ENQUALAB-2008 – Congresso da Qualidade em Metrologia Rede Metrológica do Estado de São Paulo - REMESP 09 a 12 de junho de 2008, São Paulo, Brasil ADEQUAÇÃO DO LABORATÓRIO DE AVALIAÇÃO DE MEDIÇÃO EM PETRÓLEO – LAMP AOS REQUISITOS DA NORMA NBR ISO/IEC 17025:2005 Janaina Karla de Medeiros Penha1, Andrés Ortiz Salazar2, Filipe de Oliveira Quintaes3, Walter Link4, Mario Cia5, José A. D. Amado6, Iuri A. C. Dantas7 1 Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal, Brasil, [email protected] 2 Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal, Brasil, [email protected] 3 Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal, Brasil, [email protected] 4 Universidade Federal do Rio Grande do Norte , Natal, Brasil, [email protected] 5 Universidade Federal do Rio Grande do Norte , Natal, Brasil, [email protected] 6 Universidade Federal do Rio Grande do Norte , Natal, Brasil, [email protected] 7 Universidade Federal do Rio Grande do Norte , Natal, Brasil, [email protected] Resumo: É de fundamental importância o reconhecimento formal por um organismo de acreditação de que um laboratório de calibração e ensaios atenda aos requisitos previamente definidos e demonstre ser competente para realizar suas atividades com confiabilidade. Tal reconhecimento está definido na norma ABNT NBR ISO/IEC 17025:2005 que trata dos requisitos gerais para a competência de laboratórios de ensaio e calibração e é utilizada pelo INMETRO como norma base para a certificação laboratorial. O Laboratório de avaliação de medição em Petróleo (LAMP), localizado na Universidade Federal do Rio Grande do Norte, tem por objetivo avaliar de forma automática os medidores utilizados pelos clientes nos processos de medição de vazão e BSW, e é o primeiro deste segmento da região Norte e Nordeste. Sendo assim, o objetivo deste trabalho é apresentar as etapas de adequação do LAMP aos requisitos da norma. Além disso, o artigo aborda diversos documentos que já foram elaborados e que são necessários, como: o manual da qualidade, procedimentos administrativos, procedimentos técnicos, procedimentos de calibração, validação da planilha do cálculo de incertezas, como também o desenvolvimento de um software pelo próprio laboratório, para gestão de equipamentos e de documentos. Palavras-chave: 17025:2005. Acreditação, LAMP, NBR calibração e ensaios, possibilitando as organizações a demonstrarem formalmente sua capacitação técnica na prestação de serviços adequados e compatíveis com o sistema metrológico nacional e internacional. Ensaios e calibrações são componentes básicos para a qualidade. Os clientes de laboratórios necessitam de relatórios de ensaios e certificados de calibração confiáveis de maneira a assegurar que seus produtos e serviços estão em conformidade com especificações ou exigências de normas técnicas. Com base na ABNT NBR ISO/IEC 17025:2005, o credenciamento concedido pelo inmetro, significa o reconhecimento formal de que o laboratório está trabalhando com um sistema da qualidade documentado e é tecnicamente competente para realizar calibrações ou ensaios específicos. Foi com esta perspectiva que se iniciou a padronização segundo norma citada e consequentemente a implantação de um Sistema de Gestão da Qualidade no Laboratório de Avaliação de Medição em Petróleo - LAMP. A Figura 1 apresenta o fluxograma que descreve passo a passo o processo básico para solicitação da acreditação. ISO/IEC 1. INTRODUÇÃO O objetivo principal do sistema de acreditação é estabelecer e promover uma rede de laboratórios competência reconhecida a fim de oferecer serviços calibração e ensaios confiáveis aos diversos segmentos sociedade brasileira [1]. de de de da A globalização e a crescente conscientização do mercado consumidor, apoiada por leis e instrumentos governamentais vêm exigindo a busca pela qualidade dos produtos e serviços. Neste contexto, estão inseridas as atividades de Fig. 1. Fluxograma para Acreditação. Adaptada de INMETRO. Serão apresentadas, inicialmente, informações sobre o LAMP, um breve histórico sobre a padronização em laboratórios e a evolução da norma ISO/IEC 17025. Em seguida, as etapas de implantação da norma no LAMP, como também uma abordagem sobre diversos documentos que já foram elaborados e que são necessários, como: o manual da qualidade, procedimentos administrativos, procedimentos de calibração, a validação da planilha do cálculo de incertezas, como também o desenvolvimento de um software para gestão de equipamentos e de documentos. 2. SOBRE O LAMP O Laboratório de avaliação de medição em Petróleo tem por objetivo avaliar de forma automática os medidores utilizados pelos clientes nos processos de medição de vazão e BSW, permitindo a simulação de diferentes condições de operação dos medidores em campo, simular misturas de água e óleo em proporções e vazões variadas. Para realizar estas simulações o laboratório possui seis tanques: óleo, água, misturador, auditor, resíduos além de um tanque tratador para separação água/óleo, que possibilita a reutilização da água e do óleo em testes seguintes sem a necessidade de descartes a cada teste. Este laboratório, situado em Natal/RN, é o primeiro deste segmento da região Norte e Nordeste e pretende solucionar problemas de logística para sues clientes. Pois, atualmente para efetuar uma avaliação de um medidor, há a necessidade de enviar os instrumentos para a região Sudeste e conseqüentemente, os clientes tendo que arcar com os custos de transportes e algumas vezes com perda do instrumento devido ao mau sistema de transporte. 3. A NORMA ABNT NBR ISO/IEC 17025:2005 A norma NBR ISO/IEC 17025 estabelece os requisitos gerais para a competência de laboratórios de ensaio e calibração [2] que desejem demonstrar competência técnica ao realizar suas atividades e no desenvolvimento de seu Sistema de Gestão da Qualidade. O processo de padronização em laboratórios de ensaio e calibração teve início em 1978 com a publicação da ISO/IEC Guia 25 que era utilizada na maioria dos países, entretanto, em muitos países da Europa, vigorava a EN 45001. Visando suprir as lacunas deixadas por ambas às normas com relação ao detalhamento necessário para a aplicação do conteúdo mínimo a ser apresentado na política da qualidade, na rastreabilidade da medição ou na confiabilidade do laboratório, a ISO iniciou em 1995 os trabalhos de revisão da ISO Guia 25, o que resultou na norma ISO/IEC 17025. Onde esta, foi produzida como resultado de ampla experiência na implementação da ISO Guia 25, incorporando diretrizes difundidas pela norma ISO 9000. No Brasil foi publicada pela ABNT em 2001, e como esta primeira revisão tinha como referência algumas normas da série ISO 9000, tornou-se necessário um ajuste da ABNT NBR ISO/IEC 17025, sendo a atual versão datada de 2005. A norma está dividida em requisitos da direção (chamados na versão anterior de requisitos da qualidade) e técnicos, conforme descrição abaixo: Os requisitos da direção correspondem às exigências que devem ser cumpridas pela direção do Laboratório, item 4, e fazem referência à ISO 9001, com destaque para a relevância que a norma dá para que os laboratórios também desenvolvam um sistema de qualidade. Sendo assim, para que um laboratório seja certificado pela norma ISO/IEC 17025, o mesmo também opera de acordo com a norma ISO 9001, onde devem ser implementados os mesmos procedimentos obrigatórios como análise crítica, ação preventiva, controle de documentos, etc.; O item 5 contém os requisitos técnicos que devem ser seguidos pelo laboratório que busca a certificação, e fazem referência à ISO/IEC Guia 25. O laboratório deve ter implementado planos e procedimentos que assegurem a confiabilidade das calibrações, como cálculo de incerteza de medição, rastreabilidade, validação dos métodos, etc. 4. ADEQUAÇÃO DO LAMP AOS REQUISITOS DA NORMA NBR ISO/IEC 17025:2005 4.1. Diagnóstico Inicial A primeira etapa da adequação foi um estudo da norma ISO/IEC 17025, como também foi definido o escopo que seria submetido à avaliação. Esta definição se faz necessária porque a avaliação e o reconhecimento se dão por grupos de serviços de calibração estabelecidos na norma NIT-DICLA012, incluindo serviços, faixas e melhores capacidades de medição, e não para todo o laboratório. Desta forma, é importante definir estes aspectos logo no começo dos trabalhos, pois o planejamento inicial afeta todo o processo decorrente na implementação da norma, inclusive os custos envolvidos. A seguir, fez-se um levantamento inicial do status do LAMP frente à norma, ou seja, foi verificado como o laboratório estava atendendo os requisitos da norma. Foram designados um Gerente e uma equipe da qualidade, responsáveis por coordenar o início do processo de implementação do sistema da qualidade, e o gerente técnico para o laboratório. 4.2. Documentação do Sistema da Qualidade O processo de construção do sistema da qualidade foi iniciado através da documentação. A NBR ISO/IEC 17025:2005 contextualiza como “documento” as declarações da política, procedimentos, especificações, tabelas de calibração, gráficos, livros, pôsteres, avisos, memorandos, software, desenhos, planos, etc. No LAMP, o primeiro passo para a estruturação do sistema da qualidade foi à elaboração de um procedimento para servir como base e adotar uma padronização para a elaboração dos documentos. A partir daí, foram elaborados os Procedimentos Administrativos (PAD), os Procedimentos Operacionais (POP), como também os procedimentos de calibração (PC) e de cálculo de incerteza. Todos os procedimentos de calibração do LAMP são executados com base em normas técnicas. Por isso, também foi necessário estabelecer uma sistemática para o controle da atualização dessas normas, garantindo sempre a utilização da última edição válida das mesmas. Posteriormente foi elaborado o Manual da Qualidade do LAMP (MQL). Esses documentos estão na forma física (papel) e eletrônica. Apesar da NBR ISO/IEC 17025 não definir um período para arquivamento dos registros gerados pelo laboratório, o LAMP mantém seus registros arquivados por um período determinado em um procedimento administrativo do laboratório. Manual da qualidade do LAMP (MQL) Contém as diretrizes gerais para o gerenciamento do Sistema da Qualidade do LAMP. Sua fundamentação está baseada na NBR ISO/IEC 17025/2005. Procedimento Administrativo LAMP (PAD) Contém ações, de ordem gerencial, necessárias para o adequado desenvolvimento das atividades do LAMP. Procedimento Operacional LAMP (POP) Estabelecem os aspectos técnicos e operacionais para a realização das atividades de medição e calibração do laboratório. medição de petróleo – LAMP para gerenciamento corporativo do laboratório, bem como acompanhamento industrial e de controle, visando atender não só aos prérequisitos de acreditação do laboratório, pela norma 17025, bem como atender necessidades industriais específicas. O sistema visa inicialmente uma disponibilidade de orçamentos, relatórios internos e externos ao laboratório, geração de ordens de serviço, entre outros, mas o grande diferencial do sistema é um módulo industrial que possibilita a visualização em tempo real das variáveis de processo, bem como a interação com a parte corporativa do sistema, isso sendo disponibilizado em diversos formatos de mídias e tecnologias (intranet, internet, celulares, PDAs, etc.) disponibilizando para a equipe interna e para o cliente o acompanhamento descentralizado de um teste e/ou avaliação metrológica do laboratório, aumentando a transparência e confiabilidade dos testes, bem como aumentando a comodidade para cliente, o qual pode acompanhar todas as etapas, processos, variáveis e condições aos quais seu instrumento está sendo submetido pelo laboratório [3]. A figura 3 apresenta o fluxograma do LKM. Procedimento de Calibração LAMP (PC) Estabelecem os aspectos técnicos para a realização das atividades de calibração do laboratório. Registro da Qualidade LAMP (RQL) Os Registros da Qualidade abrangem uma extensa variedade de documentos internos e externos do Sistema da Qualidade. Enquadram-se como RQL, por exemplo, formulários para coleta de dados brutos, registros de treinamento, normas do INMETRO e outros. A Figura 2 apresenta a hierarquia da documentação utilizada no laboratório, para a implantação do sistema da qualidade. Fig. 2. Hierarquia dos documentos do sistema da qualidade do LAMP 4.3. Software para gestão de equipamentos e de documentos (Lamp Knowledge Manager) Além da elaboração dos documentos necessários a implantação do sistema da qualidade, foi desenvolvido um software para gestão de equipamentos e de documentos. O LKM (Lamp Knowledge Manager) é um sistema desenvolvido pelo próprio laboratório de avaliação e Fig. 3. Fluxograma Software para gestão de equipamentos e de documentos (Lamp Knowledge Manager) 4.4. Requisitos Técnicos Os requisitos técnicos da norma tratam de: Capacitação e treinamento dos colaboradores; Análise da interferência das acomodações ambientais nas calibrações; Elaboração e validação dos métodos de ensaio e calibração. Neste item aparecem os requisitos do cálculo de incerteza; Requisitos em relação aos equipamentos; Rastreabilidade da medição; Logística de Itens de Calibração; Garantia da Qualidade; Apresentação dos resultados. Dentre os requisitos citados acima, o LAMP já tem desenvolvido a capacitação e treinamento dos colaboradores, como também a elaboração e validação dos métodos de calibração e da planilha do cálculo de incertezas. Para validação desta metodologia de cálculo de incerteza foi elaborado um conjunto de planilhas e uma seqüência de comandos e funções armazenados em um módulo do Visual Basic denominado “Macros” no Microsoft EXCEL versão 2000 que implementam a metodologia proposta. A primeira planilha denominada “Aquisição” é responsável pela aquisição das grandezas necessárias determinação do BSW e da vazão. Esta planilha trabalha em conjunto com o sistema supervisório do laboratório sendo possível monitorar todos os dados em tempo real. Uma vez dado início à aquisição esses dados são registrados em intervalos pré-estabelecidos e armazenados para posterior tratamento. Após o término da aquisição as estimativas das grandezas de influência são transferidas para a planilha “Dados” onde são realizados os cálculos do BSW e da vazão propriamente dito. Os dados registrados obtidos ao longo do teste são transferidos para uma planilha modelo denominada “Incerteza”. Nesta planilha está contido um banco de dados que contêm todas as informações sobre as propriedades e características dos instrumentos utilizados para medição, tais como dados de certificado de calibração, resolução, etc, e também a planilha de cálculo de incerteza propriamente dita, conforme apresentado nas Figuras 3 e 4. É realizada uma cópia da planilha modelo e novos testes podem ser realizados com a mesma planilha. Fig. 4. Planilha Cálculo da Incerteza da Determinação da Vazão Fig. 5. Planilha Cálculo da Incerteza do BS&W 5. FASE ATUAL Está em andamento a elaboração dos demais requisitos técnicos e documentos relacionados à norma. A documentação também está preenchida para ser encaminhada ao INMETRO para que o mesmo possa verificar o sistema de gestão da qualidade do LAMP tendo como meta final a acreditação do laboratório. Um ponto importante que deve ser ressaltado é o fato de o laboratório possuir uma grande rotatividade de colaboradores, alunos de graduação, mestrandos e doutorandos. Com a padronização de acordo com a norma e a implantação do sistema de gestão da qualidade, o conhecimento mantém-se também no Sistema e não somente com as pessoas. Assim, novos colaboradores do laboratório irão possuir maior facilidade para iniciar os seus trabalhos através dos procedimentos, também com a utilização dos mesmos, o laboratório preocupa-se como realizar suas tarefas da melhor forma: conceito de melhoria contínua, um dos alicerces da norma ISO 17025:2005. 6. CONCLUSÃO A implementação de um Sistema da Qualidade baseado na norma NBR ISO/IEC 17025 em um laboratório e, eventualmente, sua acreditação, pelo INMETRO, traz inúmeras vantagens. A equipe do LAMP espera que a adequação segundo a norma citada o laboratório proporcione a acreditação junto ao INMETRO, inserindo a cultura da sistematização das atividades e da confiabilidade metrológica, conferindo ao mesmo, melhor eficiência, maior abrangência de serviços e, especialmente, maior rigor metrológico nas atividades de pesquisa. Desta forma, tornando possível à prestação de serviço de calibração dos instrumentos de vazão e BSW para as indústrias petroquímicas nacionais com a comprovação da competência técnica, credibilidade e capacidade operacional do laboratório. REFERÊNCIAS [1] Dias de Carvalho, A., “Implementação da norma NBR ISO/IEC 17025: uma proposta para reduzir o tempo de acreditação”, UFF, Niterói, Rio de Janeiro – BRASIL, 2004. [2] NBR ISO/IEC 17025, “Requisitos gerais para competência de laboratórios de ensaio e calibração”, ABNTAssociação Brasileira de Normas Técnicas, Rio de Janeiro, 2005. [3] Fernando de O. Gomes. José, Cia. Mário, “LKM Sistema de gerenciamento e controle industrial integrado em múltiplas mídias do Laboratório de avaliação de Medição em petróleo –UFRN”. [4] Inmetro, Sistema de Consulta www.inmetro.gov.br, agosto de 2007. Online, [5] Inmetro, Vocabulário Internacional de Termos Fundamentais e Gerais de Metrologia”, Duque de Caxias, RJ.