O DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL NAS PEQUENAS PROPRIEDADES AGRÍCOLAS CARACTERIZADAS COMO AGRICULTURA FAMILIAR NO BRASIL. 1 Judite Ângela Vieira Borges Carlos Eduardo Ribeiro Santos2 RESUMO: A necessidade de ampliar a distribuição e o acesso de alimentos no mundo, fez da Revolução Verde um processo inovador e ao mesmo tempo criticado, pois mesmo tendo a intenção de dar acesso alimentar à camada desfavorecida da sociedade, a mesma propõe a utilização do meio ambiente de maneira inconsciente e inconsequente, tentando solucionar um problema causando outro de maior intensidade. Apesar da tentativa de redução da fome que esse processo de produção em larga escala causou, o grande percentual de agrotóxicos inserido nos alimentos e na terra prejudicou a vida dos series humanos, afetando o solo e, concomitantemente, a saúde de quem os consumia. O Desenvolvimento Sustentável, como foi caracterizado a partir de 1990, trouxe para o Brasil uma proposta diferente de produção de alimentos e, consequentemente, de reduzir a quantidade de insumos químicos inseridos nessas produções, tendo em vista a busca da manutenção da capacidade de produção da terra. Nesse contexto, o presente trabalho aborda a analise sobre a pratica da sustentabilidade e o desenvolvimento sustentável praticado na agricultura de subsistência desde a introdução desse contexto no Brasil até os dias atuais, onde se pode observar que a sua inserção nas pequenas propriedades agrícolas ou propriedades de agricultura familiar vem crescendo devido à ínfima utilização de produtos químicos junto ao cultivo. Tal fato aponta para uma produção ambientalmente correta, não apenas ecologicamente, mas socialmente, tendo em vista a sustentabilidade ambiental, e também econômica dessas propriedades. A agricultura familiar juntamente com o desenvolvimento sustentável, vem sendo abordada no contexto das novas formas de inserção do pequeno agricultor no mercado, pois o mesmo, produzindo de maneira ecológica fará com que o Estado lhe olhe de maneira mais apreciável e invista no crescimento de sua capacidade, a exemplo da implementação de politicas voltadas para a inserção e manutenção da capacidade produtiva das pequenas propriedades agrícolas. Assim, estruturalmente nesse artigo, em primeiro momento foi abordado o paradigma do desenvolvimento sustentável e suas influencias para a produção alimentícia. Em seguida, foi analisada a agricultura familiar e sua evolução no Brasil, observando-se também uma comparação desta agricultura com a agricultura patronal e sua relação com a sustentabilidade econômica e ambiental. E por fim, pôde-se concluir o quão sustentável essas pequenas propriedades podem ser, e o quanto o Brasil necessita dessas estruturas produtivistas para que haja crescimento e desenvolvimento socioeconômico nas pequenas cidades, devido ao seu 1 Graduada em Ciências Econômicas pela Faculdade Integrada Euclides Fernandes (FIEF). Pós-Graduada em Gestão e Educação Ambiental pela Faculdade Integrada Euclides Fernandes (FIEF). Pós-Graduanda em Economia das Sociedades Cooperativas pela Universidade Estadual de Santa Cruz (UESC). E-mail: [email protected]. 2 Economista pela Universidade Estadual de Feira de Santana (UEFS) e Mestre em Políticas Públicas de Desenvolvimento Regional pela Universidade do Estado da Bahia (UNEB). Professor Assistente do Departamento de Ciências Econômicas da Universidade Estadual de Santa Cruz (DCEC/UESC). E-mail: [email protected]. potencial de captação de mão de obra, geração de renda e pela capacidade de gestar de maneira eficiente os recursos naturais. Palavras-chave: Desenvolvimento; Sustentabilidade; Pequenas propriedades agrícolas. INTRODUÇÃO A agricultura familiar no Brasil vem se desenvolvendo devido à falta de empregabilidade dos outros setores nos centros urbanos e pela busca das políticas publicas, em atrelar, cada vez mais, trabalhadores à produção agrícola como forma de geração de renda e diminuição do desemprego urbano. Com isso, a utilização desta agricultura, que também é, geralmente, sustentável, econômica e ambiental, vem se expandindo cada vez mais. Com o intuito do crescente desenvolvimento de pequenas propriedades, o Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (PRONAF) é a principal política utilizada para subsidiar os pequenos produtores rurais. Com baixo nível de juros cobrados pelo fornecimento de credito (para investimento e/ou formação de capital de giro, a depender da modalidade atribuída ao produtor), o mesmo é um grande financiador dos agricultores familiares e da manutenção de sua sustentabilidade econômico-produtiva. Assim, considerando a importância da agricultura familiar para a geração de emprego e renda no Brasil, este trabalho tem como intuito analisar a relevância que o desenvolvimento sustentável tem para a pequena produção agrícola, e, necessariamente, a o sua importância para a preservação do meio ambiente. Objetivando uma analise que demonstre também, o fluxo econômico decorrente da geração de emprego e renda gerada pela agricultura familiar. Para tanto, a metodologia utilizada foi a de revisão de literatura sobre o entendimento do desenvolvimento e da sustentabilidade econômica e ambiental, realizada através de uma pesquisa bibliográfica, e com base na utilização de dados secundários. Nesse sentido, o trabalho está estruturado da seguinte maneira: na primeira parte está exposto o desenvolvimento sustentável, sua criação e a introdução no Brasil, posteriormente é abordada a relação da agricultura familiar com o desenvolvimento sustentável, e por fim, se expõe a relevância que o desenvolvimento sustentável tem para o crescimento endógeno das propriedades familiares e sua relação para o desenvolvimento socioeconômico (que engloba os aspectos sociais, econômicos e ambientais). A REVOLUÇÃO VERDE E O PARADIGMA DO DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL: produção, desenvolvimento e meio ambiente. Com a inserção de uma combinação de insumos químicos e maquinários, a Revolução Verde veio caracterizar uma forma mais simplificada de produzir muito e em pouco tempo, dando espaço para a incorporação dos preceitos neoclássicos de aumento da produtividade econômica e diminuição dos custos de produção. Dada à necessidade de aumentar a produção agrícola para que problemas como a fome (enquanto justificativa da ação) pudessem ser solucionados, atrelados ao rápido processo de produção. Modelo que foi adotado por muitos países, assim como o Brasil, conforme assegura Marouelli (2003) citado por Gaspi e Lopes (20-?). No que se refere ao aumento da produção total da agricultura, a Revolução Verde foi, sem duvida um sucesso. Entre 1950 e 1985, a produção mundial de cereais passou de 700 milhões para 1,8 bilhões de toneladas, uma taxa de crescimento anual de 2,7%. Neste período, a produção alimentar dobrou e a disponibilidade de alimentos por habitante aumentou 40%, parecendo que o problema da fome no mundo seria superado pelas novas descobertas (MAROUELLI, 2003, apud GASPI; LOPES,[20--?], p. 8). Mas com toda a facilidade atrelada a este aspecto, pontos negativos teriam que passar a existir enquanto externalidades desse processo de produção agrícola atrelado ao aumento da área produtiva e do uso de incremento agrícolas. Foi o que aconteceu. A combinação desses fatores (uso intensivo do solo, em tamanho e uso de fertilizantes) induziu ainda mais à extinção do pequeno produtor do campo, dada á sua incapacidade de investimento na pequena produção e na competitividade do mercado frente aos produtos da agricultura patronal produzidos em larga escala, o que acarretava no aumento do êxodo rural e da migração do trabalho do campo para a cidade, o que evidenciou no aumento da pobreza urbana e, também rural, conforme Santana (2005) citado por Gaspi e Lopes(20-?). [...] com a intensificação da produção, não haveria falta de alimentos para suprir a necessidade da população. De fato, a produção agrícola realmente cresceu vertiginosamente, mas, a euforia das grandes safras, cedeu lugar a uma série de preocupações relacionadas aos problemas socioeconômicos e ambientais provocados por este padrão produtivo (SANTANA, 2005 apud GASPI; LOPES, [20--?] p. 8). Acompanhando esse processo, concomitante com a introdução do pacote tecnológico da Revolução Verde, o campo continuava a perder a mão de obra, pois com a industrialização do campo não havia mais necessidade de muitos trabalhadores, porque o maquinário utilizado para o aumento de produção substituía a mão de obra humana-rural já que com base na ótica trazida pela Revolução Verde, os produtores buscavam alcançar a maior margem de lucro e de produção. E, devido à mecanização no campo, essa pretensão ficou cada vez mais próxima da realidade já que a inovação que foi introduzida no campo acarretou em uma significativa evolução produtiva, pois as máquinas substituíam a mão de obra, e isto reduzia o número de trabalhadores no campo. [...] Através da modernização da agricultura, os produtores buscam melhores condições de enfrentar as dificuldades impostas pela natureza no que concerne à produção e melhorar alguns fatores necessários. Assim, através de uma artificial conservação e fertilização do solo, mecanização da lavoura, seleção de sementes, dentre outros recursos, busca-se a obtenção de maior produtividade. (TEIXEIRA, 2005, p. 23). Assim, a Revolução Verde foi caracterizada como um modelo produtivista em larga escala (em contraponto á produção em regime de escopo das pequenas propriedades agrícolas), incentivando os fatores de produção a se desenvolverem na mesma proporção, com muito investimento e inovação tecnológica. Além disso, o modelo promoveu, ainda, à implementação de melhoramento genético para a produção agrícola, o que possibilita a oferta de produtos durante todo o ano (mesmo daqueles que possuem entressafras produtivas). O que além dos aspectos de trabalho no campo prejudicou, também, o meio ambiente e aumentou os problemas sanitários. Neste caso, o produtor conduzia a produção de acordo aos seus objetivos, pois ele tinha tecnologia suficiente para manipular o meio ambiente e não mais dependia somente da natureza. Com novas técnicas e equipamentos modernos, o produtor passa a depender cada vez menos da “generosidade” da natureza, adaptando-a mais facilmente de acordo com seus interesses. No entanto, por esse caminho a agricultura está cada vez mais subordinada à indústria, que dita as regras de produção. (TEIXEIRA, 2005, p, 2223). Ou seja, por mais que houvessem melhorias significativas com relação ao consumo e a produção de alimento, a Revolução Verde ajudou a proporcionar ainda mais a degradação do solo, pois a injeção de produtos químicos influenciou cada vez mais o investimento financeiro para a melhoria das terras produtivas. A degradação do meio ambiente, devido às variedades de agrotóxicos adicionados à produção, levou a observar o quão necessário era uma produção sustentável, onde não existisse extinção dos solos nem de produtores, e estes pudessem comercializar seus produtos de forma igualitária. Concomitantemente, com o surgimento da Revolução Verde, surge também o setor agroexportador para atender a incessante demanda alimentícia. Em meados de 1990, surge o paradigma da Agricultura Familiar, onde o intuito do mesmo era fortalecer as pequenas produções para que os agricultores não fossem se refugiar nas grandes cidades. Pode-se observar, assim, o quanto a modernização da agricultura proporcionou economicamente ao Brasil um aspecto de crescimento econômico, dado o aumento da capacidade de produção e á inserção da agroindústria ao contexto produtivo nacional, mas também pôde ser observado o quanto esta modernização gerou, para os grandes centros e para as pequenas propriedades, além de suas comunidades, um processo de atraso em relação ao desenvolvimento socioeconômico (no aspecto para além do econômico, mas também ambiental e social). O DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E AS PEQUENAS PROPRIEDAES AGRÍCOLAS Com uma forma de produção amplamente predatória, que poderia até reduzir a permanência da vida humana na terra, baseado na produção agrícola intensiva em capital e extensiva em espaço, o modelo produtivista passou a contar com a prática da discussão sobre sustentabilidade a partir do momento em que se desperta a consciência para com o meio ambiente. De acordo com Gaspi e Lopes ([20--?] p. 2) “desenvolvimento sustentável, nada mais é que a busca das necessidades do presente sem comprometer as necessidades das futuras gerações de desenvolver-se”. Observando-se que nem a sociedade, órgãos públicos e nem os órgãos privados, tinham analisado a real importância do meio ambiente, e que seu papel para o desenvolvimento era essencial, pois o mesmo era um fator importante para o crescimento econômico. Entretanto, devido a alguns efeitos negativos da Revolução Verde, em 1980, foi implementado um novo modelo de pensamento e prática produtivista: o desenvolvimento sustentável. Com este paradigma, a introdução de tecnologia e maquinários no meio rural não foi extinta, mas a pequena agricultura passou a ter olhares voltados para sua forma de produção, já que os pequenos produtores não utilizam de muita tecnologia para desenvolver sua produção devido à falta de capital e praticam o uso da terra de maneira mais racional (BROSE, 2000). Juntamente com o desenvolvimento sustentável, veio o interesse de solucionar os problemas mundiais sem degradar a natureza, pensando tanto no hoje como no amanhã. Buscando gerenciar de forma adequada os recursos naturais existentes na terra. Assim, este novo paradigma veio caracterizar a importância da pequena agricultura, pois boa parte das pequenas propriedades agrícolas não usufruem de grandes quantidades de produtos químicos para desenvolver as produções, porque só produzem para o sustento da família e que está baseado na falta de concorrência com as propriedades patronais, devido à baixa produtividade agrícola e menores níveis de agrotóxicos, o que faz a distinção em relação aos produtos das grandes propriedades. Ou seja: [...] a unidade camponesa é provida de mecanismos que podem promover o desenvolvimento sustentável, justamente por apresentarem uma racionalidade própria que difere da razão capitalista. O que diferencia a unidade camponesa da empresa capitalista é que a primeira acumula recursos de capital para garantir a reprodução da família, tendo este fator como a razão de existência; já a segunda supõe a centralidade no lucro como fundamento da racionalidade decisória de seus componentes. Diante disto, ao contrário dos empreendimentos que acumulam para maximizar lucro, a unidade camponesa acumula para tornar mais eficiente a reprodução familiar. (SANTOS, 2010, p. 132). Após a instalação desse novo paradigma, a Agricultura Familiar ganhou destaque, pois a mesma, além de usufruir de uma boa quantidade de mão de obra, (que pode ser o caminho para a geração de renda no campo) e, concomitantemente, melhora a economia e ajuda no desenvolvimento dos espaços menos industrializados, também está atrelada ao conceito e em busca da sustentabilidade, pois utiliza o solo e os meios de produção de uma maneira que não utiliza de maquinário em demasia, não degrada amplamente o ambiente natural e ainda, não se utilizam de melhorias genéticas para a produção. AGRICULTURA FAMILIAR NO BRASIL E SUA VANTAGEM AMBIENTAL EM RELAÇÃO À AGRICULTURA PATRONAL A pequena produção agrícola ou a agricultura familiar, como foi caracterizada após 1990, tem uma grande importância para a economia nacional, principalmente no Brasil, mas também em outras partes do mundo. Pois, além de ser uma grande absorvedora de mão de obra, é também uma incentivadora para o crescimento econômico. Além de se utilizar de recursos naturais como no adubamento do solo, incentivando a não degradação da natureza. [...] a agricultura familiar, como forma de diversificação da produção, vem se desenvolvendo em todos os pontos do mundo e tem como característica a predominância da mão-de-obra e gerenciamento por membros da família. Ao contrário da agricultura convencional, a agricultura familiar busca equilibrar o uso dos recursos naturais atuando ativamente no processo de transição para uma agricultura sustentável. (TOMASITTO, LIMA, SHIKIDA, 2009, p. 22). A produção familiar não tinha importância econômica, pois esta não conseguia competir com a produção patronal, outra observação seria que também não se analisava a renda que a mesma gerava e a quantidade de mão de obra que era demandada. Por isso, muitos não a viam desta maneira: como captadora de mão de obra ou geradora de renda. Observavam-na somente como propriedade familiar que supria apenas a necessidade da sua própria família, como agricultura campesina e não gerando produção para a utilização do excedente como meio de subsistência familiar. Segundo Abramovay e Piketty (2005) citado por Santos (2010): [...] os termos empregados até uns 10 anos atrás – pequena produção, produção de baixa renda, de subsistência, agricultura não-comercial – revelavam o tratamento dado a esse segmento social e o seu destino presumível: era encarado como importante socialmente, mas de expressão econômica marginal, e seu futuro já estava selado pelo próprio rumo do desenvolvimento capitalista, que acabaria fatalmente por suprimir tais reminiscências do passado. (ABRAMOVAY; PIKETTY, 2005, p. 57 apud SANTOS, 2010, p. 125). A partir da modernização da agricultura, muitos trabalhadores se refugiaram em grandes centros urbanos, mas muitos continuaram na zona rural. Os trabalhadores que permaneceram, observaram que não conseguiriam continuar a trabalhar em grandes propriedades (propriedades patronais) e resolveram trabalhar para si, por mais que o esforço empregado sustentasse apenas a própria família, conforme assegura Teodoro (2005). [...] a população rural deixa de migrar para cidade e tenta se manter no campo. Porém, essa população não consegue emprego na agricultura do tipo patronal, pois essa absorve muito pouco da mão-de-obra existente. Nessa direção, a agricultura familiar torna-se importante como fator de geração de renda e empregos para os pequenos agricultores que não possuem muitas oportunidades. (TEODORO, 2005,p. 5). A agricultura familiar é caracterizada pela variedade de produção, sendo a mesma autossuficiente neste aspecto; caracterizada por ter membros da mesma família trabalhando, de acordo com critérios estabelecidos teoricamente e nas praticas de politicas publicas, como o PRONAF. Dentre estes critérios, considera-se também o tamanho dos estabelecimentos de produção agrícola familiar, pois normalmente são pequenos (a especificação de uma propriedade pequena, não quer dizer que exista uma terra insignificante). [...] do ponto de vista conceitual a agricultura familiar não seja definida a partir do tamanho do estabelecimento, cuja extensão máxima é determinada pelo que a família pode explorar com base em seu próprio trabalho associado à tecnologia. (INCRA / FAO, 2000, p, 11) Mesmo a agricultura sendo caracterizada como familiar, pode haver também trabalhadores contratados, mas que não exceda o número de trabalhadores da mesma família. Segundo Schneider (2006, p, 05) “as unidades familiares funcionam, predominantemente, com base na utilização da força de trabalho dos membros da família que, por sua vez, podem contratar, em caráter temporário, outros trabalhadores”. Chamada por Sachs (2003) de economia não capitalista, e também de economia solidária, que também pode ser chamada de terceiro setor, gerando uma renda monetária muito significativa. A agricultura familiar concentra 84,4 % de todos os estabelecimentos rurais brasileiros, não em tamanho, mas em quantidade e em geração de renda. Mesmo havendo uma pequena parcela de estabelecimentos agropecuários patronais, essas representam a concentração dos espaços produtivos (IBGE, 2006): No Censo Agropecuário 2006, foram identificados 4.367.902 estabelecimentos da agricultura familiar, o que representa 84,4% dos estabelecimentos brasileiros. Este numeroso contingente de agricultores familiares ocupava uma área de 80,25 milhões de hectares, ou seja, 24,3% da área ocupada pelos estabelecimentos agropecuários brasileiros. Estes resultados mostram uma estrutura agrária ainda concentrada no País: os estabelecimentos não familiares, apesar de representarem 15,6% do total dos estabelecimentos, ocupavam 75,7% da área ocupada. A área média dos estabelecimentos familiares era de 18,37 hectares, e a dos não familiares, de 309,18 hectares. (IBGE, 2006, p, 19). Para o desenvolvimento da agricultura, foram criadas algumas políticas públicas. Logo de inicio, as ideologias de algumas dessas políticas não eram voltadas para o suprimento das produções internas, mas para a crescente produção que seria exportada, no intuito de suprir as crescentes demandas alimentícias. Mas, hoje em dia essas políticas são segmentas pelo tipo de produção agrícola, e no caso da agricultura familiar, o Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA) possui como principal intuito a geração de emprego e renda no campo, além da preservação ambiental. Hoje no Brasil, a grande maioria das propriedades agrícolas é de agricultura familiar, mas as maiores em tamanhos são os estabelecimentos não familiares, os patronais. Observa-se que as grandes propriedades são intensivas em investimento em capital e de baixa absorção de trabalho, e nas pequenas propriedades ocorre o inverso (o que determina a lógica da sua sustentabilidade econômica). Observa-se que no país, boa parte da agricultura comercial, baseada na produção de commodities agrícolas são oriundas de grandes propriedades, onde se produz apenas um tipo de cultura (a monocultura e agricultura da escala) e tem-se um número ínfimo de trabalhadores, pois tem capital para ser investido tecnologia, o que faz melhorar o processo de produção. Já nas pequenas propriedades, onde se planta em variedade (policulturas ou economias de escopo) e em pequena quantidade, a mão de obra é indispensável, pois não existe capital suficiente para que possam ser atribuídos equipamentos que adiantem os processos de produção, e são responsáveis, em grande parte pela geração de alimento para a população. Neste contexto, pode-se observar a não concorrência entre essas propriedades, pois as de tamanho maior tem tecnologia investida, fazendo com que seu produto seja exportável (já existindo com este intuito), pois produz em grande escala, elevando o crescimento da produtividade e estagnando as pequenas propriedades, já que os produtos com maior nível de tecnologia e menor mão-de-obra costuma ter preços mais accessíveis. Neste caso, Silva (1995), citado por Gasques e Conceição (1997, p. 7), menciona que, “uma possível explicação para essa diferenciação do crescimento seria que os exportáveis teriam incorporado de forma mais intensa a disponibilidade de tecnologia". Contudo, a agricultura familiar é uma forma não só de capitalizar a mão-de-obra, mas é também uma influenciadora do crescimento econômico e possivelmente de um desenvolvimento socioeconômico, pois a mesma produz para saciar as necessidades do mercado interno brasileiro. Segundo do Censo Agrícola do IBGE (2006, p, 26) “[...] a agricultura familiar é responsável por garantir boa parte da segurança alimentar do País, como importante fornecedora de alimentos para o mercado interno”. As grandes propriedades, ou propriedades patronais são cada vez mais uma forma de incorporação da pouca mão de obra existente em seu meio e também mais exigente com a seleção desses poucos trabalhadores, pois apesar da existência de um pequeno número de trabalhadores, há uma necessidade de estes serem especializados, o que amplia ainda mais a necessidade de mecanismo que venham a manter o trabalhador no campo. Assim, o crescente desenvolvimento de agricultura familiar gera também um desenvolvimento local, o que incentiva cada vez mais um aumento destas produções, pois as cidades e metrópoles não têm condições de absorver toda a mão de obra que o campo expulsou após a sua modernização. Segundo Teodoro (2005): Tendo em vista que as cidades não mais absorvem toda massa que abandona o campo e que o sistema de grandes propriedades rurais não gera empregos suficientes para absorver a mão-de-obra rural, é importante o incentivo a agricultura familiar. (TEODORO, 2005, p, 09) Diante de um cenário tão dualizado entre agricultura do setor familiar e agricultura do setor agroexportador, os governantes brasileiros decidiram criar um ministério para que pudesse dar mais assistência ao setor familiar, o Ministério de Desenvolvimento Agrário (MDA). “desde a metade dos anos 90; o governo brasileiro optou pelo desenvolvimento de uma politica dual. De um lado, o Ministério da Agricultura tem objetivo principal manter a competitividade do setor comercial da atividade, notadamente das empresas. O apoio ao setor empresarial, principalmente daquele voltado para as exportações [...] De outro lado, o Ministério do Desenvolvimento Agrário, a partir de 1993, tornando-se oficialmente encarregado pela promoção da reforma agraria e do desenvolvimento da agricultura familiar”. (TONNEAU; TEIXEIRA, 2003, p, 296). Com a assistência do Ministério do Desenvolvimento Agrário para com as pequenas propriedades, o campo ganhou um novo diferencial social, pois não degrada o solo, sendo ambientalmente correto, além de ser um grande de captador de mão de obra. De acordo com os dados apresentados, pode-se observar o quão degradante foi a Revolução Verde, e como importante e necessário o Desenvolvimento Sustentável mostrouse, tanto para a redução da poluição no solo como em redução da quantidade de agrotóxicos que o ser humano ingere na alimentação. A Agricultura Familiar demostrou ser relevante para a economia brasileira, pois, além de gerar emprego e renda, não degrada o meio ambiente como a agricultura patronal. Um fator importante do qual se pode expor é a captação de mão de obra que a Agricultura Familiar tem de diferencial para com outro tipo de agricultura produtivista, pois além de não elevar os índices de migração do campo para a cidade, ainda capita a mão de obra familiar, e se necessário, a mão de obra de terceiros. Por fim, ressalta-se também, que a pequena agricultura possui práticas ambientalmente mais benéficas, pois nos dias atuais as técnicas ecológicas são essenciais para o desenvolvimento saudável de uma sociedade. CONSIDERAÇÕES FINAIS A Revolução Verde surgiu para caracterizar um processo em que todos tivessem acesso à alimentação, mas não ocorreu um êxito total, e fez-se com que aumentasse a desigualdade social. Nesse sentido, outro ponto sem muito êxito, foi que esse paradigma tentou solucionar um problema, e com isso, acarretou em outro: com a quantidade de insumos químicos adicionados ao solo (para o aumento da produtividade), o mesmo degradava-se, e quando houvesse uma nova plantação tinha que adicionar uma quantidade ainda maior de agrotóxicos para que o solo produzisse a mesma quantidade ou uma quantidade ainda maior. Por mais que a questão alimentícia houvesse amenizado, a questão ambiental foi sendo agravada de maneira a mobilizar a todos. Com esses efeitos negativos produzidos pela Revolução Verde, em 1980, foi colocado em prática no Brasil um novo modelo de discussão e de lógica produtiva, o de desenvolvimento sustentável. Com ele, o pequeno produtor ganhou destaque devido à maneira positiva que usufrui da terra e ao modo como demanda mão de obra. A pequena produção, caracterizada como Agricultura Familiar a partir da década de 1990, tem uma grande importância para a economia nacional. Além de captadora de mão de obra, ela reduz o êxodo rural e fixa o produtor no campo. Já a propriedade patronal, tem uma lógica totalmente oposta, pois com a redução da mão de obra absorvida no trabalho para a inserção de maquinários, detém uma produção totalmente especializada, o que se caracteriza por numa atividade concentradora de capital, renda e riquezas. A agricultura familiar tem, nesse sentido, uma real importância local, regional, e nacional. Para que haja uma maior repercussão da mesma, o Estado passou a criar algumas políticas que auxiliem esses produtores e ajudem na melhoria da produção, para tal, existe uma principal política no âmbito nacional, que é o PRONAF. Ele subsidia os agricultores em suas produções e auxilia-os no campo em forma de assistência técnica. Assim, a produção agrícola baseada na pequena propriedade rural, tem elevado de maneira positiva, a forma de distribuição de alimentos e também o nível de empregabilidade, gerando níveis de renda maiores e provocando a inserção do pequeno produtor no mercado nacional, além de ser ambientalmente mais correta do que outras formas de produção e mais justa socialmente, o que determina um processo de desenvolvimento socioeconômico, ambiental e sustentável. REFERÊNCIAS BROSE, Markus. Fortalecendo a democracia e o desenvolvimento local: 103 experiências inovadoras no meio rural gaúcho. Santa Cruz do Sul-RS: EDUNISC, 2000. GASPI, Suelen de; LOPES, Janete Leige. Desenvolvimento Sustentável e Revolução Verde: uma aplicação empírica dos recursos naturais para o crescimento econômico das mesorregiões do Paraná. Disponível em : < http://www.atuallys.com.br/wpcontent/uploads/2012/03/Apostila-Atualidades-2012-Parte-3.pdf> Acesso em: 05 out. 2011. 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