O legado do Conselheiro SOCIEDADE MINEIRA DE CULTURA MANTENEDORA DA PUC Minas E DO COLÉGIO SANTA MARIA DATA: 24 / 11 / 2007 UNIDADE: II VESTIBULAR SIMULADO DE LÍNGUA PORTUGUESA Aluno(a): Nº Professor: Valor: 5 __ Média: 2ª Série/EM–Turma: ______ 3 Pontos Obtidos: Cidade de Deus Canudos não existe mais. A vila do Conselheiro, não bastasse ter sido destruída na guerra, encontra-se submersa, afogada que foi, em 1969, pelas águas do Açude de Cocorobó. A cidadezinha que hoje toma o nome de Canudos fica a 10 quilômetros da original. Em volta do açude, qual sentinelas de uma história que insiste em não morrer, vigiam os morros tornados nacionalmente conhecidos, à época da campanha, como locais de onde o Exército disparava seus canhões contra o arraial insurgente, e onde os rebeldes arriscavam suas escaramuças contra as tropas regulares — o Morro da Favela, o Morro do Mário. O Morro da Favela tornou-se tão famoso que veio a nomear um morro similar no Rio de Janeiro — por causa dos casebres parecidos com os de Canudos que nele vieram a erigir, segundo uma versão, ou porque nele se aboletaram os soldados veteranos da campanha, segundo outra. E a partir daí a palavra “favela” passou a ter um significado tão simbólico do Brasil quando as cores verde e amarela. Uma multidão de casas de taipa, ordenadas, ou melhor, desordenadas em volta de uma praça: eis o que era o arraial. O Exército calculou em 25 000 os seus habitantes, o que o tornaria a segunda cidade da Bahia na época, só inferior a Salvador. Considerando-se hoje, em geral, o cálculo exagerado. Na praça central havia duas igrejas, uma em frente da outra — as chamadas “igreja velha”, a menor, e “igreja nova”, esta uma ambiciosa obra empreendida pelos conselheiristas, nunca terminada. Aquela guerra singular, tão brasileira quanto a Guerra de Tróia foi grega, e tão reveladora de mitos, artimanhas e desencontros da nacionalidade, travou-se em torno da praça das igrejas. Mais particularmente, da igreja nova, em cujas torres incompletas e andaimes encarapitavam-se os sertanejos para alvejar os inimigos, e que por sua vez consistia no alvo preferencial da fuzilaria e do canhoneiro dos soldados. Quando caiu enfim a igreja nova, no finzinho da guerra, houve grandes manifestações de júbilo entre os soldados e, segundo o relatório de um dos comandantes militares, “uma entusiástica e violenta vaia na jagunçada”. Aproximava-se do desfecho a bizarra guerra que teve por centro uma igreja. TOLEDO Roberto, Pompeu de. O legado do Conselheiro. Veja, São Paulo, v. 35, n. 1511, p. 65-66, set. 1997. QUESTÃO 01 (...) Ainda hoje, o céu azula e estrelece o mundo, as matas enverdecem a terra, as nuvens clareiam as vistas e o homem inova avermelhando o rio. Aqui agora uma favela, a neofavela de cimento, armada de becos-bocas, sinistros-silêncios, com gritos-desesperos no correr das vielas e na indecisão das encruzilhadas. Os novos moradores levaram lixo, latas, cães vira-latas, (...), dias para se ir à luta, soco antigo para ser descontado, restos de raiva de tiros, noites para velar cadáveres, resquícios de enchentes, biroscas, feiras de quartas-feiras e as de domingos, vermes velhos em barrigas infantis, revólveres, (...), samba de enredo e sincopado, jogo do bicho, fome, traição, mortes, jesus cristos em cordões arrebentados, forró quente para ser dançado, lamparina de azeite para iluminar o santo, fogareiros, pobreza para querer enriquecer, olhos para nunca ver, nunca dizer, nunca olhos e peito para encarar a vida, despistar a morte, rejuvenescer a raiva, ensangüentar destinos, fazer a guerra e para ser tatuado. Foram atiradeiras, revistas Sétimo Céu, panos de chão ultrapassados, ventres abertos, dentes cariados, catacumbas incrustadas nos cérebros, cemitérios clandestinos, peixeiros, padeiros, missa de sétimo dia, pau para matar a cobra e ser mostrado, a percepção do fato antes do ato, (...), as pernas para esperar ônibus, as mãos para o trabalho pesado, lápis para as escolas públicas, coragem para virar a esquina e a sorte para o jogo de azar. Levaram também as pipas, lombo para polícia bater, (...). Transportaram também o amor para dignificar a morte e fazer calar as horas mudas. Por dia, durante uma semana, chegavam de trinta a cinqüenta mudanças, do pessoal que trazia no rosto e nos móveis as marcas das enchentes. Estiveram alojados no estádio de futebol Mário Filho e vinham em caminhões estaduais cantando: Cidade Maravilhosa cheia de encantos mil... (...) No TEXTO I, o narrador usa uma enumeração caótica de elementos e metonímias para revelar a realidade socioeconômica e cultural dos moradores da Cidade de Deus. Redija um texto, IDENTIFICANDO um elemento cultural e um socioeconômico e RELACIONE-OS às características dos moradores da Cidade de Deus. 1 QUESTÃO 02 Redija um parágrafo, ASSOCIANDO o texto Cidade de Deus, de Paulo Lins, e o texto O legado de Conselheiro, de Roberto Pompeu de Toledo, quanto ao sentido de “favelização”. 1 LINS, Paulo. Cidade de Deus. 2 ed. São Paulo: Companhia das Letras, 2003. p. 16-17. II VESTIBULAR SIMULADO 2007 1 II VESTIBULAR SIMULADO 2007 2 Leia a propaganda a seguir e responda às questões 03 e 04. QUESTÃO 03 A água é o princípio de tudo, fonte de saúde. Apenas 1% de toda a água do planeta é boa e fresca e quase 14% dessa água está no Brasil. A Grendene e a Gisele Bündchen apóiam a causa das águas através de diferentes programas de conservação e preservação. I. II. B) O anúncio publicitário da Ipanema estimula as pessoas a se envolverem com causas relacionadas à preservação da água. Com base nesse dado e na linguagem visual, explique como as estruturas sintáticas (definidas na questão A) dos enunciados (I e II) contribuem para a finalidade do anúncio. (0,3) A água é o princípio de tudo. (...) (...) a Terra é azul. A) Classifique os predicados desses enunciados e comente a importância deles como apelo lingüístico para persuadir o consumidor virtual a adquirir o produto. (0,5) 1 C) Na parte inferior da propaganda, a conjunção porque é responsável pela relação estabelecida com o enunciado na parte superior do anúncio. Explique a relação que esse termo estabelece no texto. (0,3) QUESTÃO 05 PEDIU www.Ipanemagiselebundchen.com.br Contigo, set. 2007. IPANEMA GISELE BÜNDCHEN PORQUE A TERRA É AZUL B) O enunciado verbal associado à imagem constrói o discurso persuasivo do anúncio,. Explique como as preposições contidas em: “dessa” e “no” contribuem para isso. (0,5) Ela fala demais. Quer dizer: falava!! A) Explique como a diferença de sentido entre as formas verbais destacadas nessa fala do Sr. Bucca é 1 essencial para a compreensão do humor da tira. (0,5) QUESTÃO 04 A propaganda explora a ocorrência da palavra água em diferentes contextos sintáticos para persuadir o interlocutor. I. A água é o princípio de tudo (...) II. A Grendene e a Gisele Büncchen apóiam a causa das águas (...) A) Que funções sintáticas o termo água exerce nos enunciados? (0,4) 1 B) A palavra complicado é particípio do verbo complicar. Entretanto, na tira, desempenha outro papel gramatical. Qual é esse papel? Justifique, tendo em vista o valor morfossintático. (0,5) RCV/PVSV/VAMR/gmf II VESTIBULAR SIMULADO 2007 3 II VESTIBULAR SIMULADO 2007 4