ÓRGÃO DE DIVULGAÇÃO DO MERCADO SEGURADOR ANO 90 Nº892 JANEIRO/ FEVEREIRO/ MARÇO DE 2015 O RESSEGURO NO BRASIL Grandes desafios e oportunidades ainda maiores 4º Encontro de resseguro vai reunir lideranças para o debate Em entrevista exclusiva, Inga Beale, CEO do Lloyd’s of London, reconhece o potencial da indústria brasileira e reafirma o interesse da instituição em investir nesse mercado CENÁRIO BRASILEIRO Desafios para o futuro do resseguro Por CARLOS MONTEIRO Resseguradoras passam por um período de estabilidade, mas o cenário econômico, baseado em fatores como alta de juros e inflação, inspira cuidados. s ete anos após sua abertura, com a entrada em vigor da Resolução nº 168/07, do CNSP, o mercado ressegurador brasileiro vive um momento de maturidade e encara velhos desafios, como as condições econômicas do País e as novas características dos riscos. Há um consenso entre os executivos do mercado ressegurador brasileiro, composto por cerca de 120 empresas, distribuídas entre 16 locais, 30 admitidas e a maioria de eventuais, de que este é um período de estabilidade para as resseguradoras, mas que inspira cuidados, principalmente devido ao cenário econômico. No bojo da abertura, com o incremento da capacidade das seguradoras para concessão de seguros em âmbito nacional, veio a concorrência, responsável por trazer novos produtos, maior qualificação, práticas internacionais e geração de empregos. Grandes transformações resultaram deste processo, bem como a chegada de 08 • REVISTA DE SEGUROS dezenas de players internacionais. O presidente da Federação Nacional de Empresas de Resseguros - Fenaber, Paulo Pereira, faz um balanço da atuação da entidade para o amadurecimento do setor e lembra que a Fenaber contribuiu com a sistematização da legislação adotada no País. “Nós, associados, juntamos forças e demos sugestões de forma uniformizada. A concordância da Susep com cerca de 80% destas sugestões mostra que nossa contribuição foi importante”, salienta. Crescimento real Os dados da Fenaber indicam que o setor de fato cresceu em termos reais. De abril de 2008 a dezembro de 2014, o mercado de resseguros brasileiro mais do que dobrou de tamanho, passando de R$ 3,8 bilhões para R$ 9,5 bilhões. Para Pereira, a profissionalização do mercado foi um fator que fez a diferença nesse período. “Mais importante do que o crescimento é o fato de termos profissionais de resseguros com capacidade mais do que suficiente para atender ao mercado”, acredita. Segundo o executivo, a chegada de profissionais do mercado financeiro contribuiu com a adoção de melhores práticas, pois trouxe uma política de pessoal diferenciada. Paralela- Ou as empresas investem pesado em treinamento ou acabam tendo que trazer profissionais de fora. Os bons são sempre disputados internamente. Paulo Pereira mente ao ‘sangue novo’ injetado no resseguro brasileiro, o treinamento também contribuiu para os bons resultados. “Passamos por um período de muitos problemas com a falta de pessoal. Hoje o movimento é bem diferente, pois as empresas ou investem pesado em treinamento ou acabam tendo que trazer profissionais de fora. Os bons são sempre disputados internamente”, analisa. O presidente da Comissão de Resseguro da CNseg, Wady Cury, avalia que, nesses sete anos, um dos maiores avanços ocorreu nas práticas de administração. “Saímos da gestão de regras para uma gestão conceitual, de reflexão. Foram anos de aprendizado, em que cometemos erros, porém, tivemos muitos acertos também”, recorda. Segundo Cury, durante o período de amadurecimento, as vantagens competitivas brasileiras foram reveladas. “O mercado não conhecia bem o Brasil, mas nos descobriu, junto com nossa qualidade técnica e nossos riscos. O País atrai o interesse das maiores empresas mundiais pelas oportunidades representadas por sua dimensão e diversidade econômica, comercial e industrial”. Rosane Bekierman Momento delicado A combinação de fatores como baixo crescimento econômico, alta de juros e do dólar, inflação, desemprego e aumento de impostos e de preços controlados (luz, água, gasolina e transportes), prevista para este ano, tem impacto sobre o mercado de resseguros. Para a Fenaber, o momento econômico é delicado, mas a situação não terá o efeito de paralisar o setor. “Certos investimentos o governo não vai deixar de fazer, principalmente os relacionados à infraestrutura. E o resseguro será necessário tanto para grandes projetos de engenharia, como, e principalmente, para riscos patrimoniais”, acredita. O executivo estima em dois anos o prazo para que a situação encontre um equilíbrio. “Será um tempo de ajustes, de medidas amargas, em que talvez não consigamos crescer tanto como antes”, prevê. Mesmo com a investigação de emprei- O Brasil atrai o interesse das maiores empresas mundiais pelas oportunidades representadas por sua dimensão e diversidade econômica, comercial e industrial. Shutterstock teiras envolvidas na Operação Lava Jato, da Polícia Federal, Pereira pondera que haverá soluções para que o País continue se desenvolvendo. “Temos outras empreiteiras trabalhando, que podem servir de substitutas, vir a ocupar um espaço que não ocupavam antes, e até empresas estrangeiras. O importante é os investimentos serem mantidos”, indica. O presidente do IRB Brasil Re, Leonardo Paixão, que ocupa assento na vice-presidência da Fenaber, concorda que 2015 será um “ano difícil, de ajustes”. O executivo avalia, porém, que nos últimos anos, houve avanços sociais e econômicos. “O resseguro, por ser um negócio global, está mais acostumado aos picos e vales da economia. O Brasil vai se desenvolver cada vez mais, depois do freio de arrumação”, acredita. Rumo necessário Wady Cury também é otimista em relação ao futuro, apontando as Wady Cury REVISTA DE SEGUROS • 09 CENÁRIO BRASILEIRO próprias características do mercado ressegurador. “O setor tem uma natureza de flexibilidade. Estamos acompanhando o desempenho da economia mundial na última década, vencendo desafios, e nos adaptando às dificuldades e mudanças”. Cury acredita que já é consensual que não há resseguro se não há seguro. “O investimento em obras não haveria sem resseguro. As grandes seguradoras estão por todo o mundo. Basta o Brasil se ajustar e buscar o rumo necessário”, conclui. Como solução para tempos de crise, o executivo aponta o investimento em nichos que ainda não são explorados, principalmente os ligados à infraestrutura, além de criação de produtos. Entre os nichos, Cury destaca os resseguros financeiros e o risco cibernético ou riscos eletrônicos. “O Brasil já tem um conhecimento global no mundo, o que permitiu uma curva de aprendizado que garante flexibilidade frente ao cenário atual. De É preciso revisitar a legislação para permitir uma atuação mais eficiente das resseguradoras locais na aceitação de riscos do exterior. Marcelo Mansur 10 • REVISTA DE SEGUROS uns anos para cá, estamos sofrendo com mais frequência catástrofes naturais, que podem ter impacto, por exemplo, na agricultura”, completa. Catástrofes naturais Em muitos países, a indústria de seguros e, especificamente, as resseguradoras, vêm se confrontando com novos cenários de impacto que não são provocados por catástrofes naturais. Atentados terroristas, mudanças climáticas antrópicas e também a crise dos mercados financeiros têm conturbado as sociedades e suas instituições. A Fenaber defende que a operação do resseguro, com sua característica internacional por excelência, permite que responsabilidades sejam pulverizadas em países diversos, dispersando os prejuízos nas ocorrências de sinistros, especialmente aqueles de natureza catastrófica. O movimento de internacionalização, aliás, é um dos maiores trunfos do IRB Brasil Re, sete anos depois de ter deixado de responder pelo monopólio do resseguro no Brasil e dois anos após sua privatização. A retomada do crescimento no mercado interno fez com que o IRB começasse a trilhar sua expansão internacional, que privilegia, num primeiro momento, os mercados da América Latina e da África. No continente latino-americano, o IRB inaugurou sua sucursal em Buenos Aires, em setembro de 2011, com uma equipe composta basicamente por profissionais locais. Na África, o ressegurador participou de um aumento de capital promovido pela African O resseguro é um negócio global e está acostumado aos picos e vales da economia. O Brasil vai se desenvolver ainda mais, depois do freio de arrumação. Leonardo Paixão Reinsurance Corporation – Africa Re, adquirindo 4,8% do capital da companhia e desenvolvendo uma parceria de negócios voltada para o continente africano. “A atuação na Ásia está crescendo, bem como na África. É um cenário motivador, o que nos leva a expandir internacionalmente”, afirma Leonardo Paixão, presidente do IRB. A partir de 2007, a empresa passou a vivenciar uma nova fase de sua história, que vem sendo marcada por profundas transformações: as políticas internas foram revisadas e os guidelines e taxas para aceitação de riscos, atualizados. A estrutura organizacional foi adaptada ao novo tempo e a área de TI, modernizada. São mudanças que conferem agilidade e criatividade às soluções para os desafios do negócio. “O IRB passou de um problema de ideologia, para mais uma questão de sobrevivência. O desenho do monopólio gera grandes custos”, comenta. Abertura de capital Para o futuro, as metas são a abertura de capital do IRB e a intensificação do investimento internacional. Para Shutterstock empreendê-las, o instituto ampara-se em um lucro líquido de R$ 601,5 milhões, registrado em 2014, 72,5% maior que o do ano anterior; e num volume de prêmios emitidos de R$ 3,2 bilhões (18,6% maior em relação ao mesmo período). O desempenho resultou num market share de cerca de 34%, o que garantiu, segundo o IRB, a manutenção de sua liderança no mercado nacional de resseguro. Ainda na seara da internacionalização, o advogado Marcelo Mansur, sócio de Seguros, Resseguros e Previdência do Mattos Filho, escritório de reconhecida atuação na área jurídica relacionada a resseguro, avalia que ainda há aspectos na legislação que podem ser melhorados. “É preciso revisitar a legislação para permitir uma atuação mais eficiente das resseguradoras locais na aceitação de riscos do exterior, facilitando a atuação destas como hubs regionais de resseguro. Seria mais importante uma revisão das regras cambiais e fiscais aplicáveis, do que efetivamente das ressecuritárias”, acredita. O advogado, no entanto, descarta a necessidade de novas normas. “A regulamentação ressecuritária deve ser minimalista. O mais importante é se ter clareza sobre a interpretação que o regulador tem destas normas e uma garantia de que a aplicação será feita de uma forma consistente”, conclui. Contenção financeira O risco de crimes cibernéticos e falhas de TI também continuam a crescer rapidamente, entrando pela primeira vez no top 5 do ranking (em 2014, eles ocuparam a 8ª posição, e em 2013, a 15ª). Apesar desse aumento, muitas empresas estão subestimando os diferentes impactos, segundo 73% dos entrevistados – e, em muitos casos, por motivo de contenção financeira. A pesquisa foi feita com mais de 500 analistas de risco e especialistas em seguro corporativo da Allianz e de outras companhias globais em 47 países. De acordo com o levantamento, a combinação de novos riscos econômicos e regulatórios relacionados à tecnologia cria uma ameaça sistêmica para as empresas globais. Para responder a esses desafios, a Allianz sugere que as companhias façam controles internos mais fortes e uma gestão de risco holística dos negócios. “A crescente interdependência de indústrias e processos significa que os negócios estão cada vez mais sujeitos a cenários desfavoráveis. Assim, os efeitos negativos podem se multiplicar rapidamente, com um risco criando diversos outros. Catástrofes naturais ou ataques cibernéticos podem interromper os negócios de setores inteiros ou de infraestrutura crítica”, afirma Chris Fischer Hirs, CEO da AGCS, conforme comunicado divulgado pela companhia. Cenários desfavoráveis criam novas dificuldades Estudo divulgado pela Allianz Global Corporate & Specialty - AGCS trouxe números sobre a incidência dos maiores riscos para os negócios em 2015. Segundo o quarto relatório Barômetro de Risco da AGCS, o ambiente de negócios enfrenta novas dificuldades graças ao surgimento de vários cenários desfavoráveis num mundo corporativo cada vez mais integrado. De acordo com o estudo, os maiores riscos para as empresas ao longo do ano serão as interrupções bruscas nos negócios e falhas na cadeia de suprimentos (46%), catástrofes naturais (30%) e incêndios e explosões (27%). Os perigos cibernéticos (17%) e políticos (11%) foram os que mais subiram no ranking, e continuam a preocupar os especialistas. Por sua vez, a perda de reputação (61%) e a interrupção nos negócios (49%) após um incidente são vistas como as principais causas de prejuízos para as empresas. REVISTA DE SEGUROS • 11 CENÁRIO BRASILEIRO Encontro debaterá temas importantes para o setor Os desafios, temas técnicos e futuro do mercado de resseguros brasileiro serão debatidos no 4º Encontro de Resseguro do Rio de Janeiro, que acontece nos dias 14 e 15 de abril, no hotel Sofitel Rio, em Copacabana. Entre os assuntos tratados, estão o desenvolvimento do mercado de energia no Brasil, o desenvolvimento sustentável do agronegócio e os desafios e oportunidades na América Latina. O evento é realizado em parceria pela CNseg, Fenaber e Escola Nacional de Seguros. n Programação* Dia 14/04/2015 - Manhã Dia 15/04/2015 - Manhã 08h às 08h30 Credenciamento 08h30 às 9h Credenciamento 08h30 às 09h Cerimônia de Abertura 09h às 10h30 Palestrante: Coord. de Mesa: Debatedor: Plenária I O Desenvolvimento do Mercado de Energia no Brasil Rafael Schechtman | CBIE - Centro Brasileiro de Infra Estrutura José Carlos Cardoso | IRB Brasil Re Vinicius Bergamaschi | ACE Seguros Soluções Corporativas S/A 09h às 10h30 Coord. de Mesa: Palestrante: Debatedor: Plenária IV Perspectivas do século 21 Claudio Contador | Escola Nacional de Seguros Paulo Vicente | Fundação Dom Cabral a definir 10h30 às 11h Coffee Break 10h30 às 11h Coffee Break 11h às 12h30 Palestrante: Palestrante: Coord. de Mesa: Plenária II Economia Brasileira a Curto e Médio Prazo José Júlio Senna | FGV e MCM Consultores Associados Affonso Celso Pastore | Economista William Waack | Jornalista 11h às 12h30 Palestrante: Coord. de Mesa: Plenária V Desafios e Oportunidades: a Atração da América Latina Michel Liès | Swiss Re Patrick Larragoiti | Sul América 12h30 às 14h Almoço 12h30 às 14h Almoço Dia 14/04/2015 - Tarde Técnica 14h às 16h Mesa Redonda Agrícola Coord. de Mesa: Joaquim Francisco Rodrigues César Neto | Porto Seguro Cia. de Seguros Gerais Wady José Mourão Cury | Grupo Segurador BBMapfre Palestrantes: Eduardo Porcel | Trans Re Panamá Angelo Gemignani | Instituto Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável do Agronegócio (IBDAgro) Bruno Valentim | Austral Re Debatedor: Dia 15/04/2015 - Tarde Técnica 14h às 16h Coord. de Mesa: Debatedores: Mesa Redonda Jurídica Aspectos Jurídicos da Regulação de Sinistros Sérgio Ruy Barroso de Mello | Pellon & Associados Advocacia Carlos Velloso | IRB Brasil Re Marcelo Mansur | Mattos Filho Advogados Patrícia Godoy | Aon Service Corporation 14h às 15h Coord. de Mesa: Palestrante: Debatedor: Painel Técnico III Transferência de Risco através de Mercado de Capitais André Marino Gregório | BTG Pactual Seguradora S/A Craig Hupper | Capital Partners Rodrigo de Souza Lobo Botti | Terra Brasis Resseguros 14h às 15h Coord. de Mesa: Palestrante: Debatedor: Painel Técnico I Necessidade de Capital Alexandre Leal | CNseg José Alberto Rodrigues Pereira | Susep Frederico Knapp | Swiss Re 15h às 16h Coord. de Mesa: Palestrante: Debatedor: Painel Técnico IV Resseguro Paramétrico André Marino Gregório | BTG Pactual Seguradora S/A Florian Kummer | Swiss Re Rodrigo Protasio | JLT Re Brasil 15h às 16h Coord. de Mesa: Palestrante: Debatedores: Painel Técnico II Retrocessão para Seguradoras Alexandre Leal | CNseg Diogo Ornellas Geraldo | Susep Eduardo Menezes | Bradesco Auto/Re Rodrigo de Souza Lobo Botti | Terra Brasis Resseguros 16h às 16h30 Coffee Break 16h às 16h30 Coffee Break 16h30 às 18h30 Coord. de Mesa: Palestrantes: Plenária III Assuntos Correntes de Resseguro no Brasil Paulo Eduardo de Freitas Botti | Terra Brasis > Ratings do Mercado Segurador e o Risco País Tina Bukow | A.M. Best > Presente e Futuro do Resseguro no Brasil João Francisco Silveira Borges da Costa | HDI Seguros S/A 18h30 às 19h30 Coquetel 12 • REVISTA DE SEGUROS 16h30 às 17h30 Painel Técnico V D&O Coord. de Mesa: Thabata Najdek | Allianz Seguros Palestrantes: Fábio Torres | TM Law Torres, Marcelino & Advogados Associados Daniel Veiga| IRB Brasil Re Debatedor: Gustavo Galrão | Argos Seguros Brasil S/A 16h30 às 17h30 Coord. de Mesa: Palestrante: Debatedor: Painel Técnico VI Proteção de Portfólio André Marino Gregório | BTG Pactual Seguradora S/A Alexander Gollin | Hannover Re Nilton Rafael Haiter | Tokio Marine Seguradora S/A * SUJEITO A ALTERAÇÃO NO MUNDO Um gigante em crescimento Por LARISSA MORAIS Shutterstock Mercado global de resseguros movimenta US$ 240 bilhões e avança em ritmo acelerado. Brasil responde por pouco mais de 1%. Ao assumir riscos de indivíduos e empresas, as resseguradoras provêm proteção financeira e, assim, estabilidade econômica e social a um país. Margo Black Os percentuais de crescimento, contudo, enchem os olhos dos principais operadores globais: 26,3%, em 2013, e 16,6%, no ano passado. O mercado internacional de resseguros representa uma força financeira da ordem de US$ 240 bilhões e está com o pé no acelerador. O relatório que no fim do ano passado divulgou resultados consolidados de 2013 apontou um crescimento de 5,7% em relação ao ano anterior – praticamente duas vezes o avanço do PIB mundial no mesmo ano, que foi de 2,4%. O Brasil não responde por um volu- 14 • REVISTA DE SEGUROS me representativo desse montante, mas vive uma expansão ainda mais acentuada. Dados da Superintendência de Seguros Privados - Susep, autarquia governamental que regula o mercado segurador e ressegurador no País, mostram que em 2013 o volume de prêmios foi de R$ 7,24 bilhões, cerca de US$ 3,1 bilhões pela cotação do dólar na época – o que representa 1,3% do volume mundial. Mercado estratégico Considerado um mercado estratégico e com enorme potencial de crescimento e desenvolvimento, o País já reúne 36 dos 40 maiores grupos de resseguradoras mundiais. Das dez maiores, todas estão aqui. Até 2007, o mercado estava nas mãos de uma única empresa estatal, o IRB. Com o fim do monopólio, as resseguradoras internacionais também puderam disputar o mercado nacional. Regra do jogo No entanto, o professor Luiz Antonio Nunes é mais cauteloso ao comentar um possível crescimento no número de players locais no mercado de resseguros brasileiro. “Existe um requerimento de capital enorme para que uma companhia seja aceita como local. É regra do jogo. Se ela tem interesse, tem que cumprir as exigências. Não vejo nenhum problema. Mas isto dependerá muito de como o mercado vai se adequando”. O aumento na quantidade de empresas participantes no mercado de resseguros deve continuar neste ano, de acordo com relatório de perspectivas elaborado pela Fitch Ratings. O requerimento de capital para se tornar uma resseguradora local é de R$ 60 milhões, mais o valor proporcional ao tamanho da operação, além da obrigatoriedade de contar com uma sede no País. Para as resseguradoras admitidas, o capital mínimo exigido é de R$ 5 milhões. As eventuais recebem autorização para operar de acordo com suas necessidades. O consultor Francisco Galiza, da Rating de Seguros, destaca que a confiança no setor está em queda. O Índice de Confiança e Expectativas das Resseguradoras - ICER, elaborado pela consultoria, caiu para 66,7 em fevereiro, ante 77,5 em janeiro. “As opiniões apontam para um ano difícil. E isso tem a ver com o ambiente econômico em geral, não só do mercado de resseguro.” Galiza ainda lembra que o mercado brasileiro é fortemente dominado pelo IRB Brasil Re, que recebeu mais de R$ 3 bilhões em prêmios no ano passado, segundo a Susep. O volume representa 35,7% dos prêmios de todas as resseguradoras, que totalizaram R$ 8,4 Ranking dos resseguradores que atuam no País Ressegurador IRB BRASIL RESSEGUROS S.A. (Ano 2014 - Valores em R$) Prêmios aceitos 3.024.551.975 ZURICH RESSEGURADORA BRASIL S.A. 665.209.139 ALLIANZ GLOBAL CORPORATE & SPECIALTY RESSEGUROS BRASIL S.A. 583.230.214 LLOYD’S389.476.546 AUSTRAL RESSEGURADORA S.A. 384.694.327 MAPFRE RE COMPAÑÍA DE REASEGUROS S.A. 325.601.714 MUNICH RE DO BRASIL RESSEGURADORA S.A. 259.266.056 EVEREST REINSURANCE COMPANY 236.070.294 ACE RESSEGURADORA S/A 223.089.882 HANNOVER RUCK SE (ANTIGA HANNOVER RÜCKVERSICHERUNG AG) 219.969.808 SWISS RE BRASIL RESSEGUROS S.A. 192.444.083 MAPFRE RE DO BRASIL COMPANHIA DE RESSEGUROS 155.477.717 J. MALUCELLI RESSEGURADORA S/A 152.926.622 BTG PACTUAL RESSEGURADORA S.A. 149.226.258 SCOR REINSURANCE COMPANY 134.378.430 AMERICAN HOME ASSURANCE COMPANY 126.625.285 ZURICH INSURANCE COMPANY 102.559.034 OUTRAS1.094.674.636 Total8.419.472.019 O maior desafio hoje é a qualificação, pois são poucos os profissionais gabaritados a trabalhar neste mercado. Luiz Antonio Nunes bilhões; e é 4,5 vezes maior do que o registrado pela segunda do ranking, a Zurich Re. O panorama é bem distinto do observado no cenário mundial, onde Munich Re e Swiss Re disputam o topo do ranking. Mais eficiência Luiz Antonio Nunes lembra, no entanto, que o IRB está competindo no mercado e tem que se tornar cada vez mais eficiente. “O IRB perdeu espaço num primeiro momento, mas ainda detém a memória do mercado, construída anos a fio. Isso confere a ele uma vantagem e a possibilidade de se manter numa posição estratégica.” Ainda na avaliação do professor do Ibmec e da ENS, o principal gargalo do setor de resseguros no País é justamente a falta de profissionalização. Ele avalia que a abertura do setor deixou latente o problema da capacitação e a solução virá apenas quando houver uma ação forte que envolva todos os agentes do mercado. “O maior desafio hoje é a qualificação do profissional, pois são poucos os gabaritados a trabalhar neste mercado. Essa defasagem intelectual chegou a ser cômoda, pois o mercado era concentrado e não havia competição. Mesmo com a abertura, o mercado não se preparou. Mas vai conseguir chegar lá”, concluiu. n REVISTA DE SEGUROS • 21 PERSPECTIVAS Recessão não vai tirar resseguros da rota Por MARIA LUISA BARROS Empresas devem compensar eventuais retrações da economia interna com expansão no mercado internacional. à metade o número de funcionários terceirizados e um terço dos empregados fixos. Atenções no exterior Líder no ramo de agronegócios, com 34% de participação no mercado, e com forte atuação em todos os ramos, o IRB tem suas atenções voltadas para o exterior, onde atualmente concentra apenas 10% do total de prêmios da sua carteira. “Temos um mercado internacional praticamente inexplorado. E no momento estamos sendo favorecidos pela alta do dólar. Pretendemos nos próximos anos crescer substancialmente lá fora”, diz José Carlos Cardoso. Nos planos do IRB está a abertura de novos escritórios na América Latina e na África até o final do ano. A instabilidade financeira não assusta a resseguradora, que até 2007 detinha o monopólio da atividade no Brasil. Ao contrário, os números são bastante animadores. O IRB encerrou 2014 contabilizando um volume de prêmios emitidos da ordem de R$ 3,2 bilhões e um lucro de R$ 602 milhões no Divulgação IRB a s turbulências na economia brasileira, provocadas pela forte desaceleração do crescimento do Produto Interno Bruto - PIB, não devem tirar da rota o mercado de resseguros nacional. O cenário de recessão projetado para este ano vai obrigar as empresas a apertarem o cinto, porém, o desempenho do setor tende a manter o fôlego e a se descolar do PIB, registrando desempenho acima de 10% este ano, alavancado, sobretudo, pelos ramos do agronegócio, bens patrimoniais e infraestrutura. Os cálculos são do vice-presidente do IRB Brasil Re, José Carlos Cardoso. “Considero a projeção altamente conservadora. Pretendemos compensar eventuais retrações internas com a expansão do IRB no mercado internacional. Essa combinação pode, sem dúvida, ultrapassar o índice previsto”, afirma. Segundo ele, para alcançar o resultado acima do esperado e enfrentar a concorrência das mais de 100 empresas estrangeiras que atuam no Brasil, a resseguradora vem fazendo a lição de casa, tendo reduzido quase mesmo período – aumento de 24% em relação ao ano anterior. “O nosso lucro hoje é muito maior do que na época do monopólio”, informa Cardoso, que aposta na sua experiência internacional para ampliar as fronteiras do IRB. Segundo ele, Colômbia e Miami devem ganhar filiais em breve. Diante da crise que engavetou novos investimentos e projetos do governo O mercado internacional é praticamente inexplorado e estamos sendo favorecidos pela alta do dólar. Pretendemos crescer substancialmente lá fora. José Carlos Cardoso 22 • REVISTA DE SEGUROS federal, as resseguradoras apostam na diversificação das carteiras e aproveitam a expertise adquirida no mercado internacional para fornecer subsídios às empresas brasileiras no gerenciamento de riscos complexos e de alto valor em seus negócios. Essa é uma das estratégias adotadas pela resseguradora alemã, Munich Re do Brasil, para se sobressair no mercado nacional, conforme explica o CEO da empresa, Rodrigo Belloube. “Queremos nos posicionar como parceiro estratégico de nossos clientes, construindo a quatro mãos projetos e iniciativas relacionadas a inovação, sofisticação da oferta ao mercado, agregar valor e serviços a produtos, de forma a atender demandas cada vez mais complexas e específicas. Queremos ser parceiros, em suma, e ajudar nossos clientes a atingir seus objetivos estratégicos e operacionais”, adianta. Perspectivas otimistas Para o vice-presidente do IRB, é consenso entre os concorrentes que as perspectivas são otimistas e que, de tempos em tempos, o mercado de resseguros passa por uma volatilida- Divulgação Munich RE Miami: o IRB Brasil RE quer expandir suas fronteiras e chegar à cidade da Flórida, nos Estados Unidos, e também à Colômbia, ampliando sua atuação na América do Sul. de. “É um momento de atenção que pode ser compensado pelo aumento dos preços. Mas, independentemente dos problemas atuais, as concessões vão continuar sendo feitas e as empresas precisarão contratar seguros. O setor vai se adaptar”, analisa. Para Belloube, o Brasil continua a ser analisado sob uma lógica de longo prazo e a questão macroeconômica tende a ganhar importância. “O desempenho do mercado de seguros vem significativamente superando o crescimento econômico, com baixa correlação entre os dois, pois existe uma demanda não atendida de proporções consideráveis”, diz o CEO da Munich Re do Brasil. Na visão do executivo, o investimento em obras para sediar grandes eventos, como os Jogos Olímpicos de 2016, representa uma fatia pequena na margem de lucro das resseguradoras. “O trem já passou. A maioria das obras que demandavam resseguro já foram negociadas. Os Jogos Olímpicos são pequenos para o mercado ressegurador. O que conta mais é o desenvolvimento do País, o investimento contínuo em formação bruta de capital fixo, em infraestrutura”, afirma Belloube. Níveis de investimentos No entanto, ele acredita, que para os atores cujas carteiras sejam mais dependentes dos níveis de investimento, como, por exemplo, as de riscos de engenharia e de garantias, o cenário econômico tem outra dimensão. Para o executivo, o País tem hoje performance inferior à média mundial sob a Independentemente dos problemas atuais, as concessões vão continuar sendo feitas e as empresas precisarão contratar seguros. O setor vai se adaptar. Rodrigo Belloube perspectiva de rentabilidade. “Há uma certa ‘comoditização’ do setor, uma mecanização do processo de pulverização de risco, com as negociações, via de regra, focadas predominantemente na variável ‘preço’, cujo valor médio teve trajetória de queda brusca nos últimos anos”, diz. Na avaliação de Belloube, em parte isso se deve ao desequilíbrio entre oferta e demanda, resultado de quase 70 anos de monopólio estatal exercido pelo IRB. “Precisamos manter o mercado nos trilhos e isso significa pensar sempre na melhor solução para o País, e não para atores específicos”, defende. n REVISTA DE SEGUROS • 23 BANCO MUNDIAL Por TATIANA MAIA Braço financeiro do Banco Mundial, a IFC ajuda a promover a inovação e a competitividade do setor seguros e de resseguros. O aumento da cobertura de seguros e da disponibilidade de resseguro são elementos fundamentais para capacitar o desenvolvimento econômico sustentável e o crescimento do setor privado. O seguro tem um papel importante na mitigação de riscos nos mercados emergentes, ajudando a proteger indivíduos e negócios contra os efeitos adversos de desastres naturais, incêndios, secas e outros eventos imprevisíveis. A abertura do mercado de resseguros no Brasil é recente, mas o cenário de monopólio do IRB já é passado distante. De acordo com dados do Terra Report, Relatório do Mercado Brasileiro de Resseguros, produzido pela Terra Brasis, o IRB encerrou os primeiros nove meses de 2014 com uma participação de mercado de 31%, enquanto as outras resseguradoras locais detinham 37% do mercado e as resseguradoras estrangeiras já somavam 32%. Dos 40 maiores grupos resseguradores internacionais, 36 operam no Brasil. E, neste cenário, chama a atenção a participação acionária da 24 • REVISTA DE SEGUROS International Finance Corporation - IFC, braço financeiro do Banco Mundial em duas resseguradoras locais, a Austral (desde 2014) e a Terra Brasis (desde 2011), cujos dirigentes integram a diretoria da Federação Nacional das Empresas de Resseguros – Fenaber. Impacto da aliança Para a Terra Brasis ainda é cedo para avaliar o impacto que uma aliança com o Banco Mundial traz para uma companhia, pois a empresa está ligada à instituição desde o início de suas operações. A parceria começou antes de a resseguradora iniciar sua operação, o que levou seu desenvolvimento a ser traçado em conjunto com o Banco Mundial - e continua sendo assim. “Temos muito orgulho de ser o primeiro investimento feito pelo Banco na nossa área de atuação. Fomos também o projeto mais rapidamente aprovado por eles. Nossa cultura organizacional, postura de mercado e comportamento profissional e ético foram moldados de forma integrada com a participação deles, de nossos sócios e de colaborado- Divulgação Terra Brasis IFC transfere expertise ao mercado brasileiro res”, enfatiza o diretor-presidente da Terra Brasis, Paulo Botti. Há regras que devem ser seguidas para a manutenção da parceria com o Banco Mundial, e todas elas são encaradas pela Terra Brasis como muito positivas. São regras quanto à alocação de investimentos, pois há restrições à aceitação de negócios que podem ser considerados nocivos à sociedade ou ao meio ambiente. E há regras de sustentabilidade que devem ser seguidas, compliance e garantia de governança nos padrões do Banco Mundial. “Estamos muito felizes com isto”, declara Botti. Além de toda a reputação que a instituição nos traz, aporta também uma experiência mundial em seguros e resseguros que estamos absorvendo continuamente. Paulo Botti melhores práticas de sustentabilidade”, completa Ariane. Divulgação Austral RE Fôlego e expertise Os executivos foram unânimes em afirmar que a parceria com o Banco Mundial é uma oportunidade especial para as empresas brasileiras ganharem fôlego financeiro e expertise. Para Paulo Botti, o fomento do mercado de resseguros brasileiro é muito importante, não só para o Brasil mas também para toda a região da América Latina. “Além de toda a reputação que eles nos trazem, aportam também uma experiência mundial em seguros e resseguros que estamos absorvendo continuamente. O conhecimento que a instituição tem do mercado mundial A experiência do IFC, que já participa do capital de vários seguradores e resseguradores pelo mundo, traz um ganho adicional de expertise para a Austral Re. Bruno Freire Divulgação IFC Reflexo dos aportes A IFC adquiriu, em setembro de 2014, 19,5% de participação na Austral Re através de um aporte de R$ 80 milhões, que foi usado para aumentar o capital da empresa. Segundo Bruno Freire, diretor-executivo da Austral Re, como a entrada do IFC aconteceu recentemente, ainda não deu tempo para analisar o reflexo do potencial desse aporte nos resultados. De qualquer forma, 2014 foi o melhor ano da companhia, desde o início das operações, em 2011, segundo Freire. A Austral Re emitiu R$ 445 milhões em prêmios brutos no ano passado contra R$ 328 milhões em 2013, com lucro líquido de quase R$ 19 milhões e índice combinado de 97%. O retorno sobre o capital já está em 11%, o que a companhia considera um ótimo resultado. Segundo Ariane di Iorio, executiva responsável pela área de Instituições Financeiras da IFC no Brasil, o investimento da instituição no mercado de seguros e de resseguros tem por objetivo ajudar a promover a inovação e a competitividade no setor, a elevação da qualidade dos serviços e produtos, a criação de oportunidades de mercado para seus participantes, e a viabilização do desenvolvimento de setores vitais para a economia brasileira, como infraestrutura e agronegócios. “A IFC, como parte de seu propósito de ajudar a promover o desenvolvimento socioeconômico e sustentável do País, tem o objetivo de ajudar a desenvolver também o mercado de seguros como um todo, criando oportunidades para seus participantes e estimulando a adoção das A IFC, como parte de seu propósito de promover o desenvolvimento socioeconômico do País, cria oportunidades e estimula a adoção das melhores práticas de sustentabilidade. Ariane di Iorio e de instrumentos novos e modernos de transferência de riscos tem sido muito útil para nós”, avalia. Bruno Freire segue a mesma linha de raciocínio. Para ele, a entrada do IFC como parceiro da Austral Re traz várias vantagens que devem alavancar o crescimento da empresa. O IFC, por ser uma entidade internacional, reconhecida globalmente e com rating AAA, confere mais credibilidade e reconhecimento para os parceiros internacionais. “O aumento de capital também ajuda na viabilização de um crescimento sustentável e conservador. A experiência do IFC, que já participa do capital de vários seguradores e resseguradores pelo mundo, nos traz um ganho adicional de expertise”, estima Freire. n REVISTA DE SEGUROS • 25 Arquivo CNseg artigO especial O resseguro sob a ótica das seguradoras Por Luis Tavares Pereira Filho - Vice-presidente executivo da CNseg Passados sete anos desde a abertura, pergunta-se: aquelas promessas foram realizadas? s empre que se lamentava o atraso na abertura do mercado de resseguros, somente ocorrida a partir de 2007, dizia-se que o ambiente concorrencial proporcionaria às seguradoras todo um leque de benefícios. Assim, a disputa por clientes entre os resseguradores conduziria a preços menores, inclusive para o consumidor de seguros, contribuindo para o concomitante crescimento do mercado; haveria sensível melhora no atendimento às cedentes; e seriam introduzidas coberturas inéditas no mercado brasileiro, trazidas pelos grandes players internacionais. Passados sete anos desde a abertura, pergunta-se: aquelas promessas foram realizadas? Sob a perspectiva das seguradoras cedentes, a resposta é um vigoroso sim, mas com temperamentos. Quanto aos preços, a recente eleva- 26 • REVISTA DE SEGUROS ção para 90% do índice de sinistralidade médio no setor de resseguro é um indicador, entre outros sinais, de que os preços cederam, mercê da forte concorrência, mais visível em alguns segmentos de maior competição. Também o crescimento das operações de resseguro tem correspondido às expectativas otimistas, pois de 2011 a 2014, o volume total de prêmios cresceu nada menos que 52%. O incremento deixou muito para trás o do PIB e, no ano passado, o setor de resseguros cresceu o dobro do experimentado pelo segmento de seguros (20% contra 10%). Reconheça-se que os desafios para os resseguradores ainda são de monta, destacando-se a necessidade de formação de novos quadros técnicos. Também a volatilidade de mercado é uma preocupação constante, o que pode levar a indesejá- veis flutuações nos níveis de preço. Mas o fato é que o setor se desenvolveu e se consolidou. São 16 resseguradores locais, 35 admitidos e 71 eventuais, oferecendo capacidade e negócios às suas parceiras, as seguradoras cedentes. Cenário nacional O IRB, que sofreu forte perda de market share, no primeiro momento da abertura, parece ter-se firmado e afirmado como empresa competitiva no cenário nacional, com faturamento de prêmios em 2014 da ordem de R$ 3,024 bilhões, cogitando agora penetrar em novos mercados (que não falte prudência!). Por sua vez, os outros 16 resseguradores seguintes do ranking obtiveram, no País, produção de prêmios entre R$ 665 e R$ 102 milhões, configurando um mercado robusto e diversificado. E, em termos de atendimento às seguradoras clientes, o que teria mudado? Bem, a primeira alteração deu-se na postura comercial. Nos tempos do monopólio, o IRB reinava absoluto, sequer dispondo de uma diretoria comercial. Claro, bastava-lhe aguardar tranquilamente as demandas do mercado e estabelecer as condições de preço e cobertura (com consulta ao mercado internacional, reconheça-se). É fato que a situação anterior teria mesmo que mudar: agora são muitos os resseguradores a cortejar as cedentes. Por isso mesmo, nesse novo mundo de ofertas e afagos, as seguradoras têm que se cercar de alguns cuidados. Nesse sentido, são vários os fatores a serem levados em consideração na escolha dos parceiros pelas cedentes. Independentemente da questão do preço há, em princípio, preferência pelos grandes resseguradores internacionais, haja vista a exigência de security constante das normas internas das seguradoras. Isso cria dificuldades para algumas pequenas resseguradoras nacionais, consideradas “butiques”, que ainda precisam fortalecer seus balanços para concorrer com os grandes ou buscar nichos especializados de atuação. Razões de governança Mas a opção pela melhor security nem sempre é tranquila: sucede que a seguradora, por razões de gover- Agora são muitos os resseguradores a cortejar as cedentes. Por isso mesmo, nesse novo mundo de ofertas e afagos, as seguradoras têm que se cercar de alguns cuidados. nança, precisa examinar também a questão da diversificação dos riscos, ou seja, precisa verificar se o ressegurador com quem pretende operar tem acúmulo excessivo de responsabilidades considerando outros países onde atua. É que as seguradoras que operam fortemente em resseguro, no Brasil, têm capital de origem estrangeira (infelizmente são poucas as seguradoras de capital nacional que operam em grandes riscos), atuando em âmbito mundial. A complicar ainda mais a cessão do resseguro, tem-se o fato de o mercado internacional passar por processo de concentração, podendo ocorrer que o ressegurador escolhido hoje possa deixar de existir amanhã. Outro cuidado que a seguradora precisa tomar diz respeito às cláusulas contratuais, especialmente àquela que trata da regulação de sinistros. Se a seguradora deixar de optar pela cláusula claims cooperation e contratar a claims control, pode-se ver em maus lençóis, pois o cliente final é seu, mas o ressegurador é quem decidirá o pagamento da reclamação. Aliás, não são raros os casos em que a judicialização do sinistro deve-se não a uma decisão da seguradora – que tem o cliente e a própria imagem envolvidos – mas a uma recusa do(s) ressegurador(es). Finalmente, quanto às inovações: as esperadas novas coberturas não vieram, a menos de poucas exceções. Ocorrem, inclusive, casos em que a inovação decorre da iniciativa da seguradora em buscar cobertura para uma determinada necessidade de proteção de um segurado seu. E muitas vezes acabam atendidas, o que demonstra as potencialidades de uma política de trazer inovações para o mercado segurador brasileiro. Em suma, sob a ótica das seguradoras, um longo caminho já foi percorrido em termos de preços, opções de parcerias e nível de atendimento. Não se chegou ainda ao ponto de obter o esperado avanço qualitativo na prestação de certos serviços, o que obriga as seguradoras a cuidados, notadamente na elaboração dos termos dos contratos que vão reger suas relações com os resseguradores. Adicionalmente, a ausência de resseguro para determinados ramos, como o seguro saúde, está a indicar um significativo potencial de crescimento do setor, com a introdução de novas e específicas modalidades de cobertura. n REVISTA DE SEGUROS • 27 Internacionalização América Latina ainda é foco da internacionalização Resseguradoras brasileiras fazem registro em países vizinhos em busca de presença global. a s resseguradoras brasileiras estão expandindo ainda mais os negócios em outros países da América Latina. Além da proximidade geográfica, a forma de empreender dos países vizinhos, parecida com a dos brasileiros, atrai a procura por registros em locais como Argentina, Colômbia e Chile. Após o pioneirismo do IRB na internacionalização por países vizinhos, resseguradoras de grupos como BTG Pactual e JMalucelli também buscam seus espaços. Um dos principais motivos pela procura de registro em outros países latino-americanos é experiência oferecida. De acordo com Leonardo Paixão, presidente do IRB, os países vizinhos são vistos como uma escola que prepara as resseguradoras para uma internacionalizaçao global. “A proximidade geográfica, a língua e culturas semelhantes são vantagens numa primeira etapa. Quem passa por esse desafio está pronto para outros continentes”, explica. Países vizinhos O IRB deu início à internacionalização pela Argentina, onde tem negócios há quatro anos, mas também está presente em outros países, como a Espa- 28 • REVISTA DE SEGUROS nha. Desde então, o faturamento da resseguradora cresceu 500%. O IRB é a resseguradora com maior número de negócios na América Latina, representando 14% do seu faturamento. Pela legislação, as empresas podem fazer contratos nos países vizinhos e declarar os ganhos no balanço da operação brasileira. Paixão conta, ainda, que há projeto de registrar a resseguradora no México e na Colômbia neste ano. Mas, assim como em outros negócios, é necessário tomar cuidado. Os riscos políticos e econômicos de alguns países da América Latina se tornam uma preocupação a mais para quem planeja investimentos na região. Na Argentina, por exemplo, além dos conflitos políticos enfrentados no último ano, a estimativa para o crescimento econômico desaponta. A agência de classificação de risco Moody’s espera uma retração de 1% no Produto Interno Bruto - PIB do País, além de uma inflação de 30%. Mesmo assim, Paixão garante que os pontos positivos superam os negativos. “Eu diria que os desafios a serem enfrentados são os mesmos em qualquer Divulgação IRB Por ANGÉLICA MARTINS A proximidade geográfica, a língua e culturas semelhantes são vantagens numa primeira etapa. Quem passa por esse desafio está pronto para outros continentes. Leonardo Paixão Divulgação BTG A América Latina será um foco importante para a BTG neste ano. São países com avanço em infraestrutura, assim como o México, que também almejamos. André Gregori negócio. Com cautela é possível diminuir as preocupações”, avalia o executivo. Grau de investimento Além do IRB, a BTG Pactual já entrou com pedido de registro da resseguradora na Colômbia, Chile e Peru. André Gregori, CEO da BTG Seguros, explica que a companhia estava aguardando a divulgação do rating para a entrada dos processos. De acordo com a última avaliação da Fitch, a BTG possui nota BBB-. Em alguns países, como o Chile, o órgão regulador exige que as resseguradoras tenham classificação grau de investimento de agências globais. O rating é importante, pois a resseguradora tem risco de crédito para a seguradora. Em grandes apólices, a seguradora mitiga o risco assumido transferindo parte dele para uma resseguradora. No caso de acionamento do seguro, cada uma paga a parte que lhe corresponde na indenização. Se a resseguradora quebrar ou não tiver condições de pagar sua parte, quem arca com o prejuízo é a seguradora. “A América Latina será um foco importante para a BTG neste ano. São países com avanço em infraestrutura, assim como México, que também almejamos”, explica Gregori. Para os próximos cinco anos, o governo mexicano prevê um investimento em infraestrutura, de iniciativa pública e privada, com ordem de US$ 590 bilhões. Mesmo assim, Gregori considera que ainda é cedo para falar sobre números. “Não temos uma meta de quanto os negócios em países latino-americanos vão impactar no nosso rendimento”, justifica. Emissão de apólices A JMalucelli, por sua vez, adquiriu o controle da seguradora colombiana Cardinal, especializada em Seguro Garantia e de Responsabilidade Civil. O diretor técnico Eduardo O. Nóbrega explica que a resseguradora também auxilia seus clientes que desejam seguro fora do País. “Isso significa que quando um cliente procura a companhia para apresentar alguma garantia em um país latino-americano ou nos Estados Unidos, somos capazes de auxiliá-los até a emissão da apólice.” A resseguradora mantém relacionamento há mais de 20 anos com a maioria das seguradoras latino-americanas por meio da Associação Panamericana das Seguradoras de Garantia. Para Nóbrega, este intercâmbio permite conhecer em profundidade a legislação de seguros de cada um destes países. “Dessa forma, tanto o conhecimento que temos da legislação quanto a proximidade com os executivos destas companhias nos trazem o conforto necessário para fazer negócios nestes países”. Entretanto, a internacionalização da Austral Re não segue esses padrões. O diretor executivo da resseguradora, Bruno Freire, explica que a empresa não vê a Amércia Latina como uma escola. “Apostamos de cara em alguns países europeus, já que a diversificação de experiência pode ser feita em outros continentes. Mas estamos abertos a oportunidades na América Latina”, acrescenta. Para Freire, o maior desafio na internacionalização é se tornar conhecido. Por isso, há três anos, a Austral começou a atuar em países onde o grupo já tinha negócios. “Cada país novo traz um desafio muito grande. É necessário ter cautela e foi por isso que decidimos trilhar esse caminho”, conclui. n REVISTA DE SEGUROS • 29 Mercado aberto Abertura Um longo caminho ainda a percorrer Por FRANCISCO NOEL Jovem em comparação às décadas de monopólio, o mercado livre tem ainda muito a evoluir em apoio ao fortalecimento da proteção contra riscos. E m 15 de janeiro de 2007, a sanção presidencial da Lei Complementar 126, aprovada pelo Congresso Nacional ao fim de quase dois anos de debate, inaugurou uma nova era para o mercado de resseguro no País. A atividade tornou-se aberta a companhias privadas nacionais e estrangeiras credenciadas pela Susep – uma regra generalizada em todo o mundo, da qual o Brasil deixava finalmente de ser exceção. De lá para cá, o volume de prêmios cedidos ao resseguro saltou de R$ 2,9 bilhões para o patamar dos R$ 8 bilhões. O aumento, de 175%, guarda relação com o crescimento percentual do bolo cedido em relação ao prêmio total do seguro – proporção que chegou à faixa dos 9%, em linha com os níveis internacionais. Mercado obrigatório para os players globais do setor, o País conta atualmente com resseguradores locais, admitidos, além de eventuais e de corretoras de resseguro. Evolução em marcha Jovem em comparação com os 68 anos de monopólio do Estado, o mercado livre do resseguro no Brasil 30 • REVISTA DE SEGUROS tem ainda muito a evoluir em apoio ao fortalecimento da proteção contra riscos. A constatação é compartilhada por profissionais dos vários segmentos – resseguradoras, seguradoras, corretoras, clientes e formadores de profissionais especializados. Diferenças de ponto de vista à parte, é unânime a opinião de que há muito a fazer para desenvolver ainda mais o resseguro entre os brasileiros. O foco de sugestões e expectativas de aprimoramento da dinâmica do mercado está o marco regulatório do resseguro. Constituído pela lei de 2007 e por várias resoluções do CNSP, o marco vem assegurando o incremento e a sustentabilidade da atividade resseguradora, mas alguns de seus requisitos são objeto de proposições nem sempre consensuais entre os agentes do mercado. Interesses nacionais Um ponto de divergências continua sendo, três anos depois de ganhar força de lei, a obrigatoriedade da colocação de 40% das cessões de resseguro em companhias atuantes no País. Imposta pela Resolução CNSP 225, de 2011, a medida é vista por parte do mercado como fundamental para a consolidação da abertura do setor, por proteger os interesses nacionais na atividade. Outra parte discorda e ainda se ressente da normativa do CNSP, considerada restritiva às práticas do resseguro num mundo de finanças globalizadas. Aos olhos de empresas com riscos cobertos pelo resseguro e de corretoras, a confiança no amadurecimento do mercado é acompanhada pela expectativa da diversificação da oferta de produtos. Ao mesmo tempo, para fazer frente à esperada expansão do resseguro, o Brasil precisa formar profissionais, pois a oferta de empregos qualificados superou a demanda – defasagem que a Escola Nacional de Seguros – ENS busca sanar oferecendo MBA para executivos em seguros e resseguro. n Aos olhos de empresas com riscos cobertos pelo resseguro, a confiança no amadurecimento do mercado é acompanhada pela expectativa da diversificação da oferta de produtos. Retrospectiva Após a resistência à abertura, a expansão Por FRANCISCO NOEL O IRB era obrigado a aceitar pesadas cargas de risco. Mas, no ambiente competitivo, passou a exercer o direito de rejeitar os mais graves. Arquivo CNseg ?????? O Aconteceu o que se esperava: o mercado se expandiu sob o ponto de vista técnico e operacional, com a liberdade alcançada pelos participantes do processo. Peón de Sá s primeiros passos para a abertura do mercado de resseguro, consumada em 2007, foram dados 15 anos antes. Em 1992, a liberalização do setor de seguros era tema da Carta de Brasília, da Fenaseg, acolhida pelo governo federal no Plano Diretor do Sistema de Seguros, Capitalização e Previdência Complementar. Obra do IRB, Susep e Secretaria de Política Econômica do Ministério da Fazenda, o plano combinava matiz liberalizante com tons de moderação. O presidente do instituto na época, o atuário e especialista em resseguro José Américo Peón de Sá, recorda os motivos da discrição: “estávamos preparando a abertura do IRB, mas havia muita resistência”. Hoje, passados 23 anos, Peón comemora os benefícios decorrentes do fim do monopólio estatal exercido pelo IRB sobre o resseguro e a entrada de novas resseguradoras em cena, após a sanção da Lei Complementar 126, em 2007. “Aconteceu o que se esperava: o mercado se expandiu sob o ponto de vista técnico e operacional, com a liberdade alcançada pelos participantes do processo”, assinala. Antes mesmo da efetivação da abertura, várias resseguradoras estrangeiras já se faziam presentes no País, traba- lhando com o IRB. Oito anos após o fim do monopólio do instituto, as resseguradoras locais e admitidas são mais de 50 e a elas somam-se cerca de 70 eventuais. A exemplo de outros países, cerca de 9% dos seguros de danos no Brasil são cobertos pelo resseguro. Mercado nacional Os novos ventos da liberalização sopraram a favor até mesmo do IRB. O ex-presidente lembra que, no regime de monopólio, o instituto era obrigado a aceitar pesadas cargas de risco, como o de joalherias. No ambiente competitivo, o IRB passou a exercer o direito de rejeitar os riscos graves. “Houve problemas no mercado, mas depois tudo isso se normalizou”, diz Peón de Sá, que preside o conselho da CesceBrasil Seguros de Crédito e atua há 60 anos no mercado. A Resolução CNSP 225/2011 consolidou a abertura no resseguro. Em meio a controvérsias, a edição da medida obrigou a colocação de 40% das cessões de resseguro nas empresas locais. “Seguro é poupança forçada, que não pode sair do País sem regras. Antes, havia empresas operando como meras sucursais das matrizes no exterior. Hoje, o mercado se mantém protegido até o limite razoável do interesse nacional”, salienta. Para Peón de Sá, um desafio a vencer é a difusão de informações sobre resseguro. “Quando há necessidade de cobrir algum risco, muitas vezes os operadores sequer sabem que existe o seguro, por exemplo, para riscos financeiros, responsabilidade civil e de natureza catastrófica – campos abertos ao avanço do seguro e do resseguro no Brasil”. n REVISTA DE SEGUROS • 31