Reflexões sobre os Resorts e Sustentabilidade Ana Carolina Borges Pinheiro1 Mestranda em Hospitalidade pela Universidade Anhembi Morumbi. Erika Sayuri Koga2 Mestranda em Hospitalidade pela Universidade Anhembi Morumbi. Elizabeth Kyoko Wada3 Docente e coordenadora do Mestrado em Hospitalidade da Universidade Anhembi Morumbi. Resumo O presente artigo é um estudo preliminar de caráter exploratório, que visa compreender a relação dos resorts com a sustentabilidade, a partir dos impactos desses empreendimentos nos destinos turísticos, com destaque para os ecolodges, e da participação dos stakeholders. Realizou-se um levantamento bibliográfico sobre o tema, consultando periódicos nacionais e internacionais, dissertações, teses e pesquisas desenvolvidas por empresas de análise de mercado. Verificou-se que a bibliografia sobre o tema mostra que os resorts podem trazer muitos benefícios para os destinos e seus stakeholders na maioria das vezes, sempre que estiverem inseridos com a sustentabilidade. Palavras-chave: resorts; sustentabilidade; ecolodges, stakeholders. 1. Introdução Percebe-se que os resorts vêm aumentando gradativamente ao redor do mundo em consonância com o crescimento do fluxo de pessoas com interesses específicos. Com estas mudanças surgem novas segmentações para estes empreendimentos, que podem se especializar com foco em eventos e convenções; voltados para a preocupação ambiental 1 Bacharel em Turismo e Mestranda em Hospitalidade pela Universidade Anhembi Morumbi. Docente do Tecnólogo em Gestão de Turismo (IFSP). [email protected] 2 Mestranda em Hospitalidade pela Universidade Anhembi Morumbi. Bacharel em Turismo (ECA/USP), especialista em Gestão Empresarial (FGV-RJ) e Docente do Bacharelado em Hotelaria (SENAC-SP). [email protected] 3 Doutora em Ciências da Comunicação (ECA/USP). Docente e coordenadora do Mestrado em Hospitalidade, Universidade Anhembi Morumbi. [email protected] como os ecolodges ou eco-resorts e etc. Portanto no presente artigo busca-se compreender a relação dos resorts com a sustentabilidade e acrescem-se como objetivos específicos analisar as contribuições dos resorts nos destinos turísticos; analisar os ecolodges, além de analisar os stakeholders. Utilizou-se como metodologia o estudo exploratório e realizou-se um levantamento bibliográfico, que incluiu periódicos nacionais, dissertações, teses e pesquisas desenvolvidas por empresas de análise de mercado, como Cardoso (2005) que busca trazer como o desenvolvimento sustentável beneficia as comunidades locais, já Mill (2003) nos mostra todas as funções do empreendimento resort, Loureiro (2005) trata dos impactos dos resorts nas atividades turísticas, Walker (2002) traz o histórico de resorts, Rosa e Tavares (2002) retratam o panorama dos resorts no Brasil, a Consultoria BSH (2008) relata as pesquisas mais recentes sobre os resorts e os segmentos que são impactados por estes empreendimentos. Contemplaram-se também as discussões desenvolvidas na disciplina “Avaliação Estrutural de Empresas Hoteleiras no Brasil”, do curso de Mestrado em Hospitalidade da Universidade Anhembi Morumbi, onde estudaram-se os diversos segmentos de Meios de Hospedagem existentes incluindo os Resorts. 2. Considerações sobre os Resorts A hotelaria de lazer existe há muito tempo, portanto segundo Rosa e Tavares (2002. p. 88), os exemplos de hotéis situados em estações de água no século XVIII na Europa poderiam ser considerados pioneiramente o que conhecemos como resorts. Entretanto, segundo Mill (2003, p. 20), as raízes do conceito de resort podem ser rastreadas até os romanos. Expandindo-se a partir dos banhos públicos, os resorts foram inicialmente construídos em Roma e ao redor dela, antes de serem desenvolvidos para o prazer de legionários e cônsules romanos em todo o Império – da costa do Norte da África até a Grécia e a Turquia, do sul da Alemanha a São Moritz na Suíça e avançando pela Inglaterra. De fato, a cidade de Bath, na Inglaterra, ainda possui relíquias datadas do ano 54 da era cristã, quando era conhecida como Aquae Sulis (Águas do Sol). Outro aspecto importante para o desenvolvimento dos resorts foi o surgimento da classe média fazendo parte da classe turística, pois antes a classe média não tinha tempo para o lazer em função do modo de vida que era voltado somente para o trabalho e não apreciavam o tempo livre. Mas surgiram mudanças onde as leis trabalhistas foram implementadas e o tempo de lazer começou a ser valorizado por esta classe média, representando profundas mudanças econômicas e sociais, as pessoas buscavam viagens recreativas, pois até então somente a aristocracia usufruía do turismo. Além disso, no final do século XIX as tecnologias a vapor foram aplicadas nos trens e navios, aprimorando veementemente o sistema de transportes, facilitando o acesso aos resorst, segundo Rejowski (2002). Os resorts apareceram com as ferrovias. Já no final do século XIX, os resorts de luxo foram criados para acomodar a clientela que chegava em função das ferrovias. A partir desta época verifica-se o movimento Termalismo, que de acordo com Rejowski (2002), foi o movimento mais conhecido no século XIX, cujo fluxo de pessoas aos balneários produziu a conversão desses em lugares para o prazer e o descanso. [...]Muitas fontes de águas minerais ou termais, conhecidas deste a Antiguidade, tinham uma freqüência local. A atividade de veraneio que se concentrava nas estâncias termais vivenciou a crescente concorrência dos balneários marítimos, cuja evolução começou no século XVIII e consolidouse no século XIX, em face da propaganda da talassoterapia, uma nova técnica fundamentada no tratamento com águas salgadas e geladas. (REJOWSKI, 2002, p.45 a 47) Nestes mesmos locais voltados para a preocupação com a saúde desenvolve-se o movimento de Cassinismo mas que depois da época do governo do presidente Eurico Gaspar Dutra os jogos foram proibidos no país, extinguido os grandes cassinos que movimentavam mais de 60.000 empregos diretos e indiretos. Estes grandes hotéiscassinos eram localizados nos grandes hotéis das estâncias climáticas, balneárias e etc. (PAIXÃO, 2006). Nesta mesma época surgiram o Paisagismo e Montanhismo, que eram locais para cuidar da saúde em meio à natureza. Portanto as pessoas que viajavam por prazer naquela época e preocupadas também com a saúde eram atraídas pelos resorts, praias ou espetaculares cenários de montanha. No início, muitos desses resorts funcionavam por temporada. À medida que os automóveis e os transportes aéreos tornavam acessíveis os lugares mais inexplorados, possibilitaram que um crescente número de pessoas pudessem ter condições de sair em viagens, criando novos pólos de resorts no mundo como Cancún, Jamaica e Antilhas. Devido a estes acontecimentos tais estabelecimentos passaram a abrir suas portas o ano inteiro, segundo Walker (2002). Pode-se destacar a expansão dos “destination resorts” ou resorts de destino que teve início na década de 1970, são resorts que oferecem grande variedade de atrações, restaurantes, recreação, esportes, salas e lojas, o que o tornam um destino em si. Em geral estão localizados em áreas que possuem um atrativo de aspecto natural relevante e que complementa as características culturais da localidade. Este conceito de resort de destino foi associado ao desenvolvimento turístico da América Central, como é o caso das Antilhas (ilhas do Caribe). Também se destaca a rede SuperClubs, criada na Jamaica, que teve um papel muito importante, pois foi a principal responsável pelo início do que conhecemos como resort atualmente. Tratando ainda das diversas épocas do que é conhecido como resort nos dias atuais, pode-se destacar na década de 1950 quando foi criado na Espanha, com capital francês, o Club Med, que foi, a primeira rede de resorts destino. Na época, o conceito tinha grande originalidade: pois as atrações eram oferecidas no próprio hotel, dispensando assim o hóspede de procurá-las por sua conta. Ao mesmo tempo, ao permanecer a maior parte do tempo no hotel, reduzia-se a sensação de estranhamento do hóspede, decorrente de encontrar-se em país estrangeiro, o que era freqüentemente o caso, (ROSA e TAVARES, 2002. p. 6). Nesta mesma linha pode-se observar o esforço que a Associação Resorts Brasil realiza na busca da identificação, avaliação e discussão da situação do segmento no Brasil e tem como definição de resorts: “Empreendimentos hoteleiros de alto padrão em instalações e serviços, fortemente voltados para o lazer em área de amplo convívio com a natureza na qual o hóspede não precise se afastar para atender suas necessidades de conforto, alimentação, lazer e entretenimento”. Já o World Wild Foundation - WWF (2003, p.439) comenta sobre a conceituação dos empreendimentos resorts “...quando localizado em área de conservação ou em equilíbrio ambiental, sua construção deve ser antecedida de Estudo de Impacto Ambiental (EIA) e de planejamento e uso do solo, sempre tendo em vista a conservação ambiental. Deve ter condições de se classificar nas categorias “luxo” e “luxo superior” e possuir, ainda, áreas não edificadas, infra-estrutura de entretenimento e lazer significativamente superiores a dos empreendimentos não classificados nessa categoria. Nos dias atuais, segundo Walker (2002) muitas pessoas se deslocam aos resorts em busca de lazer e recreação. Além de buscarem um clima agradável, seja no inverno, ou seja, no verão, para que possam participar de atividades recreativas ou simplesmente relaxar. Muitos resorts possuem uma localização remota, em função disto os hóspedes tendem a se constituir num tipo de “clientela cativa”, que costuma aí se hospedar periodicamente. Existe também a sazonalidade da operação que acaba se constituindo como um desafio para os administradores destes empreendimentos, pois grande parte dos resorts sofre com baixíssimos índices de ocupação em determinados períodos. Essas situações desafiam os administradores a desenvolverem políticas eficientes relativamente a marketing, propaganda e recursos humanos para modificar este cenário. Com a competição crescente em todo o mundo, não somente de outros resorts, mas também das linhas de cruzeiros, seus administradores vêem-se perante a tarefa de atrair nova clientela e fazer que ela volte mais vezes. Em virtude disto, os resorts vêm diversificando suas estratégias de marketing, passando a vender para convenções, reuniões de negócios e vendas, programas de incentivo de vendas ou de produtividade em geral, eventos esportivos, empresariais e de recreação, spas, turismo de aventura, ecoturismo e etc . (WALKER, 2002, p.98). As estratégias que estão sendo implementadas para diversificar a demanda nos resorts e diminuir a sazonalidade, podem ser percebidas pela pesquisa desenvolvida pela BSH (Resorts no Brasil - 2008), onde se percebeu através dos resultados obtidos na pesquisa, que o crescimento do segmento de eventos, vem sendo bem aproveitado pelos resorts, que aproveitam das grandes instalações para o recebimento de eventos corporativos, de incentivos, convenções internacionais e etc. 3. Situação dos Resorts no Brasil No panorama Brasil, o conceito de resort começou a ser desenvolvido a partir do século XX, com as estâncias hidrominerais. Na década de 70, a infra-estrutura de transporte no país foi transformada, ocorrendo uma grande expansão da rede de rodovias pavimentadas e do tráfego aéreo, o que ocasionou o fácil acesso a muitos locais de interesse turístico. Um aspecto interessante para observar é que ainda em 1979 (de acordo com o Anuário da EMBRATUR), a capacidade de hospedagem de Poços de Caldas era semelhante à Recife, e a de Natal era inferior à de Águas de Lindóia. Isso comprova não apenas as dimensões expressivas de estâncias, como também o caráter incipiente do turismo no Nordeste, em data relativamente recente. (ROSA e TAVARES, 2002. p. 10) Logo o caráter incipiente do Nordeste foi sendo modificado já na década de 1990, quando a região começa a atrair modernos hotéis com o conceito de lazer (resort), muitos destinados a segunda residência. Portanto neste histórico nacional dos resorts, podemos dizer que os primeiros hotéis brasileiros que se aproximaram do conceito de resort destino foram implantados na década de 70. Como por exemplo, o Club Mediterrané Ilha de Itaparica (BA), Tropical Experience Manaus (AM) e Rio Quente Resorts (GO). A Consultoria BSH desenvolveu um estudo onde analisa o número de resorts por regiões. Conforme se pode observar o gráfico abaixo o turismo de resort no país se concentra em maior parte na região Nordeste, pois a região é considerada com maior potencial para o turismo de lazer, tanto interno quanto externo. (ROSA e TAVARES, 2002). Através do gráfico abaixo se pode observar a quantidade de ofertas de resorts por regiões no Brasil: Gráfico: 1- Oferta Atual de Resorts (UHs) – por Região do País. Fonte: BSH (Resorts no Brasil – 2008, p. 12). Devido ao grande crescimento do número de hotéis classificados como resort, verificase, igualmente, a convicção generalizada de que os resorts serão, num futuro previsível, o segmento mais dinâmico da hotelaria brasileira e se constituirão em um dos principais fatores de atração para o turismo externo. (ROSA e TAVARES, p. 87) Segundo afirma Marino Neto, da Consultoria BSH a expectativa é que o país cresça mais que a média, principalmente na hotelaria urbana, “No momento os resorts voltam a ser as grandes vedetes”. (Hotelier News, 2008). Portanto com essa grande expansão que vem ocorrendo no segmento, podemos analisar que os novos empreendimentos resorts são superados hoje por projetos mais sensíveis, onde demonstram a preocupação com o meio ambiente. Segundo a Organização Mundial de Turismo (OMT) a preocupação com o meio ambiente no turismo que é caracterizado como turismo sustentável, são aplicáveis a todas as formas de turismo e em todos os tipos de destinação, incluindo turismo de massa e os diversos nichos de mercado turístico. Portanto os princípios da sustentabilidade se referem a aspectos ambientais, econômicos e sócio-culturais do desenvolvimento do turismo, e um equilíbrio apropriado deve ser estabelecido entre as três dimensões para que a sustentabilidade de longo-prazo seja garantida. Segundo Silva e Filho (2009, p. 2) os resorts beneficiam economicamente a região onde estão inseridos, na medida em que pagam os impostos, geram empregos e contribuem para o equilíbrio da balança de pagamentos. Todavia é questionável até que ponto eles realmente contribuem para o desenvolvimento sociocultural e econômico das comunidades locais e para a preservação do meio ambiente onde se inserem. 3.1 Resorts, Destinos Turísticos e Sustentabilidade De acordo com Cardoso (2005, p. 83), retrata em sua tese que a OMT, no Guia do Desenvolvimento do Turismo Sustentável (2003), defende que “os resorts são destinos turísticos integrados e relativamente independentes que oferecem uma variedade de instalações e atividades para os turistas”. Neste contexto observamos o papel das empresas turísticas no destino, de acordo com o Programa PPT (Pro-Poor Tourism - Sustainable Tourism and Poverty Elimination Study, 1999), atribui à empresa um papel muito mais amplo que sugere que, além da contribuição de sua estrutura, a empresa pode colaborar catalisando e incentivando outros atores (como organismos internacionais e governo) a participar das ações para o desenvolvimento do local. O conceito e as características dos resorts pressupõem a acomodação simultânea de muitos turistas durante todos os períodos do ano. Por outro lado, as diretrizes para se obter o desenvolvimento sustentável de uma determinada localidade impõem determinadas regras, como a capacidade de carga. Analisa-se que os resorts atraem muitos turistas e o desenvolvimento sustentável tem a preocupação com a capacidade de carga de uma localidade, e isto não significa dizer que há uma inviabilização dos dois aspectos. Porque a ligação do resort com o desenvolvimento sustentável vai depender das características ambientais, culturais e do formato, tamanho e políticas adotadas pelo resort. Portanto o respeito pela capacidade de carga da natureza onde o resort está instalado deveria ser de total interesse do empreendimento em função de que é responsável em fazer com que o turista tenha vontade de retornar ao local para usufruir destes atrativos turísticos, que são parte da matéria prima de atrativos naturais do resort em determinado destino. Outro aspecto importante é a construção de um resort, juntamente com toda a infraestrutura necessária para a sua operação que não implica necessariamente num grande impacto negativo ao meio ambiente, pois esse impacto poderá ser reduzido, caso os projetos construtivos e os recursos de materiais empregados forem ecologicamente corretos, possibilitando a criação de uma harmonia entre a hospitalidade e a preservação do ecossistema local. Neste aspecto o projeto poderá contemplar uma arquitetura local (nativa) e utilizar ao máximo materiais de construção locais apropriados. Além disso, a operação do resort pode encorajar uma interação positiva dos hóspedes com as tradições das comunidades locais, integrando a importância da cultura local. (LOUREIRO, 2005, p. 97 apud AYALA 1996). 3.2 Ecolodges Segundo Loureiro (2005) apud Ayala (1996) comenta que a simples colocação do prefixo “eco” não torna o resort verdadeiramente voltado para o ecoturismo. Ela confirma que alguns hotéis e resorts aproveitam-se da sua localização privilegiada próxima a áreas de grande beleza natural e adotam esse prefixo para atrair ecoturistas sem, contundo, se preocupar em obedecer aos princípios mínimos do ecoturismo. Na mesma linha surgem os empreendimentos, caracterizados como Ecolodge ou Ecoresorts que visa proporcionar sensações diferenciadas aos hóspedes em termos de pernoite num ambiente, que proporciona total integração com a natureza (paisagens, sons e cheiros). A arquitetura apropriada, dos materiais construtivos, de decoração, de conforto, de comodidade, de segurança, e de infra-estrutura de mínimo impacto são pontos que valorizam ainda mais este tipo de experiência desenvolvendo também a cultura regional, porém, com simplicidade, charme e elegância de acordo com as características presentes na região. (SECRETARIA DO MEIO AMBIENTE, 2010). Os hóspedes de um Ecolodge seguem o conceito “totalmente em harmonia com a natureza e com a população local”. O ambiente natural do local, embora na sua maioria seja considerado exótico, funciona muito mais como um detalhe importante que compõe o todo. Entretanto, o atrativo em si é formado pelo conjunto de equipamentos e serviços concentrados e oferecidos em um único local, ou seja, no interior de uma estrutura arquitetônica semi fechada. Por serem muito polêmicos, tais espaços são considerados por alguns autores como “turismo em guetos” – que impede o turista de sair facilmente ao exterior, bem como aos habitantes locais de penetrar em seu interior. (MINISTÉRIO DO TURISMO, 2010). Este fenômeno turístico é encontrado em locais como a Bahia, Cancun, Republica Dominicana, Cancun e etc, que acabam se tornando destinos que competem entre si, uma vez que suas instalações e serviços são muito similares. Para os turistas que vão a estes resorts não se evidencia as diferenças do país de destino. Portanto os destinos se configuram como concorrentes entre si. Estes espaços turísticos, alheios à cultura e aos costumes locais, fazem do espaço um objeto, quando enfrenta a visibilidade comercial. Diversos exemplos ilustram o conceito de resorts caracterizados como espaços alheios a cultura local, como Las Vegas, Honolulu no Havaí, Jamaica e a Disney. Neste caso o espaço turístico torna-se produzido pelo comércio gerado pelo turismo, perdendo seu sentido histórico. Proporcionando ao turista a sensação de que a paisagem é a mesma se estiver no litoral do Brasil ou no Caribe, a reprodução da atividade turística procura recriar espaços turísticos em diversas partes diferentes do mundo, com as mesmas características dos demais. É preciso observar que o produto turístico de sucesso deve prezar pela autenticidade e pela dinâmica com que é tratado. Segundo Molina (2003) nesses locais são construídas verdadeiras ludópolis, que são centros lúdicos de diversão, lazer e entretenimento. São os novos enclaves formatados para oferecer um produto pasteurizado para grandes grupos de turistas. Diversos centros turísticos ainda lutam pelas suas tradições culturais e preservam, juntamente com a sua identidade, a história de suas vidas. A multiplicação dos destinos turísticos deve respeitar a população local e os seus costumes, guardados nos mais diversos modelos de prospecção da cultura. Respeitar essa ideologia é comprometer o turismo como atividade lucrativa em consonância com os preceitos sustentáveis que são válidos para a atividade. (CAVALCANTI, 2004). Quando não há o respeito à população local e nem aos seus costumes, por parte dos empreendimentos como os resorts, é desencadeado o grande problema, a exclusão social. Neste caso criam-se ambientes artificiais, promovendo o desemprego na região e a pobreza. O resort perde qualidade quando seu entorno não apresenta atrativos, ou é impossível de ser freqüentados, caso tenha uma grande exclusão social, o que acarreta a violência. Neste aspecto dos espaços dos resorts o Ecoresort Praia do Forte, é um caso de sucesso, a fazenda onde está localizado o resort foi adquirida com o objetivo de ser preservada e mantida. Hoje existe uma área destinada para a proteção ambiental e foi estabelecido regras para construções ordenadas na região. A Fundação Garcia D’Ávila que é responsável pelo desenvolvimento de projetos na área de preservação ambiental, de educação, cultural e ainda cuida para que as restrições urbanísticas sejam cumpridas. A comunidade local acompanha o desenvolvimento da região, possibilitando o crescimento ordenado e conjunto. A Vila dos Pescadores foi mantida. Isso garantiu a preservação da cultura regional e a participação da comunidade no turismo sustentável criado. O resort utiliza 70% da mão de obra local, isso é resultado de treinamento constante e, sobretudo da educação de base que é proporcionada pela Fundação Garcia D’Ávila. (Praia do Forte, 2009). De acordo com a OMT o aspecto social da definição enfatiza que o turismo sustentável deverá assegurar a viabilidade das operações econômicas de longo prazo proporcionando benefícios sócio-econômicos para todos os stakeholders, incluindo emprego estável, oportunidades de geração de renda e serviços sociais para as comunidades contribuindo para a minimização da pobreza. Outro exemplo de resort que coloca na prática os conceitos da sustentabilidade e inclusive fez parte da criação do programa desenvolvido pela WTTC (World Travel Tourism Council) que se chama Leading the Challenge on Climate Change – e que tem diversas empresas da área do turismo que fizeram parte da criação do programa, como o grupo Six Senses Resorts & Spas, localizado nas Maldivas. O resort tem se posicionado na adequação de práticas sustentáveis em suas operações, exemplo disto é o plano que foi estabelecido para o empreendimento se tornar um resort de carbono livre no ano de 2010, isto significa que a propriedade não vai emitir qualquer quantidade de gás carbônico em suas operações e irá utilizar apenas energia renovável, que vai ser compartilhada com as comunidades do entorno proporcionando uma fonte de carbono zero na emissão de energia. (WTTC, 2009) A administração do resort, de acordo com a pesquisa do WTTC (2009) também afirma que o empreendimento foi totalmente projetado para minimizar o impacto sobre a ilha e os recifes, além dos edifícios também terem sido projetados e construídos para misturarse a fachada natural da ilha e para minimizar os danos causados a vegetação circundante. Também dispõe de um profissional que orienta a minimização da pegada ecológica (a quantidade de recursos do ambiente natural que é utilizado) do empreendimento. A América Latina é considerada como uma região de grande potencial para o desenvolvimento de eco-resorts, graças a existência de uma ampla variedade de recursos naturais e culturais, que incluem florestas tropicais até formações glaciais e diversas culturas indígenas coloniais (Loureiro, 2005 apud Ayala, 1996) Pode-se constatar que os eco-resorts necessitam da natureza conservada e dos valores culturais mantidos para a continuidade do sucesso dos negócios. 4. Análise dos Stakeholders - Investidores: Muitos investidores dos resorts são grupos internacionais, isto faz com que o lucro dos resorts saia da economia local e vá para fora. Esta parcela não contribui para o desenvolvimento da economia local, já que estes recursos são geralmente utilizados em investimentos produtivos, aplicações financeiras ou pagamentos de dividendos fora da região. Estes investidores acabam recorrendo a fontes de financiamento. - Colaboradores: Os colaboradores dos resorts devem se atentar ao planejamento de suas atividades, para que esteja integrado com o ambiente e deste modo minimizem o impacto da atividade que exercem no destino. Também possuem grande interação com os hóspedes principalmente se são nativos, oferecendo um serviço mais personalizado. - Comunidade: Segundo Cardoso (2005, p.59) o principal benefício econômico mencionado por autores são os empregos diretos ou indiretos gerados na região. Não há dúvidas sobre o número de postos de trabalho que se criam com a implantação de um empreendimento turístico, o resort. No entanto é importante verificar que muitas vezes a população local não preenche os requisitos básicos quer por falta de treinamento ou por inexistências de habilidades relevantes para o preenchimento destes postos. Como resultado, as oportunidades de emprego na comunidade local são limitadas a postos modestos que requerem pouca educação formal ou treinamento. Os postos mais elevados gerencia e outros que requerem maior formação são muitas vezes preenchidos por pessoas de outras regiões ou países. Ainda na questão do emprego os estudos demonstram que a sazonalidade do turismo que reflete o número de postos de trabalho traz implicações na regularidade dos ganhos. Este fato se torna ainda mais perturbador quando notamos que a sazonalidade impacta com maior vigor justamente os cargos mais modestos. - Fornecedores: Algumas redes de resorts internacionais possuem padronização no quesito fornecedores, fazendo com que muitas vezes o empreendimento compre produtos e serviços que vêm de fora e não participam da economia local. Mas é possível encontrar cada vez um maior número de empreendimentos que consomem produtos regionais do destino onde estão instalados, tanto na alimentação, quanto artesanato e etc. Acaba ocorrendo o beneficiamento da comunidade local pela venda destes produtos, que contribui para o desenvolvimento da atividade turística no destino. - Orgãos Públicos: através das taxas e impostos pagos pelos empreendimentos resorts, os órgãos públicos da localidade onde o resort está instalado se beneficiam podendo investir o dinheiro na melhora da infra-estrutura da localidade, isto significa também investir na conscientização ambiental, capacitação e qualificação adequada para o trabalho, à medida que a população esteja apta para ser contratada pelos resorts instalados na localidade. Nem sempre os gestores públicos dos órgãos do local onde o empreendimento está instalado, percebem a amplitude de um empreendimento resort e como podem beneficiar-se do empreendimento para o crescimento municipal e melhoria na qualidade de vida dos moradores.( SILVA e FILHO, 2009). - Clientes: Diante de uma concorrência acirrada e por serviços muitos similares, os empreendimentos resorts, lutam por uma buscar acirrada na busca de oferecer um atendimento personalizado e proporcionar ao cliente o contato com a cultura local. Para a melhor compreensão, abaixo segue o quadro de relações dos stakeholders e resorts. Quadro de relações dos Stakeholders, características e estratégias Stakeholder Intensidade/ Características da Estratégias relação Investidores - Proprietários muitas vezes são grupos - Busca de financiamento internacionais. Colaboradores Atividades operacionais e relacionamento com hóspedes. - Cursos de qualificação Treinamento - Cursos de idioma Comunidade - A melhoria da qualidade de vida e o - Incentivo à cultura local; e Fornecedores Órgãos Públicos aumento da mobilidade social da população local por meio da geração de empregos e renda; - A valorização e preservação do patrimônio histórico; - A valorização do artesanato, da herança cultural — folclore, religião, artes de modo geral; - A valorização de hábitos e costumes que já haviam caído em desuso; - A melhoria das infra-estruturas básicas e o apoio ao turismo, beneficiando diretamente os moradores. - A valorização do artesanato, culinária e artes de modo geral; Arrecadação de taxas e impostos pagos pelos empreendimentos resorts. Clientes - Oportunidades de emprego - Aumento da economia no local. - Melhora da infra-estrutura no destino para ser acessível aos turistas. - Integração entre as esferas públicas e privadas. - Atendimento e serviços; - Tratamento personalizado; - Melhores tarifas e promoções; - Contato com a cultura local. -Foco em diferentes segmentos, lazer, convenções e etc. - Diversificação das atrações. Tabela: 2 - Quadro de relações dos Stakeholders, características e estratégias – por Região do País. Fonte:Elaboração própria. Considerações Finais Percebeu-se que os empreendimentos resorts podem impactar negativamente o destino, quando não ocorre um planejamento adequado e nem a interação com todos os stakeholders envolvidos no processo. Quando o resort estabelece relações com a comunidade local, pode se percebida a inclusão de colaboradores locais, que são capacitados para poderem desenvolver suas funções. Isto torna a experiência do visitante mais rica, pois ocorre a interação com a cultura local. Também quando ocorre dos resorts consumirem produtos de fornecedores do próprio local, aumenta a economia na região e podemos verificar a implementação da sustentabilidade em seus aspectos sociais e econômicos no destino. Outros aspectos observados é que alguns gestores dos órgãos públicos do destino não perceberam a amplitude do empreendimento resort, que pode beneficiar o município e a população local. Observou-se que os empreendimentos caracterizados como ecolodges ou eco-resorts tem grande potencial de desenvolvimento na América Latina, pela região ter vastos recursos naturais e culturais. Também quando se trata do impacto do empreendimento na região, é importante observar que os resorts beneficiam economicamente a região onde estão inseridos, pois pagam os impostos, geram empregos e contribuem para o equilíbrio da balança de pagamentos. O estudo é preliminar no trato dos impactos dos resorts nos destinos, que alguns estudiosos tratam como verdadeira ludópolis, visto que o papel que representam no desenvolvimento dos destinos serem completamente nulos em alguns casos (possíveis desdobramentos da pesquisa). A pesquisa mostra que os resorts podem trazer muitos benefícios para os destinos e seus stakeholders na maioria das vezes, sempre que estiverem preocupados com a sustentabilidade. Referências Bibliográficas BSH – Hoteleiros opinam sobre a influência da crise no trade. 09 de outubro de 2008. Disponível em: <http://www.hoteliernews.com.br/HotelierNews/Hn.Site.4/NoticiasConteudo.aspx?Noti cia=46224&Midia=1> Acesso em: 11 de maio de 2009. BSH. Resorts no Brasil - 2008. Maio de 2008. Disponível em: <http://www.bshinternational.com/estatisticas_canal_investidor/resorts_brasil_2008.pdf > Acesso em: 24 de abril de 2010. CARDOSO, Roberta de Carvalho. Dimensões Sociais do Turismo Sustentável: Estudo sobre a contribuição dos resorts de praia para o desenvolvimento das comunidades locais. 2005. Tese (Doutorado em Administração de Empresas) – Fundação Getúlio Vargas, São Paulo, 2005. CAVALCANTI, Marcia Maria. O fetiche do consumo como agente de reprodução do não-lugar. Revista de Turismo: Dezembro de 2004. Disponível em: <http://www.revistaturismo.com.br/artigos/nao-lugar.html> Acesso em: 24 de abril de 2010. DELOITTE & TOUCHE, IIED E ODI. Sustainable Tourism and Poverty Elimination Study. Abril, 1999. Disponível em: <www.propoortourism.org.uk> Acesso em: 24 de abril de 2010. LOUREIRO, Leonardo Vasconcellos. Resort e Ecoturismo: Sinergia Positiva ou Negativa?.2005. Dissertação (Mestrado Profissional em Administração) – Universidade Federal da Bahia, Salvador, 2005. MILL, Robert Christie. Resorts: administração e operação. Traduzido por Sônia Kahl. Porto Alegre: Bookman, 2003. Ministério do Turismo. Glossário de Turismo. Disponível em: <http://www.braziltour.com/site/br/dados_fatos/conteudo/lista_alfabeto.php?busca=V& in_secao=387> Acesso em: 24 de abril 2010. MOLINA, Sérgio; SPERLING, Roberto. O Pós-turismo. São Paulo: Aleph, 2003. NETO, José Ernesto Marino. A Farra dos Resorts. 28 de Junho de 2007. Disponível em:<http://www.bshinternational.com/template.php?pagina=neocast/read.php&id=8218 §ion=2> Acesso em: 13 de maio de 2009. PAIXÃO, Dario Luis Dias. A Legalização dos Cassinos no Brasil e na América Latina. 2006. Disponível em: <http://www.estig.ipbeja.pt/~ac_direito/Cassinos.pdf> Acesso em: 24 de abril de 2010. Praia do Forte Ecoresort. Disponível em: <htp://www.praiadoforteecoresort.com.br/port/index.asp> Acesso em: 07 de maio de 2009. REJOWSKI, Mirian. Turismo no percurso do tempo. São Paulo: Aleph, 2002. ROSA, Sérgio Eduardo Silveira da; TAVARES, Marina Mendes. A recente expansão dos resorts no Brasil. BNDES Setorial, Rio de Janeiro, n.16. p. 85 a 104, 2002. Secretaria do Meio Ambiente do Estado de São Paulo (SMA). Estudo de Demanda Turística Potencial para os Parques Estaduais - Segmento de Turismo de Lazer.Disponível em:<http://homologa.ambiente.sp.gov.br/ecoturismo/mataatlantica/downloads/Estudo% 20de%20Demanda%20Turist%EDca%20Potencial%20para%20os%20Parques%20Esta .pdf> Acesso em: 24 de abril de 2010. SILVA, Karla Márcia da. FILHO, Nelson A. Quadros Vieira. Os resorts e seus impactos nas comunidades locais: estudo de caso do Águas do Treme Lake Resort no município de Inhaúma em Minas Gerais. Artigo publicado na revista acadêmica do Observatório de Inovação do Turismo.Vol. 4, No. 3. 2009. WALKER, John R. Introdução a hospitalidade. Barueri: Manole, 2002. WTO – World Tourism Organization. Sustainable Development Tourism. Disponível em: <http://www.world-tourism.org/sustainable/top/concepts.htm> Acesso em 24 de Abril de 2010. WTTC – World Travel Tourism Council. Leading the Challenge on Climate Change. 2008.Disponível em: <http://www.wttc.org/bin/pdf/original_pdf_file/climate_change_final.pdf > Acesso em: 02 de maio de 2009. WWF. Manual de ecoturismo de base comunitária: ferramentas para um planejamento responsável. 2003.