Sala Especializada 10 - Manejo da adubação do algodoeiro no sistema ADUBAÇÃO DE SISTEMAS - CONCEITOS E FUNDAMENTOS Ana Luiza Dias Coelho Borin Embrapa Algodão- Núcleo Cerrado- Goiânia-GO O mercado de fertilizantes brasileiro movimentou 29,5 milhões de toneladas em 2012, o que representou 5% de aumento no consumo em relação ao ano de 2011 (ANDA, 2013). O Brasil é o quarto consumidor de fertilizantes no mundo, representando cerca de 5,9% do consumo mundial, ficando atrás apenas da China, India e Estados Unidos. A relação de troca, ou seja, a quantidade de grãos ou algodão necessária para adquirir uma tonelada de fertilizantes, aumentou em relação à 2012. Para comprar 1 tonelada de fertilizantes em 2013 são necessários: 53,2 arrobas de algodão em caroço, ou 6 sacas de feijão, ou 48 sacas de milho, ou 20 sacas de soja (ANDA, 2013). No caso do algodão, o custo com fertilizantes representa 30% do custo total de produção. Portanto, em função da valorização dos adubos é imprescindível o desenvolvimento de estratégias de manejo que tornem mais eficiente a utilização de fertilizantes em sistemas intensivos de produção de grãos e fibra, principalmente se for considerada a dependência externa de aquisição de fertilizantes, o risco ambiental das adubações mal manejadas e a competitividade do produtor brasileiro no mercado agrícola globalizado. Melhorias significativas da eficiência do uso dos fertilizantes podem ocorrer com mudanças no sistemas de cultivo; com introdução de culturas de cobertura do solo; com uso de variedades mais eficientes e produtivas; com a aplicação da dose com a fonte correta; com o local de aplicação e época mais eficientes; com equilíbrio nas quantidades de nutrientes aplicadas e com rotação de culturas, preconizando a adubação das plantas do sistema produtivo. A adubação do sistema produtivo tem como premissa o balanço de nutrientes ao longo do ciclo das culturas envolvidas no processo produtivo, visa o sistema como um todo e não uma única cultura. O balanço de nutrientes, ou seja, a diferença entre a quantidade de nutrientes que entram e saem de um sistema definido no espaço e tempo, pode resultar em déficit ou acúmulo, principalmente em função das adições e perdas e serve como um indicador de sustentabilidade do sistema produtivo. A adubação do sistema é uma prática de recomendação que, além dos resultados da análise de solo (teores disponíveis), considera os créditos de nutrientes deixados pelos restos culturais anteriores, as expectativas de produtividades para cálculo da extração e exportação de nutrientes, as demandas nutricionais de cada cultura, a eficiência de aproveitamento dos fertilizantes e a evolução da fertilidade do solo (nutrientes que estão sendo acumulados e nutrientes que estão sendo esgotados), conforme Figura 1. A principal diferença deste modelo de recomendação de adubação está no fato de considerar o efeito residual das adubações anteriores sobre as culturas seguintes, ou seja, os créditos da ciclagem de nutrientes. Desta forma, há uma maior flexibilidade na recomendação de adubação, através de pré-planejamento integrado, aplicando os fertilizantes na cultura principal (safra) com maior potencial de resposta, inclusive em quantidades acima das exigidas e minimizando ou eliminando a aplicação na cultura seguinte com menor resposta à adubação. Brasilia, 3-6 Setembro 2013 Figura 1. Fatores para o modelo de recomendação de adubação do sistema produtivo. No entanto este modelo de recomendação só é viável e sustentável quando as condições químicas, físicas e biológicas do solo são adequadas, em sistemas produtivos que envolvem rotação de culturas e preferencialmente sob sistema de semeadura direta. Geralmente, o sucesso está associado a áreas com alta fertilidade natural ou construída, mantida acima do nível crítico e com correção nas camadas mais profundas. Para nutrientes que estão acima do nível crítico, recomenda-se adubação de manutenção, que é baseada nos valores extraídos, e para situações de disponibilidade alta (2 vezes superior ao nível crítico) recomenda-se adubação de reposição, que é calculada com base nos valores exportados. O manejo de P e K em adubação do sistema deve oscilar entre manutenção e reposição, ou seja a disponibilidade do solo nunca deve estar inferior ao nível crítico. No caso do nitrogênio, cuja disponibilidade não aparece na análise de solo, deve-se considerar, o nitrogênio do solo (que pode ser obtido pela % de matéria orgânica do solo multiplicada por 20). Para o cálculo da adubação nitrogenada considera-se a extração da cultura menos a disponibilidade de nitrogênio do solo calculada. Deve-se ter cautela em solos arenosos, com baixo teor de matéria orgânica e baixa capacidade de troca de cátions, na recomendação da adubação nitrogenada e potássica para o sistema produtivo, pelo maior risco de perda. Um sistema intensivo de produção viável é formado por espécies de famílias distintas com sistemas radiculares com arquitetura e capacidade de exploração do perfil do solo diferentes, melhorando a ciclagem de nutrientes, pois raízes mais profundas podem absorver nutrientes que estariam fora da zona de absorção de espécies com sistema radicular mais superficial. Além disso, existe ocorre deposição de palhadas com diferentes relações carbono/nitrogênio, sendo as relações mais altas (de gramíneas) responsáveis pela proteção do solo, por sua maior dificuldade de decomposição, e palhadas de baixa relação carbono/nitrogênio (leguminosas) conferem maior ciclagem de nutrientes. Sistemas intensivos de produção exigem maior nível gerencial, inclusive em relação ao manejo de nutrientes, via adubação do sistema. Quanto maior a produtividade maior será a exportação de nutrientes por hectare, trazendo implicações práticas importantes. Balanços negativos de nutrientes são encontrados em situações em que os nutrientes exportados pelos grãos são maiores que as quantidades de nutrientes Brasilia, 3-6 Setembro 2013 adicionadas pela adubação. Outra distorção muito comum é o anseio por altas produtividades, com aumento da adubação sem usar critério técnico na recomendação, o que resulta em desequilíbrio entre os nutrientes e perdas excessivas. Portanto, em solo de fertilidade construída, com os nutrientes acima do nível crítico, a adubação é determinada conhecendo-se a taxa de extração e exportação de cada cultura em função da expectativa de produtividade. O cálculo do crédito de nutrientes pelos restos culturais é obtido pela subtração entre quantidade de nutrientes extraída (o quanto do nutriente a planta necessita para produzir) e exportada (o quanto do nutriente será retirado pelo grão/caroço), este cálculo deve ser feito para cada nutriente individualmente. O dimensionamento de adubação NPK para sistema intensivo de produção soja/milho/algodão iniciase com o levantamento das quantidades extraídas e exportadas de cada nutriente por cultura, conforme Figura 2. Considerando o balanço do sistema de rotação soja/milho/algodão, após a colheita da soja, para os próximos cultivos haverá um crédito de 120 kg de N, 22 kg de P2O5 e 65 kg de K2O na palhada, após a colheita do milho haverá um crédito de 42 kg de N, 9 kg de P 2O5 e 134 kg de K2O na palhada, e após o algodão haverá um crédito de 162 kg de N, 63 kg de P 2O5 e 230 kg de K2O na palhada. O crédito de nutrientes só será disponibilizado ao longo do tempo, quando ocorrer a decomposição e mineralização da palhada pelos microrganismos a depender da relação carbono/nitrogênio dos restos culturais, da temperatura, da umidade, e também deve-se considerar que os nutrientes podem ser perdidos. Dentre os nutrientes, o potássio é o mais rápido a ser disponibilizado para a cultura seguinte, o nitrogênio nem tanto, do total deixado pela soja na palhada aproximadamente 10% é disponibilizado no próximo cultivo. Alguns estudos mostram que no caso de gramíneas cuja palhada possuí alta relação carbono/nitrogênio, é necessário maior aplicação de adubação nitrogenada para minimizar a imobilização. Com este exemplo, é possível observar que o algodão é a cultura cujos restos culturais apresentam o maior crédito dos três nutrientes o que possibilita um manejo diferenciado da adubação da cultura seguinte. Outro ponto interessante é que a proporção requerida de nutrientes se modifica ao longo do tempo, sendo mais flexível para o fósforo e mais sensível para nitrogênio e potássio. Em muitas propriedades tem ocorrido balanço negativo de nitrogênio no sistema, que começa a ser o limitante para altas produtividades. A adubação do sistema produtivo será definida pelo conhecimento dos teores no solo, dos créditos de ciclagem da cultura anterior, do cálculo da demanda nutricional da cultura em função da expectativa de produtividade e do fator de eficiência da adubação. A partir da quantidade extraída ou exportada de cada nutriente deve-se corrigir a quantidade a ser aplicada multiplicando-se pelo fator de eficiência da adubação. Este fator existe porque nem todo o adubo aplicado ficará disponível para a planta, pois podem ocorrer perdas. Os fatores de eficiência de adubação para o fósforo é de 1,33 (75%), para o potássio é de 1,25 (80%) e para o nitrogênio é de 1,59 (63%). Conforme discutido neste texto, os requerimentos individuais de nutrientes pelas culturas deve ser garantido nas adubações com o intuito de manter o potencial produtivo de sistemas intensivos. O aperfeiçoamento é sempre possível desde que haja monitoramento frequente e informações sobre a evolução da fertilidade do solo e do balanço de nutrientes das culturas. Brasilia, 3-6 Setembro 2013 Figura 2. Balanço de N, P2O5 e K2O em soja, milho e algodão considerando produtividades comumente encontradas na região do cerrado. Certamente este novo modelo de adubação de sistema é eficiente, pois visa o equilíbrio nutricional tendo como premissa o balanço de nutrientes e créditos de ciclagem do sistema e que contribui para a redução de custos e aplicações mais racionais. REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA: ANDA – Associação Nacional para Difusão de Adubos. http://www.anda.org.br/estatisticas.aspx>. Acesso em: 20 julho de 2013. Brasilia, 3-6 Setembro 2013 Disponível em: