade da terra irrigada supera mais de duas vezes a da terra molhada pela chuva. A questão identificou os seguintes tipos de irrigação: gotejamento, aspersão, sulco ou outra. A EMBRAPA (2008) define cada tipo de irrigação: No sistema de gotejamento, a água é aplicada de forma pontual na superfície do solo. Os gotejadores podem ser instalados sobre a linha, na linha, numa extensão da linha, ou ser manufaturados junto com o tubo da linha lateral, formando o que popularmente denomina-se "tripa". A vazão dos gotejadores é inferior a 12 l/h. A grande vantagem do sistema de gotejamento, quando comparado com o de aspersão, é que a água, aplicada na superfície do solo, não molha a folhagem ou o colmo das plantas. As maiores desvantagens são os entupimentos, que requerem excelente filtragem da água e a interferência nas práticas culturais quando as laterais não são enterradas. No método da aspersão, jatos de água lançados ao ar caem sobre a cultura na forma de chuva. As principais vantagens dos sistemas de irrigação por aspersão são: (1) - facilidade de adaptação às diversas condições de solo e topografia; (2) - apresenta potencialmente maior eficiência de distribuição de água, quando comparado com o método de superfície; (3) - pode ser totalmente automatizado; (4) - pode ser transportado para outras áreas; (5) as tubulações podem ser desmontadas e removidas da área, o que facilita o tráfego de máquinas. As principais limitações são: (1) - os custos de instalação e operação são mais elevados que os do método por superfície; (2) - pode sofrer influência das condições climáticas, como vento e umidade relativa; (3) - a irrigação com água salina, ou sujeita a precipitação de sedimentos, pode reduzir a vida útil do equipamento e causar danos a algumas culturas; (4) - pode favorecer o aparecimento de doenças em algumas culturas e interferir com tratamentos fitossanitários; (5) - pode favorecer a disseminação de doenças cujo veículo é a água. No método de irrigação por superfície, a distribuição da água se dá por gravidade através da superfície do solo. As principais vantagens do método de superfície são: (1) - menor custo fixo e operacional; (2) - requer equipamentos simples; (3) - não sofre efeito de vento; (4) - menor consumo 78 de energia quando comparado com aspersão; (5) - não interfere nos tratos culturais; (6) - permite a utilização de água com sólidos em suspensão. As principais limitações são: (1) - dependência de condições topográficas; (2) requer sistematização do terreno; (3) - o dimensionamento envolve ensaios de campo (4) - o manejo das irrigações é mais complexo; (5) - requer frequentes reavaliações de campo para assegurar bom desempenho; (6) - se mal planejado e mal manejado, pode apresentar baixa eficiência de distribuição de água; (7) - desperta pequeno interesse comercial, em função de utilizar poucos equipamentos. X. Água – trata-se de variável essencial para a vida em todas as suas espécies, na agricultura não é diferente. Assim, o acesso aos recursos hídricos é um determinante importante da produtividade da terra e da estabilidade do rendimento agrícola. A pergunta identifica quais as fontes de água mais utilizadas pelos produtores (poço comum, tubular profundo, açude, córrego ou rio) e se o fluxo de água é perene ou intermitente. XI. Energia Elétrica – trata-se de uma das variáveis promotoras do desenvolvimento rural, tanto que contempla o programa Luz para Todos do Governo Federal. Assim, essa variável integrada com outras políticas de desenvolvimento rural vem auxiliando para que aconteça desenvolvimento social e econômico, contribuindo dessa forma para a redução da pobreza. Percebe-se que energia elétrica traz inúmeros benefícios para a população rural quanto à utilização de eletrodomésticos e outros equipamentos elétricos os quais contribuem para melhorar a qualidade de vida das famílias rurais assim como para adoção de mecanização em atividades como a ordenha mecânica, acionamento de motores elétricos, sistemas de bombeamento entre outros. A questão identificou a existência ou não de energia elétrica nas propriedades. XII. Estradas – é uma variável importante, que faz parte de programas de infraestrutura básica. A manutenção das estradas permite melhorar a circulação dos produtos agrícolas, o escoamento da produção, interligar as regiões e permite o acesso direto dos agricultores familiares aos locais de comercialização dos produtos agrícolas. A pergunta investigou a situação das estradas nas propriedades: boa, regular ou ruim. XIII. Adubação – trata-se de uma variável importante, juntamente com o relevo, solo, irrigação, pois, deve-se fazer a aplicação de nutrientes em quantidade e qualidade certas em época apropriada. Aqui fica clara a importância da assistência técnica aos produtores rurais, desde o receituário até a aplicação dos fertilizantes. A pergunta investigou que tipo de adubação os agricultores estão utilizando: adubação orgânica, adubação química ou se não faz adubação. 79 XIV. Conservação de solos – variável que demonstra a importância de se utilizar práticas conservacionistas e depende de qualidade da assistência técnica junto aos produtores rurais. A questão investigou se os agricultores adotam alguma prática que auxilia a conservação de solos: plantio em nível, curva de nível, terraços, ou se não fazem conservação de solo. Em seguida têm-se algumas definições técnicas sobre os vários tipos de técnicas de conservação de solo (AMARAL, 1984): a) plantio em nível consiste em preparar o solo para plantio e plantar de acordo com o nível do terreno. A erosão reduz significativamente o potencial de produção. A água que escorre levando consigo o potencial produtivo do solo. Evita-se o problema reduzindo-se a velocidade de escoamento com a utilização de barreiras, curvas de nível, terraços e outros artifícios adequados, baseados em levantamentos topográficos da área e projeto feito por técnico competente. b) Plantio direto em curvas de nível – entende-se por plantio direto o ato de revolver o mínimo possível o solo durante o plantio, isto é, abrir apenas um sulco para a incorporação do adubo e da semente, dispensando os processos convencionais de aração e dragagem e mantendo os restos da cultura anterior sobre o solo. Utilizam-se plantadeiras especiais com discos de corte para não enroscarem com a vegetação. O plantio direto promove o mínimo desgaste do solo e de sua atividade microbiana. Uma das principais vantagens desse processo é que ele diminui significativamente a compactação das camadas mais profundas do solo em virtude do uso de máquinas pesadas e da presença de cobertura do solo sobre o terreno. Por conservar melhor a umidade e manter a temperatura mais baixa ajuda a atividade microbiana do solo, o que provou benéfico às culturas, principalmente em regiões de clima mais tropical. Sua principal vantagem é um aumento inicial no uso de herbicidas para controle de plantas invasoras. As vantagens do plantio direto vão se acumulando safra após safra, num processo cumulativo virtuoso. XV. Adubação Verde – trata-se de uma variável que tem por objetivo a proteção do solo, portanto, é a forma de incorporar nutrientes ao solo, de tal forma que venha a melhorar a estrutura do solo, melhorar a drenagem e contribuir para aumentar a produtividade da terra. A pergunta identificou se os agricultores empregam ou não a adubação verde nos solos. Assim, a adubação verde consiste em plantar uma cultura que não será comercializada, mas será útil para manter o solo coberto, diminuir a erosão entre os períodos de plantios comerciais ou nas linhas de culturas permanentes, e para melhorar a produtividade da terra. XVI. Mecanização – trata-se de variável importante na prestação de serviços na zona rural, ao analisar se as máquinas e implementos são próprios ou alugados. A mecanização da 80 lavoura auxilia a aumentar a produtividade das terras. A questão identificou a forma de utilização da mecanização pelos agricultores familiares: máquina própria, máquina alugada, ou não utilizam mecanização. XVII. Forma de venda / comercialização dos produtos – sabe-se que um dos principais gargalos que os produtores rurais deparam é justamente na distribuição de seus produtos. Assim, a dificuldade de comercialização, em pequena escala, sem atravessador é um dos grandes óbices à melhoria de renda dos produtores rurais. Portanto, para diminuir tais entraves, utiliza-se uma forma de rede de comercialização, onde o setor público se organiza para buscar a produção desse segmento e viabiliza a comercialização dos produtos através de várias formas: Programa de Aquisição de Alimentos, Banco de Alimentos, Central de Abastecimento, Merenda Escolar, CONAB. São duas perguntas que possibilitam identificar a forma de comercialização da produção: a primeira investiga se a venda é para o mercado local, regional, ou ambos e, a segunda, se o comércio dos produtos é feito na propriedade, por atravessador, na feira livre, no supermercado ou atacadista. XVIII. Transporte – trata-se de uma variável importante, pois se sabe da dificuldade no escoamento da produção agrícola devido, principalmente, à falta de transporte rápido e de qualidade para a chegada desses produtos no local de venda em condições de consumo. A pergunta identificou como o transporte da produção é feito: próprio, pela associação, pelos compradores, ou por terceiros. Para atingir os objetivos propostos neste trabalho, foram utilizados bases de dados provenientes de fontes diversas, uma delas trata-se de dados da Empresa Mato-grossense de Pesquisa, Assistência Técnica e Extensão Rural – EMPAER/MT, através do Programa Mato Grosso Auto Suficiente em Frutas, Legumes e Verduras – FLV‟s – Território da Cidadania Baixada Cuiabana, pesquisa em andamento, realizada em parceria Ministério de Desenvolvimento Agrário e a Fundação de Amparo à Pesquisa, Assistência Técnica e Extensão Rural de Mato Grosso - MDA/FUNDAPER. Dessa forma, foi levantada a produção de frutas, legumes e verduras, “in natura” convencional, orgânica e agroindustrializada, por produto, agricultor, organização e município, e identificadas as principais limitações de ordem tecnológica, infraestrutura, creditícia e mercadológica nas comunidades pesquisadas. Conforme registro da EMPAER de abril de 2009, quanto à agricultura familiar, no município de Cuiabá existiam 1.687 famílias distribuídas da seguinte forma: Comunidades Tradicionais: 30 propriedades com 719 famílias; Assentamentos de Reforma Agrária do 81 Instituto Nacional de Reforma Agrária - INCRA/MT: uma comunidade com 35 famílias; Assentamentos de Reforma Agrária do Instituto de Terras de Mato Grosso - INTERMAT: 5 comunidades com 691 famílias; Assentamentos de Agrários via Crédito Fundiário: 18 comunidades com 242 famílias (EMPAER, 2009). Observa-se que as Comunidades Tradicionais representam 42,62% dos agricultores familiares desse município, seguido de perto por assentados de reforma agrária do INTERMAT (40,96%) e 14,34% representam assentados via Crédito Fundiário. A pesquisa foi feita com uma amostra de 14 comunidades, representando 25,9% do total de comunidades (54) de agricultores familiares. As 14 comunidades totalizam 143 famílias, o que representa 8,48% do total de famílias existente no município de Cuiabá (1.687). A distribuição das famílias entre as comunidades é como apresentada na Tabela 15. Tabela 15 Comunidades e estabelecimentos pesquisados na zona rural de Cuiabá-MT em 2009 Comunidades Bela Vista Carioca Casulo Cinturão Verde Córrego do Ouro Gleba Tucum Machado Mata Mata Mineira PA Marcolana PA 21 de Abril Pai Joaquim Porto Bandeira Três Pedras TOTAL 14 Fonte: COATER – EMPAER/MT (2009). Nota: Tabela elaborada pela autora com base. N° de Estabelecimentos 8 4 5 11 24 5 4 17 13 26 19 3 1 3 143 A análise estatística utiliza o teste Z para as proporções de duas amostras (McClave e Benson, 2009, cap.7) quando se compara os participantes do PAA com os não participantes. Ou seja, testa-se a hipótese nula de que as proporções são iguais (equivalente a H0: PPAA-PNPAA = 0: não existe diferença entre as proporções), hipótese alternativa H1: PPAA-PNPAA ≠ 0: existe diferença entre as proporções), para as variáveis: participação em associação; acesso à assistência técnica (se tem ou não, independente do órgão que a realiza); irrigação (dos diferentes tipos: gotejamento + aspersão + outras); energia elétrica; adubação 82 (realizam adubação química, orgânica ou ambas); conservação de solos; análise de solo, agrotóxicos, mecanização (utilizam máquinas próprias ou alugadas). Para comparar a quantidade produzida e a área plantada, utilizou-se do teste unilateral de distribuição de t de comparação das médias, sendo a hipótese nula de que as médias são iguais (H0: PAA = não PAA) e a hipótese alternativa de que a média dos participantes do PAA é superior à dos não participantes (H1: PAA > não PAA). A seguir, tem-se a apresentação e discussão dos resultados da pesquisa. 83 5 RESULTADOS Para análise e avaliação geral do Programa de Aquisição de Alimentos como proposto no objetivo geral, foram feitas dois tipos de análises: uma da proposta governamental enquanto metas, ações e seus resultados; e outra enquanto resultados empíricos em nível de produção rural. Por último, foi feita a análise conjunta sob o prisma dos filtros institucionais. 5.1 Análise da proposta governamental Nesta seção, faz-se uma análise geral dos documentos, relatórios e resultados de entrevistas que nortearam a investigação para saber se o programa alcançou as metas previstas do ponto de vista governamental, quais foram os produtos, o número de produtores e de beneficiários envolvidos e outras características que permitirão avaliar a hipótese de que o programa não cumpriu suas metas para Cuiabá. Conforme exposto anteriormente, o Programa de Aquisição de Alimentos no Município de Cuiabá teve execução dividida entre a MDS-Prefeitura e MDS-Conab. Na sequência, será feita a análise de cada convênio. 5.1.1 Programa no âmbito do MDS-Prefeitura de Cuiabá A proposta apresentada no âmbito do MDS-Prefeitura era de que o Programa atuasse em duas frentes: a primeira direcionada para a produção e o escoamento do produto, e a segunda, direcionada para o consumo e suplementação alimentar das pessoas atendidas pelas entidades socioassistenciais. Assim, o objetivo era que 240 (duzentos e quarenta) produtores familiares participassem do Programa, com 11 (onze) tipos de produtos, que beneficiassem 175 (cento e setenta e cinco) entidades socioassistenciais, as quais atenderiam diretamente 48.963 (quarenta e oito mil, novecentas e sessenta e três) pessoas, conforme discriminado nas Tabelas 16 e 17. 84 Tabela 16 Dados da proposta do PAA – MDS com a Prefeitura de Cuiabá – 2007-2008 Nº de Valor Quantidade Valor Total Produtos Agricultores Unitário (Kg) (R$) Familiares (R$) Feijão carioca 60 147.991,74 1,42 210.148,27 Mandioca In natura 41 339.088,31 0,46 155.980,62 Farinha Mandioca 27 102.108,70 1,00 102.108,70 Milho Verde 21 95.454,45 0,77 73.499,26 Abacaxi 16 93.333,28 0,60 55.999,97 Melancia 11 128.333,26 0,30 38.499,98 Banana da Terra 15 52.500,00 1,00 52.500,00 Abóbora Cabotiã 15 42.000,00 1,25 52.500,00 Maxixe 14 21.030,07 2,33 49.000,63 Couve 10 70.000,00 0,50 35.000,00 Alface 10 70.000,00 0,50 35.000,00 Total 240 860.237,43 Fonte: PMC/SMTDE (2007). Nota: Elaborado pela autora com adequações. A Tabela 17 mostra que do total da produção do PAA, 58% serão direcionadas para as Escolas Municipais, 23% para as Creches Municipais, 16% para Entidades Assistenciais e 3% para a Universidade Popular Comunitária, beneficiando 48.963 pessoas. Tabela 17 Número de entidades e pessoas beneficiadas – dados da proposta Especificação Nº Entidades Beneficiadas População Atendida Creches Municipais 41 4.087 Escolas Municipais 101 40.288 Entidades Assistenciais 28 3.569 UPC – Universidade Popular Comunitária 05 1.019 Total 175 48.963 Fonte:PMC/SMTDE (2007). Nota: Elaborada pela autora. Olhando a distribuição entre as 175 instituições, os dados estão bem distribuídos entre instituições e número de pessoas beneficiadas – a mediana da proposta do número de 85 pessoas a serem beneficiadas nas instituições recebedoras dos produtos agrícolas foi igual a 230, ou seja, 50% das instituições teriam menos de 230 pessoas. Entretanto, três instituições seriam outliers para 95 % de confiança, a saber: EMEB Dr. Orlando Nigro, EMEB Pedrosa De Morais E Silva e EMEB Jescelino José Reiners, com 1.319, 1.119 e 1.082 pessoas, respectivamente. Porém, isso se justifica, pois a quantidade de alimentos a serem distribuídos seria de acordo com o número de pessoas a serem atendida em cada entidade beneficiada (Figura 7). Análise da Proposta - Número de Pessoas Beneficiadas (nas Instituições) A nderson-Darling N ormality Test 0 200 400 600 800 1000 A -S quared P -V alue < 5,18 0,005 M ean S tD ev V ariance S kew ness Kurtosis N 279,79 243,85 59463,04 1,29703 2,07731 175 M inimum 1st Q uartile M edian 3rd Q uartile M aximum 1200 0,00 80,00 230,00 422,00 1319,00 95% C onfidence Interv al for M ean 243,41 316,17 95% C onfidence Interv al for M edian 152,12 281,92 95% C onfidence Interv al for S tDev 9 5 % C onfidence Inter vals 220,70 272,47 Mean Median 150 200 250 300 Figura 7 - Análise da proposta: número de pessoas beneficiadas nas instituições Fonte: Elaborada pela autora com base de dados da PMC/SMTDE (2007). A proposta previa 240 produtores agrícolas, cada um com valor previsto de R$ 3.500,00 (Três mil e quinhentos reais) - teto do programa para a época, mas, no que se refere ao tipo de produto, houve maior concentração da proposta para o feijão, a mandioca in natura e a farinha de mandioca, já que 53,3% dos agricultores produzem esses 3 alimentos, dentre os 11 contemplados (Figura 8). 86 Figura 8-Número de produtores rurais da proposta, por tipo de produto Fonte: Elaborada pela autora com base em dados da PMC/SMTDE (2007). Percebe-se, também, ao analisar a proposta, a não clareza das quantidades a serem distribuídas entre escolas e creches, pois ficou a cargo da Secretaria Municipal de Educação a responsabilidade de fazer a distribuição dos produtos e quantidades para cada escola e creche. Entretanto, no asilos, nos albergues e outros, está bem resolvida essa questão de quantidade e alimentos a serem distribuídos pelo Banco de Alimentos. De acordo com o relatório de prestação de contas, referente ao convênio nº. 177/2007 – Programa de Aquisição de Alimentos (PAA) – Modalidade: Compra Direta Local da Agricultura Familiar do Município de Cuiabá (CDLAF – com doação simultânea), encaminhado ao Ministério de Desenvolvimento Social e Combate à Fome, tem-se que: 87 O processo de seleção do público beneficiário deu-se a partir dos agricultores familiares devidamente cadastrados no Ministério de Desenvolvimento Agrário (MDA) pelas suas respectivas Declarações de Aptidão ao Pronaf – DAP, e posteriormente de visitas a campo, objetivando verificar a aptidão e a vulnerabilidade social dos produtores atendidos para que fossem feito as escalas de entrega de produtos e a rota de tráfego dos caminhões que iriam transportar os produtos, a fim de se alcançar a finalidade do Programa; O número exato de produtores atendidos foi de 195 (cento e noventa e cinco) sem repetição, sendo que 17 (dezessete) produtores comercializaram seus produtos apenas em 2008, 72 (setenta e dois) em 2009, e 106 (cento e seis) produtores comercializaram seus produtos em 2008 e 2009 com repetição de 106 (cento e seis) agricultores perfazendo um total de 301 (trezentos e um) nomes beneficiados; As Instituições Socioassistenciais beneficiadas foram as que estavam habilitadas através do cadastro no Banco de Alimentos com o número do CNPJ da instituição, o nome e CPF do responsável legal da entidade, número de pessoas atendidas. Foram atendidas 83 (oitenta e três) instituições, envolvendo escolas, creches, outros, mas sem a identificação precisa de quais. Com relação aos produtos entregues, em contato com os órgãos de controle não foi possível identificar documentos que relacionassem os produtos e respectivos beneficiários. Apenas no primeiro mês, junho de 2008, foi feito um relatório, que consta terem sido entregues os seguintes produtos: mandioca (17.165) kg, alface (2.975) kg, banana (695) kg e milho (939) kg. Foram entregues pelo PAA às instituições socioassistenciais nos meses de julho, agosto, setembro, outubro, novembro e dezembro de 2008, respectivamente, 31.280, 55.247, 44.023,98, 79.873,07, 54.770, 54.770 kg de alimentos. Portanto, verifica-se que, a princípio, não foi cumprida a meta inicial do programa que era o de apoiar 240 (duzentos e quarenta) agricultores familiares por meio da compra de seus produtos, já que atendidos 195 (cento e noventa e cinco); e distribuir os produtos adquiridos aos beneficiários do programa, 175 (cento e setenta e cinco) entidades socioassistenciais, já que foram beneficiadas 83 (oitenta e três), com recursos no valor de R$ 886.500,00 (oitocentos e oitenta e seis mil e quinhentos reais), sendo R$ 840.000,00 de repasse do concedente (MDS) e R$ 46.500,00 de contrapartida do convenente (Prefeitura de Cuiabá), no período de novembro de 2007 a outubro de 2008. Como não foi cumprida a meta, prorrogou-se por termo aditivo de prazo por mais um ano, até outubro de 2009. Assim, em 2009 houve a participação de mais 106 (cento e seis) 88 agricultores, com repetição, perfazendo um total de 301 (trezentos e um) nomes beneficiados, portanto, cumpriu-se a meta proposta. Verificando o Termo de Convênio n°. 177/2007, percebe-se que este apresenta fragilidade em relação à prestação de contas quanto aos produtos a serem entregues às instituições socioassistenciais, pois, de acordo com a cláusula segunda – dos deveres das obrigações, item 2.2 do convenente, subitem 2.2.6, [...] fornecer ao Concedente, trimestralmente, relatórios com o número de instituições beneficiárias e/ou beneficiários dos programas sociais que receberam os alimentos adquiridos, bem como o número de agricultores familiares apoiados e o valor médio do incentivo, em reais, por agricultor, e as toneladas de alimentos adquiridos. Portanto, não é necessário informar nominalmente quais as instituições socioassistenciais que foram beneficiadas e nem os respectivos produtos doados, tornando-se difícil fazer um acompanhamento mais acurado sobre quais produtos realmente forem entregues e avaliar a qualidade dos mesmos. Esta fragilidade pode ser considerada um filtro institucional do Programa de Aquisição de Alimentos, pois, trata-se de lacunas e imperfeições que podem prejudicar o alcance das metas do programa. Esse tipo de filtro pode ser considerado de primeiro nível. Segundo Mundo Neto e Souza Filho (2005), os filtros de primeiro nível estão relacionados ao desenho e à concepção da política. Portanto, a fragilidade detectada na elaboração do convênio, ou seja, as lacunas relacionadas à prestação de contas referentes a não obrigatoriedade de se informar nominalmente as instituições beneficiadas pelo Programa e nem nominar os produtos entregues a estas, dá margem a falhas no monitoramento e avaliação da proposta, pois, não se consegue determinar com clareza quais as entidades que foram beneficiadas pelo Programa e nem quais produtos foram entregues, muito menos sobre a qualidade dos mesmos. Isso contribui negativamente ao cumprimento do Princípio Constitucional da transparência que rege o Ente Público. Então, percebe-se já nesse momento a existência de algumas dificuldades ou imperfeições na execução do PAA em Cuiabá. Diante da conclusão do Termo de Convênio nº 177/2007 foi elaborado novo Termo de Convênio – nº 736434/2010, entre o MDS e a Prefeitura do Município de Cuiabá – Programa de Aquisição de Alimentos (Compra Direta Local da Agricultura Familiar) para o período de 2010 a 2012, porém encontra-se paralisado por questões burocráticas. 89 5.1.2 Programa no âmbito do MDS-Conab Como já foi mencionado anteriormente, o Programa de Aquisição de Alimentos – PAA/CONAB foi realizado através de Termo de Cooperação n°. 003/2009 (Processo n°. 71000.036137/20090-7; vigência: 04/05/2009 até 31/07/2011), cujo objetivo é estabelecer parceria entre o Ministério de Desenvolvimento Social e Combate à Fome - MDS, e a Companhia Nacional de Abastecimento – CONAB. O Município de Cuiabá participou somente com a comunidade Marcolana, localizada no Distrito do Aguaçú, através da assinatura da Cédula de Produtor Rural – CPR-DOAÇÃO, cujo projeto contemplou a participação de 27 (vinte e sete) famílias de agricultores familiares, com o fornecimento dos seguintes produtos: abóbora paulista, abóbora menina, banana da terra, banana maçã, berinjela, mamão formosa, maxixe, melancia, melão caipira, milho verde em espiga com palha, pepino caipira, quiabo, raiz de mandioca in natura. O Banco de Alimentos era responsável pela distribuição dos alimentos às entidades socioassistenciais cadastradas. O período contemplado por esse convênio com a comunidade Marcolana teve início em 2009, porém sua execução aconteceu em outubro de 2009 com término previsto para outubro de 2010. No decorrer desse período houve a necessidade de prorrogação com termo aditivo de prazo para conclusão da proposta original, pois até novembro de 2010 ainda faltava o valor de R$ 4.913,76 para concluir a proposta inicial que era de R$ 114.391,50 (valor líquido). Portanto, até junho de 2011 a comunidade Marcolana, ainda, não tinha cumprido o acordo firmado na proposta original de 2009. Percebe-se, também, que existe certa fragilidade no tocante à fiscalização por parte da Conab, quanto à entrega dos alimentos via Banco de Alimentos às instituições socioassistenciais, porque, conforme informação da técnica da Conab/MT, essa regional não dispõe de técnicos suficientes para acompanhar in loco a distribuição dos alimentos às instituições cadastradas. Porém, foi informado, também, que a Conab realiza reuniões uma vez ao ano com as instituições socioassistenciais, esclarecendo dúvidas do PAA e como estas devem proceder ao receber os alimentos. Percebe-se então, que as instituições beneficiárias que fiscalizam e denunciam quaisquer eventuais irregularidades em relação à qualidade do produto ou entrega dos produtos elencados na proposta, por meio de denúncia anônima, reclamação via ouvidoria da Conab, etc. Aqui, verifica-se a existência do filtro institucional de segundo nível “transmissão do incentivo”, que pode resultar em sucesso ou fracasso do Programa. O convênio analisado usou 90 desse filtro para o sucesso do Programa, pois, a Conab-Surege/MT adotou a estratégia de reunir anualmente com os envolvidos no processo do PAA para esclarecer dúvidas, informar sobre os objetivos, incentivos e benefícios do Programa . As informações de entregas de produtos revelam que não ocorrem em todos os meses do ano, concentrados em janeiro, março, agosto, setembro, outubro e novembro de 2010. Esta entrega sem fluxo regular é outra fragilidade do programa uma vez que as entidades beneficiadas enfrentam períodos sem entrega alguma. Este fato pode estar associado ao pequeno período de existência do programa na cidade, uma vez que este teve entregas apenas a partir de 2010 (MDS/CONAB) e ainda não houve estabilização das entregas. Em 2011, outra comunidade entrou no programa, mas ainda está no início das atividades. A análise da Cédula do Produtor Rural revela que existe certa flexibilidade no prazo e na regularidade da entrega do produto, visto como desejável pelas entrevistas com agentes públicos, em face das incertezas da produção agrícola. Aqui, percebe-se a importância da estrutura de governança na flexibilidade de contratos firmados entre a CONAB e as associações e/ou cooperativas de agricultores familiares do Município de Cuiabá, no caso específico a comunidade Marcolana. Dentre as incertezas da produção agrícola, os acidentes naturais são os mais comuns, e podem causar conflitos e ajustes nos contratos. Isso interfere diretamente nos custos do contrato, uma das dimensões dos custos de transação. A incerteza e especificidade dos ativos perfazem as outras dimensões. Diante da análise dos convênios, tanto em nível de município de Cuiabá, quanto com a Conab, percebe-se que não existe uma preocupação maior com quem recebe os alimentos (entidades socioassistenciais), conforme descrito acima, configurando-se como fragilidade do programa ou filtro institucional de primeiro nível. Outra característica observada no Programa diz respeito à lógica do seu funcionamento, isto é, foi informado pela técnica entrevistada, que após três ou quatro anos de participação, os produtores já apresentam melhora de autoestima, melhora a qualificação, busca constante da profissionalização, isto é, melhoria na gestão dos seus negócios, maior grau de organização, passando a ofertar produtos de qualidade e produção escalonada, continuamente, e assim conseguem ofertar seus produtos em novos mercados, podendo concorrer com outros fornecedores. Então, nesse nível, diminuem suas participações no PAA, com valores menores a serem contratados, em vistas dos novos mercados acessados. Essa realidade acima mencionada se verifica no Estado de Mato Grosso com a Associação Regional de Produtores Agroecológicos (ARPA), localizada no Município de 91 Mirassol D‟ Oeste/MT, pioneiros em participar do PAA no Estado de Mato Grosso, desde o ano de 2005. Essa associação atende os agricultores familiares dos municípios de São José dos Quatro Marcos, Curvelândia e Mirassol D‟ Oeste, e é assessorada pela Federação de Órgãos para Assistência Social e Educacional (FASE). Outro fato informado nas entrevistas com técnico da Conab/MT é que durante o Encontro Regional para avaliar os resultados do PAA em Mato Grosso, foi tornado público o interesse em transformar esse Projeto em Política Pública de Estado. Porém, ainda está em fase de amadurecimento dessa proposta, a exigir maior engajamento dos interessados junto aos Órgãos Federais responsáveis pela gestão do PAA em nível nacional. 5.2 Análise da amostra de produtores rurais Os dados foram levantados pela EMPAER-MT, em novembro de 2009, em 143 (cento e quarenta e três) propriedades pesquisadas, onde 61 (sessenta e um) agricultores familiares participam do PAA e 82 (oitenta e dois) não participam. Foram pesquisadas 14 (quatorze) comunidades cuja área total é de 2.199,5 hectares e área média 15,4 hectares, sendo que a área média das propriedades dos agricultores familiares que participam do PAA é de 11,6 hectares e dos que não participam é de 18,2 hectares (Tabela 18). Tabela 18 Áreas totais e médias das comunidades rurais pesquisadas, Cuiabá-MT, 2009 Comunidades N° de estabelecimentos Não Total PAA PAA 8 3 5 4 3 1 5 2 3 11 5 6 PAA Área (ha) Não Total PAA 125,6 159,1 227,0 316,0 10,0 17,0 29,5 52,0 Área Média (ha) Não PAA Total PAA 11,2 25,1 19,9 29,7 227,0 79,0 3,5 3,3 3,4 4,5 4,9 4,7 Bela Vista 33,5 Carioca 89,0 Casulo 7,0 Cinturão Verde 22,5 Córrego do 24 2 22 20,0 288,2 308,2 10,0 13,1 Ouro Gleba Tucum 5 3 2 41,0 52,0 93,0 13,7 26,0 Machado 4 2 2 49,5 35,0 84,5 24,8 17,5 Mata Mata 17 1 16 2,0 401,0 403,0 2,0 25,1 Mineira 13 5 8 45,0 71,9 116,9 9,0 9,0 PA Marcolana 26 25 1 236,0 7,5 243,5 9,4 7,5 PA 21 de Abril 19 7 12 119,6 211,2 330,8 17,1 17,6 Pai Joaquim 3 3 0 44,0 0,0 44,0 14,7 0,0 Porto Bandeira 1 0 1 0,0 2,5 2,5 0,0 2,5 Três Pedras 3 0 3 0,0 29,0 29,0 0,0 9,7 Total 143 61 82 709,1 1.490,4 2.199,5 11,6 18,2 Fonte: Tabela elaborada pela autora com base nos dados: COATER – EMPAER/MT (2009). 12,8 18,6 21,1 23,7 9,0 9,4 17,4 14,7 2,5 9,7 15,4 92 Quanto à posse da terra, percebe-se que 89,5% dos produtores pesquisados são proprietários da terra, destes 40,6% participam do PAA e 48,9% não participam do Programa, enquanto os demais (meeiro, arrendatário e outros) representam apenas 10% (Tabela 19). Tabela 19 Situação sobre a posse da terra dos agricultores familiares em 2009 Situação Nº de Produtores Proprietário 128 Meeiro 3 Arrendatário 3 Outros 9 Total 143 Fonte: COATER – EMPAER/MT (2009). Percentual Total PAA Não PAA 89,5 2,1 2,1 6,3 100 40,6 0,7 0,7 0,7 42,7 48,9 1,4 1,4 5,6 57,3 A pesquisa identificou que a média de pessoas da família que trabalham na propriedade é de 2,45 pessoas e que o número médio de trabalhadores temporários contratados por ano nas propriedades foi de 0,89 pessoas. Nas comunidades pesquisadas ocorrem três tipos básicos de relevo: plano (34%), suave ondulado (53%), ondulado (13%) (Tabela 20). Quanto aos solos identificados nas áreas das comunidades são de quatro tipos: arenoso (3%), misto (31%), argiloso (48%) e pedregoso (17%) (Tabela 21). Tabela 20 Tipos de relevo das propriedades pesquisadas - 2009 Relevo Plano Suave ondulado Ondulado Total Fonte: COATER – EMPAER/MT (2009). Nº de Propriedades Percentual 48 76 19 143 34 53 13 100 Tabela 21 Tipos de solo das propriedades pesquisadas - 2009 Solo Arenoso Misto Argiloso Pedregoso Total Fonte: COATER – EMPAER/MT (2009). Nº de Propriedades 5 45 69 24 143 Percentual 3 31 48 17 100 93 O relevo é plano e suave ondulado, no entanto, com risco de erosão em algumas áreas. Os solos têm potencialidades agrícolas, já que grande parte das propriedades (79%) do tipo misto ou argiloso, adequados para o cultivo de arroz, milho, feijão, mandioca, fruticultura irrigada e pastagens adaptadas à região. O cruzamento das informações entre participantes ou não do PAA, tipo de solo e de relevo pode ser observado na Figura 9, em que se detecta que a maior parte dos produtores da amostra está nos tipos de solos misto e argiloso, com relevo plano e suave ondulado. Dos participantes do PAA, contam-se 46, ou seja, 75% (entre 61 totais) com relevo plano ou suave ondulado e solos mistos ou argilosos, ou seja, características mais adequadas para a produção agrícola. Portanto, os restantes 15 estão em situações piores em termos de relevo ou solo comparativamente aos demais. Já entre os não participantes do PAA, contam-se 52, ou seja, 63% (entre 82 totais) com relevo e solo de características desejáveis, e outros 30 em situações piores relativamente. TIPOSOLO 1 2 3 4 40 Contagem 30 20 10 0 RELEVO PAA 1 2 0 3 1 2 1 3 Figura 9-Contagem de propriedades segundo a participação no PAA, tipo de relevo e de solo. Fonte: COATER – EMPAER/MT (2009). Observações: Relevo = 1 a 3 (plano, suave ondulado, ondulado). Tipo de solo = 1 a 4 (Arenoso, Misto, Argiloso, Pedregoso). PAA = 0 para não participante e 1 para participante do PAA. 94 Dos agricultores entrevistados, 73 fazem análise de solo e 70 não fazem. Já com relação à aplicação de calcário, 55 agricultores fazem aplicação em suas propriedades e 87 não fazem. Estatisticamente, rejeita-se a hipótese nula (H0: não existe diferença entre as proporções dos grupos com respeito à realização de análise de solo) a 5% de significância, ou seja, as proporções entre os participantes do PAA e os não participantes podem ser consideradas diferentes, pois, os que participam do PAA e fazem análise de solo é de 40% e dos que não participam e fazem análise de solo é de 58%. Então os não PAA usam mais análise de solo e pode ser considerada diferente. (z= -2,076; prob.= 0,037). Já, em relação à utilização de calcário, rejeita-se a hipótese nula (H0: não existe diferença entre as proporções dos grupos com respeito à utilização de calcário) a 5% de significância, ou seja, as proporções entre os participantes do PAA e os não participantes podem ser consideradas diferentes, pois a proporção dos que participam do PAA que fazem uso do calcário é de 18% contra 53% dos não participantes e que usam o calcário. Então, os que participam do PAA usam menos calcário. (z=-4,33; prob.=0,000). Com relação ao fluxo de água, observa-se que em 94% das propriedades,o fluxo é perene, e que em apenas 6% é intermitente (Tabela 22). Tabela 22 Fluxo de água na região das propriedades pesquisadas em 2009 Água Perene Intermitente Total Fonte: COATER – EMPAER/MT (2009). Nº de Propriedades Percentual 134 8 143 94 6 100 A pesquisa indicou que 66% dos produtores utilizam água oriunda de córrego ou rio; 20% tubular profundo; 9% poço comum e 4% açude (Tabela 23). Tabela 23 Fontes de água utilizadas pelos produtores pesquisados em 2009 Fontes Poço comum Tubular profundo Açude Córrego / rio Total Fonte: COATER – EMPAER/MT (2009). Nº de Propriedades 13 29 6 95 143 Percentual 9 20 4 66 100 95 Quanto à irrigação, a situação é a seguinte: 38% dos agricultores entrevistados utilizam irrigação por aspersão; 34% por gotejamento; 6% outros; 1% por sulco e 22% não utiliza irrigação (Tabela 24). A análise estatística não permitiu rejeitar a hipótese nula (H0: não há diferença entre as proporções dos produtores participantes e não participantes do PAA com uso de irrigação) a 5% de significância, ou seja, as proporções entre os participantes do PAA e os não participantes não pode ser considerada diferente, pois o grupo dos que participam do PAA e fazem irrigação são 72% e os do que não participam e fazem irrigação são 82% dos respectivos totais (z = -1,549; prob. = 0,12). Tabela 24 Tipos de irrigação utilizada pelos produtores pesquisados em 2009 Irrigação Gotejamento Aspersão Sulco Outros Não faz Total Fonte: COATER – EMPAER/MT (2009). Nº de Propriedades Percentual 48 54 2 8 31 143 34 38 4 6 22 100 O cruzamento das informações entre a fonte de água e o tipo de irrigação permite avaliar um questionamento importante detectado nas entrevistas, a saber, a necessidade de recursos para realizar a furação de poços. Na Figura 10, pode-se observar que o tipo de irrigação mais utilizado entre os não participantes do PAA é o de aspersão, diferentemente da maioria dos participes, que utilizam irrigação por gotejamento. Detecta-se que entre os que não fazem irrigação estão os que mais possuem poços comuns e poços tubulares profundos. Nas entrevistas, entretanto, detectou-se a necessidade de furar novos poços para viabilizar a irrigação e a produção contínua ao longo do ano. Pode-se inferir que as fontes naturais de água via córrego/rio não são suficientes. Entretanto, esta é uma questão para trabalho de extensionistas na área de irrigação. 96 50 AGUA 1 2 3 4 Contagem 40 30 20 10 0 IRRIGA PAA 1 2 3 0 4 5 1 2 3 1 4 5 Figura 10-Contagem de propriedades segundo a participação no PAA, tipo de irrigação e fonte de água. Fonte: COATER – EMPAER/MT (2009). Observações: Fonte de Água = 1 a 4 (Poço comum, Tubular profundo, Açude, Córrego / rio). Irriga = 1 a 5 (irrigação, respectivamente: gotejamento, aspersão, sulco, outros, não faz). PAA = 0 para não participante e 1 para participante do PAA. Em relação à situação de conservação das estradas, percebe-se que 38% dos agricultores entrevistados disseram que é boa; 57% regular e 5% ruim (Tabela 25). Um dos maiores entraves na comercialização dos produtos da agricultura familiar é a precariedade nas estradas que ligam essas comunidades aos centros de comercialização. Tabela 25 Situação das estradas na região das propriedades pesquisadas em 2009 Qualidade Boa Regular Ruim Total Fonte: COATER – EMPAER/MT (2009). Nº de Propriedades Percentual 54 82 7 143 38 57 5 100 O meio rural do Município de Cuiabá é servido por energia elétrica. Observa-se que 132 agricultores possuem energia elétrica em suas propriedades, o que representa 92% do total das propriedades pesquisadas, sendo apenas 8% os que ainda não possuem esse serviço (Tabela 26). 97 Tabela 26 Energia elétrica das propriedades pesquisadas - 2009 Energia Nº de Propriedades Percentual 132 11 143 92 8 100 Tem Não tem Total Fonte: COATER – EMPAER/MT (2009). Em termos estatísticos não se rejeita a hipótese nula (H0: não existe diferença entre as proporções dos grupos) a 5% de significância, ou seja, as proporções entre os participantes do PAA e os não participantes não pode ser considerada diferente, pois o grupo dos que participam do PAA e usa energia é de 93% e os dos que não participam do PAA e usam energia é de 91%. (z=0,439; prob.=0,66) Quanto ao item “assistência técnica”, a pesquisa identifica que somente 8% dos agricultores recebem algum tipo de assistência por parte dos técnicos da Prefeitura Municipal de Cuiabá; 25% recebem assistência dos técnicos da EMPAER; 28% de empresas privadas e 39% não recebem nenhum tipo de assistência técnica (Tabela 27). O curioso é que existe na Prefeitura de Cuiabá, um Programa Municipal de Assistência Técnica e Extensão Rural – ATER que foi criado no âmbito da Lei nº. 4.935, de 29 de Dezembro de 2006. Tabela 27 Recebimento de assistência técnica pelos produtores pesquisados em 2009 Instituições Prefeitura Cuiabá EMPAER/MT Empresa Privada Não recebe Total Fonte: COATER – EMPAER/MT (2009). Propriedade Percentual 11 36 40 56 143 8 25 28 39 100 Estatisticamente, não se rejeita a hipótese nula (H0: não existe diferença entre as proporções dos grupos com respeito ao recebimento de assistência técnica) a 5% de significância, ou seja, as proporções entre os participantes do PAA e os não participantes não pode ser considerada diferente (z = -1,770; prob. = 0,07). Entretanto, poderia rejeitar a hipótese nula a 10% de significância, ou 90% de confiança - a proporção dos não PAA é maior (67%) contra 52% para os participantes do PAA. Segundo o engenheiro agrônomo da Prefeitura Municipal de Cuiabá foi 98 “com a implementação do Programa Assistência Técnica e Extensão Rural (ATER), que o Município de Cuiabá passa a poder elaborar projetos técnicos agropecuários além de poder acessar recursos que possam modificar a realidade do homem do campo, dando continuidade ao processo de Assistência Técnica Direta. Possui um quadro técnico que conta com Engenheiros Agrônomos, Médicos Veterinários, Zootecnista e Técnico Agrícola que atuam em atividades de campo” [sic]. O técnico informou que a equipe está empenhada em atender o segmento rural da melhor maneira, além de: disciplinar a execução das ações de interação do planejamento para realização de palestras, seminários, visitas técnicas e dias de campo, e assumir com firmeza e responsabilidade a execução do plano de ação de ATER e melhorar a presença da Prefeitura Municipal de Cuiabá na área rural. Segundo aquele profissional, a utilização da capacidade técnica instalada aplicou-se inicialmente no ano de 2008 e “com a autorização desta Instituição e das Comunidades parceiras, começamos de forma simples a atender os produtores rurais de duas comunidades, Assentamento Fazenda Marcolana e Assentamento Fazenda Mineira, com isso conseguimos aumentar a expectativa de produção destas famílias, interferindo para melhorar seu cotidiano” [sic]. Segundo o técnico da ATER, em 2009, este Programa atendeu, através de visitas técnicas, algumas propriedades rurais nas mais diversas localidades do Município de Cuiabá, a saber: Aguaçú, Machado, Varginha, Três Pedras, Lajinha, Terra Vermelha, Monjolo, Pai Joaquim, Taquaral, Mato Dentro, Carioca, Coivaras, Bandeira, Bocaiúval e Pico do Amor, totalizando mais de 400 famílias atendidas. Porém, o servidor informou que esse número de famílias atendidas é muito inferior à real capacidade de atendimento dessa equipe, isso devido às dificuldades existentes, tais como: falta de veículos, de combustível, de auxílio alimentação e de treinamento e capacitação. Dessa forma, percebe-se que esses problemas detectados impactam de forma direta os produtores do município, pois sem uma estrutura mínima, a equipe não consegue prestar assistência técnica eficiente aos agricultores familiares de Cuiabá, Quanto à utilização de agrotóxicos, a situação é a seguinte: 123 agricultores fazem aplicação em suas propriedades e 20 agricultores não fazem. O emprego de rotação de culturas nas propriedades está distribuído desta maneira: 131 agricultores fazem rotação em suas propriedades e 12 agricultores não fazem. A rotação de cultura é importante, pois cada tipo de cultura agrícola tem sua necessidade, e muitas vezes o que falta para uma é o que 99 sobra da outra. Assim um manejo adequado das culturas resulta em menor necessidade de adubos e defensivos. Estatisticamente, não se rejeita a hipótese nula (H0: não existe diferença entre as proporções dos grupos no que diz respeito à utilização de agrotóxicos) a 5% de significância, ou seja, as proporções entre os participantes do PAA e os não participantes não podem ser ditas diferentes, pois, o grupo dos que participam do PAA e usam agrotóxicos é de 88% e dos que não participam e usam agrotóxicos é de 84%. (z= 0,74; prob.= 0,45). Quanto à utilização de adubação nas propriedades, observa-se que 8% dos agricultores pesquisados utilizam a adubação orgânica, isto é, incorporação de qualquer resíduo animal ou vegetal ao solo; 16% utilizam a adubação química, que é a incorporação de sais minerais ao solo; 64% utilizam tanto a adubação orgânica quanto a adubação química; e 13% não utilizam nenhum tipo de adubação (Tabela 28). Tabela 28 Utilização de adubação nas propriedades pesquisadas em 2009 Tipo adubação Utiliza adubação orgânica Utiliza adubação química Usa adubação química e orgânica Não faz adubação Total: Fonte: COATER – EMPAER/MT (2009). Propriedade Percentual 11 8% 23 16% 91 64% 18 13% 143 100% Estatisticamente, não se rejeita a hipótese nula (H0: não existe diferença entre as proporções dos grupos no que diz respeito à utilização de adubo) a 5% de significância, ou seja, as proporções entre os participantes do PAA e os não participantes não pode ser ditas diferentes, pois o grupo dos que participam do PAA e utilizam adubo é de 85% e os dos que não participam e usam adubo é de 89%. (z=-0,67; prob.=0,50). Observa-se que 93% dos agricultores entrevistados fazem uso do plantio em nível (Tabela 29), isso demonstra que a grande maioria está fazendo uso de técnicas para conservação do solo, o que contribui para o aumento da produção das culturas locais. 100 Tabela 29 Utilização de conservação de solo nas propriedades pesquisadas, por tipo, em 2009 Tipo Plantio em nível Curva de nível Terraços Não fazem Total Fonte: COATER – EMPAER/MT (2009). Propriedade Percentual 133 93 1 1 0 0 9 6 143 100 Estatisticamente, não se rejeita a hipótese nula (H0: não existe diferença entre as proporções dos grupos no que diz respeito à utilização de técnicas para conservação de solo) a 5% de significância, ou seja, as proporções não podem ser ditas diferentes, pois, o grupo dos que participam do PAA e fazem conservação de solo é de 96% e dos que não participam e fazem conservação de solo é de 91%. (Z=1,28; P=0,20) Percebe-se que os agricultores familiares do Município de Cuiabá não têm o conhecimento ou o hábito de utilizar o emprego da adubação verde, pois somente 2% fazem uso dessa tecnologia (Tabela 30). Fica claro que existe uma carência muito grande quanto à assistência por parte dos técnicos (profissionais da área) junto aos agricultores familiares. Tabela 30 Utilização de adubação verde pelos produtores pesquisados em 2009 Adubação verde Fazem Não fazem Total Fonte: COATER – EMPAER/MT (2009). Produtor 3 139 142 Percentual 2 98 100 Outra questão a ser observada diz respeito à utilização de mecanização pelos agricultores familiares. Observa-se que 78% dos agricultores fazem uso de máquinas alugadas; 18% utilizam máquina própria; e 4% não utilizam mecanização (Tabela 31). Estatisticamente, rejeita-se a hipótese nula (H0: não existe diferença entre as proporções dos grupos no que diz respeito à utilização de mecanização), a 5% de significância, ou seja, 91% dos participantes do PAA usam mecanização e de 98% dos que não participam usam mecanização. Então, os não PAA usam mais mecanização e pode ser considerada diferente. (z=-2,058; prob.=0,039). 101 Tabela 31 Utilização de mecanização própria ou alugada, para a amostra em 2009 Máquinas Utilizam máquinas próprias Utilizam máquinas alugadas Não utilizam mecanização Total Fonte: COATER – EMPAER/MT (2009). Produtores Percentual 26 18% 111 78% 6 4% 143 100% Assim, a pesquisa mostra claramente a necessidade dos agricultores familiares do Município de Cuiabá de utilizarem mecanização, pois, sabe-se que a utilização do maquinário nas lavoras pode trazer muitos benefícios, sendo o principal o aumento da produtividade da terra. Analisando os projetos na Prefeitura de Cuiabá – Secretaria Municipal de Trabalho e Desenvolvimento Econômico, verifica-se a existência de um projeto - Patrulha Mecanizada Municipal, cujo propósito é de reorganizar as máquinas e implementos agrícolas, com o objetivo de trabalhar a demanda planejada pelos produtores rurais das mais diversas comunidades do município, de forma organizada e eficiente, de tal maneira que não ocorra o atropelamento da safra agrícola. Segundo informações da Secretaria Municipal de Trabalho e Desenvolvimento Econômico – SMTDE – Diretoria de Agricultura e Abastecimento – DAA (2010), em 2009, o Projeto Patrulha Mecanizada atendeu os Polos: Polo I (Pedra 90), onde 28 (vinte e oito) comunidades rurais foram atendidas com cinco tratores, perfazendo um total de 790 horas trabalhadas; e, Polo II (Aguaçú), onde 10 (dez) comunidades rurais foram atendidas com dois tratores, perfazendo o total de 400 horas trabalhadas. Com relação à variável participação em associação, observa-se que dos 143 (cento e quarenta e três) produtores pesquisados, 118 (cento e dezoito) participam em associações, ou seja, 83% (Tabela 32). Por outro lado, já a participação destes em sindicatos é menos que 50%, somente 59 (cinqüenta e nove) produtores são sindicalizados (Tabela 33). Ainda considerando esse item, e segundo o servidor da Prefeitura, apesar de ser expressiva a participação dos produtores rurais em associações, a realidade em Cuiabá é bastante preocupante, pois a maioria das associações está irregular, inadimplente; e segundo o técnico duas ou no máximo três associações estão funcionando regularmente, e são elas: as das comunidades Marcolana, Machado e Mineira. Sendo assim, a maioria dos agricultores familiares não está sendo orientada por essas entidades. 102 Tabela 32 Participação dos produtores em organizações associativas em 2009 Organizações Associações Cooperativas Outros tipos Não participam Total Fonte: COATER – EMPAER/MT (2009). Produtores Percentual 118 0 0 25 143 83 0 0 17 100 Estatisticamente, rejeita-se a hipótese nula (H0: não existe diferença entre as proporções dos grupos no que diz respeito à participação em associações) a 5% de significância, ou seja, as proporções entre os participantes do PAA e os não participantes podem ser consideradas diferentes. De fato, a proporção dos associados participantes do PAA é 95% contra 73% . (z=3,41; prob.=0,0006). Tabela 33 Participação dos produtores em sindicato em 2009 Situação É sindicalizado Não é sindicalizado Total Fonte: COATER – EMPAER/MT (2009). Produtores Percentual 59 84 143 41 59 100 Já o agricultor familiar, entrevistado 1, informou que a maioria desses agricultores faz parte de associação, justamente para facilitar o relacionamento com os órgãos públicos, principalmente, em relação à busca de recursos (PRONAF, PAA). Porém, confirmou que a maioria das associações está funcionando com irregularidades, não cumprindo seu papel que é o de fortalecer e representar esse segmento junto às entidades públicas. Quando questionado sobre a importância do sindicato junto aos agricultores familiares, ele respondeu que é importante o relacionamento destes com o sindicato, principalmente nas questões previdenciárias para a aposentadoria, e também, como representante destes junto às instituições públicas na defesa de seus interesses. O agricultor familiar, entrevistado 2, também confirmou o que foi revelado na pesquisa, que a maioria dos agricultores familiares são associados, porém, informou que a maioria das associações estão irregulares, não cumprem com o seu papel de intermediar ações junto aos órgãos públicos, nem o de orientar quanto a questões diversas, como por exemplo esclarecimentos e/ou elaboração de projetos para participar de contratos do PAA junto à 103 Conab. Informou, também, que tem conhecimento de que a Associação Mineira é uma das poucas que está funcionando com regularidade. No que se refere à atuação do sindicato, o levantamento mostrou que o sindicato dos trabalhadores rurais de Mato Grosso é o único órgão respeitado em todas as esferas, tem força e representa a classe dos agricultores familiares. Dentre as variáveis tecnológicas que apresentaram diferença nas proporções entre os participantes do PAA e os que não participam, têm-se as seguintes: Participação em Organizações e Uso de Calcário a um nível de confiança de 99%; Uso de Análise de Solo e Tem Mecanização com nível de confiança de 95%; e Utilização de Assistência Técnica a um nível de confiança de 90% (Tabela 34). Tabela 34 Teste da presença de diferença estatística das variáveis tecnológicas entre os grupos: participantes do PAA x não participantes Variável Resultado* Estatística de Teste** Probabilidade Faz irrigação não existe -1,550 0,121 Participa em organizações existe (99%) 3,412 0,001 Uso de adubo não existe -0,674 0,501 Uso de Calcário existe (99%) -4,331 0,000 Uso de agrotóxicos não existe 0,747 0,455 Uso de Análise de Solo existe (95%) -2,077 0,038 Faz conservação de solo não existe 1,280 0,200 Tem mecanização existe (95%) -2,058 0,040 Tem energia elétrica não existe 0,439 0,660 Utiliza assistência técnica existe (90%) -1,771 0,077 Fonte: Elaborada pela autora com base nos dados COATER – EMPAER/MT (2009). Observações: * Entre parênteses está o nível de confiança (90%, 95%, 99%) e “existe” indica que há diferença entre os grupos.**Teste bilateral Z de proporções, sendo H0: diferença igual a zero; H1: diferença diferente de zero. Portanto, percebe-se que das dez variáveis tecnológicas avaliadas, cinco dentre estas (as elencadas acima) existem diferenças entre quem participa e quem não participa do PAA, isto é, quem participa do PAA apresenta resultados diferentes no aproveitamento dessas tecnologias no trato da terra. A análise das proporções revela que apenas a participação em organizações do grupo do PAA é superior ao do grupo não participante do PAA. Para Uso de Calcário, Uso de Análise de Solo, Ter Mecanização e Utilização de Assistência Técnica os resultados revelam uma proporção menor para o grupo do PAA relativamente ao outro, o que é motivo de preocupação para se atingir os objetivos de aumento de produtividade e geração de renda a partir da atividade agrícola. 104 No entanto, percebe-se que em outras cinco variáveis tecnológicas não há diferença entre esses os dois grupos que participam ou não do PAA (faz irrigação, uso de adubo, uso de agrotóxicos, faz conservação de solo, tem energia elétrica). Quanto à variável PRONAF, a pesquisa identificou que 58% dos agricultores familiares entrevistados utilizam linha de crédito do PRONAF-A, isto é, agricultores assentados da reforma agrária que, com a extinção do Programa Especial de Crédito para a Reforma Agrária (PROCERA), passaram a ser atendidos pelo PRONAF, e representam a grande maioria dos agricultores familiares no município de Cuiabá (Tabela 35). Tabela 35 Participação do produtor no Pronaf em 2009 Participação no Pronaf Propriedade Pronaf A Pronaf A/C Pronaf B Pronaf AF Mais alimentos Não beneficiado Total Fonte: COATER – EMPAER/MT (2009). 83 0 0 3 0 57 143 Percentual 58 0 0 2 0 40 100 Porém, um dado importante é que 40% dos entrevistados não são beneficiários do PRONAF. Para entender o porquê disso foram entrevistados agentes-chave e as respostas serão relatadas a seguir. O entrevistado 1 pertencente ao Assentamento Fazenda Mineira, atuante, participante do PAA, informou que os maiores obstáculos para conseguir o crédito PRONAF são as restrições, tanto as em relação à posse da terra como falta de documentação, de escritura, ou alguma alteração topográfica que não foi devidamente orientada para que fosse regularizada, assim como restrições aos documentos pessoais (SPC, Serasa). Segundo o entrevistado 1, assim como muitos agricultores familiares, também foi procurado por um técnico de empresa privada para elaborar o projeto PRONAF para se conseguir o crédito. Porém este profissional retorna esporadicamente ao domicílio rural, apenas com o objetivo de fiscalizar e não para dar assistência ao agricultor. Já o agricultor familiar, entrevistado 2, pertencente ao assentamento do Córrego do Ouro, atuante e não participante do PAA, informou que a inadimplência e a preocupação de não assumir novas dívidas perfazem as razões da maioria (40%) dos agricultores não utilizarem o crédito do PRONAF. 105 Ainda analisando essa questão, o presidente da Associação do Assentamento Fazenda Mineira elencou as seguintes situações que contribuem para que 40% dos agricultores pesquisados não utilizam da linha do PRONAF: irregularidade nos documentos pessoais; restrições com SERASA e SPC; inadimplência; problemas de topografia; problemas fundiários (escritura), dentre outros. Já na visão do engenheiro agrônomo da Prefeitura Municipal de Cuiabá, que também participou dessa pesquisa, o fato de 40% dos produtores rurais não serem beneficiados com a linha de crédito PRONAF acontece devido à inadimplência. Segundo ele, a taxa de inadimplência admitida é de até 2%, sendo que em Cuiabá essa taxa chega a 22%, por vários motivos, dentre outros: má gestão dos recursos obtidos; não operacionalização dos projetos; uso indevido dos recursos para outras finalidades. O técnico engenheiro agrônomo da EMPAER – Empresa Mato-grossense de Pesquisa, Assistência e Extensão Rural, informou que vários são os motivos da não participação no PRONAF de 40% dos entrevistados: falta de informação sobre políticas públicas, sendo o crédito uma dessas políticas; irregularidade em relação à Licença Ambiental Única – LAU; problema de regularização fundiária, ainda que 90% dos entrevistados são proprietários da terra. Porém, segundo o mesmo técnico, os agricultores não têm feito a regularização da documentação e a maioria dentre estes não possuem escritura da terra. No que diz respeito a esse quesito, a EMPAER é a empresa do Estado de Mato Grosso de Assistência Técnica, Extensão Rural e Pesquisa que tem por objetivo prestar esses serviços a todos os produtores rurais do Estado, portanto a atuação dessa assistência é de suma importância para o segmento rural, principalmente para agricultor familiar. Segundo o técnico, um dos motivos que deixa a desejar essa função é o reduzido quadro de técnicos da Instituição, que segundo informações do MDA e da própria EMPAER, a média é de um técnico para cada 100 produtores, e em 2010, o quadro era de um para cada mil produtores, sendo assim impossível desenvolver essa função com qualidade e eficiência que o segmento merece. Essa deficiência só será amenizada com a realização de concurso público para admissão de novos servidores nesse órgão. A EMPAER cobra 0,5% do valor do crédito para elaborar o projeto PRONAF e 2% para assumir a assistência técnica e extensão rural, isto é, levar continuamente informações por meio de palestras, oficinas, visitas, dentre outras, ensinando técnicas para melhorar a produtividade da produção e retornando com assiduidade ao local para verificar se estão sendo aplicadas corretamente as orientações fornecidas. Esses valores são fixados por normas e resoluções do Banco Central. Porém, o que foi informado nas entrevistas com agricultores 106 familiares é que a empresa privada ao elaborar o projeto de acesso ao crédito PRONAF, cobrou integralmente, dentro da legalidade, porém, não cumpriu com a parte relacionada à assistência técnica contínua aos agricultores. O Banco do Brasil, através da superintendência regional, elenca as situações que justificam o percentual de 40% dos produtores rurais não participarem do PRONAF, a saber: problema de regularização fundiária, pois a maioria dos produtores familiares não possui documento de escritura da terra; falta de documentos pessoais (RG, CPF, entre outros); problema quanto ao DAP – Documento de Aptidão ao PRONAF; problema de assistência técnica; dificuldade de irrigação e inadimplência. No tocante ao quesito inadimplência informou que com relação ao grupo PRONAF, o risco é da União, portanto, quem saberia informar o percentual de inadimplência seria o MDA. Já referente ao grupo PRONAF AF o risco é do Banco e esse percentual não foi informado por questões de sigilo. Porém, o Banco se cerca de todos os instrumentos legais para conceder tais financiamentos – Contrato de abertura de crédito fixo ao amparo do PRONAF: cadastro, levantamento de bens, capacidade de pagamento, limite cadastral, exigese toda documentação necessária para a operação, DAP, garantia, entre outros. Quanto à importância do Banco do Brasil para o segmento da agricultura familiar esta instituição vem desenvolvendo uma estratégia em prol do Desenvolvimento Regional Sustentável – DRS, desde 2007, no Estado de Mato Grosso. Essa ação é multidisciplinar, por conseguinte, envolve parceiros governos, academias, cooperativas, associações, sociedade organizada, empresas âncoras, entre outros, no sentido de atacar problemas como: falta de organização dos agricultores familiares, ausência de assistência técnica, problema de regularização fundiária, irregularidade ambiental, daí a importância dos parceiros. O Banco do Brasil financia cerca de 70% dos agricultores familiares do Brasil, enquanto todas as demais instituições financeiras, os outros 30%. O Diretor de Política Agrícola da Federação Estadual da Agricultura Familiar (FETAGRI) citou os fatores responsáveis pelos 40% detectados na pesquisa de não fazerem uso do crédito PRONAF: falta de regularização fundiária (escritura do imóvel em nome de outros); medo de financiamento, precaução em contrair novas dívidas; inadimplência; problema na emissão do DAP. A FETAGRI mantém relacionamento diário com o sindicato e as associações para dirimir dúvidas com relação às políticas agrícolas em nível de Estado e de Município (local) e também faz a fiscalização das políticas públicas implementadas para o segmento da agricultura familiar. 107 Na entrevista com agente da Secretaria de Estado de Desenvolvimento Rural e Agricultura Familiar – SEDRAF, este destacou vários obstáculos para acesso ao crédito, sendo o mais comum e mais difícil de resolver, a Licença Ambiental Única – LAU. Segundo esta instituição a grande maioria dos agricultores não possui a LAU, indiferente ao fato de pertencer ou não ao segmento familiar. A Lei Complementar nº 38 de 21.11.1995, que dispõe sobre o Código Estadual do Meio Ambiente, descreve as exigências da LAU. Esta é emitida no âmbito do licenciamento ambiental de propriedades rurais, obedecendo à legislação florestal do Estado e do Código Florestal, sendo expedida pela Coordenadoria de Propriedades Rurais da Superintendência de Gestão Florestal – CLPR/SGF. Outra informação que diz respeito ao meio rural é o Cadastro Ambiental Rural – CAR, que foi instituído com o Programa Mato-grossense de Regularização Ambiental Rural (MT Legal) por meio da Lei Complementar nº 343, de 24.12.2008. O CAR consiste no registro dos imóveis rurais junto à Secretaria de Estado de Meio Ambiente – SEMA, por meio eletrônico, para fins de controle e monitoramento via satélite, sendo uma fase inicial do licenciamento ambiental das propriedades rurais, emitido pela Superintendência de Gestão Florestal – SGF. Sem este cadastro não é concedida a LAU. São muitas as exigências legais para se obter a LAU e, segundo o técnico da SEDRAF, torna-se inviável aos agricultores trabalharem na legalidade, tanto é que já está sendo discutido em nível de Congresso Nacional o “Novo Código Florestal”, o qual busca justamente dar celeridade e condições para o segmento rural conseguir trabalhar dentro da legalidade. Trata-se de um instrumento que visa resolver esse gargalo ambiental que atinge diretamente todo o meio rural. Assim, o texto em discussão em março de 2011, do relator Deputado Federal Aldo Rebelo, dá autonomia para os Estados definirem os percentuais de área de reserva legal e flexibilidade na aplicação das leis ambientais, como: isentar os pequenos produtores rurais com propriedade de até quatro módulos rurais (25 a 400 hectares) da obrigatoriedade de cumprir os percentuais de reserva legal – no caso do cerrado é de 35%. Quanto à importância da SEDRAF para o segmento da agricultura familiar, foi ressaltado que uma ação de destaque é o seu desempenho em nível macro para definir políticas públicas de desenvolvimento rural do Estado, assim como na gestão e coordenação de programas em nível federal, fazendo a intermediação entre os Ministérios do Desenvolvimento Agrária, do Desenvolvimento Social e Combate à Fome e os governos. 108 Está em fase de andamento o Programa Mato Grosso Autossuficiente em Frutas, Legumes e Verduras (FLV‟s) para a Baixada Cuiabana – de parcerias entre SDT/FUNDAPER/EMPAER/PREFEITURAS e Banco do Brasil que irá beneficiar o segmento dos agricultores familiares dos municípios que compõem essa região. 5.2.1 Caracterização do sistema de produção e comercialização Uma parcela representativa dos entrevistados, 50,3%, vivem/sobrevivem do cultivo da mandioca para fabricação de farinha e venda in natura do produto. A produção da farinha é realizada de forma rudimentar: a mandioca é colhida e processada na propriedade. Segundo o Engenheiro Agrônomo da Prefeitura, nenhum outro subproduto da fabricação da farinha é comercializado, já que o produto é totalmente usado para consumo. Quanto à produção de alimentos, a agricultura familiar é responsável pela produção de alimentos básicos como: mandioca, abacaxi, cana-de-açúcar, milho em grão, melancia, melão, batata doce, tomate, produtos típicos da lavoura temporária (Tabela 36). Observa-se que 226,84 ha são utilizados para essas culturas, o que representa 10,3% do total da área das comunidades analisadas (2.199,50 ha). Os produtos da lavoura permanente são: banana da terra, limão, maracujá, banana maçã, mamão formosa, laranja, mamão papaya, e banana nanica (Tabela 37). O levantamento da lavoura temporária, que o tomate teve a melhor produtividade (43.815,38 kg/ha), seguido da melancia (26.369,66 kg/ha), do abacaxi (24.795,21 kg/ha) e da mandioca (13.547,11 kg/ha) (Tabela 36). Tabela 36 Área, produção e produtividade dos produtos da lavoura temporária da amostra em 2009 Novembro de 2009 Produtos da lavoura Área Produção Produtividade temporária (ha) (kg) (kg/ha) Mandioca 96,05 1.301.200 13.547,11 Milho Verde 78,68 334.720 4.254,19 Abacaxi Pérola 25,88 641.700 24.795,21 Cana-de-açúcar 14,95 0 0 Melancia 5,85 154.262 26.369,66 Tomate 3,25 142.400 43.815,38 Melão 1,15 11.200 9.739,13 Batata Doce 1,03 2.163 2.100,00 Fonte: Elaborada pela autora com base nos dados COATER – EMPAER/MT (2009). Nº de Agricultores 72 59 19 14 10 8 4 4 109 Em relação à lavoura permanente, no ano de 2009, destacava-se, quanto à produtividade no município de Cuiabá, o mamão formosa (25.075,83), o maracujá (14.620,25) e a banana da terra (12.075,83), como são demonstrados na Tabela 37. Tabela 37 Área, produção e produtividade dos produtos da lavoura permanente da amostra em 2009 Novembro de 2009 Produtos da lavoura Área Produção Produtividade permanente (ha) (kg) (kg/ha) Banana da terra 32,31 390.170 12.075,83 Limão tahiti 5,85 15.375 2.628,21 Maracujá 3,95 57.750 14.620,25 Banana maçã 2,30 10 4,35 Mamão formosa 2,03 52.150 25.689,66 Laranja 0,60 4.400 7.333,33 Mamão papaya 0,10 9.000 90.000,00 Banana nanica 0,04 675 15.000,00 Fonte: Elaborada pela autora com base nos dados COATER – EMPAER/MT (2009). Nº de Agricultores 21 5 3 4 2 1 1 1 A produção de hortaliças tem contribuído para aumentar a renda dos agricultores familiares do município de Cuiabá, com destaque para o cultivo de: abóbora, quiabo, abobrinha, cebolinha, alface, salsa, coentro, entre outros. (Tabela 38). Tabela 38 Área, produção e produtividade de hortaliças da amostra em 2009 Novembro de 2009 Área Produção Produtividade Nº de (ha) (kg) (kg/ha) Agricultores Abóbora 28,20 584.120 207.13,48 36 Quiabo 24,79 473.242 19.090,04 51 Abobrinha 14,94 384.450 25.732,93 31 Cebolinha 10,65 165.080 15.503,38 24 Alface 9,19 291.924 31.765,40 35 Salsa/salsinha 5,84 67.040 11.475,52 19 Jiló 4,05 154.560 38.162,96 11 Pimentão 4,03 128.442 31.871,46 15 Coentro 3,36 76.270 22.699,40 19 Pimenta de Cheiro 3,20 15.650 4.845,20 9 Maxixe 3,01 55.720 18.511,63 11 Rúcula 2,39 50.282 21.056,11 15 Berinjela 2,34 52.976 22.639,32 10 Pepino 2,08 68.815 33.084,13 10 Repolho 1,19 42.000 35.294,12 4 Couve 0,96 67.124 69.703,01 17 Agrião 0,02 180 9.000,00 1 Fonte: Elaborada pela autora com base nos dados COATER – EMPAER/MT (2009). Produtos 110 Também são apresentados os dados referentes à quantidade produzida e área por produto separado por grupo participante do PAA e não participante. Percebe-se que na grande maioria tanto com relação à contagem, média e desvio padrão que os não participantes do PAA possuem melhor resultado, isso numa análise inicial, sem conclusões estatísticas. E, os participantes do PAA se destacam na produção de: abóbora, banana maçã, berinjela, mandioca, milho verde e quiabo2. Já, na Tabela 39 são apresentados os produtos com diferença estatística entre a produção dos grupos participantes do PAA e dos não participantes, sendo que em relação a estes produtos pode-se dizer que estatisticamente a produção dos participantes do PAA tem média acima dos não participantes. Apenas no caso da Berinjela se teve um problema quanto ao número de produtores participantes do PAA que produzem este produto, o que conferiu um grau de liberdade muito baixo (igual a 2). Tabela 39 Produtos com diferença estatística entre a produção dos grupos: participantes do PAA > não participantes, em 2009 Graus de Liberdade Item Estatística de Teste* Probabilidade Abóbora (Área) 3,187 0,002 29 Abóbora (Produção) 3,229 0,002 29 Berinjela (Produção) 2,214 0,079 2 Mandioca (Área) 2,948 0,003 43 Mandioca (Produção) 2,750 0,004 40 Milho Verde (Área) 2,270 0,014 39 Milho Verde (Produção) 1,889 0,033 39 Quiabo (Área) 1,909 0,033 33 Fonte: Elaborada pela autora com base nos dados COATER – EMPAER/MT (2009). Observações: *Teste unilateral t de médias, sendo H0: PAA = não PAA; H1: PAA> não PAA. No entanto, alguns produtos analisados não tiveram diferença nas médias, isto é, estatisticamente não foi possível rejeitar que as médias entre os grupos participantes e não participantes do PAA são iguais. São eles: abacaxi, abobrinha, alface, banana maçã, banana da terra, batata doce, berinjela (área), cebolinha, coentro, couve, jiló, limão Taiti, maracujá, maxixe, melancia, melão, pepino, pimenta, pimentão, quiabo (produção), repolho, rúcula, salsa/salsinha, tomate, rapadura. 2 O leitor interessado poderá observar a tabela C4 no Apêndice C as informações detalhadas de dados de produção por produto, segundo o grupo PAA e não PAA em 2009 111 Portanto, diante da análise estatística demonstrada acima, percebe-se que na grande maioria dos produtos oriundos dos agricultores familiares do Município de Cuiabá não há diferença na produção média entre os grupos participantes e não participantes do PAA, dessa forma é confirmada a hipótese secundária de que a produção média entre os grupos participantes e não participantes do PAA não é diferente. Outro dado observado diz respeito à relação dos produtos da pesquisa (EMPAER/MT – 2009), que foram ou não contemplados nos Programas (PAA – MDS/Prefeitura de Cuiabá, e PAA – MDS/CONAB – Município de Cuiabá). Os produtos contemplados pelo PAA no Município de Cuiabá foram os seguintes: abacaxi, abóbora, alface, banana maçã, banana da terra, berinjela, couve, mandioca in natura, maxixe, melancia, melão, milho verde, pepino, quiabo e farinha de mandioca. Porém, é bastante expressiva a relação dos produtos dessa pesquisa que não foram contemplados no PAA do município, são eles: abobrinha, batata doce, cana, cebolinha, coentro, jiló, limão Taiti, maracujá, pimenta, pimentão, repolho, rúcula, salsa/salsinha, tomate e rapadura. Os porquês de alguns produtos não terem sido contemplados no PAA do município foram: a pesquisa da EMPAER foi desenvolvida em novembro de 2009 e foram diagnosticados os produtos produzidos naquela época; o Programa PAA, convênio MDS e Prefeitura do município de Cuiabá foi desenvolvido para o período de 2007/2008, com prorrogação para 2009. Então teve início em 2007, momento em que foi determinado quem seriam os produtores familiares contemplados no Programa, ou seja, aqueles cadastrados no MDS pelas suas respectivas Declarações de Aptidão ao Pronaf – DAP, e segundo dados do relatório de prestação de contas, os técnicos da Prefeitura de Cuiabá fizeram visitas a campo para verificar os produtos que seriam disponibilizados e a escala de entrega dos mesmos, para cumprir cláusulas do contrato. Em entrevista com agricultor familiar, (entrevistado 1) contemplado no PAA este informou que, para realizar a seleção dos agricultores familiares nesse Programa, foi realizada reunião, mobilizando os agricultores, informando sobre o PAA, seu funcionamento e da necessidade de apresentação da DAP para qualificá-los enquanto produtor familiar para participar do Programa. Em relação aos produtos que comporiam a cesta do PAA foi informado que o Governo Federal disponibiliza uma relação de produtos básicos, próprios da agricultura familiar, para compor a cesta do PAA, porém, existe certa flexibilidade para fazer algumas adaptações, conforme hábitos alimentares da região. Os produtos que foram contemplados na proposta foram: feijão, alface, couve, maxixe, abóbora cabotiã, banana da terra, melancia, abacaxi, milho verde, farinha de mandioca, mandioca in natura. 112 O presidente do sindicato dos Trabalhadores Rurais de Cuiabá, quando indagado em relação à forma como são escolhidos os produtos que iriam compor a cesta do PAA, informou que num primeiro momento já vem determinado em nível nacional, porém há flexibilidade para serem inseridos novos produtos de acordo com a realidade local, e informou, também, que o Conselho Municipal de Desenvolvimento Agrícola – CMDA tem essa prerrogativa de mudança. Porém, atualmente o CMDA está praticamente inativo, não se sabe o motivo. Diante da realidade deparada no Convênio MDS e Prefeitura de Cuiabá, verifica-se a existência do filtro institucional de terceiro nível “tomada de decisão”, isto é, quem são os atores que compõem o público alvo do PAA, quem escolhe os que vão participar do Programa, quais os produtos que serão contemplados, e quais as entidades socioassistenciais que irão participar desse processo. Portanto, verifica-se a importância dos atores que compõem o organograma informal de atuação do PAA – Convênio MDS e Prefeitura de Cuiabá, pois, a atuação dos conselhos que fazem o controle social é de suma importância para a escolha dos agricultores que farão parte do convênio, quanto dos produtos que irão compor a proposta e das entidades socioassistenciais que serão beneficiadas pelo Programa. Diante da realidade apresentada pelos entrevistados (agentes-chave do processo), verifica-se que a estrutura de governança (organograma informal) do PAA em Cuiabá (convênio MDS – Prefeitura), que seria a responsável pela gestão de funcionamento do Programa em nível local, isto é, os atores que deveriam coordenar a execução do Programa: SMTDE – Diretoria de Agricultura e Abastecimento, através de seus técnicos, e do conselho (CMDA); SMASDH, através dos conselhos (COMSEA E CMAS), e do Banco de Alimentos; além de representante dos produtores e entidades sociassistenciais, não está funcionando. Pois, são os técnicos da Diretoria de Agricultura e Abastecimento quem determinam os produtores, os beneficiários e os produtos que irão compor o Programa. Logo, percebe-se a importância da adoção conjunta dos conceitos de coordenação e eficiência trabalhados por Azevedo (2000), pois, com a coordenação eficiente de todo o processo de rede do PAA é possível minimizar os custos de transação inerentes ao convênio, detectar os possíveis filtros institucionais existentes e fazer os ajustes para sanar as imperfeições, agilizar a adaptação às modificações de ambiente e a resolução de conflitos entre os atores envolvidos nesse sistema. Williamson (1985) ressalta a importância da coordenação como uma característica dos agentes econômicos, onde é possível regular uma transação através do mecanismo da estrutura de governança. Então, será que os atores que compõem a rede de atuação do PAA no 113 Municio de Cuiabá estão atuando coerentemente, estão respaldados formal e legalmente para desempenharem essa função? Percebe-se que não. Nessa ótica, verifica-se que alguns conselhos diretamente envolvidos nesse processo encontram-se inativos, como é o caso do Conselho Municipal de Desenvolvimento Agrário (CMDA) e outros funcionando precariamente, como o Conselho Municipal de Segurança Alimentar (COMSEA) e o Conselho Municipal de Assistência Social (CMAS). Portanto essa situação está influenciando negativamente na concretização das metas do PAA no Município de Cuiabá, pois deixar de atuar como agente de controle social. Com a conclusão do convênio nº 177/2007, houve interesse em firmar novo convênio entre o MDS e a Prefeitura de Cuiabá – Programa de Aquisição de Alimentos, no período de 2010 a 2012. Neste novo convênio já se verifica a inclusão de novos produtos da agricultura familiar, a saber: banana maçã, berinjela, mamão formosa, melão, pepino e quiabo. Percebese, então, que essa inclusão de novos produtos já está dentro da pesquisa da EMPAER. O Programa de Aquisição de Alimentos, convênio entre MDS e Conab-MT com proposta de execução no período de 2009/2010, prorrogado por termo aditivo de prazo, em que somente a comunidade Marcolana participou, ainda não foi concluído o contrato, cuja a meta proposta não foi cumprida. Segundo a representante da CONAB é a comunidade que informa quais produtos poderão ser comercializados durante a vigência do contrato, que é formalizado via Cédula de Produtor Rural – CPR-Doação. Porém com flexibilidade para substituição de produtos caso seja necessário. Os produtos contemplados nesse contrato foram: abóbora paulista, abóbora menina, banana da terra, banana maçã, berinjela, mamão formosa, maxixe, melancia, melão caipira, milho verde em espiga com palha, pepino caipira, quiabo e raiz de mandioca in natura. Percebe-se que, em comparação com os produtos do convênio MDS e Prefeitura, houve uma maior variedade de produtos contemplados em relação aos produtos fornecidos pela pesquisa da EMPAER, isso se justifica em função do período da realização da proposta ser equivalente ao da realização da pesquisa. A comercialização da produção é feita no mercado local e regional, 83% (Tabela 40), nas feiras livres, 50%; por atravessador, 30%, que fazem o controle do preço pago aos agricultores; diretas ao consumidor e na própria propriedade, 13% e 6% dos agricultores conseguem vender seus produtos nos supermercados (Tabela 41). 114 Tabela 40 Destino da produção da amostra, segundo o mercado (local ou regional), em 2009 Destino Mercado local Mercado regional Local e regional Total Fonte: COATER – EMPAER/MT (2009). Produtores 7 18 118 143 Percentual 5 13 83 100 Tabela 41 Destino da produção vendida ou entregue a terceiros, para a amostra, em 2009 Destino Venda direta na propriedade Atravessador Feira livre Supermercado Atacadista Total Fonte: COATER – EMPAER/MT (2009). Produtores Percentual 19 13% 43 71 8 2 143 30% 50% 6% 1% 100% Em relação aos meios de transporte, 34% da produção são deslocadas por transporte próprio; 28% os compradores buscam; 27% outros fazem o transporte, e 11% é realizada pela associação (Tabela 42). Tabela 42 Meios de transporte da produção da amostra em 2009 Meios de transporte Do produtor Da associação Dos compradores De terceiros Não respondeu Total Fonte: COATER – EMPAER/MT (2009). Produtores 48 15 40 39 1 143 Percentual 34 10 28 27 1 100 Com base na Figura 11 e na Tabela 47, observa-se que, para os produtores que não participam do PAA o transporte da produção é feito em sua grande maioria por transporte próprio, seguido pela opção outros fazem o transporte, e a outra opção é a de que os compradores buscaram os produtos in loco. Em relação à comercialização desse grupo, observa-se que há predominância dos tipos: por atravessador e vendido na feira livre. 115 As formas de transportes dos produtos utilizados pelos agricultores familiares que participam do PAA são: compradores buscam os produtos in loco, ou outros fazem o transporte, ou é transportado por meio próprio. Em relação à comercialização, observa-se que em sua grande maioria a produção é comercializada na feira livre e em segundo lugar na própria propriedade (Figura 11 e Tabela 43). 40 TRANSP 1 2 3 4 Contagem 30 20 10 0 COMERC PAA 1 2 3 0 4 5 1 2 3 1 4 5 Figura 11. Produtores segundo a participação no PAA, tipo de comercialização e transporte. Fonte: COATER – EMPAER/MT (2009). Observações: tipo de comercialização (1 a 5: na propriedade, por atravessador, Vendido na feira livre, Supermercado, Atacadista). Transporte (1 a 4: O transporte é próprio, realizado pela associação, compradores buscam, Outros fazem o transporte). PAA = 0 para não participante e 1 para participante do PAA. 116 Tabela 43 Produtores segundo a participação no PAA, tipo de comercialização e transporte, em 2009 Tipo de Transporte Próprio Associação Comprador Outros PAA Propriedade Atravessador 0 0 Comercialização Feira Supermercado livre Atacadista Soma 12 16 3 2 33 1 1 0 13 1 0 15 soma 1 12 29 4 2 48 0 0 6 1 1 0 8 1 0 0 6 1 0 7 soma 0 6 7 2 0 15 0 5 14 0 1 0 20 1 11 6 3 0 0 20 soma 16 20 3 1 0 40 0 1 4 15 1 0 21 1 1 1 17 0 0 19 soma 2 5 32 1 0 40 Fonte: COATER – EMPAER/MT (2009). Observações: PAA = 0 para não participante e 1 para participante do PAA. 5.3 PAA: dificuldades e sugestões de melhoria Na sequência, faz-se uma análise geral do PAA dentro do enfoque da Nova Economia Institucional (NEI), ressaltando as dificuldades e fragilidades encontradas na execução do Programa (MDS-Prefeitura de Cuiabá e MDS-CONAB), assim como as precariedades informadas pelos agentes chave entrevistados da pesquisa elaborada pela EMPAER juntamente com a Prefeitura Municipal de Cuiabá. Finalizando este tópico, são apresentadas algumas sugestões de melhoria para o PAA realizado em Cuiabá. O PAA firmado, tanto em nível do MDS-Prefeitura de Cuiabá, quanto entre o MDSCONAB, é materializado via convênio e /ou contrato, portanto, as regras formais e informais estão presentes na execução desses projetos, o que, segundo a NEI, constitui o ambiente institucional do Programa. Analisando o Termo de Convênio nº 177/2007 (MDS-Prefeitura) depara-se com uma fragilidade dessa regra formal, porque, na prestação de contas, não é necessário informar nominalmente quais instituições socioassistenciais foram beneficiadas, quais os respectivos produtos doados, quais os agricultores familiares participantes do contrato. O Termo sxige, apenas, o número de agricultores, de instituições beneficiadas e o total de produtos adquiridos. 117 Essa fragilidade pode ser considerada um filtro institucional de primeiro nível, isto é, relacionado ao desenho e à concepção da política, e podem prejudicar o alcance das metas do PAA, pois, a proposta apresentada era de que o Programa atuasse em duas frentes: a primeira com o escoamento do produto; e a segunda com o consumo e a suplementação alimentar às pessoas atendidas pelas entidades socioassistenciais. Portanto, essas lacunas detectadas no Convênio inviabilizam o monitoramento e a avaliação da proposta, pois, não se pode determinar com clareza as entidades que foram efetivamente beneficiadas, nem quais produtos foram entregues e a qualidade destes. A análise do Programa no âmbito do MDS-CONAB mostra certa fragilidade quanto à fiscalização da Conab em relação aos produtos entregues ao Banco de Alimentos, se estes são realmente distribuídos às instituições assistenciais cadastradas, devido à insuficiência de técnicos na CONAB/MT para acompanhar in loco essa distribuição. Porém, a Conab/MT vem utilizando a estratégia de realizar reuniões anuais com todos os interessados no PAA (agricultores familiares, entidades socioassistenciais), esclarecendo dúvidas sobre o funcionamento do Programa (objetivos, incentivos e benefícios) e orientando como as instituições devem proceder ao receber os alimentos quanto à qualidade e quantidade dos produtos constantes do contrato. Nesse caso, trata-se de um filtro institucional de segundo nível (na transmissão do incentivo). Percebe-se que a Conab utilizou esse filtro de forma positiva, pois, detectou a fragilidade no processo e adotou estratégia para sanar o problema. Outra fragilidade do Programa (MDS-CONAB) diz respeito à falta de regularidade no fluxo da entrega dos produtos ao Banco de Alimentos, que por sua vez, impacta negativamente as entidades socioassistenciais que enfrentam períodos sem entrega. No entanto, essa fragilidade encontra amparo na Cédula do Produtor Rural, contrato firmado entre a Associação de agricultores familiares e a Conab, que permite flexibilidade no prazo e na regularidade da entrega do produto, em função, principalmente, das incertezas próprias da produção agrícola. Aqui, percebe-se a importância da estrutura de governança e da definição de quem toma as decisões e para quais beneficiários. No caso, os beneficiados com essa flexibilidade foram exclusivamente os agricultores familiares, no entanto, as entidades socioassistenciais ficaram em segundo plano. Enfim, diante da análise dos convênios, tanto em nível de município de Cuiabá, quanto com a Conab, percebe-se que não existe uma preocupação maior com quem recebe os alimentos (entidades socioassistenciais), configurando-se como fragilidade do Programa ou filtro institucional de primeiro nível relacionado ao desenho da política, no caso o Convênio 118 MDS-Prefeitura, e Contrato MDS-Conab, que especifica no contrato entre a ConabAssociações. Na sequência, são transcritas as dificuldades detectadas pelos agricultores familiares e demais agentes chave entrevistados. Na visão do engenheiro agrônomo da Prefeitura de Cuiabá, dois fatores contribuem para que 55% dos produtores familiares não participam do PAA: eles já possuíam mercado garantido para as suas produções; a existência de graves problemas de irrigação nas propriedades, impossibilitando-os de manter a produção em época de estiagem, por conseguinte, impossibilitando o produtor arcar com o compromisso de entregar a produção conforme acordado no projeto. Quando indagado sobre a deficiência de Assistência Técnica por parte da Prefeitura junto aos agricultores familiares, o técnico informou que, apesar de existir um Programa de Assistência Técnica e Extensão Rural (ATER) desde 2006, existem várias dificuldades que ainda não foram sanadas, como: falta de veículo, combustível não compatível com a realidade a ser atendida; deficiência no auxílio alimentação aos técnicos que se deslocam a campo; falta de treinamento e capacitação continuada à equipe técnica, dentre outros. Quanto à questão associativa, o técnico da Prefeitura informou que apesar da importância dos agricultores familiares se organizarem em associações e/ou cooperativas, a realidade em Cuiabá é bastante preocupante, pois a maioria das associações está irregular, não cumprindo seu papel que é o de fortalecer e representar o segmento familiar junto às entidades públicas. A questão do associativismo é uma das formas de minimizar os custos de transação, pois, com defende Azevedo (2000) trata-se de uma estratégia de coordenação horizontal de produtores que permite a comercialização conjunta em melhores condições de barganha. Porém, também existem custos associados a essa coordenação horizontal, como: negociar, coletar informações relevantes, estabelecer acordos, formalidades legais de funcionamento, fidelidade dos associados, dentre outros, que podem inviabilizar tal organização caso não sejam cumpridos. Quando o técnico da Prefeitura Municipal foi indagado sobre a importância da Prefeitura para o desenvolvimento do segmento de agricultores familiares, ele afirmou que essa importância se traduz como essencial no processo de organizar melhor a cadeia produtiva para ofertar enquanto agente participante no processo tecnológico, máquinas e informações técnicas relativas ao plantio. Também a participação da Prefeitura é importante para desenvolver política que incentive o agricultor a buscar a sua sustentabilidade. Informou ainda 119 que a Prefeitura não vem cumprindo o seu papel social enquanto instituição pública por dificuldades políticas e de condições financeiras, estruturais, funcionais e pessoais. Segundo o agricultor (entrevistado 1), as causas que levaram 55% de agricultores não terem participado, em 2009, do PAA, foram: falta de credibilidade no Governo Municipal, devido o Governo Municipal, na década de 90 ter lançado e não cumpriu a sua parte num outro modelo de Programa de Aquisição de Alimentos; dificuldade no escoamento da produção, visto que, no período de 2008 e início de 2009, os agricultores familiares não estavam plantando, pois não tinham destino certo para fazerem a comercialização dos seus produtos. Assim, só a partir desse momento, e com orientação dos técnicos da Prefeitura de Cuiabá é que os agricultores familiares começaram a vislumbrar um horizonte seguro para comercialização de seus produtos e decidiram por plantar novamente. Na visão desse agricultor entrevistado, a Prefeitura Municipal de Cuiabá está cumprindo, mesmo que de forma acanhada, a função de orientar os agricultores familiares quanto aos benefícios oriundos do programa PAA, principalmente, na segurança da comercialização da produção; documentação necessária para aderir ao PAA; organização em associações e cooperativas, entre outras atividades. A pesquisa levantou que existem algumas dificuldades a serem sanadas, tais como: problemas de irrigação (condições de plantio continuado, inclusive nas épocas de estiagem); falta de assistência técnica continuada; e dificuldades de acesso ao crédito. Além disso, foi repassada a informação de que a Prefeitura de Cuiabá disponibiliza um caminhão para transportar os produtos dos agricultores familiares até o Banco de Alimentos, que são doados às instituições socioassistenciais. Desta forma, o agricultor não corre nenhum tipo de risco na comercialização de sua produção. Esses produtos são selecionados pelos agricultores para serem levados ao Banco de Alimentos, então a qualidade é um dos pontos fortes desse segmento, conforme relato do agricultor e confirmado posteriormente em contato com a instituição recebedora do alimento. O agricultor familiar informou que no período em que funcionou esse programa – PAA, 2008-2009, percebeu-se um sensível aumento na renda dos produtores familiares, o que lhes possibilitou a compra de bens e serviços, e melhoria da qualidade de vida dessas pessoas: “percebia a alegria estampada nas pessoas, foi muito bom” [sic]. Além da comercialização desses produtos no Banco de Alimentos, foi disponibilizada outra forma de venda da produção, isto é, as feiras livres, nas quais a Prefeitura oferecia um ônibus para transportar esses produtos até a feira do CPA, aos domingos. Porém, ele não sabe o porquê do programa 120 PAA não ter funcionado no ano de 2010, o que se transformou em um pesadelo para os agricultores que continuaram a plantar e não conseguiram a comercialização da sua produção na sua totalidade. Já o agricultor familiar (entrevistado 2) informou que vários foram os problemas que contribuíram para a não adesão de 55% dos agricultores ao PAA: área sem irrigação, que compromete o cumprimento das cláusulas do contrato quanto à entrega dos produtos com regularidade; precariedade na assistência técnica por parte dos técnicos da Prefeitura e da EMPAER, para orientar na elaboração do projeto e a utilização de técnicas para melhorar a produtividade; recursos do PAA considerados não atrativos e ,em alguns casos, falta de interesse daqueles agricultores que já tinham se organizado com compradores certos, as suas questões de produção e comercialização de seus produtos. Entretanto, o mesmo entrevista 2 reconhece que a Prefeitura muito empenhou em esclarecer os agricultores da baixada cuiabana sobre o PAA, quanto ao seu funcionamento e exigência documental. E que no período compreendido entre 2008-2009, foi pacífica a comercialização dos seus produtos via Banco de alimentos. Segundo informações do entrevistado 2, o baixo nível da assistência técnica da Prefeitura é decorrente da falta de estrutura financeira, técnica, humana para manter a sua ação no PAA. Entretanto, essa deficiência foi compensada com o esforço dos técnicos no trabalho de conscientização dos agricultores para se organizarem em associações. A Prefeitura tem auxiliado no transporte esses agricultores com o transporte dos produtos oriundos da agricultura familiar, já que disponibiliza um ônibus para transportar tais produtos, toda quinta-feira, até a feira da Boa Morte, localizada no centro de Cuiabá. Outra informação fornecida pelo entrevistado 2 foi que durante o período em que funcionou o PAA houve sensível aumento na produção dos agricultores familiares que aderiram ao Programa, que possibilitou a compra de bens e eletrodomésticos e de carro usado. Quando indagado sobre a qualidade dos produtos negociados junto ao PAA, o mesmo agricultor respondeu que 70% dos produtos eram considerados de boa qualidade, uma vez que eram entregues ao Banco de Alimentos. Ali era feita a triagem e entrega às entidades assistenciais beneficiárias no Programa, e a grande maioria dos produtos era aceita por estarem dentro do padrão de qualidade exigido no contrato. Porém, foi informado que com a interrupção do PAA, em 2009-2010, houve grande decepção e prejuízo junto aos agricultores familiares, pois, eles tinham acreditado no Programa, investiram em implementos, aumentaram a produção e não tiveram a comercialização dessa produção, via Prefeitura, para o Banco de Alimentos. 121 De acordo com Presidente da Associação de Agricultores Familiares da Mineira são vários os benefícios em ser associado, por que o Presidente atua como facilitador junto aos órgãos públicos para dirimir dúvida e representá-los nas diversas negociações e para conseguir orientação na elaboração de projetos para acessar recursos do PRONAF e do PAA (MDS/CONAB), entre outros. Segundo o referido Presidente, os motivos que levaram 55% dos agricultores a não participarem do PAA foram: o fato de não serem associados ou Associação com irregularidades quando pertencentes à associação e desinformação sobre o PAA. Destaca-se a importância de se trabalhar em sintonia com o sindicato, pois, este é responsável legal dos agricultores sindicalizados na questão previdenciária, aposentadoria, representante dessa categoria nos conselhos em que participa como no CMDA, e ainda na troca de informações de interesse da categoria. Sobre a importância do papel da associação no auxilio aos agricultores familiares, o Presidente informou que vem atuando junto à Prefeitura Municipal de Cuiabá na questão do transporte dos produtos e que está em fase de negociação entre esta Associação e a Votorantim Cimentos o processamento de alguns produtos, como: abóbora, mandioca, que serão cortados e embalados para serem vendidos na cantina daquela empresa. Também, foi entrevistado o Presidente em exercício do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Cuiabá, que compõe o Conselho Municipal de Desenvolvimento Agrícola – CMDA, no qual todos os assuntos referentes aos agricultores são tratados nesse Conselho. Ele citou como exemplo o PAA, onde o sindicato acompanha todo o processo de operacionalização do programa, e busca o cumprimento das ações do Governo Municipal junto aos agricultores. O sindicato faz parte do Conselho Administrativo do Centro de Comercialização da Agricultura Familiar. Então o Presidente repassa aos agricultores e associações, o que foi discutido nas reuniões, como por exemplo, a necessidade de padronização dos produtos para serem comercializados na Central de Comercialização da Agricultura Familiar. O sindicato faz reuniões periódicas todo final de semana em comunidades e assentamentos para levar esclarecimentos inerentes a essa categoria. Quanto à questão de irregularidade da maioria das associações, o Presidente do sindicato afirmou que orienta os associados sobre o que deve ser feito, pois, enquanto associados, podem exigir providências necessárias para regularização dessas entidades. Em sua opinião, os cartórios pecam quanto à fiscalização junto às associações, no intuito de obrigá-las a regularização de possíveis pendências. 122 Quando questionado sobre o percentual de 55% dos agricultores familiares não participarem do PAA, ele informou que um dos motivos é devido ao descrédito dos produtores junto ao Município, pois na década de 90 houve outro tipo de programa de aquisição de produtos, no qual o ente municipal não cumpriu com sua parte no programa. O presidente do sindicato é de opinião que a parceria entre os vários órgãos públicos em prol do Programa Mato Grosso Autossuficiente em Frutas, Legumes e Verduras no Território da Baixada Cuiabana contribui para restabelecer a credibilidade dos órgãos públicos junto aos agricultores familiares. Esse estudo vai proporcionar um diagnóstico do que está sendo produzido; quem está produzindo; qual a vocação dos agricultores familiares; para, a partir daí elaborar estratégias de atuação dentro da realidade local e buscar reestruturar o sistema de assistência técnica por parte dos governos. Outro fator importante elencado pelo mesmo entrevistado é a disposição da Prefeitura de Cuiabá para fazer a regularização do PAA - Compra com Doação Simultânea, uma das ações impactantes junto ao segmento de agricultores familiares do Município e promover outras modalidades do PAA. Foi entrevistada, também, uma representante do Asilo Santa Rita, uma das entidades socioassistenciais que foi beneficiada pelo PAA, no período de 2009. Quando indagada se essa instituição participava na escolha dos produtos que iriam compor a cesta do PAA, ela informou que, através de um funcionário do Banco de Alimentos, era feito um cadastro da instituição, constando dados da instituição (CNPJ, Ata de Criação, Estatuto) e o público a ser atendido, no caso do asilo, crianças de 6 a 12 anos. Com base neste cadastro o Banco mandava os alimentos necessários. A representante do Asilo falou da importância desse programa durante o período em que a instituição foi atendida, pois recebia uma vez por semana alimentos frescos saudáveis e de qualidade, como: milho, alface, batata, quiabo, abóbora, banana, cenoura, entre outros, que ajudava na alimentação de 45 (quarenta e cinco) crianças, sendo 14 (quatorze) internas. As economias com os alimentos recebidos pelo PAA eram revertidas na qualificação das crianças, como: cursos diversos, oficinas, reforço e material escolar e medicamento. Portanto, o PAA é visto como de suma importância, não só para o asilo, mas para todas as entidades assistidas por esse programa. Na sequência, são formuladas algumas sugestões de melhoria para o PAA em Cuiabá: Fortalecer a estrutura de governança do PAA em Cuiabá, isto é, definir formalmente e com clareza quais são os atores chave do processo, suas 123 responsabilidades, a partir daí sugerir mudanças estratégicas para sanar as falhas, fragilidades, filtros detectados na execução do Programa; Regularizar e efetivar o funcionamento dos Conselhos que são responsáveis, pelo controle social, pela fiscalização e monitoramento dos projetos porque a maioria está ou atuando de forma precária ou inativos; Reativar o atual Convênio (MDS/Prefeitura de Cuiabá), previsto para 2012. Com isso para resgatar a confiança dos agricultores familiares no ente Municipal; e, Reestruturar o Programa Municipal de Assistência Técnica e Extensão Rural (ATER), criado em 2006 porque dessa data até a atual este Programa não teve atuação concreta junto aos agricultores familiares, devido a fatores de ordem política e de gestão. A seguir, serão apresentadas as considerações finais do trabalho. 124 CONSIDERAÇÕES FINAIS Este trabalho teve por objetivo investigar a operacionalização do Programa de Aquisição de Alimentos (PAA) em Cuiabá – MT. Portanto, seus objetivos específicos eram: avaliar o cumprimento das metas do PAA no Município; comparar os resultados produtivos entre produtores participantes do PAA e não participantes; averiguar eventuais dificuldades ou imperfeições na execução do Programa; e contribuir com sugestões de melhoria do Programa. No decorrer da elaboração da pesquisa, verificou-se que a meta do PAA – Convênio 177/2007 entre o MDS e a Prefeitura Municipal de Cuiabá, através da modalidade Compra Direta Local da Agricultura Familiar (CDLAF) com Doação Simultânea – foi considerada cumprida pelos órgãos oficiais, porém, quanto às entidades socioassistenciais, não cumpriu sua proposta de beneficiar 175 entidades, já que foram atendidas apenas 83. O Programa no âmbito do MDS-Conab, o município de Cuiabá participou somente com a comunidade Marcolana, cujo projeto contemplava a participação de 27 famílias e o seu período de execução era de outubro de 2009 a outubro de 2010, tendo sido prorrogado e até junho de 2011 não tendo sido concluído, portanto, não foi cumprida a meta inicial. A pesquisa detectou que na grande maioria das unidades produtivas oriundas da agricultura familiar do município de Cuiabá não apresenta diferença da produção média entre os grupos participantes e não participantes do PAA. Quanto à participação em associação, a pesquisa mostra que a proporção dos associados participantes do PAA é maior do que os não participantes, isto é, 95% dos participantes do PAA participam de associações contra 73% dos não participantes. Porém, nas entrevistas com os agentes-chave do processo foi detectado que a maioria das associações esta irregular quanto à documentação e à inadimplência e outras obrigações legais, não cumprindo assim seu papel de representar e facilitar ações junto aos órgãos públicos em benefícios dos agricultores familiares. Não houve diferença estatística entre as proporções dos produtores participantes e não participantes do PAA em relação a algumas variáveis tecnológicas 125 como: uso de irrigação; uso de energia elétrica; uso de agrotóxicos; realização de conservação de solo; e, uso de adubo. Porém houve diferença estatística nas proporções entre os participantes do PAA e os não participantes em outras variáveis tecnológicas, a saber: utilização de assistência técnica; participação em organizações; uso de calcário; uso de análise do solo; e uso de mecanização, sendo que a participação em organizações do grupo do PAA foi superior ao do grupo não participante do PAA. Com relação aos filtros institucionais detectados nos Programas, tanto na Prefeitura, quanto da Conab, percebe-se que não existe uma preocupação maior com quem recebe os alimentos (entidades socioassistenciais), configurando-se como fragilidade do Programa ou filtro institucional de primeiro nível, relacionado ao desenho da política, no caso o Convênio MDS-Prefeitura e o Contrato MDS-Conab, que se detalha no contrato entre a Conab e Associações. Com relação à estrutura de governança, tem-se que através dos relatos dos entrevistados aqui apresentados ( agentes – chave do processo), a estrutura de governança (organograma informal) do PAA em Cuiabá (convênio MDS – Prefeitura), responsável pela gestão de funcionamento do Programa em nível local, isto é, os atores que deveriam coordenar a execução do Programa: SMTDE – Diretoria de Agricultura e Abastecimento, através de seus técnicos, e do conselho (CMDA); SMASDH, através dos conselhos (COMSEA E CMAS), e do Banco de Alimentos; além de representante dos produtores e entidades sociassistenciais, não está funcionando, pois, basicamente, são os técnicos da Diretoria de Agricultura e Abastecimento quem determinam os produtores, os beneficiários e os produtos que irão compor o Programa. Quanto à atuação dos Conselhos, segundo relato dos entrevistados a maioria está em funcionamento precariamente, ou em alguns casos, estão inativos. Isso prejudica a atuação do PAA, pois, trata-se de um segmento imprescindível para o controle social, através do monitoramente na execução do Programa. Outros fatores foram detectados como prejudiciais ao PAA junto aos entrevistados – agentes-chave do processo, como: a existência de graves problemas de irrigação nas propriedades que impossibilitam manter a produção em época de estiagem, por conseguinte, inviabilizam o produtor de arcar com o compromisso de entregar a produção conforme acordado no projeto; falta de credibilidade no Governo Municipal, pois, na década de 90, o Governo Municipal lançou outro programa de aquisição de alimentos e não cumpriu com a sua parte. Isso gerou descrédito dos produtores junto ao 126 setor público; dificuldade no escoamento da produção, visto que, no período de 2008 e início de 2009, os agricultores familiares não plantaram, pois não tinham destino certo para comercialização dos seus produtos; falta de assistência técnica continuada; e dificuldades de acesso ao crédito. Quanto à variável Assistência Técnica e Extensão Rural (ATER), ocorre outro gargalo a ser resolvido. O Programa existe desde 2006, porém não existe infraestrutura adequada para seu funcionamento, os técnicos estão carentes de qualificação e os recursos financeiros são escassos para desenvolver o Programa dentro da finalidade proposta que é de levar aos agricultores familiares conhecimento técnico para elaboração de projetos e técnicas de gestão através de palestras, cursos, seminários, dentre outros. Outro ponto negativo revelado pela pesquisa foi a interrupção do PAA no final do ano de 2009 e o não funcionamento no ano de 2010; os agricultores que continuaram a plantar não conseguiram fazer a comercialização de sua produção na sua totalidade, portanto, gerando prejuízo a esses atores. O PAA está sendo executado no Município de Cuiabá com algumas dificuldades e /ou imperfeições devido a precariedade da estrutura de governança responsável pela gestão do Programa. Enfim, diante da realidade detectada pela pesquisa, eis algumas sugestões para o PAA executado no Município de Cuiabá: fortalecer a estrutura de governança do PAA; regularizar a situação dos Conselhos; reativar o atual Convênio (MDS/Prefeitura de Cuiabá), previsto para 2012 e reestruturar o Programa Municipal de Assistência Técnica e Extensão Rural (ATER), criado em 2006. Algumas sugestões para pesquisas futuras: análise do PAA nos demais municípios do estado de Mato Grosso e de políticas combinadas como as de crédito via PRONAF, a de assentamentos e regularização fundiária, e cenários alternativos como a consolidação do centro de abastecimento na área metropolitana de Cuiabá. 127 REFERÊNCIAS ABREU, L. S. A agricultura familiar no Brasil. In: Informativo Meio Ambiente & Agricultura, ano V, nº. 17, jan/fev/mar, 1997. Disponível em: <http://www.cnpma.embrapa.br>. Acesso em: 07 abr. 2010. ALSTON, L. J.; B. P. M. MUELLER. (2003). Property rights, violence and the state. Brasília: Universidade de Brasília. (Departamento de Economia, Série Textos para Discussão). AMARAL, N. Noções de conservação do solo. 2 ed, São Paulo: Nobel,1984. AZEVEDO, P. F. de. 2000. Nova economia institucional: referencial geral e aplicação para a agricultura. Agricultura em São Paulo, São Paulo, v. 47, n. 1, p. 33-52. BRASIL. Lei nº. 11.326, de 24 de julho de 2006. 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Administrative Science Quarterly, v.36, p.269-296, jun. 1991. 132 ANEXO ANEXO A Relatório da Comunidade/PAA Pesquisada Município: Cuiabá-MT Comunidade: Data: 1- O quadro abaixo discrimina a participação do produtor no PRONAF PRONAF A: PRONAF A/C: PRONAF B: PRONAF A/F: Mais Alimentos: Não é beneficiário: Total: 2A participação dos produtores em organizações associativas está composta da seguinte forma: Participam em associações: Participam em Cooperativa: Participam em outros tipos: Não participam: Total: Além da participação acima, os produtores também participam de Participam em Cooperativa: Participam em outros tipos: Total 3A participação dos produtores no Programa de Aquisição de Alimentos é da seguinte forma: PAA: PNAE: Não: Total: 4- Quanto ao recebimento de assistência técnica a situação é a seguinte: Prefeitura Municipal: EMPAER-MT: Empresa privada: Não recebe: Total: 133 5- Quanto à participação em sindicatos, a situação é a seguinte: É sindicalizado: Não é sindicalizado: Total: 6- Quanto a posse da terra os produtores têm a seguinte situação: Proprietário: Meeiro: Arrendatário: Outros: Total: 7- O número de propriedades pesquisadas foi de: 143 8- A área total das propriedades pesquisadas é de : 2199,5 hectares 9- A área média das propriedades pesquisadas é de: 15,3811188811189 hectares 10 - O relevo das propriedades pesquisadas está distribuído da seguinte forma: Plano: Suave ondulado: Ondulado: Total: 10 - Os tipos de solos na comunidade estão distribuídos da seguinte maneira: Arenoso: Misto: Argiloso: Pedregoso: Total: 11 - O levantamento identificou os seguintes tipos de irrigação: Gotejamento: Aspersão: Sulco: Outros: Não faz: Total: 12 - As fontes de água mais utilizadas pelos produtores são: Poço comum: Tubular profundo: Açude: 134 Córrego ou rio: Total: 13 - Quanto ao fluxo da água na região a situação é a seguinte: Perene: Intermitente: Total: 14 - A existência ou não de energia elétrica nas propriedades é a seguinte: Tem energia elétrica: Não tem energia elétrica: Total: 15 - A média de pessoas da família que trabalham na propriedade é de ___ pessoas 16 - O número médio de trabalhadores temporários contratados por ano nas propriedades foi de ____ pessoas 17 - A situação das estradas nas propriedades pesquisadas é a seguinte: Boa: Regular: Ruim: Total: 18 - Dos agricultores entrevistados, ___ fazem análise de solo e ___não fazem. 19 - Com relação aplicação de calcário ____ fazem aplicação em suas propriedades e ______não fazem. 20 - A utilização de adubação nas propriedades está distribuída da seguinte forma: Utiliza adubação orgânica: Utiliza adubação química: Usa adubação química e orgânica: Não faz adubação: Total: 21 - Quanto à utilização de agrotóxicos, à situação é a seguinte: ____ agricultores fazem aplicação em suas propriedades e _____agricultores não fazem. 22 - A utilização de conservação de solos nas propriedades tem o seguinte quadro: Fazem plantio em nível: Fazem curva de nível: Utilizam terraços: Não fazem conservação de solo: Total: 135 23 - O emprego de rotação de culturas nas propriedades está distribuído da seguinte maneira:____agricultores fazem rotação em suas propriedades e _____agricultores não fazem. 24 - O emprego de adubação verde nas propriedades está distribuído da seguinte forma: Fazem adubação verde: Não fazem: Total: 25 - A utilização da mecanização nas propriedades tem a seguinte situação: Utilizam máquinas próprias: Utilizam máquinas alugadas: Não utilizam mecanização: Total: 26 - A venda da produção está distribuída da seguinte forma: Mercado local: Mercado regional: Local e regional: Total: 27 - O comércio dos produtos agrícolas é realizado nos seguintes lugares: Na propriedade: É feito por atravessador: Vendido na feira livre: Supermercado: Atacadista: Total: 28 - O transporte da produção é da seguinte forma: O transporte é próprio: É realizado pela associação: Os compradores buscam: Outros fazem o transporte: Total: 29 - Área, produção e produtividade dos Produtos Hortifrutigrangeiros: Abacaxi Pérola Área:ha Produção:frutos Produtividade:frutos/ha Perspectiva:ha Abóbora Área:ha Produção:kg Produtividade:kg/ha Perspectiva:ha 136 Abobrinha Área:ha Produção:kg Produtividade:kg/ha Perspectiva:ha Agrião Área:ha Produção:maço Produtividade:Maço/ha Perspectiva:ha Alface Área:ha Produção:pé Produtividade:pé/há Perspectiva:há Banana Maçã Área:ha Produção:kg Produtividade:kg/ha Perspectiva:ha Banana da Terra Área:ha Produção:kg Produtividade:kg/ha Perspectiva:ha Banana Maçã Área:ha Produção:kg Produtividade:kg/ha Perspectiva:ha Banana Nanica Área:ha Produção:kg Produtividade:kg/ha Perspectiva:ha Banana Outras Área:ha Produção:kg Produtividade:kg/ha Perspectiva:ha Batata Doce Área:ha Produção:kg Produtividade:kg/ha Perspectiva:ha Berinjela Área:ha Produção:kg Produtividade:kg/ha Perspectiva:ha Caju Área: ha Produção:kg Produtividade:kg/ha Perspectiva:ha Cana Área:ha Produção:kg Produtividade:kg/ha Perspectiva:ha Cebola Área:ha Produção:kg Produtividade:kg/ha Perspectiva:ha Cebolinha Área:ha Produção:maço Produtividade:maço/ha Perspectiva:ha Coco Área:ha Produção:unidade Produtividade:unidade/há Perspectiva:ha Coentro Área:ha Produção:maço Produtividade:maço/ha Perspectiva:ha 137 Couve Área:ha Produção:maço Produtividade:maço/há Perspectiva:ha Cumbaru Área:ha Produção:kg Produtividade:kg/ha Perspectiva:ha Goiaba Área:ha Produção:kg Produtividade:kg/ha Perspectiva:ha Graviola Área:ha Produção:kg Produtividade:kg/ha Perspectiva:ha Figo Área:ha Produção:kg Produtividade:kg/ha Perspectiva:ha Jiló Área:ha Produção:kg Produtividade:kg/ha Perspectiva:ha Limão Tahiti Área:ha Produção:kg Produtividade:kg/ha Perspectiva:ha Laranja Área:ha Produção:kg Produtividade:kg/ha Perspectiva:ha Mamão Formosa Área:ha Produção:kg Produtividade:kg/ha Perspectiva:ha Mamão Papaya Área:ha Produção:kg Produtividade:kg/ha Perspectiva:ha Mandioca Área:ha Produção:kg Produtividade:kg/ha Perspectiva:ha Manga Bourbon Área:ha Produção:kg Produtividade:kg/ha Perspectiva:ha Manga Tommy Área:ha Produção:kg Produtividade:kg/ha Perspectiva:ha Maracujá Área:ha Produção:kg Produtividade:kg/ha Perspectiva:ha Maxixe Área:ha Produção:kg Produtividade:kg/ha Perspectiva:ha Melancia Área:ha Produção:kg Produtividade:kg/ha Perspectiva:ha 138 30 - Melão Área:ha Produção:kg Produtividade:kg/ha Perspectiva:ha Milho Verde Área:ha Produção:saca Produtividade:saca/ha Perspectiva:ha Pepino Área:ha Produção:kg Produtividade:kg/ha Perspectiva:ha Pimenta Área:ha Produção:kg Produtividade:kg/ha Perspectiva:ha Pimentão Área:ha Produção:kg Produtividade:kg/ha Perspectiva:ha Quiabo Área:ha Produção:kg Produtividade:kg/ha Perspectiva:ha Repolho Área:ha Produção:kg Produtividade:kg/há Perspectiva:ha Rúcula Área:ha Produção:maço Produtividade:maço/ha Perspectiva:ha Salsa/Salsinha Área:ha Produção:maço Produtividade:maço/há Perspectiva:ha Tangerina Poncã Área:ha Produção:kg Produtividade:kg/ha Perspectiva:ha Tomate Área:ha Produção:kg Produtividade:kg/ha Perspectiva:ha Uva Área:ha Produção:kg Produtividade:kg/ha Perspectiva:ha Outros Produtos Farinha de mandioca: saco Mel:kg Rapadura:kg Doce:kg Elaborado por Osmano de Freitas Silva - COATER - EMPAER-MT 139 APÊNDICE APÊNDICE A - Pesquisa Qualitativa aos agricultores familiares: 1º) O Poder Público tem oferecido orientação aos agricultores familiares quanto a esclarecimentos de como utilizar o crédito agrícola PRONAF? Como? 2º) O Poder Público tem orientado o agricultor familiar quanto à documentação necessária para obter crédito agrícola PRONAF? Como? 3º) A Política Creditícia do PRONAF-A tem propiciado melhoria de renda aos agricultores familiares? Como? 4º) Quais os motivos que explicam o porquê de 40% dos agricultores familiares entrevistados não fazerem uso do crédito PRONAF-A? 5º) O Poder Público tem auxiliado os agricultores familiares a fazer uso do Programa de Aquisição de Alimentos – PAA? Esclarecimento, documentação, etc. 6º) Os agricultores familiares que fazem uso do PAA têm como garantia a comercialização dos seus produtos, por parte do Poder Público? De que forma? 7º) Os agricultores familiares que fazem uso do PAA têm percebido aumento de renda? Como? Como se traduz? 8º) Com a participação no programa PAA, o agricultor familiar tem percebido que aumentou a sua produção? 9º) Os produtos produzidos pelo agricultor familiar que aderiu considerados de qualidade? São selecionados? ao programa PAA são 140 10º) Quais os motivos que explicam o porquê que 55% dos agricultores familiares não participam do PAA? 11º) Os produtos da agricultura familiar são destinados, via Poder Público, a grupos de risco alimentar? A quem? 12º) O Poder Público tem orientado os agricultores familiares a se organizarem em forma de associações e ou cooperativas? Como? 13º) As associações têm auxiliado os agricultores familiares na comercialização dos seus produtos? (novos mercados). 14º) As associações têm auxiliado os agricultores familiares no beneficiamento da produção em estrutura comunitária? 15º) As associações têm auxiliado os agricultores familiares, aumentando o poder de negociação junto ao Poder Público? 16º) O Poder Público tem auxiliado os agricultores familiares com aluguel subsidiado de máquinas? 17º) O Poder Público tem feito manutenção nas estradas rurais? 18°) O Poder Público tem auxiliado os agricultores familiares com assistência técnica? 19°) O Poder Público tem viabilizado canais alternativos de comercialização da produção aos agricultores familiares? (feira livres, banco de alimentos). 20º) Quais as dificuldades encontradas pelos agricultores familiares na comercialização dos seus produtos? 141 APÊNDICE B - Pesquisa Qualitativa outros atores (EMPAER, ASSOCIAÇÕES, SINDICATO, CONAB, BB, SADRAF, INSTITUIÇÃO SOCIOASSISTÊNCIAL, PREFEITURA MUNICIPAL DE CUIABÁ): 1º) Na sua opinião, qual a importância dessa instituição no auxílio aos agricultores familiares do município de Cuiabá? 2º) Quais os motivos que explicam o porquê 40% dos agricultores familiares não fazem uso do crédito Pronaf ? 3º ) Quais os motivos que explicam o porquê 55% dos agricultores familiares não participam do PAA? 4º) Há interesse em se trabalhar outras modalidades de PAA em Cuiabá? 5º) Como são escolhidos os tipos de produtos a serem comercializados no PAA? 6º) As Instituições Socioassistenciais têm participação na determinação dos produtos comercializados no PAA? 7º) Os produtos fornecidos que compõem o Socioassistenciais são considerados de qualidade? PAA, e são doados às Instituições 142 APÊNDICE C Tabela C1 Distribuição dos recursos do PAA por instrumento de comercialização (em milhões), Brasil, Regiões e Mato Grosso - 2008-2010 Ano Região CDAF 0,000 2,624 0,000 0,972 0,000 Recursos - MDS CPR Doação CPR Estoque 12,799 0,000 67,439 0,000 57,484 0,000 35,012 0,842 9,020 0,049 Norte Nordeste Sudeste Sul 2008 Centro Oeste MT 0,000 Total 3,596 Norte 8,731 Nordeste 35,155 Sudeste 4,077 Sul 56,372 2009 Centro 4,487 Oeste MT 0,781 Total 109,184 Norte 0,028 Nordeste 6,722 Sudeste 0,036 Sul 12,035 2010 Centro 0,355 Oeste MT 0,000 Total 19,179 Fonte: CONAB (2010). Nota: Elaborado pela autora com adequações. Sub-Total 12,789 70,063 57,484 36,827 9,070 CDAF 0,000 1,390 6,609 33,087 0,000 Recursos - MDA CPR Estoque 2,889 9,386 9,391 22,677 0,823 Sub-Total 2,889 10,776 16,001 55,764 0,823 Recursos Totais 15,679 80,839 73,486 92,591 9,893 5,517 181,747 2,664 43,166 69,687 27,964 6,892 0,000 0,892 0,000 8,078 1,628 4,478 0,000 5,517 186,235 11,395 86,401 75,393 88,815 11,739 0,000 41,087 0,000 10,855 0,000 45,831 0,563 0,465 45,168 4,154 5,581 3,449 18,279 0,921 0,465 86,255 4,154 16,437 3,449 64,111 1,484 5,982 272,490 15,550 102,838 78,842 152,926 13,224 2,671 150,375 25,372 99,193 75,113 54,778 17,999 0,000 14,185 0,108 12,968 1,821 16,018 0,086 3,453 273,745 25,509 118,885 76,971 82,832 18,442 0,563 57,249 0,000 0,006 0,000 38,633 2,262 0,571 32,386 2,839 2,966 2,180 7,509 0,696 1,134 89,636 2,839 2,973 2,180 46,142 2,958 4,587 363,381 28,348 121,858 79,151 128,975 21,400 9,823 272,457 0,035 31,004 9,859 322,641 0,000 40,902 0,588 16,191 0,588 57,093 10,448 379,735 143 Tabela C2 Quantidade de produto adquirida nas operações do PAA segundo a origem do recurso (MDA ou MDS): Brasil, Regiões e Mato Grosso - 2008-2010 Ano Região CDAF 0 2.958 0 130 Norte Nordeste Sudeste Sul 2008 Centro 0 Oeste MT 0 Total 3.088 Norte 6.227 Nordeste 27.757 Sudeste 3.864 Sul 18.833 2009 Centro 4.516 Oeste MT 535 Total 61.197 Norte 69 Nordeste 7.151 Sudeste 25 Sul 6.140 2010 Centro 259 Oeste MT 0 Total 13.644 Fonte: CONAB (2010). Nota: Elaborado pela autora com adequações. Recursos - MDS CPR Doação CPR Estoque 21.084 0 34.670 0 40.202 0 71.682 879 Sub-Total 21.084 37.628 40.202 72.691 CDAF 0 1.345 960 6.252 Recursos - MDA CPR Estoque 3.170 5.157 7.489 33.310 Sub-Total 3.170 6.502 8.449 39.562 Total 24.254 44.131 48.651 112.253 4.890 10 4.900 0 718 718 5.619 3.535 172.528 2.103 21.511 51.256 17.325 0 889 0 4.839 1.019 4.734 3.535 176.505 8.329 54.107 56.139 40.893 0 8.557 0 10.149 0 64.707 495 49.846 3.488 2.978 2.138 32.663 495 58.403 3.488 13.127 2.138 97.371 4.030 234.908 11.817 67.234 58.277 138.264 3.877 0 8.394 2.678 511 3.188 11.583 1.627 96.073 15.681 52.634 48.597 33.763 10.153 0 10.592 67 5.705 1.056 14.657 20 2.162 163.862 15.816 65.490 49.679 54.559 10.432 2.678 77.534 0 5 0 10.388 8.179 385 41.779 2.146 1.640 3.835 3.342 385 3.063 119.312 2.146 1.645 3.835 13.730 8.564 5.226 287.174 17.962 67.134 53.514 68.289 18.996 5.981 160.828 10 21.504 5.991 195.976 0 18.572 331 11.348 331 29.920 6.322 225.895 144 Tabela C3 Número de participantes fornecedores (famílias produtoras) do PAA, segundo a origem do recurso (MDA ou MDS): 20082010, Brasil, Regiões e Mato Grosso Ano Região CDAF Norte 0 Nordeste 798 Sudeste 0 Sul 278 2008 Centro 0 Oeste MT 0 Total 1.076 Norte 3.471 Nordeste 9.119 Sudeste 925 Sul 14.728 2009 Centro 1.296 Oeste MT 304 Total 29.539 Norte 9 Nordeste 1.607 Sudeste 6 Sul 2.618 2010 Centro 80 Oeste MT 0 Total 4.320 Fonte: CONAB (2010). Nota: Elaborado pela autora com adequações. Recursos - MDS CPR Doação CPR Estoque 4.141 0 22.842 0 20.583 0 12.586 401 2.891 15 Sub-Total 4.141 23.640 20.583 13.265 2.906 0 427 1.889 10.132 0 Recursos - MDA CPR Estoque 989 3.068 2.689 6.657 248 Sub-Total 989 3.495 4.578 16.789 248 CDAF Total 5.130 27.135 25.161 30.054 3.154 1.816 63.043 780 13.112 19.996 8.341 2.123 0 416 0 2.180 331 1.110 0 1.816 64.535 4.251 24.411 21.252 24.179 3.419 0 12.448 0 3.068 0 10.096 162 145 13.651 1.135 1.585 789 3.719 274 145 26.099 1.135 4.653 789 13.815 436 1.961 90.634 5.386 29.064 22.041 37.994 3.855 916 44.352 6.533 26.111 20.066 15.440 4.809 0 3.621 29 3.736 316 2.430 41 1.220 77.512 6.571 31.454 20.388 20.488 4.930 162 13.326 0 3 0 6.420 531 174 7.502 699 689 501 1.560 164 336 20.828 699 692 501 7.980 695 1.556 98.340 7.270 32.146 20.889 28.468 5.625 2.887 72.959 8 6.552 2.895 83.831 0 6.954 138 3.613 138 10.567 3.033 94.398 145 Tabela C4 Dados de produção (quantidade e área) por produto, segundo o grupo (PAA e não PAA), em 2009 Não PAA Item Abacaxi (Área) Abacaxi (Produção) Abóbora (Área) Abóbora (Produção) Abobrinha (Área) Abobrinha (Produção) Alface (Área) Alface (Produção) Banana maçã (Área) Banana (Produção) Banana Terra (Área) Banana Terra (Produção) Batata Doce (Área) Batata Doce (Produção) Berinjela (Área) Berinjela (Produção) Cana (Área) Cebolinha (Área) Cebolinha (Produção) Coentro (Área) Coentro (Produção) Couve (Área) Couve (Produção) Jiló (Área) Jiló (Produção) Contagem 10 10 6 6 18 18 31 31 3 3 13 13 2 2 7 7 8 21 21 15 15 13 13 7 7 Média 1,66 41.050,00 0,40 8.190,00 0,54 11.360,56 0,28 9.069,68 0,18 2.750,00 1,98 22.397,69 0,40 840,00 0,24 1.602,29 0,93 0,46 7.080,95 0,19 4.190,00 0,06 4.199,69 0,47 18.651,43 PAA Desvio padrão 2,99 74.819,58 0,11 1.873,21 0,34 9.748,87 0,36 18.666,10 0,08 1.145,64 3,93 52.311,36 0,14 296,98 0,19 831,41 0,62 0,68 10.361,27 0,15 3.100,29 0,07 4.312,32 0,38 15.588,74 Contagem Média 9 9 30 30 13 13 4 4 3 3 10 10 2 2 3 3 6 4 4 4 4 4 4 3 3 1,03 25.688,89 0,86 17.832,67 0,40 13.843,08 0,12 2.691,00 0,58 8.750,00 0,66 9.900,00 0,12 241,50 0,22 13.920,00 1,25 0,27 4.095,00 0,15 3.355,00 0,05 3.132,00 0,25 8.000,00 Desvio padrão 0,71 17.766,70 0,79 16.355,57 0,28 17.270,69 0,09 1.902,07 0,38 5.728,22 0,32 4.753,95 0,12 252,44 0,10 9.635,93 0,61 0,25 3.668,80 0,14 3.240,26 0,04 2.161,02 3.464,10 Continua... 146 (Continuação) Não PAA Item Limão Tahiti (Área) Limão Tahiti (Produção) Mandioca (Área) Mandioca (Produção) Maracujá (Área) Maracujá (Produção) Maxixe (Área) Maxixe (Produção) Melancia (Área) Melancia (Produção) Melão (Área) Melão (Produção) Milho Verde (Área) Milho Verde (Produção) Pepino (Área) Pepino (Produção) Pimenta (Área) Pimenta (Produção) Pimentão (Área) Pimentão (Produção) Quiabo (Área) Quiabo (Produção) Repolho (Área) Repolho (Produção) Rúcula (Área) Rúcula (Produção) Salsa/Salsinha (Área) Contagem 6 6 28 24 2 2 3 3 5 5 1 1 19 19 7 7 3 2 12 12 17 17 2 2 13 13 16 Média 0,81 2.062,50 1,14 17.300,00 1,75 26.250,00 0,27 4.906,67 0,70 19.102,50 0,20 1.700,00 1,10 4.406,32 0,24 7.940,71 0,38 2.825,00 0,29 8.828,50 0,39 7.642,47 0,50 16.125,00 0,16 3.184,00 0,34 PAA Desvio padrão 1,09 2.580,59 0,63 11.494,38 1,06 15.909,90 0,23 4.148,51 0,45 13.934,87 0,89 3.563,63 0,26 8.534,52 0,54 3.075,91 0,27 8.080,99 0,27 11.639,64 0,57 18.561,55 0,08 5.341,46 0,28 Contagem Média 3 3 44 41 2 2 8 8 5 5 3 3 40 40 3 3 6 6 3 3 34 34 2 2 2 2 3 0,33 1.000,00 1,45 21.609,76 0,23 2.625,00 0,28 5.125,00 0,47 11.750,00 0,32 3.166,67 1,44 6.275,00 0,14 4.410,00 0,35 1.666,67 0,20 7.500,00 0,54 10.097,65 0,10 4.875,00 0,17 4.445,00 0,13 Desvio padrão 0,14 433,01 0,70 10.036,50 0,04 530,33 0,16 2.966,20 0,34 8.459,46 0,16 1.607,28 0,95 6.255,20 0,10 3.273,58 0,17 944,28 0,06 4.500,00 0,45 13.606,90 2.298,10 0,14 3.613,32 0,06 Continua... 147 (Continuação) Não PAA Item Salsa/Salsinha (Produção) Tomate (Área) Contagem 16 5 Média 3.377,50 0,50 PAA Desvio padrão 2.794,17 0,62 Contagem 3 3 Média 4.333,33 0,25 Desvio padrão 4.932,88 0,01 Tomate (Produção) 5 21.868,00 27.329,46 3 11.020,00 470,32 Farinha de mandioca (saco) 4 45,00 19,15 3 40,00 Rapadura (kg) 8 1.575,00 1.082,00 4 1.500,00 1.000,00 Fonte: Elaborada pela autora com base nos dados COATER – EMPAER/MT (2009). Observação: Foram retirados os resultados de Doce, mamão papaia, mamão formosa, laranja, banana nanica e outras variedades não identificadas e agrião, por não terem mais de um produtor participante do PAA de modo a permitir comparação.