42º Congresso Bras. de Medicina Veterinária e 1º Congresso Sul-Brasileiro da ANCLIVEPA - 31/10 a 02/11 de 2015 - Curitiba - PR ANEMIA HEMOLÍTICA IMUNOMEDIADA SECUNDÁRIA A PIOMETRA EM CADELA – RELATO DE CASO KAREN CRISTINA DE OLIVEIRA BASTOS¹, NERYSSA ALENCAR DE OLIVEIRA², MÁRIO HENRIQUE THEODORO DE SOUZA², DAIANE GONÇALVES VIEIRA², THAISSA VAZ LOBO², TATHYANE ALBUQUERQUE OLIVEIRA² ¹Universidade Federal de Goiás; ²Veterinário autônomo; Resumo - Este trabalho tem como objetivo relatar caso de anemia hemolítica imunomediada (AHIM) secundária a piometra em cadela. Durante a laparotomia exploratória foi constatado peritonite e ruptura uterina, quatro dias após a intervenção cirúrgica foi observado sinais de hemólise e a AHIM foi confirmada por teste de Coombs. Animal foi submetido a tratamento com antibioticoterapia e corticoterapia imunossupressora e respondeu bem. Palavras-chave: anemia hemolítica imunomediada, piometra; Immune-mediated hemolytic anemia secondary to pyometra in dog - A CASE REPORT Abstract - This work aims to report a case of immune-mediated hemolytic anemia (IMHA) secondary to pyometra in dog. During exploratory laparotomy was found peritonitis and uterine rupture, four days after surgery hemolysis was observed and was confirmed by IMHA Coombs test. Animal underwent treatment with antibiotics and immunosuppressive steroids and responded well. 2112 42º Congresso Bras. de Medicina Veterinária e 1º Congresso Sul-Brasileiro da ANCLIVEPA - 31/10 a 02/11 de 2015 - Curitiba - PR Keywords: imune-mediated hemolytic anemia, pyometra. Introdução - A anemia hemolítica imunomediada (AHIM) é um dos distúrbios hemolíticos mais comuns dos cães (Panek et al. 2015). É caracterizada pela destruição de eritrócitos revestidos por imunoglobulinas, componentes do sistema complemento, ou ambos. Portanto, ocorre destruição direta ou fagocitose dessas células, que resulta na remoção das mesmas da circulação sanguínea (Nassiri et al., 2005). A hemólise pode ser intravascular e/ou extravascular. A intravascular consiste na destruição dos eritrócitos por igM e/ou pelo sistema complemento no interior dos vasos. Em contrapartida, a extravascular ocorre quando eritrócitos revestidos de igG são fagocitados por macrófagos no baço (Horgan et al., 2009). Há duas formas da AHIM: primária e secundária. A primária (ou idiopática) é a forma mais comum. São produzidos auto-anticorpos que combatem antígenos de membrana dos eritrócitos. Por sua vez, a secundária pode ser causada por infecções bacterianas, parasitárias, virais, rikettsia, protozoários e neoplasias (Balch e Mackin, 2007). Essa forma ocorre devido à resposta imunológica pela presença de antígenos estranhos que associaram-se ou modificaram a membrana do eritrócito saudável, o que induz a formação de anticorpos que combatem essas células alteradas (Miller et al., 2004). Descrição do caso - Fêmea, Lhasa Apso, 6 anos, com hiporexia e êmese há dois dias. Segundo tutores, há uma semana apresentou-se no cio. Em exame clínico, notou-se se prostração, abdominalgia, ausência de secreção vaginal e desidratação de 7%. Diante disso, suspeitou-se de piometra. Solicitou-se exames complementares: ultrassonografia, hemograma e dosagem sérica de creatinina e Alanina Amino Transferase (ALT). 2113 42º Congresso Bras. de Medicina Veterinária e 1º Congresso Sul-Brasileiro da ANCLIVEPA - 31/10 a 02/11 de 2015 - Curitiba - PR As concentrações de creatinina e ALT, encontravam-se normais, bem como o eritrograma. Contudo, o leucograma revelou severa leucopenia, impossibilitando a contagem diferencial de leucócitos. Na ultrassonografia havia evidências de piometra/hemometra e efusão peritoneal por possível ruptura uterina. Diante disso, optou-se pela laparotomia exploratória e ovariohisterectomia (OSH). Durante o procedimento cirúrgico observou-se hiperemia e petéquias nos órgãos da cavidade abdominal, peritônio e omento, sugerindo peritonite, além de líquido livre de característica purulenta oriundo de pequena ruptura uterina. Após OSH foi realizado lavagem da cavidade abdominal com solução fisiológica 0,9%.O animal permaneceu internado. Prescreveu-se metronidazol, ceftriaxona, omeprazol, dipirona, tramadol e ondansetrona. Nos dois primeiros dias de pós operatório, observou-se melhora do apetite e controle dos vômitos. Contudo, no terceiro dia o animal prostrou-se e as mucosas tornaram-se ictéricas. Com isso, realizaramse exames que evidenciaram anemia arregenerativa normocítica hipocrômica, trombocitopenia e leucograma apresentando neutrofilia, eosinopenia, monocitopenia relativa e alterações no proteinograma, fosfatase alcalina e bilirrubinas. Portanto, suspeitou-se de hemólise. Deste modo, realizou-se teste de Coombs, em que obteve-se resultado positivo e concluiu-se quadro de anemia hemolítica imunomediada. À vista disso, administrou-se dexametasona IV, em dose única e manteve-se o tratamento com ceftriaxona, metronidazol, omeprazol e dipirona. Realizou-se terapia com prednisolona na dose de 2 mg/kg, BID e fez-se hemogramas semanais para acompanhamento. Quatro dias após início do uso da prednisolona, observou-se melhora clínica e da icterícia, porém hemograma evidenciou piora da anemia e leucocitose. Optou-se por trocar a ceftriaxona por amoxicilina com clavulanato de 2114 42º Congresso Bras. de Medicina Veterinária e 1º Congresso Sul-Brasileiro da ANCLIVEPA - 31/10 a 02/11 de 2015 - Curitiba - PR potássio por mais 15 dias e aumentou-se a dose da prednisolona para 4 mg/kg. Uma semana após, o eritrograma apresentava-se normal e os leucócitos totais dentro dos valores de referência, porém observou-se neutrofilia, eosinopenia e monocitopenia relativa. Manteve-se a corticoterapia com prednisolona por 30 dias. Completado esse período repetiu-se o hemograma que constatou discreta neutrofilia e monocitopenia relativa, enquanto todos os outros parâmetros encontravam-se dentro da normalidade. Sendo assim, realizou-se o desmame da corticoterapia. Por fim, o animal não apresentou nenhuma alteração clínica. Discussão - No relato, a AHIM foi secundária ao quadro de sepse devido a piometra. Os sinais clínicos da AHIM descritos por Nassiri et al., (2005) são: anorexia, letargia, fraqueza, febre, icterícia, desconforto abdominal e mudança na cor da urina, os quais foram observados no caso relatado. Os achados laboratoriais característicos da AHIM geralmente são de anemia regenerativa, porém há casos, como o descrito, que apresentam anemia sem eritrorregeneração (Brandão et al., 2004). Outros achados característicos n AHIM é leucocitose (Mcmanus e Craig, 2001), trombocitopenia e bilirrubinemia (Horgan, et al. 2009), como relatado no presente caso. O diagnóstico da doença pode ser feito por meio da presença de esferócitos, aglutinação de células vermelhas ou resultado positivo do teste de Coombs, como no caso em questão (Balch e Mackin, 2007). O tratamento inicial preconizado no relato foi baseado em antibioticoterapia devido à sepse secundária a piometra. A amoxicilina com clavulanato de potássio se mostrou eficaz em mais de 80% de cadelas com piometra em trabalho realizado por Kalenski et al., (2012). A terapia da AHIM descrita na literatura é imunossupressora, com prednisona, dexametasona associado a drogas citotóxicas como 2115 42º Congresso Bras. de Medicina Veterinária e 1º Congresso Sul-Brasileiro da ANCLIVEPA - 31/10 a 02/11 de 2015 - Curitiba - PR azatioprina ou ciclofosfamida (Grundy e Barton, 2001). Optou-se no caso descrito pelo uso da prednisolona que se mostrou eficaz. Conclusão - A piometra é uma condição grave e rotineira na clínica e suas complicações podem ser letais. O presente relato é um alerta para os possíveis casos de AHIM secundária a piometra, além de ressaltar a importância do diagnóstico precoce para instituir o tratamento eficaz. Referências BALCH, A.; MACKIN, A. Canine immune-mediated hemolytic anemia: pathophysiology, clinical signs, and diagnosis. Compend Contin Educ Vet, v. 29, n. 4, p. 217-25, Apr 2007. 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