MUCOCELE EM CÃES Fernanda Gosuen Gonçalves Dias1, Lucas de Freitas Pereira2, Juliana Santilli3, Geórgia Modé Magalhães4, Luis Gustavo Gosuen Gonçalves Dias5 1 Mestre em Medicina Veterinária de Pequenos Animais e Especialista em Odontologia Veterinária, Universidade de Franca – UNIFRAN, Franca-SP, Brasil 2 Mestre em Medicina Veterinária, Universidade de Franca – UNIFRAN, Franca-SP, Brasil 3 Discente do Programa de Aprimoramento em Medicina Veterinária de Pequenos Animais, Universidade de Franca – UNIFRAN, Franca-SP, Brasil 4 Profa. Dra. do Programa de Mestrado em Medicina Veterinária de Pequenos Animais, Universidade de Franca – UNIFRAN, Franca-SP, Brasil 5 Prof. Dr. do Programa de Mestrado em Medicina Veterinária de Pequenos Animais, Universidade de Franca – UNIFRAN, Franca-SP, Brasil e-mail do autor: [email protected] Recebido em: 06/05/2013 – Aprovado em: 17/06/2013 – Publicado em: 01/07/2013 RESUMO As mucoceles, lesões pseudocísticas benignas, são causadas por obstrução e/ou rompimento de glândulas salivares e de seus ductos excretores correspondentes, as quais causam extravasamento e retenção de saliva no tecido conjuntivo adjacente. Na maioria das vezes, a etiologia é traumática. Os pacientes acometidos podem ficar assintomáticos ou apresentar sinais clínicos diversos. O diagnóstico definitivo é obtido pela aspiração citológica da região afetada. O tratamento de escolha é a remoção cirúrgica da glândula salivar e obliteração por ligadura do ducto envolvido, evitando recidivas e proporcionando prognóstico favorável ao paciente. Diante da ocorrência incomum em cães, o presente trabalho tem como objetivo apresentar uma revisão literária sobre o aparecimento de mucocele nessa espécie, discutindo os aspectos etiológicos, sinais clínicos, diferentes localizações de ocorrência, meios de diagnóstico e opções de tratamento. PALAVRAS-CHAVE: glândula salivar, pequenos animais, sialocele. MUCOCELE IN DOGS ABSTRACT Mucoceles, benign lesions pseudocystic, are caused by obstruction and/or rupture of the salivary glands and excretory ducts corresponding, which cause extravasation and retention of saliva in the adjacent tissue. In most cases, the etiology is traumatic. Affected patients may be asymptomatic or present different clinical signs. Definitive diagnosis is obtained by aspiration cytology of the affected region. The treatment of choice is surgical removal of the salivary gland and obliteration by duct ligation involved, avoiding relapses and providing favorable prognosis for the patient. Given the unusual occurrence in dogs, this paper aims to present a literature review on the ENCICLOPÉDIA BIOSFERA, Centro Científico Conhecer - Goiânia, v.9, N.16; p. 1534 2013 appearance of mucocele in this species, discussing the etiological, clinical signs, different locations of occurrence, diagnostics and treatment options. KEYWORDS: salivary gland, small animals, sialocele. INTRODUÇÃO Os cães possuem inúmeras glândulas salivares menores distribuídas ao longo de toda a cavidade oral (lábios, bochecha, língua, palato, faringe e esôfago) e quatro pares de glândulas maiores, são elas: as parótidas, sublinguais, zigomáticas e submandibulares (WIGGS & LOBPRISE, 1997; GIOSO, 2003; PIGNONE et al., 2009). A parótida, glândula serosa, possui anatomia triangular e localiza-se próxima ao conduto auditivo dos cães. A sublingual localiza-se abaixo da língua; próximo ao ramo horizontal da mandíbula. A glândula zigomática, também conhecida como orbitária, é ovoide e irregular, relacionando-se aos músculos masséter e temporal e ao arco zigomático. A mandibular é grande e ovoide, estendendo-se da fossa atlantal até o osso basi-hióide, sendo parcialmente recoberta pela parótida (WIGGS & LOBPRISE, 1997; ANDRADE et al., 2011). As glândulas salivares maiores produzem saliva; a qual é transportada até a boca pelos ductos excretores específicos de cada glândula (GIOSO, 2003). A saliva possui a função de atuar no processo digestivo dos alimentos, além de higienização, umidificação, lubrificação e imunização oral (WIGGS & LOBPRISE, 1997; FOSSUM, 2002). As moléstias das glândulas salivares são infrequentes em cães (VALLEFUOCO et al., 2011; FERNANDES et al., 2012; KAZEMI et al., 2012), apresentando uma baixa incidência nessa espécie de aproximadamente 0,3% (ANDRADE et al., 2011). Dentre elas, as mucoceles, também denominadas de sialoceles, higroma salivar, cistos salivares ou cistos melíferos (FOSSUM, 2002) são afecções benignas (KAISER et al., 2008; ANDRADE et al., 2011) oriundas de obstruções (parciais ou totais) ou rupturas das glândulas salivares ou de seus ductos correspondentes, causando extravasamento e acúmulo de saliva no tecido conjuntivo adjacente (FISCH et al., 2008; PIGNONE et al., 2009; ATA-ALI et al., 2010; GAHIR et al., 2011; PEREIRA & MALM, 2011; FERNANDES et al., 2012; KAZEMI et al., 2012). A saliva extravasada induz reação inflamatória nos tecidos vizinhos (CRIVELLARO et al., 2007) e para que o conteúdo salivar extravasado não atinja outros locais, forma-se um tecido de granulação circundando-o (ATA-ALI et al., 2010) e por essa razão, a mucocele é caracterizada como um pseudocisto (FOSSUM, 2002; CRIVELLARO et al., 2007; MENEZES et al., 2012). São caracterizadas por aumento de volume progressivo e regular, uni ou bilateral (Figuras 1 e 2), de tamanhos distintos, não aderido, circunscrito, não invasivo, superfície lisa, indolor à palpação, hipertérmicos ou não, flutuante e flácidos (WIGGS & LOBPRISE, 1997; VALLEFUOCO et al., 2011) e revestido por epitélio pseudoestratificado (GIOSO, 2003). Podem ser formadas na região cervical ventral, sublingual, faríngea, parotídea ou zigomática, de acordo com a glândula e ducto salivar afetado (FOSSUM, 2002; RAHAL et al., 2007; KAISER et al., 2008; ANDRADE et al., 2011; GAHIR et al., 2011; PEREIRA & MALM, 2011; KAZEMI et al., 2012; MENEZES et al., 2012). Em um mesmo animal pode ocorrer mais de um tipo de mucocele concomitantemente, ENCICLOPÉDIA BIOSFERA, Centro Científico Conhecer - Goiânia, v.9, N.16; p. 1535 2013 sendo denominadas de mucoceles complexas (ANDRADE et al., 2011). Em pacientes humanos, o local mais acometido é a superfície do lábio inferior (CRIVELLARO et al., 2007), por serem as glândulas salivares menores mais acometidas (ATA-ALI et al., 2010). Em cães e gatos, quando localizadas na região sublingual, as mucoceles são denominadas de rânulas (Figura 3) (RAHAL et al., 2007; ATA-ALI et al., 2010). FIGURA 1 Imagem fotográfica de cão demonstrando mucocele na região cervical ventral direita (seta vermelha) (Fonte: Arquivo pessoal, 2009). FIGURA 2. Imagem fotográfica de cão demonstrando mucocele bilateral na região cervical ventral (Fonte: Arquivo pessoal, 2012). ENCICLOPÉDIA BIOSFERA, Centro Científico Conhecer - Goiânia, v.9, N.16; p. 1536 2013 FIGURA 3. Imagem fotográfica de cavidade oral de felino demonstrando presença de rânula (seta vermelha) (Fonte: Arquivo pessoal, 2012). Na maioria das vezes, quando a glândula zigomática é afetada, a saliva acumula-se na região ventral do globo ocular (ANDRADE et al., 2011), porém essa ocorrência é rara (KAZEMI et al., 2012). As mucoceles possuem etiologia infecciosa, traumática (após cirurgias glandulares, auto mordiscamentos linguais, feridas por mordedura, uso de enforcadores ou coleiras apertadas, acidentes balísticos, fornecimento de osso na alimentação) (GHOREISHIAN & GHEISSARI, 2009; GAHIR et al., 2011), neoplásica, idiopática ou obstrutiva por cálculos mineralizados (sialólitos) (WIGGS & LOBPRISE, 1997; DUMPIS & FELDMANE, 2001; GIOSO, 2003; FISCH et al., 2008; KAISER et al., 2008; ATA-ALI et al., 2010; FERNANDES et al., 2012). Alguns autores (KAZEMI et al., 2012) também relataram que a dirofilária pode estar envolvida na etiologia das mucoceles. Em humanos, acredita-se que podem estar correlacionadas com indivíduos portadores do vírus da AIDS (ANDRADE et al., 2011). Os pacientes acometidos podem ficar assintomáticos ou apresentar sinais clínicos diversos, dependendo da glândula acometida. Os pacientes com rânula apresentam dificuldade de apreensão dos alimentos, disfagia, movimentos anormais da língua, hemorragias e hematomas orais e anorexia (FOSSUM, 2002; ANDRADE et al., 2011). O desconforto respiratório, irritabilidade e disfagia são comuns em cães com mucocele faringeana (GIOSO, 2003). Sinais oculares como exoftalmia, estrabismo divergente e inchaço periocular são encontrados em caninos com mucocele zigomática (BARTOE et al., 2007). Não há predisposição sexual e racial em cães (FERNANDES et al., 2012), porém os poodles, pastores alemães (PIGNONE et al., 2009; MENEZES et al., 2012), yorkshires e dachshunds são os mais comumente afetados (FOSSUM, 2002; ANDRADE et al., 2011). Os poucos casos relatados na espécie felina foram de animais sem raça definida (RAHAL et al., 2007). Em humanos, o sexo feminino é o mais afetado e a maioria dos casos relatados são de pacientes adultos jovens e crianças (CRIVELLARO et al., 2007; ENCICLOPÉDIA BIOSFERA, Centro Científico Conhecer - Goiânia, v.9, N.16; p. 1537 2013 KAISER et al., 2008; ATA-ALI et al., 2010). O diagnóstico é baseado no histórico do paciente, exame físico (palpação glandular e do aumento de volume) e análise do material obtido por punção aspirativa do local intumescido (GIOSO, 2003; BARTOE et al., 2007; ATA-ALI et al., 2010; PEREIRA & MALM, 2011; VALLEFUOCO et al., 2011; KAZEMI et al., 2012). Normalmente, o conteúdo aspirado é definitivo para o diagnóstico por ser viscoso, espesso, translúcido, de coloração amarelo-palha à avermelhada e com aspecto de saliva. A análise citológica, normalmente demonstra diversos macrófagos vacuolizados e células gigantes e polimorfonucleares, sugerindo inflamação granulomatosa com escassa celularidade (ANDRADE et al., 2011). Dependendo do tamanho da mucocele, não é possível afirmar clinicamente o lado da glândula salivar afetada (PIGNONE et al., 2009); aconselha-se inspecionar o paciente em decúbito dorsal, na tentativa de que o aumento de volume tenda para o lado do comprometimento, mas nem sempre isso ocorre (FOSSUM, 2002; GIOSO, 2003). Em contrapartida, a sialografia utilizando contraste hidrossolúvel iodado no interior do ducto salivar (aproximadamente 0,5 a 1,5 mililitros), com o auxílio de cânulas e cateteres, é útil para determinar com exatidão o lado acometido (DUMPIS & FELDMANE, 2001; GIOSO, 2003; GHOREISHIAN & GHEISSARI, 2009; ANDRADE et al., 2011; VALLEFUOCO et al., 2011). Para verificar a presença de sialólitos (Figura 4), corpos estranhos ou nodulações nas glândulas salivares indicam-se raios-x simples da região afetada (GIOSO, 2003; PIGNONE et al., 2009). Normalmente, os exames laboratoriais encontram-se dentro dos parâmetros de normalidade para a espécie (WIGGS & LOBPRISE, 1997; FOSSUM, 2002). FIGURA 4. Imagem radiográfica látero lateral de cão demonstrando presença de inúmeros sialólitos (setas vermelhas) na região cervical ventral (Fonte: Arquivo pessoal, 2009). ENCICLOPÉDIA BIOSFERA, Centro Científico Conhecer - Goiânia, v.9, N.16; p. 1538 2013 De acordo com BARTOE et al., (2007), ATA-ALI et al., (2010) e ANDRADE e colaboradores (2011), as sialoadenites, hiperplasia fibrosa, neoplasias salivares, corpos estranhos, hematomas, cistos e abscessos devem ser incluídos no diagnóstico diferencial das mucoceles. O tratamento conservador é baseado na drenagem do conteúdo salivar acumulado no tecido subcutâneo (GAHIR et al., 2011), com agulha estéril de amplo calibre (WIGGS & LOBPRISE, 1997; VALLEFUOCO et al., 2011); mas apesar de ser um procedimento pouco invasivo, a recidiva é comum nestes casos (RAHAL et al., 2007; FISCH et al., 2008) e por causar fibrose e abscedação pode dificultar o procedimento cirúrgico subsequente (FOSSUM, 2002). Outro fator que desfavorece o ato cirúrgico por causar fibrose é a irrigação interna da mucocele com tintura de iodo após a drenagem salivar (DUMPIS & FELDMANE, 2001; ANDRADE et al., 2011; KAZEMI et al., 2012). No tratamento cirúrgico indica-se a ressecção da glândula salivar comprometida (sialoadenectomia) (Figura 5) (WIGGS & LOBPRISE, 1997; FISCH et al., 2008; VALE et al., 2009; MENEZES et al., 2012), além de obliteração do ducto salivar correspondente (DUMPIS & FELDMANE, 2001; GIOSO, 2003; ANDRADE et al., 2011), com o animal sob anestesia geral inalatória (FOSSUM, 2002). ANDRADE e colaboradores (2011) sugerem fazer ressecção bilateral glandular, quando não for possível definir exatamente o lado afetado. FIGURA 5. Imagem fotográfica demonstrando mucocele (seta vermelha) e glândula parótida (seta amarela) de cão, após remoção cirúrgica (Fonte: Arquivo pessoal, 2009). DUMPIS & FELDMANE (2001) relataram que o acesso cirúrgico intra-oral é ENCICLOPÉDIA BIOSFERA, Centro Científico Conhecer - Goiânia, v.9, N.16; p. 1539 2013 mais difícil quando comparado com o extraoral. Este último inicia-se com a incisão ampla da pele e subcutâneo na região do aumento de volume e posterior secção do músculo platisma para tentar identificar a cápsula da glândula afetada do lado acometido (GIOSO, 2003). O lado afetado apresenta um túnel em direção ao local do vazamento salivar (FOSSUM, 2002). Após isolamento glandular deve-se realizar sialoadenectomia e remoção do ducto salivar, com cautela para não lesar nenhum nervo e vaso sanguíneo importante que possam estar aderidos nas estruturas acometidas (PIGNONE et al., 2009; KAZEMI et al., 2012). No final do procedimento, indica-se a colocação de dreno de Penrose, que deve ser mantido por até cinco dias (FOSSUM, 2002) e sutura com fio absorvível e pontos simples separados no músculo e tecido subcutâneo; a pele é suturada com fio inabsorvível em padrão de sutura simples ou interrompida (GIOSO, 2003). Se possível, a região operada deve ser protegida com bandagem compressiva para evitar a formação de seromas (ANDRADE et al., 2011). Outra opção cirúrgica é a marsupialização de glândulas sublinguais (GIOSO, 2003; PIGNONE et al., 2009), a qual permite o extravasamento do conteúdo mucoso para o interior da cavidade oral após sutura do epitélio do ducto salivar ao bucal (WIGGS & LOBPRISE, 1997); porém o índice de recidiva é alto, principalmente quando o tempo de evolução da rânula é extenso (KAISER et al., 2008; PEREIRA & MALM, 2011). Segundo FOSSUM (2002), o local operado cicatriza por segunda intenção. As complicações mais frequentes das sialoceles incluem infecções, seromas, recidivas (FOSSUM, 2002; VALE et al., 2009; PEREIRA & MALM, 2011) e edema facial (GIOSO, 2003). Na maioria das vezes, o prognóstico após o tratamento cirúrgico é favorável (ANDRADE et al., 2011; VALLEFUOCO et al., 2011). DISCUSSÃO A mucocele é uma afecção de glândulas salivares que afeta mais frequentemente a espécie canina do que a felina (FOSSUM, 2002; RAHAL et al., 2007; PIGNONE et al., 2009), sendo que nesta última há poucos casos relatados na literatura (VALLEFUOCO et al., 2011). Podem ser formadas em diferentes locais (FOSSUM, 2002; RAHAL et al., 2007; KAISER et al., 2008; ANDRADE et al., 2011; PEREIRA & MALM, 2011; KAZEMI et al., 2012; MENEZES et al., 2012), porém a maioria dos cães apresentam mucoceles cervicais (FOSSUM, 2002). Mesmo apresentando inúmeros fatores etiológicos (GHOREISHIAN; GHEISSARI, 2009; GAHIR et al., 2011), a causa das mucoceles nem sempre é possível de ser estabelecida nos cães (KAZEMI et al., 2009). O aumento de volume decorrente da mucocele é macio, flutuante e regular; em contrapartida as neoplasias são geralmente firmes e irregulares (FOSSUM, 2002). Em alguns casos, os pacientes com mucocele faringeana necessitam ser intubados para minimizar a angústia respiratória; porém essa intubação nem sempre é possível ser realizada pela boca, sendo indicado traqueostomia temporária (WIGGS & LOBPRISE, 1997; FOSSUM, 2002). Apesar de a punção aspirativa (paracentese) ser um procedimento de simples execução (PEREIRA & MALM, 2011; KAZEMI et al., 2012), deve ser realizada de forma asséptica para evitar infecção local (FOSSUM, 2002). E, mesmo que esse ENCICLOPÉDIA BIOSFERA, Centro Científico Conhecer - Goiânia, v.9, N.16; p. 1540 2013 exame complementar possa ser definitivo no diagnóstico da mucocele, o tecido excisado na cirurgia deve ser encaminhado para exame histopatológico, sendo previamente conservado em formol a 10% (KAISER et al., 2008; ATA-ALI et al., 2010; VALLEFUOCO et al., 2011; KAZEMI et al., 2012). Os sialólitos, um dos fatores etiológicos das mucoceles, normalmente são cálculos consistentes, irregulares, multifacetados, únicos ou múltiplos e de tamanhos variados, formados pela deposição de sais minerais como fosfatos e carbonato de cálcio, além de magnésio, zinco, nitrato, proteínas, bactérias, muco e células epiteliais descamadas (PIGNONE et al., 2009; VALE et al., 2009; FERNANDES et al., 2012) associado ao pH alcalino da espécie canina (PIGNONE et al., 2009). Essas estruturas calcificadas podem ser vistas tanto no interior do tecido glandular quanto nos ductos salivares (PIGNONE et al., 2009). A sialografia, apesar de ser fidedigna na identificação da glândula salivar afetada (GHOREISHIAN & GHEISSARI, 2009; PIGNONE et al., 2009), é um exame complementar de difícil execução na veterinária (FOSSUM, 2002; KAISER et al., 2008), além de invasiva (DUMPIS & FELDMANE, 2001; VALLEFUOCO et al., 2011; KAZEMI et al., 2012). Em humanos, como as mucoceles são frequentemente pequenas e localizadas na mucosa do lábio inferior pode-se utilizar a crioterapia e aplicação de laser com dióxido de carbono, como forma de tratamento inicial (ATA-ALI et al., 2010). O tratamento de eleição para mucocele é a sialoadenectomia (FISCH et al., 2008; VALE et al., 2009; MENEZES et al., 2012); por ser um método simples, rápido e efetivo (VALLEFUOCO et al., 2011). Indica-se não romper a cápsula glandular durante o procedimento cirúrgico, evitando-se assim o extravasamento de saliva no campo operatório e consequente contaminação (PIGNONE et al., 2009). Mesmo com a exérese glandular não há relatos no pós-operatório de pacientes com xerostomia e interferência na deglutição e umidificação alimentar (FOSSUM, 2002), pois a produção de saliva pelas glândulas maiores e menores preservadas é o suficiente (GIOSO, 2003). CONSIDERAÇÕES FINAIS A mucocele é uma formação pseudocística da mucosa oral, preenchida por conteúdo salivar, com paredes finas e sem epitélio de revestimento. O diagnóstico precoce e a terapia cirúrgica nos casos de mucocele são fatores determinantes para o bom prognóstico e aumento da qualidade de vida dos cães acometidos. A extirpação da glândula salivar afetada é o tratamento de eleição, por promover a reparação tecidual e reestruturação do local afetado e diminuir o índice de recidiva. Os detalhes anatômicos durante a sialoadenectomia minimizam possíveis complicações. O prognóstico das mucoceles é favorável, no entanto recidivas podem ocorrer caso a glândula salivar não seja totalmente removida. REFERÊNCIAS ANDRADE, E. C.; SEPÚLVEDA, R. V.; GALVÃO, S. R.; DEL CARLO, R. J. Ressecção bilateral de glândulas salivares no tratamento da sialocele cervical em cão. Relato de caso. Revista do CFMV – Conselho Federal de Medicina ENCICLOPÉDIA BIOSFERA, Centro Científico Conhecer - Goiânia, v.9, N.16; p. 1541 2013 Veterinária, v. 17, n. 54, p. 44-48, 2011. ATA-ALI, J.; CARRILLO, C.; BONET, C.; BALAGUER, J.; PENARROCHA, M.; PENARROCHA, M. Oral mucocele: review of the literature. Journal of Clinical and Experimental Dentistry, v. 2, n.1, p. 18-21, 2010. BARTOE, J. T.; BRIGHTMAN, A. H.; DAVIDSON, H. J. Modified lateral orbitotomy for vision-sparing excision of a zygomatic mucocele in a dog. Veterinary Ophthalmology, v. 10, n. 2, p. 127-131, 2007. CRIVELLARO, J. S.; RUSCHEL, H. C.; PINTO, T. A. S.; FERREIRA, S. H. Mucocele labial: relato de caso em criança de dois anos de idade. Stomatus, v. 13, n. 24, p. 30-36, 2007. DUMPIS, J.; FELDMANE, L. Experimental microsurgery of salivary ducts in dogs. Journal of Cranio-Maxillofacial Surgery, v. 29, n.1, p. 56-62, 2001. FERNANDES, T. R.; GRANDI, F.; MONTEIRO, L. N.; SALGADO, B. S.; ROCHA, R. M.; ROCHA, N. S. Ectopic ossification presenting as osteoid metaplasia in a salivary mucocele in a Shi Tzu dog. BMC Veterinary Research, v. 8, n. 13, p. 2-5, 2012. FISCH, A.; SILVA, F. S.; ARAÚJO, F. C.; GUIM, T. N. Aspectos clínico-cirúrgico de sialocele em canino. In: Anais do XVII CIC (Congresso de Iniciação Científica) e X ENPOS (Encontro de Pós-Graduação) da Universidade Federal de Pelotas; 2008; Pelotas – RS, BR. p.1. FOSSUM, T. W. Cirurgia de pequenos animais. In: __ Cirurgia do Sistema Digestório. 1. ed. São Paulo: Roca, 2002. Cap. 16, p. 222-405. GAHIR, D.; CLIFFORD, N.; YOUSEFPOUR, A.; AVERY, C. A novel method of managing persistent parotid sialocele. British Journal of Oral and Maxillofacial Surgery, v. 49, n. 1, p. 491-492, 2011. GHOREISHIAN, M.; GHEISARI, R. Parotid duct repair with suturing and anastomosis using tissue adhesive, evaluated by sialography: na experimental study in the dog. Journal of Oral and Maxillofacial Surgery, v. 67, n. 1, p. 1191-1196, 2009. GIOSO, M. A. Odontologia para o clínico de pequenos animais. In: __ Glândulas salivares. 5. ed. São Paulo: iEditora, 2003. Cap. 13, p. 153-157. KAISER, K. M.; SILVA, A. L. T.; ROSA, T. F.; PEREIRA, M. A. Mucocele em mucosa de lábio inferior. RGO, v. 56, n.1, p. 85-88, 2008. KAZEMI, D.; DOUSTAR, Y.; ASSADNASSAB, G. Surgical treatment of a chronically recurring case of cervical mucocele in a German shepherd dog. Case Reports in Veterinary Medicine, v. 1, n.1, p. 1-4, 2012. MENEZES, A. T.; TORELLI, A.; COSTA, J. L. O.; PENA, S. B. Mucocele bilateral – relato de caso. In: Anais da III SEPAVET – Semana de Patologia Veterinária e do ENCICLOPÉDIA BIOSFERA, Centro Científico Conhecer - Goiânia, v.9, N.16; p. 1542 2013 II Simpósio de Patologia Veterinária do Centro Oeste Paulista FAMED – Faculdade de Medicina Veterinária da FAEF; 2012; Garça – SP, BR. p. 1-4. PEREIRA, R. D. O.; MALM, C. Aspectos clínicos e cirúrgicos das mucoceles salivares em cães. Clínica Veterinária, v. 1, n. 94, p. 72-76, 2011. PIGNONE, V. N.; FARACO, C. S.; ALBUQUERQUE, P. B.; RECLA, G.; GIANOTTI, G.; CONTESINI, E. A. Sialólito no ducto da glândula mandibular em cão. Acta Scientiae Veterinariae, v. 37, n. 3, p. 277-280, 2009. RAHAL, S. C.; MAMPRIM, M. J.; CAPORALI, E. H.; CIANI, R. B. Temporomandibular joint ankylosis and salivary mucocele in a cat: case report. Arquivo Brasileiro de Medicina Veterinária e Zootecnia, v. 59, n. 1, p. 140-144, 2007. VALE, D. F.; RAMOS, R. M.; FERREIRA, F. S.; QUEIROZ, F. F.; SAMPAIO, R. L.; LACERDA, M. S. Sialolitíase em ducto da glândula submandibular em cão. Jornal Brasileiro de Ciência Animal, v. 2, n. 3, p. 1-2, 2009. VALLEFUOCO, R.; JARDEL, N.; EL MRINI, M.; STAMBOULI, F.; CORDONNIER, N. Parotid salivary duct sialocele associated with glandular duct stenosis in a cat – case report. Journal of Feline Medicine and Surgery, v. 13, n. 1, p. 781-783, 2011. WIGGS, R. B.; LOBPRISE, H. B. Veterinary dentistry, principles and pratice. In: __ Oral Surgery. 1. ed. Philadelphia: Lippncott- Raven, 1997. Cap. 9, p. 232-258. ENCICLOPÉDIA BIOSFERA, Centro Científico Conhecer - Goiânia, v.9, N.16; p. 1543 2013