Anais do XVII Encontro de Iniciação Científica e II Encontro de Iniciação em Desenvolvimento Tecnológico e Inovação da PUC-Campinas 25 e 26 de setembro de 2011 ISSN 1982-0178 A formação continuada de professores dos primeiros anos do Ensino Fundamental nos anos iniciais de docência nas teses e dissertações Élica Massola Kovalski Faculdade de Educação Centro de Ciências Humanas e Sociais aplicadas [email protected] Resumo: Esta pesquisa constituiu-se da análise de teses e dissertações que tenham como foco de análise as ações de professores de anos iniciais do Ensino Fundamental em suas primeiras experiências docentes. Foram buscadas as concepções de formação docente em suas vertentes referentes à formação inicial e à formação continuada, bem como aspectos relacionados aos dilemas e dificuldades de atrelamento dos saberes constituídos durante a graduação de Pedagogia, mais especificamente nos saberes que envolvem a matemática que são refletidos, utilizados e transformados na prática docente dos professores em início de suas carreiras ou na formação continuada. As teses e dissertações foram coletadas no Banco de teses e dissertações da CAPES — Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior, entre os anos de 2001 e 2010. Numa primeira seleção utilizamos os descritores: formação inicial, formação continuada e formação docente, combinados com as expressões: anos iniciais; séries iniciais e ensino fundamental, quando coletamos 510 trabalhos entre teses e dissertações. A partir da leitura dos títulos e resumos, reduziu-se o número de investigações para 70, das quais 32 não foram localizados, nem no banco de teses e dissertações da CAPES, nem nas suas instituições de origem. Assim, o repertório utilizado para a análise foi de 38 trabalhos, 31 dissertações de mestrado e sete teses de doutorado. As pesquisas evidenciam que é preciso entender, refletir, buscar a compreensão dos problemas presentes na prática profissional, seja no processo de formação inicial ou continuada, para que se torne possível montar uma estratégia de mudança na formação de professores que vise uma melhor qualidade da educação básica. Os estudos realizados sobre o assunto apontam deficiências na formação inicial dos professores que nos fazem refletir e destacar a importância de termos cursos de formação de professores de boa qualidade, que possam contribuir Dra Maria Auxiliadora Bueno Andrade Megid Programa de Pós -graduação em Educação Mestrado em Educação Centro de Ciências Humanas e Sociais Aplicadas [email protected] de forma positiva nas práticas educativas institucionais. Palavras-chave: formação docente; anos iniciais de docência; formação continuada. Área do Conhecimento: Ciências Humanas – Educação — PIBIC/ CNPq. 1. INTRODUÇÃO Este trabalho de Iniciação Científica teve por objetivo fazer um levantamento de teses e dissertações que abordavam a temática da formação inicial e continuada de professores que desempenham seu papel nos anos iniciais do Ensino Fundamental. Buscamos as concepções de formação inicial ou continuada e concepção de formação matemática dos autores, encontradas nas pesquisas. Para a busca utilizamos o Banco de teses e dissertações da CAPES — Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior. Iniciamos a procura das investigações que nos interessavam a partir da utilização dos descritores: formação inicial, formação continuada e formação docente combinados com as expressões anos iniciais, séries iniciais e ensino fundamental. Interessava-nos os pertencentes à primeira década deste século, ou seja, do ano de 2001 ao de 2010. Desenvolvemos neste estudo uma análise de conteúdo qualitativa, com o objetivo de compreender e relacionar as concepções dos diferentes pesquisadores em educação matemática sobre a formação inicial e continuada de docentes que atuam nos primeiros anos do Ensino Fundamental no que se refere ao trabalho com a matemática. Justifica-se pela intenção de se buscar diferentes formas de conceber a formação inicial e continuada e os saberes matemáticos, constituídos no exercício da docência no Ensino Fundamental, trazidos pelos diversos autores em suas dissertações ou teses. Trata-se do resultado de uma pesquisa de Iniciação Científica que subsidia uma maior de responsabilidade da Professora Doutora Maria Auxiliadora Bueno Andrade Megid, orientadora Anais do XVII Encontro de Iniciação Científica e II Encontro de Iniciação em Desenvolvimento Tecnológico e Inovação da PUC-Campinas 25 e 26 de setembro de 2011 ISSN 1982-0178 deste trabalho. A pesquisa é intitulada “As narrativas pedagógicas no desenvolvimento profissional de professores em início de carreira: um estudo sobre os impactos e a permanência das aprendizagens construídas no curso de Pedagogia” que buscou conhecer as ações docentes de professores recém egressos do curso de Pedagogia, destacando as contribuições dos estudos realizados durante a formação inicial. Inicialmente foram coletados 510 trabalhos, entre teses e dissertações. A partir de uma segunda seleção realizada pelos títulos e resumos reduziu-se o número de trabalhos para 70. Esta seleção se deu em função de que muitos trabalhos abordavam questões relacionadas a outras áreas de ensino, como Ciências, por exemplo. Outros não abordavam, de maneira específica, a formação de professores, embora trouxessem aspectos relacionados ao início de carreira. Outros ainda desenvolveram pesquisas sobre a formação de professores de matemática, seus primeiros anos de docência. Dentre os 70 selecionados, apenas foi possível encontrar o texto na íntegra de 38 trabalhos, sendo 31 de mestrado e sete de doutorado. Após a leitura dos mesmos ocorreu uma seleção final de nove, sobre os quais nos debruçamos para análise. Ao final desta iniciação, é possível compreender que a formação de professores, no que se refere ao trabalho com a matemática nos anos iniciais do ensino fundamental ainda é pouco explorado nas dissertações e teses. Nos trabalhos onde esta formação foi abordada, as considerações dos autores indicam haver necessidade de se empreender maiores investimentos em tal formação, uma vez que são verificadas carências relacionadas ao saber do conteúdo matemático, às ações para seu ensino, aos recursos oferecidos nas escolas. Nos dizeres dos autores, uma estratégia que se faz urgente é a de estreitar as relações entre as pesquisas da Universidade e as ações da escola. 2. A Metodologia utilizada na pesquisa Na busca de analisar os trabalhos que pesquisamos, foi necessário buscar caminhos metodológicos que nos auxiliassem. A partir de estudos realizados, indicamos que nossa pesquisa se enquadra no enfoque metodológico da análise de conteúdo. Para Fiorentini e Lorenzato, (2006, p. 138), entende-se como análise de conteúdo um estudo minucioso de conteúdo, das palavras e frases que dele fazem parte, buscando o sentido e captando as intenções, as divergências, avaliando e rejeitando os aspectos que não contribuem ou não são essenciais. Retomamos que o levantamento de dados foi feito a partir da busca de teses e dissertações do campo da educação brasileira, que apresentassem concepções relacionadas aos saberes de professores em início de carreira ou em ações de formação continuada relacionados à matemática. Durante o percurso, ocorreram algumas dificuldades que se relacionavam à clareza dos resumos apresentados nos trabalhos. Muitos traziam poucas informações sobre a pesquisas. Encontramos trabalhos que não especificavam se abordavam a formação inicial ou continuada; outros não especificavam a área de atuação profissional (educação infantil, ensino fundamental I ou II, ensino médio). Foram encontrados resumos com apenas duas ou três linhas e em outros trabalhos o resumo não foi apresentado na plataforma do site da CAPES. Com isto configuramos mais um quadro com 70 teses e dissertações que tratavam de forma direta a formação, inicial ou continuada de professores, e que abordava a educação matemática. Na busca dos textos das teses e dissertações na íntegra, verificamos que apenas duas universidades (UNICAMP e USP) disponibilizam, em rede, todo o seu acervo de pesquisas com possibilidade de executar o download. Quase a totalidade dos trabalhos foi por nós encontrada a partir de sites de busca não institucionais (o GOOGLE, por exemplo). Foi possível trabalhar então com apenas nove pesquisas que abordavam nossos interesses com objetividade. A seguir apresentamos os autores e anos de defesa: Maria Stefani Rocha, 2005, Mestrado; Maristela Gonçalves Gomes, 2006, Doutorado; Justina Inês Carbonera Motter Maccarini , 2007, Mestrado; José Paulino Filho, 2008, Mestrado; Teresa Cristina Etcheverria, 2008, Doutorado; Waldiney Trujillo, 2009, Mestrado; Luana Toricelli, 2009, Mestrado; Eliene Maria Alves Dias, 2010, Mestrado; Valdirene Gomes de Sousa, 2010, Mestrado. 3. Análises dos dados Conforme já indicado, nos propusemos a verificar nos trabalhos pesquisados quais as concepções dos autores sobre formação de professores de maneira geral e também mais especificamente nos âmbitos da formação inicial e/ou continuada. E, de maneira Anais do XVII Encontro de Iniciação Científica e II Encontro de Iniciação em Desenvolvimento Tecnológico e Inovação da PUC-Campinas 25 e 26 de setembro de 2011 ISSN 1982-0178 específica, suas concepções relacionadas ao ensino de matemática. A seguir, trazemos nossas análises. 3.1 Formação de Professores Filho (2008) nos traz em seu trabalho que o processo de formação de professores não pode ser concebido como a imposição de um conjunto de “verdades” e sim como um processo de troca e criação coletiva e que, quem conduz intervém com certos conhecimentos e competências, mas está igualmente a aprender com os outros. Rocha (2005) entende que o conceito de formação está agregado a alguma atividade do docente, até mesmo as artesanais. A formação é compreendida como uma função social de transmissão de saberes, de saber-fazer ou saber-ser, que exerce em benefício do sistema sócio econômico ou da cultura dominante. A autora defende que a formação inicial ocorre juntamente com o conhecimento pedagógico e que “as instituições formadoras devem potencializar um conhecimento didático do conteúdo a ensinar” (ROCHA, 2005, p. 49). Os trabalhos também tomam como importante o exercício de inter-relação entre pessoas para a concretização deste processo. Rocha (2005) indica que este exercício, inter-relação-ação, promove contextos de aprendizagens que facilitam o complexo desenvolvimento dos indivíduos. Gomes (2006) defende que o trabalho coletivo favorece o desenvolvimento da reflexão sobre a sua própria prática pedagógica, uma vez que este proporciona uma aprendizagem dinâmica, diversificada e mais rica em diversos aspectos. Destaca também que as práticas reflexivas, na medida em que envolvem grupos de professores em trabalhos colaborativos, podem se constituir em uma maneira muito eficaz de enfrentar dúvidas, lidar com incertezas, angústias e dissabores. A concepção de reflexão sobre a própria prática está presente nas idéias de Maccarini (2007). A autora traz que é possível estabelecer a formação continuada como uma variedade de possibilidades e aprendizagens. E ressalta que o professor aprenderá muito a partir da reflexão sobre sua prática profissional. Por isso indica ser preciso adotar uma perspectiva de formação que dê ênfase à indagação e ao desenvolvimento do conhecimento com base no trabalho e na reflexão dos próprios professores. Isso permite que o professor se veja como um sujeito ativo na sua formação, capaz de gerar conhecimentos e de valorizar o conhecimento produzido por outros e em outros momentos históricos, numa perspectiva crítica e evolutiva (MACCARINI, 2007). Toricelli (2009), que valoriza o grupo de estudos para a continuidade da formação, destaca em seu trabalho a importância de o professor registrar e socializar seus saberes e os acontecimentos ocorridos em sua sala de aula. A autora acredita que os relatos de experiências de professores podem causar reflexão em outros professores e em futuros professores. Os trabalhos estudados por nós também trazem concepções referentes ao curso de formação de professores no âmbito da graduação. Os autores acreditam que participar de um bom curso é fundamental para a possibilidade de realização de uma prática pedagógica de qualidade. Concordando com esta afirmação, Etcheverria (2008) define que a formação é um processo longo que envolve diferentes experiências. Sobre a influência da formação inicial de cada sujeito, defende que a história de formação está vinculada às experiências do passado e do presente e configura-se gradativamente desde às suas vivências acadêmicas até o trajeto profissional. Gomes (2006) destaca que é muito importante se investir no curso de formação de professores, pois este pode configurar-se em um elemento chave para a mudança. Para a autora, o momento da formação inicial é potencializado se houver espaço adequado, ambiente propício, um grupo de estudos. uma equipe colaborativa como uma forma de enriquecer a reflexão individual (GOMES, 2006, p. 31). Sousa (2010) afirma em seu trabalho que o professor universitário deve se subsidiar na pesquisa para contextualizar a formação dos professores, pois a pesquisa se torna importante na sala de sala. Pensa na formação inicial como um importante momento de determinar o modo de construir a profissionalidade docente. Trujillo (2009) explica que a formação inicial é o ponto de partida para a carreira profissional, por isso é ela que auxilia na configuração do profissional que queremos. O curso que forma educadores deve ter uma atenção maior para a formação de docentes que sejam capazes de problematizar e mobilizar os conhecimentos, objetivando maior análise de situações da prática profissional. Conclui que as universidades devem propiciar aos futuros professores conhecimentos mais abrangentes, do ponto de vista dos saberes docentes, curriculares e experienciais pedagógicos, para melhor desenvolver a práxis pedagógica, obtendo maior interação e integração com a sua comunidade específica. Anais do XVII Encontro de Iniciação Científica e II Encontro de Iniciação em Desenvolvimento Tecnológico e Inovação da PUC-Campinas 25 e 26 de setembro de 2011 ISSN 1982-0178 Dias (2010) pontua que a formação docente do professor, que na atualidade não mais é considerado um mero transmissor, pode ser substituída por desenvolvimento profissional, o que implicar em abandonar a ideia de que formar professor é apenas oferecer conhecimentos específicos da área e reconhecê-lo como sujeito ativo. A autora entende como necessária a construção do professor em pelo menos três dimensões: “a do sujeito de saberes, conhecimentos conceituais, subjetivos e culturais; a do sujeito reflexivo acerca do processo de ensino e aprendizagem, e de si mesmo; e a do sujeito mediador desse conhecimento” (DIAS, 2010, p. 48). Essa concepção implica a formação de um sujeito capaz de criar situações inovadoras para a produção de conhecimentos e que contribui e auxilia na mobilização de conhecimentos do aluno. Ligadas a essas novas ideias sobre as ações do professor, encontra-se a identidade de professor como profissional possuidor de “saberes experimentais ou práticos”. Inferimos, a partir das leituras feitas que a formação do professor deve ser entendida, acima de tudo, como uma prática reflexiva. Tomando esse princípio como ponto de partida, a formação, sendo de âmbito inicial ou continuada, torna-se um instrumento muito mais valioso para o exercício da docência com qualidade, uma vez que a prática reflexiva a subsidia e a aperfeiçoa. Intrinsecamente ligada à prática reflexiva entendemos que a pesquisa do professor também se caracteriza como um instrumento importante de formação, pois, além de exigir a imersão do sujeito em sua profissão, permite a reflexão sobre sua própria prática pedagógica e facilita o desenvolvimento de capacidades como a de transformação ou criação de ações que auxiliam no desenvolvimento da aprendizagem do aluno. 3.2 Concepções de Ensino de Matemática Maccarini (2007) e Rocha (2005) acreditam que cada área do conhecimento tem sua especificidade própria, por isso, para ensiná-la é preciso seguir três vertentes apontadas por Shulman (1992): o conhecimento do conteúdo da disciplina; o conhecimento didático do conteúdo da disciplina e o conhecimento do currículo. Maccarini (2007) propõe um ensino reflexivo a partir do domínio desse conjunto de conhecimentos. Para a autora a reflexão sobre a prática durante a prática e sobre o processo de ensino aprendizagem na educação matemática pode levar o professor a mudanças de atitudes, crenças e concepções sobre a matemática e seu ensino, assim como na relação que o professor estabelece com a própria disciplina. Portanto, para a autora, é fundamental que o professor que ensina matemática ressignifique sua prática, refletindo sobre ela, desenvolvendo “nova postura frente à sua própria formação e ao seu papel no desempenho da profissão” (MACCARINI, 2007, p. 56). Ainda sobre o domínio do conhecimento matemático, Dias (2010) defende que a importância de o professor ouvir e compreender como o seu aluno constrói a matemática e acredita que para a construção desse saber é necessário o domínio de outros conhecimentos, como os curriculares e os pedagógicos. Souza (2010) também faz uma interpretação sobre o domínio do saber matemático e defende que apenas “dominar” a matemática é insuficiente para ser um bom professor, pois a formação matemática do futuro professor exige uma abordagem mais ampla e consistente que venha, de fato, abarcar as necessidades dos sujeitos envolvidos, ou seja, professores e alunos. Num âmbito geral, a autora pensa que a organização do trabalho com a disciplina de Metodologia da Matemática deve abordar os discursos sobre matemática e educação, sobre a realidade da sala de aula e ainda fazer pontes entre o conteúdo matemático e sua forma de desenvolvimento com a realidade educacional. Tal organização da referida disciplina é um modo de estimular e desenvolver, no professor que trabalha nos anos iniciais da escolaridade, a capacidade de atuar com firmeza e refletir sobre sua prática. Há a necessidade da pesquisa para a realização de um trabalho de construção e compreensão dos conteúdos matemáticos pela criança. Gomes (2006) destaca que a formação não deve ser limitada apenas à análise e constituição de um currículo. “[...] se quisermos mudar o que se passa nas escolas, é preciso mais que alterar currículos ou publicar materiais de apoio, é necessário investir na formação de professores, pois estes caracterizam-se como elemento-chave na mudança” (GOMES, 2006, p. 36). Indica que os cursos de formação devem preocupar-se, ao preparar o professor que vai ensinar matemática para os anos iniciais, proporcionar ações que envolvam os futuros docentes em ações que proporcionem às crianças a construção de conhecimentos. Devem assim proporcionar experiências que desafiem o aluno/futuro professor intelectualmente. Mais que aprender matemática nos cursos de formação é necessário desenvolver atitudes de investigação, de questionamentos relacionados às práticas em matemática, enfim, uma abertura para a experimentação e inovação. Destaca que para ensinar matemática o professor deve conhecer os con- Anais do XVII Encontro de Iniciação Científica e II Encontro de Iniciação em Desenvolvimento Tecnológico e Inovação da PUC-Campinas 25 e 26 de setembro de 2011 ISSN 1982-0178 ceitos, as técnicas e os procedimentos que utilizará nas suas práticas pedagógicas. Porém, tais concepções devem ir além do saber fazer, tendo se apropriado dos significados e das razões pelas quais utiliza determinados procedimentos. Etcheverria (2008) diz que é necessário na formação dos professores o aprofundamento dos conceitos fundamentais e das relações da matemática com as outras disciplinas. Esse processo se faz necessário “para que se possa tentar corrigir as deformações e lacunas residuais ou estruturais de formação matemática no ensino fundamental e remover o alto índice de rejeição a esta área” (MOURA 2005, p.19 apud ETCHEVERRIA, 2008, p). É preciso uma proposta direcionada em que haja uma relação efetivamente mais positiva para com a matemática, estabelecendo um relacionamento satisfatório com essa área do conhecimento. Se isso não ocorrer é possível que se desenvolva nas crianças os mesmos bloqueios que os professores tiveram quando estudaram matemática. Além disso, é importante que estejam bem preparados, pois atuarão junto às crianças tanto na educação infantil como nos anos iniciais, e esse é o momento em que se formam as bases do pensamento e da linguagem, a partir da construção de conceitos. Toricelli (2009) ressalta a importância de que se tente romper com o modelo de que a matemática é um saber pronto e acabado que muitos professores e formadores possuem. Este modelo é prejudicial porque instala uma postura passiva nos alunos. Geralmente os professores passam muitos exercícios repetitivos seguindo um padrão de resolução, e acreditam que são os únicos seres detentores do conhecimento. A autora defende que é preciso envolver os futuros professores que ensinarão matemática nos anos iniciais em um processo de investigação e resolução de problemas, compreendendo que esta disciplina fica em constante desenvolvimento no processo de formação dos alunos. Ancorada em Cunha (2007) sugere como saída proporcionar aos futuros professores a chance de produzir as memórias do tempo de escola, analisando criticamente as lembranças escolares. Tal ação permite que estes reflitam sobre qual tipo de professor desejam ser. Esse papel remete à compreensão de uma estratégia formativa na aprendizagem docente e sobre a docência. Trujillo (2009) defende ser necessário que o professor veja o aluno como protagonista da construção de sua aprendizagem e se baseia nos Parâmetros Curriculares Nacionais (2001) para destacar que profes- sor deve preocupar-se em ser o organizador da aprendizagem, consultor da aprendizagem, mediador, incentivador da aprendizagem e ainda proporcionar um ambiente de trabalho estimulador. Defende que o processo de ensino e aprendizagem deve ser caracterizado pelo diálogo intelectual professor – objeto real – conhecimento sistematizado e que a prática da pesquisa pode ser uma ferramenta aliada para a compreensão da realidade. Baseado em Charny (1996) propõe três modelos de estratégias de aprendizagem: Normativo (centrado no conteúdo); Incitativo (Centrado no aluno) e Aproximativo (centrado na construção do saber pelo aluno). Conclui que os dois primeiros modelos se enquadram no modelo tradicional e o terceiro prima por uma lógica da construção do conhecimento a partir da construção de conceitos. Indica que a estrutura educacional deve ser (re)pensada no sentido primeiro: o da construção do conhecimento pelo aluno, onde haverá no docente uma postura dialética promovendo o desenvolvimento do pensamento autônomo. A partir das leituras realizadas, é possível depreender que a dificuldade em ensinar a matemática aparece devido a não superação das experiências frustradas com a disciplina no período inicial de escolarização. Isso nos permite concluir que o processo de formação é fundamental para que o aluno — futuro professor — explore a disciplina o suficiente a fim de desmistificar seus “temores”, “frustrações” e “inseguranças”. 4. Considerações Finais Ao final desta pesquisa se faz possível ampliar nossas concepções relacionadas à formação de professores, de maneira específica no que se refere ao ensino de matemática nos anos iniciais do ensino fundamental. Verificamos que há diferentes concepções relacionadas a ensinar esta disciplina nesta fase escolar. Há os que julguem, por exemplo, pertinente abordá-la a partir da transmissão de conteúdos, desconsiderando as habilidades que os alunos possuem. Ou seja, as pesquisas nos esclarecem que é preciso entender, refletir, buscar a compreensão dos problemas vivenciados na prática profissional, tanto no que se refere ao processo de formação inicial quanto nos aspectos abordados na formação continuada. Os trabalhos estudados nos apontam diversas características presentes em uma formação que se constitui um tanto deficiente, uma vez que traz consequências devastadoras para os envolvidos na prática educativa (professores e alunos). Dessa forma é possível inferir que o processo de estudo e Anais do XVII Encontro de Iniciação Científica e II Encontro de Iniciação em Desenvolvimento Tecnológico e Inovação da PUC-Campinas 25 e 26 de setembro de 2011 ISSN 1982-0178 pesquisa da formação de professores que vão ensinar matemática para os anos iniciais se faz fundamental e pode trazer contribuições significativas a esse respeito. Podemos concluir que é papel do professor formador, durante a preparação de seu aluno — futuro professor —oferecer e exercitar a prática da pesquisa em suas aulas para que estes levem esse conceito para sua prática profissional, também permitindo que seus alunos a exercitem. REFERÊNCIAS [1] CHARNY, Roland. Aprendendo (com) a Resolução de Problemas. In: PARRA, C. & SAIZ, I. (orgs) Didática da Matemática: reflexões psicopedagogia; trad. Juan Acuña Llorens. Porto Alegre: Artes Médicas, 1996, p. 36-47. [2] CUNHA, Renata Barrichelo. Lembranças de Escola na Formação Inicial de Professores. In: PRADO, Guilherme do Val Toledo; CUNHA, Renata Barichelo. Percurso de Autoria: exercícios de pesquisa. Campinas, SP: Alínea, 2007.226p. [3] DIAS, Eliene Maria Alves. Articulação entre a Formação Inicial na Pedagogia e a Práxis Pedagógica em Educação Matemática. 2010. 278p. Dissertação (Mestrado em Educação) – Faculdade de Educação, Universidade de Brasília, Brasília. [4] ETCHEVERRIA, Teresa Cristina. Educação Continuada em Grupos de Estudos: Possibilidades Com Foco No Ensino Da Geometria. 2008. 102p. Dissertação (Mestrado em Educação: Educação em Ciências e Matemática) – Faculdade de Física, Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, Porto Alegre. [5] FILHO, José Paulino. Professores em Contexto Formativo: um estudo do processo de mudança de concepção sobre o ensino da matemática. 2008. 254p. Tese (Doutorado em Educação) – Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal. [6] FIORENTINI, Dario; LORENZATO, Sérgio. Investigação em Educação Matemática: percursos teóricos e metodológicos. Campinas, SP: Autores Associados, 2006. [7] GOMES, Maristela Gonçalves. Obstáculos na Aprendizagem Matemática: identificação e busca de superação nos cursos de formação de professores das séries iniciais. 2006. 161p. Tese (Doutorado em Educação: Educação Científica e Tecnológica) - Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis. [8] MACCARINI, Justina Inês Carbonera Motter. Contribuições da Formação Continuada em Educação Matemática à Prática do Professor. 2007. 216p. Dissertação (Mestrado em Educação: Práticas Pedagógicas: elementos Articuladores) – Universidade Tuiuti do Paraná,Curitiba. [9] MOURA, Anna Regina Lanner de. Conhecimento matemático de professores polivalentes. Revista de Educação, Campinas, n. 18, p.17-23, jun. 2005. [10] ROCHA, Maria Stefani. Professores Polivalentes das Séries Iniciais do Ensino Fundamental: concepção da formação e do ensino de matemática. 2005. 270p. Dissertação (Mestrado em Educação: Educação Escolar e Formação de Professores) – Universidade Católica Dom Bosco, Campo Grande. [11] SHULMAN, L. (1992): Renewing the Pedagogy of Teacher Education: The Impact of SubjectSpecific Conceptions of Teaching, in MONTERO MESA: Las didácticas específicas en la formación del profesorado. Santiago de Compostela, Tórculo Edicións. [12] SOUSA, Valdirene Gomes de. Da Formação à Prática Pedagógica: uma reflexão sobre a formação matemática do pedagogo. 2010. 220p. Dissertação (Mestrado em Educação: Ensino, Formação de Professores e Práticas Pedagógicas) – Universidade Federal do Piauí, Teresina. [13] TORICELLI, Luana. A colaboração em um Grupo de alunas da Pedagogia que Ensinam (ou ensinarão) Matemática. 2009. 212p. Dissertação (Mestrado em Educação: Matemática, Cultura e práticas Pedagógicas) – Universidade São Francisco, Cuiabá. [14] TRUJILLO, Waldiney. A formação inicial e os conhecimentos do quê e do como ensinar matemática nos anos iniciais do ensino fundamental: encontros e desencontros. 2009. 212p. Dissertação (Mestrado em Educação: Teorias e Prática Pedagógicas da Educação Escolar) – Faculdade de Educação, Universidade Federal de Mato Grosso, Cuiabá.