AGRICULTURA FAMILIAR NO ENFRENTAMENTO DA POBREZA: um estudo no município de Riachão do Dantas-SE Daniele Ferreira Dias Macedo1 Valéria Souza Lopes de Almeida2 Soane Maria Santos Menezes Trindade Silva 3 RESUMO Este texto analisa a agricultura familiar como forma de enfrentamento da pobreza no município de Riachão do Dantas. Apresenta um perfil dos produtores associados da Associação de Desenvolvimento Comunitário do Povoado Tanque Novo e estuda a relação existente entre a agricultura familiar e êxodo rural e as políticas públicas voltadas para o fortalecimento dessa. Trata-se de um estudo de caso exploratório, qualitativo, fundamentado no materialismo histórico dialético que demonstra os encontros e os desencontros desta política pública voltada para o enfrentamento da pobreza no campo. Palavras-Chave: Agricultura Pobreza.Riachão do Dantas. Familiar. Política Pública de Enfrentamento da ABSTRACT This text examines the family farm as a way of fighting poverty in the municipality of RiachãoDantas. Presents a profile of the associated producers of Associação de DesenvolvimentoComunitário do PovoadoTanque Novo and studies the relationship between family farms and rural exodus and public policies aimed at strengthening this. This is a case study exploratory, based on historical materialism dialectic that demonstrates the encounters and misunderstandings of this public policy focused on fighting poverty in the countryside. Keywords: Family Farming. Public Policy Coping Poverty. Riachão do Dantas INTRODUÇÃO A questão do trabalho na agricultura familiar tem sido analisada em instâncias diferentes das relações interpessoais, uma vez que a história agrícola no Brasil 1 Assistente Social Graduada pela Faculdade José Augusto Vieira (FJAV), e-mail: [email protected]. 2 Assistente Social Graduada pela Faculdade José Augusto Vieira (FJAV), email: [email protected]. 3 Assistente Social e Docente do Curso Bacharelado em Serviço Social da Faculdade José Augusto Vieira (FJAV), email: [email protected]. 457 sempre esteve ligada à história do processo de colonização, no qual a dominação social, política e econômica das grandes propriedades foram privilegiadas. Assim, a grande propriedade recebeu estímulos expressos na política agrícola que procurou modernizar e assegurar sua reprodução, enquanto a agricultura familiar sempre ocupou um lugar secundário e subalterno na sociedade brasileira (WANDERLEY, apud BALSAN, 2006). Essa pesquisa teve como objetivo geral analisar a agricultura familiar como forma de enfrentamento da pobreza no município de Riachão do Dantas/SE, pois, podemos observar que mesmo com o desenvolver do Estado com políticas públicas voltadas para o enfrentamento da pobreza na agricultura e com a crescente queda da miserabilidade, a desigualdade ainda é um fator visível que deprecia o meio rural. Buscou-se identificar o perfil dos produtores da agricultura familiar; analisar a relação existente entre a agricultura familiar e o êxodo rural e identificar as políticas públicas para o fortalecimento da agricultura familiar. A pesquisa foi realizada junto aos agricultores familiares associados da Associação de Desenvolvimento Comunitário do Povoado Tanque Novo no município de Riachão do Dantas/SE, composta por 123 associados, com apenas 64 associados participativos, dos quais foi entrevistada uma amostra de 05 agricultores. A opção metodológica recaiu na abordagem qualitativa, por considerarmos a necessidade de um conjunto de técnicas interpretativas para expressar o sentido dos fenômenos sociais e a compreensão dos significados das ações e relações humanas. Seu delineamento contempla os agricultores familiares que foram abordados mediante entrevistas semiestruturada, ao lado da permanente revisão da literatura centrada no marco teórico da pesquisa. A pobreza se intensificou pela distribuição desigual da terra e de outros bens, com a manutenção e reforço da estrutura agrária concentrada. Particularmente, o Brasil como um país colonizado desenvolveu uma expansão agrícola “hierarquizada”, na medida em que grandes produtores passaram a possuir grandes quantidades de terras e aos pequenos produtores restaram apenas a “subsistência”. Essa realidade vem se modificando a cada década nas regiões brasileiras, devido à intervenção das políticas públicas de estado e de governo, principalmente, no Nordeste. Neste sentido, Estados como o de Sergipe tem sido beneficiado implementando mudanças na realidade de pequenos produtores, inclusive na dos de Riachão do Dantas/SE, lócus do estudo, como 458 459 veiculo de redistribuição de renda, enfrentamento das assimetrias sociais e promoção da igualdade e da cidadania. Trata-se de uma pesquisa relevante uma vez que possibilita um entendimento a respeito da agricultura familiar como forma de enfrentamento da pobreza que ainda é expressiva no município. AGRICULTURA FAMILIAR: conceitualização Antes mesmo de qualquer outra consideração se faz indispensável apresentar um conceito de agricultura familiar. Segundo Martins (2003, p. 161), a “agricultura familiar é uma instituição de reprodução da família cujo núcleo está na relação direta com a terra e com a produção agrícola”. Entretanto, na análise do autor, ela não constitui apenas uma economia reduzida ao agrícola tão pouco limitada ao rural, pois a suposição de uma população do campo confinada nos limites rurais tem sido questionada na comunidade científica. O conceito de agricultura familiar não deve limitar-se a dimensão econômica, excluindo da análise o caráter social e moral inerentes a ela, contido na organização patriarcal familiar rural, mesmo quando se expande e se dissemina na cidade. Então, entende-se por agricultura familiar a relação de uma família com o seu objeto de trabalho, cujo qual, está associado a terra. Nessa relação os agricultores produzem seus meios de subsistência e isso pode ser caracterizado como uma herança, proveniente de gerações anteriores (MARTINS, 2002). “Essas estruturas e esses valores têm funções sociais auto protetoras em face de uma sociedade que desenraiza e exclui” (MARTINS, 2002, p. 162). Baumam (2005), também se refere a essa sociedade atual, a qual denominou de “modernidade líquida”; ambiente onde as identidades e instituições estão em ligeiras transformações. Segundo a definição da FAO/INCRA (2000), a agricultura familiar é baseada em três características: a gerência da propriedade rural é feita pela própria familiar, o trabalho é desempenhado na sua maior parte pela família e os fatores de produção pertencem à família (exceção, às vezes, a terra) e são passíveis de sucessão em caso de falecimento. Para Bittencourt e Bianchini (1996) apud Santos e Gois (2011), agricultor familiar é todo aquele que tem na agricultura sua principal fonte de renda cuja base da força de trabalho utilizada no estabelecimento é desenvolvida por membros da família. 459 460 No Brasil, a agricultura familiar foi assim definida pela Lei nº 11.326, de 24 de julho de 2006, em seu Art. 3°, o qual destaca as seguintes definições para o agricultor familiar: “para os efeitos desta Lei considera-se agricultor familiar e empreendedor familiar rural aquele que pratica atividades no meio rural, atendendo, simultaneamente, aos seguintes requisitos”: I - não detenha, a qualquer título, área maior do que 4 (quatro) módulos fiscais; II - utilize predominantemente mão de obra da própria família nas atividades econômicas do seu estabelecimento ou empreendimento; III - tenha renda familiar predominantemente originada de atividades econômicas vinculadas ao próprio estabelecimento ou empreendimento; IV - dirija seu estabelecimento ou empreendimento com sua família; § 1º O disposto no inciso I do caput deste artigo não se aplica quando se tratar de condomínio rural ou outras formas coletivas de propriedade, desde que a fração ideal por proprietário não ultrapasse 4 (quatro)módulos fiscais. §2º São também beneficiários desta Lei: I - silvicultores que atendam simultaneamente a todos os requisitos de que trata o caput deste artigo, cultivem florestas nativas ou exóticas e que promovam o manejo sustentável daqueles ambientes; II – agricultores que atendam simultaneamente a todos os requisitos de que trata o caput deste artigo e explorem reservatórios hídricos com superfície total de até 2ha (dois hectares) ou ocupem até 500m³ (quinhentos metros cúbicos) de água, quando a exploração se efetivar em tanques-rede; III - extrativistas que atendam simultaneamente aos requisitos previstos nos incisos II, III e IV do caput deste artigo e exerçam essa atividade artesanalmente no meio rural, excluídos os garimpeiros e faiscadores; V - pescadores que atendam simultaneamente aos requisitos previstos nos incisos I, II, III e IV do caput deste artigo e exerçam a atividade pesqueira artesanalmente. Pesquisas confirmam que cerca de 60% dos alimentos consumidos pela população brasileira são produzidos por agricultores familiares (IBGE, 2006). A agricultura familiar é responsável pela produção de 87% da produção nacional de mandioca, 70% da produção de feijão, 46% do milho, 38% do café, 34% do arroz, 21% do trigo e, na pecuária, 58% do leite, 59% do plantel de suínos, 50% das aves e 30% dos bovinos. Segundo dados do Censo Agropecuário de 2006, 84,4% do total de propriedades rurais do país pertencem a grupos familiares. 460 461 São aproximadamente 4,4 milhões de unidades produtivas, sendo que a metade delas está na região Nordeste. Esses estabelecimentos representavam 84,4% do total, mas ocupavam apenas 24,3% (ou 80,25 milhões de hectares) da área dos estabelecimentos agropecuários brasileiros. Já os estabelecimentos não familiares representavam 15,6% do total e ocupavam 75,7% da sua área (IBGE, 2006). Destacam a agricultura familiar como uma categoria socioeconômica. É por isso que muitos pesquisadores são obrigados a defini-la a partir do porte. Foi o que fez um projeto conjunto do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (INCRA) e a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), iniciado em 1995, baseado nos micro dados do IBGE. De acordo com o projeto, considerou-se estabelecimento integrante da agricultura familiar aquele dirigido pelo próprio produtor rural e que utiliza mais a mão de obra familiar que a contratada, de grande relevância para o desenvolvimento econômico e social do país. AGRICULTURA FAMILIAR E ÊXODO RURAL Na segunda metade do século XX, o Brasil tornou-se um país urbano, ou seja, mais de 50% de sua população passou a residir nas cidades. A partir da década de 1950, o processo de urbanização no Brasil tornou-se cada vez mais acelerado. Isso se deve, sobretudo, a intensificação do processo de industrialização brasileiro ocorrido a partir de 1956, sendo esta a principal consequência entre uma série de outras, da "política desenvolvimentista" de Juscelino Kubitschek (MIRANDA, 2011). Sobre o processo de desenvolvimento das grandes cidades Miranda (2011) salienta: Os processos de industrialização e de urbanização brasileiros estão intimamente ligados, pois as unidades fabris eram instaladas em locais onde houvesse infra-estrutura, oferta de mão-de-obra e mercado consumidor. No momento que os investimentos no setor agrícola, especialmente no setor cafeeiro, deixavam de ser rentáveis, além das dificuldades de importação ocasionadas pela Primeira Guerra Mundial e pela Segunda, passou-se a empregar mais investimentos no setor industrial. 461 462 O processo de urbanização brasileiro apoiou-se essencialmente no êxodo rural. A migração rural-urbana tem múltiplas causas, sendo as principais a perda de trabalho no setor agropecuário em consequência da modernização técnica do trabalho rural, com a substituição do homem pela máquina e concentração da estrutura fundiária, resultando numa carência de terras para a maioria dos trabalhadores rurais (SOUZA, 2005). Assim, destituídos dos meios de sobrevivência na zona rural, os migrantes dirigem-se às cidades em busca de empregos, salários e, acima de tudo, melhores condições de vida. Em 1970 os dados do IBGE registram o maior índice de habitantes rurais do Brasil, com 41 milhões de pessoas, correspondendo 44% da população total. A partir de então, tem ocorrido um declínio populacional constante no meio rural, sendo que em 1996 o seu número de habitantes chegou a um total de 33,8 milhões, equivalendo a 22% do total da população brasileira.O setor urbano-industrial brasileiro foi incapaz de gerar, na quantidade e na velocidade necessárias, os empregos para absorver todo esse contingente deslocado pelo êxodo rural. Expulsos do campo, esse homem e sua família foram constituir os batalhões de mal-empregados, subempregados e desempregados das periferias das grandes cidades brasileiras, compondo o dramático quadro social, marcado por profundas desigualdades que perduram até hoje (SOUZA, 2005). As condições econômicas, sociais e políticas brasileiras indicam disparidades entre as diferentes classes sociais marginaliza diretamente as classes menos favorecidas, como os agricultores com baixo poder aquisitivo, pequenos proprietários e agricultores familiares com área restrita. A modernização da agricultura brasileira tendeu a favorecer o aumento da participação relativa das camadas mais ricas na apropriação da renda total (SILVA, 2000 apud BALSAN, 2006). A modernização do campo, a partir da década de 70 foi idealizada pelos grandes produtores brasileiros, favoreceu os interesses dos grandes agricultores e das empresas multinacionais (indústrias de insumos agrícolas, de maquinários, etc.), provocando grande exclusão dos pequenos produtores (SILVA, 2001). O êxodo rural está basicamente ligado a expansão das grandes propriedades de terras, o avanço da tecnologia com maquinários potentes, capazes de substituírem vários trabalhadores, e os produtos químicos cada vez mais eficazes. Todo esse processo, na agricultura, afeta uma grande parte da população que sobrevive da agricultura provocando o êxodo rural. 462 463 A POBREZA NO BRASIL Historicamente, as enormes desigualdades sociais, econômicas e culturais expressam uma das características mais marcantes do país. Em anos recentes, percebese um crescimento da consciência da sociedade e do governo quanto à necessidade de se reverter essa condição, criando-se mecanismos de participação e controle social, programas, projetos e ações que indiquem um movimento de transformações positivas (CAZELLA; BÚRIGO, 2011). Apesar de possuir grande número de pessoas pobres, o Brasil não é um país pobre, mas tem que superar um quadro alarmante de injustiça social e desigualdade. As desigualdades sociais estão presentes em todo o país, o que se reflete em uma posição intermediária ocupada pelo Brasil no ranking de países no Índice de Desenvolvimento Humano (IDH). Isso significa que ainda há muitas dificuldades a serem superadas nas áreas de educação, assistência social, saúde, distribuição de renda e emprego (MONTEIRO, 1994). A pobreza, no Brasil, medida pela insuficiência de renda, assume proporções enormes e dissemina-se por todas as regiões e áreas do país, castigando em particular as populações rurais e urbanas da região Nordeste e as populações rurais das demais regiões brasileiras (MONTEIRO, 1994). A evolução da pobreza e da indigência no Brasil entre 1977 e 1998 pode ser reconstruída a partir da análise das Pesquisas Nacionais por Amostragem de Domicílios (PNADs) realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Estas pesquisas domiciliares anuais permitem construir uma diversidade de indicadores sociais que retratam, entre outros, a evolução da estrutura da distribuição dos padrões de vida e da apropriação de renda dos indivíduos e das famílias brasileiras (BARROS; HENRIQUES; MENDONÇA, 2000). Os resultados das PNADS (2006) revelam que, em 1998, cerca de 14% da população brasileira vivia em famílias com renda inferior à linha de indigência e 33% em famílias com renda inferior à linha de pobreza. Deste modo, cerca de 21 milhões de brasileiros podem ser classificados como indigentes e 50 milhões como pobres. A pobreza no país registrou queda desde 2006 e atingiu o nível mais baixo dos últimos 15 anos, segundo estudos divulgados que também mostram uma redução da desigualdade social. As análises dos estudos revelam um aumento da renda dos cidadãos em anos eleitorais – embora volte a cair no ano seguinte -, além do impacto positivo que as 463 464 políticas sociais têm na diminuição da pobreza (BARROS, HENRIQUES; MENDONÇA, 2000). Segundo o Centro de Políticas Sociais da Fundação Getúlio Vargas (FGV), o país passa “por um momento histórico” em termos de redução da pobreza, que no ano passado diminuiu em seis milhões o número de pessoas que vivem em situação de extrema pobreza no Brasil. No entanto, ainda há 36,2 milhões de brasileiros vivendo com até R$125,00 (cento e vinte e cinco reais) por mês, valor que estabelece a linha de pobreza segundo a classificação da Fundação Getúlio Vargas (FGV). A medição da Fundação é mais exigente que a fixada pelos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio da Organização das Nações Unidas. A ONU considera que as pessoas que vivem com até R$ 47 estão abaixo da linha de pobreza (FILHO, 2000). A porcentagem de brasileiros que viviam em extrema pobreza era de 19,31% em 2006, em 1993, ano anterior ao Plano Real, era de 35,31%, nos últimos 15 anos houve dois períodos de forte queda do nível de pobreza extrema. O primeiro entre 1993 e 1995, durante parte do mandato do então presidente Fernando Henrique Cardoso, o segundo foi entre 2003 e 2006, no primeiro Governo Lula. Entre os dois períodos, o nível de pobreza se manteve estagnado em aproximadamente 28%. Denotando-se que houve uma diminuição da taxa de pobreza extrema em anos eleitorais. E nos seguintes costuma ocorrer um aumento nos números (SANTOS 2001). A POBREZA NO MEIO RURAL Em relatório elaborado pelo Ministério do Desenvolvimento Social (2005) foi constatado que é maior a quedada extrema pobreza na área rural (20,6% para 10,9%) do que na zona urbana (4,5% para 3%). “A maior redução no campo decorre dos benefícios da previdência rural, dos programas de transferência de renda, especialmente o Bolsa Família, e do crédito agrícola”, resume o estudo. “Mas ainda há um longo caminho a ser percorrido até que essas desigualdades sejam eliminadas”, aponta o documento, ao informar que no campo a extrema pobreza é três vezes maior que na cidade. A redução da desigualdade também é destacada na publicação de 1995 a 2005, o coeficiente de Gini4 baixou de 0,599 para 0,566 (quanto mais próximo de 0 menor é a 4 Essa é a denominação utilizada pelo IBGE para designar os arquivos contendo os dados individualizados de cada estabelecimento agropecuário. 464 465 desigualdade). O documento enfoca ainda que a renda cresceu mais entre os mais pobres. O rendimento dos 10% mais pobres aumentou 9,2% e no grupo dos 10% mais ricos, houve queda de 0,4%, de 2001 a 2005. Neste período, o crescimento médio da renda foi de 0,8% (MINISTÉRIO DO DESENVOLVIMENTO SOCIAL). O governo federal estima que 47% do público-alvo do Plano Brasil Sem Miséria, lançado no início de junho de 2011, residem no meio rural. Isso significa que, dos 16,2 milhões de indivíduos que vivem com renda de até R$70,00 por pessoa, 7,6 milhões são rurais. Dentre as diversas ações previstas no plano para esse segmento destacam-se as metas de quadruplicar o número de beneficiados do Programa de Aquisição de Alimentos (PAA), passando dos atuais 66 mil para 255 mil agricultores familiares até 2014, e criar a Bolsa Verde. Esta última medida prevê pagamentos trimestrais de R$ 300,00 por família que preserve o meio ambiente nos seus locais de moradia e de trabalho (MINISTÉRIO DESENVOLVIMENTO AGRÁRIO, 2006). Os dados do último Censo Agropecuário (2006) revelaram a existência de cerca de dois milhões e seiscentos mil estabelecimentos rurais que se enquadram na linha B do Pronaf. O contingente potencial do Pronaf B representa, portanto, 64% do universo de agricultores familiares identificados pelo censo. Em 2006, o Pronaf completou uma década de existência e atingiu o número recorde de aproximadamente 1,9 milhão de contratos, dos quais somente cerca de 600 mil correspondiam à linha B. Portanto, pouco mais de dois milhões de agricultores familiares pobres continuam sem ter acesso à principal política pública de desenvolvimento rural do país. A partir de 2006, os contratos do Pronaf caíram sistematicamente e os relativos ao Pronaf B seguiram essa mesma tendência, atingindo 311 mil contratos em 2009. Apesar dos avanços que o Pronaf representou no seio do Sistema Nacional de Crédito Rural, essa política de financiamento rural tende a se estagnar caso não ocorram inovações no que se refere, sobretudo, à ampliação do atendimento para um maior número de unidades agrícolas familiares. Para que isso ocorra, o Programa precisa integrar as demandas de microcrédito da parcela da agricultura familiar que apresenta dificuldades de inserção nos mercados. Nesse sentido seria inovador associar contratos de Pronaf B com a ampliação do PAA, potencializando “a inclusão produtiva e a geração de renda” prevista no Plano Brasil Sem Miséria (CAZELLA; BÚRIGO, 2011). Com o desenvolvimento de políticas públicas pelo Estado para o enfrentamento da pobreza no 465 466 meio o índice de miséria vem caindo, mas a desigualdades ainda é um fator visível que deprecia o meio rural. A QUESTÃO AGRÁRIA A reforma agrária brasileira, ao longo do tempo, foi executada mais como instrumento de redução de tensões sociais do que como parte de uma estratégia global de desenvolvimento socioeconômico. Hoje, existe um consenso de que uma política de desenvolvimento rural deve integrar a reforma agrária, o fortalecimento da pequena propriedade e da agricultura familiar, assim como a geração de mais e melhores postos de trabalho e renda no campo (PLANALTO DO GOVERNO, 2001). Pode-se definir reforma agrária como um sistema no qual ocorre a divisão de terras, ou seja, propriedades particulares são compradas pelo governo a fim de lotear e distribuir para famílias que não possuem terras para plantar (MARTINS, 2002). Dentro deste sistema, as famílias que recebem os lotes, ganham também condições para desenvolver o cultivo: sementes, implantação de irrigação e eletrificação, financiamentos, infraestrutura, assistência social e consulta técnica. Na Primeira República ou República Velha (1889-1930), grandes áreas foram incorporadas ao processo produtivo e os imigrantes europeus e japoneses passaram a desempenhar um papel relevante. O número de propriedades e de proprietários aumentou, em relação às décadas anteriores, mas, em sua essência, a estrutura fundiária manteve-se inalterada. A revolução de 1930, que derrubou a oligarquia cafeeira, deu um grande impulso ao processo de industrialização, reconheceu direitos legais aos trabalhadores urbanos e atribuiu ao Estado o papel principal no processo econômico, mas não interveio na ordem agrária. Com o fim da Segunda Guerra Mundial, em 1945, o Brasil redemocratizou-se e prosseguiu seu processo de transformação com industrialização e urbanização aceleradas. A questão agrária começou, então, a ser discutida com ênfase e tida como um obstáculo ao desenvolvimento do país. Dezenas de projetos-de-lei de reforma agrária foram apresentados ao Congresso Nacional. Nenhum foi aprovado (PLANALTO DO GOVERNO, 2001). No final dos anos 50 e início dos 60, os debates ampliaram-se com a participação popular. As chamadas reformas de base (agrária, urbana, bancária e universitária) eram 466 467 consideradas essenciais pelo governo, para o desenvolvimento econômico e social do país. Entre todas, foi à reforma agrária que polarizou as atenções. Em 1962, foi criada a Superintendência de Política Agrária (SUPRA), com a atribuição de executar a reforma agrária. Em março de 1963, foi aprovado o Estatuto do Trabalhador Rural, regulando as relações de trabalho no campo, que até então estivera à margem da legislação trabalhista. Um ano depois, em 13 de março de 1964, o presidente da República assinou decreto prevendo a desapropriação, para fins de reforma agrária, das terras localizadas numa faixa de dez quilômetros ao longo das rodovias, ferrovias e açudes construídos pela União. A partir de 1970, como substitutivos da reforma agrária, o governo Federal lançou vários programas especiais de desenvolvimento regional (DELGADO 1985). Balsan (2006) afirma que a década de 80 registrou um grande avanço nos movimentos sociais organizados em defesa da reforma agrária e uma significativa ampliação e fortalecimento dos órgãos estaduais encarregados de tratar dos assuntos fundiários. Quase todos os estados da federação contavam com este tipo de instituição e, em seu conjunto, ações estaduais conseguiram beneficiar um número de famílias muito próximo daquele atingido pelo Governo Federal. No governo de Fernando Collor (1990-1992), o programa de assentamentos foi paralisado, cabendo registrar que, nesse período, não houve nenhuma desapropriação de terra por interesse social para fins de reforma agrária. O governo de Itamar Franco (19921994) retomou os projetos de reforma agrária. Foi aprovado um programa emergencial para o assentamento de 80 mil famílias, mas só foi possível atender 23 mil (ARAUJO; SANTOS, 2010). No final de 1994 o total de famílias beneficiadas pelo Governo Federal e pelos órgãos estaduais de terra em projetos de reforma agrária e de colonização foi da ordem de 300 mil, estimativa sujeita a correções, dada a diversidade de critérios e a falta de recenseamento no período 1964-1994 (INCRA; IBGE, 1995). Apesar dos avanços, frutos da luta do trabalhador rural persistem obstáculos burocráticos, jurídicos, econômicos e políticos, inclusive constitucionais, à efetivação da reforma agrária (TEIXEIRA, 2002). O Estatuto da Terra Lei n.º 4.504/1964, que é o Código Agrário Brasileiro, adotando o método liberal e democrático de solução da matéria no seu art. 1º, § 1º,considera como reforma agrária “o conjunto de medidas que visem a promover a melhor distribuição da terra, mediante modificações no regime de sua posse e uso, a fim de atender aos 467 468 princípios de justiça social e ao aumento de produtividade”. Não se deve confundir reforma agrária com política fundiária, entendida esta como um conjunto de providências de amparo à propriedade da terra que se destinem a orientar, no interesse da economia rural, as atividades agropecuárias, seja no sentido de garantir-lhes o pleno emprego, seja no de harmonizá-las com o processo de industrialização e desenvolvimento do país. A Lei. 8.629/1993 regulamenta e disciplina as disposições relativas à reforma agrária, previstas no Capítulo III, Título VII, da Constituição Federal de 1988 nos arts. 184 a 191. A Constituição Brasileira de 1988 apresenta-se progressista no plano agrário, porém com traços conservadores devido à herança cultural privada do país. Os institutos básicos de direito agrário (o direito de propriedade e a posse da terra rural) são disciplinados e o direito de propriedade é garantido como direito fundamental previsto no art. 5º, XXII, da atual Lei Magna (FILHO, 2000). O decreto que declarar o imóvel rural como de interesse social, para efeito de reforma agrária, autoriza a União a propor a ação de desapropriação. As operações de transferência de imóveis desapropriados para fins de reforma agrária bem como a transferência ao beneficiário do programa serão isentas de impostos federais, estaduais e municipais (art. 26, Lei n. 8.629/93). Os beneficiários da distribuição de imóveis rurais pela reforma agrária receberão o título de propriedade ou de concessão de uso, que são inegociáveis pelo prazo de 10 anos, podendo tais títulos serem objeto de conferência ao homem ou a mulher. O orçamento da União fixará, anualmente (Plano Plurianual), o volume de títulos de dívida agrária e dos recursos destinados, no exercício, ao atendimento do Programa de Reforma Agrária; devendo constar estes recursos do orçamento do ministério responsável por sua implementação e do órgão executor da política de colonização e reforma agrária (INCRA, 2000). POLÍTICA DE INCENTIVO A AGRICULTURA FAMILIAR Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (PRONAF) Diante do desenvolvimento da agricultura no país, o Governo destina políticas voltadas para o incentivo da agricultura. Teixeira (2002) destaca que políticas públicas são diretrizes, princípios norteadores de ação do poder público; regras e procedimentos 468 469 para as relações entre poder público e a sociedade, mediações entre atores da sociedade e do Estado. São, nesse caso, políticas explicitadas, sistematizadas ou formuladas em documentos (leis, programas, linhas de financiamentos) que orientam ações que normalmente envolvem aplicações de recursos públicos (TEIXEIRA, 2002). A primeira política pública de incentivo ao agricultor familiar foi o Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (PRONAF). Ele destinava-se ao apoio financeiro das atividades agropecuárias e não agropecuárias exploradas mediante emprego direto da força de trabalho do produtor rural e de sua família. Entende-se por atividades não agropecuárias os serviços relacionados com turismo rural, produção artesanal, agronegócio familiar e outras prestações de serviços no meio rural, que sejam compatíveis com a natureza da exploração rural e com o melhor emprego da mão de obra familiar (MINISTÉRIO DO DESENVOLVIMENTO AGRÁRIO, 2006). Através do Plano Safra o Estado disponibiliza R$ 16 bilhões para o Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (PRONAF), o que representa um aumento de quase três vezes em relação aos R$ 5,4 bilhões da safra 2003/04. Ao mesmo tempo em que à oferta de recursos, evidencia-se um movimento de redução das taxas de juros, aumento dos limites máximos financiados por grupos e linhas do PRONAF, e ampliação da renda para enquadramento dos agricultores no programa. (MINISTÉRIO DO DESENVOLVIMENTO AGRÁRIO, 2006).De acordo com o Ministério do Desenvolvimento Agrário foram criadas várias linhas de financiamento do PRONAF a partir de 2003, entre as quais: Mulher, Jovem, Agroindústria, Agroecologia, Semiárido, Floresta, Eco, Turismo Rural, Pesca e Mais Alimentos. A execução do Pronaf é descentralizada: o programa é aplicado pelo município, por meio de parceria entre os governos federal, estaduais, prefeituras e representantes dos produtores organizados em comissões estaduais e municipais de emprego, tripartites e paritárias. Compete às comissões o acompanhamento dos projetos financiados (MINISTÉRIO DODESENVOLVIMENTO AGRÁRIO, 2006). De acordo o Ministério do Desenvolvimento Agrário (2006) para serem beneficiários do Pronaf, as pessoas que compõem as unidades familiares de produção rural tem que comprovar o seu enquadramento no programa, mediante apresentação da Declaração de Aptidão ao Programa (DAP), em um dos seguintes grupos:Grupo "A":agricultores familiares assentados pelo Programa Nacional de Reforma Agrária (PNRA) ou beneficiários do Programa Nacional de Crédito Fundiário (PNCF);Grupo 469 470 "B":agricultores familiares que atendam cumulativamente as seguintes condições: explorem parcela de terra na condição de proprietário, posseiro, arrendatário ou parceiro; residam na propriedade ou em local próximo; Grupo "A/C":agricultores familiares assentados pelo PNRA ou beneficiários do PNCF que: apresentem DAP para o Grupo "A/C", fornecida pelo Incra para os beneficiários do PNRA ou pela Unidade Técnica Estadual ou Regional (UTE/UTR) para os beneficiados pelo PNCF que já tenham contratado a primeira operação no Grupo "A" e não tenham contraído financiamento de custeio, exceto no Grupo "A/C".São também beneficiários e se enquadram como agricultores familiares do Pronaf, exceto nos grupos "A" e "A/C", desde que tenham obtido renda bruta familiar nos últimos doze meses que antecedem a solicitação da DAP de até R$110 mil, incluída a renda proveniente de atividades desenvolvidas no estabelecimento e fora dele, por qualquer componente da família, excluídos os benefícios sociais e os proventos previdenciários decorrentes de atividades rurais e não mantenham mais que dois empregados permanentes. METODOLOGIA A pesquisa foi realizada junto aos agricultores familiares associados da Associação de Desenvolvimento Comunitário do Povoado Tanque Novo no município de Riachão do Dantas/SE, composta por 123 associados, com apenas 64 associados participativos, dos quais foi entrevistada uma amostra de 05 agricultores. A opção metodológica recaiu na abordagem qualitativa, por considerarmos a necessidade de um conjunto de técnicas interpretativas para expressar o sentido dos fenômenos sociais e a compreensão dos significados das ações e relações humanas. “O surgimento da pesquisa qualitativa deu-se quando os antropólogos, que estudavam indivíduos, tribos e pequenos grupos ágrafos, perceberam que os dados não podiam ser quantificados, mas sim interpretados” (MARCONI; LAKATOS, 2006, p. 270). Seu delineamento contempla os agricultores familiares que foram abordados mediante entrevistas semiestruturada, ao lado da permanente revisão da literatura centrada no marco teórico da pesquisa. Adotou-se a entrevista, visando obter dos entrevistados relatos das suas experiências. Funciona como aprendizagem, a partir da reconstituição da trajetória pessoal do sujeito no processo do relato de experiências. 470 471 A análise de conteúdo foi realizada em três momentos subsequentes, a partir do modelo de Bardin (1977): pré-análise, período de intuições, mas que tem por objetivos tornar operacionais e sistematizar as ideias iniciais; exploração do material, que consiste essencialmente em operações de codificações, decomposição ou enumeração, em função de regras previamente formuladas e tratamento dos resultados obtidos e interpretações que permitem estabelecer quadros de resultados APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS DADOS Inicialmente questionou-se aos agricultores sobre o que eles entendiam por agricultura familiar e foi perceptível que apenas dois deles apresentaram reações do não entendimento sobre agricultura familiar, conceituando-a como: “É um projeto do governo para ajudar os agricultores” (J.A. 2012). “É um projeto do governo que beneficia o agricultor” (J.J, 2012). Os demais, em seu discurso apresentaram certo entendimento sobre a agricultura familiar descrevendo-a de acordo com que eles vivenciaram: “É quando a família sobrevive da agricultura, eu mi considero um agricultor familiar, planto batata, maracujá, mandioca, pimenta, milho, laranja, feijão, girassol e macaxeira. Eu e meus filhos sobrevivemos da agricultura” (A.F. 2012). “São famílias como a minha que sobrevive da agricultura, eu sustento a minha família desde quando casei apenascom a agricultura, já são mais de 35 anos” (M.A.2012). “São pessoas que sustentam a família da renda da agricultura. A minha família tudo que têm veio da agricultura” (D.M. 2012). Sendo assim é perceptível que existe certo entendimento sobre agricultura familiar por parte da maioria dos entrevistados, mesmo sendo uma compreensão simples, destacando a relação do trabalho desenvolvido pela família e o sustento da mesma. Em seguida, foi questionado aos agricultores quanto ao tempo em que eles trabalham no campo. “Desde meus 10 anos, mas tentei arrumar emprego fora e não conseguir voltei a trabalhar com meus pais na roça” (J.R. 2012). 471 472 “Comecei quando era criança com meus pais” (M. M. 2012). “Desde criança” (A. F. 2012). “Desde quando mi entendi por gente” (D. M.2012). “Comecei muito cedo com os pais, criança e já tava na inchada” (J. M. 2012). Aqui se verifica um comum e atuante problema social, êxodo rural, que movimenta muitos trabalhadores a migrarem para a cidade, na expectativa, muitas das vezes onírica, de se alcançar melhores condições de vida. Mas é bem verdade que o setor urbanoindustrial brasileiro foi incapaz de gerar, na quantidade e na velocidade necessárias, os empregos para absorver todo esse contingente deslocado pelo êxodo rural, assim muitos desses migrantes acabam vivendo na marginalidade e excluídos da cidadania. Seguindo, foi perguntado aos entrevistados se os mesmos ou algum membro da família já buscou oportunidade de emprego fora do campo: todos responderam que sim. “Sim, tenho três filhos, um trabalha em Salvador e a outra em Aracaju, uma tá em casa” (J. J. 2012). “Sim, uma filha foi mora em Santos e o outro em Camaçari, eu também já tentei arrumar emprego em São Paulo quando tinha 20 anos, mas não deu certo graças a Deus aquilo é terra de gente viver nada” (A. F.2012). “Sim, tenho um filho que mora em Aracaju” (J.A 2012). “Sim, tenho um filho que trabalha em Lagarto e uma em São Paulo” (M.A 2012). Apenas um dos entrevistados respondeu que no momento não tem membros da família trabalhando fora, mas revelou já terem tentado. “Já, mas não deu certo e acabou voltando, tá todo mundo em casa” (D.M. 2012). Fica evidente a tentativa de oportunidade de emprego fora do campo, mas essa fuga para as cidades muita das vezes não tem a receptividade esperada pelos migrantes e muitos acabam voltando ou ficando a margem da sociedade em situação precária. Perguntou-se aos agricultores se eles acreditavam que na cidade é mais fácil ter oportunidade de trabalho. 472 473 “Sim, mas depende da cidade, como as cidades maiores a oportunidade de emprego é maior, mas aparece muita coisa, muita despesa e alguns não consegue emprego uns volta outros não, arranjam bico, vão mora em lugar barato, e é assim a vida” (J. J.2012). “Sim, mas também tem as dificuldades, muitos não consegue emprego e voltam” (J. A. 2012). “Às vezes tem, mas trabalho em cidade grande também tá difícil” (M. A. 2012). “Acho, a minha filha foi embora porque casou, ela e o marido disseram que não ficava aqui para trabalhar na roça por ser um trabalho muito difícil e a renda muito pouca. E conseguiram encontra emprego em São Paulo, graças a Deus estão trabalhando. Mas para arrumar esse trabalho demorou um pouco, aí vem muita coisa, aluguel e outras despesas que fica muito difícil para paga” (A. F. 2012). “Sim, os meus filhos não “arrumaram” emprego e acabou voltando, mas tem muitos que consegue” (D. M. 2012). Portanto é percebível que todos os entrevistados acreditam que nas cidades as ofertas de emprego são maiores, mas eles também compreendem as dificuldades encontradas nas cidades, mas mesmo expondo todas as dificuldades a maioria dos entrevistados tem membros da família trabalhando fora do campo (cidade). Também foi questionado sobre a situação legal da terra. Em seguida perguntou se a quantidade de terra que era suficiente para o desenvolvimento da atividade agrícola para toda a sua família, as respostas foram as seguintes: “Só pra eu trabalhar dá”. (M.A.2012) “É suficiente, mas para trabalhar com os meus filhos torna-se pouca. Porque já tenho filhos casados”. (J.J.2012) “Para toda a família não da”. (D.M.2012) “Para a minha família toda é pouca”. (J.A.2012) “Até agora tá dando pra leva, se eu tivesse mais tarefa era melhor, a família tá crescendo”. (J.R.2012) Ressalta-se nesta pergunta que todas as respostas dos entrevistados afirmam necessitar de uma maior quantidade de terra para o desenvolvimento das atividades agrícolas da família, posto que os seus filhos construíram famílias e o meio de trabalho, a terra, se tornou insuficiente para o desenvolvimento das atividades e sustento de todos. Uma possível solução para esta problemática reside na melhoria e na agilidade da tão questionada reforma agrária, seguidado fortalecimento da pequena propriedade e da 473 474 agricultura familiar, com geração de mais e melhores postos de trabalho e renda no campo. Com relação ao programa de incentivo para o fortalecimento da agricultura foi questionado aos entrevistados se eles fazem parte de algum programa: “Sim, PRONAF” (J.R 2012). “Faço parte do PRONAF” (D.M. 2012). “PRONAF” (M.A. 2012). “PRONAF” (A. F. 2012). “PRONAF” (J. M. 2012). Depois foi questionado sobre o incentivo do PRONAF, se foi possível estender ou reforçar a atividade agrícola da família depois do PRONAF: “Com certeza” (J.R.2012). “Deu sim para aumenta” (D.M.2012). “Sim” (A. F. 2012). “Avista o lucro que eu tinha antes agora tó é rico tudo por causa do PRONAF eu investi direitinho” (J.M. 2012). “Aumentou sim” (M. A. 2012). Salienta-se que os incentivos do PRONAF mostram resultados positivos para os agricultores entrevistados. Destaca-se a importância do PRONAF no aumento ou reforço das atividades desenvolvidas pelos pequenos produtores gerando assim o fortalecimento e a permanência do mesmo no campo. Em seguida foi questionado como eles avaliam as políticas públicas (a exemplo do PRONAF) destinadas à agricultura familiar: “É importante” (J.J. 2012). “É bom demais para quem aplica direitinho, paga em dias e consegue ganha a bonificação” (A.F.2012). “Depois que comecei a tirar esse dinheiro e investir na minha roça o meu lucro aumento. No tempo de pagamento eu nunca perco o bônus, sempre tenho o dinheiro na data certa” (M.A.2012). “É bom e da resultado, eu mesmo tenho bom resultado” (J.R.2012). “Pra gente pobre como nós é bom demais. A minha plantação aumentou porque eu estou aplicando direito” (D.M.2012). 474 475 Todos os entrevistados destacaram a importância do PRONAF para o investimento das atividades agrícolas e asseguraram concluindo que a bonificação é importante, pois o lucro aumenta. Portanto a avaliação sobre as políticas públicas destinadas a agricultura é de fundamental importância para os pequenos agricultores uma vez que os mesmo terão subsídios para permanecer no campo. Neste segmento, examinou-se se o incentivo de políticas públicas voltadas para a agricultura familiar pode enfrentar a pobreza, uma vez que essas políticas trazem apoio financeiro, técnicos e meios de comercialização dos produtos para os agricultores: “Eu falo com relação ao PRONAF que é o que eu conheço, olhe ninguém ia mim empresta dinheiro, eu não tinha como paga, um ganhado de dia quem tinha coragem de empresta dinheiro. O presidente da associação fez uma reunião com o homem do banco e explicou esse empréstimo que era para agricultor que nem eu. Fiz coloquei o dinheiro todinho na minha roça, no tempo de paga paguei certinho ganhei bônus fiz de novo e minha roça cresceu e vai crescer ainda mais com fé em Deus e com isso ganho mais dinheiro. O técnico teve aqui e disse que eu só tenho crescimento porque aplico certinho o dinheiro” (M.A.2012). “Esses empréstimos é bom demais, tem gente que diz mais tem que pagar, também tá querendo demais só de o banco emprestar e você paga de duas vezes e se fazer o pagamento na data certinha ainda a parcela diminui. É bom demais pra nós, aí você vai investindo direitinho na rocinha e as coisa vai melhorando, é verdade aconteceu comigo”(J.M.2012). “Na minha vida foi muito bom, eu já tirava o empréstimo aí depois o município começou a compra os meus produtos e a minha renda aumentou, eu comecei a dá um dinheirinho a mais para o meu filho e a minha filha porque trabalham comigo. Comprei até duas vaquinhas de leite aí começou a entra um dinheirinho” (D.M.2012). “Eu falo por mim, com o PRONAF pude melhora a situação da minha família eles são testemunha o quanto minha rocinha melhorou e cresceu. Hoje as coisas aqui em casa tá melhor, mas tem gente que não coloca o dinheiro na roça aí fica difícil” (J. R.2012). “Graças a Deus e ao PRONAF nossa vida é outra, meus filhos tem o seu dinheirinho, eu também, tá uma maravilha. Não tamos rico não, mas dá pra viver” (A. F.2012). Em relatório elaborado pelo Ministério do Desenvolvimento Social (2005) constata que é maior a quedada extrema pobreza na área rural (20,6% para 10,9%) do que na zona urbana (4,5% para 3%). “A maior redução no campo decorre dos benefícios da 475 476 previdência rural, dos programas de transferência de renda, especialmente o Bolsa Família, e do crédito agrícola”, resume o estudo. CONSIDERAÇÕES FINAIS Com essa pesquisa percebeu-se a importância da agricultura familiar como forma de enfrentamento da pobreza no município de Riachão do Dantas/SE, sendo perceptível o perfil dos pequenos produtores e a relevância do desenvolvimento de políticas públicas para o enfrentamento da pobreza no campo.Com base nos resultados deste estudo é compreensível que o índice de miséria vem caindo, mas a desigualdade ainda é um fator visível que deprecia o meio rural. Os agricultores familiares do povoado Tanque Novo do município de Riachão do Dantas-SE,se reconhecem quanto agricultores familiar, mas não apresentaram um entendimento claro sobre o quê é agricultura familiar. Assim, é notória a necessidade de um trabalho de base sobre a agricultura familiar, pois os agricultores têm que se reconhecerem como tal. Percebeu-se também a existência da problemática do êxodo rural, migração da população para as grandes cidades na perspectiva de emprego e melhores condições de vida, como foi observado na maioria dos entrevistados que mencionaram ter buscado oportunidade de emprego fora do campo. Possuem filhos trabalhando fora do campo e acreditam que na cidade é mais fácil ter oportunidade de trabalho, todavia reconhecem que nem sempre dar certo trabalhar fora do campo porque as dificuldades muitas das vezes são maiores nas grandes cidades, pois não possuem trabalho para todos e muitos voltam para o campo por não ter oportunidade de emprego. Os agricultores relataram que possuem terra própria, mas que são insuficientes para o desenvolvimento das atividades agrícolas familiar, tendo em vista que seus filhos também construíram suas famílias e o meio de trabalho, a terra, se tornou insuficiente para o desenvolvimento das atividades e mantença de todos, motivo pelo qual levou muitos deles ao êxodo rural. Vale ressaltar a importância dos subsídios que possam unir essas famílias e os seus familiares no campo, como as políticas públicas de incentivo a agricultura e o enfrentamento do êxodo rural, pois com esse incentivo os pequenos produtores não se afastam do campo. A saída desses agricultores para as cidades em busca de trabalho 476 477 muita das vezes é uma grande decepção, pois se depara com vários trabalhadores desempregados em busca de oportunidade. Fato que foi evidenciado no transcorrer deste trabalho, que a maioria dos agricultores tem filhos trabalhando fora do campo e que passaram dificuldades para conseguir se estabilizar na cidade. Com relação às políticas públicas para a agricultura familiar foi perceptível que todos os entrevistados fazem parte do programa de incentivo a Agricultura Familiar (PRONAF) sendo notável a importância dessa política para os pequenos produtores, destacando o aumento da produção agrícola e com isso gerando uma renda maior para o agricultor.No entanto, na sua maioria os pequenos produtores não obtêm informação sobre outras políticas públicas destinadas ao fortalecimento da agricultura familiar. Com isso, nota-se que está existindo uma má disseminação das informações sobre as políticas públicas no enforque da agricultura familiar. Ao final deste estudo, foi observado que o estímulo de políticas públicas voltadas para a agricultura familiar pode enfrentar a pobreza, sendo que tais políticas acarretam apoio financeiro, técnicos e meios de comercialização dos produtos para os agricultores, gerando assim o fortalecimento do pequeno produtor no campo. No entanto, o caminho no enfrentamento a pobreza ainda é longo visto que, a pobreza e a desigualdade social no Brasil ainda assumem proporções enormes necessitando de políticas públicas eficazes no enfrentamento das mesmas. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ALBUQUERQUE FILHO, Clóvis Antunes Carneiro de. A reforma agrária no Brasil. Jus Navigandi, Teresina, ano 5, n. 46, 1 out. 2000. Disponível em:<http://jus.com.br/revista/texto/1672>. Acessado em: 19 dez. 2011. ARAUJO, Helio Mario; SANTOS Núbia Dias dos.Temas de geografia contemporânea: teoria, método e aplicações. São Cristovão: UFS, Aracaju: Fundação Oviêdo Teixeira, 2010. 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