ÓRGÃO DE DIVULGAÇÃO DO MERCADO SEGURADOR
ANO 90 Nº892 JANEIRO/ FEVEREIRO/ MARÇO DE 2015
O RESSEGURO
NO BRASIL
Grandes
desafios e
oportunidades
ainda maiores
4º Encontro de resseguro vai reunir lideranças para o debate
Em entrevista exclusiva, Inga Beale, CEO do Lloyd’s of London, reconhece o potencial
da indústria brasileira e reafirma o interesse da instituição em investir nesse mercado
CENÁRIO BRASILEIRO
Desafios
para o futuro
do resseguro
Por CARLOS MONTEIRO
Resseguradoras passam por um período de estabilidade,
mas o cenário econômico, baseado em fatores como alta
de juros e inflação, inspira cuidados.
s
ete anos após sua abertura,
com a entrada em vigor da
Resolução nº 168/07, do
CNSP, o mercado ressegurador brasileiro vive um momento de maturidade
e encara velhos desafios, como as
condições econômicas do País e as
novas características dos riscos.
Há um consenso entre os executivos
do mercado ressegurador brasileiro,
composto por cerca de 120 empresas, distribuídas entre 16 locais, 30
admitidas e a maioria de eventuais, de
que este é um período de estabilidade
para as resseguradoras, mas que inspira cuidados, principalmente devido
ao cenário econômico.
No bojo da abertura, com o incremento da capacidade das seguradoras
para concessão de seguros em âmbito nacional, veio a concorrência, responsável por trazer novos produtos,
maior qualificação, práticas internacionais e geração de empregos. Grandes
transformações resultaram deste
processo, bem como a chegada de
08 • REVISTA DE SEGUROS
dezenas de players internacionais.
O presidente da Federação Nacional
de Empresas de Resseguros - Fenaber, Paulo Pereira, faz um balanço da atuação da entidade para o
amadurecimento do setor e lembra
que a Fenaber contribuiu com a sistematização da legislação adotada
no País. “Nós, associados, juntamos
forças e demos sugestões de forma
uniformizada. A concordância da
Susep com cerca de 80% destas
sugestões mostra que nossa contribuição foi importante”, salienta.
Crescimento real
Os dados da Fenaber indicam que
o setor de fato cresceu em termos
reais. De abril de 2008 a dezembro
de 2014, o mercado de resseguros
brasileiro mais do que dobrou de tamanho, passando de R$ 3,8 bilhões
para R$ 9,5 bilhões. Para Pereira,
a profissionalização do mercado foi
um fator que fez a diferença nesse
período. “Mais importante do que
o crescimento é o fato de termos
profissionais de resseguros com capacidade mais do que suficiente para
atender ao mercado”, acredita.
Segundo o executivo, a chegada de
profissionais do mercado financeiro
contribuiu com a adoção de melhores práticas, pois trouxe uma política
de pessoal diferenciada. Paralela-
Ou as empresas
investem pesado
em treinamento ou
acabam tendo que
trazer profissionais
de fora. Os bons são
sempre disputados
internamente.
Paulo Pereira
mente ao ‘sangue novo’ injetado no
resseguro brasileiro, o treinamento
também contribuiu para os bons
resultados. “Passamos por um
período de muitos problemas com a
falta de pessoal. Hoje o movimento
é bem diferente, pois as empresas
ou investem pesado em treinamento
ou acabam tendo que trazer profissionais de fora. Os bons são sempre
disputados internamente”, analisa.
O presidente da Comissão de Resseguro da CNseg, Wady Cury, avalia
que, nesses sete anos, um dos
maiores avanços ocorreu nas práticas de administração. “Saímos da
gestão de regras para uma gestão
conceitual, de reflexão. Foram anos
de aprendizado, em que cometemos
erros, porém, tivemos muitos acertos
também”, recorda.
Segundo Cury, durante o período
de amadurecimento, as vantagens
competitivas brasileiras foram reveladas. “O mercado não conhecia bem o
Brasil, mas nos descobriu, junto com
nossa qualidade técnica e nossos
riscos. O País atrai o interesse das
maiores empresas mundiais pelas
oportunidades representadas por sua
dimensão e diversidade econômica,
comercial e industrial”.
Rosane Bekierman
Momento delicado
A combinação de fatores como baixo
crescimento econômico, alta de juros
e do dólar, inflação, desemprego e
aumento de impostos e de preços
controlados (luz, água,
gasolina e transportes), prevista para
este ano, tem impacto
sobre o mercado de
resseguros. Para a
Fenaber, o momento
econômico é delicado, mas a situação
não terá o efeito de
paralisar o setor.
“Certos investimentos o governo não
vai deixar de fazer, principalmente
os relacionados à infraestrutura. E
o resseguro será necessário tanto
para grandes projetos de engenharia,
como, e principalmente, para riscos
patrimoniais”, acredita.
O executivo estima em dois anos o
prazo para que a situação encontre um equilíbrio. “Será um tempo
de ajustes, de medidas amargas,
em que talvez não consigamos
crescer tanto como antes”, prevê.
Mesmo com a investigação de emprei-
O Brasil atrai o interesse das maiores
empresas mundiais
pelas oportunidades
representadas por sua
dimensão e diversidade
econômica, comercial
e industrial.
Shutterstock
teiras envolvidas na Operação Lava
Jato, da Polícia Federal, Pereira pondera que haverá soluções para que o
País continue se desenvolvendo. “Temos outras empreiteiras trabalhando,
que podem servir de substitutas, vir a
ocupar um espaço que não ocupavam
antes, e até empresas estrangeiras. O
importante é os investimentos serem
mantidos”, indica.
O presidente do IRB Brasil Re, Leonardo Paixão, que ocupa assento na
vice-presidência da Fenaber, concorda que 2015 será um “ano difícil, de
ajustes”. O executivo avalia, porém,
que nos últimos anos, houve avanços
sociais e econômicos. “O resseguro,
por ser um negócio global, está mais
acostumado aos picos e vales da
economia. O Brasil vai se desenvolver cada vez mais, depois do freio de
arrumação”, acredita.
Rumo necessário
Wady Cury também é otimista em
relação ao futuro, apontando as
Wady Cury
REVISTA DE SEGUROS • 09
CENÁRIO BRASILEIRO
próprias características do mercado ressegurador. “O setor tem uma
natureza de flexibilidade. Estamos
acompanhando o desempenho da
economia mundial na última década,
vencendo desafios, e nos adaptando
às dificuldades e mudanças”.
Cury acredita que já é consensual
que não há resseguro se não há
seguro. “O investimento em obras não
haveria sem resseguro. As grandes
seguradoras estão por todo o mundo.
Basta o Brasil se ajustar e buscar o
rumo necessário”, conclui.
Como solução para tempos de crise,
o executivo aponta o investimento em
nichos que ainda não são explorados,
principalmente os ligados à infraestrutura, além de criação de produtos.
Entre os nichos, Cury destaca os
resseguros financeiros e o risco cibernético ou riscos eletrônicos.
“O Brasil já tem um conhecimento
global no mundo, o que permitiu uma
curva de aprendizado que garante
flexibilidade frente ao cenário atual. De
É preciso revisitar
a legislação para
permitir uma
atuação mais
eficiente das resseguradoras locais na
aceitação de riscos
do exterior.
Marcelo Mansur
10 • REVISTA DE SEGUROS
uns anos para cá, estamos sofrendo com mais frequência catástrofes
naturais, que podem ter impacto, por
exemplo, na agricultura”, completa.
Catástrofes naturais
Em muitos países, a indústria de
seguros e, especificamente, as resseguradoras, vêm se confrontando
com novos cenários de impacto que
não são provocados por catástrofes naturais. Atentados terroristas,
mudanças climáticas antrópicas e
também a crise dos mercados financeiros têm conturbado as sociedades e suas instituições.
A Fenaber defende que a operação
do resseguro, com sua característica
internacional por excelência, permite
que responsabilidades sejam pulverizadas em países diversos, dispersando os prejuízos nas ocorrências de
sinistros, especialmente aqueles de
natureza catastrófica.
O movimento de internacionalização,
aliás, é um dos maiores trunfos do IRB
Brasil Re, sete anos depois de ter deixado de responder pelo monopólio do
resseguro no Brasil e dois anos após
sua privatização. A retomada do crescimento no mercado interno fez com
que o IRB começasse a trilhar sua
expansão internacional, que privilegia,
num primeiro momento, os mercados
da América Latina e da África.
No continente latino-americano, o IRB
inaugurou sua sucursal em Buenos Aires, em setembro de 2011, com uma
equipe composta basicamente por
profissionais locais. Na África, o ressegurador participou de um aumento
de capital promovido pela African
O resseguro é
um negócio global
e está acostumado
aos picos e vales da
economia. O Brasil vai
se desenvolver ainda
mais, depois do freio
de arrumação.
Leonardo Paixão
Reinsurance Corporation – Africa Re,
adquirindo 4,8% do capital da companhia e desenvolvendo uma parceria
de negócios voltada para o continente africano. “A atuação na Ásia está
crescendo, bem como na África. É um
cenário motivador, o que nos leva a
expandir internacionalmente”, afirma
Leonardo Paixão, presidente do IRB.
A partir de 2007, a empresa passou
a vivenciar uma nova fase de sua
história, que vem sendo marcada por
profundas transformações: as políticas internas foram revisadas e os
guidelines e taxas para aceitação de
riscos, atualizados. A estrutura organizacional foi adaptada ao novo tempo
e a área de TI, modernizada. São
mudanças que conferem agilidade e
criatividade às soluções para os desafios do negócio. “O IRB passou de um
problema de ideologia, para mais uma
questão de sobrevivência. O desenho
do monopólio gera grandes custos”,
comenta.
Abertura de capital
Para o futuro, as metas são a abertura de capital do IRB e a intensificação
do investimento internacional. Para
Shutterstock
empreendê-las, o instituto ampara-se em um lucro líquido de R$ 601,5
milhões, registrado em 2014, 72,5%
maior que o do ano anterior; e num
volume de prêmios emitidos de R$
3,2 bilhões (18,6% maior em relação
ao mesmo período). O desempenho
resultou num market share de cerca
de 34%, o que garantiu, segundo o
IRB, a manutenção de sua liderança
no mercado nacional de resseguro.
Ainda na seara da internacionalização, o advogado Marcelo Mansur,
sócio de Seguros, Resseguros e Previdência do Mattos Filho, escritório de
reconhecida atuação na área jurídica
relacionada a resseguro, avalia que
ainda há aspectos na legislação que
podem ser melhorados.
“É preciso revisitar a legislação para
permitir uma atuação mais eficiente
das resseguradoras locais na aceitação de riscos do exterior, facilitando a
atuação destas como hubs regionais
de resseguro. Seria mais importante
uma revisão das regras cambiais e
fiscais aplicáveis, do que efetivamente
das ressecuritárias”, acredita.
O advogado, no entanto, descarta a
necessidade de novas normas. “A regulamentação ressecuritária deve ser
minimalista. O mais importante é se
ter clareza sobre a interpretação que
o regulador tem destas normas e uma
garantia de que a aplicação será feita
de uma forma consistente”, conclui.
Contenção
financeira
O risco de crimes cibernéticos e falhas
de TI também continuam a crescer rapidamente, entrando pela primeira vez
no top 5 do ranking (em 2014, eles
ocuparam a 8ª posição, e em 2013, a
15ª). Apesar desse aumento, muitas
empresas estão subestimando os diferentes impactos, segundo 73% dos
entrevistados – e, em muitos casos,
por motivo de contenção financeira.
A pesquisa foi feita com mais de 500
analistas de risco e especialistas em
seguro corporativo da Allianz e de
outras companhias globais em 47
países. De acordo com o levantamento, a combinação de novos riscos econômicos e regulatórios relacionados
à tecnologia cria uma ameaça sistêmica para as empresas globais. Para
responder a esses desafios, a Allianz
sugere que as companhias façam
controles internos mais fortes e uma
gestão de risco holística dos negócios.
“A crescente interdependência de
indústrias e processos significa que
os negócios estão cada vez mais
sujeitos a cenários desfavoráveis.
Assim, os efeitos negativos podem se
multiplicar rapidamente, com um risco
criando diversos outros. Catástrofes naturais ou ataques cibernéticos
podem interromper os negócios de
setores inteiros ou de infraestrutura
crítica”, afirma Chris Fischer Hirs,
CEO da AGCS, conforme comunicado divulgado pela companhia.
Cenários
desfavoráveis criam
novas dificuldades
Estudo divulgado pela Allianz Global Corporate & Specialty - AGCS
trouxe números sobre a incidência dos maiores riscos para os
negócios em 2015. Segundo o
quarto relatório Barômetro de
Risco da AGCS, o ambiente de
negócios enfrenta novas dificuldades graças ao surgimento de
vários cenários desfavoráveis
num mundo corporativo cada vez
mais integrado.
De acordo com o estudo, os
maiores riscos para as empresas
ao longo do ano serão as interrupções bruscas nos negócios
e falhas na cadeia de suprimentos (46%), catástrofes naturais
(30%) e incêndios e explosões
(27%). Os perigos cibernéticos
(17%) e políticos (11%) foram os
que mais subiram no ranking, e
continuam a preocupar os especialistas. Por sua vez, a perda de
reputação (61%) e a interrupção
nos negócios (49%) após um
incidente são vistas como as
principais causas de prejuízos
para as empresas.
REVISTA DE SEGUROS • 11
CENÁRIO BRASILEIRO
Encontro debaterá
temas importantes
para o setor
Os desafios, temas técnicos e futuro do mercado de resseguros brasileiro serão debatidos no 4º Encontro de Resseguro do Rio de
Janeiro, que acontece nos dias 14 e 15 de
abril, no hotel Sofitel Rio, em Copacabana.
Entre os assuntos tratados, estão o desenvolvimento do mercado de energia no
Brasil, o desenvolvimento sustentável do
agronegócio e os desafios e oportunidades
na América Latina. O evento é realizado
em parceria pela CNseg, Fenaber e Escola
Nacional de Seguros. n
Programação*
Dia 14/04/2015 - Manhã
Dia 15/04/2015 - Manhã
08h às 08h30
Credenciamento
08h30 às 9h
Credenciamento
08h30 às 09h
Cerimônia de Abertura
09h às 10h30
Palestrante: Coord. de Mesa: Debatedor: Plenária I
O Desenvolvimento do Mercado de Energia no Brasil
Rafael Schechtman | CBIE - Centro Brasileiro de
Infra Estrutura
José Carlos Cardoso | IRB Brasil Re
Vinicius Bergamaschi | ACE Seguros Soluções Corporativas S/A
09h às 10h30
Coord. de Mesa: Palestrante: Debatedor:
Plenária IV
Perspectivas do século 21
Claudio Contador | Escola Nacional de Seguros
Paulo Vicente | Fundação Dom Cabral
a definir
10h30 às 11h
Coffee Break
10h30 às 11h
Coffee Break
11h às 12h30
Palestrante: Palestrante: Coord. de Mesa: Plenária II
Economia Brasileira a Curto e Médio Prazo
José Júlio Senna | FGV e MCM Consultores Associados
Affonso Celso Pastore | Economista
William Waack | Jornalista
11h às 12h30
Palestrante:
Coord. de Mesa:
Plenária V
Desafios e Oportunidades: a Atração da América Latina
Michel Liès | Swiss Re
Patrick Larragoiti | Sul América
12h30 às 14h
Almoço
12h30 às 14h
Almoço
Dia 14/04/2015 - Tarde Técnica
14h às 16h
Mesa Redonda Agrícola
Coord. de Mesa: Joaquim Francisco Rodrigues César Neto | Porto Seguro
Cia. de Seguros Gerais
Wady José Mourão Cury | Grupo Segurador BBMapfre
Palestrantes: Eduardo Porcel | Trans Re Panamá
Angelo Gemignani | Instituto Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável do Agronegócio (IBDAgro)
Bruno Valentim | Austral Re
Debatedor: Dia 15/04/2015 - Tarde Técnica
14h às 16h
Coord. de Mesa: Debatedores: Mesa Redonda Jurídica
Aspectos Jurídicos da Regulação de Sinistros
Sérgio Ruy Barroso de Mello | Pellon & Associados Advocacia
Carlos Velloso | IRB Brasil Re
Marcelo Mansur | Mattos Filho Advogados
Patrícia Godoy | Aon Service Corporation
14h às 15h
Coord. de Mesa: Palestrante: Debatedor: Painel Técnico III
Transferência de Risco através de Mercado de Capitais
André Marino Gregório | BTG Pactual Seguradora S/A
Craig Hupper | Capital Partners
Rodrigo de Souza Lobo Botti | Terra Brasis Resseguros
14h às 15h
Coord. de Mesa: Palestrante: Debatedor: Painel Técnico I
Necessidade de Capital
Alexandre Leal | CNseg
José Alberto Rodrigues Pereira | Susep
Frederico Knapp | Swiss Re
15h às 16h
Coord. de Mesa: Palestrante: Debatedor: Painel Técnico IV
Resseguro Paramétrico
André Marino Gregório | BTG Pactual Seguradora S/A
Florian Kummer | Swiss Re
Rodrigo Protasio | JLT Re Brasil
15h às 16h
Coord. de Mesa: Palestrante: Debatedores:
Painel Técnico II
Retrocessão para Seguradoras
Alexandre Leal | CNseg
Diogo Ornellas Geraldo | Susep
Eduardo Menezes | Bradesco Auto/Re
Rodrigo de Souza Lobo Botti | Terra Brasis Resseguros
16h às 16h30
Coffee Break
16h às 16h30
Coffee Break
16h30 às 18h30
Coord. de Mesa: Palestrantes: Plenária III
Assuntos Correntes de Resseguro no Brasil
Paulo Eduardo de Freitas Botti | Terra Brasis
> Ratings do Mercado Segurador e o Risco País Tina Bukow | A.M. Best
> Presente e Futuro do Resseguro no Brasil João Francisco Silveira Borges da Costa | HDI Seguros S/A
18h30 às 19h30
Coquetel
12 • REVISTA DE SEGUROS
16h30 às 17h30 Painel Técnico V
D&O
Coord. de Mesa: Thabata Najdek | Allianz Seguros
Palestrantes:
Fábio Torres | TM Law Torres, Marcelino & Advogados Associados
Daniel Veiga| IRB Brasil Re
Debatedor:
Gustavo Galrão | Argos Seguros Brasil S/A
16h30 às 17h30
Coord. de Mesa: Palestrante: Debatedor: Painel Técnico VI
Proteção de Portfólio
André Marino Gregório | BTG Pactual Seguradora S/A
Alexander Gollin | Hannover Re
Nilton Rafael Haiter | Tokio Marine Seguradora S/A
* SUJEITO A ALTERAÇÃO
NO MUNDO
Um gigante em
crescimento
Por LARISSA MORAIS
Shutterstock
Mercado global de resseguros movimenta
US$ 240 bilhões e avança em ritmo acelerado.
Brasil responde por pouco mais de 1%.
Ao assumir riscos
de indivíduos e
empresas, as
resseguradoras
provêm proteção
financeira e,
assim, estabilidade
econômica e social a
um país.
Margo Black
Os percentuais de crescimento, contudo, enchem os olhos dos principais
operadores globais: 26,3%, em 2013,
e 16,6%, no ano passado.
O
mercado internacional de resseguros representa uma força financeira
da ordem de US$ 240 bilhões e
está com o pé no acelerador. O relatório
que no fim do ano passado divulgou resultados consolidados de 2013 apontou
um crescimento de 5,7% em relação ao
ano anterior – praticamente duas vezes o
avanço do PIB mundial no mesmo ano,
que foi de 2,4%.
O Brasil não responde por um volu-
14 • REVISTA DE SEGUROS
me representativo desse montante,
mas vive uma expansão ainda mais
acentuada. Dados da Superintendência de Seguros Privados - Susep,
autarquia governamental que regula
o mercado segurador e ressegurador no País, mostram que em 2013
o volume de prêmios foi de R$ 7,24
bilhões, cerca de US$ 3,1 bilhões pela
cotação do dólar na época – o que
representa 1,3% do volume mundial.
Mercado estratégico
Considerado um mercado estratégico
e com enorme potencial de crescimento e desenvolvimento, o País já
reúne 36 dos 40 maiores grupos de
resseguradoras mundiais. Das dez
maiores, todas estão aqui. Até 2007,
o mercado estava nas mãos de uma
única empresa estatal, o IRB. Com o
fim do monopólio, as resseguradoras internacionais também puderam
disputar o mercado nacional.
Regra do jogo
No entanto, o professor Luiz Antonio
Nunes é mais cauteloso ao comentar
um possível crescimento no número de
players locais no mercado de resseguros brasileiro. “Existe um requerimento
de capital enorme para que uma companhia seja aceita como local. É regra
do jogo. Se ela tem interesse, tem que
cumprir as exigências. Não vejo nenhum
problema. Mas isto dependerá muito de
como o mercado vai se adequando”.
O aumento na
quantidade de
empresas participantes
no mercado de
resseguros deve
continuar neste ano, de
acordo com relatório de
perspectivas elaborado
pela Fitch Ratings.
O requerimento de capital para se
tornar uma resseguradora local é de
R$ 60 milhões, mais o valor proporcional ao tamanho da operação, além da
obrigatoriedade de contar com uma
sede no País. Para as resseguradoras
admitidas, o capital mínimo exigido é de R$ 5 milhões. As eventuais
recebem autorização para operar de
acordo com suas necessidades.
O consultor Francisco Galiza, da Rating
de Seguros, destaca que a confiança
no setor está em queda. O Índice de
Confiança e Expectativas das Resseguradoras - ICER, elaborado pela consultoria, caiu para 66,7 em fevereiro, ante
77,5 em janeiro. “As opiniões apontam
para um ano difícil. E isso tem a ver
com o ambiente econômico em geral,
não só do mercado de resseguro.”
Galiza ainda lembra que o mercado
brasileiro é fortemente dominado pelo
IRB Brasil Re, que recebeu mais de R$
3 bilhões em prêmios no ano passado,
segundo a Susep. O volume representa 35,7% dos prêmios de todas as
resseguradoras, que totalizaram R$ 8,4
Ranking dos resseguradores que atuam no País
Ressegurador
IRB BRASIL RESSEGUROS S.A.
(Ano 2014 - Valores em R$)
Prêmios aceitos
3.024.551.975
ZURICH RESSEGURADORA BRASIL S.A.
665.209.139
ALLIANZ GLOBAL CORPORATE & SPECIALTY RESSEGUROS BRASIL S.A.
583.230.214
LLOYD’S389.476.546
AUSTRAL RESSEGURADORA S.A.
384.694.327
MAPFRE RE COMPAÑÍA DE REASEGUROS S.A.
325.601.714
MUNICH RE DO BRASIL RESSEGURADORA S.A.
259.266.056
EVEREST REINSURANCE COMPANY
236.070.294
ACE RESSEGURADORA S/A
223.089.882
HANNOVER RUCK SE (ANTIGA HANNOVER RÜCKVERSICHERUNG AG)
219.969.808
SWISS RE BRASIL RESSEGUROS S.A.
192.444.083
MAPFRE RE DO BRASIL COMPANHIA DE RESSEGUROS
155.477.717
J. MALUCELLI RESSEGURADORA S/A
152.926.622
BTG PACTUAL RESSEGURADORA S.A.
149.226.258
SCOR REINSURANCE COMPANY
134.378.430
AMERICAN HOME ASSURANCE COMPANY
126.625.285
ZURICH INSURANCE COMPANY
102.559.034
OUTRAS1.094.674.636
Total8.419.472.019
O maior desafio
hoje é a qualificação,
pois são poucos
os profissionais
gabaritados a
trabalhar neste
mercado.
Luiz Antonio Nunes
bilhões; e é 4,5 vezes maior do que o
registrado pela segunda do ranking, a
Zurich Re. O panorama é bem distinto do observado no cenário mundial,
onde Munich Re e Swiss Re disputam
o topo do ranking.
Mais eficiência
Luiz Antonio Nunes lembra, no entanto,
que o IRB está competindo no mercado e tem que se tornar cada vez mais
eficiente. “O IRB perdeu espaço num
primeiro momento, mas ainda detém a
memória do mercado, construída anos
a fio. Isso confere a ele uma vantagem
e a possibilidade de se manter numa
posição estratégica.”
Ainda na avaliação do professor do
Ibmec e da ENS, o principal gargalo do
setor de resseguros no País é justamente a falta de profissionalização. Ele
avalia que a abertura do setor deixou
latente o problema da capacitação e
a solução virá apenas quando houver
uma ação forte que envolva todos os
agentes do mercado.
“O maior desafio hoje é a qualificação
do profissional, pois são poucos os
gabaritados a trabalhar neste mercado.
Essa defasagem intelectual chegou
a ser cômoda, pois o mercado era
concentrado e não havia competição.
Mesmo com a abertura, o mercado
não se preparou. Mas vai conseguir
chegar lá”, concluiu. n
REVISTA DE SEGUROS • 21
PERSPECTIVAS
Recessão não vai
tirar resseguros
da rota
Por MARIA LUISA BARROS
Empresas devem compensar eventuais retrações
da economia interna com expansão no mercado
internacional.
à metade o número de funcionários
terceirizados e um terço dos empregados fixos.
Atenções no exterior
Líder no ramo de agronegócios, com
34% de participação no mercado,
e com forte atuação em todos os
ramos, o IRB tem suas atenções voltadas para o exterior, onde atualmente
concentra apenas 10% do total de
prêmios da sua carteira. “Temos um
mercado internacional praticamente
inexplorado. E no momento estamos
sendo favorecidos pela alta do dólar.
Pretendemos nos próximos anos crescer substancialmente lá fora”, diz José
Carlos Cardoso.
Nos planos do IRB está a abertura de
novos escritórios na América Latina e na África até o final do ano. A
instabilidade financeira não assusta a
resseguradora, que até 2007 detinha
o monopólio da atividade no Brasil. Ao
contrário, os números são bastante
animadores. O IRB encerrou 2014
contabilizando um volume de prêmios
emitidos da ordem de R$ 3,2 bilhões
e um lucro de R$ 602 milhões no
Divulgação IRB
a
s turbulências na economia
brasileira, provocadas pela forte
desaceleração do crescimento
do Produto Interno Bruto - PIB, não
devem tirar da rota o mercado de
resseguros nacional. O cenário de
recessão projetado para este ano vai
obrigar as empresas a apertarem o
cinto, porém, o desempenho do setor
tende a manter o fôlego e a se descolar do PIB, registrando desempenho
acima de 10% este ano, alavancado,
sobretudo, pelos ramos do agronegócio, bens patrimoniais e infraestrutura.
Os cálculos são do vice-presidente
do IRB Brasil Re, José Carlos Cardoso. “Considero a projeção altamente
conservadora. Pretendemos compensar eventuais retrações internas com a
expansão do IRB no mercado internacional. Essa combinação pode, sem
dúvida, ultrapassar o índice previsto”,
afirma.
Segundo ele, para alcançar o resultado acima do esperado e enfrentar
a concorrência das mais de 100
empresas estrangeiras que atuam no
Brasil, a resseguradora vem fazendo
a lição de casa, tendo reduzido quase
mesmo período – aumento de 24%
em relação ao ano anterior.
“O nosso lucro hoje é muito maior
do que na época do monopólio”,
informa Cardoso, que aposta na
sua experiência internacional para
ampliar as fronteiras do IRB. Segundo ele, Colômbia e Miami devem
ganhar filiais em breve.
Diante da crise que engavetou novos
investimentos e projetos do governo
O mercado
internacional é praticamente inexplorado
e estamos sendo
favorecidos pela
alta do dólar.
Pretendemos
crescer substancialmente lá fora.
José Carlos Cardoso
22 • REVISTA DE SEGUROS
federal, as resseguradoras apostam
na diversificação das carteiras e
aproveitam a expertise adquirida no
mercado internacional para fornecer
subsídios às empresas brasileiras no
gerenciamento de riscos complexos e
de alto valor em seus negócios. Essa
é uma das estratégias adotadas pela
resseguradora alemã, Munich Re do
Brasil, para se sobressair no mercado
nacional, conforme explica o CEO da
empresa, Rodrigo Belloube.
“Queremos nos posicionar como parceiro estratégico de nossos clientes,
construindo a quatro mãos projetos
e iniciativas relacionadas a inovação,
sofisticação da oferta ao mercado,
agregar valor e serviços a produtos,
de forma a atender demandas cada
vez mais complexas e específicas.
Queremos ser parceiros, em suma, e
ajudar nossos clientes a atingir seus
objetivos estratégicos e operacionais”,
adianta.
Perspectivas otimistas
Para o vice-presidente do IRB, é
consenso entre os concorrentes que
as perspectivas são otimistas e que,
de tempos em tempos, o mercado de
resseguros passa por uma volatilida-
Divulgação Munich RE
Miami: o IRB Brasil
RE quer expandir
suas fronteiras e
chegar à cidade da
Flórida, nos Estados
Unidos, e também à
Colômbia, ampliando
sua atuação na
América do Sul.
de. “É um momento de atenção que
pode ser compensado pelo aumento
dos preços. Mas, independentemente
dos problemas atuais, as concessões
vão continuar sendo feitas e as empresas precisarão contratar seguros.
O setor vai se adaptar”, analisa.
Para Belloube, o Brasil continua a ser
analisado sob uma lógica de longo
prazo e a questão macroeconômica tende a ganhar importância. “O
desempenho do mercado de seguros
vem significativamente superando o
crescimento econômico, com baixa
correlação entre os dois, pois existe
uma demanda não atendida de proporções consideráveis”, diz o CEO da
Munich Re do Brasil.
Na visão do executivo, o investimento
em obras para sediar grandes eventos, como os Jogos Olímpicos de
2016, representa uma fatia pequena
na margem de lucro das resseguradoras. “O trem já passou. A maioria das
obras que demandavam resseguro já
foram negociadas. Os Jogos Olímpicos são pequenos para o mercado
ressegurador. O que conta mais é o
desenvolvimento do País, o investimento contínuo em formação bruta de
capital fixo, em infraestrutura”, afirma
Belloube.
Níveis de investimentos
No entanto, ele acredita, que para os
atores cujas carteiras sejam mais dependentes dos níveis de investimento,
como, por exemplo, as de riscos de
engenharia e de garantias, o cenário
econômico tem outra dimensão. Para
o executivo, o País tem hoje performance inferior à média mundial sob a
Independentemente
dos problemas
atuais, as
concessões vão
continuar sendo
feitas e as empresas
precisarão contratar
seguros. O setor vai
se adaptar.
Rodrigo Belloube
perspectiva de rentabilidade.
“Há uma certa ‘comoditização’ do setor, uma mecanização do processo de
pulverização de risco, com as negociações, via de regra, focadas predominantemente na variável ‘preço’, cujo
valor médio teve trajetória de queda
brusca nos últimos anos”, diz.
Na avaliação de Belloube, em parte
isso se deve ao desequilíbrio entre
oferta e demanda, resultado de quase
70 anos de monopólio estatal exercido pelo IRB. “Precisamos manter
o mercado nos trilhos e isso significa
pensar sempre na melhor solução
para o País, e não para atores específicos”, defende. n
REVISTA DE SEGUROS • 23
BANCO MUNDIAL
Por TATIANA MAIA
Braço financeiro do Banco Mundial, a IFC ajuda a
promover a inovação e a competitividade do setor
seguros e de resseguros.
O
aumento da cobertura de seguros e da disponibilidade de
resseguro são elementos fundamentais para capacitar o desenvolvimento
econômico sustentável e o crescimento do setor privado. O seguro tem
um papel importante na mitigação
de riscos nos mercados emergentes,
ajudando a proteger indivíduos e negócios contra os efeitos adversos de
desastres naturais, incêndios, secas e
outros eventos imprevisíveis.
A abertura do mercado de resseguros no Brasil é recente, mas o
cenário de monopólio do IRB já é
passado distante. De acordo com
dados do Terra Report, Relatório do
Mercado Brasileiro de Resseguros,
produzido pela Terra Brasis, o IRB
encerrou os primeiros nove meses de
2014 com uma participação de mercado de 31%, enquanto as outras
resseguradoras locais detinham 37%
do mercado e as resseguradoras
estrangeiras já somavam 32%.
Dos 40 maiores grupos resseguradores internacionais, 36 operam no Brasil. E, neste cenário, chama a atenção
a participação acionária da
24 • REVISTA DE SEGUROS
International Finance Corporation - IFC,
braço financeiro do Banco Mundial em
duas resseguradoras locais, a Austral
(desde 2014) e a Terra Brasis (desde
2011), cujos dirigentes integram a
diretoria da Federação Nacional das
Empresas de Resseguros – Fenaber.
Impacto da aliança
Para a Terra Brasis ainda é cedo para
avaliar o impacto que uma aliança com
o Banco Mundial traz para uma companhia, pois a empresa está ligada à
instituição desde o início de suas operações. A parceria começou antes de
a resseguradora iniciar sua operação,
o que levou seu desenvolvimento a
ser traçado em conjunto com o Banco
Mundial - e continua sendo assim.
“Temos muito orgulho de ser o primeiro investimento feito pelo Banco
na nossa área de atuação. Fomos
também o projeto mais rapidamente aprovado por eles. Nossa cultura
organizacional, postura de mercado e comportamento profissional
e ético foram moldados de forma
integrada com a participação deles,
de nossos sócios e de colaborado-
Divulgação Terra Brasis
IFC transfere
expertise ao mercado
brasileiro
res”, enfatiza o diretor-presidente
da Terra Brasis, Paulo Botti.
Há regras que devem ser seguidas
para a manutenção da parceria com o
Banco Mundial, e todas elas são encaradas pela Terra Brasis como muito
positivas. São regras quanto à alocação de investimentos, pois há restrições à aceitação de negócios que
podem ser considerados nocivos à
sociedade ou ao meio ambiente. E há
regras de sustentabilidade que devem
ser seguidas, compliance e garantia
de governança nos padrões do Banco
Mundial. “Estamos muito felizes com
isto”, declara Botti.
Além de toda a
reputação que a
instituição nos traz,
aporta também
uma experiência
mundial em seguros
e resseguros que
estamos absorvendo
continuamente.
Paulo Botti
melhores práticas de sustentabilidade”, completa Ariane.
Divulgação Austral RE
Fôlego e expertise
Os executivos foram unânimes em
afirmar que a parceria com o Banco
Mundial é uma oportunidade especial
para as empresas brasileiras ganharem fôlego financeiro e expertise.
Para Paulo Botti, o fomento do
mercado de resseguros brasileiro
é muito importante, não só para
o Brasil mas também para toda a
região da América Latina.
“Além de toda a reputação que eles
nos trazem, aportam também uma
experiência mundial em seguros e
resseguros que estamos absorvendo
continuamente. O conhecimento que
a instituição tem do mercado mundial
A experiência do
IFC, que já participa
do capital de vários
seguradores e
resseguradores
pelo mundo, traz
um ganho adicional
de expertise para a
Austral Re.
Bruno Freire
Divulgação IFC
Reflexo dos aportes
A IFC adquiriu, em setembro de 2014,
19,5% de participação na Austral
Re através de um aporte de R$ 80
milhões, que foi usado para aumentar
o capital da empresa. Segundo Bruno
Freire, diretor-executivo da Austral Re,
como a entrada do IFC aconteceu
recentemente, ainda não deu tempo
para analisar o reflexo do potencial
desse aporte nos resultados.
De qualquer forma, 2014 foi o melhor
ano da companhia, desde o início
das operações, em 2011, segundo
Freire. A Austral Re emitiu R$ 445
milhões em prêmios brutos no ano
passado contra R$ 328 milhões em
2013, com lucro líquido de quase
R$ 19 milhões e índice combinado
de 97%. O retorno sobre o capital
já está em 11%, o que a companhia
considera um ótimo resultado.
Segundo Ariane di Iorio, executiva
responsável pela área de Instituições Financeiras da IFC no Brasil, o
investimento da instituição no mercado de seguros e de resseguros
tem por objetivo ajudar a promover
a inovação e a competitividade no
setor, a elevação da qualidade dos
serviços e produtos, a criação de
oportunidades de mercado para
seus participantes, e a viabilização
do desenvolvimento de setores
vitais para a economia brasileira,
como infraestrutura e agronegócios.
“A IFC, como parte de seu propósito
de ajudar a promover o desenvolvimento socioeconômico e sustentável do País, tem o objetivo de ajudar
a desenvolver também o mercado
de seguros como um todo, criando
oportunidades para seus participantes e estimulando a adoção das
A IFC, como parte
de seu propósito de
promover o desenvolvimento socioeconômico do País, cria
oportunidades e
estimula a adoção das
melhores práticas de
sustentabilidade.
Ariane di Iorio
e de instrumentos novos e modernos
de transferência de riscos tem sido
muito útil para nós”, avalia.
Bruno Freire segue a mesma linha
de raciocínio. Para ele, a entrada
do IFC como parceiro da Austral Re
traz várias vantagens que devem
alavancar o crescimento da empresa. O IFC, por ser uma entidade
internacional, reconhecida globalmente e com rating AAA, confere
mais credibilidade e reconhecimento
para os parceiros internacionais.
“O aumento de capital também ajuda
na viabilização de um crescimento sustentável e conservador. A experiência
do IFC, que já participa do capital de
vários seguradores e resseguradores
pelo mundo, nos traz um ganho adicional de expertise”, estima Freire. n
REVISTA DE SEGUROS • 25
Arquivo CNseg
artigO especial
O resseguro
sob a ótica das
seguradoras
Por Luis Tavares Pereira Filho - Vice-presidente executivo da CNseg
Passados sete anos desde a abertura, pergunta-se:
aquelas promessas foram realizadas?
s
empre que se lamentava o
atraso na abertura do mercado
de resseguros, somente ocorrida a partir de 2007, dizia-se que o
ambiente concorrencial proporcionaria
às seguradoras todo um leque de benefícios. Assim, a disputa por clientes
entre os resseguradores conduziria
a preços menores, inclusive para o
consumidor de seguros, contribuindo
para o concomitante crescimento do
mercado; haveria sensível melhora no
atendimento às cedentes; e seriam
introduzidas coberturas inéditas no
mercado brasileiro, trazidas pelos
grandes players internacionais.
Passados sete anos desde a abertura, pergunta-se: aquelas promessas foram realizadas? Sob a perspectiva das seguradoras cedentes,
a resposta é um vigoroso sim, mas
com temperamentos.
Quanto aos preços, a recente eleva-
26 • REVISTA DE SEGUROS
ção para 90% do índice de sinistralidade médio no setor de resseguro é um
indicador, entre outros sinais, de que
os preços cederam, mercê da forte
concorrência, mais visível em alguns
segmentos de maior competição.
Também o crescimento das operações de resseguro tem correspondido
às expectativas otimistas, pois de
2011 a 2014, o volume total de prêmios cresceu nada menos que 52%.
O incremento deixou muito para trás o
do PIB e, no ano passado, o setor de
resseguros cresceu o dobro do experimentado pelo segmento de seguros
(20% contra 10%).
Reconheça-se que os desafios para
os resseguradores ainda são de
monta, destacando-se a necessidade de formação de novos quadros
técnicos. Também a volatilidade de
mercado é uma preocupação constante, o que pode levar a indesejá-
veis flutuações nos níveis de preço.
Mas o fato é que o setor se desenvolveu e se consolidou. São 16
resseguradores locais, 35 admitidos
e 71 eventuais, oferecendo capacidade e negócios às suas parceiras,
as seguradoras cedentes.
Cenário nacional
O IRB, que sofreu forte perda de
market share, no primeiro momento
da abertura, parece ter-se firmado e
afirmado como empresa competitiva
no cenário nacional, com faturamento de prêmios em 2014 da ordem de
R$ 3,024 bilhões, cogitando agora
penetrar em novos mercados (que
não falte prudência!). Por sua vez,
os outros 16 resseguradores seguintes do ranking obtiveram, no País,
produção de prêmios entre R$ 665
e R$ 102 milhões, configurando um
mercado robusto e diversificado.
E, em termos de atendimento às seguradoras clientes, o que teria mudado? Bem, a primeira alteração deu-se
na postura comercial. Nos tempos do
monopólio, o IRB reinava absoluto,
sequer dispondo de uma diretoria
comercial. Claro, bastava-lhe aguardar
tranquilamente as demandas do mercado e estabelecer as condições de
preço e cobertura (com consulta ao
mercado internacional, reconheça-se).
É fato que a situação anterior teria mesmo que mudar: agora são muitos os
resseguradores a cortejar as cedentes.
Por isso mesmo, nesse novo mundo de
ofertas e afagos, as seguradoras têm
que se cercar de alguns cuidados.
Nesse sentido, são vários os fatores
a serem levados em consideração na
escolha dos parceiros pelas cedentes.
Independentemente da questão do
preço há, em princípio, preferência
pelos grandes resseguradores internacionais, haja vista a exigência
de security constante das normas
internas das seguradoras. Isso cria
dificuldades para algumas pequenas
resseguradoras nacionais, consideradas “butiques”, que ainda precisam
fortalecer seus balanços para concorrer com os grandes ou buscar nichos
especializados de atuação.
Razões de governança
Mas a opção pela melhor security
nem sempre é tranquila: sucede que
a seguradora, por razões de gover-
Agora são muitos
os resseguradores
a cortejar as
cedentes. Por isso
mesmo, nesse
novo mundo de
ofertas e afagos, as
seguradoras têm
que se cercar de
alguns cuidados.
nança, precisa examinar também a
questão da diversificação dos riscos,
ou seja, precisa verificar se o ressegurador com quem pretende operar
tem acúmulo excessivo de responsabilidades considerando outros países
onde atua. É que as seguradoras
que operam fortemente em resseguro, no Brasil, têm capital de origem
estrangeira (infelizmente são poucas
as seguradoras de capital nacional
que operam em grandes riscos), atuando em âmbito mundial. A complicar ainda mais a cessão do resseguro, tem-se o fato de o mercado
internacional passar por processo de
concentração, podendo ocorrer que
o ressegurador escolhido hoje possa
deixar de existir amanhã.
Outro cuidado que a seguradora
precisa tomar diz respeito às cláusulas contratuais, especialmente àquela
que trata da regulação de sinistros.
Se a seguradora deixar de optar pela
cláusula claims cooperation e contratar a claims control, pode-se ver
em maus lençóis, pois o cliente final
é seu, mas o ressegurador é quem
decidirá o pagamento da reclamação.
Aliás, não são raros os casos em que
a judicialização do sinistro deve-se
não a uma decisão da seguradora –
que tem o cliente e a própria imagem
envolvidos – mas a uma recusa do(s)
ressegurador(es).
Finalmente, quanto às inovações:
as esperadas novas coberturas não
vieram, a menos de poucas exceções. Ocorrem, inclusive, casos em
que a inovação decorre da iniciativa
da seguradora em buscar cobertura
para uma determinada necessidade
de proteção de um segurado seu. E
muitas vezes acabam atendidas, o
que demonstra as potencialidades de
uma política de trazer inovações para
o mercado segurador brasileiro.
Em suma, sob a ótica das seguradoras, um longo caminho já foi percorrido em termos de preços, opções de
parcerias e nível de atendimento. Não
se chegou ainda ao ponto de obter o
esperado avanço qualitativo na prestação de certos serviços, o que obriga
as seguradoras a cuidados, notadamente na elaboração dos termos dos
contratos que vão reger suas relações
com os resseguradores. Adicionalmente, a ausência de resseguro para
determinados ramos, como o seguro
saúde, está a indicar um significativo
potencial de crescimento do setor,
com a introdução de novas e específicas modalidades de cobertura. n
REVISTA DE SEGUROS • 27
Internacionalização
América Latina
ainda é foco da
internacionalização
Resseguradoras brasileiras fazem registro em
países vizinhos em busca de presença global.
a
s resseguradoras brasileiras estão
expandindo ainda mais os negócios em outros países da América
Latina. Além da proximidade geográfica, a
forma de empreender dos países vizinhos,
parecida com a dos brasileiros, atrai a procura por registros em locais como Argentina, Colômbia e Chile. Após o pioneirismo
do IRB na internacionalização por países
vizinhos, resseguradoras de grupos como
BTG Pactual e JMalucelli também buscam
seus espaços.
Um dos principais motivos pela procura de
registro em outros países latino-americanos
é experiência oferecida. De acordo com
Leonardo Paixão, presidente do IRB, os
países vizinhos são vistos como uma
escola que prepara as resseguradoras
para uma internacionalizaçao global. “A
proximidade geográfica, a língua e culturas
semelhantes são vantagens numa primeira
etapa. Quem passa por esse desafio está
pronto para outros continentes”, explica.
Países vizinhos
O IRB deu início à internacionalização
pela Argentina, onde tem negócios há
quatro anos, mas também está presente em outros países, como a Espa-
28 • REVISTA DE SEGUROS
nha. Desde então, o faturamento da
resseguradora cresceu 500%. O IRB é
a resseguradora com maior número de
negócios na América Latina, representando 14% do seu faturamento. Pela
legislação, as empresas podem fazer
contratos nos países vizinhos e declarar os ganhos no balanço da operação
brasileira. Paixão conta, ainda, que há
projeto de registrar a resseguradora no
México e na Colômbia neste ano.
Mas, assim como em outros negócios, é necessário tomar cuidado.
Os riscos políticos e econômicos de
alguns países da América Latina se
tornam uma preocupação a mais
para quem planeja investimentos na
região. Na Argentina, por exemplo,
além dos conflitos políticos enfrentados no último ano, a estimativa para
o crescimento econômico desaponta.
A agência de classificação de risco
Moody’s espera uma retração de 1%
no Produto Interno Bruto - PIB do
País, além de uma inflação de 30%.
Mesmo assim, Paixão garante que os
pontos positivos superam os negativos.
“Eu diria que os desafios a serem enfrentados são os mesmos em qualquer
Divulgação IRB
Por ANGÉLICA MARTINS
A proximidade
geográfica, a
língua e culturas
semelhantes são
vantagens numa
primeira etapa.
Quem passa por
esse desafio está
pronto para outros
continentes.
Leonardo Paixão
Divulgação BTG
A América Latina
será um foco
importante para a
BTG neste ano. São
países com avanço
em infraestrutura,
assim como o
México, que também
almejamos.
André Gregori
negócio. Com cautela é possível diminuir
as preocupações”, avalia o executivo.
Grau de investimento
Além do IRB, a BTG Pactual já entrou
com pedido de registro da resseguradora na Colômbia, Chile e Peru.
André Gregori, CEO da BTG Seguros, explica que a companhia estava
aguardando a divulgação do rating
para a entrada dos processos. De
acordo com a última avaliação da
Fitch, a BTG possui nota BBB-. Em
alguns países, como o Chile, o órgão
regulador exige que as resseguradoras tenham classificação grau de
investimento de agências globais.
O rating é importante, pois a resseguradora tem risco de crédito para a
seguradora. Em grandes apólices, a
seguradora mitiga o risco assumido
transferindo parte dele para uma resseguradora. No caso de acionamento
do seguro, cada uma paga a parte
que lhe corresponde na indenização.
Se a resseguradora quebrar ou não
tiver condições de pagar sua parte,
quem arca com o prejuízo é a seguradora. “A América Latina será um foco
importante para a BTG neste ano.
São países com avanço em infraestrutura, assim como México, que também almejamos”, explica Gregori.
Para os próximos cinco anos, o
governo mexicano prevê um investimento em infraestrutura, de iniciativa
pública e privada, com ordem de US$
590 bilhões. Mesmo assim, Gregori
considera que ainda é cedo para falar
sobre números. “Não temos uma
meta de quanto os negócios em países latino-americanos vão impactar
no nosso rendimento”, justifica.
Emissão de apólices
A JMalucelli, por sua vez, adquiriu o
controle da seguradora colombiana
Cardinal, especializada em Seguro
Garantia e de Responsabilidade Civil.
O diretor técnico Eduardo O. Nóbrega
explica que a resseguradora também
auxilia seus clientes que desejam seguro fora do País. “Isso significa que
quando um cliente procura a companhia para apresentar alguma garantia
em um país latino-americano ou nos
Estados Unidos, somos capazes de
auxiliá-los até a emissão da apólice.”
A resseguradora mantém relacionamento há mais de 20 anos com
a maioria das seguradoras latino-americanas por meio da Associação
Panamericana das Seguradoras de
Garantia. Para Nóbrega, este intercâmbio permite conhecer em profundidade a legislação de seguros de
cada um destes países. “Dessa forma,
tanto o conhecimento que temos da
legislação quanto a proximidade com
os executivos destas companhias nos
trazem o conforto necessário para
fazer negócios nestes países”.
Entretanto, a internacionalização da
Austral Re não segue esses padrões.
O diretor executivo da resseguradora,
Bruno Freire, explica que a empresa não
vê a Amércia Latina como uma escola.
“Apostamos de cara em alguns países
europeus, já que a diversificação de
experiência pode ser feita em outros continentes. Mas estamos abertos a oportunidades na América Latina”, acrescenta.
Para Freire, o maior desafio na internacionalização é se tornar conhecido. Por
isso, há três anos, a Austral começou a
atuar em países onde o grupo já tinha
negócios. “Cada país novo traz um
desafio muito grande. É necessário ter
cautela e foi por isso que decidimos
trilhar esse caminho”, conclui. n
REVISTA DE SEGUROS • 29
Mercado aberto
Abertura
Um longo caminho
ainda a percorrer
Por FRANCISCO NOEL
Jovem em comparação às décadas de monopólio,
o mercado livre tem ainda muito a evoluir em apoio
ao fortalecimento da proteção contra riscos.
E
m 15 de janeiro de 2007, a
sanção presidencial da Lei
Complementar 126, aprovada
pelo Congresso Nacional ao fim de
quase dois anos de debate, inaugurou uma nova era para o mercado de
resseguro no País. A atividade tornou-se aberta a companhias privadas
nacionais e estrangeiras credenciadas
pela Susep – uma regra generalizada
em todo o mundo, da qual o Brasil
deixava finalmente de ser exceção.
De lá para cá, o volume de prêmios
cedidos ao resseguro saltou de R$
2,9 bilhões para o patamar dos R$
8 bilhões. O aumento, de 175%,
guarda relação com o crescimento percentual do bolo cedido em
relação ao prêmio total do seguro
– proporção que chegou à faixa dos
9%, em linha com os níveis internacionais. Mercado obrigatório para os
players globais do setor, o País conta atualmente com resseguradores
locais, admitidos, além de eventuais
e de corretoras de resseguro.
Evolução em marcha
Jovem em comparação com os 68
anos de monopólio do Estado, o
mercado livre do resseguro no Brasil
30 • REVISTA DE SEGUROS
tem ainda muito a evoluir em apoio
ao fortalecimento da proteção contra
riscos. A constatação é compartilhada
por profissionais dos vários segmentos – resseguradoras, seguradoras,
corretoras, clientes e formadores de
profissionais especializados. Diferenças de ponto de vista à parte, é
unânime a opinião de que há muito a
fazer para desenvolver ainda mais o
resseguro entre os
brasileiros.
O foco de
sugestões e
expectativas de
aprimoramento
da dinâmica do
mercado está o
marco regulatório do resseguro.
Constituído pela
lei de 2007 e por
várias resoluções
do CNSP, o marco
vem assegurando o incremento e a
sustentabilidade da atividade resseguradora, mas alguns de seus
requisitos são objeto de proposições
nem sempre consensuais entre os
agentes do mercado.
Interesses nacionais
Um ponto de divergências continua sendo, três anos depois de
ganhar força de lei, a obrigatoriedade da colocação de 40% das
cessões de resseguro em companhias atuantes no País. Imposta
pela Resolução CNSP 225, de
2011, a medida é vista por parte
do mercado como fundamental
para a consolidação da abertura
do setor, por proteger os interesses nacionais na atividade. Outra
parte discorda e ainda se ressente
da normativa do CNSP, considerada restritiva às práticas do
resseguro num mundo de finanças
globalizadas.
Aos olhos de empresas com riscos cobertos pelo resseguro e de
corretoras, a confiança no amadurecimento do mercado é acompanhada pela
expectativa
da diversificação da
oferta de
produtos.
Ao mesmo tempo,
para fazer
frente à
esperada
expansão
do resseguro, o Brasil
precisa formar profissionais, pois a oferta de empregos
qualificados superou a demanda –
defasagem que a Escola Nacional
de Seguros – ENS busca sanar
oferecendo MBA para executivos
em seguros e resseguro. n
Aos olhos de
empresas com
riscos cobertos pelo
resseguro, a confiança
no amadurecimento
do mercado é
acompanhada pela
expectativa da
diversificação da oferta
de produtos.
Retrospectiva
Após a resistência à
abertura, a expansão
Por FRANCISCO NOEL
O IRB era obrigado a aceitar pesadas cargas de
risco. Mas, no ambiente competitivo, passou a
exercer o direito de rejeitar os mais graves.
Arquivo CNseg
??????
O
Aconteceu o
que se esperava:
o mercado se
expandiu sob
o ponto de
vista técnico e
operacional, com a
liberdade alcançada
pelos participantes
do processo.
Peón de Sá
s primeiros passos para a abertura
do mercado de resseguro, consumada em 2007, foram dados 15
anos antes. Em 1992, a liberalização
do setor de seguros era tema da Carta
de Brasília, da Fenaseg, acolhida pelo
governo federal no Plano Diretor do Sistema de Seguros, Capitalização e Previdência Complementar. Obra do IRB,
Susep e Secretaria de Política Econômica do Ministério da Fazenda, o plano
combinava matiz liberalizante com
tons de moderação. O presidente do
instituto na época, o atuário e especialista em resseguro José Américo Peón
de Sá, recorda os motivos da discrição:
“estávamos preparando a abertura do
IRB, mas havia muita resistência”.
Hoje, passados 23 anos, Peón comemora os benefícios decorrentes do fim
do monopólio estatal exercido pelo
IRB sobre o resseguro e a entrada
de novas resseguradoras em cena,
após a sanção da Lei Complementar
126, em 2007. “Aconteceu o que se
esperava: o mercado se expandiu sob
o ponto de vista técnico e operacional, com a liberdade alcançada pelos
participantes do processo”, assinala.
Antes mesmo da efetivação da abertura, várias resseguradoras estrangeiras
já se faziam presentes no País, traba-
lhando com o IRB. Oito anos após o
fim do monopólio do instituto, as resseguradoras locais e admitidas são mais
de 50 e a elas somam-se cerca de 70
eventuais. A exemplo de outros países,
cerca de 9% dos seguros de danos no
Brasil são cobertos pelo resseguro.
Mercado nacional
Os novos ventos da liberalização sopraram a favor até mesmo do IRB. O
ex-presidente lembra que, no regime
de monopólio, o instituto era obrigado
a aceitar pesadas cargas de risco,
como o de joalherias. No ambiente
competitivo, o IRB passou a exercer
o direito de rejeitar os riscos graves.
“Houve problemas no mercado, mas
depois tudo isso se normalizou”, diz
Peón de Sá, que preside o conselho
da CesceBrasil Seguros de Crédito e
atua há 60 anos no mercado.
A Resolução CNSP 225/2011 consolidou a abertura no resseguro. Em meio
a controvérsias, a edição da medida
obrigou a colocação de 40% das
cessões de resseguro nas empresas
locais. “Seguro é poupança forçada,
que não pode sair do País sem regras.
Antes, havia empresas operando
como meras sucursais das matrizes
no exterior. Hoje, o mercado se mantém protegido até o limite razoável do
interesse nacional”, salienta.
Para Peón de Sá, um desafio a vencer
é a difusão de informações sobre
resseguro. “Quando há necessidade
de cobrir algum risco, muitas vezes os
operadores sequer sabem que existe
o seguro, por exemplo, para riscos
financeiros, responsabilidade civil e
de natureza catastrófica – campos
abertos ao avanço do seguro e do
resseguro no Brasil”. n
REVISTA DE SEGUROS • 31
Download

O RESSEGURO NO BRASIL