AGRICULTURA FAMILIAR E DESENVOLVIMENTO RURAL SUSTENTÁVEL EM NOVA FRIBURGO-RJ Mag. Francisco Coelho Mendes, Ph D. Cezar Augusto Miranda Guedes PPGCTIA - UFRRJ - Brasil Resumo É notório que, a agricultura familiar tem um papel preponderante na promoção do desenvolvimento econômico do Brasil e no aumento qualitativo das condições de vida da população possibilitando a redução das desigualdades sociais, reduzindo o êxodo rural, desconcentrando a geração de renda e gerando divisas. O presente trabalho versa sobre o desenvolvimento rural sustentável e as políticas públicas voltadas para a agricultura familiar em Nova Friburgo. Objetiva falar sobre políticas de desenvolvimento local sustentável com ênfase econômica, ecológica e social; evolução histórica da agricultura familiar em Nova Friburgo; assistência técnica proveniente do poder público, como mecanismos para a internalização dos princípios da sustentabilidade nas políticas públicas brasileiras direcionadas aos agricultores familiares. A hipótese levantada é que a agricultura familiar desenvolve-se de forma mais sustentável quando recebe assistência técnica de órgãos especializados. Essa assistência pode propiciar ao agricultor familiar uma melhor aplicabilidade dos recursos destinados ao seu cultivo ou produtividade. Os dados secundários foram obtidos por meio de consultas a livros, revistas, Internet e publicações científicas como artigos, dissertações e teses, já os dados primários foram obtidos por observação direta e aplicação de questionários. Espera-se que os resultados deste estudo sirvam de subsídios para propiciar maiores investimentos em assistência técnica, cooperação público-privada, inovação e desenvolvimento rural sustentável. Cabe ressaltar que, a luta e resistência ao pensamento hegemônico por parte dos agricultores familiares celebraram a criação do PRONAF, em 1996, considerado uma conquista de espaço político e de facilidade de acesso aos recursos públicos. Esse processo evolutivo culminou com a implementação da nova Lei de Assistência Técnica e Extensão Rural, sancionada pelo Governo Federal em 2010. Palavras-chave: políticas públicas, agricultura familiar, desenvolvimento rural sustentável. 1. Introdução Durante várias décadas a agricultura familiar e a sua base fundiária, a pequena propriedade, foram relegadas à segundo plano e até mesmo esquecida pelo Estado em detrimento da grande propriedade, considerados os setores privilegiados no processo de modernização da agricultura brasileira. Mas, sabe-se que, a agricultura familiar tem um papel preponderante na promoção do desenvolvimento econômico do Brasil e no aumento qualitativo das condições de vida da população possibilitando a redução das desigualdades sociais, desconcentrando a geração de renda, reduzindo o êxodo rural e gerando divisas. Podemos observar que, no Censo Agropecuário de 2006, foram identificados 4.367.902 estabelecimentos da agricultura familiar, o que representa 84,4% dos estabelecimentos brasileiros. Esse numeroso contingente de agricultores familiares ocupava uma área de 80,25 milhões de hectares, ou seja, 24,3% da área ocupada pelos estabelecimentos agropecuários brasileiros. Entretanto, os resultados mostram uma estrutura agrária ainda concentrada no País: os estabelecimentos não familiares representam 15,6% do total dos estabelecimentos e ocupam 75,7% da área produtiva. A área média dos estabelecimentos familiares era de 18,37 hectares, e a dos não familiares, de 309,18 hectares (IBGE, 2009). Segundo a utilização das terras dos estabelecimentos por agricultores familiar, dos 80,25 milhões de hectares da agricultura familiar, 45,0% eram destinados a pastagens, enquanto a área com florestas, matas ou sistemas agroflorestais ocupam 28,0% das áreas, e as lavouras ocupam 22,0%. A agricultura não familiar segue a mesma ordem, mas a participação de pastagens (49,0%) e matas ou florestas (28,0%) é um pouco maior, enquanto a área para lavouras é menor (17,0%). Podemos destacar aqui, a participação da área das matas destinadas à preservação permanente ou reserva legal que representa 10,0%, em média, nos estabelecimentos familiares, e os demais representam 13,0% de áreas utilizadas como matas ou florestas naturais. Apesar de cultivar uma área menor com lavouras (17,7 milhões de hectares) e pastagens (36,4 milhões de hectares), a agricultura familiar é responsável por garantir a maior parte da segurança alimentar do País, cumprindo importante papel como fornecedora de alimentos para o mercado interno (IBGE, 2009). A participação da agricultura familiar é muito marcante em algumas culturas, no ramo agropecuário, como: 87,0% da produção nacional de mandioca, 70,0% da produção de feijão, 46,0% do milho, 38,0% do café, 34,0% do arroz, 58,0% do leite e 21,0% do trigo, bem como representa 59,0% da produção de suínos, 50,0% da produção de aves e 30,0% dos bovinos. A cultura com menor participação da agricultura familiar é a da soja (16,0%), que representa um dos principais produtos da pauta de exportação brasileira (IBGE, 2009). Enquanto nos países capitalistas avançados, a produção agrícola é estimulada pelo trabalho familiar, no Brasil o que predomina é a agricultura patronal, ou seja, de um lado a agricultura moderna, altamente capitalizada, com tecnologias de ponta e fortemente empresarial. Do outro lado, persiste a agricultura sob os moldes tradicionais voltada para a subsistência familiar. Atualmente, a agricultura familiar representa cerca de 85% dos estabelecimentos rurais do Brasil e a região nordestina possui maior índice com 50% desse tipo de propriedade existentes no Brasil e 80% no nordeste com uma renda mensal equivalente a apenas 25% da renda mensal dos produtores familiares de outras regiões. Isto porque somente 50% dos produtores familiares conseguem produzir para vender. O restante só produz o suficiente para a subsistência (FALCÃO e OLIVEIRA, 2004). As propostas de apoio à agricultura familiar devem, inclusive, contemplar as atividades nãoagrícolas, como por exemplo, a industrialização, a produção artesanal e o turismo rural, com grande potencial de geração de renda e ocupação. Essas atividades nem sempre são remuneradas com dinheiro, mas com permuta de trabalho e outros arranjos informais. A pluriatividade é a combinação de atividades agrícolas e não-agrícolas como forma de se garantir níveis de renda compatíveis, bem como a ocupação da força de trabalho familiar para garantir a reprodução das unidades familiares de produção (FALCÃO e OLIVEIRA, 2004). Este estudo visa apreciar o papel das políticas publicas em prol da agricultura familiar (AF) em Nova Friburgo (NF), região serrana do Rio de Janeiro. Essa iniciativa se deu com o registro dos produtores rurais por meio do Cadastro Geral de Produtor Rural (CGPR), realizado entre 2002 e 2003. O cadastro teve como objetivo traçar um perfil das propriedades produtivas do município de Nova Friburgo, bem como localização das propriedades, titularidade, posse e uso da terra, tecnologias utilizadas, escolaridade, grau de associativismo e prioridades do setor foram pesquisados. Levantou também informações sobre as especificidades de produção nas propriedades rurais produtivas, as formas de comercialização foram evidenciadas, bem como as demandas mais urgentes nas várias localidades do município. A falta de documentação da titularidade da terra e o receio do morador de ser questionado no futuro por contribuições fiscais foram os principais entraves na realização do CGPR, o que demandou tempo, conscientização e muita dedicação dos entrevistadores (PMNF-SMA, 2004). 1. Desenvolvimento rural sustentável As tendências atuais sobre um novo modelo de desenvolvimento rural baseiam-se, especificamente, em duas perspectivas. Por um lado, as conseqüências da implementação do modelo tradicional, ou seja, a degradação do meio ambiente e dos recursos naturais e o agravamento dos problemas sócio-econômicos no campo, conduziram a sérios questionamentos das vias tradicionais de promoção do desenvolvimento rural, e a esforços no sentido de propor um modelo menos degradante sob o duplo aspecto da ecologia e da equidade social. Por outro lado, em função das transformações estruturais em curso no meio rural, referentes às mudanças na dinâmica do trabalho e na conjuntura territorial e sócio-econômica, inicia-se uma nova perspectiva para a proposição de um modelo de desenvolvimento rural mais ambientalista e menos agressivo. É baseado nesse contexto que se originam as propostas pelo desenvolvimento rural sustentável. É fundamentado em tais transformações que se impõe a necessidade de formulação de novas estratégias de intervenção nesse “novo mundo rural” que se transforma estruturalmente e que condiciona a necessidade de novos parâmetros de desenvolvimento (BATISTELA, 2000). Um modelo alternativo de desenvolvimento rural, caracterizado pela sustentabilidade ecológico-ambiental e sócio-econômica no meio rural, delineia-se, essencialmente, a partir de propostas contidas na formulação (teórica) de novas políticas públicas voltadas ao meio rural e ao seu desenvolvimento. É nesse sentido que o novo perfil das políticas públicas atuais aponta para a necessidade de criação de novos mecanismos que condicionem a construção do desenvolvimento sustentável no meio rural. Esse é o aspecto central do processo de mudança das últimas décadas, que culmina com a necessidade inadiável de construção de mecanismos que facilitem a sustentação do processo de desenvolvimento, tanto em nível ecológico, de meio ambiente e recursos naturais, por meio de novos parâmetros de relação e uso sustentado, quanto social, com vistas à equidade social e econômica das populações do campo (BATISTELA, 2000). Surge então, a proposta do Desenvolvimento Local, Integrado e Sustentável, como um novo modelo de promoção do desenvolvimento rural que se incumbe da tarefa de superação do modelo convencional. Concomitantemente, procura-se adequar estrategicamente às novas configurações e reordenamentos do meio rural, visando a construção de uma dinâmica de desenvolvimento passível de sustentação, com vistas à continuidade do processo de desenvolvimento para as gerações presentes e futuras. 1.1. Políticas de desenvolvimento local A política de desenvolvimento sustentável caracteriza-se, em suas emergentes configurações, a tendência de redefinição da ação do poder público, fundamentado, agora, no âmbito local. A transferência do campo de intervenção das políticas públicas para o âmbito da localidade, - que compreende uma noção determinada de territorialidade geográfica, social, cultural, política e econômica -, decorre, diretamente, de uma tendência de descentralização político-administrativa que vem sofrendo a noção de governabilidade e de intervenção política. As dimensões social, cultural, ambiental, territorial e políticoinstitucional se destacam dentro de uma perspectiva do denominado desenvolvimento local (TENÓRIO, 2007). O espaço local de intervenção pública (na esfera municipal) passa a incumbir-se do papel principal da efetivação de novo conceito de desenvolvimento. Os municípios passam, segundo Abrúcio e Couto (1996, p. 40), a responsabilizarem-se pela dupla função de “assegurar condições mínimas de bem-estar social às suas populações” e, promover o desenvolvimento “com base em ações de âmbito local”. Nas transformações subentende-se que o desenvolvimento, em termos de crescimento econômico, não atendia demandas sociais básicas, como aquelas requeridas pelos movimentos sociais; estabelecendo-se, com isso, um vácuo entre desenvolvimento econômico e desenvolvimento social (BATISTELA, 2000). A perspectiva dirigida às especificidades locais num projeto de desenvolvimento social encontra ressonância nas novas tendências relacionadas ao “mundo rural brasileiro”. Segundo Campanhola e Graziano da Silva (1999), a tendência atual de superação do histórico contraste entre os espaços urbano e rural, aponta-nos para uma diferenciação do meio rural, no sentido de um fortalecimento das particularidades e perspectivas de cada local. Devido o aspecto estrutural de uma nova estratégia de desenvolvimento rural, que comporta, como fator principal, o aspecto da sustentabilidade, a ênfase no local representa um meio de se assegurar o caráter sustentável. Considerando-se que desenvolvimento sustentável pode resultar em um processo no qual fatores sociais, ecológicos, culturais, políticos e econômicos, dentre outros, estejam inter-relacionando-se de forma equilibrada, temos que “os seus preceitos estão em perfeita harmonia com aqueles do desenvolvimento local, uma vez que seus meios e fins variam conforme as condições ecológicas, econômicas, sociais e culturais, tanto nos âmbitos regionais como locais” (CAMPANHOLA e GRAZIANO da SILVA (1999, p. 3-4). A tradicional centralização na implementação de políticas públicas no Brasil, com vistas ao desenvolvimento rural, trás consigo uma alienação em relação às circunstâncias específicas dos espaços localizados; que representa o espaço que reclama prioridade na incidência de tais políticas. Assim, quase sempre, as políticas públicas são concebidas e empreendidas setorialmente, o que significa uma desconsideração para com as condições específicas de cada localidade. Segundo Carneiro (1999, p. 7) uma das medidas básicas da estratégia de desenvolvimento local, integrado e sustentável para o meio rural, reside na necessidade de “descentralização da política pública, através da proposição de novas formas de planejamento e de gestão que incorporem projetos de interesse local”. Segundo Campanhola e Graziano da Silva (1999, p. 4-5), “as políticas públicas geralmente são elaboradas setorialmente e sem levar em conta os seus efeitos no desenvolvimento local. Essa fragmentação contribui para o avanço de alguns e para a estagnação de outros setores, agravando muito mais os desequilíbrios do que propriamente solucionando os problemas que geram as desigualdades sociais”. Dessa forma, “deve-se pensar a elaboração de políticas com orientação inter-setorial, ou seja, que se fundamentem em instrumentos integradores das diferentes necessidades e preocupações econômicas, ambientais, políticas e sociais da comunidade de determinado local”. Segundo STEER e LUTZ (1993, p. 20), “uma compreensão melhor do desenvolvimento requer medidas desenvolvimentistas mais amplas, que englobem questões sociais, ambientais e de equidade”. Dessa forma, nos deteremos na análise de dois aspectos fundamentais implicados na sustentabilidade da nova proposta de desenvolvimento rural; que concerne à sustentabilidade ambiental ou ecológica e à sustentabilidade ou equidade social, compreendendo a dimensão cultural e política. 1.2. Sustentabilidade ecológica A sustentabilidade ecológica tornou-se, tanto no interior da comunidade científica, como nas opiniões populares correntes, um objetivo imperativo, quando se visa um modelo sustentável de desenvolvimento. Em última instância, desenvolvimento sustentável quer dizer um modo de desenvolvimento que possa ser continuado, ou seja, remete-nos a um modelo passível de sustentação e de manutenção de seus padrões ao longo do tempo. Para REES (1993), o desenvolvimento decorre do entendimento de que a realidade planetária, tanto em termos de atividade humana quanto das condições ambientais, encontra-se resumida à uma realidade maior que nos propõe o entendimento do planeta, enquanto um grande ecossistema. Dessa forma, os condicionantes do desenvolvimento, como a atividade econômica, por exemplo, passam a ser entendidos a partir de uma correlação direta com o ecossistema planetário (e com subsistemas), de sorte que sejam determinados a partir de uma visão de complementaridade, própria da estrutura dos ecossistemas. Portanto, deparamo-nos com o inusitado entendimento de que “a atividade econômica humana é um subsistema que opera dentro de um ecossistema mais amplo, porém finito. Caso esse ecossistema seja perturbado (pelo esgotamento ou pela poluição), haverá eventualmente distúrbios nos sistemas vitais em que a economia se apóia” (REES, 1993, p. 14). É com base na perspectiva do elevado grau de degradação ambiental, propiciado pelo modelo de modernização agrícola e seus mecanismos de difusão, que a sociedade brasileira e, principalmente, as políticas governamentais deparam-se com a necessidade de se pensar um modo alternativo de promover o desenvolvimento rural, caracterizado pela sustentabilidade. Da mesma forma, a necessidade da sustentabilidade ecológica é um dos pontos principais que justificam a tentativa de eleição da agricultura familiar como a primordial de um novo modelo de desenvolvimento rural sustentável. 1.3. Sustentabilidade social O desenvolvimento sustentável compõe uma estrutura em que os elementos componentes da dimensão ecológica e os elementos componentes da dimensão social formem a sua base. Devem ser entendidos como condicionados e condicionantes uns dos outros, de forma que a sustentabilidade só pode ser alcançada quando tais aspectos encontrarem-se em equilíbrio. Conforme Cernea (1993, p. 11), “a sustentabilidade deve ser ‘construída socialmente’, ou seja, é preciso buscar deliberadamente acordos de natureza social e econômica. Por isso, devemos considerar a construção da sustentabilidade uma tarefa tríplice – simultaneamente social, econômica e ecológica”. Segundo Baroni (1992, p. 24), “o debate sobre sustentabilidade, que se iniciou na biologia (ou nas ciências biológicas) e vem extravasando para a economia, é bastante produtivo, pois coloca a nu a necessidade imperiosa de um novo paradigma social e econômico ou novo estilo de desenvolvimento, pois que o atual mostrou-se insustentável de diversas perspectivas [...]”. Portanto, a necessidade de um modelo diverso de desenvolvimento rural implica numa transformação das suas relações com o meio ambiente e os recursos naturais, conjuntamente à mudanças na relação sócio-econômica. Dessa forma, é preciso edificar um novo estilo de desenvolvimento baseado numa relação menos degradante com a ecologia, e que vise a integração dos excluídos das políticas tradicionais, vítimas, em última instância, do histórico e exaurido modelo concentrador, inerente às políticas de modernização da agricultura. Uma das preocupações principais da análise da operacionalização do PRONAF é analisar as possibilidades de participação dos excluídos das vias tradicionais do desenvolvimento, que é o caso dos agricultores familiares que estão se tornando referência de desenvolvimento rural. 2. Agricultura familiar em Nova Friburgo Segundo Oliveira (2004), estudo realizado por agrônomos e técnicos da PMNF-SMA entre 2002 e 2003 mostra que, portugueses e escravos africanos chegaram à região serrana do Rio de Janeiro no século XVII e iniciaram o cultivo do café. No século XVIII chegaram os suíços e logo depois, os alemães, tendo início a formação dos pequenos grupos de agricultores que formaram uma das bases econômicas do município de Nova Friburgo. Situado no centro do Estado do Rio de Janeiro, na Região Serrana, o município de NF, com altitude média em torno de 846 m, tem cerca de 933 km², distribuídos em oito distritos. O clima é tropical de altitude, com regime pluvial dentro da zona de regime tropical austral, com chuvas acima de 2.000 mm, distribuídas em sua maior parte, em anos normais, de setembro a abril; maio a agosto se caracteriza como período seco. As temperaturas médias ficam em torno de 18º C, sendo a temperatura média de verão de 24º C e a temperatura média de inverno de 13º C, com presença de geadas nas áreas de várzea e chuvas de granizo no verão. O solo do município de NF é um latossolo amarelo predominantemente, com aptidão regular nas baixadas, tendo encostas com a fertilidade empobrecida, mas apta para agrofloresta regular, para culturas permanentes e restritas para culturas temporárias. A população do município é estimada em 173.300 habitantes, apresentando uma densidade demográfica em torno de 182 hab/km², tendo 86,7% de seus munícipes na região urbana e 13,3% na zona rural. NF possui 60% de seu território coberto por mata, sendo a segunda maior área contínua de Mata Atlântica – a floresta com a maior biodiversidade do mundo: possui três áreas de proteção ambiental (APA), uma reserva ecológica e faz parte do Parque Estadual dos Três Picos. As áreas de mata atlântica no município abrigam importantes rios: Macaé, com dois afluentes, Flores e Bonito e grandes números de nascentes e Rio Grande, também com seus afluentes. O município de NF possui uma diversificada atividade agrícola, com destaque para produção de hortaliças, frutas e flores, além de pequenas criações de animais como coelhos, porcos, cabras leiteiras, ovelhas, gado leiteiro e de corte, cavalos, muares, ao lado de uma série de criações mais raras como avestruz, javali, codornas, galinhas caipiras, papagaios e araras, abelhas, chinchilas, cães e minhocas para produção de húmus e uma expressiva produção de trutas. O município desenvolve também cultivo de três espécies de cogumelos: shiitake, shemedii e cogumelo do sol, tendo boa produção de mudas de hortaliças em estufas; tem pequena produção de plantas medicinais e aromáticas condimentares, dentre estas se destacando o hana-nirá. São comuns as produções de eucaliptos e pinus. A produção vegetal do município se faz com agricultura convencional, agricultura orgânica e hidropônica de perfil e de tanque, a céu aberto sob estufas e, a partir de 2004, foi introduzido os estufes ou túneis baixos. O município tem destacada produção de flores de corte, onde a rosa, crisântemo, palma, copo de leite, gipson, tango, áster e outras contribuem significativamente para geração de renda no município. Dentre as fruteiras cultivadas no município, se destacam a goiaba, o morango, o caqui, a pokan, a banana, a lima da pérsia, embora também exista produção de figo, de limão tahiti e pêra dura. É comum encontrar-se em alguns quintais, raros pés de tomate-da-serra ou tomate da índia, fruta a qual é atribuída uma série de propriedades medicinais. Dentre as hortaliças ou olerícolas, também denominadas verduras e legumes, o destaque para plantio o ano todo são a alface e a salsa, para o inverno a couve-flor e, para o verão, o tomate. Entretanto, o município produz dezenas de outras hortaliças, que vão desde o repolho e o brócolis até a rara couve de Bruxelas. Nesse cenário, o CGPR apresenta o município de Nova Friburgo como um dos maiores produtores de alimentos no Estado do Rio de Janeiro, com significativa contribuição para o agronegócio no Brasil. Segundo a PMNF-SMA (2009), representantes municipais e estaduais do setor agrícola realizaram em Nova Friburgo, em novembro de 2009, a apresentação do Plano Safra da Agricultura Familiar, contando com as participações de agricultores familiares, representantes de associações de pequenos produtores rurais, integrantes da Secretária Municipal de Agricultura e Prefeitura de Nova Friburgo, do Conselho Municipal de Desenvolvimento Rural Sustentável (CMDRS), da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Estado do Rio de Janeiro (Emater-Rio), da Superintendência da Regional Serrana da Emater-Rio e da Superintendência do Banco do Brasil no Rio de Janeiro. O presidente da Emater-Rio menciona que, “há oito anos, a Emater não firmava parceria com a Prefeitura de Nova Friburgo e hoje falaremos sobre o financiamento para os pequenos produtores, graças a essa parceria. Um dos programas é o Programa Mais Alimento, que financia a compra de tratores e equipamentos, além de financiar lavouras a juros de 2% ao ano. A maior garantia para o financiamento é a garantia pessoal e penhor dos próprios equipamentos adquiridos”. O secretário municipal de agricultura complementou: “Seremos um canal facilitador de crédito”. O prefeito, que assinou recentemente o termo de compromisso entre o Banco do Brasil e a Prefeitura para efetivar o Canal Facilitador de Crédito, considerou ótimas as notícias e quis saber quando os produtores rurais começarão a ser atendidos, então, na Secretaria de Agricultura, e se era possível pensar em industrialização de todos os produtos rurais de Nova Friburgo. Segundo o secretário municipal de agricultura, a SMA, que já possui um diálogo com os produtores rurais de Nova Friburgo, profissionais esses que estão contabilizados pela própria secretaria com aproximadamente 2000 pessoas, continuará recebendo os produtores para esclarecimentos e encaminhamentos, além de poder cadastrar dados num terminal igual ao utilizado no Banco do Brasil para solicitação de financiamentos. O secretário municipal de agricultura explicou que o Banco do Brasil disponibilizou dois terminais de computadores, que serão utilizados por funcionários da Secretaria para realizar o cadastramento com dados dos produtores, que desejam financiamento do Banco do Brasil. Ressaltou que, o município de NF é o segundo maior aplicador de Recursos do PRONAF no Estado do Rio de Janeiro, só perdendo para o município de Porciúncula. O presidente da Emater-Rio acrescenta que, a Emater-Rio está se reequipando para atender melhor aos produtores rurais e que, através do Programa Prosperar é possível estimular, sim, a agroindústria, incentivando a legalização e o espírito empreendedor, oferecendo também palestras e outros meios de capacitação. Uma das produtoras agrícola da localidade de Janela das Andorinhas, disse ao prefeito que muitas mudas de flores produzidas no município são importadas e que é necessária a utilização, ainda, de produtos agrotóxicos. E o presidente da Emater-Rio informou que há um projeto, o Florescer, para incentivar o produtor a utilizar menos agrotóxicos. O prefeito de NF destacou que é importante o município produzir flores de qualidade, já que Vargem Alta também tem um grande potencial para o cultivo de floricultura. Durante a apresentação do Plano Safra, foram abordados: qualificação de crédito; ampliação ao crédito rural; incremento do crédito de investimento; envolvimento do CMDRS na discussão e monitoramento do crédito; fortalecimento das parcerias em prol da agricultura familiar e aproximação do Banco do Brasil dos beneficiários do PRONAF. Abordou-se também que, para enquadramento no Pronaf, deve-se considerar, segundo o Manual de Crédito do Banco Central do Brasil (Bacen): ser proprietário, posseiro, arrendatário, parceiro ou concessionário do Programa Nacional de Reforma Agrária, que resida na propriedade ou em local próximo e não disponha, sob qualquer forma, de área de terras superior a quatro módulos fiscais. O trabalho familiar deve ser a base da exploração do estabelecimento, ou seja, predominante, com uso eventual de trabalho de assalariado e até dois empregos permanentes. Ainda, foram prestadas orientações para os produtores que desejarem crédito rural para a safra 2009/2010, entre elas: só financiar o que vai plantar, pois caso modifique a lavoura financiada ou área plantada, perde-se o direito ao seguro e à prorrogação do prazo para pagar, no caso de algum problema com a lavoura; procurar um técnico da Emater-Rio para conhecer todas as linhas de crédito disponíveis, pois há diferentes condições de financiamento para diversos tipos de público; ao contratar um projeto de crédito, o produtor deve exigir uma cópia do contrato e guardá-lo em local seguro. 3. Resultados e discussões O levantamento do CGPR realizado pela PMNF-SMA contou com o apoio da Secretaria Municipal de Planejamento na elaboração do questionário aplicado aos produtores rurais. À medida que os dados eram levantados, técnicos da SMA lançavam as informações no sistema para posterior análise. Posteriormente, os técnicos se reuniram com as entidades envolvidas para avaliação conjunta dos dados coletados (PMNF-SMA, 2004). A seguir, serão apresentados vários gráficos que retrata CGPR realizado pela PMNF-SMA. Este levantamento foi realizado no período de 2002 a 2003, com o intuito de implementar projetos de assistência técnica e melhoria dos processos de atendimento aos produtores rurais de NF. Foram respondidos 1268 questionários, numa amostra de, aproximadamente, 120 grupos proprietários, distribuídas em 8 distritos e 30 associações de moradores. Cabe ressaltar que as principais fontes de renda em NF são indústria têxtil, turismo e AF. Posteriormente, será realizada uma nova pesquisa com o objetivo de confrontar os dados e observar o que mudou para o produtor rural de NF após a assistência de órgão públicos à AF. O Gráfico 01 Mostra que 90% da Produção Agrícola do Município de NF é Gerada por Minifúndios e Pequenas Propriedades, onde Predominam Agricultores Familiares que detém Altos Indices de Produtividade nessas Áreas. Gráfico 01: Classificação do CGPR por módulo fiscal em NF Número Total de Propriedades: 1.268 9% 1% 47% 43% Minifúndio < 1 Módulo Fiscal Pequena Propriedade ≥ 1 Módulo e ≤ 4 Módulos Média Propriedade > 4 Módulos e ≤ 15 Módulos Grande Propriedade > 15 Módulos OBS: 01 Módulo Fiscal = 10 ha. Fonte: PMNF-SMA, 2004 Pequenas Propriedades Minifùndios Médias Propriedades Grandes Propriedades O Gráfico 02 Mostra que a modalidade de uso da terra é predominantemente constituída por meeiros, parceiros e arrendatários, possuindo desprezível relação trabalhista e empregatícia. O CGPR Encontrou Ainda uma Categoria de Proprietários Empreendedores que Já somam 238 Proprietários Rurais que Administram, Compram Insumos e Comercializam, não Atuando Efetivamente no Manejo do Cultivo das Lavouras, mas Fazem a Terra Cumprir de Fato a sua Função Social. Gráfico 02: Classificação do CGPR por posse e uso da terra em NF Parceiro/Meeiro * Total de Produtores: 2.484 • Homens: 2.170 • Mulheres: 314 Prod. Proprietários Proprietários Empreendedores Arrendatário 1.216 Usufrutuário Posseiro 655 238 Outros 212 146 5 12 Fonte: PMNF-SMA, 2004. O gráfico 03 mostra que cerca de 74% dos produtores rurais tem de 1 à 7 anos de escolaridade, sendo que 9% tem de 8 à mais anos de estudo, ficando 17% de analfabetos ou com menos de um ano de estudo. O índice de 8% para analfabetos entre os produtores rurais é igual se comparado em todo o Município. O CGPR mostra que os produtores proprietários possuem maior número de escolaridade do que os meeiros e parceiros. Gráfico 03: Classificação do CGPR por nível de escolaridade em NF 5% 2% 2% 8% 37% 9% 37% De 1 à 3 anos De 4 à 7 anos Analfabeto Menos de 1 ano de estudo De 8 à 10 anos De 11 à 14 anos Mais de 15 anos Fonte: PMNF-SMA, 2004. O gráfico 04 mostra que, conforme os dados dos sistemas de produção em uso pelos produtores rurais cadastrados, o tipo de agricultura em uso ainda é majoritariamente tradicional, com uso de agroquímicos (agrotóxicos e adubos químicos), embora o município já tenha vários agricultores orgânicos, alguns hidropônicos e alguns em transição para o sistema orgânico. Gráfico 04: Sistemas de produção agrícola adotado por propriedades rurais cadastradas (PRC) em NF Número Total de Propriedades: 1.268 1% 1% Tradicional 9% Orgânica Transição para orgânica Hidropônica 89% Fonte: PMNF-SMA, 2004. O gráfico 05 mostra que a maioria das propriedades de NF não faz uso do sistema de irrigação. Mas a irrigação é uma das tecnologias com maior taxa de adoção pelos produtores rurais até por que são em grande parte, produtores de hortaliças – plantas muito exigentes em água – as quais muitas delas, são produzidas no período seco de maio a setembro. Gráfico 05: Utilização da irrigação nas PRC em NF Número Total de Propriedades: 1.268 Utilizam irrigação Não utilizam irrigação 46% 54% Fonte: PMNF-SMA, 2004. O gráfico 06 mostra a quantificação da produção agrícola, os destaques são para o cultivo de tomate, couve-flor e repolho, seguido pela salsa e em escala menor beterraba, inhame, pimentão. A capacidade produtiva do Município é ainda mais evidenciada no item outros, com 16.677ton. distribuídos em pequenos cultivos. Com produção de 27.850ton., Nova Friburgo é o maior produtor de couve-flor do Brasil. Gráfico 06: Produção anual de olericultura e grãos nas PRC em NF * Valores em Toneladas 16.677 1.766 2.159 2.965 3.086 3.483 3.616 3.937 3.9485.300 27.850 12.200 9.585 Couve-Flor Tomate Salsa Repolho Brócolis Inhame Alface Beterraba Vagem Jiló Ervilha Outros Pimentão Fonte: PMNF-SMA, 2004. O gráfico 07 mostra que rosas, palmas e crisântemos detêm a primazia na produção de flores em termos de área plantada, embora a flor copo-de-leite e a samambaia tenham áreas expressivas. O cultivo de tango, embora entre no item outros, tem merecido destaque no Município de NF. Gráfico 07: Produção anual de floricultura nas PRC em NF * Área plantada: 240 ha Rosa 17% Palma 22% Crisântemo 5% Samambaia 9% 19% 10% 18% Copo de Leite Gipson Outros Fonte: PMNF-SMA, 2004. O gráfico 08 mostra que a fruticultura apresenta um potencial enorme de produção, com destaques para o cultivo de goiaba de mesa (514 t/ha) no distrito de Amparo e o cultivo de morango (58 t/ha) em Campo do Coelho e Barracão dos Mendes, sendo NF o maior produtor no RJ. Embora a produção de ponkan se apresente com maior área, seu cultivo é distribuído por diversos distritos. A banana tem 412 ha. plantadas, predominantemente em Lumiar e localidades adjacentes e o caqui com 333 ha., em Córrego Dantas e Janela das Andorinhas. Gráfico 08: Produção anual de fruticultura nas PRC em NF * Valor em área plantada: 2.114 ha 10% Ponkan 3% 26% Goiaba Banana 18% Caqui Morango Outros 24% 19% Fonte: PMNF-SMA, 2004. O gráfico 09 mostra que 60% da área preservada com Mata Atlântica, com fragmentos em reconstituição e capoeira, o que indica uma consciência ambiental por parte dos agricultores, porém apenas 1% da área rural encontra-se na modalidade de pousio ou descanso da terra. Gráfico 09: Cobertura vegetal das PRC em NF. 1% 39% 60% Mata Atlântica/Reconstituída/Capoeira Pastagens/Ref./Lavoura Pousio/Descanso Fonte: PMNF-SMA, 2004. Os gráficos 10 e 11 referem-se à utilização de estufas nas PRC, onde a adoção de estufas para produção de mudas já atinge 18%, o que garantem mudas de melhor qualidade. A utilização de estufas de cultivo é mais restrita às propriedades rurais com floricultura, principalmente em Vargem Alta e Riograndina. Gráfico 10: Utilização de estufas para mudas nas PRC em NF Número Total de Propriedades: 1.268 18% 82% Utilizam estufa de mudas Não utilizam estufa de mudas Fonte: PMNF-SMA, 2004. Gráfico 11: Utilização de estufas para cultivos nas PRC em NF Número Total de Propriedades: 1.268 5% 95% Utilizam estufa de cultivo Não utilizam estufa de cultivo Fonte: PMNF-SMA, 2004. O gráfico 12 mostra que a maioria dos produtores rurais comercializa seus produtos na propriedade e parte deles comercializa seus produtos na CEASA-Conquista (Mercado do Produtor da Região Serrana) ou CEASA-Irajá-RJ. Gráfico 12: Modalidades de comercialização indireta da produção nas PRC de NF 1% 6% Número Total de Propriedades: 1.268 19% 19% 55% Compradores na propriedade Compradores na CEASA-RJ Compradores na CEASA-NF Compradores no Mercado do Produtor de Água Quente Outros Fonte: PMNF-SMA, 2004. O gráfico 13 mostra que, aproximadamente, 1/6 das propriedades comercializam diretamente seus produtos. Parte dos produtores leva seus produtos para feiras, mercearias, restaurantes, pousadas e hotéis. Gráfico 13: Modalidades de comercialização direta da produção nas PRC de NF Número Total de Propriedades: 1.268 Feiras Mercearias 18% Supermercados Restaurantes 2% 4% 44% 5% Pousadas Hotéis Outros 9% 18% Fonte: PMNF-SMA, 2004. O gráfico 14 mostra que grande parte das propriedades rurais usa microtrator que, embora altere parte das qualidades do solo, ainda é um equipamento que supre a falta de mão-deobra e otimiza o escasso tempo, principalmente dos olericultores; a tração animal é pouco usada, apenas 8% e, menos ainda picadeira e roçadeira (7% e 4% respectivamente). A própria topografia acidentada do município impede o uso de máquinas em muitas lavouras. Gráfico 14: Uso de máquinas nas PRC em NF Número Total de Propriedades: 1.268 7% 4% Microtrator Trator 5% Tração Animal 8% 48% Picadeira Roçadeira Outros 28% Fonte: PMNF-SMA, 2004. O gráfico 15 mostra que 981 das PRC (77%) possuem o documento de ITR (Imposto Territorial Rural), é um número significativo, mas o município pretende aumentar ainda mais o número de propriedades que pagam ITR. Gráfico 15: PRC que pagam ITR em NF Número Total de Propriedades: 1.268 Possuem ITR Não possuem ITR 23% 77% Fonte: PMNF-SMA, 2004. O gráfico 16 mostra que a maioria das PRC não recebe assistência técnica. A assistência pública (Emater-Rio, reuniões de associações, boletins de produção, INSS etc.) cobre ¼ do número de PRC, enquanto a assistência particular cobre 18 %. Isso retrata a necessidade de mais investimentos em assistência técnica por meio de políticas publicas em prol da AF. Gráfico 16: Assistência técnica às PRC em NF Número Total de Propriedades: 1.268 Não assistida Pública 18% Particular 25% 57% Fonte: PMNF-SMA, 2004. O gráfico 17 mostra que serviços de infra-estrutura (estrada, asfalto), saúde e comunicação estão entre suas principais reivindicações. Gráfico 17: Reivindicações dos produtores rurais cadastrados em NF 4% 1% 1% 3% 3% 21% 4% 4% 5% 5% 20% 11% 18% Estrada Posto Médico Telefone Asfalto Mais Horário de Ônibus Colégio de 5ª à 8ª Série Linha de Ônibus Telefone Público Energia Elétrica Ensino Médio Policiamento Saneamento Básico Outros Fonte: PMNF-SMA, 2004 4. Considerações finais Diante da apreciação realizada sobre agricultura familiar e desenvolvimento rural sustentável, observamos que o desenvolvimento rural sustentável, as políticas de desenvolvimento local, a sustentabilidade do desenvolvimento (econômico, ecológico e social), bem como os conceitos e histórico da agricultura familiar, diante de uma análise sobre a política atual, centrada no Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (PRONAF), estão alinhados com os princípios da sustentabilidade nas políticas públicas brasileiras direcionadas aos agricultores familiares. Foi como resultado de luta e resistência ao pensamento hegemônico que as organizações dos agricultores familiares celebraram a criação do PRONAF, em 1996, considerado uma conquista de espaço político e de acesso a recursos públicos. Mesmo presentes em 85% dos estabelecimentos rurais brasileiros, os agricultores familiares não haviam ainda usufruído de uma política pública específica a eles dirigida. Ao ser criado, o PRONAF deu visibilidade ao papel da agricultura familiar na produção de alimentos e também a outras funções pouco valorizadas, como a geração de empregos e a manutenção de valores culturais. A forma de concepção e o desenho do PRONAF indicam a intenção de que o programa fosse transformador em termos de gestão participativa de recursos públicos e demonstra que os agricultores familiares foram valorizados enquanto agentes necessários à consolidação do federalismo cooperativo. Também em termos de propósitos transformadores, destaca-se sua intenção em contribuir para a promoção do desenvolvimento sustentável no País. Alinhado ao processo de transformação mundial, o Brasil também assume o compromisso de construção do desenvolvimento sustentável, o que “coloca-se como um grande desafio para o século XXI, seja no nível teórico, pelas promessas e pela imprecisão conceitual que ele traz consigo; seja no nível empírico, pelas escassas experiências de sucesso e pelas dificuldades práticas ainda hoje vivenciadas” (DUARTE e WEHRMANN, 2003, p.9). Como política setorial, o PRONAF se insere nesse desafio. O programa é um exemplo das dificuldades de se traduzir os conceitos emanados da Rio-92 em ações públicas concretas. Teoricamente o programa defende um novo modelo agrícola nacional, mas não especifica que modelo seria esse, e, na prática, apresenta inconsistência para sua implementação. A concepção do PRONAF demonstra claramente, primeiro no Ministério da Agricultura e depois no Ministério do Desenvolvimento Agrário, por meio da Secretaria de Agricultura Familiar, que essa política setorial continua distante do desafio de conciliar o crescimento da produção agrícola com a preservação ambiental e o compromisso público com a sustentabilidade (ALTAFIN, 2003). A definição de agricultores familiares como beneficiários do programa indica possibilidades de avanço em termos da dimensão social da sustentabilidade, na perspectiva de redução da desigualdade de renda, por exemplo. No entanto, o PRONAF pouco propõe quanto a questões relativas ao meio ambiente, sendo que a componente ambiental sequer foi considerada quando do desenho do programa. Mesmo depois, quando o PRONAF passa para o Ministério do Desenvolvimento Agrário, no momento de sua criação em 1999, são realizadas diversas reformulações, mas mesmo assim continuam restritos os avanços em termos da promoção da sustentabilidade. O programa mantém um recorte de divisões político-administrativas e deixa de incorporar as abordagens apresentadas pela Comissão de Políticas de Desenvolvimento Sustentável que, a partir das especificidades das questões ambientais e das diferenças de dinâmicas na ocupação agrícola do território brasileiro, trabalha sobre a noção de agroecossistemas, como a mata atlântica, a caatinga, os cerrados, o pantanal e as florestas amazônicas. Em se tratando de sustentabilidade ecológica é primordial preocupar-se com a preservação e conservação do meio ambiente. E isso pode ser viabilizado com a implementação da nova Lei de Assistência Técnica e Extensão Rural, sancionada pelo Governo Federal em 2010. Como se vê, os gráficos apresentados retratam o CGPR realizado pela PMNF-SMA, com o objetivo de implementar projetos de assistência técnica e melhoria dos processos de atendimento aos produtores rurais de NF, em especial os agricultores familiares, por meio da SMA e Emater-Rio. Foi observado também que, NF apresenta uma variedade bastante considerada de agricultores familiares, com destaque para os produtores de flores de corte, onde a rosa, crisântemo, palma, copo de leite, gipson, tango, áster e outras contribuem significativamente para geração de renda no município. Dentre as fruteiras cultivadas no município, se destacam a goiaba, o morango, o caqui, a pokan, a banana, a lima da pérsia. Dentre as hortaliças ou olerícolas, destacam-se a alface e a salsa, a couve-flor e o tomate. Entretanto, o município produz dezenas de outras hortaliças, que vão desde o repolho e o brócolis até a rara couve de Bruxelas. Nesse cenário, o CGPR apresenta o município de Nova Friburgo como um dos maiores produtores de alimentos no Estado do Rio de Janeiro, com significativa contribuição para o agronegócio no Brasil. 5. Referências ABRAMOVAY, Ricardo e VEIGA, José Eli da. (1999) Novas instituições para o desenvolvimento rural: o caso do Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (PRONAF). Convênio FIPE/IPEA 07/97. Brasília: IPEA. ABRÚCIO, Fernando L. e COUTO, Cláudio G. (1996) A redefinição do papel do Estado no âmbito local. São Paulo em perspectiva. São Paulo: Fundação SEADE, 10 (3): p. 40-47. ALTAFIN, Iara Guimarães. (2003) Sustentabilidade, políticas públicas e agricultura familiar: uma apreciação sobre a trajetória brasileira. Tese de Doutorado (UnB-CDS). Universidade de Brasília - Centro de Desenvolvimento Sustentável. BARONI, Margaret. (abril a jun 1992) Ambigüidades e deficiências do conceito de desenvolvimento sustentável. Revista de Administração de Empresas, São Paulo, 32 (2): p. 14-24. BATISTELA, Everton Marcos. (2000) Agricultura familiar e desenvolvimento rural: avaliação da implementação do PRONAF no município de São Jorge d´Oeste–PR. Curitiba, PR: 2000, 213p. Dissertação (Mestrado em Sociologia). Universidade Federal do Paraná. CAMPANHOLA, Clayton e GRAZIANO da SILVA, J. (mar 1999) Diretrizes de políticas públicas para o novo rural brasileiro. Seminário internacional “O Novo Rural Brasileiro”. Campinas: IE/UNICAMP – Projeto Rurbano. CARNEIRO, Maria J. (abr 1997) Política pública e agricultura familiar: uma leitura do Pronaf. o Estudos Sociedade e Agricultura, n 8, p. 70-82. CARNEIRO, Maria J. (mar 1999) Política de desenvolvimento e o “Novo Rural”. Seminário internacional “O Novo Rural Brasileiro”. Campinas: IE/UNICAMP – Projeto Rurbano. CERNEA, Michael M. (dez 1993) Como os sociólogos vêem o desenvolvimento sustentável. Finanças e desenvolvimento, Washington, D.C., p. 11-13. DUARTE, Laura e WEHRMANN, Magda. (2003) Desenvolvimento e sustentabilidade: desafios para o século XXI. Brasília: UnB. FALCÃO, Roberta Borges de Medeiros e OLIVEIRA, Ana Paula da Silva. (2004) Desenvolvimento rural sustentável: um guia prático para as comunidades do semi-árido Nordestino. PROASNE. COOPERAÇÃO BRASIL-CANADÁ. Disponível em: http://proasne.net/desenvolvimentosustentavel.html. Acesso em: 20 Dez 2009. INSTITUTO NACIONAL DE COLONIZAÇÃO E REFORMA AGRÁRIA. Organização das Nações Unidades para Agricultura e Alimentação. (1996) Perfil da Agricultura Familiar no Brasil: dossiê estatístico. Brasília: INCRA/FAO. MINISTÉRIO DO DESENVOLVIMENTO AGRÁRIO. Secretária de Agricultura Familiar. (2002) Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar, 2002. Relatório Institucional. Brasília: MDA/SAF/PRONAF. MINISTÉRIO DO PLANEJAMENTO, ORÇAMENTO E GESTÃO. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. (2009) Censo Agropecuário 2006. Agricultura Familiar: primeiros resultados – Brasil, grandes regiões e unidades da federação. Rio de Janeiro: MPOG/IBGE. OLIVEIRA, Alda Maria de. (mai 2004) Agricultura de montanha no município de Nova Friburgo: desafios e potencialidades numa proposta de inclusão social e sustentabilidade ambiental. Nova Friburgo, RJ: PMNF-SMA. PREFEITURA MUNICIPAL DE NOVA FRIBURGO. Secretaria Municipal de Agricultura. (2004) Cadastro geral de produtor rural. Nova Friburgo, RJ: PMNF-SMA. PREFEITURA MUNICIPAL DE NOVA FRIBURGO. Secretaria Municipal de Agricultura. (nov 2009) Plano Safra da Agricultura Familiar. Nova Friburgo, RJ: PMNF-SMA. REES, Colin. (dez 1993) Como os ecologistas vêem o desenvolvimento sustentável. Revista Finanças e Desenvolvimento, p.14-15. STEER, Andrew e LUTZ, Ernest. (dez 1993) Como medir o desenvolvimento ambientalmente sustentável. Revista Finanças e Desenvolvimento, p. 20-23. TENÓRIO, F.G. (org). (2007) Cidadania e desenvolvimento local. Ijuí/RS: Unijuí.