ANEMIA HEMOLÍTICA IMUNOMEDIADA EM CÃO – RELATO DE CASO IMUNNE-MEDIATED HEMOLYTIC ANEMIA IN THE DOG - A CASE REPORT Graziela Pigatto Librelotto1*, Ana Paula Dullius2, Marinês Lazzari2, Vanessa Sasso Padilha3, Letícia Gressler4, Camila Lopes Souza4, Ana Maria Antonello4, Douglas Pedro2 Resumo: A anemia hemolítica imunomediada (AHIM) é uma consequência do aumento da destruição de hemácias, como resultado da ação de anticorpos contra hemácias ou da adesão de complexos imunes a elas. Sendo esta considerada uma das causas mais frequentes de doença hemolítica em cães e descrita com uma frequência menor em gatos. O presente trabalho relata o caso de um canino macho, Dachshund, 10 anos de idade, que foi atendido no Hospital Veterinário na Universidade Federal de Santa Maria – RS, com histórico de hiporexia a quatro dias e prostrado. No exame clínico o animal apresentava-se com mucosas hipocromadas. O diagnóstico de anemia hemolítica imunomediada foi confirmado através dos sinais clínicos e do hemograma. O tratamento adotado foi doxiciclina (10mg/kg) e prednisona (1mg/kg). Palavras-chave: canino, esferocitose, hemólise, regenerativa Summary: The Imunne-mediated hemolytic anemia (IMHA) is a consequence of increased destruction of red blood cells as a result of the action of antibodies against red blood cells or the adherence of immune complexes on them. Which is considered one of the most common causes of hemolytic disease in dogs and reported less often in cats. This paper reports the case of a male dog, Dachshund, 10 years old, who was treated at the Veterinary Hospital at Universidade Federal de Santa Maria - RS, with a history of appetite loss, to four days and prostrate. On examination the animal presented with hypochromic mucous. The diagnosis of IMHA was confirmed by clinical signs and blood count. The treatment used was doxycycline (10mg/kg) and prednisone (1mg/kg). Key words: canine, spherocytosis, hemolysis, regenerative Texto Existem descritas na literatura duas classificações da anemia hemolítica: primária ou idiopática e secundária, sendo que a maioria dos casos de anemia hemolítica imunomediada (AHIM) em cães é primária. Segundo Couto (2000) a destruição imunomediada dos eritrócitos pode ocorrer em reposta a medicamentos (β-lactâmicos e vacinação). Os sinais clínicos são variáveis e frequentemente incluem letargia, esplenomegalia, febre, icterícia, além de outros sintomas gerais associados à anemia, como palidez de membranas mucosas, dispnéia, taquicardia e sopro cardíaco sistólico no caso de anemia grave (THRALL, 2007). O diagnóstico de AHIM é baseado na identificação de autoglutinação e esferócitos, ou ambos, em um cão que não recebeu recentemente transfusão sanguínea (WEISS, 2004). Para estabelecer o diagnóstico definitivo o teste de Coombs deve ser positivo, mas isso não permite 1 Médica Veterinária – Aluna de Especilização pelo Intituto de Pós-Graduação Qualittas – Rua Ernesto Pereira, 700, CEP: 97105-140. E-mail: [email protected] 2 Médica(o) Veterinária(o) – Mestranda(o) do Programa de Pós-Graduação em Zootecnia, UFSM. 3 Médica Veterinária - Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Ciência Animal – Centro de Ciências Agroveterinárias/UDESC 4 Médica Veterinária, UFSM diferenciar a AHIM primária da secundária (GIGER, 2004). Foi atendido no Hospital Veterinário Universitário da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), um canino macho, Dachshund, 10 anos de idade, com histórico de hiporexia a quatro dias e prostrado. No exame clínico o animal apresentava-se com mucosas hipocromadas, tempo de perfusão capilar (TPC) normal e temperatura normal. Amostras de sangue foram encaminhadas ao LACVET/UFSM e solicitado hemograma, bioquímica sérica e contagem de plaquetas. Os testes bioquímicos de função renal não estavam alterados. Já na avaliação hepática observou-se alterações, onde anormalidades bioquímicas são comuns e incluem a hiperbilirrubinemia e níveis elevados das enzimas hepáticas, principalmente ALT. No entanto, a fosfatase alcalina (FA) foi a maior alteração das enzimas hepáticas, corroborando com o que Balch (2007) cita. O aumento da FA é comum em cães com colestase (THRALL, 2007). No hemograma evidenciou-se uma severa anemia devido aos eritrócitos, hemoglobina e hematócrito estarem abaixo dos valores normais. A anemia caracteriza-se por ser macrocítica normocrômica. A aglutinação de eritrócitos resulta em falso aumento de VCM (BROCKUS, 2005) concordando com o achado no exame, que apresentava uma macrocitose. A trombocitopenia evidenciada neste caso é citada por Thrall (2007) como a destruição imunomediada concomitante (síndrome de Evans) ou coagulação intravascular disseminada (CID) secundária. Quanto ao leucograma, ocorreu uma leucocitose por neutrofilia com desvio à esquerda regenerativo e monocitose evidente. Essa é comum encontrar em cães com anemia hemolítica imunomediada, a leucocitose pode ser causada por uma combinação do aumento da liberação pela medula durante forte resposta eritróide regenerativa, estimulação de citocinas pela hiperplasia mielóide, neutrófilos desmarginados e diminuição da migração para tecidos mal perfundidos (BALCH, 2007). A aglutinação pode ser visível a olho nu quando o sangue é colocado em um tubo com EDTA e para distinguir de formação de rouleaux mistura-se uma gota de sangue com uma gota de solução salina, a autoglutinação não é dispersa, mas o rouleaux sim (GIGER, 2004). De acordo com os sinais clínicos apresentados juntamente com a observação de autoglutinação no tubo e no esfregaço sanguíneo (Figura 1), além da esferocitose, o diagnóstico definitivo foi de anemia hemolítica imunomediada. Os esferócitos e a presença da hemaglutinação são considerados por Couto (2000) patognômicas de AHIM. Figura 1 - Hemaglutinação no esfregaço sanguíneo corado por Wright. O tratamento estipulado para o caso foi doxiciclina (10mg/kg) e prednisona (1mg/kg). O principal objetivo do tratamento da AHIM é o controle da resposta imune pela redução da fagocitose, da ativação do complemento e da produção de anticorpos antieritrocitários. Os 2 glicocorticóides constituem-se a escolha inicial de tratamento da AHIM, e suas doses são gradualmente reduzidas em um terço da quantidade a cada 7 a 10 dias (GIGER, 2004). Indicase fluidoterapia principalmente à paciente com hemólise intravascular, pois a acidose láctica secundária à anemia deve ser corrigida. Em cães severamente anêmicos (VG <10%), utilizase como terapia de apoio a transfusão de sangue total (THRALL, 2007). A taxa de mortalidade é variável, estando entre 25 e 50%, e é relativamente comum a ocorrência de recidiva de AHIM ou de outros distúrbios imunomediados, como a trombocitopenia (THRALL, 2007). Neste caso o animal teve uma melhora significativa com o tratamento não ocorrendo recidiva. Referências Bibliográficas BALCH, A.; MACKIN, A. Canine immune-mediated hemolytic anemia: pathophysiology, clinical signs, and diagnosis. Compendium on Continuing Education for the Practicing Veterinarian, v.24, n.4, p. 217-224, 2007. BROCKUS, C.W.; ANDREASEN, C.B. Eritrocitos. In: LATIMER, K.S.; MAHAFFEY, E.A.; PRASSE K.W. Duncan and Prasse's Patología Clínica Veterinaria, 4. ed. Espanha: Multimédica. 2005. p. 1-54. COUTO, C.G. Anemia. In: NELSON, R.W.; COUTO, C.G. Medicina Interna de Animales Pequeños. 2. ed. Argentina: Inter-Médica. 2000. p. 1242-1246. GIGER, U. Anemias regenerativas causadas por hemorragia ou hemólise. In: ETTINGER, S.J.; FELDMAN, E.C. Tratado de medicina interna veterinária: doenças do cão e do gato. 5. ed. São Paulo: Guanabara Koogan, v.2. 2004. p. 1880-1902. WEISS, D.; TVEDTEN H. Erythrocyte disorders. In: WILLARD, M.D.; TVEDTEN, H. Small Animal Clinical Diagnosis by Laboratory Methods, 4. ed. EUA: Elsevier. 2004. p. 3862. THRALL, M.A. Hematologia e bioquímica clínica veterinária. São Paulo: Roca, 2007. p. 582. 3