organização
Gisela Abad
fotografia
Pedro Lobo
TEXTOS
Edson Nery da Fonseca
José luiz Mota Menezes
Jurema Machado
Leonardo Dantas Silva
Marcos Vinicios Vilaça
Sônia Coutinho Calheiros
RECIFE
2011
Copyright da obra © 2011 Caleidoscópio Criação e Desenho Ltda.
[email protected]
Captação de recursos | Instituto Ondular | Jorge Wanderley | [email protected]
Realização | Caleidoscópio Criação e Desenho Ltda.
Coordenação editorial e Produção executiva | Caleidoscópio | Gisela Abad
Acompanhamento da execução administrativo-financeira | Mariana Melo
Assistente de produção | Elane Assunção
Fotografias| Pedro Lobo | www.lobofoto.com
Assistente de fotografia 2010 (coloridas) | Renato Titi Barbosa
Pós-produção das fotografias de 2010 (coloridas) | Carla Ciatto
Digitalização dos negativos de 1981(preto e branco) | Oscar Henrique Liberal de Brito Cunha
Tratamento das imagens de 1981 | Robson Lemos
Preparação das imagens para gráfica e Acompanhamento da impressão | Robson Lemos
Projeto gráfico | 2abad | Gisela Abad
Assistentes | Alice Miranda, Mariana Melo e Pedrina Reis
Tradução para o inglês | Adriano Messias, Rebecca Atkinson, Roberto Moreira Dias
Sarah Bailey e Sidney Pratt
Tradução para o francês | Didier Block, François Tardieux e Régine Carole Bandler Nogueira
Revisão textual | Norma Baracho
Entrevistas para captação de frases que acompanham as imagens coloridas | Juliana Cuentro
Pré-impressão e Impressão | Gráfica Santa Marta
O voo de helicóptero para captar imagens aéreas foi proporcionado pela Casa Civil do Governo do
Estado de Pernambuco.
Apoio
L742 Execução
Patrocínio
Linda Olinda / Organizadora: Gisela Abad; Fotografia de Pedro
Lobo; Textos de Edson Nery da Fonseca... et. al. – Recife:
Caleidoscópio, 2011.
208 p. Il. Livro trilingue (português, inglês e francês)
ISBN 978-85-63055-09-5
1. Olinda – Pernambuco 2. Olinda – Patrimônio Histórico
e Cultural da Humanidade. I. Abad, Gisela (org.) II. Título.
CRB4/1544 CDU 981.34
Realização
Alcione Sá Leitão da Silva ∙ Comerciante de Artesanato do Alto da Sé
Capitão Alexandre Arruda Pereira e Silva
Alexsandro Suplinio Ramos (Lobão)
Anco Márcio Tenório Vieira
Irmã Belchior ∙ Convento
de
Nossa Senhora
da
Conceição
do
Sabor
Carlos Eugênio Trevi
Agradecimentos
Casa Civil do Estado
Ricardo Leitão
Beatriz Andrade
Zenaide Araújo
de
César Santos ∙ Chef
do
Pernambuco
Restaurante Oficina
Cláudia Ribeiro Nigro ∙ Coordenadora
de Defesa da Cidade Alta (Sodeca)
de
Planejamento
da
Sociedade Olindense
Cristiana Carvalho
Dulce Helena do Nascimento ∙ Tapioqueira
do
Alto
da
Sé
Eduardo Layme Dantas (Maestro Duda de Olinda)
Elaine Douglas ∙ Observatório
de
Olinda
Fabiano Nascimento
Dom Abade Felipe da Silva ∙ Mosteiro de São Bento
Gilzete Vilela de Almeida ∙ Igreja
de
São Francisco
Gleide Selma
Heloísa Arcoverde de Morais
Igreja dos Milagres
Irmã Edvânia
Irmã Márcia
Iphan
Lia Mota ∙ Coordenadora Geral de Pesquisa e Documentação
Hilário Figueiredo Pereira Filho ∙ Chefe do Arquivo Central – Rio de Janeiro
Jurema Kopke Eis Arnaut ∙ Arquiteta do Departamento de Patrimônio Material
e Fiscalização
Oscar Henrique Liberal de Brito Cunha ∙ Chefe do Laboratório Fotográfico e
do Núcleo de Conservação
Jodecilda Airola da Silva (Dona Dá)
Major José Antônio da Silva Filho ∙ Comandante
Turista da Polícia Militar de Pernambuco
Jovelina Aquino ∙ Prefeitura
de
da
Companhia
de
Apoio
Olinda
Juliana Cuentro
Luciano Pinheiro
Dona Madalena ∙ Igreja
da
Boa Hora
Márcia Sant’Anna
Maria Luisa Mendes Lins (Isa do Amparo)
Maria Millet
Mateus Sá
Patricia Telles
Rosildo Pires ∙ Prefeitura
de
Olinda
Sandra Dias
Secretaria de Educação de Olinda
Ana Cristina Fonseca
Eneida César ∙ Diretora de Ensino
Fátima Guerra ∙ Chefe do Departamento
de
Educação Básica
Secretaria de Patrimônio e Cultura de Olinda
Márcia Maria da Fonte Souto ∙ Secretária de Patrimônio
Clarice Andrade
Pepe Jordão
Sílvio Botelho
Socorro Vilaça
Sônia Calheiros
Tereza Suassuna
Irmã Vânia Toscano ∙ Academia Santa Gertrudes
Vera Milet
e
Cultura
ao
Igreja de São Pedro Apóstolo · G|8. Páginas 6 e 7, Olinda vista do mar.
O tempo cultural não é cronológico.
Coisas do passado podem, de repente,
tornar-se altamente significativas para o
presente e estimulantes do futuro.
In: E Triunfo?: as questões dos bens culturais no Brasil
Aloísio Magalhães, 1985
Igreja de Nossa Senhora da Graça e Seminário de Olinda ∙ F|12
14
16
18
Apresentação
presentation
apresentacion
Marcos Vinicios Vilaça
33 OLINDA, OLINDÍSSIMA
43 OLINDA, AN EXPRESSION OF BEAUTY
53
Olinda, une ville ravissante
leonardo dantas silva
34 O’linda! O teu nome bem diz...
44 O’linda! Oh, how fine! your name says it all...
54 O’linda! Tu portes bien ton nom... José Luiz Mota Menezes
36 OLINDA, LINDA FORMA DE CONSTRUIR UMA HISTÓRIA DA ARTE E DA ARQUITETURA
46
58
OLINDA – A FINE HISTORY OF ART AND ARCHITECTURE
OLINDA – UNE BELLE MANIÈRE DE CONSTRUIRE UNE HISTOIRE DE L’ART
ET DE L’ARCHITECTURE
eDSON nERY DA fONSECA
62 oLINDA POÉTICA
POETIC OLINDA
OLINDA POETIQUE
jUREMA mACHADO
83 OLINDA ENSINA
99 OLINDA TEACHES US
115 OLINDA ENSEIGNE
SÔNIA COUTINHO CALHEIROS
90 OLINDA, PATRIMÔNIO cULTURAL DA HUMANIDADE
106 OLINDA world cultural heritage
122 OLINDA CULTUREL Mondial
6-127
Imagens de 1981 realizadas com o objetivo de compor o dossiê para
pleitear o título de Patrimônio da Humanidade concedida pela UNESCO
129-208
Fotografias de 2010
Nas legendas deste livro há um localizador alfa-numérico referente às coordenadas do mapa da página 130.
12
Edson Nery
da
Fonseca
Recifense, diplomado em 1947 pelo Curso Superior
de Biblioteconomia da Biblioteca Nacional do Rio
de Janeiro, dedicou-se à formação de bibliotecários
na Universidade do Recife e, a partir de 1962, na
Universidade de Brasília. É Professor Emérito da
Universidade de Brasília e Pesquisador Emérito da
Fundação Joaquim Nabuco. Publicou entre outros
livros Introdução à biblioteconomia (1992, 2ª ed.
2007), Gilberto Freyre de A a Z (2002), O Recife
revisitado (2002), Alumbramentos e perplexidades
(2002), Em torno de Gilberto Freyre (2007), Vãose os dias e eu fico (2009) e Estão todos dormindo
(2010). Atualizou e prefaciou a 6ª edição do livro de
Gilberto Freyre Olinda: 2º Guia prático, histórico e
sentimental da cidade brasileira (2007).
Born in Recife, graduated in 1947 from the Library
Course of the National Library of Brazil in Rio de
Janeiro. He himself became a teacher of librarians
at the University of Recife and, after 1962, at the
University of Brasilia. He is Professor Emeritus of
the University of Brasilia and Researcher Emeritus of
the Joaquim Nabuco Foundation. He has published,
among others works, Introdução à Biblioteconomia
[Introduction to Librarianship] (1992, 2ª Ed. 2007),
Gilberto Freyre de A a Z [Gilberto Freire from A to Z]
(2002), O Recife revisitado [Recife revisited] (2002),
Alumbramentos e perplexidades [Surprises and
puzzles] (2002), Em torno de Gilberto Freyre [About
Gilberto Freire] (2007), Vão-se os dias e eu fico [The
days go by and I remain] (2009) and Estão todos
dormindo [They are all sleeping] (2010). He updated
and wrote the preface for the 6th edition of Gilberto
Freyre’s Olinda: 2º guia prático, histórico e sentimental
da cidade brasileira [Olinda, a second practical,
historical and guide to the Brazilian city] (2007).
Originaire de Recife, diplômé du Cours supérieur de
bibliothéconomie de la Bibliothèque nationale de
Rio de Janeiro en 1947, Edson Nery da Fonseca
s’est consacré à la formation de bibliothécaires
à l’Université de Recife et, à partir de 1962, à
l’Université de Brasilia. Il est professeur émérite à
l’Université de Brasilia et chercheur émérite à la
Fondation Joaquim Nabuco. Il a publié, entre autres,
Introdução à Biblioteconomia (1992, 2e Ed. 2007),
Gilberto Freyre de A a Z (2002), O Recife revisitado
(2002), Alumbramentos e perplexidades (2002),
Em torno de Gilberto Freyre (2007), Vão-se os dias
e eu fico (2009) e Estão todos dormindo (2010). Il
a aussi mis à jour le livre de Gilberto Freyre Olinda:
2º guia prático, histórico e sentimental da cidade
brasileira (2007) et en a écrit la préface.
Gisela Abad
Pernambucana. Graduada (1980) e Mestre (2010)
em Design pela Escola Superior de Desenho
Industrial – UERJ, com especialização em Design da
Informação pela UFPE (2000), atua como designer
desde 1974. Trabalhou no Núcleo de Editoração
da Fundação Nacional próMemória, Secretaria do
Patrimônio Histórico e Artístico Nacional entre 1980
e 1984. Tem-se dedicado ao design gráfico, editorial,
identidade corporativa, sinalização, museografia
e coordenação editorial. Prêmio IAB Nacional em
desenho industrial em 1977; UERJ, prêmio em
programação visual em 1978; Salão Pernambucano
de Design 2004, destaque nas categorias Identidade
Visual e Projeto Gráfico.
Pernambucan, graduated with a Master’s in Design
from the Higher School of Industrial Design,
specializing in Information Design at the Federal
University of Pernambuco. She has worked as
a designer since 1974. She worked with the
Editorial Core Group of the National proMemorial
group of the National Secretariat for Historical
and Artistic Patrimony between 1980 and 1984.
She has specialized in graphic design, editing,
cooperate logos, signage, museography and editorial
coordination. She was awarded the IAB national
prize for industrial design in 1977, the UERJ
prize for visual programming in 1978, and in the
Pernambuco Design Exhibition of 2004 was honored
in the categories of Visual Identity and graphic
production.
Est née dans l’État de Pernambuco. Designer depuis
1974, elle détient une maîtrise et un mastère en
design de l’École Supérieure de Dessin Industriel,
ainsi qu’une spécialisation en design de l’information
de l’Université Fédérale de Pernambuco. De 1980
à 1984, elle a travaillé au Centre de publication
(Núcleo de Editoração) de la Fondation nationale
próMemória du Secrétariat du patrimoine historique
et artistique national. Elle a travaillé dans divers
domaines: design graphique, design éditorial,
identité corporative, signalétique, muséographie et
coordination éditoriale. Elle a reçu le prix national
de dessin industriel de l’Institut des architectes du
Brésil en 1977, le prix de programmation visuelle
de l’Université fédérale de Rio de Janeiro et une
mention spéciale dans les catégories Identité
visuelle et Projet graphique au Salon du design de
Pernambuco en 2004.
José Luiz Mota Menezes
É arquiteto. Professor da Universidade Federal de
Pernambuco no Programa de Pós-Graduação em
Arqueologia e Conservação do Patrimônio. Ocupa o
cargo de vice-presidente do Instituto Arqueológico,
Histórico e Geográfico Pernambucano. É membro
titular do Conselho de Desenvolvimento Urbano
da Prefeitura da Cidade do Recife e também do
Conselho Regional de Engenharia, Agronomia e
Arquitetura. Tem vários livros e artigos publicados
no Brasil e no exterior, como o Atlas histórico e
cartográfico do Recife, do qual foi coordenador
(Editora Massangana).
Arquitect, University Professor at the Federal
University of Pernambuco in the Post Graduate
Department of Archeology and Historical
Preservation. He is Vice-President of the
Archeological, Historical and Geographical Institute
of Pernambuco. He is a permanent member of the
Council on Urban Development for the City of Recife
and also on the Regional Council of Engineering,
Agronomy and Architecture. He has published a
number of works in Brazil and abroad, such as the
Historical and Cartographical Atlas of Recife, of which
he was the coordinator (Editora Massangana, 1985).
Architecte, professeur du programme de troisième
cycle en Archéologie et conservation du patrimoine
de l’Université fédérale de Pernambuco. Il est
aussi vice-président de l’Institut archéologique,
historique et géographique de Pernambouc, membre
titulaire du Conseil de développement urbain de la
Mairie de Recife et du Conseil régional du génie,
de l’agronomie et de l’architecture. Il a publié
plusieurs livres et articles au Brésil et à l’étranger,
parmi lesquels Atlas Histórico e Cartográfico do
Recife (Editora Massangana, 1985), dont il a été le
coordinateur.
Jurema Machado
Arquiteta, coordenadora de Cultura da UNESCO no
Brasil desde 2001, supervisiona a implementação
dos programas e Convenções da UNESCO
relacionados à temática da Cultura no país. Entre
1999 e 2001, atuou como arquiteta em programa
nacional de reabilitação de centros históricos. De
1995 a 1998, presidiu o Instituto Estadual do
Patrimônio Histórico e Artístico de Minas Gerais,
dedicado à preservação do acervo de bens culturais
daquele estado. Coordenou equipe interinstitucional
que, entre 1993 e 1994, concebeu e implementou
legislação urbanística e sistemática de controle das
intervenções no sítio tombado de Ouro Preto. Entre
1980 e 1991, trabalhou como arquiteta urbanista
na reabilitação da área central e no planejamento
metropolitano de Belo Horizonte.
Architect, Cultural coordinator for UNESCO in Brazil
since 2001, she has been responsible for supervising
UNESCO contracts and projects related to culture in
Brazil. Between 1999 and 2001, she worked as an
architect on the national program for rehabilitation
of historic landmarks. Between 1995 and 1998
she presided over the State Institute for Historic
and Artistic Patrimony of Minas Gerais, which
was responsible for the preservation of the cultural
effects in that state. She was the coordinator of the
inter-institutional team which, between 1993 and
1994, conceived and implanted urban legislation to
control reconstruction in the historical site of Ouro
Preto. Between 1980 and 1991, she worked as an
urban architect in the rehabilitation of the downtown
area and metropolitan planning for the city of Belo
Horizonte.
Architecte, coordinatrice de la Culture à l’UNESCO
Brésil depuis 2001, elle s’occupe de la supervision
de la mise en œuvre des programmes et des
conventions de l’UNESCO ayant trait à la culture
dans l’ensemble du pays. De 1999 à 2001, elle
a travaillé comme architecte pour le Programme
national de réhabilitation des centres historiques. De
1995 à 1998, elle a présidé l’Institut du patrimoine
historique et artistique de Minas Gerais, qui veille
à la préservation du fond de biens culturels de cet
État. Elle a coordonné, en 1993 et 1994, l’équipe
interinstitutionnelle qui a conçu et mis en œuvre la
législation urbanistique et systématique de contrôle
des interventions sur le site classé d’Ouro Preto.
De 1980 à 1991, elle a travaillé comme architecte
urbaniste à la réhabilitation de la région centrale et
à la planification métropolitaine de Belo Horizonte.
Leonardo Dantas Silva
É recifense do bairro da Torre, formado em Direito
pela Universidade Católica de Pernambuco
(1969), jornalista profissional desde a juventude,
conferencista, pesquisador dedicado aos Estudos
Pernambucanos, constante colaborador em jornais e
revistas do Brasil e do exterior, autor e/ou organizador
de 46 livros e opúsculos, publicados entre 1972 e
2009, produtor e administrador cultural, criador da
Fundação de Cultura Cidade do Recife (1979), exdiretor da Editora Massangana da Fundação Joaquim
Nabuco (1987-2003), membro efetivo do Conselho
Estadual de Cultura, sócio do Instituto Histórico
e Geográfico Brasileiro, do Instituto Histórico
e Geográfico de Santa Catarina e do Instituto
Arqueológico, Histórico e Geográfico Pernambucano,
consultor do Instituto Ricardo Brennand (Recife).
13
Resident of the Torre neighborhood in Recife. He
graduated in Law at the Catholic University of
Pernambuco (1969). He has been a professional
journalist since he was young, giving conferences
and doing research related to the study of the state of
Pernambuco. He has published in both Brazilian and
foreign newspapers and magazines. He is the author/
organizer of 46 books and other works, published
between 1972 and 2009. He is a producer and
cultural administrator, creator of the Cultural
Foundation of the City of Recife (1979), ex-director
of the Massangana Publishing House of the Joaquim
Nabuco Foundation (1987-2003), permanent
member of the State Council on Culture, fellow of
the Brazilian History and Geography Institute, of the
History and Geography Institute of Santa Catarina
and of the Pernambuco Historical, Archeological and
Geographical Institute, as well as an advisor to the
Ricardo Brennand Institute in Recife.
Est né dans le quartier de Casa Forte à Recife. Il
est diplômé en droit de l’Université catholique de
Pernambuco(1969), journaliste professionnel depuis
sa jeunesse, conférencier, chercheur spécialisé dans
l’étude de Pernambuco, collaborateur régulier de
divers journaux et revues brésiliens et étrangers,
auteur et/ou coordinateur de 46 livres et opuscules
publiés entre 1972 et 2009, producteur et
administrateur culturel, créateur de la Fondation de
la culture de la ville de Recife (1979), ex-directeur
des éditions Massangana de la Fondation Joaquim
Nabuco (1987-2003), membre effectif du Conseil
de culture de l’État de Pernambuco, sociétaire
de l’Institut historique géographique brésilien, de
l’Institut historique géographique de Santa Catarina et
de l’Institut archéologique, historique et géographique
de Pernambuco et consultant de l’Institut Ricardo
Brennand (Recife).
Marcos Vinicios Vilaça
Pernambucano de Nazaré da Mata, é advogado, jornalista, professor, ensaísta e poeta brasileiro.
Membro da Academia Brasileira de Letras, da qual
é presidente desde 2010. É membro também
da Academia Pernambucana de Letras, da Academia
das Ciências de Lisboa, da Academia Brasiliense de
Letras, da Comissão Mista de Cooperação Técnica,
Científica e Cultural entre os Tribunais de Contas
dos Países de Língua Portuguesa e do Conselho
Consultivo do Patrimônio Cultural, na qualidade
de representante da sociedade civil (Ministério da
Cultura). Foi secretário de Cultura e presidente
da Fundação Nacional próMemória, e ex-ministro
e presidente do Tribunal de Contas da União. Já
escreveu livros com edições no Brasil, na Itália, na
França, na Inglaterra e na Venezuela.
Native of Pernambuco from the town of Nazaré da
Mata, is a lawyer, journalist, teacher, essayist, and
Brazilian poet. He is a member of the Brazilian
Literary Academy, of which he has been President
since 2010. He is also a member of the Pernambuco
Literary Academy, the Brazilense Literary Academy,
the Mixed Committee on Technical, Scientific
and Cultural Cooperation of the Financial Courts
of the Portuguese-speaking countries and of the
Consultative Council on Cultural Heritage, of which
he is a representative of civil society (Ministry of
Culture). He was Secretary of Culture and President
of the National proMemory Foundation and is exminister and president of the Federal Financial Court.
He has published books in Brazil, Italy, France,
England and Venezuela.
Originaire de Nazaré da Mata dans l’État de
Pernambuco, est avocat, professeur, poète et auteur
d’essais. Il est membre de l’Académie brésilienne de
lettres, qu’il préside depuis 2010, de l’Académie des
lettres de Pernambuco, de l’Académie des sciences
de Lisbonne, de l’Académie des lettres de Brasilia,
de la Commission mixte de coopération technique,
scientifique et culturelle des Cours des comptes des
pays de langue portugaise, et du Conseil consultatif
du patrimoine culturel (Ministère de la culture) en
qualité de représentant de la société civile. Il a été
secrétaire de la culture et président de la Fondation
nationale próMemória, ministre et président de la
Cour des comptes brésilienne, et a écrit des livres
qui ont été publiés au Brésil, en Italie, en France, au
Royaume-Uni et au Venezuela.
Sônia Coutinho Calheiros
Arquiteta. Presidiu a Fidem. Também participou da
Secretaria de Planejamento do Estado. Foi diretora
presidente da Fundação Centro de Preservação dos
Sítios Históricos de Olinda. Desde 2005, é secretária
de Planejamento e Gestão Estratégica da Prefeitura
de Olinda. É executora da UNESCO, no Projeto
Monumenta.
Architect. She ran Fidem. Also participated as
Secretary of Planning for the State. She was
President Director of the Center for the Preservation of
the historic sites in Olinda. She has been Secretary of
Planning and Strategic planning for the city of Olinda
since 2005. She is responsible for running the
Monuments Project funded by UNESCO.
Architecte, elle a présidé la Fondation de
développement municipal de la Région métropolitaine
de Recife (FIDEM) et a participé aux activités du
Secrétariat à la planification de l’État de Pernambuco.
Elle a été directrice-présidente de la Fondation
centre de préservation des sites historiques d’Olinda.
Depuis 2005, elle est Secrétaire de planification et
gestion stratégique de la mairie de Recife. Elle est
« exécutrice » à l’UNESCO dans le cadre du projet
Monumenta.
O
fotógrafo
Pedro Lobo
Estudou na School of the Museum of Fine Arts,
Boston e no International Center of Photography
(ICP), em Nova Iorque. Entre 1978 e 1985,
foi fotógrafo/investigador do Centro Nacional de
Referência Cultural (CNRC), com Aloísio Magalhães,
e do Instituto do Património Histórico e Artístico
Nacional do Brasil (IPHAN), onde foi o responsável
pela documentação fotográfica para os processos de
Tombamento Mundial pela UNESCO das cidades de
Olinda, Ouro Preto, Salvador, Santuário Bom Jesus
de Matosinhos e São Miguel das Missões. Em suas
séries fotográficas, nas favelas cariocas (“Arquitetura
de Sobrevivência”), nas prisões de Carandiru e de
Medellín (“Imprisoned Spaces”), utiliza a fotografia
de arquitetura como meio de retratar a condição
humana. Tem exposto regularmente seu trabalho, em
individuais ou em colectivas, no Brasil, em Portugal,
nos Estados Unidos, na Dinamarca, na Alemanha,
na China e na Colômbia. Sua obra figura em diversas
colecções públicas e particulares. Recebeu o V
Prêmio Marc Ferrez, as bolsas CAPES-Fulbright e a
Vitae de Fotografia. Actualmente reside em Évora,
Portugal, trabalhando na Europa e no Brasil.
Pedro Lobo studied at the School of the Museum
of Fine Arts in Boston and at the International
Center of Photography (ICP) in New York. From
1978 to 1985 he worked as photographer and
researcher for the National Center for Cultural
Reference (CNRC), in Brazil, with Aloísio Magalhães,
and for the Institute for National Historical and
Artistic Heritage of Brazil (IPHAN), where he was
responsible for the photographic documentation in
the classification process by UNESCO of the cities
of Olinda, Ouro Preto, Salvador, Santuário de Bom
Jesus de Matosinhos and São Miguel das Missões
as World Heritage sites. In his photographic series
about Brazilian favelas (“Architecture of Survival”),
and about the prisons of Carandiru and Medellin
(“Imprisoned Spaces”), Pedro Lobo uses architecture
photography to portray the human condition. He
has participated in solo shows and group exhibitions
in museums and galleries in Brazil, Portugal, the
USA, Denmark, Germany, China and Colombia. His
work can be seen in several museum and private
collections. He is a CAPES-Fulbright scholar and
has received the V Premio Marc Ferrez award, and
the Vitae Photography scholarship. He now lives in
Évora, Portugal, and works both in Europe and in
Brazil.
Pedro Lobo a étudié aux États Unis à la School of the
Museum of Fine Arts de Boston et à l’ International
Center of Photography (ICP) de New York. Entre
1978 et 1985 il a travaillé comme photographe
et chercheur au Centre National de Référence
Culturelle (CNRC) au Brésil, avec Aloísio Magalhães,
et à l’Institut du Patrimoine Historique et Artistique
National du Brésil (IPHAN), où il a été responsable
de la documentation photographique des dossiers
destinés à l’UNESCO pour inscrire les villes d’Olinda,
Ouro Preto, Salvador, Santuário de Bom Jesus de
Matosinhos et São Miguel das Missões comme
patrimoine mondial. Dans ses séries photographiques
sur les favelas de Rio de Janeiro (“Architecture
de Survie”), et sur les prisons de Carandiru et de
Medellin (“Espaces emprisonnés”), il utilise la
photographie d’architecture pour montrer la condition
humaine. Il a exposé régulièrement ses œuvres dans
des expositions individuelles ou collectives, au Brésil,
Portugal, E.U.A., Danemark, Allemagne, Chine
et Colombie. Ses œuvres sont représentées dans
diverses collections publiques et privées. Il a reçu le
V Prix Marc Ferrez, les bourses CAPES-Fulbright et
Vitae de Photographie. Il vit actuellement à Évora, au
Portugal, et travaille en Europe et au Brésil.
14
O
linda é Patrimônio Mundial Cultural e
Natural da Humanidade.
O que é um título? Que importância tem um título? O
que muda quando se tem um título?
Quase 30 anos se passaram entre este livro e o Dossiê que seguiu
para Paris com o intuito de reivindicar a inscrição na Lista do
Patrimônio Mundial Cultural e Natural da Humanidade, um título,
um reconhecimento para o Sítio Histórico de Olinda. Naquela
data fazíamos parte de uma equipe sob a orquestração de Aloísio
Magalhães que aglutinava um grupo na sede do Patrimônio
Histórico e Artístico Nacional e Fundação Nacional próMemória e
de outro, em Pernambuco. Eram técnicos especialistas e expoentes
e apaixonados por Olinda em torno do mesmo objetivo. Para as
imagens do Dossiê, Pedro Lobo é enviado à cidade e realiza uma
farta e competente documentação inclusive com imagens de
tomada aérea.
Gisela Abad participou da equipe que deu corpo físico ao conjunto
de informações que seguiram com Aloísio para Paris e que
tragicamente faleceu a caminho, em Veneza.
Para nossa sorte a sucessão na direção do Patrimônio Histórico
Nacional foi para outro pernambucano, Marcos Vilaça, tão
encantado e fiel, como o antecessor, por sua terra, e em especial
por Olinda, e este vai em busca do mesmo objetivo. E em 1982,
temos finalmente nossa Olinda partilhando com o resto do mundo
seu caráter que a faz especial.
Passados tantos anos, em crônica publicada em jornal, Vilaça nos
chama a atenção à memória do título e partindo desta lembrança
construímos este projeto que tem entre suas ações este livro que o
leitor tem em mãos.
Para chegarmos a isso, contamos com a aprovação do projeto,
pelo Ministério da Cultura – MinC, por intermédio do Programa
Nacional de Apoio à Cultura – Pronac, e tivemos ampla acolhida
do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social –
BNDES, como patrocinador.
Para segurança da memória, as imagens feitas em 1981
permanecem com negativos perfeitamente preservados sob a
guarda do arquivo central do IPHAN. Neste projeto os negativos
foram digitalizados e agora permanecem mais preservados e
finalmente veem a luz para conhecimento da população. O retorno
15
do mesmo fotógrafo a Olinda e uma documentação atual do sítio é
realizada.
Ao longo das páginas que se seguem são apresentadas uma
pequena seleção dessas imagens de 1981 em preto e branco e as
de 2010, coloridas. Fugiu-se da tentação de apresentar uma ao
lado da outra. Achamos importante trazer a voz de outros ligados
àquela Olinda de 1981 e que participaram deste tempo entre os
dois recortes.
No conjunto um mapa auxilia localização das imagens.
Em 21 de março de 1983, por ocasião da cerimônia
comemorativa da inscrição de Olinda na Lista do Patrimônio
Mundial, Amadou-Mahtar M’Bow, Diretor Geral da Organização
das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura –
UNESCO, pronunciou um lindo discurso do qual se reproduz aqui
um pequeno trecho:
Olinda foi sempre, como para responder a uma misteriosa
vocação, uma cidade de poetas, pintores, escultores, ceramistas,
uma cidade de música e dança, em um cenário natural tão
suntuoso que não sabemos se é preciso descrevê-la como
um conjunto arquitetônico ornamentado de jardins ou como
um parque tropical decorado de monumentos. Mas Olinda,
metrópole econômica conheceu também uma intensidade
religiosa e espiritual pouco comum como testemunham ainda
hoje os numerosos prédios religiosos que estão entre os
melhores do Brasil. Cidade intelectual por excelência, Olinda
pode também orgulhar-se de ter feito eclodir algumas das
ideias essenciais que marcaram a evolução da pátria brasileira.
O ensino superior brasileiro a conheceu, no início do século
passado, como um de seus primeiros e mais dinâmicos centros.
Mais de quatro séculos de criação ininterruptas multiplicaram,
ao longo de seu litoral e aos pés de suas colinas, testemunhos
de uma arte onde paisagistas e construtores uniram seus
talentos para conseguirem uma cativante harmonia de formas
e cores.
Mas a perfeição tem muitas vezes por corolário a fragilidade.
Se nós podemos admirar Olinda hoje, é que os responsáveis do
patrimônio, tanto a nível local, como estadual e ao nível máximo
do Governo Federal, esforçaram-se desde quase meio século
em preservar os elementos fundamentais. ...
Para proteger Olinda, não basta somente realizar restaurações
isoladas ou operações de prestígio. A ação deve ser global e
neste sentido o bem-estar de sua população importa tanto
quanto a harmonia do cenário que constitui o seu quadro de
vida.
Com efeito, e esta é a principal mensagem dos artistas,
dos arquitetos e dos urbanistas encarregados de proteger
Olinda – um conjunto arquitetônico, um monumento, uma
paisagem, somente estarão em segurança na medida em que
a sua população viva bem e encontre funções e desenvolva
amplamente suas atividades segundo suas próprias esperanças,
a fim de assegurar sua permanência.
Dentro, deste contexto, Olinda é uma cidade privilegiada – pois
sua população lhe é profundamente ligada tanto por sua fé
quanto por suas tradições. E ela está decidida – está é minha
convicção – a desenvolver o esforço permanente que exigem os
trabalhos necessários a sua proteção.
Espera-se que você, leitor, tenha o mesmo prazer que tivemos em
passear e revisitar o passado e o presente desse patrimônio e que
encontre nele o que o faz especial e que assim se junte ao grupo
dos convictos e entusiastas protetores do Sítio Histórico de Olinda.
Viva!
Gisela Abad
Pedro Lobo
designer
fotógrafo
16
O
linda is World Cultural and Natural Heritage. What
is in a title? Why are titles important? What changes
when there is a title?
Almost thirty years have elapsed between the production of this
book and the time when the dossier was sent to Paris with Olinda’s
application to be inscribed on the UNESCO List of World Cultural
and Natural Heritage, providing a title and recognition for the
historical center of Olinda. On that date, we were part of a team
led by Aloísio Magalhães, who was coordinating a group from
three heritage protection agencies: SPHAN, Fundação Nacional
próMemória and an agency in Pernambuco state. The teams were
made up of specialists, experts and devotees of Olinda who were
working towards the same goal. Photographer Pedro Lobo was
dispatched to Olinda to take the pictures for the dossier, where he
produced a skillful, comprehensive visual record, including some
photos taken from the air.
Gisela Abad was a member of the team who took the information
and transformed it into texts for the dossier. This was given to Aloísio
to take to Paris, although he tragically died on the way, in Venice.
Luckily for us, the new head of SPHAN was also from the state
of Pernambuco. Marcos Vilaça was as devoted to and passionate
about his homeland as his predecessor, especially Olinda, and
he made Aloísio’s objectives his own. And eventually, in 1982,
we managed to get worldwide recognition for our Olinda and
everything that makes it so special.
A few years ago, Vilaça wrote a piece in a newspaper in which
he draws attention to the memory of the title. Taking this as our
starting point, we devised this project, part of which involves the
production of the book that you, the reader, are now perusing.
In order to make this project possible, we received approval from
the Ministry of Culture, through its funding program, Pronac, and
obtained generous sponsorship from the Brazilian Development
Bank (BNDES).
To safeguard the memory of the original project, the negatives of
the pictures taken in 1981 were kept in perfect condition at the
IPHAN central archives. For this project, these negatives have been
digitalized, helping to assure their perpetuity, and are finally being
presented to the general public. The same photographer returned
to Olinda in 2010 to take new pictures of the site.
17
The ensuing pages contain a small selection of the photos from
1981, in black and white, as well as color pictures from 2010.
We avoided the obvious temptation of presenting them beside one
another. We also thought it was important to make room for the
thoughts of other people who were involved in Olinda in 1981 and
have participated in the life of the town since then.
There is a map that shows the location of the photographs.
On March 21st 1983, at the ceremony marking the inclusion
of Olinda in the World Heritage List, Amadou-Mahtar M’Bow,
Director-General of the United Nations Educational, Scientific and
Cultural Organization (UNESCO), proffered a moving speech which
we reproduce in part below:
As though in fulfillment of some mysterious vocation, Olinda has
always been a town of poets, painters, sculptors and ceramists,
a town of music and dancing, in a natural setting so magnificent
that one does not know whether to describe it as an architectural
ensemble embellished with gardens, or as a tropical park graced
with monuments. But Olinda, a hub of economic activity, has also
experienced a religious and spiritual life of uncommon intensity,
witnessed even today by the many religious buildings, among the
finest in Brazil. Besides being an outstanding intellectual centre,
Olinda can take pride in the fact that it has been the birthplace of
some of the essential ideas in the growth of the Brazilian nation.
At the beginning of the last century it was one of the earliest and
most dynamic centres of Brazilian higher education.
In more than four centuries of profuse and uninterrupted
creative activity on its river banks and hillsides, builders and
landscape gardeners have united their talents to produce a
captivating harmony of forms and colours.
But the corollary of perfection, very often, is frailty. The reason
why we are able to admire Olinda today is that those responsible
for this inheritance, at local and federal levels and at the highest
levels of the state, have been striving for almost half a century
to preserve its fundamental elements; ...
To safeguard Olinda, therefore, it is not enough to simply carry
out piecemeal restoration work or prestige operations. Action
on all fronts is called for, and in this respect the well-being
of the population is just as important as the harmony of the
environment in which that population lives.
Indeed – and this is the first thing we have to learn from
the artists, architects and town planners in charge of the
safeguarding of Olinda – an architectural ensemble, a
monument or a landscape is only safe in so far as the local
population has good living conditions and can find there
suitable employment and engage in activities commensurate
with its hopes, thus having the means of ensuring its continued
existence.
Olinda has been blessed in this respect, for its people are as
deeply attached to their city as to their faith and their traditions.
And I sense that these people are determined to make the
continuous effort required of them to carry out the work needed
to preserve it.
We hope that you, the reader, will enjoy this book as much as we
have enjoyed reviewing the past and the present of this heritage,
and that you identify in it what makes it so special, so that you will
join the group of devoted, enthusiastic protectors of the Historical
Center of Olinda. Viva!
Gisela Abad
Pedro Lobo
designer
photographer
18
O
linda est Patrimoine mondial
Culturel et Naturel Mondial.
Cela veut dire quoi, un titre? Quelle importance cela a?
Qu’est-ce qui change donc quand on a un titre?
Presque 30 ans se sont passés entre ce livre e le Dossier envoyé
à Paris avec l’intention de revendiquer l’entrée du Site Historique
de Olinda dans la liste du Patrimoine Culturel et Naturel
Mondial. A cette époque, nous faisions partie d’une équipe sous
la baguette d’Aloísio Magalhães qui rassemblait un groupe de
travail au siège du Patrimoine Historique et Artistique National
et à la Fondation Nationale próMemória et un autre groupe de
Pernambouc. C’était une bande de téchnicien-nes spécialistes
qui exposaient leur passion pour Olinda visant le même objectif.
Pour faire les images du Dossier, Pedro Lobo est envoyé à la ville
et ramène une documentation fournie, compétente qui inclut des
vues aériennes.
Gisela Abad a participé de l’équipe qui a donné corps à l’ensemble
des informations qui voyageront avec Aloísio jusqu’à Paris.
Tragiquement, celui-ci mourra sur son chemin pour Venise.
Heureusement, la sucession de la direction du Patrimoine
Historique National est alors donnée à un autre pernamboucain,
Marcos Vilaça. Celui-ci est aussi séduit et fidèle à sa région et
Olinda que son prédecesseur et il poursuit donc le même but. Et
en 1982, finalement, nous avons notre Olinda partageant avec le
reste du monde, ses attributs qui la font si spéciale.
Après tant d’années, c’est dans une chronique publiée dans un
journal, que Vilaça nous remémore l’acquisition du titre et c’est
donc à partir de cet appel que nous avons construit ce projet qui
a, entre autres actions, la production de ce livre que le lecteur a
maintenant en main.
Pour y arriver, nous avons compté avec l’appui du Ministère de
la Culture – MinC – par l’intermédiaire du Programme national
de l’appui à la Culture – Pronac, et le large accueil de la Banque
nationale de Développement économique et social – BNDES,
comme sponsor.
Pour assurer la préservation de la mémoire, les images faites en
1981 ont leurs négatifs parfaitement gardés par l’archive central
de l’Iphan. Au travers de ce projet, les négatifs sont numérisés
garantissant encore plus de sécurité et pouvant finalement venir
19
à la lumière et être connus du public. Le même photographe
retourne à Olinda et la documentation actuelle des lieux est faite.
Tout au long de ces pages, vous est présentée une petite sélection
des images en noir et blanc de 1981 et celle en couleurs de
2010. On a fuit la tentation de juxtaposer les images. Nous avons
trouvé important d’apporter d’autres voix liés à la Olinda de 1981
et qui ont participé durant la période entre les deux dates.
Vous trouverez une carte qui aide à retrouver les images.
Le 21 mars 1983 à l’occasion de la cérémonie de comémoration
de l’entrée de Olinda dans la liste du Patrimoine Mondial,
Amadou-Mahtar M’Bow, directeur général des Nations Unies pour
l’éducation, la science et la culture – UNESCO, a prononcé un
beau discours dont nous citons un extrait:
Comme si c’était pour répondre à une mistérieuse vocation,
Olinda a toujours été la cité des poètes, peintres, sculpteurs,
céramistes, une cité de musique et de danse, dans un scénario
naturel si somptueux que nous ne savons pas si nous devons la
décrire comme un ensemble architectural ornée de jardins ou
comme un parque tropical décoré de monuments. Mais Olinda,
métropole économique a connu aussi une intensité religieuse et
spirituelle peu commune comme l’attestent encore aujourd’hui,
les nombreuses églises qui sont entre les meilleures du Brésil.
Cité intellectuelle par excellence, Olinda peut aussi être fière
d’avoir fait éclore quelques unes des idées essentielles qui ont
marqué l’évolution de la patrie brésilienne. Au début du siècle
passé, l’enseignement universitaire l’a reconnue comme un de
ses premiers centres et un des plus dynamiques.
Plus de quatre siècles de création ininterrompue, ont multiplié
tout au long de son littoral et aux pieds de ses collines, les
témoignages d’un art où paysagistes et constructeurs ont uni
leurs talents pour produire une harmonie séduisante de formes
et de couleurs.
Mais la perfection a souvent pour corrolaire, la fragilité. Si
nous pouvons admirer la Olinda d’aujourd’hui, c’est grâce aux
responsables du patrimoine, aussi bien à niveau local, comme
de l’état, et du Gouvernement fédéral. Ceux-ci se sont efforcés
pendant presque un demi-siècle à préserver ses éléments
fondamentaux...
Pour protéger Olinda, il ne suffit pas seulement de réaliser des
restaurations isolées ou de simples opérations de prestige.
L’action doit être globale et dans ce sens, le bien-être de sa
population est aussi importante que l’harmonie du scénario qui
constitue son cadre de vie.
C’est comme cela que – est ceci est le message principal des
artistes, des architectes et des urbanistes responsables de
protéger Olinda – un ensemble architectural, un monument,
un paysage ne seront en sécurité que dans la mesure où
sa population puisse bien vivre, trouvant des manières
de développer amplement ses activités, selon ses propres
aspirations pour assurer sa permanence.
Dans ce contexte, Olinda est une cité privilégiée – car sa
population lui est profondément attachée aussi bien par sa foi
que par ses traditions. Et elle est décidée – c’est ma conviction
– à développer un effort permanent qui exige les oeuvres
nécessaires qui la protègeront.
On espère que vous, lecteur et lectrice, aurez le même plaisir que
nous avons eu en nous promenant pendant que nous revisitions
le passé et le présent de ce patrimoine; que vous trouverez en
lui ce qui le fait spécial et que vous vous joindrez au groupe des
convaincu-e-s et enthousiastes qui forme le public protecteur du
Site historique d’Olinda. Viva!
Gisela Abad
designer
Pedro Lobo
photographe
20
Igreja de Nossa Senhora da Misericórdia ∙ D|9
Olinda e Recife - vista da Igreja de Nossa Senhora da Misericórdia ∙ D|9
21
22
Igreja e Mosteiro de São Bento ∙ H|6
Catedral da Sé - Igreja de São Salvador do Mundo ∙ F|11. Abaixo, à esquerda, Igreja de Nossa Senhora do Amparo ∙ B|9. Abaixo, à direita, Igreja de São Pedro Apóstolo ∙ G|8
23
26
Páginas 24, 25 e nesta página, abaixo, Igreja de Nossa Senhora das Neves e Convento de São Francisco ∙ G|12.
Nesta página, acima, Igreja e Mosteiro de Nossa Senhora do Monte ∙ A|12
Igreja do Convento de Santo Antônio do Carmo ∙ H|8. Abaixo, à esquerda, Passo da Ribeira ∙ E|7. Abaixo, à direira, Capela de São Pedro Advíncula ∙ E|7
27
28
Museu de Arte Sacra de Olinda ∙ E|10. Página ao lado, Igreja de Nossa Senhora do Amparo ∙ B|9
29
30
Ladeira da Misericórdia ∙ D|8. Abaixo, Quatro Cantos ∙ E|8
Rua do Amparo ∙ C|9
31
32
33
Olinda, Olindíssima
Marcos Vinicios Vilaça
E
stou espantado com a amnésia voluntária e ao
redor do reconhecimento de Olinda como Patrimônio da
Humanidade, no jubileu de prata da data. Espanta-me
o risco disso tudo se encaminhar para grosseira desmemória e
que tenhamos enfim chegado a tal nobilitante distinção significa
pois quando Secretário da Cultura do MEC, pernambucano
amante da sua terra e de sua gente, que sucedeu no cargo — sem
pretensões de substituir — a outro pernambucano devotado, Aloísio
Magalhães, segui-lhe no trabalho em favor de Olinda, epopeia do
nosso civismo e do amor a tradição.
A marcha triunfal do grande ideal animou a todos. Era como que
um sigiloso desafio de enfrentação comum. Ninguém faltou com
o seu contributo. Olinda, o povo e as autoridades; Pernambuco,
os governos de Marco Maciel e Roberto Magalhães, e as gentes
todas; o Brasil, seus Ministros Eduardo Portella, Rubem Ludwig,
Esther Figueiredo Ferraz; o Ministério das Relações Exteriores, com
os seus qualificados profissionais — talentosos, cultos, patrióticos;
os técnicos da Secretaria da Cultura; a UNESCO, na acolhida dos
dirigentes e no aval dos seus especialistas de saberes vários.
À semelhança de Ouro Preto, tínhamos legado artístico,
paisagístico e histórico. Olinda nos conferia inquestionável
igualdade de condições para obter idêntico galardão.
Fui incandescente alma pernambucana no frio daquele dezembro
de 82 em Paris, a participar da consolidação da vitória, no
plenário soberano da UNESCO, defendendo Olinda, em nome do
Brasil, num trabalho de muitos meses.
Olinda é o encanto doce, bonito, musical, colorido. É o mais viver;
é o sentir amplo, do alto de suas colinas vendo, para frente: o mar
pra trás: a terra. Marcada pelo barroco, ainda hoje cuidamos ver
os seus antigos beneditinos, jesuítas e franciscanos descerem as
ladeiras que são caminhos da história, fecundações de vida.
Olinda é tudo isso, as igrejas, os conventos, os cursos jurídicos, a
ciência, o povo que mora em casa de porta e janela, o banho de
mar, a jangada.
Olinda múltipla, plural, oferecendo aos que a contemplam também
o cenário magnífico do seu casario colonial. Olinda de frades
e doutores, uma Coimbra tropical onde se iniciou a literatura
brasileira. Olinda do gesto romântico de Bernardo Vieira de
Mello. Olinda do Capitão Temudo e, igualmente, da Pitombeira
e do Elefante, do Homem da Meia-Noite e da Mulher do Dia, de
Samico, de José Cláudio, de Luiz Delgado, de Bajado, de Carlos
Trevi.
Olinda, a bela, a linda Olinda, mas Olindíssima, sem
partidarizações dos seus méritos, sem esbofetear a verdade
histórica, sem cultivar a mediocridade, sem perder suas virtudes
conviviais.
Olinda deve atentar ao seu louvor feito na Assembleia pelo
deputado Augusto Coutinho, fiel ao fato histórico, fiel aos valores
olindenses, olindensimente pernambucano.
Deixem-me dizer. EU VI.
Projetada no cenário mundial entre as cidades históricas de
maior significado na cultura humana, Olinda bem mereceu
a distinção. Os atos fundadores do Brasil subiram pelas suas
encostas, escalando-as por ato de vontade. Os atos mantenedores
da identidade nacional continuam a ser anunciados de suas
cumeadas, onde ganharam morada definitiva. Sua lição é uma
permanente harmonia entre arte e tradição histórica, entre a
paisagem talássica e a vida urbana permeada de monumentos
sagrados e profanos que lhe compõem o perfil.
Veio com um destino traçado: teria que ser na especulação do
próprio nome o lindo cenário que lhe daria preeminência no
complexo urbano.
Diario de Pernambuco — Domingo, 27 de janeiro de 2008.
Primeiro Caderno — página 15.
34
O’linda!
O teu nome bem diz...
Leonardo Dantas Silva
A
os olhos de quem a contempla pela
primeira vez, Olinda se apresenta povoada de sonhos
e tomada pela claridade a ofuscar as retinas de quem
chega:
De limpeza e claridade
é a paisagem defronte.
Tão limpa que se dissolve
a linha do horizonte.
Carlos Pena Filho
Uma visão de Olinda, no início do século XVII, nos é dada por
Ambrósio Fernandes Brandão, em Diálogos das grandezas do
Brasil (1618):
Dentro na Vila de Olinda habitam inumeráveis mercadores
com suas lojas abertas, colmadas de mercadorias de muito
preço, de toda a sorte em tanta quantidade que semelha
uma Lisboa pequena. A barra do seu porto é excelentíssima,
guardada de duas fortalezas bem providas de artilharia e
soldados, que as defendem; os navios estão surtos da banda
de dentro, seguríssimos de qualquer tempo que se levante,
posto que muito furioso, porque têm para sua defensão
grandíssimos arrecifes, a onde o mar quebra. Sempre se acham
nele ancorados, em qualquer tempo do ano, mais de trinta
navios, porque lança de si, em cada um ano, passante de 120
carregados de açúcares, pau-brasil e algodão. A vila é assaz
grande, povoada de muitos e bons edifícios e famosos templos,
porque nela há o dos Padres da Companhia de Jesus [1551],
o dos Padres de São Francisco da Ordem Capucha de Santo
Antônio [1585], o Mosteiro dos Carmelitas [1588], e o Mosteiro
de São Bento [1592], com religiosos da mesma ordem.
Na primeira metade do século XVII, a riqueza da capitania de
Pernambuco, bem conhecida em todos os portos da Europa,
veio a despertar a cobiça dos Países Baixos. A produção de 121
engenhos de açúcar, correntes e moentes, no dizer de van der
Dussen, viria a despertar a sede de riqueza dos diretores da
Companhia, que armou uma formidável esquadra sob o comando
do almirante Hendrick Corneliszoon Lonck. Uma grande armada,
com 65 embarcações e 7.280 homens, apresentou-se nas costas
de Pernambuco em 14 de fevereiro de 1630, iniciando assim a
história do Brasil Holandês.
Senhores da terra, os holandeses escolheram o Recife como sede
dos seus domínios no Brasil, por ter nesta praça a segurança que
não dispunham em Olinda.
Na noite de 25 de novembro de 1631, resolveram os chefes
holandeses pôr fogo na sede da capitania de Pernambuco, a infeliz
vila de Olinda tão afamada por suas riquezas e nobres edifícios,
arderam seus templos tão famosos, e casas que custaram tantos
mil cruzados em se fazerem.
Em Olinda, a paisagem e os costumes foram assim descritos pelo
Frei Manuel Calado, tudo eram delícias e não parecia esta terra
senão um retrato do terreal paraíso.
Com a sua paisagem, porém, tecida de sonho e claridade,
impregnada pelas diversas tonalidades de verde, nas águas do seu
mar, e de azul e outras cores no crepúsculo do seu céu, Olinda
vem com o passar dos anos fascinando a todos que a conhecem.
A sua vista litorânea, povoada de jangadas e outros tipos de
embarcações, foi uma sedução para esses viajantes ao longo dos
séculos sendo hoje fonte de deleite e de paz para o visitante e
mesmo para os próprios olindenses.
Em passeio por Olinda e seus arredores, como cicerone do escritor
português Ramalho Ortigão, em l887, Joaquim Nabuco assim
descreve a paisagem, em artigo publicado no jornal O Paiz (Rio),
quando vista do terraço da Sé de Olinda:
[...] não é uma dessas vistas de altura, das quais o mar fica
tão abaixo aos pés do espectador, que perde o movimento e
a vida, parecendo uma tela diáfana estendida sobre o fundo
vazio do ar, vistas em profundidade, que dão vertigem e nas
quais a perspectiva é tão longínqua como se víssemos por
um óculo virado. A vista de Olinda é outra; é uma vista em
comprimento, em que os planos sucedem-se uns aos outros
como o desenvolvimento da mesma sensação visual, em que
desde Olinda até ao Recife, e mais longe até o Cabo de Santo
Agostinho.
Possuído do orgulho de ser pernambucano, enfatiza Joaquim
Nabuco, com o seu poder de observador perspicaz:
35
Para conhecer uma paisagem não basta vê-la, é preciso muito
mais, é preciso que as duas almas, a do contemplador e a do
lugar, cheguem a entender-se, quantas vezes elas nem mesmo
se falam! Não é a todos que a natureza conta os seus segredos
e inspira o seu amor, mas mesmo com os poucos de quem
ela tem prazer em fazer pulsar o coração é preciso que eles
se aproximem dela sem pressa de a deixar, com tempo para
ouvi-la. Os viajantes nunca estão nessa disposição de espírito
em que é possível estabelecer-se o magnetismo da paisagem
sobre os sentidos, de fato sobre o coração. Felizmente Ramalho
Ortigão é uma máquina fotográfica instantânea, que apanha
num segundo o seu objetivo todo, e acontece que hoje as boas
máquinas percebem e notam sombras na pele, que não se
veem a olho nu, e que servem para conhecer a enfermidade
latente. Ele não terá sentido os eflúvios desta nossa terra, os
quais talvez seja preciso ser pernambucano para sentir e que
podem não ter realidade e magia senão para nós mesmos,
mas a impressão que lhe causou a nossa Veneza há-de rendernos uma pintura que durará como as gravuras holandesas do
Século XVII.
36
OLINDA, LINDA FORMA DE CONSTRUIR UMA
HISTÓRIA DA ARTE E DA ARQUITETURA
José Luiz Mota Menezes
A LONGA PERCEPÇÃO DO LUGAR
C
aminhando na direção da vila,
um desconhecido pintor, naquele distante ano de 1630,
tomou do lápis e definiu usando sua lente de alcance o
perfil de Olinda. Marcou cada parte construída, as janelas, portas
e telhados e, acima de tudo, a silhueta que cortava então o céu de
suaves nuvens. Depois de tudo isso, inclusive de seu sentimento,
ele passou a outro capaz também de tudo gravar no interesse da
necessária ilustração de um livro.
Outra gente, hoje seguindo na direção do mesmo sítio, recorta
com a vista o perfil que marca a presença da cidade no horizonte
e noutro momento. O tempo é presente, mas a poesia das formas
sensibiliza talvez da mesma maneira. A construção do belo
transitou no tempo. A cidade não é a mesma. O que se percebe
nesse longo espaço percorrido do tempo é uma fruição estética
determinante de uma singularidade plasmada na apropriação
da natureza, sem que nela seja marcada uma forte ruptura. A
cidade se deita no horizonte e nele traça a suave curva de suas
colinas. Curvas talvez femininas pela sinuosidade delas e das
contracurvas que definem o modelo do belo no urbano. As casas
sobem as ladeiras com a mesma canseira da gente e, entre as
duas forças ascendentes, um mesmo percurso busca o azul que
cobre de cor o lugar acima da colina. As ruas se encurvam na
procura de outras e, ao encontrá-las, se cumprimentam e seguem.
Marcando cada ponto alto, aonde em princípio chegam àquelas
subidas para o céu, estão igrejas, conventos e colégio dos antigos
e desaparecidos padres da Companhia de Jesus. A cidade, qual a
velha vila, se defende dos maus ventos com as cercas envolventes
das casas dos religiosos. Eles fazem, com a força da religião, não
se aproximarem da vila as doenças vindas pelo ar e mar. Cada
imensa cerca começa quando outra termina. Assim, se pode
ver, inicia tudo com a dos Jesuítas, logo deixando lugar para a
dos frades de São Francisco. Então estes entregam a defesa aos
Carmelitas, que por fim passam a vigilância aos Beneditinos. Estes
assumem o último baluarte. Uma forte cortina a serviço de Deus
e dos homens. Mais forte que as muralhas de pau a pique ou
edificadas em pedras. As ruas estão marcadas pelo pisar de tanta
gente em tanto tempo. Uma superposição de dramas, solidão e
lutas. Por tais ruas correram e andaram pobres, ricos com seus
belos cavalos de arreios de pratas ou frades de surradas batinas.
Por ruas estreitas e cheias de curvas, serpentearam as procissões.
Nelas hoje o carnaval com seus possíveis pecados lavam o choro
das velas e o lento percorrer dos andores com seus sofridos santos
carregados de pedidos os mais diversos.
A cidade é percebida por muitos olhos, maiores e variadas
sensações estéticas. Um resultado nos conforta: praticamente
todos reconhecem o valor da arquitetura e sequer desvendam
nelas estilos ou formas. O que guardam na percepção da cidade
de Olinda é a escala do que tem sido construído pelo talento
humano e a forte identidade da mesma emoção entre vários
observadores e a coisa observada. O mesmo gesto de tomar para
si o lugar pertence à eternidade do fruir uma beleza onde o nome
passa a cada um de Olinda a linda.
UMA PERCEPÇÃO IRRACIONAL
A construção da cidade de hoje não se fez de uma vez. Ela foi
sendo edificada devagar. Mal se afirmava bela e um incêndio, em
1631, a deixa cinza e escura. O branco das paredes se fez sujo e
a beleza se consumiu nas labaredas do incêndio. Assumindo o ver
da cultura acadêmica, passamos a perceber na cidade tempos e
estilos. Estilo entendido como modos semelhantes de um proceder
estético no resultado da leitura das formas. Talvez de princípio
tudo fosse Maneirista. Depois se vestiu de Barroco. Olhando a
cidade no geral, a escala das edificações das moradias confunde o
leitor com suas formas. As casas ao sabor da vontade de mudar da
gente trocam de roupa e se vestem conforme cada tempo. Talvez
as moradias tivessem antes em um tempo bem atrás um mesmo
ou próximo desenho e este teria nascido Maneirista. Mas a moda
que se faz forte no construir a imagem da cidade transformou
algumas delas em Barrocas. E então se instalou a confusão. Uma
diferença de leitura onde tudo reflete alternâncias no querer e no
gostar do diferente. As casas dos religiosos também passaram
por tal vexame. Surgiram as dos Franciscanos em uma escala
bem ao sabor dos frades mendicantes. Eles logo ganharam força
dentro da comunidade e tudo no interior das igrejas e conventos
se vestiu de ouro, numa riqueza capaz de causar vergonha aos
guardiões dos velhos tempos de São Francisco. Os Jesuítas
Vista aérea, Rua de São Bento ∙ F|8 e E|8
nascem grandiosos e assim ao sabor da arquitetura da igreja e do
convento constroem uma enorme mole com quarenta janelas para
tão poucos religiosos. O mosteiro dos Beneditinos naquele distante
século XVI, antes do incêndio, era bem pequeno e dominava o alto
da colina que olha por sobre o Varadouro. De suas formas mais
antigas, restam pedaços em pedras lavradas e destinadas a um
pequeno retábulo de altar. Findas as guerras contra os flamengos,
em 1654, a força da fé e a alegria da vitória se plasmam numa
construção monumental. O irracional da pobreza dos engenhos
destruídos se transforma na miséria dourada dos interiores desse
tempo de comemoração. Um rico e belo retábulo delineado em
Portugal é então cortado na madeira da terra em pleno século
XVIII por artistas locais para a nova capela-mor dos padres de São
Bento e tudo se transforma em ouro e grandeza. O desenho da
37
cidade põe por terra a ideia de um traçado irregular como forma
definidora da ausência de razão. O delinear das ruas e praças nos
mostra a racionalidade do irregular. Um irregular não decorrente
do espontâneo. Isso não existe. O ato de marcar um caminho
é prenhe de razão e singular lógica preside sempre a gente na
firmeza do querer chegar mais depressa e melhor de canto a
canto. O casario de Olinda é envolvido por um anel formado por
ruas e este formato anelar começa no Varadouro, passa ao largo,
diante do mar e chega ao Rocio, de onde sobe por uma ladeira
em direção ao convento dos Franciscanos, segue na direção da
matriz e daí toma o caminho da Misericórdia. Daí, por uma ladeira
tortuosa, desce para os Quatro Cantos dos comerciantes e dele
toma outra ladeira até a Ribeira. Ao lado da Igreja de São Pedro,
desvia direto para o lugar dos padres de São Bento, mas bem
38
Rua Bernardo Vieira de Melo e Rua Prudente de Morais ∙ E|8
próximo ao Palácio antigo desce para a velha Alfândega na calçada
do porto fluvial. Estamos novamente no Varadouro. Nada mais
racional e onde de maneira urbana e moderna se fez a proteção
do casario. E dentro de tal anel, outras ruas são traçadas segundo
uma mesma materialidade racional. De lugar a lugar determinando
centros quentes, qual aquele dos comerciantes dos Quatro Cantos
ou outros semelhantes ao criado na frente da Matriz do Salvador
formador da longa e bela fechada Rua Nova. Nova porque antes
havia a das Fontes, a mais antiga, passando por detrás da Câmara
transformada em Palácio dos Bispos da Cidade de 1676. Tudo
isso se fez verdade no alto da Matriz, onde em sua torre forte o
Donatário demarcava o poder real. E de onde o padrasto avistava
o mar e sonhava com o infinito. Nesse sonhar, uma vontade de
viver o difícil momento do retorno por sobre águas para o Velho
Mundo, em um trajeto cheio de medo, dor e fome. A poesia se faz
Olinda. E de cada lugar a razão do traçado e a riqueza do casario,
na simplicidade de seu desenho constrói espaços diferentes e
desiguais criando becos, ruas de serviço e vazios em um concerto
como que musical edificado e fiel aos largos e fortes sons da
forma barroca de compor tempos de uma música de pedra e cal.
Beco das Cortesias. Onde quem desce cumprimenta quem passa
e ligeiros os dois deixam para trás sonhos e alegrias do viver
eterno em uma cidade diferente e humana. Uma cidade, onde
Cristãos-Novos e Velhos se cumprimentavam e logo a seguir em
1593 iam se denunciar no mesmo espaço de tempo ao Visitador
do Santo Ofício. Moradias que abrigavam lésbicas e homens que
gostavam de outros, qual aquele morador de bem perto do Largo
da Misericórdia. Cidade de grandes pecados, tantos pecados que
um padre disse forte e bom som ser facilmente transformada em
Olanda dos hereges, caso acontecido poucos anos depois. Mas
Olinda não se tornou Olanda. Preferiu as labaredas do Inferno e as
cinzas da agonia. Uma cidade de todos, construída por eles, pedra
a pedra. As mesmas pedras que ajudaram, carregadas por ricos e
pobres, na construção da bela igreja de Nossa Senhora da Graça,
aquela dos Jesuítas.
História e Arte se compactuam na formação de um espaço urbano
cheio de vida e capaz de moldar o viver de cada morador. Viver em
Olinda é deixar de lado o espaço-gaiola definido no apartamento
e abraçar espaços poéticos criados nas sombrias e velhas
alcovas, estas carregadas daqueles pecados de mais de cinco
séculos. Alcovas e salas onde a paisagem penetra por meio de
cercaduras construtoras de vazios, janelas e portas abertas sobre a
paisagem exuberante do redor. Natureza exuberante e edificações
encantadoras para um abade belga vindo à cidade para restaurar o
mosteiro dos Beneditinos no século XIX.
Uma cidade formada por tais edificações, criadas por uma telúrica
gente vinda de um Portugal agrário e nem tão grandioso quanto os
vizinhos Castela e Aragão, tem o sabor e cheiro de terra. A mesma
terra formadora dos quintais, situados diante das salas de viver
das moradias. Salas nas quais as mulheres viviam a liberdade dita
inexistente do lado de fora. Liberdade do lado de dentro, no qual
a forma de beleza de cada uma dominava os tão fortes senhores e
cuja imagem fora construída pelos outros do lado de fora, na rua.
O desenho das casas seguia um mesmo traçado, isso por conta
de uma sociedade garantidora de certo ar muçulmano no olhar a
família, a mulher e os filhos. Sala na frente, corredor ladeando as
alcovas e sala de viver, o lugar do harém diante daquele quintal.
Uma sociedade que transformou modos de vida em espaços e
os manteve fiéis a tal filosofia por muitos séculos e assim chegou
plasmada na velha Olinda.
A PERCEPÇÃO DO ESPAÇO SAGRADO
Eles chegaram ao novo lugar no distante ano de 1535. Traçaram
o sistema de ocupação do solo e escreveram um Foral e nele
modificaram a redação, transformando-o de Foral em Carta de
doação. Um primeiro e talvez único documento em que o poder
constituído pelo Rei deixou o direito de doar as terras para as
moradias aos representantes da mesma gente, a Câmara dos
ditos homens bons da sociedade colonial. Os homens da religião
receberam ou compraram seus lugares. Os Jesuítas foram
contemplados pelo próprio Donatário e se instalaram em 1551
numa alta e forte ponta de terra acima e na direção do mar. Os
Igreja de Nossa Senhora da Misericórdia ∙ D|9
Franciscanos se colocaram logo abaixo desses, uma maneira
inusitada, sendo esta resultante da doação do lugar por uma viúva
religiosa e que fora casada com um primeiro povoador. Encontram
obra conventual já feita e a ampliam, mas nem tanto. Os de Nossa
Senhora do Carmo, lá no fim do primeiro século, receberam uma
ermida muito pequena dedicada ao Santo casamenteiro Santo
Antônio. Os Beneditinos por último compram e recebem terras
a cavaleiro do Varadouro onde se concertavam as galeotas. Os
do Carmo projetam imenso convento. Eram reinóis e fortes em
prestígio. Os Beneditinos se contentam com um simples mosteiro.
Todos eles edificam segundo o gosto Maneirista dominante. Uma
singularidade une tais casas religiosas: as gentes da terra e as
de Portugal estavam sob um só soberano, um espanhol da linha
real dos Filipes. Era toda gente, naquele distante século XVI,
espanhóis por linha genealógica determinada pelas cortes. A
união das Coroas pairava sobre todos. Nesse tempo de domínio
espanhol, Olinda assistiu à construção de seus mais importantes
monumentos, vistos segundo a grandiosidade da criação e sua
mole. De todos os três maiores, a casa dos Jesuítas, o convento
de Santo Antônio do Carmo e a Matriz do Salvador, somente um
hoje denuncia nas suas linhas a presença daquele poder real de
Espanha, a casa dos frades Carmelitas. Inconcluso por ocasião
da invasão dos holandeses, conserva-se desse tempo, em sua
igreja e nos restos de uma fachada retabular ao que se soma a
forma construtiva do interior cercado por capelas, uma influência
dos arquitetos daquela Espanha. Uma fachada retabular e
capaz de ser incluída no corpus das muito poucas edificadas em
Portugal. Contrafação que não se completou da mesma maneira,
mas reveladora de uma arquitetura não lusitana em terras que
forçadamente também eram de Espanha no período de tempo ora
considerado. Daqueles interiores de rica e sóbria decoração, visível
em seus retábulos de cantaria douradas, restam três altares, dois
na igreja dos Jesuítas e um na dos frades do Carmo. São peças de
arte entre outras que desapareceram e materializaram a declaração
39
de um reverendo chamado Baers, que veio com a armada invasora
holandesa. Tal religioso elogia a riqueza desses interiores, rivais
de banquetes regados a vinhos dos casamentos e dos animais
carregados de arreios e outras peças de montaria em uma terra
onde as gentes viviam o fausto da nova economia agrária instalada
no Novo Mundo pela vontade do velho Donatário Duarte Coelho e
dos Cristãos-Novos de sua comitiva colonizadora. Depois da vitória
de 1654, tudo em Olinda ainda cheirava a queimado. No entanto,
a religiosidade do povo e da nobreza do açúcar se expressava
na força do reconstruir as casas para a religião, tudo talvez no
interesse de conseguir um lugar privilegiado no céu. Lugar capaz
de salvar tal poder constituído de seus pecados desenhados no
perdão pedido nas pedras tumulares. O casario de Olinda mal
estava reconstruído e as igrejas subiam suas paredes e refaziam
seus telhados. E os interiores assim definidos cobriam-se de novos
altares com seus retábulos dourados. O açúcar, o construtor de
uma nova aristocracia, tudo transformava com as folhas finíssimas
de ouro que revestiam belas talhas cortadas na madeira da
terra, fiéis representantes de uma religião capaz de expressar
pompa e circunstância do Barroco. Qual um novo Egito, Olinda
construiu para a eternidade. Uma eternidade forjada também na
eterna diferença entre os mais ricos e os mais desvalidos de uma
sociedade desigual que ainda persevera nos nossos dias.
O tempo andou com seus lentos passos e o Recife, que de porto
se transformou em cidade, muito cresceu. Olinda a tudo assistiu
longe seis léguas. Suas terras demarcadoras de seu termo foram
sendo tomadas. E, reduzida a pouco espaço à volta, sobreviveu
com suas formas da arquitetura e da arte e tudo segundo o modo
de ser de seus moradores. As mesmas singularidades descritas
e outras que a fizeram galgar o posto de Cidade Monumento
e Monumento da Humanidade. Um pequeno frasco cujo
perfume marcou sua presença no cenário mundial. Malgrado as
intervenções nem sempre boas do hoje, nela a poesia ainda se
encontra na pátina dos muros e nos cheios e vazios das moradias
e no encanto das ruas e adros e largos da cidade. O encanto
do tempo se soma ao da cidade permanentemente bela. Olinda
cidade recoberta de sonhos, pecados e grandiosidade.
42
Páginas 40 e 41, Igreja de Nossa Senhora das Neves e Convento de São Francisco ∙ G|12. Abaixo, vista da Catedral da Sé - Igreja de São Salvador do Mundo ∙ F|11.
Mais abaixo, à esquerda, Rua do Amparo ∙ D|8. Mais abaixo, à direita, Rua Prudente de Morais e, ao longe, Igreja de São Pedro Apóstolo ∙ E,F,G,H|8
43
Olinda, an expression of beauty
Marcos Vinicios Vilaça
I
am shocked at the willful amnesia about the
recognition of Olinda as World Heritage on the silver jubilee
of the date. I am disturbed by the risk of this all plunging
into a pit of forgetfulness and of us having actually reached such
an ennobling distinction. For when I became Secretary for Culture
at the Ministry of Education and Culture, devoted as I am to my
Pernambucan homeland and people, and taking over from –
but in no way replacing – another impassioned Pernambucan,
Aloísio Magalhães, I took on the work he had done for Olinda, the
ultimate expression of our civic pride and love of tradition.
The triumphal march of the great ideal inspired everybody. It
was like some kind of secret, shared campaign. No-one failed
to make their contribution. Olinda, its people and its authorities;
Pernambuco, the administrations of Marco Maciel and Roberto
Magalhães, and all their people; Brazil, its ministers, Eduardo
Portella, Rubem Ludwig and Esther Figueiredo Ferraz; the Ministry
of Foreign Affairs, with its patriotic, cultivated, talented and
highly-skilled staff; the professionals at the Department of Culture;
Unesco, for the reception by its leaders and the positive response
of its experts in different areas of knowledge.
Like Ouro Preto, we had an artistic, landscape and historical
legacy. Olinda, equally endowed as it was, had everything it
needed to earn comparable glory.
I was a glowing soul from Pernambuco that cold Parisian day in
December 82 where I took part in the consolidation of the victory
at a plenary session of Unesco, defending Olinda on the behalf of
Brazil after so many months’ work.
Its destiny was marked out from the start: the beautiful (lindo)
setting that would raise its status as a town would have to be a
reflection of its beautiful (linda) name.
Olinda is a sweet, beautiful, musical, colorful delight. It is living to
the full; it is feeling to the full, from the tops of its hills, with the
sea ahead and the land behind. Marked by the baroque, we can
still make out its former Benedictines, Jesuits and Franciscans
making their way down the hills that are the pathways of history,
the seeds of life.
Olinda is all this: the churches, the monasteries, the legal courses,
the science, the people who live in houses with doors and
windows, the sea-bathing, the fleet of jangadas.
Multiple, plural, Olinda with the fine sight of its magnificent
colonial houses. Olinda of friars and doctors, a tropical Coimbra
where the first Brazilian literature was written. Olinda of the
romantic gesture of Bernardo Vieira de Mello. Olinda of Captain
Temudo and, just as much, of its carnival characters, the
Pitombeira and the Elephant, and the legendary Midnight Man and
Daytime Woman, of Samico, José Cláudio, Luiz Delgado, Bajado,
Carlos Trevi.
Olinda, this fine, beautiful Olinda, without apportioning off its
merits, without insulting its true history, without cultivating
mediocrity, without losing its convivial virtues.
Olinda should wake up to the tribute it received in the House of
Deputies by Augusto Coutinho, faithful to historical facts, faithful to
the values of Olinda’s people, the epitome of Pernambuco.
Let me tell you: I SAW.
Projected on the world stage between the historical towns of the
greatest significance to human culture, Olinda truly deserved
that distinction. Acts which founded Brazil took place on its
hillsides, rising to their heights by sheer willpower. Acts which
have maintained the nation’s identity are still pronounced from
its hilltops, where they are now unshakable. What it teaches is a
permanent harmony between art and historical tradition, between
the coastal landscape and the life of the town with its distinctive
monuments, both sacred and secular.
Diario de Pernambuco – Sunday, January 27th, 2008. Primeiro Caderno
– page 15.
44
O’linda! Oh, how fine!
Your name says it all...
Leonardo Dantas Silva
T
o anyone who sets eyes on it for the first time,
Olinda seems inhabited by dreams and imbued with
brightness as it dazzles the sight of its visitors:
On November 25th 1631, the leaders of the Dutch garrison
decided to set fire to the seat of the Pernambuco captaincy: woeful
town of Olinda, so famed for her riches and fine buildings, her
famed temples and the houses that had cost so many thousands of
cruzados to build, in flames.
So bright and clear
is the landscape fine
So bright that it melts
the horizon line
Lords of the land, the Dutch chose Recife as the capital of their
dominions in Brazil, as it would provide them with a level of
security they would not have in Olinda.
Carlos Pena Filho
We are given an idea of what Olinda was like in the 17th century
by Ambrósio Fernandes Brandão, in Diálogos das grandezas do
Brasil (1618):
The town of Olinda is home to numerous tradesmen with their
shops open, cluttered with wares of many prices, of every kind
in such quantity that it is like a small Lisbon. The quayside is
very fine, flanked by two forts equipped well with artillery and
soldiers, which defend them; the ships are moored on the lee
side, quite safe from any weather that may blow in, however
inclement, for they have for their defense great reefs, where
the sea breaks. At any time of the year, there are always over
thirty ships anchored there, because every year there set
sail more than 120 loaded with sugars, timber and cotton.
The town is quite large, made up of many fine buildings and
notable temples, for there stands the temple of the Priests
of the Company of Jesus [1551], that of the Priests of Saint
Francis, of the hooded Order of St. Anthony [1585], the
Monastery of the Carmelites [1588], and the Monastery of St.
Benedict [1592], with religious men from that order.
In the first half of the 17th century, the wealth of Pernambuco
captaincy, which was well known at every port in Europe,
awakened the interest of the Netherlands. The output from 121
sugar mills, the chains and grindstones, in the words of van
der Dussen, excited the hunger for wealth of the directors of the
Dutch West India Company, which mounted a formidable fleet
under the command of Admiral Hendrick Corneliszoon Lonck.
A great armada, with 65 vessels manned by a crew of 7280
men reached the coast of Pernambuco on February 14th 1630,
marking the beginning of the story of Dutch Brazil.
The landscape and customs of Olinda were, in the words of Friar
Manuel Calado, all delightful and this land seemed nothing if not a
picture of paradise on earth.
With its landscape woven out of dreams and brightness, mottled
with different shades of green, in the waters of its sea, and blue
and other colors in the twilight of its sky, Olinda has continued to
fascinate everyone who has visited it over the years.
The view from the coast, dotted with jangadas and other kinds of
boats, has attracted many people over the centuries, and is still a
source of delight and serene contemplation for visitors and even for
the locals.
On a trip through Olinda and its outskirts in l887, accompanying
Portuguese writer Ramalho Ortigão, Joaquim Nabuco wrote an
article for a Rio-based newspaper, O Paiz, in which he describes
the landscape seen from the terrace of Olinda church:
[...] it is not one of those views from high above, where the sea
is so far below the viewer’s feet that it loses all movement and
life, looking like a gossamer screen stretched over midair, seen
at depth, which gives vertigo and where the perspective is so
distant that it is as if we saw it through the wrong side of a lens.
The view of Olinda is different; it is a lengthwise view, where the
planes succeed one another as the same visual sense unfolds,
from Olinda to Recife and further still, to the Cape of Saint
Augustus.
Proud as he was of his Pernambucan roots, Joaquim Nabuco goes
on, displaying his sharp powers of observation:
If you want to know a landscape, it is not enough to see it,
much more is needed, what is needed is for the two souls, that
of the viewer and that of the place, to come to understand one
Igreja de Nossa Senhora da Misericórdia e Academia Santa Gertrudes ∙ D|9
another, for how often is it that they do not exchange even a
word! Not to everyone does nature tell her secrets and inspire
her love, but even for the few she has the pleasure of touching,
making their hearts beat stronger, they must still approach her
without being in any hurry to leave, taking their time to hear
her. Travelers are never in a state of spirit where it is possible
for the magnetism of the landscape to overcome the senses,
in fact, the heart. Luckily, Ramalho Ortigão is an instant
photographic camera, who grasps in a second everything he
seeks, and it so happens that today the good cameras perceive
and note shadows on the skin, which one does not see with the
naked eye, and which serve to reveal latent infirmity. He will not
have smelt the aromas of this land of ours, which maybe one
45
has to be from Pernambuco to sense, and which may not be
real or magic to anyone but ourselves, but the impression our
Venice had on him will render us a painting that will last like the
Dutch prints of the 17th century.
46
OLINDA – A FINE HISTORY OF ART AND
ARCHITECTURE
José Luiz Mota Menezes
A VIEW FROM AFAR
I
n the faraway year of 1630, an unknown
painter on his way to the village took out his spyglass and
pencil to sketch the outline of Olinda. He traced the details of
the buildings: the windows, doors and rooftops, and especially the
silhouette it made against the sky with its scudding clouds. Time
passed, and he gave his sketches to another, who made them the
illustrations for a book.
Today, people approaching the town from the same direction catch
sight of the same line it makes against the horizon. The time may
be present, but the poetry of the forms surely affects the senses
in just the same way. This man-made beauty has withstood the
test of time, even if the town is no longer the same. What we
can tell from the passage of time is how this urban aesthetic has
blossomed in its unique, non-invasive appropriation of nature.
The town nestles under the skyline, hugging the gentle curves
of its hills. Curves and undulations that are so shapely they are
almost feminine, setting a standard for urban beauty. The houses
meander up the hills at the same easy pace as the people, with
these two ascending forces forging a single route towards the
blue that splashes the hilltops with color. The roads bend towards
each other, meet, greet each other, then go on their way. Every
hilltop, where each upward route should reach the heavens, is
topped with a church, monastery or a college of the former, longgone priests of the Company of Jesus. The town, like the village
it once was, is defended from unwelcome winds by the walled
religious establishments. They, and the power of faith, keep the
town free of any air- or sea-borne diseases. When one great wall
ends, another begins. The first is the Jesuits’, which soon makes
way for the walls of the Franciscan friars. From there, the city’s
defense is handed over to the Carmelites, who then pass it on to
the Benedictines. This is the last bulwark: a sturdy barrier in the
service of God and man. Sturdier than the reinforced clay or stone
walls. The roads bear the marks of the passage of so many people
over so many years. Overlapping dramas, solitude, trials and
tribulations. The poor on foot, the rich on their fine horses with
silver tack, the friars with their threadbare robes: all once shared
these roads. Along narrow, winding routes, processions have
wended their way. Today, the same streets play host to carnival,
with its acceptable sins, cleansed by the tears of the candles and
the slow progress of the litter-bearers with their afflicted saints
encumbered with requests of every kind.
The town can be seen from so many viewpoints and with the most
varied of aesthetic sensibilities. This is reassuring in one sense:
practically everyone acknowledges the value of the architecture but
cannot identify its different styles or forms. What they are struck by
as they observe Olinda is the scale of what has been built by the
hand of man, and the strength of the emotion they share as they
look at it. This instinct to take the place for oneself comes from
the eternal fruition of a beauty, where the name on everyone’s lips
changes from Olinda to linda (“beautiful”).
AN IRRATIONAL VIEW
The town as it stands today was not built all at once. It was
raised little by little. But hardly had it started to reveal its beauty
than a fire, in 1631, left it gray and dark. The white of the walls
was sullied and the beauty was consumed by the licking flames.
If we take an academic perspective, we start to see different
periods and styles in the town. By style, I mean an aesthetic
approach that results in a similar final interpretation of the
forms. Perhaps to start off with, everything was Mannerist. Then
Baroque became the order of the day. Looking at the town as a
whole, the scale of the houses seems incompatible with their
forms. Bending to our will to change, they have clad themselves
differently according to the times. Ages ago, they may have had
the same or a similar design based on Mannerist concepts. But
the prevailing trend that changed the appearance of the town
made some of them Baroque. And that’s when the muddle set in.
Different interpretations where everything reflects shifting tastes
and a desire for change. Indeed, the religious establishments
were also caught up in this. There were the Franciscan buildings,
whose scale was in keeping with the ways of the mendicant friars.
But they soon gained ground in the community and everything
inside the churches and monasteries became bathed in gold in
an exhibition of wealth that would strike shame into the hearts of
the guardians from St. Francis’s times. Then the Jesuits arrived in
great style. They borrowed the architecture of the church and the
monastery to erect an imposing building with forty windows for
Catedral da Sé - Igreja de São Salvador do Mundo ∙ F|11
but a handful of religious men. The Benedictine monastery in the
16th century, before the fire, was very modest, standing on top
of the hill that overlooks Varadouro. Of the original construction,
there remain a few parts shaped from carved stone used for a
small altarpiece. When the wars with the Flemish ended in 1654,
the power of faith and joy in the victory gained expression in a
monumental building. The irrational poverty of the destroyed mills
was transformed into the immodest gilt work of the interiors from
this time of celebration. In the 18th century, a fine new altarpiece
designed in Portugal was carved out of cedar by local artisans for
a new main chapel for the Benedictine priests, and everything was
gold and glory.
The layout of the town defies any idea that an irregular form
reveals an absence of reason. The organization of the roads and
squares shows how rational irregularity can be. But it is not an
irregularity born of spontaneity; quite the contrary. The act of
setting a route is a rational enterprise and a very unique logic
47
always presides whenever we harness our resolve to get from one
place to another more quickly and effectively. Olinda’s houses
are surrounded by a ring of roads. The circular shape begins at
Varadouro, goes past the plaza, along the sea front, until it reaches
Rocio, where it goes uphill towards the Franciscan monastery,
then towards São Salvador, and then heads down Misericórdia.
This steep hill leads down to Quatro Cantos, with its smattering of
shops, and then another hill to Ribeira marketplace. Alongside São
Pedro church, it turns towards the Benedictines, but when it gets
near the former palace it drops town to the old customs building
alongside the river harbor. And we are back at Varadouro. Nothing
could be more logical or more urban and modern for protecting
the town’s residential area. And inside this ring there are other
streets that follow the same rationale. From one place to another
they converge on certain points, like Quatro Cantos or in front of
São Salvador church, which forms the handsome, long Rua Nova
(“New Street”). New, because before it there was Rua Fontes,
which ran behind the town’s administrative building, which in
1676 became the Bishop’s Palace. All this culminated on the
hilltop occupied by São Salvador church, where, in his stronghold,
Duarte Coelho Pereira meted out the power granted him by the
crown. And from where the original landlord could see the sea
and dream of eternity. The dream involved the desire to embark
on the arduous voyage back to the Old World; a journey full of
fear, pain and hunger. There is poetry in Olinda. And everywhere,
in the rationality of its layout, the wealth of its architecture or the
simplicity of its design, it makes room for different, unique places,
creating alleys, cul-de-sacs and empty spaces in a concerto of
building-music in tune with the robust, forceful sounds of the
Baroque in a music of masonry. Beco das Cortesias (“Courtesy
Alley”), where pedestrians on their way down greet the people they
pass, leaving a fleeting sense of the dreams and joys of forever
living in a different, humane town. A town where New and Old
48
Christians first greeted each other, but soon afterwards, in 1593,
denounced each other in the presence of the Inquisitor. Dwelling
places that housed lesbians and men who liked other men, like
the one who lives near Largo da Misericórdia. A town of great sins,
of so many sins that a priest once said it could easily turn into the
heretical “Olanda” (“Holland”), as happened a few years later. But
Olinda did not become Olanda. It preferred the inferno of flames
and the ashes of agony. A town for all, built by the people, stone
by stone. The same stones, carried by rich and poor, that were
used to build the fine Jesuit church of Nossa Senhora da Graça.
History and art joined forces in the formation of this vibrant
town capable of molding the lives of its every resident. Living in
Olinda means leaving behind the cage-space of the apartment
and embracing the poetic spaces formed in the shadowy, old
bedchambers imbued with the sins of over five centuries.
Bedchambers and drawing rooms whose windows and doors let in
the lush landscape outside. The same lush wildlife and charming
buildings that caught the eye of a Belgian abbot who came to the
town to restore the Benedictine monastery in the 19th century.
This town, made of these buildings, created by a rural folk from an
agrarian Portugal that was cast into the shadows by its neighbors,
Castile and Aragon, smells and tastes of the earth. The same earth
that makes its houses’ front gardens, overlooked by their parlors,
where the womenfolk could enjoy a freedom denied them out-ofdoors. Freedom indoors, where their unique beauty overcame the
powerful menfolk and whose likeness was only imagined by others
outside. The houses were all designed in much the same way
because the society preserved a certain Muslim attitude towards
the family, women and children. Drawing room at the front,
hallway running from there with the bedchambers leading off it;
then the parlor for the harem to look out over the garden. A society
that turned ways of life into physical spaces and held true to that
philosophy for hundreds of years until it was imprinted on the old
town of Olinda.
A VIEW OF THE SACRED
The newcomers arrived in the distant year of 1535. They set
out how the land would be occupied and wrote a charter, and
then changed its wording and turned it into a letter of donation.
The first and perhaps the only document to transfer the power
constituted by the king to donate lands to a town’s residents and
their representatives, the chamber of the so-called good men of
colonial society. The religious men were given or bought their
lands. The Jesuits were already included in the division of lands,
and settled in 1551 on a strong headland overlooking the sea. The
Franciscans opportunely occupied land just beneath them, thanks
to the donation of the site by a pious widow whose husband had
been one of the first settlers there. They took over the existing
monastery building and extended it slightly. Towards the end of
the 1500’s, the Carmelites received a very small chapel dedicated
to the matchmaker saint, St. Anthony. Finally, the Benedictines
purchased and received some land overlooking Varadouro, where
rowing boats were mended. The Carmelites designed a huge
building for their monastery – they garnered the greatest prestige
– while the Benedictines settled for a simple monastery. All were
built in the prevailing Mannerist style. But there was one thing
that all these religious orders had in common: the landowners
and the people from Portugal all answered to the same ruler:
King Phillip II of Spain, for in the 16th century, by birthright,
the Spanish line ruled supreme. The Iberian Union oversaw
everything. At this time of Spanish rule, Olinda witnessed the
construction of its most important monuments, at least from the
perspective of the grandeur of their conception and dimensions.
Of the three largest – the Jesuits’ college, the monastery of Santo
Antônio do Carmo and São Salvador church – only one now hints
of the power of the Spanish crown: the house of the Carmelite
friars. As it had not been finished when the Dutch invaded, the
church, the remains of an ornamental stone facade, and the
construction method of the interior surrounded by chapels, all bear
the influence of Spanish architects. Indeed, there were very few
buildings in Portugal that could have made room for its facade.
All of which reveals the presence of non-Portuguese architecture
in lands that were also under Spanish rule at the time. Of those
interiors with their fine, sober details and altarpieces of gilded
stonework, there remain three altars: two in the Jesuit church and
one in the Carmelite church. These are the only surviving artworks
from so many that inspired the words of Baers, a minister who
accompanied the Dutch armada. He praised the interiors, which
could rival in ornateness any wine-soaked wedding banquet or
Em primeiro plano, Igreja do Convento de Santo Antônio do Carmo ∙ H|8
beast of burden adorned with decorative tack, in a land which
was flaunting the wealth of its agrarian economy, introduced to
the New World by the will of the original feudal landlord, Duarte
Coelho, the New Christians and their group of colonizers. After
the victory in 1654, everything in Olinda smelt charred. But
the commoners and the sugar barons channeled their faith into
the reconstruction of the religious establishments, maybe all
in the interest of earning a privileged place in heaven. A place
capable of saving this constituted power from its sins, drawn in
the requests for forgiveness on the tombstones. Olinda’s houses
had hardly been rebuilt when the church walls went up and
their roofs were replaced. And the new interiors were filled with
altars with golden altarpieces. Sugar, the driving force of the new
aristocracy, transformed everything with the most delicate of gold
leaf, decorating the fine carvings in cedar: faithful representatives
of a religion capable of expressing all the pomp and circumstance
of the Baroque. Like a new Egypt, Olinda was built for eternity.
49
An eternity also forged in the eternal contrast between the richest
and the most downtrodden in an unequal society – a contrast that
persists to this day.
Time passed with languid steps and Recife turned from a harbor
into a town, outgrowing its sister town. Olinda watched on from a
distance of six leagues. Its demarcated lands were gradually taken
over. And, reduced to the limited space around it, it survived with
its architectural and artistic forms, all in tune with the spirit of its
people. These very singularities described above and many others,
earning it the title of world heritage. A small bottle of perfume
whose scent has impregnated the world scene. And despite the
sometimes ill-advised interventions made today, there is still poetry
in the patina of its walls and the nooks of its houses and the
charm of its streets and terraces and squares. And the charm of
time only enhances this eternally beautiful town. Olinda: town of
dreams, sins and grandeur.
50
Vista aérea da colina histórica
Igreja de São João Batista dos Militares ∙ A|9
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Página ao lado, Igreja de São João Batista dos Militares ∙ A|9
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Olinda, une ville ravissante
Marcos Vinicios Vilaça
J
e suis étonné de l’amnésie volontaire en ce qui
concerne la reconnaissance de Olinda comme Patrimoine
Mondial, lors du jubilé d’argent de la date. Le risque de tout
cela de cheminer vers une grossière absence de mémoire me fait
peur et que nous soyons enfin arrivés à une telle noble distinction
quand le secrétaire de la Culture du MEC (Ministère de l’éducation
et de la culture), pernamboucain amoureux de sa terre et de ses
gens, qui a succédé au poste – sans la prétention de le remplacer
– à un autre pernamboucain dévot, Aloísio Magalhães, l’a suivi
dans le travail en faveur de Olinda, épopée de notre civisme et de
l’amour à la tradition.
La marche triomphale du grand idéal nous a tous animés. C’était
comme un défi secret d’affrontement commun. Personne n’a
manqué à sa contribution. Olinda, le peuple et les autorités; le
Pernambouc, les gouvernements de Marco Maciel et Roberto
Magalhâes, et tous les gens; le Brésil, ses ministres Eduardo
Portella, Rubem Ludwig, Esther Figueiredo Ferraz; le ministre des
relations extérieures, avec ses qualifications professionnelles –
talentueux, cultivés, patriotiques; les techniciens du secrétariat de
la culture; l’UNESCO, l’accueil de ses dirigeants et en aval de ses
spécialistes en divers savoirs.
La ressemblance de Ouro Preto, nous avions un héritage artistique,
paysagiste et historique. Olinda nous offrait une égalité de
conditions inquestionnables pour obtenir le même honneur.
L’âme pernamboucaine était incandescente dans le froid de
décembre 82 à Paris, pour participer à la victoire, lors de la
réunion plénière de l’UNESCO, défendant Olinda, au nom du
Brésil, après de longs mois de travail. Laissez moi vous dire.
Elle est venue avec un destin tout tracé: cela devait être sur la
spéculation à propos de son propre nom qui allait lui donner la
prédominance sur le complexe urbain.
Olinda est un doux enchantement, beau, musical, coloré. C’est
vivre plus; les vastes sensations, du haut de ses collines, voyant
au-devant, la mer et derrière, la terre. Marquée par le baroque,
nous voyons encore aujourd’hui ses vieux bénédictins, jésuites
et franciscains descendre les pentes qui sont les chemins de
l’histoire, fécondations de la vie.
Olinda est tout cela, les églises, les couvents, les écoles de droit, la
science, les gens qui habitent dans des maisons avec des portes
et des fenêtres, le bain de mer, les embarcations. Olinda multiple,
plurielle, offrant aussi à ceux qui la contemplent le magnifique
décor de ses maisons coloniales. Olinda de moines et de docteurs,
une Coimbra tropicale où a pris naissance la littérature brésilienne.
Olinda du geste romantique de Bernard Vieira de Mello. Olinda
du Capitão Temudo et aussi de la Pitombeira et de l’Elephant, de
l’Homme de Minuit et de la Femme du Jour, de Samico, de José
Cláudio, de Luiz Delgado, de Bajado, de Carlos Trevi.
Olinda, la belle, la jolie Olinda, la magnifique Olinda, sans
politisation de ses mérites, sans égratigner la vérité historique,
sans cultiver la médiocrité, sans perdre ses vertus conviviales.
Olinda doit assister à ses louanges prononcés à l’Assemblée par
le député Augusto Coutinho, fidèle au fait historique, fidèle aux
valeurs de Olinda, pernamboucain de Olinda.
J’AI VU ÇA.
Projetée à l’échelle mondiale parmi les villes les plus signifiantes
de la culture humaine, Olinda méritait bien sa distinction. Les
actes fondateurs ont gravi ses pentes, les grimpant par acte de
volonté. Les actes maintenant l’identité nationale continuent à être
annoncés du haut de ses crêtes, où ils ont définitivement obtenu
domicile. Sa leçon est une harmonie permanente entre l’art et la
tradition historique, entre le paysage maritime et la vie urbaine
imprégnée se monuments sacrés et profanes qui composent son
visage.
Diario de Pernambuco – Dimanche, 27 janvier 2008. Primeiro Caderno
– page 15.
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O’linda!
Tu portes bien ton nom...
Leonardo Dantas Silva
A
ux yeux de qui la contemple pour la
première fois, Olinda se révèle peuplée de rêves et
empreinte d’une clarté capable de blesser les rétines de
celui qui y arrive:
De limpeza e claridade
é a paisagem defronte.
Tão limpa que se dissolve
a linha do horizonte.
Carlos Pena Filho
Une vision de Olinda, au début du XVIIe siècle nous est donnée par
Ambrósio Fernandes Brandão, dans Dialogues des grandeurs du
Brésil (1618):
Dans la ville de Olinda habitent d’innombrables marchands avec
leurs boutiques ouvertes, remplies de marchandises de valeur,
de toutes sortes et en telle quantité qu’elle ressemble à une
petite Lisbonne. La digue de son port est tout à fait excellente,
gardée par deux forteresses bien pourvues en artillerie et en
soldats qui la défendent; les navires sont protégés à l’intérieur,
à l’abri de n’importe quel temps, même très furieux, parce
qu’il y a pour les protéger de très grands récifs ou les vagues
se brisent. On y trouve en permanence ancrés, à n’importe
quelle époque de l’année, plus de trente navires parce qu’il
en part, chaque année, de l’ordre de 120 navires chargés de
sucres, de bois de Pernambouc et de coton. La ville est assez
grande, remplie de nombreux bons bâtiments et de célèbres
temples parce qu’on y trouve ceux des Pères de la Compagnie
de Jésus [1551], des Pères de São Francisco et de L’Ordre
de la Capuche de Santo Antonio [1585], le Monastères des
Carmélites [1558] et le Monastère de São Bento [1592] avec
des religieux de ces mêmes ordres.
Dans la première moitié du XVIIe siècle, la richesse de la
capitainerie du Pernambouc, bien connue dans tous les ports
d’Europe, a éveillé la cupidité des Pays-Bas. La production de
121 usines de canne à sucre, en pleine activité, selon les dires de
Van der Dussen, allait réveiller la soif de richesse des directeurs
de la Compagnie qui a fretté une formidable escouade sous
le commandement de l’amiral Hendrick Corneliszoon Lonck.
Une grande armada avec 65 embarcations et 7 280 hommes
s’est présentée sur les côtes du Pernambouc le 14 février 1630
commençant ainsi l’histoire du Brésil hollandais.
Seigneurs de la terre, les hollandais ont choisi Récife comme siège
de leur domination du Brésil, parce qu’on y trouvait la sécurité
dont on ne disposait pas à Olinda.
La nuit du 25 novembre 1631, les chefs hollandais ont décidé de
mettre le feu à la capitainerie du Pernambouc, la pauvre ville de
Olinda si célèbre pour ses richesses et ses nobles édifices, ils ont
brûlé ces si fameux temples, et des maisons qui ont coûté tant de
milliers de cruzados pour les construire.
Les paysages et les coutumes de Olinda ont ainsi été décrites
par le frère manuel Calado: tout était délice et cette terre ne
ressemblait à rien d’autre qu’à un portrait du paradis sur terre.
Cependant, avec son paysage, tissé de rêves et de clarté, imprégné
des diverses tonalités de vert, dans les eaux de son océan, du bleu
et d’autres couleurs au crépuscule de son ciel, Olinda, au fil du
temps, fascine tous ceux qui la connaissent.
Sa vue du littoral, remplie de radeaux de pêcheurs et d’autres
types d’embarcations, a été une séduction pour ces voyageurs tout
au long des siècles et est, aujourd’hui, source de plaisir et de paix
pour le visiteur et pour ses propres habitants.
Lors d’une promenade à Olinda et ses alentours, en tant que
cicérone de l’écrivain portugais Ramalho Ortigão, en 1887,
Joaquim Nabuco décrit ainsi le paysage, dans un article publié
dans le journal O Paiz (Rio de Janeiro), à propos de la vue de la
terrasse de la Sé de Olinda:
[...] ce n’est pas une de ces vues de hauteurs, desquelles la
mer semble être si bas aux pieds du spectateur qu’elle en perd
le mouvement et la vie, semblant être un voile diaphane tendu
sur le fond vide de l’air, vues en profondeur qui donnent le
vertige et dans lesquelles la perspective est si éloignée comme
si nous regardions au travers de lunettes à l’envers. La vue de
Olinda est autre; c’est une vue en longueur, dans laquelle les
plans se succèdent les uns aux autres comme le développement
de la même sensation visuelle, de Olinda jusqu’à Récife, et plus
loin jusqu’à Cabo de Santo Agostinho.
Vista aérea da Catedral da Sé - Igreja de São Salvador do Mundo ∙ F|11, da Igreja de Nossa Senhora das Neves e Convento de São Francisco ∙ G|12
e da Igreja de Nossa Senhora da Graça e Seminário de Olinda ∙ F|12
Possédé de la fierté d’être pernamboucain, Joaquim Nabuco
insiste, avec son pouvoir d’observation perspicace:
Pour connaître un paysage, il ne suffit pas de le voir. Il
faut beaucoup plus, il faut que les deux âmes, celle du
contemplateur et celle du lieu, arrivent à s’entendre, et combien
de fois elles ne se parlent même pas ! Ce n’est pas à tous que
la nature raconte ses secrets et inspire son amour, mais même
avec les rares de qui elle a plaisir à faire battre le coeur, il faut
qu’ils s’approchent d’elle sans hâte de la quitter, avec du temps
pour l’écouter. Les voyageurs n’ont jamais cette disposition
d’esprit où il est possible d’établir le magnétisme du paysage sur
les sens, de fait sur le coeur. Heureusement, Ramalho Ortigão
est un appareil photographique instantané qui capte en une
seconde son objectif entier et il arrive qu’aujourd’hui les bons
appareils perçoivent et notent des ombres sur la peau qui ne
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se voient pas à l’oeil nu et qui servent à connaître l’infirmité
latente. Il n’aura pas senti les effluves de notre terre, et peutêtre faut-il être pernamboucain pour sentir ce qui peut n’avoir
de réalité et de sens que pour nous-mêmes, mais l’impression
que cela lui a causé notre Venise devra nous offrir une peinture
qui durera comme les gravures hollandaises du XVIIe siècle.
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Páginas 56 e 57, Igreja de São João Batista dos Militares ∙ A|9, Igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos de Olinda ∙ A|10
e Igreja de Nossa Senhora do Amparo ∙ B|9
LINDA – UNE BELLE MANIÈRE DE
CONSTRUIRE UNE HISTOIRE DE L’ART ET
DE L’ARCHITECTURE
José Luiz Mota Menezes
La longue perception du lieu
M
archant en direction de la ville,
un peintre inconnu, en cette lointaine année de 1630,
a pris son crayon et a défini le profil de Olinda,
utilisant sa longue vue. Il a noté chaque partie construite – les
fenêtres, les portes et toitures et, surtout, la silhouette qui coupait
alors le ciel de ses doux nuages. Après tout cela, y compris ses
sensations, il a tout repassé à un autre capable d’en produire
l’illustration d’un livre.
Une autre personne, allant aujourd’hui en direction du même
lieu, découpe avec la vue le profil qui marque la présence de la
ville à l’horizon à un autre moment. Le temps est présent, mais
la poésie des formes sensibilise peut-être de la même manière.
La construction du beau transite dans le temps. La ville n’est pas
la même. Ce que l’on perçoit dans ce long intervalle parcouru du
temps est une réalisation esthétique déterminante d’une singularité
moulée dans l’appropriation de la nature, sans qu’il n’y soit
marqué une forte rupture. La ville se couche à l’horizon et y trace
la douce courbe de ses collines. Courbes peut-être féminines par
leur sinuosité et par les contrecourbes qui définissent un modèle
du beau urbain. Les maisons grimpent les collines avec la même
fatigue que nous et, entre deux forces ascendantes, un même
parcours recherche le bleu qui couvre de couleur le lieu au-dessus
de la colline. Les rues sinuent à la recherche les unes des autres
et lorsqu’elles se rencontrent, se saluent et continuent. Marquant
chaque point surélevé, où en principe mènent ces pentes vers le
ciel, il y a églises, couvents et collèges des anciens pères disparus
de la Compagnie de Jésus. La ville, la vieille ville, se protège des
vents mauvais par les clôtures entourant les maisons des religieux.
Elles font en sorte, par la force de la religion, que les maladies
apportées par l’air et la mer ne s’approchent pas de la ville.
Chaque immense clôture se termine là où une autre commence.
On peut ainsi voir que tout commence avec celle des jésuites,
laissant aussitôt place à celle des frères de São Francisco. Et puis
celles-ci abandonnent la défense aux carmélites, qui repassent
enfin la vigilance aux bénédictins. Ceux-ci sont en charge du
dernier rempart. Un fort rideau au service de Dieu et des hommes.
Plus fort que les murailles de torchis ou de pierre. Les rues sont
marquées par les pas de tant de monde pendant tant de temps.
Une superposition de drames, solitude et luttes. Par de telles rues
ont couru et marché pauvres, riches avec leurs beaux chevaux aux
harnais d’argent ou des moines aux bures usées. Les processions
ont serpenté dans des rues étroites et sinueuses. Aujourd’hui,
le carnaval et ses possibles péchés y lave les pleurs des cierges
et la lente progression de marcheurs avec leurs saints souffrants
chargés de voeux les plus divers.
La ville est perçue par de nombreux yeux avec de grandes
sensations esthétiques variées. Un résultat nous réconforte:
pratiquement tous reconnaissent la valeur de l’architecture et
même y découvrent des styles ou des formes. Ce qui garde
la perception de la ville de Olinda est l’échelle de ce qui a été
construit par le talent humain et la forte identité de la même
émotion entre divers observateurs et la chose observée.
Le même geste de s’approprier le lieu appartient à l’éternité de
jouir d’une beauté où le nom passe pour chacun de Olinda à belle.
UNE PERCEPTION IRRATIONNELLE
La construction de la ville d’aujourd’hui ne s’est pas faite en une
fois. Elle a été édifiée lentement. Elle s’affirmait à peine comme
belle et un incendie, en 1631, l’a laissée grise et sombre. Le
blanc des murs est devenu sale et la beauté s’est consumée
dans les flammes de l’incendie. Assumant le regard de la culture
académique nous en venons à percevoir dans la ville époques et
styles. Style compris comme des modes similaires d’un procédé
esthétique dans le résultat de la lecture des formes. Peut-être qu’au
début, tout a été Maniériste. Ensuite elle s’est vêtue de Baroque.
Regardant la ville en général, l’échelle des édifications des
habitats confond le lecteur avec ses formes. Les maisons, selon
la volonté de changer des gens, changent d’habits et s’habillent
en conformité avec leur temps. Peut-être les habitations avaientelles il y a a bien longtemps un même dessin, ou semblable et
celle-là serait née Maniériste. Mais la mode qui est forte dans la
construction de la ville en a transformé certaines en baroques.
La confusion s’est alors installée. Une différence de lecture
où tout reflète des alternances dans le vouloir et le goût du
différent. Les maisons des religieux sont aussi passées par une telle
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humiliation. Celles des franciscains ont surgi à une échelle bien au
goût des frères mendiants. Ils ont bientôt gagné de la force dans la
communauté et tout á l’intérieur des églises et des couvents s’est
vêtu d’or, une richesse capable de provoquer la honte des gardiens
des vieux monuments de São Francisco. Les jésuites sont nés
grandioses et ainsi, au goût de l’église et du couvent, ils construisent
un énorme môle avec 40 fenêtres si peu religieuses. Le monastère
des bénédictins, en ce XVIe siècle si éloigné, avant l’incendie, était
bien petit et dominait le sommet de la colline qui surplombait le
Varadouro. De ses formes les plus anciennes ne restent que des
morceaux en pierre taillée destinée à un petit retable de l’autel.
Une fois finies les guerres contre les flamands, en 1654, la force
de la foi et la joie de la victoire se manifestent par une construction
monumentale. L’irrationnel de la pauvreté des plantations de canne
à sucre détruites se transforme en la misère dorée des intérieurs
de ce temple de commémoration. Un riche et beau retable dessiné
au Portugal est alors découpé dans le bois local en plein XVIIIe
siècle par des artistes locaux pour le nouveau presbytère des pères
de São Bento et tout se transforme en or et grandeur. Le destin de
cette ville met à terre l’idée d’un tracé irrégulier comme moyen
de définir de l’absence de raison. Le plan des rues et des places
nous montre la rationalité de l’irrégulier. Un irrégulier non pas
issu de la spontanéité. Cela n’existe pas. Le fait de marquer un
chemin est plein de raison et une logique singulière nous guide
toujours dans la certitude de vouloir aller plus vite et mieux d’un
endroit à un autre. Les maisons de Olinda sont entourées par un
anneau formé par des rues et ce format commence au Varadouro,
passe au large du Salgado, devant la mer et arrive au Rocio d’où
il gravit une colline en direction du couvent des franciscains et
continue vers la matrice. Puis il prend le chemin de la Misericórdia
et là, dans cette pente raide, il descend vers les Quatro Cantos
des commerçants. A partir de là, il prend une autre pente, va
à la Ribeira et à côté de l’église de São Pedro il se détourne en
direction du bâtiment des pères de São Bento et, bien près de
l’ancien Palace, il descend vers l’ancienne Douane sur le trottoir du
port fluvial. Nous sommes de nouveau au Varadouro. Rien de plus
rationnel et où de manière urbaine et moderne se fait la protection
des habitations. A l’intérieur d’un tel anneau, d’autres rues sont
tracées selon une même matérialité rationnelle. De place en place,
déterminants des points chauds, comme celui des commerçants
des Quatro Cantos ou d’autres semblables à celui créé en face de
la Matriz de Salvador, formant la belle et longue rue fermée Rua
Nova. Nouvelle parce qu’avant il y avait celles des Fontes, la plus
ancienne, passant derrière la Chambre transformée en Palais des
évêques de la ville en 1676. Tout cela prend son sens depuis le
haut de la Matriz où, dans sa tout, le Donatário transmettait le
pouvoir royal. Un piédestal d’où l’on pouvait voir la mer et où l’on
rêvait de l’infini. Dans cette rêverie se ressentait une envie de vivre
le dur moment du retour sur les eaux vers le Vieux monde, un
voyage plein de peur, de douleur et de faim. La poésie fait Olinda.
La raison du tracé et la richesse des habitations sont partout, dans
la simplicité de leur dessin, construisant des espaces différents
et inégaux, créant des passages, des ruelles et des espaces vides
en un concert comme une comédie musicale édifiée et fidèle aux
amples sons puissants de la forme baroque de composer une
musique de pierre et de chaux. Ruelle des Cortesias. Là où qui
descend salue qui passe et rapidement, tous deux laissent derrière
eux rêves et joies de vivre éternellement dans une ville différente
et humaine. Une ville où les nouveaux chrétiens et les anciens se
saluaient et un peu plus tard, en 1593, allaient se dénoncer au
visiteur du Saint Office. Habitations qui abritaient des lesbiennes
et des hommes qui en aiment d’autres, dont un résident à
proximité du Largo da Misericórdia. Ville de grands péchés, si
bien qu’un prêtre a dit à voix haute et tonitruante qu’on pourrait
la nommer Olanda des hérétiques, ce qui a eu lieu peu de temps
après. Mais Olinda n’est pas devenue Olanda. Elle a préféré les
flammes de l’enfer et les cendres de l’agonie. Une ville pour tous,
construite par eux, pierre après pierre. Ces mêmes pierres qui ont
aidé, portées par riches et pauvres, à la construction de la belle
église de Nossa Senhora da Graça, celle des jésuites.
Histoire et art se compactent dans la formation d’un espace urbain
plein de vie et capable de modifier le mode de vie de chaque
habitant. Vivre à Olinda est abandonner l’espace-cage défini par
un appartement pour embrasser des espaces poétiques créés dans
de sombres et vieilles alcôves, chargées de péchés de plus de cinq
siècles. Alcôves et salles où le paysage pénètre par des moulures
qui construisent des vides, fenêtres et portes ouvertes sur le
paysage luxuriant tout autour. Nature exubérante et constructions
enchanteresses d’un abbé belge venu dans la ville pour restaurer le
monastère des bénédictins au XIXe siècle.
Une ville formée de tels édifices, créée par des gens telluriques
venus d’un Portugal agraire et pas aussi glorieux que les voisines
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Castille et Aragon, a la saveur et l’odeur de la terre. La même terre
qui recouvre les cours, situées devant les salles de séjour des
habitations. Salles dans lesquelles les femmes vivaient la liberté
que l’on disait inexistante au-dehors. Liberté au-dedans, ou la
beauté de chacune dominait ces messieurs si forts dont l’image
avait été construite par les autres au-dehors, dans la rue. Le dessin
des rues suivait le même tracé, cela à cause d’une société qui
garantissait un certain air musulman dans le regard sur la famille,
la femme, les enfants. Salle devant, couloir bordant les alcôves et
salle de séjour, le lieu du harem devant cette cour. Une société qui
a transformé les manières de vivre en espaces et les a maintenus
fidèles à une telle philosophie pendant de nombreux siècles et elle
est arrivée moulée de cette forme dans la vieille Olinda.
LA PERCEPTION DE L’ESPACE SACRE
Ils sont arrivés dans un nouveau lieu en cette année distante de
1535. Ils ont tracé le système d’occupation du sol et ont écrit
un Foral et ont modifié la rédaction, le transformant de Foral en
Carta de doação. Un premier et peut-être seul document dans
lequel le pouvoir constitué par le roi a concédé le droit de donner
les terres et les habitations aux représentants de ces mêmes
gens, la Chambre dite des hommes bons de la société coloniale.
Les hommes de la religion ont reçu ou acheté leurs lieux. Les
jésuites ont reçu du Donatario lui-même une haute pointe de terre
surplombant la mer et s’y sont installés en 1551. Les franciscains
se sont installés immédiatement au-dessous, une manière
singulière, le lieu leur ayant été donné par une veuve religieuse
qui avait été mariée à l’un des premiers habitants. Ils ont trouvé
un couvent déjà fait et l’ont agrandi, mais pas tellement. Ceux
de Nossa Senhora do Carmo, à la fin du premier siècle, ont reçu
un très petit ermitage dédiée au saint du mariage Santo Antonio.
Les bénédictins, en dernier lieu, ont acheté et reçu des terres en
surplomb du Varadour, là où se réparaient les bateaux. Ceux du
Carmo ont projeté un immense couvent. Ils avaient goût pour le
prestige. Les bénédictins se sont contentés d’un simple monastère.
Tous construits selon le goût maniériste dominant. Une singularité
unit ces maisons religieuses: les gens « de la terre » et ceux du
Portugal étaient sujets d’un même souverain, un espagnol de la
ligne royale des Filipes. C’étaient tous des gens, en ce lointain
XVIe siècle, espagnole par lignée généalogique déterminée par les
cours. L’union des couronnes régnait sur tous. En cette époque
de domination espagnole, Olinda a vu la construction de ses
monuments les plus importants, considérés selon la grandeur de
leur création. Parmi les trois plus grands, la maison des jésuites,
le couvent de Santo Antonio do Carmo et la Matriz do Salvador,
seul un dénonce encore aujourd’hui dans ses lignes la présence
de ce pouvoir royal de l’Espagne – la maison des frères carmélites.
Inachevée en raison de l’invasion des hollandais, elle conserve
de cette époque, dans son église et sur les vestiges d’une façade
à retable à laquelle s’ajoute la forme constructive de l’intérieur
entouré de chapelles, une influence des architectes de cette
Espagne. Une façade à retable peut être inclue dans le corpus
des rares construites au Portugal. Une contrefaçon qui n’a pas été
complétée de la même manière, mais révélatrice d’une architecture
non lusitanienne sur des terres qui, forcément, étaient à l’Espagne
à cette époque-là. De ces intérieurs aux décorations riches et
sobres, visibles sur ses monumentaux retables dorés, restent
trois autels, deux dans l’église des jésuites et une dans celle
des frères du Carmo. Ce sont de oeuvres d’art qui disparaissent
et matérialisent la déclaration d’un révérend appel Baers, venu
avec l’armée de l’invasion hollandaise. Ce religieux fait l’éloge
de la richesse de ces intérieurs, rivaux des banquets arrosés de
vins de mariage et des animaux chargés de harnais et autres
harnachements sur une terre où les gens vivaient la splendeur de
la nouvelle économie agraire installée dans le Nouveau Monde
par la volonté du vieux Donatário Duarte Coelho et des Nouveaux
chrétiens de son entourage colonial. Après la victoire de 1654,
tout à Olinda sentait encore le brûlé. Cependant, la religiosité
des gens du peuple et de la noblesse du sucre s’exprimait dans
la volonté de reconstruire les maisons pour la religion, tout cela
peut-être dans l’espoir d’obtenir une place privilégiée au ciel.
Lieu capable de sauver tel pouvoir constitué de ses péchés
dessinés dans le pardon des pierres tombales. Les habitations de
Olinda étaient à peine reconstruites que les églises s’érigeaient
et refaisaient leurs toitures. Et les intérieurs ainsi définis se
couvraient de nouveaux autels avec leurs retables dorés. Le sucre,
constructeur d’une nouvelle aristocratie, transformait tout avec les
très fines feuilles d’or qui revêtaient de belles sculptures coupées
dans le bois local, fidèles représentantes d’une religion capable
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d’exprimer la pompe et le faste du baroque. Comme une nouvelle
Egypte, Olinda a construit pour l’éternité. Une éternité également
forgée dans l’éternelle différence entre les plus riches et les plus
démunis d’une société inégale qui continue de nos jours.
Le temps a passé lentement et Récife, qui de port s’est transformé
en ville, a beaucoup grandi. Olinda a regardé cela de loin. Ses
terres initiales ont été prises. Et, réduite à un petit espace tout
autour, elle a survécu avec ses formes architecturales, son art
et tout cela selon la manière d’être de ses habitants. Les mêmes
singularités décrites et d’autres qui lui ont valu d’obtenir le titre de
Ville monument et de Monument Mondial. Un petit flacon dont
le parfum marque sa présence sur la scène mondiale. Malgré
les interventions, pas toujours bonnes, de nos jours, on y trouve
la poésie sur la patine des murs et dans les pleins et vides des
habitations et dans l’enchantement des rues. L’enchantement
du temps s’ajoute à celui de la ville toujours belle. Olinda, ville
couverte de rêves, péchés et grandeur.
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OLINDA POÉTICA
Edson Nery da Fonseca
Poetic Olinda
OLINDA POETIQUE
Q
uando passo pelo bairro recifence de
Santo Amaro e vejo aqueles pequenos barcos ao pé da
ponte do Limoeiro, lembro-me de minha avó materna,
que morava onde é hoje a Casa do Marinheiro. Fiel à sua origem
inglesa, ela educou os filhos de acordo com o preceito latino
mens sana in corpore sano. Todos aprenderam a remar e subiam
o rio Beberibe de barco até Olinda. Minha mãe e meu pai se
conheceram na praia dos Milagres. Por isso eu a ouvia dizer de cor
este poema de um dos primeiros livros de Adelmar Tavares (18881963):
W
hen I pass through the neighborhood
known as Santo Amaro and see those little boats
around the Limoeiro Bridge, I remember my
maternal grandmother who lived where the Casa do Marinheiro
(Sailor’s House) is today. Always faithful to her Engish origins,
she raised her children according to the Latin precept mens sana
in corpore sano. So we all learned to row and used to go up the
Beberibe River towards Olinda by boat. My parents met on the
beach at Milagres. This must be why Mother often quoted this
poem from one of the first books by Adelmar Tavares (18881963), which she knew by heart.
Q
uand je passe dans le quartier
de Santo Amaro et que je vois ces petits bateaux au
pied du pont du Limoeiro, je me rappelle ma grandmère maternelle qui habitait où se trouve aujourd’hui la Maison du
Marin. Fidèle à son origine anglaise, elle a élevé ses enfants selon
le précepte latin mens sana in corpore sano. Tous ont appris à
ramer et remontaient le fleuve Beberibe en barque jusqu’à Olinda.
Ma mère et mon père se sont connus sur la plage des Miracles.
C’est pour cela que j’écoutais réciter par coeur ce poème de l’un
des premiers livres de Adelmar Tavares (1888-1963):
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A PRAIA DE Milagres
Ao pôr do sol...
Aquela praia linda,
de “Milagres” plantada à beira-mar de Olinda,
ao pôr do sol, é como um sonho que se esfuma...
Como um lençol de bruma
estendido às alvíssimas areias,
Ninho branco de ninfas e sereias.
Fica entre coqueirais a igreja pequenina,
alva, como uma lágrima do céu!
como uma noiva, de capela e véu,
que estivesse a esperar
o noivo que se foi para não mais voltar!
Pelas tardes serenas,
em surdina,
passa um rumor de penas.
São elas, – são as tristes andorinhas,
que vão falar de amores marinheiros,
e de fadas marinhas,
aninhadas às folhas dos coqueiros...
O sino tange... O som do sino é como um ai,
que pela praia vai,
a se perder... Do alto da tarde desce...
qualquer cousa de prece...
– São as Ave-Marias,
É a canção vesperal dos jangadeiros,
que levaram assim dias inteiros
de pescarias...
Minha história de amor ficou também contigo,
branco recanto amigo!
Na água do mar, na luz do sol, na voz do vento
hás de sentir que está meu pensamento!
Ninguém te entende mais do que a minha alma
que em sonhos, noite calma,
como um fantasma errante,
vai te beijar distante...
Agora, és muito linda,
alva praia de Olinda,
coalhado todo o mar de vigas e batéis...
– Mar que escravo de ti, vem te beijar os pés.
– Milagres, que é que têm teus coqueirais sombrios?
Que estranhas emoções, ao pôr do sol revelas!
Quanta esperança vem no fumo dos navios!...
Quanta saudade vai no côncavo das velas!...
64
Infelizmente, o mar que outrora beijava a areia como um
escravo, destruiu quase toda a praia dos Milagres, deixando
respeitosamente a igrejinha, comparada pelo poeta a “uma lágrima
do céu” e como “uma noiva de capela e véu”.
Em 1887, o grande escritor português Ramalho Ortigão visitou
Olinda tendo Joaquim Nabuco como guia. Referindo-se a essa
visita, o grande abolicionista pernambucano escreveu no jornal
carioca O Paiz que “desde Olinda até ao Recife, e mais longe, até
o cabo de Santo Agostinho, o olhar não precisa mover-se para
apanhar a totalidade do cenário que se prolonga à beira-mar,
salpicado das velas brancas de jangadas, penas destacadas das
grandes asas da coragem, do sacrifício e também da necessidade
humana. O que faz a grande beleza deste nosso torrão
pernambucano é, em primeiro lugar, o seu céu, que muda a cada
instante, leve, puro, suave, onde as nuvens parecem ter asas, e
que não é o mesmo um minuto; e depois, o nosso mar, verde,
Unfortunately that very sea which in former times kissed the sand
like a slave also destroyed the beach at Milagres, leaving only the
little church, which the poet compared to “a tear from the sky” and
“a bride with diadem and veil”.
In 1887, the well-known Portuguese writer, Ramalho Ortigão,
visited Olinda with Joaquim Nabuco as his guide. Reporting
on this visit, the great Pernambucan abolitionist wrote in the
newspaper in Rio de Janeiro O Paiz: “from Olinda to Recife and
further down the coast to the Cape of Santo Agostinho, the gaze
need not wander far to take in the whole of the landscape along
the shore, peppered with the white sails of the jangadas [ittle
fishing rafts made from balsa], detached feathers from the great
wings of courage, of self and sometimes even bodily sacrifice
to an angry sea. What constitutes the great beauty of our native
Pernambuco is, in the first place, its smooth, pure and bright sky
Malheureusement, la mer qui embrassait autrefois le sable comme
une esclave a détruit presque toute la plage des Miracles, laissant
respectueusement la petite église, comparée par le poète à “une
larme du ciel” et comme “une fiancée voilée”.
En 1887, le grand écrivain portugais Ramalho Ortigão a visité
Olinda en ayant pour guide Joaquim Nabuco. Se référant à
cette visite, le grand abolitionniste pernambucain a écrit dans
le journal de Rio de Janeiro O Paiz: “de Olinda à Recife, et plus
loin jusqu’au Cabo de Santo Agostino, le regard n’a pas besoin
de se déplacer pour capter la totalité du décor qui s’étend au
bord de mer, parsemé des voiles blanches des radeaux, superbes
plumes des grandes ailes du courage, du sacrifice et aussi de la
nécessité humaine. Ce qui donne cette grande beauté à notre
colline pernamboucaine est, en premier lieu, son ciel qui change
à chaque instant, léger, pur, doux, où les nuages semblent avoir
des ailes et qui n’est plus le même en une minute; ensuite, notre
vibrátil e luminoso, as nossas areias tépidas e cobertas de relva, os
nossos coqueiros, que se erguem desde o soco até o espanador de
um brilho metálico e dourado, com que parecem ao longe sacudir
as nuvens brancas, as jaqueiras e mangueiras, cuja sombra
rendada é um oásis de frescura e abundância”.
Em seu livro Olinda: 2º Guia prático, histórico e sentimental de
cidade brasileira – cuja primeira edição para bibliófilos apareceu
em 1939 – Gilberto Freyre lamentou que “nunca nenhum poeta
brasileiro dos grandes cantou Olinda, como Manuel Bandeira o
Recife, como Mário de Andrade, Belo Horizonte”. Freyre ignorava
que, em 1925, o então quase desconhecido Joaquim Cardozo
(1897-1978) escrevera este belíssimo poema, somente conhecido
com a publicação, em 1971, de suas Poesias Completas.
which is constantly changing, where the clouds seem to have
wings and are not the same from minute to minute; then there is
the shining, vibrant, green sea, warm sands covered with grass,
coconut palms, rising from plinth to tuft shining bright and metallic
and looking from far away as though they are brushing the white
clouds, jackfruit and mango trees, whose lacy shade provides a
cool and abundant oasis”.
In his book, Olinda: a second practical, historical and sentimental
guide to a brazilian city, whose first edition for bibliophiles
appeared in 1939, Gilberto Freyre deplored the fact that “No great
Brazilian poet has sung the praises of Olinda as Manuel Bandeira
has of Recife or Mário de Andrade of Belo Horizonte.” Freyre didn’t
know that in 1925, the hither unknown Joaquim Cardozo (18971978) had written this lovely poem which was only published in
1971, in his Poesias Completas.
mer, verte, vibrante et lumineuse, nos sables tièdes couverts
d’herbes, nos cocotiers qui se dressent de la racine à la tête avec
une brillance métallique et dorée, et qui paraissent secouer au
loin les nuages blancs, les jacquiers et les manguiers dont l’ombre
dentelée est une oasis de fraîcheur et d’abondance.”
Dans son livre Olinda: 2e Guide pratique, historique et
sentimental de la ville brésilienne – dont la première édition pour
les bibliophiles a paru en 1939 – Gilberto Freyre s’est plaint que
”jamais aucun des grands poètes brésiliens n’ait loué Olinda,
comme Manuel Bandeira avec Récife, comme Mario de Andrade
avec Belo Horizonte”. Freyre ignorait qu’en 1925, Joaquim
Cardozo (1897-1978), qui était alors pratiquement inconnu, avait
écrit ce très beau poème, seulement connu lors de la publication,
en 1971, de ses Poésies complètes.
65
É também de 1925 o poema “Recordações de Tramataia”, no qual
Joaquim Cardozo faz esta impressionante confissão:
Olinda
Olinda,
Das perspectivas estranhas,
Dos imprevistos horizontes,
Das ladeiras, dos conventos e do mar.
Olho as palmeiras do velho seminário,
O horto dos jesuítas;
E neste mar distante e verde, neste mar
Numeroso e longo
Ainda vejo as caravelas...
Sábio silêncio do Observatório
Quando à noite as estrelas passam sobre Olinda.
Muros que brincam de esconder nas moitas,
Calçadas que descem cascateando nas ladeiras.
It was also in 1925 that in the poem, “Recordações da Tramataia”
(“Memories of Tramataia”) Joaquim Cardozo makes this startling
confession:
Olinda,
Quando o luxo, o esplendor, o incêndio
E os Capitães-mores e os jesuítas
E os Bispos e os Doutores em Cânones de Leis.
E ainda
Com as velhas bicas, os velhos pátios das igrejas:
Amparo, Misericórdia, S. João, S. Pedro,
Nossa Senhora de Guadalupe;
E os Beneditinos e as irmãs Dorotéias
E os padres de S. Francisco.
Neste silêncio, neste grande silêncio,
No terraço da Sé,
Sentindo a tarde vir do mar, tão doce e religiosa,
Como a alma celestial de S. Francisco de Assis.
Egalement, en 1925, le poème “Recordações de Tramataia”, dans
lequel Joaquim Cardozo nous fait cette impressionnant aveu:
66
Certamente inspirado pelo guia de Gilberto Freyre, o poeta Carlos
Pena Filho (1930-1962) – que morreu jovem como Castro Alves,
Gonçalves Dias e Casimiro de Abreu – a ele dedicou este poema
que quase todo olindense sabe de cor e só apareceu no póstumo
Livro Geral de 1969:
Se eu morresse agora,
Se eu morresse precisamente
Neste momento,
Duas boas lembranças levaria:
A visão do mar do alto da Misericórdia de Olinda ao
[nascer do verão
E a saudade de Josefa,
A pequena namorada do meu amigo de Tramataia.
Surely inspired by Gilberto Freyre’s guidebook, the poet Carlos
Pena Filho (1930-1962), who died a young man just as the
other poets Castro Alves, Gonçaves Dias and Casimiro de Abreu
had, dedicated the following poem to Freyre, a poem which
every resident of the Olinda knows by heat, but which was only
published posthumously, in 1969.
Certainement inspiré par le guide de Gilberto Freyre, le poète
Carlos Pena Filho (1930-1962) – qui est mort jeune comme
Castro Alves, Gonçalves Dias et Casimiro de Abreu – lui a dédié ce
poème que presque tous les natifs de Olinda connaissent par coeur
et qui n’a paru que dans un livre posthume de 1969:
67
Olinda
Do alto do mosteiro, um frade a vê
A Gilberto Freyre
De limpeza e claridade
é a paisagem defronte.
Tão limpa que se dissolve
a linha do horizonte.
Lembre-se ainda que Jaci Bezerra – grande poeta alagoano
radicado no Recife – publicou em 1982 seus poemas olindenses
no Livro de Olinda, reeditado em 1997.
O próprio livro de Gilberto Freyre é um ensaio do qual foram
desentranhados vários poemas por Manuel Bandeira, Mauro Mota,
Ledo Ivo, Thiago de Mello e César Leal. Estão todos no livro Talvez
poesia (1962). Prefaciando esse livro, Mauro Mota reproduz o
melhor de todos os poemas, desentranhado por César Leal:
As paisagens muito claras
não são paisagens, são lentes.
São Íris, sol, aguaverde
ou claridade somente.
Olinda é só para os olhos,
não se apalpa, é só desejo.
Ninguém diz: é lá que eu moro.
Diz somente: é lá que eu vejo.
Another great poet, Jaci Bezerra, a famous poet from Alagoas who
settled in Recife, published a series of poems about Olinda, Livro
de Olinda, in 1882, which was republished in 1997.
Tem verdágua e não se sabe,
a não ser quando se sai.
Não porque antes se visse
mas porque não se vê mais.
Gilberto Freyre’s work also included poems by Manuel Bandeira,
Mauro Mota, Ledo Ivo, Thiago de Mello and César Leal. They
can all be found in the book Talvez poesia (1962). In the preface
to this book, Mauro Mota cites one of the best of these poems,
written by César Leal:
As claras paisagens dormem
no olhar, quando em existência.
Diluídas, evaporadas,
só se reúnem na ausência.
Limpeza tal só imagino
que possa haver nas vivendas.
Das aves, nas áreas altas,
muito além do além das lendas.
Os acidentes, na luz,
não são, existem por ela.
Não há nem pontos ao menos,
nem há mar, nem céu, nem velas.
Quando a luz é muito intensa
é quando mais frágil é:
planície, que de tão plana
parecesse em pé.
On se souvient également que Jaci Bezerra – grand poète de
l’Alagoas habitant à Récife – a publié en 1982 ses poèmes sur
Olinda dans le Livre de Olinda, réédité en 1997.
Le livre de Gilberto Freyre, lui-même, est un essai duquel ont été
tirés plusieurs poèmes de Manuel Bandeira, Mauro Mota, Ledo
Ivo, Thiago de Mello et César Leal. Ils se trouvent tous dans le livre
Talvez poesia (1962). Préfaçant ce livre, Mauro Mota reproduit le
meilleur de tous les poèmes venu de César Leal:
68
Poetas estrangeiros também se apaixonaram por Olinda. Cito como
exemplo o mexicano Carlos Pellicer (1897-1977). Ivo Barroso
traduziu este poema de seu livro de 1924 Pedra de sacrifícios:
Praias com brancas areias
reclinadas sobre o mar,
águas verdes, verdes montes
com seus cumes dentro do ar.
Torre de Duarte Coelho
fundida no monte maior,
mas ainda há sete montes
de escalas em tom menor;
das quatro praias de Olinda
Milagres é a primeira;
ao note, há mais três ainda:
Carmo, Farol e a terceira
A number of foreign poets also fell in love with Olinda. An example
is the Mexican Carlos Pellicer (1897-1977). Ivo Barroso translated
this poem from his book of 1924, Pedra de sacrifícios:
que chamam de São Francisco
com seu hábito de areia,
eternamente tão limpa,
seja a maré baixa ou cheia.
Olinda é pois esta soma
de coisas que não têm fim:
mulheres quase divinas,
praias de montes assim.
Des poètes étrangers sont aussi tombés amoureux de Olinda.
Citons comme exemple le mexicain Carlos Pellicer (1897-1977).
Ivo Barroso a traduit ce poème de son livre de 1924 Pedra de
sacrifícios:
69
Canção de Olinda,
canção!
Canção de palmeiras nas colinas
e da colina junto ao coração.
Canção de Olinda
cantada ao som
da cintilação da água verde,
jardim de sol.
Olinda, a brasileira
blasonada e linda
que atou no penacho de suas palmeiras
jogos de faixas
e é a mais linda.
Canção de Olinda,
canção
de palmeiras sobre a colina
junto ao coração.
Não foram apenas poetas conquistados por Olinda. Gilberto
Freyre dedica seu guia ao naturalista alemão Konrad Günter,
que foi hóspede por quase um ano dos Beneditinos de Olinda.
Professor da Universidade de Freiburg, ele escreveu em seu livro
Das antlitz brasiliens – publicado em Londres com o título A
naturalist in Brazil – que jamais esqueceria da luz de Olinda, que
mudava muitas vezes de cor durante o dia, fazendo a água do mar
assemelhar-se a “uma irradiação de éter”.
Outro estrangeiro apaixonado pela luz de Olinda foi o inglês
Sacheverell Sitwell (1897-1988). Irmão dos poetas Edith e Osbert
Sitwell, Sacheverell era historiador da arte. Em seu livro Southern
baroque revisited, publicado em 1967, ele conta como ficou
deslumbrado com o pôr do sol olindense, chegando ao ponto de
confessar que gostaria de ficar para sempre em Olinda: “it was
there, had one the choice, that one would to live in Brazil”.
Nor were just poets enchanted by Olinda. Gilberto Freyre dedicated
his guide to the German naturalist Konrad Günter, who lived for
almost a year in the Benedictine Monastery in Olinda. Professor
at the University of Freiburg, he wrote in his book Das antlitz
brasiliens, published in London under the title of A naturalist in
Brazil, that he would never forget the light in Olinda, which would
change color during the day, causing the sea to appear as an
“etherial irradiation”.
Another foreigner impassioned by the light of Olinda was the
Englishman Sacheverell Sitwell (1897-1988). Brother of poets
Edith and Osbert Sitwell, Sacheverell was an art historian. In his
book Southern baroque revisited, published in 1967, he tells of
how he became fascinated by the sunsets in Olinda, confessing
that he would like to stay forever in Olinda: “it was there, had one
the choice, that one would to live in Brazil”.
Ce ne sont pas que des poètes qui ont été conquis par Olinda.
Gilberto Freyre a dédié son guide au naturaliste allemand Konrad
Günter, qui a été hébergé pendant presque un an chez les
bénédictins de Olinda. Professeur de l’université de Fribourg, il a
écrit dans son livre Das antlitz brasiliens – publié à Londres sous
le titre A naturalist in Brazil – qu’il n’oublierait jamais la lumière de
Olinda qui changeait de couleur pendant la journée, faisant que la
mer ressemble à une “irradiation d’éther”.
Un autre étranger amoureux de la lumière de Olinda a été l’anglais
Sacheverell Sitwell (1897-1988). Frère ses poètes Edith et Osbert
Sitwell, Sacheverell était historien de l’art. Dans son livre Southern
baroque revisited, publié en 1967, il raconte comment il a été
émerveillé par le coucher de soleil à Olinda, en arrivant au point
d’avouer qu’il aimerait rester au Brésil pour toujours: “it was there,
had one the choice, that one would to live in Brazil”.
70
Minha condição de oblato – “oblato fescenino”, como fui
denominado pelo meu querido Clênio Sierra de Alcântara, num
artigo carinhoso que ele dedicou a mim por ocasião do meu
octogésimo aniversário – me ligou – me liga – de modo visceral
a Olinda, porque é olhando diariamente para o Mosteiro de São
Bento ou ouvindo o badalar dos seus sinos, que encontro a paz
interior tão necessária para que eu suporte resignado os achaques
da velhice.
qualquer folga para ir às praias do Rio de Janeiro, quando não
para as do meu Pernambuco. Eu mirava aquela imensidão por
vezes esmeraldina, recordando a crônica-poética “Banho de
mar”, na qual Clarice Lispector dizia: “Nunca fui tão feliz quanto
naquelas temporadas de banhos em Olinda”.
Assim como, em certa época, Gilberto Freyre conseguia avistar
o rio Capibaribe da sacada de sua Vivenda de Santo Antônio de
Apipucos, houve um tempo em que eu avistava o mar de Olinda
do quintal de minha casa. Mas as árvores cresceram tanto.
Eu mirava esse mar – que tinha e tem qualquer coisa do poema
“El Contemplado”, do Pedro Salinas – pensando nos tempos
em que, funcionário público lotado em Brasília, eu aproveitava
My situation as an oblate – a “scurrilous oblate” as I was called by
my old friend Clênio Sierra de Alcântara, in a charming article he
dedicated to me on the occasion of my eightieth birthday – linked
me, continues to link me – in a visceral way to Olinda. Looking
down towards the Monastery of St. Benedict, or listening to the
clamor of its bells fills me with an interior peace essential to put up
with the problems of old age.
beaches there when there wasn’t enough time to get back to my
Pernambuco. I would look at that vastness, sometimes emerald
green, and remember the story poem “Banho de mar”, where
Clarice Lispector says:”I was never so happy as during those times
at the seaside in Olinda.”
Similar to, at another time, Gilberto Freyre could look down on the
Capibaribe River from the porch of his home in Apipucos, there
was a time when I could see the ocean bordering Olinda from the
backyard of my home. But the trees have grown so tall….
I looked down on this sea – which had and still has something
of the poem, “El Contemplado” by Pedro Salinas – remembering
the time when I was a government employee living in Brazilia
and used every opportunity to get down to Rio de Janeiro and the
Ma condition d’oblat – un « oblat licencieux » comme le dit mon
très cher Clênio Sierra de Alcântara dans l’affectueux article qu’il
m’a dédié à l’occasion de l’anniversaire de mes quatre-vingts ans
– me reliait – me relie – de manière viscérale à Olinda, car c’est en
regardant chaque jour le monastère de São Bento ou en écoutant
le tintement de ses cloches que je trouve la paix intérieure qui
m’est nécessaire pour supporter avec résignation les maux de la
vieillesse.
Tout comme, à une certaine époque, Gilberto Freyre pouvait
apercevoir le fleuve Capibaribe depuis le balcon de sa villa de
Santo Antônio de Apipucos, il y eut un temps où j’apercevais la
mer d’Olinda depuis le jardin de ma demeure. Mais les arbres ont
tellement grandi.
Je contemplais cette mer – qui avait et garde toujours je ne sais
quoi du poème « El Contemplado » de Pedro Salinas – en me
souvenant du temps où, fonctionnaire muté à Brasilia, je profitais
de la moindre période de repos pour m’en aller vers les plages
de Rio de Janeiro, quand ce n’était vers celles de mon cher
Pernambouc. Je contemplais cet infini où chatoyaient parfois des
tons émeraude, en me remémorant la chronique poétique « Banho
de mar » [Bain de mer] de Clarice Lispector, où elle dit: « Je n’ai
jamais été aussi heureuse qu’à Olinda à la saison des bains ».
Rua XV de Novembro e Igreja e Mosteiro de São Bento ∙ H|6. Próxima página, Igreja de Nossa Senhora das Neves e Convento de São Francisco
71
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Casa com muxarabi na Rua do Amparo ∙ C|9
75
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Catedral da Sé - Igreja de São Salvador do Mundo ∙ F|11, mais à esquerda, torre da Igreja Senhor Jesus do Bonfim ∙ E|9
Acima, à esquerda, meninos no adro da Igreja de Nossa Senhora do Amparo. Acima, à direitra, liga de dominó na Rua do Amparo.
Abaixo, à esquerda, Rua Prudente de Morais ∙ E|8. Abaixo à direita, padaria na Rua Prudente de Morais
77
78
Vista aérea, Quatro Cantos de Olinda ∙ D|8. Abaixo, vista aérea da Catedral da Sé - Igreja de São Salvador do Mundo ∙ F|11, da Igreja de Nossa Senhora das Neves e
Convento de São Francisco ∙ G|12, e da Igreja de Nossa Senhora da Graça e Seminário de Olinda ∙ F|12
Vistas aéreas do Palácio dos Governadores ∙ G|6 e 7 e Mosteiro de São Bento ∙ H|6
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Caixa d’agua. Abaixo, vista de telhados e da Rua do Amparo. Página ao lado, Quatro Cantos ∙ D|8
81
82
Página ao lado, Igreja e Mosteiro de São Bento ∙ H|6
83
Olinda ensina
Jurema Machado
O
que faz de um sítio histórico,
uma cidade ou um monumento, Patrimônio Mundial?
Como pano de fundo, tem-se um tratado internacional
– a Convenção UNESCO para a Proteção do Patrimônio Cultural e
Natural da Humanidade, de 1972 – que tem origem na convicção
de que alguns sítios e monumentos possuem valor universal
excepcional, o que implicaria uma responsabilidade mundial pela
sua preservação. Para dar materialidade e consistência à ideia
de valor universal, um edifício conceitual e normativo veio sendo
construído desde então, envolvendo categorias de bens, critérios
e sistemáticas de seleção, defesas contra a instrumentalização
política e estratégias para que o reconhecimento surta efeitos mais
duradouros para a conservação do bem.1
Em que pese toda essa arquitetura de conceitos e normas, na
definição dos caminhos que levam um bem a tornar-se ou não
Patrimônio Mundial não são nada desprezíveis as circunstâncias:
o desejo, o empenho e a liderança de pessoas e grupos que, num
dado momento, são capazes de mobilizar governos e comunidades
em torno da candidatura. A tudo isso, somam-se a inescapável
subjetividade e as diferentes visões de mundo de atores essenciais:
os especialistas internacionais que analisam as propostas de
candidaturas e o Comitê do Patrimônio Mundial, um conselho
formado por representantes de 21 países, que toma a decisão final.
Mesmo com todas essas nuanças, é inegável que, ao final,
resulta uma lista de bens muito especiais. Há, no entanto,
dentre esses bens especiais, independentemente de seu grau de
excepcionalidade ou beleza, alguns dotados de maior capacidade
de representação. São aqueles cujos atributos materiais e
imateriais remetem com mais clareza à ideia de continuidade, de
acúmulo, de simultaneidade de tempos. São aqueles densos e
complexos, independentemente do porte que tenham. Continuam,
com o passar do tempo, ensinando e propondo novos temas para
reflexão, além de expor sucessivos desafios e complexidades.
Assim parece acontecer com Olinda, há quase 30 anos
reconhecida como Patrimônio Mundial2, hoje um sítio histórico
com cerca de 20 mil habitantes, pequeno se comparado com a
grande aglomeração urbana onde se encontra, seja diretamente
com o município de Olinda ou, mais ainda, com a Região
Metropolitana do Recife, uma das maiores e mais complexas do
Brasil.3
Françoise Choay refere-se ao monumento como um desafio à
entropia, à ação dissolvente que o tempo exerce sobre todas as
coisas naturais e artificiais4; um pouco antes, Walter Benjamin
descrevia o Progresso como sendo aquilo que um anjo, com os
olhos voltados para o passado mas soprado por uma tempestade
que o impele sempre para o futuro, vê formando-se aos seus
pés: a imagem aterrorizante de um amontoado de destroços e
de ruínas.5 Os valores transmitidos por Olinda parecem dotá-la
dessa capacidade de desafiar a ação dissolvente do tempo, não
apenas sobre as coisas, mas sobretudo sobre a nossa capacidade
de compreensão, recriação e reordenamento dos destroços
produzidos pelo Progresso. Se isso for verdade, a condição de
Patrimônio do País e da Humanidade já terá tido mais do que
suficiente motivação.
Olinda ensina, como de resto é papel de todo bem considerado
Patrimônio, mas a hipótese é de que o faz com particularidades,
as quais se apresentam, no caso, sob duas formas: a primeira
é a de que seus atributos – como sempre ocorre com objetos
complexos – não podem ser vistos, compreendidos ou tratados
de forma estanque ou compartimentada; e a segunda refere-se
à frequência com que se verificam, na trajetória daquele sítio,
abordagens e medidas inovadoras sob a ótica da gestão do
patrimônio, ou seja, quase a criação de uma tradição em oferecer
inovações. Vejamos a seguir os exemplos.
A característica que responde pela primeira e definitiva imagem
de Olinda é a da indissociabilidade entre paisagem natural e
espaço construído. Dos registros iconográficos produzidos durante
a dominação holandesa até os depoimentos dos viajantes entre
os séculos XVII e XIX, chegando aos anos de 1966-67 quando
Em 2010, segundo o Censo do IBGE, Olinda tinha 375.559 habitantes e a
Região Metropolitana do Recife, 3.688 428, a 5ª maior do país.
4
CHOAY, Françoise. A alegoria do patrimônio. São Paulo: Unesp, 2001.
5
BENJAMIN, Walter. Sobre o conceito da história. In: Magia e técnica, arte e
política: ensaios sobre literatura e história da cultura. Obras Escolhidas. São Paulo:
Brasiliense, 1994.
3
Sobre isso, ver: Convenção para a Proteção do Patrimônio Mundial, Cultural
e Natural e Orientações Técnicas para Aplicação da Convenção do Patrimônio
Mundial. Disponíveis em: <http://whc.unesco.org/archive/convention-pt.pdf>e
<http://whc.unesco.org/archive/opguide08-pt.pdf>, respectivamente.
2
Olinda foi inscrita na Lista do Patrimônio Mundial da UNESCO em 1982.
1
84
Passo da Ribeira ∙ E|7
a UNESCO envia sua primeira missão à cidade, conduzida por
Michel Parent, o impacto da paisagem de colinas, da vegetação
e do mar é o ponto de partida obrigatório para qualquer das
descrições do lugar. A iconografia dos holandeses registra
com equivalente riqueza de informações o espaço construído
e o natural, como ocorre em planta de 1630 de Algemeen
Rijksarchief6, onde os quintais e os vazios urbanos cobertos
por vegetação têm peso de representação equivalente a o do
arruamento. Mais de trezentos anos depois, Michel Parent
iria afirmar que Olinda não é uma cidade, mas um jardim
transbordante de obras de arte.7
Para além do primeiro impacto, que é sobretudo visual, a
vegetação é determinante de toda a experiência com o sítio:
ameniza a temperatura, filtra e interfere na luz, produz aromas,
paladares, comidas, hábitos de uso do tempo e de convivência,
determina soluções da arquitetura.
Para além do desfrute de uma paisagem edênica, Olinda ensina,
por meio da renitente permanência dessas características, sobre
a importância de se buscar formas mais autônomas, menos
massificadas, menos passivas e, principalmente, mais integradoras
para o ambiente urbano. Mais do que testemunhar um passado
idealizado, esses registros devem servir sobretudo ao presente: ser
objeto de defesa intransigente de moradores e dos órgãos públicos,
mas também recurso de aproximação e diálogo do núcleo
tombado com o restante da cidade, vítima, como a maioria das
cidades brasileiras, do embrutecimento e da banalização que vêm
dominando a produção do espaço construído. É bom lembrar que,
ainda que esse seja um fator relevante, não se trata apenas de
consequência da má distribuição de renda e da pobreza urbana,
uma vez que os espaços urbanos mais privilegiados passam por
análogo empobrecimento cultural. Ainda que como uma miragem,
Olinda pode servir como instigadora da reflexão, especialmente
para sua vizinhança mais próxima, sobre alternativas de
assentamento e de soluções construtivas, mas também sobre
hábitos de cultivo de plantas, de flores e de frutíferas, de seu uso
na cozinha, na medicina tradicional, seu sentido nas celebrações e
Imagem sem título [Planta de Olinda]. Original manuscrito do Algemeen
Rijksarchief, Haia. In: REIS FILHO, Nestor Goulart. Imagens de vilas e cidades do
Brasil colonial. São Paulo: USP, 2000.
7
LEAL, Claudia Feierabend Baeta. As missões da UNESCO no Brasil: Michel
Parent. Brasília, IPHAN, 2009. (Série Pesquisa e Documentação do IPHAN).
6
nas festas.
A continuidade no tempo e sua influência sobre a conformação
do espaço construído, sobre os hábitos, sobre o imaginário, as
artes e a literatura fazem da paisagem de Olinda, mais do que
um bem natural, um bem sobretudo cultural, rompendo assim
com mais uma das segmentações que tendemos a fazer ao tentar
descrever nossos objetos de investigação. As referências culturais
denominadas patrimônio imaterial pela atual legislação federal
brasileira e pela Convenção da UNESCO8, além de indissociáveis
das pessoas, são também indissociáveis dos lugares e da sua
capacidade de determinar, criar e recriar comportamentos,
conhecimentos e práticas.
Essa espécie de transgressão de fronteiras está presente também,
de forma simbólica, no carnaval, constantemente recriado, em
que bonecos gigantes das horas do dia (o Homem da MeiaNoite, a Mulher do Meio-Dia, o Menino e a Menina da Tarde) e
Ver, respectivamente, Artigo 216 da Constituição Federal de 1988; Decreto
3.551/2000 e Convenção para a Salvaguarda do Patrimônio Cultural Imaterial da
UNESCO, 2003.
8
Museu de Arte Sacra ∙ E|10
85
tempos e de fatos históricos e estilísticos com rara serenidade. É
o caso das reconstruções que se impuseram sobre quase todos
os seus edifícios religiosos, incendiados e saqueados em 1631
pelos holandeses, resultando em edificações com uma complexa
história de arruinamentos, reconstruções e restauros. O exemplo
mais completo, capaz de oferecer material para estudos de toda
natureza no campo da conservação, é o da Igreja do Carmo, onde
os arqueólogos identificam até dez fases construtivas que iriam de
1540 a 1907. Além da complexidade da edificação em si, o tema
do seu uso e apropriação contemporâneos oferece vasto material
para reflexão em razão da conturbada trajetória do conjunto,
que esteve de propriedade da União por aproximadamente 130
anos. Enquanto parte da edificação era adaptada para uso do
IPHAN, por meio de solução arquitetônica que, por si, é um
exemplo interessante de aplicação das teorias da conservação,
a comunidade persistia em manter e retomar plenamente suas
práticas religiosas ali, o que redundou na retomada da posse do
edifício pelos Carmelitas em 2008.
das pessoas do lugar recebem e se misturam, a cada ano, com
novos personagens da história, da cultura regional, das narrativas
da televisão, do mundo pop. Ou na tendência, não particular de
Olinda, mas que, partindo do Recife, tem marcado o ambiente
cultural de Pernambuco, de hibridização e de uma espécie de
“revisão com autonomia” de uma produção cultural marcadamente
voltada para o tradicional e o regional. Os exemplos mais evidentes
são o movimento, para usar a expressão do jornalista José Teles,
que vai do frevo ao manguebeat, assim como a recente produção
audiovisual de origem pernambucana.
Essas transformações remetem a discussões sobre o conceito
de autenticidade, um tema desafiador para os especialistas do
patrimônio, tanto quando se trata do patrimônio material quanto
do imaterial.9 O caso de Olinda é, mais uma vez, rico em pautas
para reflexão: como poucos centros históricos brasileiros, seus
edifícios e sua imagem urbana suportam a superposição de
Ver ICOMOS: Conferência sobre a autenticidade em relação à Convenção do
Patrimônio Mundial, de 6 de novembro de 1994, e Carta Brasília: Documento
Regional do Cone Sul sobre Autenticidade, 1995.
9
Ainda sob o prisma das superposições de tempos e estilos,
deve-se observar o acervo de patrimônio eclético, perfeitamente
aclimatado ao núcleo histórico. Esse acervo testemunha a fase
de ressurgimento econômico de Olinda no início do século XIX,
impulsionado pela instalação da Academia de Direito e pelas
melhorias no sistema de transporte, que passa a proporcionar
maior integração e complementaridade entre os sítios do Recife e
de Olinda. Novos moradores, que agora se deslocam nos espaços
contíguos das duas cidades, passam a exigir a modernização
das casas antigas ao gosto do ecletismo, deixando registros
desse momento por todo o núcleo urbano. Esse fato, ao contrário
de adulterar ou empobrecer o centro histórico, acaba por lhe
conceder mais densidade, a ponto de merecer a seguinte menção
de Aloísio Magalhães, à época presidente do IPHAN, no dossier
encaminhado à UNESCO: Mesmo a sua arquitetura não é tão
definida. [...] parte de uma casa é do século XVII, outra, do
século XVIII. [...] há um acúmulo de vivências que justificam a
inclusão de Olinda no Patrimônio da Humanidade.
Finalmente, tem-se o segundo grupo de particularidades que
Olinda oferece como tema para reflexão: a gestão do patrimônio.
A frequência com que, a partir dos anos 1970, ocorrem situações
de aproximação entre a gestão urbana e a preservação do
patrimônio, tal como se vê em Olinda, é um dado conhecido
86
na história da preservação no Brasil, mas apresenta o risco de
passar despercebido se não for visto no seu conjunto. O fato, por
si, já mereceria uma investigação detalhada por se tratar de uma
situação rara ou, nessa proporção, até inédita entre os centros
históricos brasileiros. A proximidade do Recife, que teve na
Fidem dos anos 1970-80 um dos mais ativos órgãos de gestão
metropolitana do País, é certamente um fator relevante para
explicar a cultura do planejamento urbano e a disponibilidade
de urbanistas, que puderam interferir de forma inovadora na
abordagem tradicional da preservação do patrimônio. Além de
arquitetos, urbanistas e intelectuais que passam a viver no centro
histórico, é indiscutível também a importância de personagens
emblemáticos na política nacional de preservação, como Joaquim
Falcão e Aloísio Magalhães, cujas trajetórias, pessoal e depois
profissional, se tornam indissociáveis da história de Olinda. No
final da década de 1990, talvez como um eco das preocupações
que Olinda começa a “incutir” no ambiente acadêmico de
Pernambuco, é criado o Centro de Estudos Avançados da
Conservação Integrada (CECI), uma iniciativa não governamental
que introduz uma abordagem até então inovadora no país – a
conservação integrada – e que hoje tem na cidade, além da sua
sede, um dos seus objetos preferenciais de investigação.
A seguir, uma cronologia simplificada dos momentos de
aproximação entre gestão do patrimônio e gestão urbana torna
mais claras tais afirmações:
Em 1973, cinco anos após o seu tombamento pelo IPHAN, o
município de Olinda complementa a ação federal definindo regras
de uso e ocupação do solo para o centro histórico e áreas vizinhas
por meio do Plano de Desenvolvimento Local Integrado, em linha
com o que preconizava o Plano de Cidades Históricas (PCH),
implantado pelo IPHAN.
Em 1979, em seguida à criação da Fundação Centro para a
Preservação dos Sítios Históricos de Olinda, a ação municipal
se completa com a criação do Sistema de Preservação do
Município de Olinda, composto por essa Fundação, pelo Fundo
de Preservação e pelo Conselho de Preservação apto a promover
o tombamento municipal. Essa agenda é inédita entre os
municípios brasileiros. A maioria deles só vem a se comprometer
com políticas de preservação depois da Constituição Federal de
1988, sob pressão de movimentos sociais e de questionamentos
jurídicos. Nos anos 1970, umas poucas capitais e grandes
cidades esboçam algumas ações na área, mas ainda assim
pontuais e reativas, nunca se configurando como um sistema que
percorresse da regulação ao fomento. Os Fundos de Preservação
foram incorporados ao vocabulário dos municípios apenas no
início dos anos 2000, quando se tornaram condição obrigatória
para sua elegibilidade ao Programa Monumenta.10 E a ideia de
sistema, enquanto ação concreta na área da Cultura, é ainda mais
recente.11
Outra inovação é o reconhecimento da habitação como elemento
essencial à vitalidade da área histórica, tema até hoje muito
relegado pelas políticas, tanto as de patrimônio quanto as setoriais
de habitação, exceções feitas aos esforços mais recentes do IPHAN
por meio do Programa Monumenta e, bem antes, ao caso de
Olinda descrito a seguir.
Trata-se do exemplo mais emblemático dentre as tentativas
de tratamento integrado entre política preservacionista e de
habitação. Aconteceu na gestão de Aloísio Magalhães, no IPHAN,
que estimulou o então Banco Nacional da Habitação a criar um
programa habitacional específico para os sítios históricos. A ideia
foi implantada sob a forma de um projeto-piloto em Olinda e se
encerrou com a extinção do BNH, em 1986. Na composição do
financiamento, coube ao IPHAN o aporte de recursos a fundo
perdido e ao mutuário o pagamento da parte financiada pelo BNH.
O Município atuou como agente promotor e ofereceu as garantias
ao Banco, diante das dificuldades de comprovação de renda
pela população. Embora breve, a experiência foi considerada um
sucesso, haja vista o interesse e a participação dos moradores,
o baixo índice de inadimplência e os subsídios gerados para
experiências de financiamentos habitacionais em sítios históricos.
A presença da comunidade local na gestão da preservação é outra
característica peculiar de Olinda, se considerarmos que o tema
é objeto do movimento organizado dos moradores, desde pelo
menos 1964, com o Movimento da Ribeira, que mais tarde deu
O Monumenta é um programa de recuperação do patrimônio cultural urbano
brasileiro, executado pelo Ministério da Cultura/IPHAN e financiado pelo Banco
Interamericano de Desenvolvimento (BID). O Programa conta com apoio técnico
da UNESCO.
11
O Sistema Federal de Cultura, que articula os órgãos federais, foi criado por
Decreto presidencial em 2005. O Sistema Nacional de Cultura encontra-se em
processo de criação.
10
Vista aérea, em primeiro plano, Academia Santa Gertrudes, Horto d’El Rey e Igreja e Convento de Nossa Senhora da Conceição.
Próxima página, Igreja de São Pedro Apóstolo
origem à Associação dos Moradores e Amigos de Olinda (Amoa),
que atuou até 1981. Em 1984, surge a Sociedade Olindense
de Defesa da Cidade Alta (Sodeca), em atividade até os dias
atuais. A preservação de Olinda, sob a ótica dos seus moradores,
sempre esteve associada à qualidade de vida, característica que
implicou, por diversas ocasiões, em resistência à intensificação
descontrolada do uso do sítio, estimulada pelas políticas de
fomento ao turismo. Deu também origem a debates e soluções, ao
seu tempo inovadores, como é o caso da circulação de veículos,
que chegou a motivar um plebiscito em 1987, do qual resultou a
proibição do tráfego no centro histórico.
No final de 2010, um novo instrumento de conservação do
patrimônio é oferecido diretamente aos moradores, a fim de
orientá-los quanto aos critérios a serem adotados para a realização
de intervenções nos imóveis, já que esse é um tema que lhes diz
respeito cotidianamente. Trata-se do manual Conservar: Olinda
boas práticas no casario, produzido com profundidade e qualidade
pelo CECI. Sob esse formato – um manual com sólido conteúdo
técnico-científico de conservação destinado aos moradores, ou
seja, a um público leigo –, essa é mais uma inovação para compor
a lista de experiências inaugurais de Olinda.
87
Sem qualquer pretensão de aprofundamento, o simples enunciado
desses fatos pretendeu oferecer evidências de como um sítio
histórico pode dar origem e alimentar um debate referencial, que
diz respeito diretamente a ele, mas também a quantos forem
os sítios culturais brasileiros e, por que não, a todos os listados
como Patrimônio Mundial. Não se trata de uma idealização do
caso de Olinda, até porque é importante ter em mente que o
poder municipal, embora em geral alinhado com as práticas
preservacionistas, diante de uma cidade de mais de 370 mil
habitantes e sérios problemas sociais, nem sempre foi capaz
de responder com regularidade à qualidade das diretrizes e aos
desafios da preservação, revelando frequentes fragilidades e
instabilidades.
À luz da experiência de Olinda, compreende-se melhor que
a principal contribuição que pode advir da Convenção da
UNESCO de 1972 é eleger bens capazes de representar valores
visando promovê-los e compartilhá-los. E, como queria Aloísio
Magalhães, por meio deles influenciar o presente, realimentando
constantemente o ciclo entre tradição e criação, entre patrimônio,
inovação e desenvolvimento.
90
OLINDA
PATRIMÔNIO CULTURAL DA HUMANIDADE
Sônia Coutinho Calheiros
O
s quase 30 anos como detentora
do título de Cidade Patrimônio Cultural da Humanidade
se passaram rapidamente na trajetória dos 476 anos
de Olinda. Tive o privilégio de acompanhar de perto todo esse
período, tanto como moradora, pois habito o sítio histórico desde
1971, quanto como gestora da Administração municipal em
diversos períodos, perfazendo mais de 15 anos na condução de
diferentes órgãos.1
A Cidade Patrimônio guarda no seu dia a dia um clima de
tranquilidade. Manhã de domingo e, enquanto escrevo, ouço
o cantar dos pássaros nos quintais, os sussurros das pessoas
passando pelo beco que margeia minha casa; o badalar dos sinos
ao longe. Essa qualidade de vida, contudo, é constantemente
interrompida pela efervescência das manifestações culturais,
sendo o maior exemplo o carnaval.
Olinda é uma cidade feita de paradoxos. Sua trajetória, como a de
qualquer cidade, relaciona-se com o dinamismo da região onde
está inserida. À medida que se modifica, cresce a pressão para
a substituição das suas estruturas físicas, sociais e dos aparatos
institucionais vigentes. O presente texto é um testemunho da
trajetória de Olinda e um relato sobre o desafio de salvaguardar
um Patrimônio Cultural da Humanidade, cujo título foi atribuído a
uma cidade em constante mutação – posto que viva.
Ver uma pequena mostra das fotos tiradas de Olinda em 1981,
e que compuseram o dossiê apresentado à UNESCO por ocasião
do pleito ao título de Patrimônio da Humanidade, chamou-me
a atenção para diversos aspectos que são importantes destacar,
a respeito daquele registro, quando comparados com a situação
atual do Sítio Histórico de Olinda, situado em um perímetro de 1,4
km2, com uma área de proteção no entorno de 10 km2.
As imagens tiveram como objetivo registrar aquilo de mais
significativo que Olinda apresenta: sua localização excepcional
distribuída em colinas próximas ao litoral; a paisagem que forma a
ambiência do sítio histórico e que tem o mar como pano de fundo;
o traçado urbano de sua ocupação tipicamente portuguesa e a
arquitetura civil e religiosa cercada de exuberante vegetação.
Diretora geral da Fundação Centro de Preservação dos Sítios Históricos de
Olinda (1986-1989). Secretária de Planejamento e da Fazenda (1993-1994); de
Planejamento, Transportes e Meio Ambiente (2001-2004); e de Planejamento e
Gestão Estratégica, ocupando o cargo desde janeiro de 2005.
1
Nessas imagens, estão registradas a diversidade da tipologia do
casario antigo e a harmonia dos mais variados estilos refletida nas
fachadas, a integridade dos telhados e da volumetria das cobertas,
a abundância da vegetação dos quintais, das cercas conventuais,
das praças e, sobretudo, do maciço do Horto Del Rey, as igrejas
e mosteiros com as especificidades arquitetônicas de cada ordem
religiosa, as vias com seus revestimentos em paralelepípedos
praticamente intactos e as interferências da fiação das redes de
iluminação e telefonia.
Por outro lado, nas fotografias também se percebe que alguns
imóveis apresentam sinais de deterioração, bem como as
calçadas, as quais apresentam trechos precários e ausência de
urbanização de espaços que hoje se tornaram importantes locais
de confraternização, de convívio e de lazer. Na época em que
foram tiradas as fotos, havia ainda pouca oferta de serviços e de
redes de infraestrutura, como abastecimento d’água, esgotamento
sanitário, circulação e sinalização viária, o que só recentemente é
que veio a ter um melhor fornecimento.
Ao longo de sua história, Olinda perdeu, desde a sua fundação até
os dias atuais, cerca de 99% do seu território. Os limites da cidade
diminuíram drasticamente. De sede da capitania hereditária mais
próspera da colônia, passa hoje a integrar a Região Metropolitana
do Recife (RMR), um aglomerado urbano de mais de 3,5 milhões
de habitantes distribuídos em quatorze municípios, todos eles com
suas áreas urbanas interligadas.
Olinda, apesar de ser a cidade com menor área, abriga a terceira
maior população (375 mil habitantes) do Estado. Trata-se da mais
alta densidade demográfica de Pernambuco e uma das maiores
do país. Integra hoje o grupo dos municípios brasileiros populosos
com baixa receita per capita e alta vulnerabilidade social – o
G100. Outro dado interessante é que em razão de a oferta de
trabalho acontecer substancialmente na capital do Estado, Olinda
ficou conhecida como cidade dormitório.
Tem uma localização privilegiada pela facilidade de acesso e
proximidade da capital, do porto e do aeroporto internacional.
Porém, no seu exíguo território de 43 km2 predomina a ocupação
residencial, com atividades econômicas incipientes concentradas
nas áreas de comércio e serviços que não são capazes de oferecer
emprego e gerar receita suficiente para fazer frente aos desafios de
91
uma população cuja grande maioria se encontra na faixa de renda
de até dois salários mínimos.
Por isso, Olinda, Patrimônio Cultural da Humanidade, vive as
contradições de reunir numa de suas colinas um Centro Histórico
de excepcional valor arquitetônico, cultural e paisagístico,
enquanto nas demais áreas de morro tem-se uma ocupação
desordenada, sem infraestrutura e equipamentos públicos
adequados; de ter uma riqueza cultural inestimável e uma pobreza
refletida no seu baixo PIB; de ser a Primeira Capital Brasileira
da Cultura e ostentar o quarto lugar entre as cidades com maior
índice de violência entre os jovens; de ter um dos maiores
carnavais do mundo e, por conseguinte, abrigar mais de um
milhão de foliões em suas estreitas ladeiras e becos durante as
festas de Momo; de ter o local mais visitado por turistas no Estado
– o Alto da Sé – e, no entanto, só hospedar 5% desses visitantes.
Por esses motivos, o município detentor de um dos mais
importantes patrimônios histórico e cultural do Brasil, reconhecido
no mundo como um excepcional exemplar da arquitetura, encontra
dificuldades para cuidar e zelar sozinho dessa importante herança
cultural.
A atração de novos empreendimentos é dificultada cada vez mais
pela escassez de áreas adequadas à implantação de atividades
econômicas de peso. Os espaços vazios atuais resumem-se
aos 6,8 km2 da área rural que protege as nascentes dos nossos
principais riachos e à planície situada nos limites com o Recife
e que se constitui área de proteção da visibilidade da colina
histórica. Ambos os lugares sofrem uma grande pressão. A zona
rural apresenta vários loteamentos irregulares enquanto a planície
no entorno do sítio histórico teve todas as suas áreas alagadas e
alagáveis (consideradas nas legislações como non aedificandi)
ocupadas de forma desordenada, e que hoje estão sendo objeto de
intervenção por parte do poder público. Essa região, hoje conhecida
como Memorial Arcoverde, é a mais cobiçada para implantação
de empreendimentos que venham a contribuir para dotar o
município de um maior dinamismo econômico. Isso se dá por
conta de sua localização estratégica, próxima dos centros político e
administrativo de Olinda e do Recife, e por ser de fácil acesso.
Ocupar essa área, contudo, resulta em uma equação delicada.
Apesar das ocupações irregulares e de no seu entorno já conter
vários equipamentos de porte metropolitano, os vazios ainda
existentes e os espaços ocupados com baixa densidade exercem,
na sua maioria, interferência na visibilidade da Colina Histórica.
Esse polígono de proteção ao sítio tombado foi instituído pelo
IPHAN de forma complementar ao tombamento do centro
histórico, logo após a conclusão das obras do Complexo Rodoviário
de Salgadinho. O objetivo foi garantir um interstício entre as duas
cidades e proteger os novos cones de visada da Colina Histórica e
sua relação com a planície.
O sistema de preservação municipal, implantado no final da
década de 1970, foi pioneiro, entre os municípios brasileiros,
na medida em que constituiu um Conselho, um órgão técnico
específico, a Fundação Centro de Preservação dos Sítios Históricos
de Olinda, o Fundo de Preservação e, ainda, o tombamento
municipal. Certamente, todo esse arcabouço institucional
contribuiu para que Olinda viesse a merecer o título de Patrimônio
Histórico da UNESCO.
Olinda dispõe de legislações de proteção em todos os níveis,
federal, estadual e municipal, que se complementam entre si, e
ostenta ainda os títulos de Cidade Ecológica e de Primeira Capital
Brasileira da Cultura.
O turismo cultural tem sido bastante expressivo nos últimos anos,
mas ainda não representa o maior fluxo. Ser detentora do título
de Patrimônio Cultural da Humanidade não parece mobilizar a
maioria dos brasileiros para sua visitação, mas sim o seu charme e
sua grade de eventos culturais. O que comprova que os elementos
que mais caracterizam hoje sua identidade são, a despeito
dos argumentos que lhe renderam o título da UNESCO, suas
manifestações culturais.
Diferentemente de outros países guardiões de cidades que
ostentam o símbolo da UNESCO com orgulho e como chamariz
para o turismo cultural, no Brasil, isso nunca foi fortemente
difundido nos sítios brasileiros que são reconhecidos como
Patrimônio Mundial, seja pelos organismos governamentais, seja
pela iniciativa privada. Em Olinda, por exemplo, só recentemente
é que a logomarca indicando Olinda como Patrimônio Cultural
da Humanidade passou a ser utilizada como ícone principal na
sinalização turística da cidade e na sua papelaria promocional.
No entanto, estar entre uma das nove Cidades Patrimônio Mundial
no Brasil foi fator decisivo para a inclusão do Sítio Histórico de
92
Olinda no Programa Monumenta (desde sua primeira etapa),
assim como no Programa de Desenvolvimento do Turismo
(Prodetur). Tais iniciativas vêm permitindo a realização de
intervenções significativas em conservação de monumentos e
revitalização de logradouros. Dentre essas intervenções, destacamse: a requalificação dos Largos do Rosário dos Homens Pretos,
do Varadouro e do Fortim, que receberam tratamento urbanístico,
mobiliários urbanos, equipamento de recreação e lazer e
estacionamentos; a recuperação da Ladeira Saldanha Marinho
e do Beco do Bajado; a restauração das Igrejas do Carmo e do
Rosário dos Homens Pretos; a implantação do Parque do Carmo,
integrando as praças da Abolição, do Carmo e o Sítio de Seu Reis,
no maior parque urbano da cidade; a reurbanização do Alto da
Sé, incluindo a recuperação da caixa d’água e a instalação do
elevador panorâmico; a construção do mercado para comerciantes
de artesanatos; a restauração do Observatório; a implantação do
estacionamento no Largo da Conceição.
Deter o título de Patrimônio da Humanidade certamente tem um
peso importante na captação de recursos não só para intervenções
no sítio histórico, como também para atrair investimentos em
infraestrutura de áreas pobres de Olinda, como é o caso da
urbanização dos Assentamentos Precários do V8, do V9 e da
Ilha do Maruim, comunidades estas inseridas no polígono de
preservação da área tombada e que estão recebendo investimentos
em saneamento integrado; pavimentação de vias principais;
implantação de espaços de convivência, de lazer e esporte;
programas sociais; construção de novas moradias e revestimento
e tratamento urbanístico das margens do canal da Malária.
Intervenções dessa mesma natureza e porte estão sendo realizadas
em mais cinco áreas pobres do município.
No Sítio Histórico, Olinda antecipou-se ao Programa de Aceleração
do Crescimento, ou PAC das Cidades Históricas, quando obteve
dos governos federal e estadual recursos necessários para a
execução de projetos e obras de infraestrutura, como, por exemplo,
a implantação de duas etapas do projeto de embutimento das
redes aéreas de telefonia e de energia elétrica, o que possibilitou
a substituição dos postes e dos suportes da iluminação pública;
a implantação da setorização das redes de distribuição de água
nas partes alta e baixa da cidade, advindas dos reservatórios
do Monte e dos reservatórios da Sé e da Ribeira; implantação
da primeira Rota Acessível, com adaptação dos níveis das
calçadas e travessias, aplicação de revestimentos adequados
nos passeios e remoção de obstáculos, permitindo um caminhar
livre e seguro para todos; destaque para o disciplinamento
do tráfego e sinalização das vias, onde, hoje, é proibida a
circulação de veículos pesados. Foi implantado também o
sentido único de tráfego de forma a garantir melhor fluidez e
permitir o estacionamento em um dos lados da via. Projetos para
implantação da sinalização turística já foram aprovados pelo
IPHAN e autorizada a sua implantação.
Nessa área, foi feito também um aprofundamento dos
estudos para contenção dos deslizamentos das encostas, com
detalhamento dos projetos de drenagem, de esgotamento sanitário
e de contenção de áreas críticas de deslizamento, cujos recursos já
estão inseridos no PAC-2.
Paralelamente, a Administração municipal tem dado tratamento
diferenciado à manutenção dos logradouros e serviços públicos
do sítio histórico, incluindo: recuperação do pavimento das vias e
das calçadas e substituição das lâmpadas; varrição e coleta diária
de resíduos sólidos, incluindo-se aí a coleta seletiva de resíduos
recicláveis duas vezes na semana; lavagem periódica das ladeiras,
proteção dos monumentos nos grandes eventos, entre outros
serviços.
Há, no entanto, alguns aspectos que precisam ser reforçados,
apesar do muito que já está sendo feito, pois são fundamentais
para a garantia da preservação do sítio como, por exemplo:
manutenção e substituição da vegetação, reforço na fiscalização
e na educação patrimonial, ampliação da acessibilidade e da
permanência do turista, entre outros.
Com o título de Patrimônio da Humanidade, empresas se
sensibilizaram em prol da preservação do sítio histórico, a exemplo
da Petrobras e do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico
e Social (BNDES), que consideraram Olinda cidade-polo e,
portanto, digna de tratamento diferenciado no repasse de recursos
para a recuperação de equipamentos culturais e, sobretudo, para a
realização de eventos.
Olinda é considerada polo de lazer da Região Metropolitana do
Recife. E isso se concretiza no fluxo intenso de visitantes durante
os finais de semana. Moradores de bairros e municípios vizinhos
vêm em busca de entretenimento ou, simplesmente, para passear
por suas ladeiras e desfrutar das vistas e das paisagens em seus
Av. da Liberdade, casarão Herman Lundgren ∙ G|9
diversos mirantes. No verão, os finais de semana são animados
com ensaios de blocos, maracatus, escolas de samba e outros
grupos que desfilam pelas ruas e ladeiras – a cada ano mais
cheias aos domingos – durante o período que se estende do final
de dezembro até o carnaval.
A cidade apresenta também um farto e atraente calendário
cultural, composto por eventos consolidados, como: Arte em
Toda a Parte; Mostra Internacional de Música de Olinda (MIMO);
Olinda Jazz; Encontro de Bandas de Pífanos; encenação da
Paixão de Cristo (na Semana Santa) e, mais recentemente, a
Feira Literária Internacional – Fliporto. Sem falar nas serenatas
semanais, no São João, no Réveillon e na gastronomia.
Conciliar a pujança desses atrativos turísticos, culturais e de lazer
com a vida da população residente, assim como com a capacidade
de carga populacional do sítio histórico é o grande desafio imposto
93
no dia a dia à Administração municipal. Intermediar os conflitos de
interesses entre os diversos públicos e os atores sociais envolvidos,
entre os que habitam a cidade e aqueles que a frequentam em
busca de distração e entretenimento requer parcimônia e bom
senso do poder público para alcançar o equilíbrio entre essas
diferentes atividades, o respeito ao bem-estar das pessoas e a
manutenção da integridade física do ambiente edificado – do qual
é o principal guardião.
As casas e seus moradores
Olinda sempre teve vários períodos de dinamismo intercalados
com fases de estagnação. Depois do seu apogeu e da perda
da sede do governo para o Recife, no período colonial, Olinda
94
Casarões situados na Ladeira de São Francisco ∙ H|10
passou um grande momento de estagnação, só vindo a ressurgir
nas primeiras décadas do século passado com a introdução dos
banhos de mar por recomendação dos médicos, tornando-se assim
uma cidade de veraneio. Ocasião em que houve a expansão e a
substituição das estruturas existentes às quais foram incorporados
elementos neoclássicos e ecléticos.
Posteriormente, nos anos 1960, Olinda foi o destino escolhido por
artistas plásticos, tornando-se palco de movimentos de arte como,
por exemplo, o da Ribeira. De lá para cá, a cidade assiste a ciclos,
entre eles, o dos profissionais liberais, que a escolheram como
local de moradia, com maior incidência a partir dos anos 1970,
além dos estrangeiros, que passaram a adquirir imóveis, sobretudo
depois de a cidade ter recebido o título da UNESCO.
Como em qualquer localidade onde existem atrativos
e dinamismos, há sempre maior pressão imobiliária e
consequentemente modificações e adaptações de suas estruturas
físicas. No caso do sítio histórico, as mudanças ocorrem tanto no
uso das edificações quanto no perfil da população residente. À
medida que o tempo passa, a casa se adapta mais e mais para
atender às necessidades de seus moradores. E esse é mais um
desafio do patrimônio edificado: como renovar sem perder suas
características?
As principais substituições do uso residencial ocorreram nos
imóveis de maior porte, pertencentes a famílias tradicionais
que não conseguiram manter o seu patrimônio (ou melhor,
o patrimônio da Humanidade). Hoje, estão instalados
nesses imóveis, pousadas, restaurantes, lojas de artesanato,
equipamentos públicos, entre outras atividades ligadas ao turismo
e à cultura.
Se por um lado essas renovações recuperaram imóveis
deteriorados e trouxeram aportes econômicos à cidade, por outro
interferiram na tipologia das construções históricas. Observa-se
que a intensidade das interferências é proporcional à capacidade
financeira do proprietário. E são mais ou menos positivas ou
danosas ao patrimônio conforme o nível de conhecimento dos
intervencionistas sobre os valores atribuídos ao imóvel.
Assim, a iniciativa recente do Centro de Estudos Avançados da
Conservação Integrada (CECI) de publicar o manual intitulado
Conservar: Olinda boas práticas no casario (com recursos do
Fundo de Direitos Difuso, do Ministério da Justiça) tem o mérito
de contribuir para a conservação dos valores patrimoniais
do sítio histórico. A publicação descreve, ainda, de forma
clara, objetiva e mesmo didática a importância do patrimônio
construído e orienta proprietários e profissionais a realizarem
intervenções arquitetônicas no casario de forma compatível com
as características originais. As informações contidas nesse trabalho
preenchem as falhas nas legislações vigentes que, embora
tenham estabelecido parâmetros rígidos para a volumetria e os
revestimentos exteriores de casas e sobrados, pouco instituíram
sobre limitações para a preservação das suas características
internas.
Para os moradores, os que aqui nasceram e aqueles que
escolheram a cidade pelos seus atributos (outrora chamados
de “forasteiros”), a importância do título tem percepções
diferenciadas, que variam conforme a natureza de sua relação com
a cidade. O que se percebe, contudo, é que o nível de consciência
da população é bastante alto, comprovado pela existência de
instituições como, por exemplo, a Sociedade de Defesa da Cidade
Alta (Sodeca). Atuante desde o início dos anos 1980, a Sodeca
está presente e ativa em todos os momentos da vida da cidade,
defendendo tanto a preservação de seu sítio histórico quanto
os interesses dos seus moradores. Participa de discussões de
projetos e de políticas públicas, sobretudo aquelas que envolvem
95
a preservação da cultura aliada ao turismo e às demais atividades
que trazem repercussões à vida dos moradores da área tombada.
A organização dos empresários do segmento de turismo permitiu
sua participação no conselho e nas conferências. A construção
recente do Sistema Municipal de Cultura proporcionou a
organização e o fortalecimento de todos os segmentos culturais do
município, com uma concentração bastante expressiva de atores
do sítio histórico.
A predominância por sua vez do uso residencial tem permitido
manter as tradições e a cultura local, resultando numa cidade
viva, onde os moradores se integram e participam ativamente das
instituições religiosas e profanas e garantem a continuidade de
suas atividades.
Hoje, depois de quase 30 anos do reconhecimento pelo Comitê
do Patrimônio Mundial de seu excepcional valor universal, podese dizer que esse status alcançado pela cidade de Olinda trouxe
a todos – governantes, moradores, investidores – um novo modo
de olhar a cidade, demonstrado pelas intervenções realizadas
na proteção do patrimônio e na oferta de melhores serviços e
infraestrutura tanto para a população que nela vive como para
visitantes e turistas. As fotos do hoje comprovam essas mudanças,
as quais, certamente, garantirão uma longa sobrevida na sua
trajetória e no uso pelas gerações futuras.
96
Casarões na Avenida da Liberdade ∙ H|9
97
98
Olinda teaches us
Jurema Machado
W
hat can transform a historical place,
a city or even a monument into a World Heritage
site? As a background, we have an international
agreement – the 1972 UNESCO Convention Concerning the
Protection of the World Cultural and Natural Heritage– which
originated from the conviction that certain sites and monuments
are of exceptional universal value, and therefore call for global
responsibility for their preservation. To give materiality and
consistency to the idea of universal values, a normative and
conceptual framework has been developed, encompassing site
categories, selection criteria and systems, defenses against political
exploitation and strategies to maximize the benefits of listing for the
long-term maintenance of a heritage site.1
Despite the complexity of such a framework, through which a site
may eventually become a World Heritage site, one cannot ignore
the surrounding circumstances: the motivation, effectiveness
and leadership of groups and people that, at a given moment,
are able to drive governments and communities in favor of a site
nomination. To all this we can add the inescapable aspect of
subjectivity and different world visions of key agents: international
experts who analyze the nominations and the World Heritage
Committee, a rotating board of 21 country representatives that
takes the final decision.
Even with so many nuances, it is undeniable that, ultimately, a
list of very special sites is produced. Although all listed sites have
a proven degree of exceptionality or beauty, some of them have
a greater capacity for representation. These are the ones with
material and immaterial features that refer more obviously to an
idea of continuity, accumulation, and simultaneity of epochs.
These sites are dense and complex, irrespective of their size,
and they continue to teach and instigate over time, in addition to
presenting successive challenges and complexities.
This seems to have been the case with Olinda, listed as a World
Heritage almost 30 years ago2. Today, it is a historical site with
around 20 thousand inhabitants, small when compared to the
large urban agglomeration surrounding it – either directly as part
of the municipality of Olinda or indirectly within the Metropolitan
Region of Recife – one of Brazil’s biggest and most complex.3
Françoise Choay refers to a monument as a challenge to entropy,
to the dissolvent action of time upon every natural and artificial
thing4; a short while before that, Walter Benjamin described
Progress as an angel with eyes turned to the past but blown by a
storm which always impelled it towards the future, and, under its
feet, the frightening image of piles of wreckage and debris.5 The
values that Olinda conveys apparently endow it with just such a
capacity to challenge these dissolvent actions of time, not only
with regard to objects but in particular in relation to our capacity to
understand, reenact and rearrange the ruins left by Progress. If this
be the case, the status of a Brazilian and World Heritage will have
had more than sufficient justification.
Olinda teaches us, not only because that is the role of each
protected monument, but the present hypothesis is that it does so
in a very particular manner, which can be presented in two ways:
the first is that its features – as always happens with complex
objects – cannot be viewed, understood or considered in a narrow
or compartmentalized sense; and the second refers to how
frequently innovative management measures and approaches have
come up during the site’s trajectory, arguably creating of a tradition
of offering innovation. Let us see some examples:
A characteristic that explains the first and definitive image
of Olinda is the inseparable links between the natural and
manmade aspects of the city’s landscape. From iconographic
records produced during the Dutch colonization through to the
testimony of travelers from the 17th to the 19th Centuries, and
until 1966-67 when UNESCO sent its first mission led by Michel
Parent to Olinda, the impact caused by its landscape of hills,
vegetation and the sea has been a mandatory starting point for
every description of the site. With a similar wealth of detail Dutch
iconography depicted the built and the natural environment, as
In 2010, according to the IBGE Census, Olinda had 375,559 inhabitants and the
Metropolitan Region of Recife, 3,688,428, the 5th biggest in Brazil.
4
CHOAY, Françoise. A alegoria do patrimônio. São Paulo: Unesp, 2001.
5
BENJAMIN, Walter. Sobre o conceito da história. In: Magia e técnica, arte e
política: ensaios sobre literatura e história da cultura. Obras Escolhidas. São Paulo:
Brasiliense, 1994.
3
About this topic, please check: Convenção para a Proteção do Patrimônio
Mundial, Cultural e Natural e Orientações Técnicas para Aplicação da Convenção
do Patrimônio Mundial. Available in: <http://whc.unesco.org/archive/conventionpt.pdf> and <http://whc.unesco.org/archive/opguide08-pt.pdf> respectively.
2
Olinda was included in UNESCO’s World Heritage List in 1982.
1
Rua Bernardo Vieira de Melo ∙ E|8
99
the majority of Brazilian cities – are victim to the roughening and
trivialization that have dominated the production of their built
space. It is important to bear in mind that even if urban poverty and
unjust income distribution may be of significance, the phenomenon
is not merely a consequence of this factor, since the most
privileged urban spaces have also gone through a similar cultural
impoverishment. Even as a kind of mirage, Olinda can serve to
instigate rethinking, especially for its close neighbor – Recife –
offering alternative solutions for settlement and construction, but
also practices for gardening, and for growing flowers and fruit trees,
as well as their use in the local cuisine and traditional medicine,
and their significance in celebrations and festivals.
can be seen in drawings by Algemeen Rijksarchief (1630)6, in
which the representation of gardens and open spaces was similar
in importance to the street plan. More than three hundred years
later, Michel Parent affirmed: Olinda is not a town, but a garden
overflowing with works of art.7
Beyond the first – above all, visual – impact, Olinda’s vegetation
is determinant in all experiences of the city: it appeases high
temperatures, filters and modifies the light, produces aromas,
flavors, dishes, ways of using time and forms of coexistence; it
determines architectural solutions.
Besides the enjoyment of an edenic landscape, Olinda teaches
us through of the renitent permanence of those features – the
importance of more actively seeking forms that are more
autonomous, less massified and, in particular, more integrating
for the urban environment. Beyond witnessing an idealized past,
those records should above all serve the present: being the object
of intransigent defense by its inhabitants and public bodies, but
also a resource for rapprochement and consultation between the
preserved area and the remaining parts of the town, which – like
Image without title [Olinda’s plan]. Original manuscript of Algemeen Rijksarchief,
The Hague. In: REIS FILHO, Nestor Goulart. Imagens de vilas e cidades do Brasil
colonial. São Paulo: USP, 2000.
7
LEAL, Claudia Feierabend Baeta. As missões da UNESCO no Brasil: Michel Parent. Brasília, IPHAN, 2009. (Série Pesquisa e Documentação do IPHAN).
Its enduring timelessness and influence over urban development,
customs, the imaginary, arts and literature, makes Olinda’s
landscape more than just a natural asset – it is essentially a
cultural site – thus defying yet another of the segmentations that
we tend to adopt to describe our objects of research. The cultural
references addressed as “intangible heritage” by current Brazilian
Federal Legislation and the UNESCO Convention8, besides being
inseparable from the people, are also deeply linked to the places
and their capacity to determine, create and recreate behavior,
knowledge, and practices.
This kind of transgression of boundaries is also symbolically
present in carnival. In a constantly recreated tradition, giant
puppets are named after periods of the day (the Midnight Man
and the Woman of Noon, the Afternoon Boy and Girl), as well as
after famous people born in Olinda. Every year people add new
characters linked to History, regional culture, TV programs, and
the pop world. Or following a trend that is not specific to Olinda
but was born in neighboring Recife, and marked the cultural
environment of Pernambuco: elements of hybridism and a kind
of “autonomous review” of the local cultural production centered
in traditional and regional values. The most noticeable examples
can be found in the “movement” (as designated by journalist
José Teles) that ranges from frevo to manguebeat rhythms, as
well as in Pernambuco’s recent audiovisual production.
6
See respectively the Clause 216 of the Federal Constitution of 1988; Decree
3.551/2000 and UNESCO’s Convention for the Protection of Immaterial Cultural
Heritage, 2003.
8
100
These transformations are related to discussions on the concept of
authenticity, a challenging theme for specialists in both material
and the immaterial heritage.9 Olinda’s case is, once again, rich
in thought-provoking themes: its buildings and urban image cope
with an overlapping of periods, historical events and changes in
style with a serenity rarely seen in Brazil’s historical centers. For
instance, reconstructions that have been carried out on almost all
of its religious buildings, destroyed by fires and pillages carried
out by the Dutch in 1631. This has given rise to a complex
trajectory of destruction, reconstruction, and restoration. The
most complete case, which can provide subject-matter for all
types of conservation studies is that of Carmo Church, where
archaeologists have identified up to ten construction phases, dating
from 1540 until 1907. Besides the building’s very complexity, its
contemporary use and appropriation offer study material due to the
troubled history of this architectural ensemble, which belonged to
the Federal Government for around 130 years. While the building’s
architecture was being adapted for use by the Brazilian Institute for
the Preservation of National and Artistic Heritage (IPHAN), which
in itself has been an interesting example of applied conservation
theories, the local community continued to hold and completely
resume its religious practices there. This led the Carmelite monks
to claim the building in 2008.
Still through the prism of overlapping times and styles, we should
observe the elements of eclectic heritage perfectly adapted to
Olinda’s historical center. Those buildings witness the new phase
of Olinda’s economic growth at the beginning of the 19th Century,
impelled by the installation of a Law School and improvements
in the transport system that brought greater integration and
complementarity between Recife and Olinda. New inhabitants, who
now could move through the contiguous spaces of both cities, began
to demand the modernization of old houses following eclectic tastes,
and such changes are still visible throughout the entire urban center.
Rather than corrupting or impoverishing the historical center, this
in fact has given it more density, to the extent that it deserved the
following mention by former President of IPHAN, Aloísio Magalhães,
in documents sent to UNESCO: Even its architecture is not so
definite. [...] one part of a house is from the 17th Century, another
See ICOMOS: Conferência sobre a autenticidade em relação à Convenção do
Patrimônio Mundial, November 6th 1994, and Carta Brasília: Documento Regional
do Cone Sul sobre Autenticidade, 1995.
9
is from the18th. [...] there is an accumulation of experiences that
justify the listing of Olinda as a World Heritage site.
Finally we have the second set of peculiarities that Olinda offers
as a topic for reflection: the management of its heritage. Since
the 1970s, Olinda has seen frequent initiatives combining urban
management and heritage preservation. This is a widely known
fact in Brazil’s preservation history, but might go unnoticed if not
observed in its entirety. In this sense, Olinda is in a rare, or even
unparalleled position amongst Brazil’s historic sites. The proximity
to Recife, which in the 70s/ 80s had one of the country’s most
active metropolitan management authorities, the Foundation
for Municipal Development, known as FIDEM, is certainly a
significant factor behind urban planning and the availability of
developers who could provide new inputs to the traditional heritage
preservation approach. In addition to architects, city planners,
and intellectuals who moved into the historical center, iconic
individuals at the national preservation policy, such as Joaquim
Falcão and Aloísio Magalhães, also had an unquestionable
importance: their personal and later professional backgrounds are
inseparable from Olinda’s history. At the end of the 90s, possibly
as an echo of anxieties that Olinda instilled in Pernambuco’s
academic environment, the Center for Advanced Studies in
Integrated Conservation (CECI – Centro de Estudos Avançados
da Conservação Integrada) was created – a non-governmental
initiative that introduced an innovative approach in the country
– the so-called “integrated conservation”. Today it has its main
office in the town – which represents one of its preferred objects of
investigation.
The following simplified chronology of key moments of that
approach between heritage and urban management helps clarify
those affirmations:
In 1973, five years after being listed as a national historic
landmark by IPHAN, the municipality of Olinda complemented the
Federal measures, defining rules for land use and occupation in its
historical center and neighboring areas. This was done through the
adoption of an Integrated Plan for Local Development, in line with
the Plan for Historical Cities (PCH – Plano de Cidades Históricas)
established by IPHAN.
In 1979, following the creation of a foundation named Center
for the Preservation of the Historical Sites of Olinda (Centro
Rua 7 de Setembro ∙ G|8
para a Preservação dos Sítios Históricos de Olinda), the local
government set up a Preservation System for the Municipality of
Olinda, consisting of the foundation, the Preservation Fund and
the Preservation Council, in order to promote the conservation
of the municipality as a historical site. It was the first Brazilian
municipality to follow such an agenda. Most other municipalities
have engaged in preservation policies only after the adoption of
the Federal Constitution of 1988, responding to intense pressure
from social organizations as well as lawsuits. In the 1970s a few
of the country’s state capitals and larger cities drafted preservation
actions, but these were nonetheless very specific and reactive,
instead of belonging to a system comprising all steps, from
regulation to promotion. Preservation Funds were only added to the
local authorities’ lingo at the beginning of the 21st Century, when
they became a mandatory condition for a city to be selected for co-
101
funding by Monumenta Program.10 And the idea of a system as a
concrete action in the field of culture is even more recent.11
Another innovation is the recognition of residences as an
essential element to the vitality of the historic site, an issue still
underestimated by housing and heritage policies, except the most
recent efforts of IPHAN through the Monumenta Program and,
long before that, in the case of Olinda, described as follows.
Olinda’s example is one of the most emblematic among the
attempts towards an integrated approach between preservation
policy and habitation. During the Aloísio Magalhães’ administration
Monumenta is a program for the recovery of Brazilian urban cultural heritage
achieved by the Ministry of Culture/ IPHAN and supported by the Interamerican
Development Bank (IDB). The Program has also technical support from UNESCO.
11
The Federal System of Culture linking federal bodies was created by Presidential
Decree in 2005. The Sistema Nacional de Cultura is being developed.
10
102
in IPHAN, the National Bank for Housing (BNH), was encouraged
to set up a custom residential program for historic sites. The
idea was put forward as a pilot project in Olinda and terminated
in 1986, when the BNH was extinct. As a co-funder of that
programme, IPHAN provided non-refundable resources, while
BNH’s loan was repaid by the borrowers. Local authorities acted
as promoters and guarantors to the Bank, in the light of people’s
difficulties in proving their earnings. Even for a short period, this
experience has been considered successful thanks to the residents’
interest and participation, low default rates and the experience
gained in terms of funding for housing in historic sites.
The participation of the local community in preservation
management is another of Olinda’s specific characteristics, given
that the issue triggered a movement organized by the city’s
inhabitants dating – at least – from 1964, with the Movimento
Ribeira, that later gave rise to AMOA (Associação dos Moradores
e Amigos de Olinda) the Association of Inhabitants and Friends
of Olinda, which remained in activity until 1981. In 1984,
SODECA (Olinda’s Society for the Defense of the Old (High) Town
/ Sociedade Olindense de Defesa da Cidade Alta) was founded
and is in activity to this day. Olinda’s preservation, to the eyes
of its inhabitants, has been always associated with its quality of
life. That is an issue that has, on several occasions, propelled
resistance to the uncontrolled intensification of land-use, which
was encouraged by tourism incentive policies. It also gave rise
to debates and innovative solutions (at that time), such as the
restriction on vehicle traffic in the historical center, established
after a plebiscite held in 1987.
At the end of 2010, a new instrument for heritage conservation
was offered directly to the population. It provides guidelines for
the refurbishing of properties, a topic of everyday relevance to
olindenses. This high-quality manual, called Conservar Olinda:
boas práticas no casario (Preserving Olinda: good practices
in old houses), was carefully produced by CECI. In handbook
format, an containing solid technical and scientific content about
conservation, it is aimed at the inhabitants and non-specialists,
and adds another innovation to Olinda’s list of inaugural
experiences.
Without loftier pretentions, the simple enunciation of these events
is intended to illustrate how a historical site can give rise to and
sustain a referential discussion directly related to it, but also related
to any other Brazilian cultural site and – why not? – to all World
Heritage sites. It is not an idealization in the case of Olinda, not
least because it is important to remember that the local authorities,
– although generally aligned with preservation practices – in
a city with over 370 thousand inhabitants and serious social
problems, has not always been able to meet the high standards of
guidelines and challenges of preservation, thus revealing frequent
weaknesses and instabilities.
From the experience of Olinda, we can better understand the
role of UNESCO’s 1972 Convention in the selection of heritage
sites that represent values to be promoted and shared. And, as
Aloísio Magalhães would have us believe, influencing the present
through these values, constantly feeding them back into the cycle
between tradition and creation; between heritage, innovation, and
development.
Página ao lado e esta, casarões na Rua do Amparo. Abaixo, casarão na Rua de São Bento. Próximas páginas, Quatro Cantos ∙ D|8
103
106
Olinda
WORLD Cultural HERITAGE
Sônia Coutinho Calheiros
T
he thirty years since being named as an
World Cultural Heritage have been but a small part of the
476 years of Olinda’s history. My privilege has been to
be a close part of these thirty years, both as a resident, since I
have lived in the historical site since1971, and as a manager in
the municipal government at various times – all together more
than fifteen years directing different agencies.
Daily life in the Heritage Site is calm. Right now it is Sunday
morning and as I write, I can hear birds singing in the yards, the
murmurs of people coming through the laneway which passes
by my house, the ringing of bells in the distance. The quietness
of this life, however, is often interrupted by the exuberance of
cultural groups, the best example being connected with Carnival.
Olinda is a city formed from paradoxes. Its history, like that of
any other city, mirrors the dynamics of the region where it is
located. As these have evolved, pressure has been put on the city
to reform its physical, social and institutional structures. In this
text, I will testify to the course of this history and report on the
challenge to safeguard this World Cultural Heritage whose title
was granted to a city not stuck in the past but in constant change
– a living place.
Take a look at some of the photos taken of Olinda in 1981,
which were part of the proposal sent to UNESCO when Olinda
applied for the title of World Heritage. Right away you can see
some important differences between that record and the present
situation of the Olinda Historical Site, which occupies an area of
1.4 km2, surrounded by a protective area of about 10 km2.
The purpose of these photographs was to illustrate the significant
aspects of Olinda: its spectacular location on the hills near the
coast; the landscape of the historical site with the ocean always
in the background; the urban remains, typical of Portuguese
occupation and its civil and religious buildings surrounded by
luxuriant vegetation.
These photographs are a reminder of the varied types of the antique
houses and how the varied styles of their facades, the integration of
their tile roofs with large covered areas, the abundant vegetation of
the yards, of the areas surrounding the convents, the public squares
and in particular the elevated Horto Del Rey (King’s Botanic Garden),
the churches and monasteries, each reflecting its religious order’s
architectural tastes, the cobblestone streets, today still practically
intact, and the criss-crossing of wires for streetlights and telephones.
On the other hand, the photographs also show signs of deterioration:
houses, sidewalks with sections broken or missing, and lack of
planning for spaces that today have become popular for gatherings,
living and entertainment. At the time when the pictures were
taken, there was still little available in the way of services and
infrastructural networks such as water supply, sewage removal,
street traffic and signage, which have only recently received
attention.
As time passed since the founding of Olinda up to the present,
Olinda has lost almost 99% of its land. The city limits have
decreased drastically. From its former situation as the wealthiest
place in the colony, Olinda today is part of the Metropolitan Region
of Recife (RMA), an urban agglomerate of more than 3.5 million
people, distributed across fourteen municipalities, each linked to the
others.
Although it has the smallest area, Olinda has the third largest
population (375 thousand inhabitants) in the State. This is the
highest demographic density in Pernambuco and one of the
highest in the country. Olinda forms part of a group of populous
Brazilian municipalities with low per capita income and high
social vulnerability, known as the G100. Another important fact is
Casa na Ribeira ∙ E|7
that because Recife offers most of the job opportunities in the area,
Olinda has become known as a “dormitory town”.
Ease of access and nearness to the capital, the ports, and the
international airport make Olinda’s location advantageous. But
the small land space it occupies, not more than 43km2, is
characterized by private homes and small commercial and service
businesses which offer few jobs and fail to generate sufficient
taxable contributions to municipal income to meet the needs of
a population, the majority of whom earn less than two minimum
wages.
Here is an example of the contradiction: on the principal elevation
of the Historic City, one side has architectural, cultural and scenic
views of exceptional value. While on the other side of the same
hill, there are ungoverned settlements with no facilities or adequate
public utilities. An inestimable cultural wealth side by side with
107
poverty as reflected in its GDP. The first Brazilian city to be named a
Cultural Capital and the fourth in youth violence. Location of one the
largest carnival celebrations in the world, with more than a million
revelers visiting its narrow laneways and cul-de-sacs, and location
of the Cathedral most visited by tourists to Pernambuco – but a city
able to host only 5% of these visitors overnight.
All of this adds up to the fact that the municipality which has one
of the most important historical and cultural patrimonies in Brazil,
recognized world-wide for its outstanding architecture, is having
problems caring for its heritage.
Attraction of business and industry to the area is complicated by
the lack of land available for economic development. Unoccupied
land represents about 6.8 kim2 of Olinda’s rural area within the
municipality, most of which is either wetland around river sources
and the flat area on the border with Recife, which has been
108
designated as an area to protect the visibility of the historical site.
Both places are under population pressure. The rural area has
numerous irregular residential settlements while the plain around
the historical area, which is generally water-logged and considered
non-viable for housing in municipal legislation, has been invaded
and settled irregularly and today is subject to governmental
intervention. At the present, this area, named the Memorial
Arcoverde, is very desirable for the construction of businesses
which could provide an economic impulse for the municipality,
since it is this area which is the most strategically located near
the political and administrative centers of Olinda and Recife and
because of its easy access.
Occupation of this area, however, implies a delicate balance.
The existence of irregular settlements and of various metropolitan
utilities on the land already interfered with the visibility of the
Historical elevation. The protective polygon around the land
designated as the Historical Site was established by IPHAN to
provide a safeguard for the site just after the conclusion of the
Salgadinho Highway Complex. The idea was to guarantee a space
between the two cities and protect the viewing angles for the
Historic site and its relation to the plains area.
The municipal preservation system, begun at the end of the 70’s,
was a pioneering institution among Brazilian municipalities in as
it set up a Council, a specific technical agency, The Centre for the
Preservation for the Historical Places in Olinda Foundation as well
as for the world site. Certainly this institutional support contributed
to having Olinda named as an UNESCO Historical Site.
There are a number of laws at all levels of government, federal,
state and municipal, designed to work together to protect the site.
Further, the city has been awarded titles of Ecological City and First
Brazilian Cultural Capital.
Cultural tourism has increased over the last years, although it
does not represent the greatest reasons for tourists coming to
the city. The title of World Cultural Heritage does not seem to be
the attraction for most visitors, but rather the charm and cultural
events in the city. Which goes to prove that it is these cultural
events which best characterize the identity of Olinda, although
these were not the reasons given to UNESCO in support of its
title.
Different from other countries where there are heritage cities which
take pride in the display of the UNESCO logo and use it as a
cultural tourist attraction, this never has been strongly advertised
among the Brazilian sites recognized as world heritages, either
by governmental agencies or by private enterprise. Only recently,
for example, has Olinda begun to display the icon which claims
Olinda as a World Cultural Heritage on the city streets or in its
tourist brochures.
Once Olinda was chosen as one of the nine World Heritage sites
in Brazil, it became easier to include the Olinda Historical Site in
the Monument Program (since its beginning) as well in the Tourist
Development Program (PRODETUR). These initiatives brought
in important contributions towards the conservation of the city’s
monuments and public areas. Among these, the following can
be mentioned: the reconstruction of the Church of Rosário dos
Homens Pretos (Black Men’s Rosary Church); of the Varadoura
area, and of Fortim, the Little Fort, which were revitalized for
urban use with a modernization of the buildings, recreation and
exercise equipment and parking; the recovery of the Saldanha
Marinho slope and of the Bajado cul-de-sac; reconstruction of the
Carmo and Rosãrio dos Homens Pretos Churches; establishment of
the Carmelite Park, integrating it with the Abolition and Carmelite
public squares and the Sítio de Seu Reis which all together will
form the largest urban park in the city; urbanization of the Alto da
Sé hill, including reform of the water tower and installation of a
panoramic elevator, construction of a market for craftspeople and
local merchants, restoration of the Observatory, and establishment
of a parking area in the Church of Conceição churchyard.
Acquisition of the title of World Heritage has also been important
in fundraising, not only for investment in the historical site but
also in attracting investment for the poor areas of Olinda, for
example in the case of the urbanization of precarious settlements
of V8 and V9 on the Island of Maruim. These communities are
part of the preservation area under the control of the government
and have undergone investments in sanitation, paving of the
main streets, establish of public squares and places for recreation
and sports, social programs, construction of new houses and
covering and urbanization along the borders of what is known as
the Malaria Channel. Interventions of a similar size and nature
have been made in five other poor areas in the municipality.
109
As for the Historic Site, Olinda was ahead of the Program for the
Accelerated Growth (PAC das Cidades Históricas) of the federal
government having already received federal and state monies for
the implantation of infrastructural projects and works. Examples
of this are a project to hide electrical and telephone wires,
substitution of public lighting poles and supports; establishment
of a network of sectors for water supply in both the high and low
parts of the city coming from reservoirs both on the Alto da Sé
hill and in the neighborhood of Ribeira; construction of the first
disabled access routes, adapting sidewalk levels and crossings,
paving the sidewalks and removing obstacles to allow for a clear
and safe passageway; traffic control and street signage and
prohibition fo the circulation of heavy vehicles. A one-way street
system has been established to improve traffic flow and allow for
parking on both sides of the street. Projects to produce and mount
tourist information plaques have been approved by IPHAN.
Serious studies have been carried out for the protection of the
hill slopes against mudslides, with detailed projects for drainage,
sanitation, and special protection for areas where mudslides are
most likely. Financial resources for this are already contemplated in
PAC-2.
At the same time, the municipal government has given special
treatment to the residences and public services located in the
historic site, including: re-paving the streets and sidewalks,
substituting street lights; street cleaning and daily trash collection,
including a program of selective collection of recyclable material
twice a week; periodic washing of the steps up the slopes, and
protection of public monuments during big events, among other
services.
There remain some areas which need special support, even
though much has already been done. These are basic for the
preservation of the site, or example, conservation and care for the
green areas, better means of inspection and patrimonial education,
broadening tourist accessibility and places for them to stay, among
others.
After Olinda was awarded the World Heritage title, various
companies became interested in preserving the historical site,
for example Petrobras and BANDES ( Banco Nacional de
Desenvolvimento Econômico e Social), considering Olinda as a
tourist center worthy of investment in cultural agencies, such as
theaters and museums, in particular those used for putting on
events.
Olinda is considered to be a recreation place for the Metropolitan
Region of Recife. Because of this there is an intense flow of visitors
on the weekends. Residents of the neighborhoods and nearby
municipalities come in search of entertainment or simply to walk
through the streets and enjoy the views and landscape from the
various lookout points. In the summer, weekends are busy with
groups rehearsing for carnival, maracatu, samba schools and
others who parade through the streets and up and down the slopes
– every year there are more – during the period from the end of
December until after Carnival.
The city also has a strong and attractive cultural calendar,
composed of joint events such as Art everywhere (Arte em Toda
a Parte); International Music Exhibition (Mostra Internacional de
Música – MIMO), Olinda Jazz, Flute Bands Encounter (Encontro
de Bandas de Pifanos); Staging of the Passion of Christ during
Holy Week, and, most recently, the International Literary Fair –
Fliporto. There are also weekly serenades through the streets, as
well as events related to the feast of St. John, New Year’s eve, and
gastronomy.
The challenge is to reconcile the force of these cultural and
recreational tourist attractions with the daily life of the resident
population as well with the ability of the municipality to deal
with the crowds that come. It is necessary to take extreme care
and have good sense in the mediation of the conflict of interests
between the different publics and social actors involved, between
those who live in the city and those who come in search of
distraction and entertainment, remaining respectful of the wellbeing of these persons and the maintenance of the physical
integrity of the buildings – of which the public power is the
principal guardian.
The Houses and their residents
Olinda has always suffered from times of dynamic action mixed
with phases of stagnation. Following its peak as the seat of
110
Rua do Amparo
government and then its loss to Recife, in the colonial period,
Olinda went through a long period of stagnation, only coming out
of it in the first decades of the last century owing to of a wave of
medical advice that bathing in the sea contributed to health, which
turned Olinda into a summer seaside town. At this time there was
an upsurge of new construction and replacement of the existing
structures, incorporating neoclassic and eclectic designs.
Later, in the 60’s, Olinda was the destination chosen by painters,
making it a display place for various art movements, for example
the Ribeira Movement. From then until now, the city has gone
through various cycles, among them becoming the chosen
residence of members of the liberal professions, chiefly in the
70’s, and later of foreigners who arrived and purchased houses,
particularly after the city received the UNESCO title.
As can be expected, in a place which is attractive and dynamic,
there is always housing pressure and as a consequence changes
and adaptations to its physical structures. In the case of the
historic site, changes happened as quickly as the profile of its
residents changed. As time passes, the houses are adapted to
meet the needs of the residents. And this is a further challenge
to the architectural patrimony – how to accommodate renewal
without a loss of character?
The main changes in residential use occurred in the larger houses
belonging to traditional families who no longer could afford to
maintain their patrimony (or rather, the World Heritage). Today
these houses have become bed and breakfasts, restaurants, craft
shops and for public use among other activities linked to tourism
and culture.
While on the one hand these renovations served to recover
deteriorating buildings and to bring economic resources into the
city, on the other they have tampered with the internal layout of
the historical constructions. These interferences have taken place
in direct proportion to the financial capacity of the owner. And they
have been either positive or damaging to the patrimony according
to the knowledge of the reconstruction agents about the value of
the real estate.
To combat this, the Center for Advanced Studies of Integrated
Conservation (Centro de Estudos Avançados da Conservação
Integrada – CECI) has recently published a manual entitled
Conservation:Good Housing Practices for Olinda (Conservar:
Olinda boas práticas no casario) with resources from the Fund
for Diffuse Rights of the Ministry of Justice. The goal of this
manual is to help with the safeguarding of the patrimonial values
of the historic site. The book describes in a clear, objective and
even didactic way the importance of this heritage and provides
orientation for property-owners and professionals about how
to undertake architectural reforms compatible with the original
characteristics. The information given in this manual serves to
fill in the gaps in the current legislation which has established
parameters for the enlargement and exterior finishing of houses
and mansions, but does not establish limits on the preservation of
the internal characteristics.
For the city’s residents, both those who were born here and also
those who have chosen to live in Olinda because of its attributes
(in other times they were called outlanders), the importance
of the city’s title is seen in different ways, varying with each
one’s relationship to the city. What can be seen, however, is
that the population is very aware of the importance of this title,
witnessed by the growth of civil institutions such as the Society
of the Defense of the Cidade Alta (SODECA). In existence since
the beginning of the 80’s, SODECA is present and active in all
municipal events, defending both the preservation of the historic
site and the interests of its residents. Its members participate in
Rua 13 de Maio ∙ F|7
debates on projects and public policy, in particular those items
which involve culture linked to tourism and all the activities
which might have repercussions on the residents of the historic
site.
Further, the organization of those in the tourist business has
facilitated the participation of these people in meetings and
conferences. The recent establishment of a Municipal Culture
System offers organizational help and support for all the cultural
elements in the municipality, in particular, people from the
historical site.
The fact that the historic site has remained principally residential
has served to preserve local traditions and culture, resulting in a
lively city where the residents are part of and participate actively in
111
religious and profane institutions, assuring the continuity of these
activities.
Today, after almost 30 years of recognition by the World Heritage
Committee of its exceptional universal value, we can say that this
status earned by Olinda has brought to everyone – administrators,
residents, investors – a new way of understanding a city, witnessed
by their efforts to protect this heritage and to provide better
services and facilities both for the population who resides in the
city as well as for visitors and tourists. Photographs taken recently
illustrate these changes which, surely, will ensure a long existence
in its future path and use for generations to come.
112
Largo do Amparo e, ao fundo, Igreja de São João Batista dos Militares ∙ A|9
Subida da Rua do Amparo ∙ D|8
113
114
Página ao lado, vista da Ladeira da Misericórdia ∙ G|7
115
Olinda enseigne
Jurema Machado
Q
u’est-ce qui rend un site historique,
une ville ou un monument, Patrimoine mondial?
Comme toile de fond, il y a un traité international – la
convention de l’UNESCO pour la protection du Patrimoine Culturel
et Naturel Mondial, de 1972 – qui trouve son origine dans la
conviction que certains sites historiques et monuments possèdent
une valeur universelle exceptionnelle, ce qui impliquerait une
responsabilité mondiale pour leur préservation. Pour donner
matérialité et consistance à l’idée de valeur universelle, un édifice
conceptuel et normatif a été construit depuis lors, impliquant
catégories de biens, critères et systématiques de sélection,
défenses contre l’instrumentalisation politique et stratégies pour
que la reconnaissance provoque des effets plus durables pour la
conservation du bien.1
Dans quelle mesure toute cette architecture de concepts et de
normes pèse-t-elle dans le trajet qui mène un bien à devenir
ou non Patrimoine mondial? Les circonstances ne sont en rien
négligeables: le désir, les efforts et le leadership de personnes et
de groupes qui, à un certain moment, sont capables de mobiliser
gouvernements et communautés pour la candidature. On ajoute
à tout cela l’incontournable subjectivité et les différentes visions
du monde des acteurs essentiels: les spécialistes internationaux
qui analysent les propositions de candidatures et le Comité du
patrimoine mondial, un conseil formé de représentants de 21
pays, qui prennent la décision finale.
Même avec toutes ces nuances, il est indéniable qu’en fin de
compte, on obtienne une liste de biens très spéciaux. Il y a
pourtant, parmi ces biens spéciaux, indépendamment de leur
degré d’exception ou de beauté, certains pourvus d’une plus
grande capacité de représentation. Ce sont ceux dont les attributs
matériels et immatériels rappellent le plus clairement l’idée de
continuité, d’accumulation, de simultanéité de temps. Ce sont
ceux, denses et complexes, indépendamment de la portée qu’ils
ont. Ils continuent, au fil du temps, à enseigner et proposer de
nouveaux thèmes de réflexion et en plus à montrer de successifs
défis et complexités.
Il semble qu’il en est ainsi avec Olinda, reconnue comme
Patrimoine mondial depuis presque 30 ans2, aujourd’hui un site
historique avec environ vingt mille habitants, petit comparé à la
grande agglomération urbaine dans laquelle il se trouve, que ce
soit la commune de Olinda mais aussi la Région métropolitaine de
Récife, une des plus grandes et plus complexes du Brésil.3
Françoise Choay fait référence au monument comme un défi à
l’entropie, à l’action dissolvante que le temps exerce sur toutes les
choses naturelles et artificielles4; un peu plus tôt, Walter Benjamin
décrivait le Progrès comme étant ce qu’un ange, les yeux tournés
vers le passé, mais pris dans une tempête qui le pousse toujours
vers le futur, voit se former à ses pieds: l’image terrifiante d’un tas
de destructions et de ruines.5 Les valeurs transmises par Olinda
semblent la doter de cette capacité de défier l’action dissolvante
du temps sur les choses, mais surtout sur notre capacité de
compréhension, recréation et réorganisation des destructions
produites par le Progrès. Si cela est vrai, la condition de Patrimoine
du pays et mondial aura déjà eu une motivation suffisante.
Olinda enseigne, comme c’est bien évidemment le rôle de tout
bien considéré comme Patrimoine, mais l’hypothèse est qu’elle
le fait avec des particularités qui se présentent, dans ce cas,
sous deux aspects: le premier est que ses attributs – comme
c’est toujours le cas avec des objets complexes – ne peuvent être
vus, compris ou traités de manière étroite ou compartimentée, et
le deuxième fait référence à la fréquence avec laquelle on peut
vérifier, dans la trajectoire de ce site, les abordages et les mesures
innovantes sur l’optique de la gestion du patrimoine, c’est-à-dire
presque la création d’une tradition d’offrir des innovations. Voyonsen les exemples.
La caractéristique qui répond à la première image de Olinda est
celle de l’impossibilité de dissocier le paysage naturel de l’espace
bâti. Des registres iconographiques produits pendant la domination
hollandaise aux témoignages des voyageurs du XVIIe au XIXe
siècles, jusqu’aux années 1966-67 quand l’UNESCO a envoyé
Olinda a été inscrite sur la Liste du Patrimoine Mondial de l’UNESCO en 1982.
En 2010, selon le recensemant de l’IBGE, Olinda avait 375.559 habitantes et la
Région Métropolitaine de Récife, 3.688 428, la 5e du pays.
4
CHOAY, Françoise. A alegoria do patrimônio. São Paulo: Unesp, 2001.
5
BENJAMIN, Walter. Sur la conception de l’art. In: Magia e técnica, arte e política:
ensaios sobre literatura e história da cultura. Obras Escolhidas. São Paulo:
Brasiliense, 1994.
2
3
A ce propos, voir: Convenção para a Proteção do Patrimônio Mundial, Cultural
e Natural e Orientações Técnicas para Aplicação da Convenção do Patrimônio
Mundial. Disponibe à: <http://whc.unesco.org/archive/convention-pt.pdf> et
<http://whc.unesco.org/archive/opguide08-pt.pdf>, respectivement.
1
116
sa première mission dans la ville, conduite par Michel Parent,
l’impact du paysage de collines, de la végétation et de la mer, est
le point de départ obligatoire pour n’importe quelle description
du lieu. L’iconographie des hollandais a gravé avec une richesse
d’informations équivalente l’espace construit, comme cela est le
cas avec le plan de 1630 de Algemeen Rijksarchief6, où les jardins
et les espaces vides urbains couverts de végétation ont un poids de
représentation équivalent à celui des rues. Plus de trois cents ans
plus tard, Michel Parent allait affirmer que Olinda n’est pas une
ville, mais un jardin débordant d’oeuvres d’art.7
Au-delà du premier impact, qui est surtout visuel, la végétation est
déterminante dans toute l’expérience avec le site: elle adoucit la
température, filtre et interfère sur la lumière, produit des arômes,
des aliments, habitudes d’usage du temps et de vie, elle détermine
des solutions d’architecture.
En plus de bénéficier d’un paysage édénique, Olinda enseigne,
au moyen de la permanence obstinée de ces caractéristiques,
sur l’importance de chercher des formes plus autonomes, moins
massives, moins passives et, principalement, plus intégrées
à l’environnement urbain. Plus que de témoigner d’un passé
idéalisé, ces registres doivent surtout servir au présent: être objet
de défense intransigeante d’habitants et des organes publics,
mais aussi moyen de rapprochement et de dialogue du noyau
classé avec le reste de la ville, victime, comme toutes les villes
brésiliennes, de la croissance et de la banalisation qui dominent
la production de l’espace construit. Il est bon de rappeler qu’il
ne s’agit pas seulement, même si c’est un facteur à prendre en
compte, de la mauvaise distribution des revenus et de la pauvreté
urbaine, puisque les espaces urbains les plus privilégiés souffrent
d’un même appauvrissement culturel. Comme un mirage, Olinda
peut servir à provoquer la réflexion, spécialement pour sa voisine
la plus proche, en ce qui concerne les règlements et solutions
constructives, mais aussi les habitudes de culture de plantes,
de fleurs et d’arbres fruitiers, de leur usage dans la cuisine, la
médecine traditionnelle et son sens de la célébration des fêtes.
Image sans titre [Planta de Olinda]. Manuscrit original de Algemeen Rijksarchief,
Haia. In: REIS FILHO, Nestor Goulart. Imagens de vilas e cidades do Brasil colonial.
São Paulo: USP, 2000.
7
LEAL, Claudia Feierabend Baeta. As missões da UNESCO no Brasil: Michel
Parent. Brasília, IPHAN, 2009. (Série Pesquisa e Documentação do IPHAN).
6
La continuité dans le temps et son influence sur la conformation
de l’espace construit, sur les habitudes, sur l’imaginaire, les
arts et la littérature font du paysage de Olinda, plus qu’un bien
naturel, un bien surtout culturel, rompant ainsi avec une des
segmentations que nous avons tendance à faire lorsque nous
tentons de décrire nos objets de recherche. Les références
culturelles dénommées patrimoine immatériel par la législation
fédérale brésilienne actuelle et par la Convention de l’UNESCO,
bien qu’elles soient indissociables des personnes, sont aussi
indissociables des lieux et de leur capacité à déterminer, créer et
recréer des comportements, savoirs et pratiques.
Cette espèce de transgression de frontières est présente également,
de manière symbolique, dans le carnaval, constamment recréé, où
des poupées géantes des heures du jour (L’Homme de Minuit, la
Femme de Midi, le Garçon et la Fille de l’Après-midi) et des gens
du lieu reçoivent et se mélangent, tous les ans, à de nouveaux
personnages de l’histoire, de la culture régionale, des histoires de
la télévision, du monde pop. Ou bien dans la tendance, pas propre
à Olinda, mais qui, venant de Récife, a marqué le panorama
culturel du Pernambouc, d’hybridation et d’une espèce de “révision
avec autonomie” d’une production culturelle très marquée par le
traditionalisme et le régionalisme. Les exemples les plus évidents
sont le mouvement, pour utiliser l’expression du journaliste José
Teles, qui va du frevo au manguebeat, tout comme la récente
production audiovisuelle pernamboucaine.
Ces transformations nous renvoient à des discussions sur le
concept d’authenticité, un thème défiant pour les spécialistes
du patrimoine, aussi bien quand il s’agit du patrimoine matériel
que du patrimoine immatériel.8 Le cas de Olinda est, une fois
de plus, riche en sujets de réflexion: comme peu de centres
historiques brésiliens, ses édifices et son image urbaine supportent
la superposition du temps et de faits historiques et stylistiques
avec une rare sérénité. C’est le cas des reconstructions qui se
sont imposées pour presque tous les édifices religieux, incendiés
et saccagés en 1631 par les hollandais, ce qui a eu pour
résultat des édifications avec une histoire complexe de ruines,
reconstructions et restaurations. Le cas le plus complet, capable
Voir ICOMOS: Conférence sur l’authenticité par rapport à la Convention du
Patrimoine Mondial du 6 novembre 1994, te Carta Brasília: Documento Regional
do Cone Sul sobre Autenticidade, 1995.
8
117
d’offrir du matériel d’études de toutes sortes dans le domaine de la
conservation, est celui de l’Eglise du Carmo, où les archéologues
identifient jusqu’à dix phases de construction qui iraient de 1540
à 1907. Outre la complexité de l’édifice en soi, le thème de son
usage et appropriation contemporains offre un ample matériel
pour la réflexion en raison de la trajectoire trouble de l’ensemble,
qui a été propriété du Gouvernement Fédéral pour environ 130
ans. Alors qu’une partie de l’édifice était adaptée pour l’usage de
l’IPHAN, au moyen de solutions architecturales qui, en soi, sont
un exemple intéressant d’application de théories de conservation,
la communauté persistait à y maintenir et reprendre ses pratiques
religieuses, ce qui a entraîné le reprise de possession du
monument par les Carmélites en 2008.
Toujours sous l’angle des superpositions de temps et de styles, il se
doit d’observer la collection de patrimoine éclectique, parfaitement
acclimatée au noyau historique. Cette collection témoigne de la
phase de renaissance économique de Olinda au début du XIXe
siècle, stimulée par l’installation de l’Académie de droit et par
l’amélioration des systèmes de transport, qui va offrir une plus
grande intégration et complémentarité entre les sites de Récife
et Olinda. De nouveaux habitants, qui se déplacent maintenant
dans les espaces adjacents des deux villes en viennent à exiger la
modernisation des vieilles maisons au goût de l’éclectisme, laissant
des registres de ces moments dans tout le noyau urbain. Ce fait,
au lieu d’altérer et d’appauvrir le centre historique, finit par lui
concéder plus de densité au point de mériter la deuxième mention
de Aloísio Magalhães, à l’époque président de l’Iphan, dans le
dossier envoyé à l’UNESCO: Même son architecture n’est pas si
définie. [...] une partie d’une maison est du XVIIe siècle, l’autre
du XVIIIe [...] il y a une accumulation de vécus qui justifient
l’inclusion de Olinda au Patrimoine Mondial.
Il y a finalement le second groupe de particularités qu’offre
Olinda, comme thème de réflexion: la gestion du patrimoine.
La fréquence avec laquelle, à partir des années 1970, ont lieu
des situations d’approximation entre la gestion urbaine et la
préservation du patrimoine, comme on le voit à Olinda, est une
donnée connue dans l’histoire de la préservation au Brésil, mais
elle présente le risque de passer inaperçue si elle n’est pas vue
dans son ensemble. Le fait en soi mériterait déjà une investigation
détaillée parce qu’il s’agit d’une situation rare ou même, toutes
proportions gardées, inédite dans les centres historiques brésiliens.
La proximité de Récife, qui a eu, avec la Fidem des années 197080, un des organes de gestion métropolitaine des plus actifs du
pays, est certainement un facteur notable pour expliquer la culture
de la planification urbaine et la disponibilité d’urbanistes qui ont
pu interférer de manière innovatrice dans l’abordage traditionnel
de la préservation du patrimoine. Outre les architectes, urbanistes
et intellectuels qui sont venus vivre dans le centre historique,
l’importance de personnages emblématiques dans la politique
de préservation est indéniable, comme Joaquim Falcão et Aloísio
Magalhães, dont les trajectoires, personnelles et professionnelles,
sont devenues indissociables de l’histoire de Olinda. A la fin des
années 1990, peut-être comme un écho des préoccupations que
Olinda commence à “inculquer” dans le panorama académique
du Pernambouc, est créé le Centre d’études avancées de la
conservation intégrée (CECI), une initiative non gouvernementale
qui introduit une approche jusqu’alors innovatrice dans le pays – la
conservation intégrée – et qui a aujourd’hui dans la ville, en plus
de son siège, un de ses objectifs d’investigation de prédilection.
Cette chronologie simplifiée des moments de rapprochement entre
gestion du patrimoine et gestion urbaine rend plus claires de telles
affirmations:
En 1973, cinq ans après son classement par l’Iphan, la commune
de Olinda a complété l’action fédérale en définissant des règles
d’usage et d’occupation du sol pour le centre historique et les aires
voisines au moyen du Plan de développement local intégré, en
phase avec ce que préconisait le Plan de villes historiques (PCH),
implanté par l’Iphan.
En 1979, suite à la création de la Fondation Centre pour la
préservation des sites historiques de Olinda, l’action municipale
a été complétée par la création du Système de préservation
de la commune de Olinda, se constituant, au travers de cette
fondation, le Fonds de préservation et le Conseil de préservation,
aptes à promouvoir le classement municipal. Cet agenda est
inédit parmi les communes brésiliennes. La majorité d’entre elles
s’engage à des politiques de préservation après la Constitution
fédérale de 1988, sous la pression de mouvements sociaux et
de questionnements juridiques. Dans les années 1970, peu
de capitales et de grandes villes ébauchent des actions dans
ce domaine. Mais même ainsi ponctuelles et relatives, ne se
configurant jamais comme un système qui irait de la régulation
118
Casas na Ladeira da Misericórdia
à l’action. Les Fonds de préservation n’ont été incorporés au
vocabulaire des municipalités qu’au début des années 2000,
quand ils sont devenus des conditions obligatoires pour l’éligibilité
au Programme Monumenta.9 Et l’idée de système, en tant
qu’action concrète dans le domaine de la culture, est encore plus
récente.10
Une autre innovation est la reconnaissance de l’habitation comme
élément essentiel de la vitalité du domaine historique, thème
auquel se réfèrent beaucoup les politiciens aujourd’hui, aussi
bien celles du patrimoine que celles du secteur de l’habitation,
exception faite des efforts plus récents de l’Iphan au moyen du
programme Monumenta et, bien avant, dans le cas de Olinda
décrit ci-dessous.
Il s’agit de l’exemple le plus emblématique parmi les tentatives de
traitement intégré entre la politique de préservation et d’habitation.
Cela s’est passé sous la gestion de Aloísio Magalhães à l’Iphan,
qui a stimulé ce qui était alors la Banque nationale d’habitation
(BNH) à créer un programme d’habitation spécifique pour les
sites historiques. L’idée a été mise en place sous la forme d’un
projet pilote à Olinda et s’est terminé avec l’extinction de la BNH
en 1986. Dans la composition du financement, il incombait à
l’Iphan d’apporter les ressources à fonds perdu et à l’emprunteur le
paiement de la partie financée par le BNH. La municipalité a agi
comme agent promoteur et a offert les garanties à la banque face
aux difficultés de la part de la population de fournir des preuves de
leurs revenus. Bien que brève, l’expérience a été estimée comme
un succès, prenant en compte l’intérêt et la participation des
habitants, le faible taux de non-remboursement et les subventions
générées par les expériences de financements d’habitations dans
les sites historiques.
La présence de la communauté locale dans la gestion de la
préservation est une autre caractéristique particulière, si nous
prenons en compte que le thème est l’objet de mouvement
Le Monumenta est un programme de récupération du patrimoine culturel urbain
brésilien, exécuté par le Ministère de la Culture/IPHAN et financé par le Banco
Interamericano de Desenvolvimento (BID). Le programme a le soutien technique
de l’UNESCO.
10
Le Système fédéral de culture, qui articule les organismes fédéraux, a été créé
par décret présidentiel en 2005. Le Système fédéral de culture est en processus
de création.
9
Rua do Amparo ∙ D|10. Próxima página, vista de Olinda
119
organisé des habitants, depuis au moins 1964, avec le
Mouvement de la Ribeira, qui a donné naissance plus tard à
l’Association des habitants et amis de Olinda (Amoa), en activité
jusqu’à 1981. En 1984, est apparue la Société de Olinda de
défense de la ville haute (Sodeca), en activité jusqu’à nos jours.
La préservation de Olinda, au vu de ses habitants, a toujours
été associée à la qualité de vie, caractéristique qui a causé, à
diverses occasions, la résistance à l’intensification incontrôlée
de l’usage du site stimulée par les politiques de promotion
du tourisme. Cela a également donné origine à des débats et
des solutions, en leur temps innovateurs, comme cela a été le
cas pour la circulation des véhicules, qui a même abouti à un
plébiscite en 1987 et qui a eu pour résultat l’interdiction de la
circulation de véhicules dans le centre historique.
Fin 2010, un nouvel instrument de conservation du patrimoine
est directement offert aux habitants, afin de les orienter quand
aux critères à adopter pour la réalisation d’interventions
sur les bâtiments, puisque c’est un thème qui les concerne
quotidiennement. Il s’agit du manuel Conserver: Olinda, bonnes
pratiques dans les habitations, produit avec rigueur et qualité
par le CECI. Sous ce format – un manuel avec un solide contenu
technico-scientifique de conservation destiné aux habitants, c’està-dire à un public profane - c’est encore une innovation à ajouter
à la liste des expériences inaugurales de Olinda.
Sans aucune prétention d’approfondissement, le simple énoncé
de ces faits a cherché à montrer les évidences de comment
un site historique peut donner origine et alimenter un débat
référentiel, qui le concerne directement, mais aussi tous les sites
culturels brésiliens et, pourquoi pas, tous les sites listés comme
patrimoine mondial. Il ne s’agit pas d’une idéalisation du cas de
Olinda, parce qu’il est important d’avoir à l’esprit que le pouvoir
municipal, bien que généralement aligné sur les pratiques de
préservation, face à une ville de plus de 370 mille habitants et
avec de sérieux problèmes sociaux, n’a pas toujours été capable
de répondre avec régularité à la qualité des directrices et aux
défis de la préservation, révélant de fréquentes fragilités et
instabilités.
A la lumière de l’expérience de Olinda, on comprend mieux que
la principale contribution issue de la Convention de l’UNESCO
de 1972 a été d’élire des biens capables de représenter des
valeurs et visant à les promouvoir et à les partager. Et, comme
le voulait Aloísio Magalhães, influencer le présent par ce moyen,
réalimentant constamment le cycle entre la tradition et la
création, entre patrimoine, innovation et développement.
122
OLINDA
PATRIMOINE CULTUREL Mondial
Sônia Coutinho Calheiros
P
resque trente ans comme détentrice du titre
de Ville Patrimoine Mondial se sont passés rapidement
au vu de la trajectoire des 476 ans de Olinda. J’ai eu le
plaisir d’accompagner de près toute cette période, aussi bien en
tant qu’habitante, puisque j’habite le site historique depuis 1971,
qu’en tant que gestionnaire de l’administration municipale durant
diverses périodes, totalisant plus de 15 ans à la tête de différents
organismes. 1
Ces images sont un registre de la diversité de typologie des
habitations anciennes et de l’harmonie des plus divers styles
de façades, de l’intégrité des toitures et de leurs volumes, de
l’abondance de végétation des jardins, des clôtures de couvents,
des places et surtout du massif (jardin) du Horto Del Rey, des
églises et monastères avec les spécificités architecturales de chaque
ordre religieux, des rues couvertes de pavés presque intacts et des
interférences des fils des réseaux d’électricité et de téléphone.
La ville patrimoine conserve son calme au quotidien. Dimanche
matin, alors que j’écris, j’entends chanter les oiseaux dans le
jardin, les murmures des gens passant dans la ruelle longeant
ma maison; le carillon des cloches au loin. Cette qualité de
vie, pourtant, est constamment interrompue par l’effervescence
des manifestations culturelles, le carnaval en étant le principal
exemple.
D’autre part, on s’aperçoit aussi sur les photos que certains
bâtiments présentent des signes de détérioration, tout comme
les chaussées qui montrent des parties précaires et l’absence
d’urbanisation d’espaces qui sont aujourd’hui devenus des lieux
importants de rencontre et de loisirs. A l’époque où ces photos
ont été prises, il y avait une faible offre de services et de réseaux
d’infrastructure, comme l’alimentation en eau, les égouts, la
circulation et la signalisation, qui ne se sont améliorés que
récemment.
Olinda est une ville faite de paradoxes. Sa trajectoire, comme
celle de n’importe quelle ville, est liée au dynamisme de la région
où elle se trouve. A mesure qu’elle se modifie, la pression pour
substituer ses structures physiques, sociales et les appareils
institutionnels existants augmente. Ce texte est un témoignage de
la trajectoire de Olinda et un rapport sur le défi de sauvegarder un
Patrimoine Culturel Mondial dont le titre a été attribué à une ville
en constante mutation – puisque vivante.
Voir un petit échantillon des photos prises à Olinda en 1981 qui
ont composé le dossier présenté à l’UNESCO à l’occasion de la
demande du titre de Patrimoine Mondial, m’a interpellée sous
divers aspects qu’il est important de remarquer, à propos de ces
archives, quand on les compare à la situation actuelle du site
historique de Olinda, situé sur un périmètre de 1,4 km2, avec une
aire de protection de l’ordre de 10 km2.
Les images avaient pour objectif de montrer ce que Olinda montre
de plus significatif: sa localisation exceptionnelle distribuée sur
des collines proches du littoral; le tracé urbain de son occupation
typiquement portugaise et l’architecture civile et religieuse entourée
d’une végétation exubérante.
Directrice générale de la Fondation centre de préservation des Sites historiques
de Olinda (1986-1989). Adjointe au plan et aux finances (1993-1994); au plan,
transports et environnement (2001-2004); au plan et à la gestion stratégique,
occupant le poste depuis janvier 2005.
1
Tout au long de son histoire, Olinda a perdu, de sa fondation à
nos jours, environ de 99 % de son territoire. Les limites de la ville
ont diminué de manière drastique. De Capitainerie héréditaire la
plus prospère de la colonie, elle en est venue à intégrer la région
métropolitaine de Récife (RMR), une agglomération urbaine de
plus de 3,5 millions d’habitants répartis sur quatorze communes,
toutes ces zones urbaines étant reliées.
Olinda, bien qu’étant la plus petite en termes de superficie, abrite
la troisième plus importante population (375 mille habitants)
de l’état. Il s’agit de la plus forte densité démographique du
Pernambouc et une des plus grandes du pays. Elle intègre
aujourd’hui le groupe des communes brésiliennes peuplées avec
de faibles revenus per capita et une forte vulnérabilité sociale – le
G100. Une autre donnée intéressante est que du fait que les offres
d’emploi se rencontrent principalement à Récife, capitale de l’état,
Olinda est connue comme ville dortoir.
Elle possède une localisation privilégiée en raison de son accès
facile et de sa proximité de la capitale, du port et de l’aéroport
international. Cependant, l’occupation résidentielle prédomine sur
son territoire exigu de 43 km2, avec des activités économiques
naissantes concentrées dans les domaines du commerce et
des services et qui ne sont pas capables d’offrir des emplois et
de générer des recettes suffisantes pour affronter le défi d’une
123
population dont la grande majorité a des revenus de l’ordre de
deux salaires minimums.
Ce sont les raisons pour lesquelles Olinda, Patrimoine Culturel
Mondial, vit les contradictions de réunir sur une de ses collines
un centre historique d’une exceptionnelle valeur architecturale,
culturelle et en termes de paysage, alors que certaines zones
de collines sont occupées de manière désordonnée, sans
infrastructure ni équipements publics adéquats; d’avoir une
richesse culturelle inestimable et une pauvreté qui se reflète dans
son faible PIB; d’être la Première capitale brésilienne de la culture
et être classée quatrième des villes ayant le plus grand indice de
violence chez les jeunes; d’avoir l’un des principaux carnavals du
monde et, par conséquent, recevoir plus d’un million de personnes
dans ses étroites ruelles en pente pendant les fêtes de Momo; de
posséder le lieu le plus visité par les touristes dans l’état – le Alto
da Sé – et, cependant, ne loger que 5 % de ces visiteurs.
vides existants encore et les espaces occupés avec une faible
densité interfèrent, dans la plupart des cas, sur la visibilité de la
colline historique. Ce polygone de protection du site classé a été
institué par l’IPHAN de manière complémentaire au classement
du site historique, immédiatement après la conclusion des travaux
du Complexe routier de Salgadinho, l’objectif étant de garantir un
interstice entre les deux villes et de protéger les nouveaux cônes de
vision de la colline historique et sa relation à la plaine.
Le système de préservation municipal, implanté à la fin des
années 70, a été pionnier, parmi les communes brésiliennes,
dans la mesure où il a constitué un Conseil, un organisme
technique spécifique, la Fondation centre de préservation des
Sites historiques de Olinda, le Fonds de préservation et, en plus,
le classement municipal. Bien sûr, tout ce cadre institutionnel a
contribué à ce que Olinda en vienne à mériter le titre de Patrimoine
historique de l’UNESCO.
C’est pourquoi, la commune possédant l’un des plus importants
patrimoines historiques et culturels du Brésil, mondialement
reconnu comme un exceptionnel exemple d’architecture, rencontre
des difficultés pour prendre soin de cet important héritage culturel.
Olinda dispose de législations de protection à tous les niveaux,
fédéral, de l’état et municipal qui se complètent les unes les autres
et, de plus, arbore les titres de Ville écologique et de Première
capitale brésilienne de la culture.
Attirer de nouvelles entreprises est une tâche toujours plus
difficile à cause de la rareté de zones adaptées à l’implantation
d’activités économiques de poids. Les espaces vides se résument
actuellement à 6,8 km2 d’une zone rurale qui protège les sources
de nos principaux ruisseaux, et à la plaine située aux limites de
Récife et qui constitue une aire de protection de la visibilité de
la colline historique. Les deux lieux souffrent une forte pression.
La zone rurale présentent plusieurs lotissements irréguliers alors
que toute la surface de la plaine qui entoure le site historique est
inondable (considérées par la législation comme non aedificandi)
et occupée de manière désordonnée, ce qui est aujourd’hui objet
d’intervention de la part des pouvoirs publics. Cette région, à
présent connue comme Mémorial Arcoverde, est la plus convoitée
pour l’implantation d’entreprises qui viendraient contribuer à offrir
à la commune un plus grand dynamisme économique. Cela en
raison de sa localisation stratégique, proche des centres politiques
et administratifs de Olinda et de Récife et de son accès aisé.
Le tourisme culturel a pris de l’importance lors de ces dernières
années, mais il ne représente pas encore un très grand flux. Etre
détentrice du titre de Patrimoine Culturel Mondial ne semble
pas inciter la majorité des brésiliens à la visiter. C’est plutôt son
charme et son éventail d’événements culturels qui jouent ce rôle.
Ce qui prouve que les éléments qui caractérisent le plus son
identité aujourd’hui, en dépit des arguments qui lui ont valu le titre
de l’UNESCO, sont ses manifestations culturelles.
Néanmoins, occuper cette zone nous pose une équation délicate.
Hormis les occupations irrégulières et le fait qu’il existe à ses
alentours plusieurs équipements d’envergure métropolitaine, les
A la différence d’autres pays où se trouvent des villes qui exhibent
le symbole de l’UNESCO avec fierté et comme attrait pour le
tourisme culturel, au Brésil, les sites qui sont reconnus comme
Patrimoine mondial n’ont jamais été très divulgués, que ce soit
par les organismes gouvernementaux ou par l’initiative privée. A
Olinda, par exemple, c’est depuis peu que le logotype indiquant
que Olinda est Patrimoine Culturel Mondial est utilisé comme
icône principal de la signalisation touristique de la ville et dans sa
documentation promotionnelle.
Cependant, faire partie des neuf villes Patrimoine Mondial du
Brésil a été un facteur décisif pour l’inclusion du Site Historique
124
À esquerda, Rua 27 de Janeiro ∙ G|7. À direita, Av. Sigismundo Gonçalves ∙ I|8
de Olinda dans le Programme Monumenta (dès sa première
étape), aussi bien que dans le Programme de développement du
tourisme (Prodetur). De telles initiatives permettent la réalisation
d’interventions significatives de conservation des monuments et de
revitalisation des places (rues, jardins publics). On peut remarquer
parmi ces interventions: la requalification du Largo do Rosário
dos Homens Pretos, du Varadouro et du Fortim, qui ont bénéficié
du traitement d’urbanistes, d’équipement urbain, de loisirs et de
stationnement; la récupération de la Ladeira Saldanha Marinho
et du Beco do Bajado; la restauration des églises du Carmo et du
Rosário dos Homens Pretos; l’implantation du Parc du Carmo qui
intègre les places de l’Abolição, du Carmo et le Sítio de Seu Reis,
le plus grand parc urbain de la ville; la réurbanisation de l’Alto da
Sé, comprenant la récupération du château d’eau et l’installation
de l’ascenseur panoramique; la construction du marché pour les
vendeurs d’artisanat; la restauration de l’Observatoire: la mise en
place du stationnement du Largo da Conceição.
Avoir le titre de Patrimoine Mondial a bien sûr un poids important
pour obtenir des financements, non seulement pour des
interventions dans le site historique, mais aussi pour attirer des
investissements en infrastructure dans les zones pauvres de Olinda,
comme c’est le cas pour l’urbanisation des Assentamentos Precários
(favelas) du V8, du V9 et de l’île du Maruim, communautés insérées
dans le polygone de préservation de l’aire classée et qui reçoivent
des investissements en assainissement intégré, asphaltage des
rues principales, mise en place d’aires de rencontre, loisirs et
sports, programmes sociaux, construction de nouvelles habitations,
couverture et traitement urbanistique des berges du canal de la
Malária. Des interventions de cette nature et de cette ampleur sont
réalisées dans cinq autres aires pauvres de la commune.
Dans le Site Historique, Olinda a anticipé le Programme
d’accélération de la croissance, ou PAC des villes historiques,
quand elle a obtenu de la part des gouvernements, à la fois
fédéral et de l’état du Pernambouc, les ressources nécessaires
à l’exécution de projets et oeuvres d’infrastructure comme, par
exemple, la mise en place de deux étapes du projet d’enterrement
des réseaux de fils de téléphone et d’électricité, ce qui a permis le
remplacement des poteaux et de l’illumination publique; la mise
en place de la sectorisation des réseaux de distribution d’eau dans
les parties haute et basse de la ville, provenant des réservoirs du
Monte, de la Sé et de la Ribeira; mise en place de la première
Route accessible, avec adaptation des niveaux des trottoirs et
chaussées, revêtements adaptés et élimination d’obstacles,
offrant ainsi à tous un cheminement libre et sûr; régulation de la
circulation et de la signalisation des rues où l’accès est aujourd’hui
interdit aux véhicules lourds. Des sens uniques garantissant une
plus grande fluidité et permettant le stationnement unilatéral
ont également été mis en place. Des projets de signalisation
touristique ont déjà été approuvés par l’IPHAN qui a autorisé leur
implantation.
Dans cette zone, des études approfondies ont été faites pour
retenir les glissements de terrain, avec des projets détaillés de
drainage, d’égouts et de retenue des zones à risque et dont les
financements ont déjà été inclus dans le PAC-2.
Parallèlement, l’administration municipale a offert un traitement
particulier à l’entretien des parcs et des services publics du site
historique incluant: récupération des revêtements de la chaussée
et des trottoirs; remplacement des lampes; balayage et collecte
quotidienne des déchets solides; collecte sélective des déchets
recyclables deux fois par semaine; lavage périodique des rues;
protection des monuments lors de grands événements, entre autres
services.
Malgré tout ce qui a déjà été fait, il y a certains aspects qui doivent
être renforcés dans la mesure où ils sont fondamentaux pour la
À esqueda, casa na Rua Prudente de Morais ∙ F|8. À direitra, casarão na Rua de São Bento ∙ E|7
garantie de la préservation du site comme, par exemple: l’entretien
et le remplacement de la végétation, le renforcement du contrôle et
de l’éducation patrimoniale, l’élargissement de l’accessibilité et de
la durée des séjours des touristes, entre autres.
Avec le titre de Patrimoine Mondial, des entreprises se sont
sensibilisées à la préservation du site historique, à l’exemple de
la PETROBRAS et de la Banque nationale de développement
économique et social (BNDES), qui estiment que Olinda est une
ville-phare et donc digne d’un traitement de faveur en ce qui
concerne l’octroi de ressources pour la récupération d’équipements
culturels et, surtout, pour la réalisation d’événements du même
type.
Olinda est considérée comme un pôle de loisirs de la Région
métropolitaine de Récife. Le flux intense de visiteurs les week-ends
en est la preuve. Des habitants des quartiers et des communes
avoisinants y viennent à la recherche de diversion ou, tout
simplement, pour s’y promener et jouir des panoramas et des
paysages offerts en différents endroits. En été, les week-ends sont
animés par les répétitions des groupes de carnaval, maracatu,
écoles de samba et autres groupes qui défilent dans les rues et
ladeiras qui montent et descendent les collines – tous les ans plus
fréquentées surtout les dimanches et durant la période qui s’étend
de fin décembre jusqu’au carnaval.
La ville offre également un riche et attrayant calendrier culturel
composé d’événements déjà traditionnels comme – Arte em Toda a
Parte; Mostra Internacional de Música de Olinda (MIMO); Olinda
Jazz; Encontro de Bandas de Pífanos; le spectacle de la Paixão
de Cristo (durant la semaine de Pâques) et, plus récemment, la
Feira Literária Internacional – Fliporto. Sans compter les sérénades
hebdomadaires, la Saint Jean, le réveillon et la gastronomie.
Arriver à concilier la force de ces attraits touristiques, culturels
125
et de loisirs et la vie de la population résidente, tout comme la
capacité d’accueil de la population du site historique est le grand
défi imposé quotidiennement à l’administration municipale.
Intercéder dans les conflits d’intérêts entre les divers publics et
les acteurs sociaux impliqués, entre ceux qui habitent la ville et
ceux qui la fréquentent à la recherche de distraction et de loisirs,
demande modération et bon-sens de la part des pouvoirs publics
afin d’atteindre un équilibre entre ces différentes activités, le
respect du bien-être des gens et le maintien de l’intégrité physique
des bâtiments – dont elle est le principal gardien.
Les maisons et leurs habitants
Olinda a toujours eu diverses périodes de dynamisme alternant
avec des phases de stagnation. Après son apogée et la perte du
siège du gouvernement en faveur de Récife, à l’époque coloniale,
Olinda est passée par une longue période de stagnation, ne
ressurgissant que dans les premières décennies du siècle dernier
avec l’introduction des bains de mer, recommandés par les
médecins, devenant ainsi une ville estivale. Occasion par laquelle
il y a eu une expansion et la modification de structures existantes
auxquelles ont été ajoutées des éléments néoclassiques et
éclectiques.
Plus tard, dans les années 60, Olinda a été choisie par des
artistes, devenant ainsi la scène de mouvements artistiques
comme, par exemple, celui de la Ribeira. Depuis lors, la ville
assiste à des cycles, parmi lesquels, celui des professions libérales
qui l’ont élue comme domicile, avec une plus grande incidence
à partir des années 70, en plus des étrangers qui ont fait
l’acquisition de maisons, surtout après que la ville a reçu le titre de
l’UNESCO.
126
Comme n’importe quel lieu où existent des attraits et du
dynamisme, il y a toujours une plus grande pression immobilière
et, par conséquent, modifications et adaptations de ses structures
physiques. Dans le cas du site historique, les changements ont
lieu aussi bien dans l’utilisation des bâtiments que dans le profil
de la population résidente. A mesure que le temps passe, les
habitations s’adaptent de plus en plus pour répondre aux besoins
des habitants. C’est un défi de plus du patrimoine construit:
comment se rénover sans perdre ses caractéristiques?
Les principales modifications de l’utilisation résidentielle ont eu
lieu avec les constructions les plus importantes, appartenant à
des familles traditionnelles qui n’ont pas réussi à conserver leur
patrimoine (ou mieux, le Patrimoine Mondial). Aujourd’hui, on y
trouve auberges, restaurants, boutiques d’artisanat, équipements
publics entre autres activités liées au tourisme et à la culture.
Si, d’une part, ces rénovations récupèrent des immeubles
détériorés et apportent des bénéfices économiques à la ville,
elles interfèrent d’autre part sur la typologie des constructions
historiques. On peut observer que l’intensité de cette interférence
est proportionnelle à la capacité financière du propriétaire. Et elles
sont plus ou moins positives ou nuisibles envers le patrimoine
selon le niveau de connaissance des personnes qui interviennent
sur les valeurs attribuées au bâtiment.
Ainsi, l’initiative récente du Centre d’études avancées de
conservation intégrée (CECI) de publier un manuel intitulé
Conservar: Olinda boas práticas no casario (avec des ressources
du Fundo de Direitos Difusos, du Ministère de la justice) a le
mérite de contribuer à la conservation des valeurs patrimoniales du
site historique. La publication décrit de manière claire, objective et
même didactique, l’importance du patrimoine construit et oriente
les propriétaires et professionnels à réaliser des interventions
architecturales de manière compatible avec les caractéristiques
originales. Les informations contenues dans ce travail comblent les
failles des législations en vigueur qui, bien qu’elles aient établie
des paramètres rigides pour la volumétrie et le revêtement des
façades des maisons et immeubles, ont peu déterminé de limites
pour la préservation des caractéristiques internes.
Pour les habitants, les natifs et ceux qui ont choisi la ville pour
ses attributs (autrefois appelés “forasteiros” ou ceux qui viennent
du dehors), l’importance du titre reçoit des échos divers, qui
varient selon la nature de leur relation à la ville. Ce que l’on perçoit
cependant, c’est que le niveau de conscience de la population est
relativement élevé, ce qui est prouvé par l’existence d’institutions
telles que, par exemple, la Sociedade de Defesa da Cidade Alta
(Sodeca). Active depuis le début des années 80, la Sodeca est
présente dans tous les moments de la ville, défendant aussi bien
la préservation du site historique que les intérêts de ses habitants.
Elle participe aux discussions de projets et de politiques publiques,
surtout quand cela concerne la préservation de la culture liée au
tourisme et aux autres activités qui apportent des répercussions
dans la vie des habitants de la zone classée.
L’organisation des entrepreneurs du secteur touristique a permis
leur participation au conseil et aux conférences. La construction
récente du Système municipal de culture a permis l’organisation
et le renforcement de tous les secteurs culturels de la ville, comme
une concentration assez expressive des acteurs du site historique.
La prédominance de l’usage résidentiel a, à son tour, permis
de maintenir les traditions et la culture locale ce qui a pour
conséquence une ville vivante où les habitants s’intègrent et
participent activement aux institutions religieuses et profanes et
garantissent la pérennité de ces activités.
Aujourd’hui, presque 30 ans après la reconnaissance par le Comité
du patrimoine mondial de son exceptionnelle valeur universelle,
on peut dire que ce statut obtenu par la ville de Olinda a apporté
à tous – gouvernants, habitants, investisseurs – une nouvelle
manière de voir la ville, ce que prouvent les interventions réalisées
dans la protection du patrimoine et dans l’offre de meilleurs
services et infrastructures, aussi bien pour la population qui y
vit que pour les visiteurs et touristes. Les photos d’aujourd’hui
prouvent ces changements qui, certainement, garantiront une
longue trajectoire et son usufruit par les générations à venir.
Cine Olinda, Av. Sigismundo Gonçalves ∙ I|9
127
128
Farol de Olinda
129
1
3
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1 Igreja de Nossa Senhora do Desterro e Convento de Santa Tereza ∙ E|1
2 Igreja de São Sebastião ∙ G|5
3 Igreja e Mosteiro de São Bento ∙ H|6
4 Igreja dos Milagres ∙ I|4
5 Igreja do Convento de Santo Antônio do Carmo ∙ H|8
6 Fortim de São Francisco ∙ I|11
7 Igreja de São Pedro Apóstolo ∙ G|8
8 Museu do Mamulengo ∙ F|7
9 Museu de Arte Contemporânea ∙ E|7
10 Igreja de Nossa Senhora da Boa Hora ∙ D|7
11 Capela de São Pedro Advíncula ∙ E|7
12 Mercado da Ribeira ∙ E|8
13 Quatro Cantos ∙ E|8
14 Igreja do Senhor Jesus do Bonfim ∙ E|9
15 Igreja de Nossa Senhora da Misericórdia ∙ D|9
16 Observatório do Largo da Sé ∙ E|10
17 Catedral da Sé - Igreja de São Salvador do Mundo ∙ F|11
18 Igreja de Nossa Senhora das Neves e Convento de São Francisco ∙ G|12
19 Igreja de Nossa Senhora da Graça e Seminário de Olinda ∙ F|12
20 Museu de Arte Sacra ∙ E|10
21 Igreja e Convento de Nossa Senhora da Conceição ∙ C|10
22 Igreja de Nossa Senhora do Amparo ∙ B|9
23 Igreja de Nossa Senhora de Guadalupe ∙ A|9
24 Igreja de São João Batista dos Militares ∙ A|9
25 Igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos de Olinda ∙ A|10
26 Igreja e Mosteiro de Nossa Senhora do Monte ∙ A|12
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12
132
Catedral da Sé - Igreja de São Salvador do Mundo ∙ F|11
Interior da Catedral da Sé - Igreja de São Salvador do Mundo · F|11
133
134
Vista do Largo da Sé ∙ F |11. Abaixo, comércio e aspectos do Largo da Sé
Em primeiro plano, Caixa d’Água com elevador panorâmico e Catedral da Sé - Igreja de São Salvador do Mundo e, mais ao longe, Fortim de São Francisco
135
136
137
138
Páginas 136 e 137, Igreja do Convento de Santo Antônio do Carmo ∙ I|11. Nesta página, Praia do Carmo ∙ I|11
Fortim de São Francisco ∙ I|11
139
140
Igreja de Nossa Senhora das Neves e Convento de São Francisco ∙ G|12
141
142
Página ao lado, Igreja de Nossa Senhora das Neves e Convento de São Francisco ∙ G|12. Nesta página, abaixo, Igreja do Convento de Santo Antônio do Carmo ∙ H|8
143
144
Igreja do Senhor Jesus do Bonfim ∙ E|9
Igreja de Nossa Senhora do Amparo ∙ B|9
145
146
Página ao lado, Igreja de Nossa Senhora da Graça e Seminário de Olinda ∙ F|12. Abaixo, Capela de São Pedro Advíncula ∙ E|7 e Bica de São Pedro, na Rua Henrique Dias
147
148
149
150
Páginas 148 e 149, Igreja e Mosteiro de São Bento ∙ H|6. Nesta página, à esquerda e à direita superior, Igreja de Nossa Senhora da Misericórdia ∙ D|9.
À direita, abaixo, Academia Santa Gertrudes. Página ao lado, Rua Bernardo Vieira de Melo ∙ E|8 e, ao fundo, vista do Recife
151
152
Igreja dos Milagres ∙ I|4
Igreja e Mosteiro de Nossa Senhora do Monte ∙ A|12
153
154
À esquerda, acima, Igreja de Nossa Senhora de Guadalupe ∙ A|9. À esquerda, abaixo, Igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos de Olinda ∙ A|10
À direita, sino da Igreja de Nossa Senhora da Boa Hora ∙ D|7
Igreja e Mosteiro de Nossa Senhora do Monte ∙ A|12
155
156
Passo da Ribeira ∙ E|8 e, ao longe, Catedral da Sé - Igreja de São Salvador do Mundo ∙‌ F|11
Acima, à esquerda, Catedral da Sé ∙ F|11, vista do Seminário de Olinda ∙ F|12. Acima, à direita, Igreja e Convento de Nossa Senhora da Conceição ∙ C|10
Abaixo, à esquerda, Igreja de N. Sa. das Neves e Convento de São Francisco ∙ G|12, vistos do Seminário de Olinda ∙ F|12. Abaixo, à direita, Igreja e Mosteiro de São Bento ∙ H|6
157
158
Acima, à esquerda, Convento de Nossa Senhora da Conceição ∙ C|10. Acima, à direita, Igreja de Nossa Senhora de Guadalupe ∙ A|9.
Abaixo, à esquerda, Igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos de Olinda ∙ A|10. Abaixo, à direita, imagem de Nossa Senhora, Igreja dos Milagres ∙ I|4
Beco das Cortesias ∙ D|8
159
160
Palácio dos Governadores, atual Prefeitura Municipal de Olinda, Rua de São Bento ∙ F|7
Cláudia Ribeiro Nigro
Socióloga, coordenadora de planejamento da
Sodeca – Sociedade Olindense de Defesa da
Cidade Alta.
Sociologist, planning coordinator of the Society for
the Defense of the Upper Town of Olinda.
Sociologue, coordinatrice de la planification de la
Sodeca – Sociedade Olindense de Defesa da
Cidade Alta.
Papai era músico, poeta, boêmio e tocava vários
instrumentos. Ele fez não só o Hino do Elefante,
como o da Pitombeira, e várias músicas desses
blocos antigos. Mãe também era uma carnavalesca.
My father was a musician, a poet, a bohemian. He
played lots of instruments, and he didn’t just write
the carnival music for the Elefante parade, but also
for Pitombeira. He wrote lots of songs for those
old-time carnival parades. My mother also worked
designing carnival parades.
Mon père était musicien, poète, bohème. Il
jouait plusieurs instruments et il a composé non
seulement l´Hymne de l´Eléphant, comme celui de
la Pitombeira et plusieurs autres musiques de vieux
orchestres traditionnels. Ma mère aussi était une
passionnée du Carnaval.
In our family, we all love Olinda. We fight for this
town. We really can’t put into words what this love
feels like...
Chez nous, on adore Olinda, on lutte pour cette ville,
tout cet amour… on ne sait même pas comment le
décrire…
Nós aqui em casa adoramos Olinda, a gente luta
por essa cidade, a gente não sabe nem explicar que
amor é esse...
Acima, à esquerda, Largo do Amparo ∙ D|9. Acima, à direita, Rua de São Bento ∙ F|7. Abaixo, à direita, Quatro Cantos ∙ E|8
161
162
Página ao lado, Igreja do Convento de Santo Antônio do Carmo ∙‌ H|8, vista do Alto da Sé. Abaixo, vista de Olinda e do Recife a partir do Alto da Sé ∙‌ F|11
Alcione Sá Leitão
da
163
Silva
Comerciante de artesanato do Alto da Sé.
Esse visual é maravilhoso, aqui no fundo a gente tem
o sítio e do outro lado o mar, é maravilhoso.
Craft seller on Alto da Sé.
This view is wonderful. Here behind us is the site, and
on the other side is the sea. It’s wonderful.
Commerçante et artisanne de l´Alto da Sé.
Cet endroit est merveilleux, on a au fond le site et de
l´autre côté la mer, c´est merveilleux.
164
Rua Bernardo Vieira de Melo ∙‌ E|8, vista da Ladeira da Misericórdia ∙ D|9
Eduardo Layme Dantas
Maestro Duda de Olinda.
A cidade tem em si um nome, é um patrimônio da
humanidade e esses Quatro Cantos aqui significam
muito para esta cidade. Consequentemente, nós
estamos muito bem num local que faz muito bem
aos músicos e até à cidade propriamente dita.
The town is an expression of its name. It’s the
heritage of mankind and this carnival parade meeting
point here, Quatro Cantos, means a lot to this town.
So we’re doing very well at a place that does a lot for
its musicians and even for the town itself.
La ville est un nom en soi, un patrimoine de
l´humanité, et ces Quatro Cantos ici signifient
beaucoup de choses pour cette cité. Ainsi, nous
vivons très bien dans ce lieu qui fait beaucoup de
bien aux musiciens et à la ville proprement dite.
165
166
Rua Prudente de Morais ∙ F|8. Rua do Amparo, vista da Rua Saldanha Marinho ∙ C|9. Rua Bernardo Vieira de Melo ‌∙ E|8, vista da Ladeira da Misericórdia ∙ D|9.
Página ao lado, ruinas na Rua de São Francisco ∙‌ H|10
167
168
169
170
Página ao lado, Observatório do Largo da Sé ∙ E|10. Abaixo, Museu de Arte Sacra de Pernambuco, antigo Palácio dos Bispos de Olinda ∙ E|10
Dulce Helena
do
Nascimento
Tapioqueira do Alto da Sé
Minha mãe se chama Lúcia Rosa do Nascimento,
conhecida como Tia Lu, é a primeira tapioqueira
do Alto da Sé, está aqui há mais de 50 anos. Fui
criada aqui no Alto da Sé, fazendo tapioca com ela.
Tapioca, só no Alto da Sé!
Tapioca maker from Alto da Sé
My mother is called Lúcia Rosa do Nascimento, but
everyone calls her Tia (“Auntie”) Lu. She was the
first tapioca maker on Alto da Sé. She’s been here
for over fifty years. I was brought up here on Alto da
Sé, making tapioca with her. The only tapioca worth
having is here at Alto da Sé!
Tapioqueira do Alto da Sé
Ma mère s´appelait Lúcia Rosa do Nascimento,
connue comme Tia Lu, première tapioqueira de
l´Alto da Sé, cela fait plus de 50 ans. J´ai été élevée
ici à l´Alto da Sé en faisant des tapiocas avec elle.
Tapioca? Seulement ici, à l´Alto da Sé!
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À esquerda, Rua Coronel Joaquim Cavalcanti, esquina com Rua do Amparo ∙ B|9. À direita, em primeiro plano, Rua do Amparo ∙ B|9
e, ao fundo, Igreja de São João Batista dos Militares ∙ A|9, vistas do adro da Igreja de Nossa Senhora do Amparo ∙ B|9
Praça do Carmo ∙ H|9. Rua Prudente de Morais ∙ F|8. Avenida Sigismundo Gonçalves ∙ I|9
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Em primeiro plano, Rua 15 de Novembro, Igreja de São Sebastião ∙ G|5, em segundo plano, Igreja de N. Sa. do Destino e Convento de Santa Tereza ∙ E|I e, ao fundo, o Recife
Olinda e Recife
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Carlos Eugênio Trevi
Administrador de empresas,
morador de Olinda desde 2001.
Manager,
resident of Olinda since 2001.
Administrateur,
habitant de Olinda depuis 2001.
Eu acho muito mais charmoso você ter uma casa
dentro de um sitio histórico, acho importante você
morar num local que você tem certeza absoluta de
que daqui a dez , vinte, trinta anos não vão construir
um prédio na frente da sua casa ou um posto de
gasolina do lado. Acho isso um privilégio.
I think it’s far pleasanter for you to have a house
inside a historical site. I think it’s important to live
somewhere where you’re absolutely sure that in ten,
twenty, thirty years’ time they won’t erect a high-rise
building opposite your house or a gas station next-
Je trouve bien plus charmant d´avoir une maison
dans un site historique, c´est important de vivre dans
un lieu où vous êtes sûr que d´ici dix, vingt, trente ans
on ne va pas vous construire un immeuble en face, ou
une station d´essence sur le côté. C´est un privilège.
door. I think that’s a real privilege.
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Casario da Ladeira da Misericórdia ∙ D|9, visto do Mercado da Ribeira ∙ E|8
Vera Milet
Arquiteta e urbanista,
moradora de Olinda desde 1972.
Architect and town planner,
resident of Olinda since 1972.
Architecte et urbaniste,
habitante de Olinda depuis 1972.
No meu entendimento, é necessário que a ideia de
educação patrimonial seja amplamente adotada. Ela
deve atuar tanto na conscientização e treinamento
de técnicos e gestores, como também em escolas,
associações de moradores, de comerciantes, e outros
canais ou esferas de educação e comunicação.
É necessário que seja divulgada a ideia de
responsabilidade compartilhada, e que todos se sintam
comprometidos com a causa patrimonial.
As I see it, the idea of heritage education must be
adopted across the board. It should be part of the
awareness-raising and training courses for civil
servants and public administrators, and also in schools,
residents’ associations, trade associations, and other
channels or spheres of education and communication.
We must spread the idea of shared responsibility, so
that everyone feels engaged in the heritage cause. Je pense qu´il est nécessaire que l´idée d´éducation
patrimoniale soit amplement adoptée. Elle doit agir
tant sur la formation de conscience de techniciens et
gestionnaires, comme dans les écoles, les associations
d´habitants, de commerçants ainsi que dans d´autres
secteurs ou sphères d´éducation et communication..
Il est nécessaire que l´idée de responsabilité partagée
soit divulguée, et que tous se sentent engagés dans la
cause patrimoniale.
Vista do Alto da Ladeira da Misericórdia ∙ D|9
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Acima, Igreja de Nossa Senhora da Graça e Seminário de Olinda ∙ F|12 e Igreja de Nossa Senhora das Neves e Convento de São Francisco ∙ G|12.
Abaixo, Catedral da Sé - Igreja de São Salvador do Mundo ∙ F|10. Página ao lado, Rua São João, Igreja e Rua do Amparo e Rua Saldanha Marinho ∙ B|9
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À esquerda, acima, Rua do Amparo ∙ C|9. À esquerda, abaixo, Rua de São Bento ∙ G|6. À direita, Rua Bernardo Vieira de Melo ∙‌ E|8
Sílvio Botelho
Artesão e artista plástico, criador de uma centena
de bonecos gigantes. Olindense por nascimento e
morador da cidade.
Craftsman and artist, creator of over a hundred giant
carnival figures. Born and resident in Olinda.
Artisan d´arts plastiques, créateur de centaine
de poupées géantes. Olindense de naissance et
habitant de la ville.
Eu ainda não me acostumei com a ideia e a certeza
de que Olinda é patrimônio cultural da humanidade
porque tudo pra mim é novidade, é beleza e
encantamento. Ainda consigo me encantar com os
mínimos detalhes da beleza que é morar em Olinda
e ter nascido aqui. Olinda deixa esse sentimento de
felicidade em quem mora nela.
I still haven’t got used to the idea and the certainty
that Olinda is cultural heritage of mankind, because
I see everything as new, beautiful and delightful.
The slightest detail of beauty can still enrapture me,
which is what it means to live in Olinda and be born
here. Olinda really makes the people who live here
feel happy.
Je ne me suis pas encore habitué à l´idée ni très
sûr sur le fait qu´Olinda est patrimoine culturel de
l´humanité parce que pour moi tout est nouveauté,
beauté et enchantement. J´arrive encore à
m´enchanter sur les plus petits détails de la beauté
d´habiter Olinda et d´être né ici. Olinda remplit qui y
habite de ce sentiment de bonheur.
Rua da Boa Hora ∙ E|7. Rua do Bonfim ∙ E|9. Ladeira da Misericórdia ∙ D|9
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À esquerda, Rua de São Bento ∙ E|8. À direita, Rua Bernardo Vieira de Melo ∙‌ E|8. Abaixo, cadeiras na calçada
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Maria Luisa Mendes Lins
Isa do Amparo
Artista plástica,
moradora de Olinda desde 1981.
Vim para Olinda pela mesma opinião de todos que
vieram pra cá e ficaram: a liberdade da cidade, ela
deixa você à vontade, você aqui se sente tolerado
em suas diferenças, nos seus credos, em suas
ideologias. Olinda é uma grande casa, a rua é um
corredor e cada casa é um cômodo porque a gente
convive com o vizinho da frente, dos lados, pela
frente, pelos fundos, pelos quintais, então ela é uma
comunidade por isso.
Artist,
resident of Olinda since 1981.
Artiste d´arts plastiques,
habitante de Olinda depuis 1981.
I came to Olinda for the same reason as everyone
that comes here and stays: the sense of freedom
the town has. It makes you feel comfortable.
Here, your feel that your differences, your beliefs,
your ideologies are tolerated. Olinda is like a big
house: the street is a hallway, and each house is a
room, because we spend time with our next-door
neighbors, our neighbors across the road, round the
back, across the gardens, so all of this makes it a
community.
Je suis venue habiter à Olinda pour la même
raison que les autres qui sont arrivés et sont
restés : la liberté de la ville. Elle vous rend à
l´aise, vous vous sentez acceptés dans vos
différences, croyances, idéologies. Olinda est
une grande maison, la rue, un couloir et chaque
maison, une chambre parce que l´on vit avec
le voisin d´en face, d´à côté, de l’arrière-cours
et ces jardins au fond, pour cela, c´est une
communauté.
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Rua de São Bento ∙ D|9
À esquerda, Mercado da Ribeira ∙ E|8 e, abaixo, casa na Rua de São Bento.
À direita, Rua 27 de Janeiro ∙ G|7, casarão Herman Lundgren na Av. da Liberdade ∙ G|9 e Quatro Cantos ∙ D|8
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Cine Olinda ∙ I|9. Pastor evangélico gravando programa de televisão na Praça dos Milagres ∙ I|4
Seu Biu do Doce, Praça de João Alfredo ∙ G|8
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César Santos
Chef do restaurante Oficina do Sabor,
comerciante em Olinda desde 1991.
Chef at Oficina do Sabor,
tradesman in Olinda since 1991.
Chef du Restaurant Oficina do Sabor,
commerçant de Olinda depuis 1991.
Eu não vejo o Oficina do Sabor fora daqui. Eu acho
que esse restaurante foi criado dentro de Olinda, por
conta da sua comida, das cores, da valorização dos
seus artistas que a gente expõe no restaurante, que
virou uma referência gastronômica dentro e fora do
Estado e fora do Brasil.
I can’t imagine Oficina do Sabor being anywhere else
but here. I think this restaurant was created inside
Olinda because of its food, its colors, the value it
gives to the local artists we exhibit in the restaurant.
It’s become a gastronomic point of reference inside
and outside the state, outside Brazil.
Je ne vois pas l´Oficina do Sabor en dehors d´ici.
Je pense que ce restaurant a été créé dans Olinda
à cause de sa nourriture, des couleurs, de la
valorisation de ses artistes dont nous exposons les
œuvres au restaurant. C´est devenu une référence
gastronomique à l´intérieur et en dehors de l´état, en
dehors du Brésil.
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Quatro Cantos ∙ E|8
Bar na Rua da Boa Hora ∙ E|7. Loja Azul nos Quatro Cantos ∙ E|8
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Acima, detalha de Rua Prudente de Morais ∙ G|8. Abaixo, muxarabi da Praça João Alfredo ∙ G|8
Jodecilda Airola
da Silva
Dona Dá,
Há 26 anos, ela confere um troféu às agremiações
carnavalescas que desfilam pela Rua da Boa Hora.
Gosto de tudo nessa cidade e Olinda é um eterno
carnaval pra mim, apesar de que não é como era
antigamente, porque antes respeitavam mais as
pessoas, as agremiações. Mas eu adoro esta cidade.
Since 1985, Dona Dá has awarded a trophy to the
carnival groups that parade down Rua da Boa Hora.
I like everything about this town. Olinda is an eternal
carnival for me, even though it isn’t like it was in the
olden days, because then people had more respect
for each other, for the carnival parades. But I love
this town.
Depuis 1985, Dona Dá confère un trophée aux
groupes du Carnaval qui défilent dans la Rue da Boa
Hora.
Moi, j´aime tout de cette ville et Olinda est pour
moi, un carnaval permanent, même si, ce n´est plus
comme autrefois, quand les personnes, les groupes
étaient plus respectés. Mais, j´adore cette ville.
Ladeira da Misericórdia ∙ D|9
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Major José Antônio
da Silva
Atual comandante da Companhia de Apoio ao
Turista, da Polícia Militar de Pernambuco.
Filho
O que tem de diferença em relação à cidade é a
importância que ela tem para o país. Olinda tem um
contexto histórico magnífico e é importante para a
nossa história; nós estamos vivendo essa história
hoje, não estamos vivendo no passado, estamos
vivendo no presente.
Captain of the tourism brigade run by the
Pernambuco Military Police Force.
What makes this town so special is its importance
to the country. Olinda has an incredible history and
it’s important for our history; we’re experiencing this
history today. We’re not living in the past, we’re living
in the present.
Actuel commandant de la Compagnie d´appui au
touriste, de la Police Militaire de Pernambouc.
Ce qu´il y a de différent dans cette ville c´est
l´importance qu´elle a pour le pays. Olinda a un
contexte historique magnifique, important pour notre
histoire et cette histoire, nous la vivons aujourd´hui,
non au passé, mais au présent.
Museu do Mamulengo ∙ F|7
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Igreja de Nossa Senhora do Desterro e Convento de Santa Tereza ∙ E|1
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Terminou-se de imprimir este livro em 2011.
30 anos após o registro fotográfico das
imagens em preto e branco
que nele se encontram.
Os cadernos preto e branco foram impressos
em duotone, os demais em cmyk,
tudo em papel couché 150g
produzido pela
Suzano Papel e Celulose.
Em seu projeto foram utilizadas as fontes
News Gothic e pf monumenta pro,
desenhadas por Franklin Gothic e
Panos Vassiliou, respectivamente.
Foram impressos
2 mil exemplares.
Olinda foi sempre, como para
responder a uma misteriosa vocação,
uma cidade de poetas, pintores,
escultores, ceramistas, uma cidade
de música e dança, em um cenário
natural tão suntuoso que não sabemos
se é preciso descrevê-la como um
conjunto arquitetônico ornamentado
de jardins ou como um parque tropical
decorado de monumentos.
As though in fulfillment of some
mysterious vocation, Olinda has
always been a town of poets, painters,
sculptors and ceramists, a town of
music and dancing, in a natural
setting so magnificent that one does
not know whether to describe it as an
architectural ensemble embellished
with gardens, or as a tropical park
graced with monuments.
Comme si c´était pour répondre à
une mistérieuse vocation, Olinda
a toujours été la cité des poètes,
peintres, sculpteurs, céramistes, une
cité de musique et de danse, dans
un scénario naturel si somptueux que
nous ne savons pas si nous devons
la décrire comme un ensemble
architectural ornée de jardins ou
comme un parque tropical décoré de
monuments.
Amadou-Mahtar M’Bow
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- Lopes & Valadares