organização Gisela Abad fotografia Pedro Lobo TEXTOS Edson Nery da Fonseca José luiz Mota Menezes Jurema Machado Leonardo Dantas Silva Marcos Vinicios Vilaça Sônia Coutinho Calheiros RECIFE 2011 Copyright da obra © 2011 Caleidoscópio Criação e Desenho Ltda. [email protected] Captação de recursos | Instituto Ondular | Jorge Wanderley | [email protected] Realização | Caleidoscópio Criação e Desenho Ltda. Coordenação editorial e Produção executiva | Caleidoscópio | Gisela Abad Acompanhamento da execução administrativo-financeira | Mariana Melo Assistente de produção | Elane Assunção Fotografias| Pedro Lobo | www.lobofoto.com Assistente de fotografia 2010 (coloridas) | Renato Titi Barbosa Pós-produção das fotografias de 2010 (coloridas) | Carla Ciatto Digitalização dos negativos de 1981(preto e branco) | Oscar Henrique Liberal de Brito Cunha Tratamento das imagens de 1981 | Robson Lemos Preparação das imagens para gráfica e Acompanhamento da impressão | Robson Lemos Projeto gráfico | 2abad | Gisela Abad Assistentes | Alice Miranda, Mariana Melo e Pedrina Reis Tradução para o inglês | Adriano Messias, Rebecca Atkinson, Roberto Moreira Dias Sarah Bailey e Sidney Pratt Tradução para o francês | Didier Block, François Tardieux e Régine Carole Bandler Nogueira Revisão textual | Norma Baracho Entrevistas para captação de frases que acompanham as imagens coloridas | Juliana Cuentro Pré-impressão e Impressão | Gráfica Santa Marta O voo de helicóptero para captar imagens aéreas foi proporcionado pela Casa Civil do Governo do Estado de Pernambuco. Apoio L742 Execução Patrocínio Linda Olinda / Organizadora: Gisela Abad; Fotografia de Pedro Lobo; Textos de Edson Nery da Fonseca... et. al. – Recife: Caleidoscópio, 2011. 208 p. Il. Livro trilingue (português, inglês e francês) ISBN 978-85-63055-09-5 1. Olinda – Pernambuco 2. Olinda – Patrimônio Histórico e Cultural da Humanidade. I. Abad, Gisela (org.) II. Título. CRB4/1544 CDU 981.34 Realização Alcione Sá Leitão da Silva ∙ Comerciante de Artesanato do Alto da Sé Capitão Alexandre Arruda Pereira e Silva Alexsandro Suplinio Ramos (Lobão) Anco Márcio Tenório Vieira Irmã Belchior ∙ Convento de Nossa Senhora da Conceição do Sabor Carlos Eugênio Trevi Agradecimentos Casa Civil do Estado Ricardo Leitão Beatriz Andrade Zenaide Araújo de César Santos ∙ Chef do Pernambuco Restaurante Oficina Cláudia Ribeiro Nigro ∙ Coordenadora de Defesa da Cidade Alta (Sodeca) de Planejamento da Sociedade Olindense Cristiana Carvalho Dulce Helena do Nascimento ∙ Tapioqueira do Alto da Sé Eduardo Layme Dantas (Maestro Duda de Olinda) Elaine Douglas ∙ Observatório de Olinda Fabiano Nascimento Dom Abade Felipe da Silva ∙ Mosteiro de São Bento Gilzete Vilela de Almeida ∙ Igreja de São Francisco Gleide Selma Heloísa Arcoverde de Morais Igreja dos Milagres Irmã Edvânia Irmã Márcia Iphan Lia Mota ∙ Coordenadora Geral de Pesquisa e Documentação Hilário Figueiredo Pereira Filho ∙ Chefe do Arquivo Central – Rio de Janeiro Jurema Kopke Eis Arnaut ∙ Arquiteta do Departamento de Patrimônio Material e Fiscalização Oscar Henrique Liberal de Brito Cunha ∙ Chefe do Laboratório Fotográfico e do Núcleo de Conservação Jodecilda Airola da Silva (Dona Dá) Major José Antônio da Silva Filho ∙ Comandante Turista da Polícia Militar de Pernambuco Jovelina Aquino ∙ Prefeitura de da Companhia de Apoio Olinda Juliana Cuentro Luciano Pinheiro Dona Madalena ∙ Igreja da Boa Hora Márcia Sant’Anna Maria Luisa Mendes Lins (Isa do Amparo) Maria Millet Mateus Sá Patricia Telles Rosildo Pires ∙ Prefeitura de Olinda Sandra Dias Secretaria de Educação de Olinda Ana Cristina Fonseca Eneida César ∙ Diretora de Ensino Fátima Guerra ∙ Chefe do Departamento de Educação Básica Secretaria de Patrimônio e Cultura de Olinda Márcia Maria da Fonte Souto ∙ Secretária de Patrimônio Clarice Andrade Pepe Jordão Sílvio Botelho Socorro Vilaça Sônia Calheiros Tereza Suassuna Irmã Vânia Toscano ∙ Academia Santa Gertrudes Vera Milet e Cultura ao Igreja de São Pedro Apóstolo · G|8. Páginas 6 e 7, Olinda vista do mar. O tempo cultural não é cronológico. Coisas do passado podem, de repente, tornar-se altamente significativas para o presente e estimulantes do futuro. In: E Triunfo?: as questões dos bens culturais no Brasil Aloísio Magalhães, 1985 Igreja de Nossa Senhora da Graça e Seminário de Olinda ∙ F|12 14 16 18 Apresentação presentation apresentacion Marcos Vinicios Vilaça 33 OLINDA, OLINDÍSSIMA 43 OLINDA, AN EXPRESSION OF BEAUTY 53 Olinda, une ville ravissante leonardo dantas silva 34 O’linda! O teu nome bem diz... 44 O’linda! Oh, how fine! your name says it all... 54 O’linda! Tu portes bien ton nom... José Luiz Mota Menezes 36 OLINDA, LINDA FORMA DE CONSTRUIR UMA HISTÓRIA DA ARTE E DA ARQUITETURA 46 58 OLINDA – A FINE HISTORY OF ART AND ARCHITECTURE OLINDA – UNE BELLE MANIÈRE DE CONSTRUIRE UNE HISTOIRE DE L’ART ET DE L’ARCHITECTURE eDSON nERY DA fONSECA 62 oLINDA POÉTICA POETIC OLINDA OLINDA POETIQUE jUREMA mACHADO 83 OLINDA ENSINA 99 OLINDA TEACHES US 115 OLINDA ENSEIGNE SÔNIA COUTINHO CALHEIROS 90 OLINDA, PATRIMÔNIO cULTURAL DA HUMANIDADE 106 OLINDA world cultural heritage 122 OLINDA CULTUREL Mondial 6-127 Imagens de 1981 realizadas com o objetivo de compor o dossiê para pleitear o título de Patrimônio da Humanidade concedida pela UNESCO 129-208 Fotografias de 2010 Nas legendas deste livro há um localizador alfa-numérico referente às coordenadas do mapa da página 130. 12 Edson Nery da Fonseca Recifense, diplomado em 1947 pelo Curso Superior de Biblioteconomia da Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro, dedicou-se à formação de bibliotecários na Universidade do Recife e, a partir de 1962, na Universidade de Brasília. É Professor Emérito da Universidade de Brasília e Pesquisador Emérito da Fundação Joaquim Nabuco. Publicou entre outros livros Introdução à biblioteconomia (1992, 2ª ed. 2007), Gilberto Freyre de A a Z (2002), O Recife revisitado (2002), Alumbramentos e perplexidades (2002), Em torno de Gilberto Freyre (2007), Vãose os dias e eu fico (2009) e Estão todos dormindo (2010). Atualizou e prefaciou a 6ª edição do livro de Gilberto Freyre Olinda: 2º Guia prático, histórico e sentimental da cidade brasileira (2007). Born in Recife, graduated in 1947 from the Library Course of the National Library of Brazil in Rio de Janeiro. He himself became a teacher of librarians at the University of Recife and, after 1962, at the University of Brasilia. He is Professor Emeritus of the University of Brasilia and Researcher Emeritus of the Joaquim Nabuco Foundation. He has published, among others works, Introdução à Biblioteconomia [Introduction to Librarianship] (1992, 2ª Ed. 2007), Gilberto Freyre de A a Z [Gilberto Freire from A to Z] (2002), O Recife revisitado [Recife revisited] (2002), Alumbramentos e perplexidades [Surprises and puzzles] (2002), Em torno de Gilberto Freyre [About Gilberto Freire] (2007), Vão-se os dias e eu fico [The days go by and I remain] (2009) and Estão todos dormindo [They are all sleeping] (2010). He updated and wrote the preface for the 6th edition of Gilberto Freyre’s Olinda: 2º guia prático, histórico e sentimental da cidade brasileira [Olinda, a second practical, historical and guide to the Brazilian city] (2007). Originaire de Recife, diplômé du Cours supérieur de bibliothéconomie de la Bibliothèque nationale de Rio de Janeiro en 1947, Edson Nery da Fonseca s’est consacré à la formation de bibliothécaires à l’Université de Recife et, à partir de 1962, à l’Université de Brasilia. Il est professeur émérite à l’Université de Brasilia et chercheur émérite à la Fondation Joaquim Nabuco. Il a publié, entre autres, Introdução à Biblioteconomia (1992, 2e Ed. 2007), Gilberto Freyre de A a Z (2002), O Recife revisitado (2002), Alumbramentos e perplexidades (2002), Em torno de Gilberto Freyre (2007), Vão-se os dias e eu fico (2009) e Estão todos dormindo (2010). Il a aussi mis à jour le livre de Gilberto Freyre Olinda: 2º guia prático, histórico e sentimental da cidade brasileira (2007) et en a écrit la préface. Gisela Abad Pernambucana. Graduada (1980) e Mestre (2010) em Design pela Escola Superior de Desenho Industrial – UERJ, com especialização em Design da Informação pela UFPE (2000), atua como designer desde 1974. Trabalhou no Núcleo de Editoração da Fundação Nacional próMemória, Secretaria do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional entre 1980 e 1984. Tem-se dedicado ao design gráfico, editorial, identidade corporativa, sinalização, museografia e coordenação editorial. Prêmio IAB Nacional em desenho industrial em 1977; UERJ, prêmio em programação visual em 1978; Salão Pernambucano de Design 2004, destaque nas categorias Identidade Visual e Projeto Gráfico. Pernambucan, graduated with a Master’s in Design from the Higher School of Industrial Design, specializing in Information Design at the Federal University of Pernambuco. She has worked as a designer since 1974. She worked with the Editorial Core Group of the National proMemorial group of the National Secretariat for Historical and Artistic Patrimony between 1980 and 1984. She has specialized in graphic design, editing, cooperate logos, signage, museography and editorial coordination. She was awarded the IAB national prize for industrial design in 1977, the UERJ prize for visual programming in 1978, and in the Pernambuco Design Exhibition of 2004 was honored in the categories of Visual Identity and graphic production. Est née dans l’État de Pernambuco. Designer depuis 1974, elle détient une maîtrise et un mastère en design de l’École Supérieure de Dessin Industriel, ainsi qu’une spécialisation en design de l’information de l’Université Fédérale de Pernambuco. De 1980 à 1984, elle a travaillé au Centre de publication (Núcleo de Editoração) de la Fondation nationale próMemória du Secrétariat du patrimoine historique et artistique national. Elle a travaillé dans divers domaines: design graphique, design éditorial, identité corporative, signalétique, muséographie et coordination éditoriale. Elle a reçu le prix national de dessin industriel de l’Institut des architectes du Brésil en 1977, le prix de programmation visuelle de l’Université fédérale de Rio de Janeiro et une mention spéciale dans les catégories Identité visuelle et Projet graphique au Salon du design de Pernambuco en 2004. José Luiz Mota Menezes É arquiteto. Professor da Universidade Federal de Pernambuco no Programa de Pós-Graduação em Arqueologia e Conservação do Patrimônio. Ocupa o cargo de vice-presidente do Instituto Arqueológico, Histórico e Geográfico Pernambucano. É membro titular do Conselho de Desenvolvimento Urbano da Prefeitura da Cidade do Recife e também do Conselho Regional de Engenharia, Agronomia e Arquitetura. Tem vários livros e artigos publicados no Brasil e no exterior, como o Atlas histórico e cartográfico do Recife, do qual foi coordenador (Editora Massangana). Arquitect, University Professor at the Federal University of Pernambuco in the Post Graduate Department of Archeology and Historical Preservation. He is Vice-President of the Archeological, Historical and Geographical Institute of Pernambuco. He is a permanent member of the Council on Urban Development for the City of Recife and also on the Regional Council of Engineering, Agronomy and Architecture. He has published a number of works in Brazil and abroad, such as the Historical and Cartographical Atlas of Recife, of which he was the coordinator (Editora Massangana, 1985). Architecte, professeur du programme de troisième cycle en Archéologie et conservation du patrimoine de l’Université fédérale de Pernambuco. Il est aussi vice-président de l’Institut archéologique, historique et géographique de Pernambouc, membre titulaire du Conseil de développement urbain de la Mairie de Recife et du Conseil régional du génie, de l’agronomie et de l’architecture. Il a publié plusieurs livres et articles au Brésil et à l’étranger, parmi lesquels Atlas Histórico e Cartográfico do Recife (Editora Massangana, 1985), dont il a été le coordinateur. Jurema Machado Arquiteta, coordenadora de Cultura da UNESCO no Brasil desde 2001, supervisiona a implementação dos programas e Convenções da UNESCO relacionados à temática da Cultura no país. Entre 1999 e 2001, atuou como arquiteta em programa nacional de reabilitação de centros históricos. De 1995 a 1998, presidiu o Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico de Minas Gerais, dedicado à preservação do acervo de bens culturais daquele estado. Coordenou equipe interinstitucional que, entre 1993 e 1994, concebeu e implementou legislação urbanística e sistemática de controle das intervenções no sítio tombado de Ouro Preto. Entre 1980 e 1991, trabalhou como arquiteta urbanista na reabilitação da área central e no planejamento metropolitano de Belo Horizonte. Architect, Cultural coordinator for UNESCO in Brazil since 2001, she has been responsible for supervising UNESCO contracts and projects related to culture in Brazil. Between 1999 and 2001, she worked as an architect on the national program for rehabilitation of historic landmarks. Between 1995 and 1998 she presided over the State Institute for Historic and Artistic Patrimony of Minas Gerais, which was responsible for the preservation of the cultural effects in that state. She was the coordinator of the inter-institutional team which, between 1993 and 1994, conceived and implanted urban legislation to control reconstruction in the historical site of Ouro Preto. Between 1980 and 1991, she worked as an urban architect in the rehabilitation of the downtown area and metropolitan planning for the city of Belo Horizonte. Architecte, coordinatrice de la Culture à l’UNESCO Brésil depuis 2001, elle s’occupe de la supervision de la mise en œuvre des programmes et des conventions de l’UNESCO ayant trait à la culture dans l’ensemble du pays. De 1999 à 2001, elle a travaillé comme architecte pour le Programme national de réhabilitation des centres historiques. De 1995 à 1998, elle a présidé l’Institut du patrimoine historique et artistique de Minas Gerais, qui veille à la préservation du fond de biens culturels de cet État. Elle a coordonné, en 1993 et 1994, l’équipe interinstitutionnelle qui a conçu et mis en œuvre la législation urbanistique et systématique de contrôle des interventions sur le site classé d’Ouro Preto. De 1980 à 1991, elle a travaillé comme architecte urbaniste à la réhabilitation de la région centrale et à la planification métropolitaine de Belo Horizonte. Leonardo Dantas Silva É recifense do bairro da Torre, formado em Direito pela Universidade Católica de Pernambuco (1969), jornalista profissional desde a juventude, conferencista, pesquisador dedicado aos Estudos Pernambucanos, constante colaborador em jornais e revistas do Brasil e do exterior, autor e/ou organizador de 46 livros e opúsculos, publicados entre 1972 e 2009, produtor e administrador cultural, criador da Fundação de Cultura Cidade do Recife (1979), exdiretor da Editora Massangana da Fundação Joaquim Nabuco (1987-2003), membro efetivo do Conselho Estadual de Cultura, sócio do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, do Instituto Histórico e Geográfico de Santa Catarina e do Instituto Arqueológico, Histórico e Geográfico Pernambucano, consultor do Instituto Ricardo Brennand (Recife). 13 Resident of the Torre neighborhood in Recife. He graduated in Law at the Catholic University of Pernambuco (1969). He has been a professional journalist since he was young, giving conferences and doing research related to the study of the state of Pernambuco. He has published in both Brazilian and foreign newspapers and magazines. He is the author/ organizer of 46 books and other works, published between 1972 and 2009. He is a producer and cultural administrator, creator of the Cultural Foundation of the City of Recife (1979), ex-director of the Massangana Publishing House of the Joaquim Nabuco Foundation (1987-2003), permanent member of the State Council on Culture, fellow of the Brazilian History and Geography Institute, of the History and Geography Institute of Santa Catarina and of the Pernambuco Historical, Archeological and Geographical Institute, as well as an advisor to the Ricardo Brennand Institute in Recife. Est né dans le quartier de Casa Forte à Recife. Il est diplômé en droit de l’Université catholique de Pernambuco(1969), journaliste professionnel depuis sa jeunesse, conférencier, chercheur spécialisé dans l’étude de Pernambuco, collaborateur régulier de divers journaux et revues brésiliens et étrangers, auteur et/ou coordinateur de 46 livres et opuscules publiés entre 1972 et 2009, producteur et administrateur culturel, créateur de la Fondation de la culture de la ville de Recife (1979), ex-directeur des éditions Massangana de la Fondation Joaquim Nabuco (1987-2003), membre effectif du Conseil de culture de l’État de Pernambuco, sociétaire de l’Institut historique géographique brésilien, de l’Institut historique géographique de Santa Catarina et de l’Institut archéologique, historique et géographique de Pernambuco et consultant de l’Institut Ricardo Brennand (Recife). Marcos Vinicios Vilaça Pernambucano de Nazaré da Mata, é advogado, jornalista, professor, ensaísta e poeta brasileiro. Membro da Academia Brasileira de Letras, da qual é presidente desde 2010. É membro também da Academia Pernambucana de Letras, da Academia das Ciências de Lisboa, da Academia Brasiliense de Letras, da Comissão Mista de Cooperação Técnica, Científica e Cultural entre os Tribunais de Contas dos Países de Língua Portuguesa e do Conselho Consultivo do Patrimônio Cultural, na qualidade de representante da sociedade civil (Ministério da Cultura). Foi secretário de Cultura e presidente da Fundação Nacional próMemória, e ex-ministro e presidente do Tribunal de Contas da União. Já escreveu livros com edições no Brasil, na Itália, na França, na Inglaterra e na Venezuela. Native of Pernambuco from the town of Nazaré da Mata, is a lawyer, journalist, teacher, essayist, and Brazilian poet. He is a member of the Brazilian Literary Academy, of which he has been President since 2010. He is also a member of the Pernambuco Literary Academy, the Brazilense Literary Academy, the Mixed Committee on Technical, Scientific and Cultural Cooperation of the Financial Courts of the Portuguese-speaking countries and of the Consultative Council on Cultural Heritage, of which he is a representative of civil society (Ministry of Culture). He was Secretary of Culture and President of the National proMemory Foundation and is exminister and president of the Federal Financial Court. He has published books in Brazil, Italy, France, England and Venezuela. Originaire de Nazaré da Mata dans l’État de Pernambuco, est avocat, professeur, poète et auteur d’essais. Il est membre de l’Académie brésilienne de lettres, qu’il préside depuis 2010, de l’Académie des lettres de Pernambuco, de l’Académie des sciences de Lisbonne, de l’Académie des lettres de Brasilia, de la Commission mixte de coopération technique, scientifique et culturelle des Cours des comptes des pays de langue portugaise, et du Conseil consultatif du patrimoine culturel (Ministère de la culture) en qualité de représentant de la société civile. Il a été secrétaire de la culture et président de la Fondation nationale próMemória, ministre et président de la Cour des comptes brésilienne, et a écrit des livres qui ont été publiés au Brésil, en Italie, en France, au Royaume-Uni et au Venezuela. Sônia Coutinho Calheiros Arquiteta. Presidiu a Fidem. Também participou da Secretaria de Planejamento do Estado. Foi diretora presidente da Fundação Centro de Preservação dos Sítios Históricos de Olinda. Desde 2005, é secretária de Planejamento e Gestão Estratégica da Prefeitura de Olinda. É executora da UNESCO, no Projeto Monumenta. Architect. She ran Fidem. Also participated as Secretary of Planning for the State. She was President Director of the Center for the Preservation of the historic sites in Olinda. She has been Secretary of Planning and Strategic planning for the city of Olinda since 2005. She is responsible for running the Monuments Project funded by UNESCO. Architecte, elle a présidé la Fondation de développement municipal de la Région métropolitaine de Recife (FIDEM) et a participé aux activités du Secrétariat à la planification de l’État de Pernambuco. Elle a été directrice-présidente de la Fondation centre de préservation des sites historiques d’Olinda. Depuis 2005, elle est Secrétaire de planification et gestion stratégique de la mairie de Recife. Elle est « exécutrice » à l’UNESCO dans le cadre du projet Monumenta. O fotógrafo Pedro Lobo Estudou na School of the Museum of Fine Arts, Boston e no International Center of Photography (ICP), em Nova Iorque. Entre 1978 e 1985, foi fotógrafo/investigador do Centro Nacional de Referência Cultural (CNRC), com Aloísio Magalhães, e do Instituto do Património Histórico e Artístico Nacional do Brasil (IPHAN), onde foi o responsável pela documentação fotográfica para os processos de Tombamento Mundial pela UNESCO das cidades de Olinda, Ouro Preto, Salvador, Santuário Bom Jesus de Matosinhos e São Miguel das Missões. Em suas séries fotográficas, nas favelas cariocas (“Arquitetura de Sobrevivência”), nas prisões de Carandiru e de Medellín (“Imprisoned Spaces”), utiliza a fotografia de arquitetura como meio de retratar a condição humana. Tem exposto regularmente seu trabalho, em individuais ou em colectivas, no Brasil, em Portugal, nos Estados Unidos, na Dinamarca, na Alemanha, na China e na Colômbia. Sua obra figura em diversas colecções públicas e particulares. Recebeu o V Prêmio Marc Ferrez, as bolsas CAPES-Fulbright e a Vitae de Fotografia. Actualmente reside em Évora, Portugal, trabalhando na Europa e no Brasil. Pedro Lobo studied at the School of the Museum of Fine Arts in Boston and at the International Center of Photography (ICP) in New York. From 1978 to 1985 he worked as photographer and researcher for the National Center for Cultural Reference (CNRC), in Brazil, with Aloísio Magalhães, and for the Institute for National Historical and Artistic Heritage of Brazil (IPHAN), where he was responsible for the photographic documentation in the classification process by UNESCO of the cities of Olinda, Ouro Preto, Salvador, Santuário de Bom Jesus de Matosinhos and São Miguel das Missões as World Heritage sites. In his photographic series about Brazilian favelas (“Architecture of Survival”), and about the prisons of Carandiru and Medellin (“Imprisoned Spaces”), Pedro Lobo uses architecture photography to portray the human condition. He has participated in solo shows and group exhibitions in museums and galleries in Brazil, Portugal, the USA, Denmark, Germany, China and Colombia. His work can be seen in several museum and private collections. He is a CAPES-Fulbright scholar and has received the V Premio Marc Ferrez award, and the Vitae Photography scholarship. He now lives in Évora, Portugal, and works both in Europe and in Brazil. Pedro Lobo a étudié aux États Unis à la School of the Museum of Fine Arts de Boston et à l’ International Center of Photography (ICP) de New York. Entre 1978 et 1985 il a travaillé comme photographe et chercheur au Centre National de Référence Culturelle (CNRC) au Brésil, avec Aloísio Magalhães, et à l’Institut du Patrimoine Historique et Artistique National du Brésil (IPHAN), où il a été responsable de la documentation photographique des dossiers destinés à l’UNESCO pour inscrire les villes d’Olinda, Ouro Preto, Salvador, Santuário de Bom Jesus de Matosinhos et São Miguel das Missões comme patrimoine mondial. Dans ses séries photographiques sur les favelas de Rio de Janeiro (“Architecture de Survie”), et sur les prisons de Carandiru et de Medellin (“Espaces emprisonnés”), il utilise la photographie d’architecture pour montrer la condition humaine. Il a exposé régulièrement ses œuvres dans des expositions individuelles ou collectives, au Brésil, Portugal, E.U.A., Danemark, Allemagne, Chine et Colombie. Ses œuvres sont représentées dans diverses collections publiques et privées. Il a reçu le V Prix Marc Ferrez, les bourses CAPES-Fulbright et Vitae de Photographie. Il vit actuellement à Évora, au Portugal, et travaille en Europe et au Brésil. 14 O linda é Patrimônio Mundial Cultural e Natural da Humanidade. O que é um título? Que importância tem um título? O que muda quando se tem um título? Quase 30 anos se passaram entre este livro e o Dossiê que seguiu para Paris com o intuito de reivindicar a inscrição na Lista do Patrimônio Mundial Cultural e Natural da Humanidade, um título, um reconhecimento para o Sítio Histórico de Olinda. Naquela data fazíamos parte de uma equipe sob a orquestração de Aloísio Magalhães que aglutinava um grupo na sede do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional e Fundação Nacional próMemória e de outro, em Pernambuco. Eram técnicos especialistas e expoentes e apaixonados por Olinda em torno do mesmo objetivo. Para as imagens do Dossiê, Pedro Lobo é enviado à cidade e realiza uma farta e competente documentação inclusive com imagens de tomada aérea. Gisela Abad participou da equipe que deu corpo físico ao conjunto de informações que seguiram com Aloísio para Paris e que tragicamente faleceu a caminho, em Veneza. Para nossa sorte a sucessão na direção do Patrimônio Histórico Nacional foi para outro pernambucano, Marcos Vilaça, tão encantado e fiel, como o antecessor, por sua terra, e em especial por Olinda, e este vai em busca do mesmo objetivo. E em 1982, temos finalmente nossa Olinda partilhando com o resto do mundo seu caráter que a faz especial. Passados tantos anos, em crônica publicada em jornal, Vilaça nos chama a atenção à memória do título e partindo desta lembrança construímos este projeto que tem entre suas ações este livro que o leitor tem em mãos. Para chegarmos a isso, contamos com a aprovação do projeto, pelo Ministério da Cultura – MinC, por intermédio do Programa Nacional de Apoio à Cultura – Pronac, e tivemos ampla acolhida do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social – BNDES, como patrocinador. Para segurança da memória, as imagens feitas em 1981 permanecem com negativos perfeitamente preservados sob a guarda do arquivo central do IPHAN. Neste projeto os negativos foram digitalizados e agora permanecem mais preservados e finalmente veem a luz para conhecimento da população. O retorno 15 do mesmo fotógrafo a Olinda e uma documentação atual do sítio é realizada. Ao longo das páginas que se seguem são apresentadas uma pequena seleção dessas imagens de 1981 em preto e branco e as de 2010, coloridas. Fugiu-se da tentação de apresentar uma ao lado da outra. Achamos importante trazer a voz de outros ligados àquela Olinda de 1981 e que participaram deste tempo entre os dois recortes. No conjunto um mapa auxilia localização das imagens. Em 21 de março de 1983, por ocasião da cerimônia comemorativa da inscrição de Olinda na Lista do Patrimônio Mundial, Amadou-Mahtar M’Bow, Diretor Geral da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura – UNESCO, pronunciou um lindo discurso do qual se reproduz aqui um pequeno trecho: Olinda foi sempre, como para responder a uma misteriosa vocação, uma cidade de poetas, pintores, escultores, ceramistas, uma cidade de música e dança, em um cenário natural tão suntuoso que não sabemos se é preciso descrevê-la como um conjunto arquitetônico ornamentado de jardins ou como um parque tropical decorado de monumentos. Mas Olinda, metrópole econômica conheceu também uma intensidade religiosa e espiritual pouco comum como testemunham ainda hoje os numerosos prédios religiosos que estão entre os melhores do Brasil. Cidade intelectual por excelência, Olinda pode também orgulhar-se de ter feito eclodir algumas das ideias essenciais que marcaram a evolução da pátria brasileira. O ensino superior brasileiro a conheceu, no início do século passado, como um de seus primeiros e mais dinâmicos centros. Mais de quatro séculos de criação ininterruptas multiplicaram, ao longo de seu litoral e aos pés de suas colinas, testemunhos de uma arte onde paisagistas e construtores uniram seus talentos para conseguirem uma cativante harmonia de formas e cores. Mas a perfeição tem muitas vezes por corolário a fragilidade. Se nós podemos admirar Olinda hoje, é que os responsáveis do patrimônio, tanto a nível local, como estadual e ao nível máximo do Governo Federal, esforçaram-se desde quase meio século em preservar os elementos fundamentais. ... Para proteger Olinda, não basta somente realizar restaurações isoladas ou operações de prestígio. A ação deve ser global e neste sentido o bem-estar de sua população importa tanto quanto a harmonia do cenário que constitui o seu quadro de vida. Com efeito, e esta é a principal mensagem dos artistas, dos arquitetos e dos urbanistas encarregados de proteger Olinda – um conjunto arquitetônico, um monumento, uma paisagem, somente estarão em segurança na medida em que a sua população viva bem e encontre funções e desenvolva amplamente suas atividades segundo suas próprias esperanças, a fim de assegurar sua permanência. Dentro, deste contexto, Olinda é uma cidade privilegiada – pois sua população lhe é profundamente ligada tanto por sua fé quanto por suas tradições. E ela está decidida – está é minha convicção – a desenvolver o esforço permanente que exigem os trabalhos necessários a sua proteção. Espera-se que você, leitor, tenha o mesmo prazer que tivemos em passear e revisitar o passado e o presente desse patrimônio e que encontre nele o que o faz especial e que assim se junte ao grupo dos convictos e entusiastas protetores do Sítio Histórico de Olinda. Viva! Gisela Abad Pedro Lobo designer fotógrafo 16 O linda is World Cultural and Natural Heritage. What is in a title? Why are titles important? What changes when there is a title? Almost thirty years have elapsed between the production of this book and the time when the dossier was sent to Paris with Olinda’s application to be inscribed on the UNESCO List of World Cultural and Natural Heritage, providing a title and recognition for the historical center of Olinda. On that date, we were part of a team led by Aloísio Magalhães, who was coordinating a group from three heritage protection agencies: SPHAN, Fundação Nacional próMemória and an agency in Pernambuco state. The teams were made up of specialists, experts and devotees of Olinda who were working towards the same goal. Photographer Pedro Lobo was dispatched to Olinda to take the pictures for the dossier, where he produced a skillful, comprehensive visual record, including some photos taken from the air. Gisela Abad was a member of the team who took the information and transformed it into texts for the dossier. This was given to Aloísio to take to Paris, although he tragically died on the way, in Venice. Luckily for us, the new head of SPHAN was also from the state of Pernambuco. Marcos Vilaça was as devoted to and passionate about his homeland as his predecessor, especially Olinda, and he made Aloísio’s objectives his own. And eventually, in 1982, we managed to get worldwide recognition for our Olinda and everything that makes it so special. A few years ago, Vilaça wrote a piece in a newspaper in which he draws attention to the memory of the title. Taking this as our starting point, we devised this project, part of which involves the production of the book that you, the reader, are now perusing. In order to make this project possible, we received approval from the Ministry of Culture, through its funding program, Pronac, and obtained generous sponsorship from the Brazilian Development Bank (BNDES). To safeguard the memory of the original project, the negatives of the pictures taken in 1981 were kept in perfect condition at the IPHAN central archives. For this project, these negatives have been digitalized, helping to assure their perpetuity, and are finally being presented to the general public. The same photographer returned to Olinda in 2010 to take new pictures of the site. 17 The ensuing pages contain a small selection of the photos from 1981, in black and white, as well as color pictures from 2010. We avoided the obvious temptation of presenting them beside one another. We also thought it was important to make room for the thoughts of other people who were involved in Olinda in 1981 and have participated in the life of the town since then. There is a map that shows the location of the photographs. On March 21st 1983, at the ceremony marking the inclusion of Olinda in the World Heritage List, Amadou-Mahtar M’Bow, Director-General of the United Nations Educational, Scientific and Cultural Organization (UNESCO), proffered a moving speech which we reproduce in part below: As though in fulfillment of some mysterious vocation, Olinda has always been a town of poets, painters, sculptors and ceramists, a town of music and dancing, in a natural setting so magnificent that one does not know whether to describe it as an architectural ensemble embellished with gardens, or as a tropical park graced with monuments. But Olinda, a hub of economic activity, has also experienced a religious and spiritual life of uncommon intensity, witnessed even today by the many religious buildings, among the finest in Brazil. Besides being an outstanding intellectual centre, Olinda can take pride in the fact that it has been the birthplace of some of the essential ideas in the growth of the Brazilian nation. At the beginning of the last century it was one of the earliest and most dynamic centres of Brazilian higher education. In more than four centuries of profuse and uninterrupted creative activity on its river banks and hillsides, builders and landscape gardeners have united their talents to produce a captivating harmony of forms and colours. But the corollary of perfection, very often, is frailty. The reason why we are able to admire Olinda today is that those responsible for this inheritance, at local and federal levels and at the highest levels of the state, have been striving for almost half a century to preserve its fundamental elements; ... To safeguard Olinda, therefore, it is not enough to simply carry out piecemeal restoration work or prestige operations. Action on all fronts is called for, and in this respect the well-being of the population is just as important as the harmony of the environment in which that population lives. Indeed – and this is the first thing we have to learn from the artists, architects and town planners in charge of the safeguarding of Olinda – an architectural ensemble, a monument or a landscape is only safe in so far as the local population has good living conditions and can find there suitable employment and engage in activities commensurate with its hopes, thus having the means of ensuring its continued existence. Olinda has been blessed in this respect, for its people are as deeply attached to their city as to their faith and their traditions. And I sense that these people are determined to make the continuous effort required of them to carry out the work needed to preserve it. We hope that you, the reader, will enjoy this book as much as we have enjoyed reviewing the past and the present of this heritage, and that you identify in it what makes it so special, so that you will join the group of devoted, enthusiastic protectors of the Historical Center of Olinda. Viva! Gisela Abad Pedro Lobo designer photographer 18 O linda est Patrimoine mondial Culturel et Naturel Mondial. Cela veut dire quoi, un titre? Quelle importance cela a? Qu’est-ce qui change donc quand on a un titre? Presque 30 ans se sont passés entre ce livre e le Dossier envoyé à Paris avec l’intention de revendiquer l’entrée du Site Historique de Olinda dans la liste du Patrimoine Culturel et Naturel Mondial. A cette époque, nous faisions partie d’une équipe sous la baguette d’Aloísio Magalhães qui rassemblait un groupe de travail au siège du Patrimoine Historique et Artistique National et à la Fondation Nationale próMemória et un autre groupe de Pernambouc. C’était une bande de téchnicien-nes spécialistes qui exposaient leur passion pour Olinda visant le même objectif. Pour faire les images du Dossier, Pedro Lobo est envoyé à la ville et ramène une documentation fournie, compétente qui inclut des vues aériennes. Gisela Abad a participé de l’équipe qui a donné corps à l’ensemble des informations qui voyageront avec Aloísio jusqu’à Paris. Tragiquement, celui-ci mourra sur son chemin pour Venise. Heureusement, la sucession de la direction du Patrimoine Historique National est alors donnée à un autre pernamboucain, Marcos Vilaça. Celui-ci est aussi séduit et fidèle à sa région et Olinda que son prédecesseur et il poursuit donc le même but. Et en 1982, finalement, nous avons notre Olinda partageant avec le reste du monde, ses attributs qui la font si spéciale. Après tant d’années, c’est dans une chronique publiée dans un journal, que Vilaça nous remémore l’acquisition du titre et c’est donc à partir de cet appel que nous avons construit ce projet qui a, entre autres actions, la production de ce livre que le lecteur a maintenant en main. Pour y arriver, nous avons compté avec l’appui du Ministère de la Culture – MinC – par l’intermédiaire du Programme national de l’appui à la Culture – Pronac, et le large accueil de la Banque nationale de Développement économique et social – BNDES, comme sponsor. Pour assurer la préservation de la mémoire, les images faites en 1981 ont leurs négatifs parfaitement gardés par l’archive central de l’Iphan. Au travers de ce projet, les négatifs sont numérisés garantissant encore plus de sécurité et pouvant finalement venir 19 à la lumière et être connus du public. Le même photographe retourne à Olinda et la documentation actuelle des lieux est faite. Tout au long de ces pages, vous est présentée une petite sélection des images en noir et blanc de 1981 et celle en couleurs de 2010. On a fuit la tentation de juxtaposer les images. Nous avons trouvé important d’apporter d’autres voix liés à la Olinda de 1981 et qui ont participé durant la période entre les deux dates. Vous trouverez une carte qui aide à retrouver les images. Le 21 mars 1983 à l’occasion de la cérémonie de comémoration de l’entrée de Olinda dans la liste du Patrimoine Mondial, Amadou-Mahtar M’Bow, directeur général des Nations Unies pour l’éducation, la science et la culture – UNESCO, a prononcé un beau discours dont nous citons un extrait: Comme si c’était pour répondre à une mistérieuse vocation, Olinda a toujours été la cité des poètes, peintres, sculpteurs, céramistes, une cité de musique et de danse, dans un scénario naturel si somptueux que nous ne savons pas si nous devons la décrire comme un ensemble architectural ornée de jardins ou comme un parque tropical décoré de monuments. Mais Olinda, métropole économique a connu aussi une intensité religieuse et spirituelle peu commune comme l’attestent encore aujourd’hui, les nombreuses églises qui sont entre les meilleures du Brésil. Cité intellectuelle par excellence, Olinda peut aussi être fière d’avoir fait éclore quelques unes des idées essentielles qui ont marqué l’évolution de la patrie brésilienne. Au début du siècle passé, l’enseignement universitaire l’a reconnue comme un de ses premiers centres et un des plus dynamiques. Plus de quatre siècles de création ininterrompue, ont multiplié tout au long de son littoral et aux pieds de ses collines, les témoignages d’un art où paysagistes et constructeurs ont uni leurs talents pour produire une harmonie séduisante de formes et de couleurs. Mais la perfection a souvent pour corrolaire, la fragilité. Si nous pouvons admirer la Olinda d’aujourd’hui, c’est grâce aux responsables du patrimoine, aussi bien à niveau local, comme de l’état, et du Gouvernement fédéral. Ceux-ci se sont efforcés pendant presque un demi-siècle à préserver ses éléments fondamentaux... Pour protéger Olinda, il ne suffit pas seulement de réaliser des restaurations isolées ou de simples opérations de prestige. L’action doit être globale et dans ce sens, le bien-être de sa population est aussi importante que l’harmonie du scénario qui constitue son cadre de vie. C’est comme cela que – est ceci est le message principal des artistes, des architectes et des urbanistes responsables de protéger Olinda – un ensemble architectural, un monument, un paysage ne seront en sécurité que dans la mesure où sa population puisse bien vivre, trouvant des manières de développer amplement ses activités, selon ses propres aspirations pour assurer sa permanence. Dans ce contexte, Olinda est une cité privilégiée – car sa population lui est profondément attachée aussi bien par sa foi que par ses traditions. Et elle est décidée – c’est ma conviction – à développer un effort permanent qui exige les oeuvres nécessaires qui la protègeront. On espère que vous, lecteur et lectrice, aurez le même plaisir que nous avons eu en nous promenant pendant que nous revisitions le passé et le présent de ce patrimoine; que vous trouverez en lui ce qui le fait spécial et que vous vous joindrez au groupe des convaincu-e-s et enthousiastes qui forme le public protecteur du Site historique d’Olinda. Viva! Gisela Abad designer Pedro Lobo photographe 20 Igreja de Nossa Senhora da Misericórdia ∙ D|9 Olinda e Recife - vista da Igreja de Nossa Senhora da Misericórdia ∙ D|9 21 22 Igreja e Mosteiro de São Bento ∙ H|6 Catedral da Sé - Igreja de São Salvador do Mundo ∙ F|11. Abaixo, à esquerda, Igreja de Nossa Senhora do Amparo ∙ B|9. Abaixo, à direita, Igreja de São Pedro Apóstolo ∙ G|8 23 26 Páginas 24, 25 e nesta página, abaixo, Igreja de Nossa Senhora das Neves e Convento de São Francisco ∙ G|12. Nesta página, acima, Igreja e Mosteiro de Nossa Senhora do Monte ∙ A|12 Igreja do Convento de Santo Antônio do Carmo ∙ H|8. Abaixo, à esquerda, Passo da Ribeira ∙ E|7. Abaixo, à direira, Capela de São Pedro Advíncula ∙ E|7 27 28 Museu de Arte Sacra de Olinda ∙ E|10. Página ao lado, Igreja de Nossa Senhora do Amparo ∙ B|9 29 30 Ladeira da Misericórdia ∙ D|8. Abaixo, Quatro Cantos ∙ E|8 Rua do Amparo ∙ C|9 31 32 33 Olinda, Olindíssima Marcos Vinicios Vilaça E stou espantado com a amnésia voluntária e ao redor do reconhecimento de Olinda como Patrimônio da Humanidade, no jubileu de prata da data. Espanta-me o risco disso tudo se encaminhar para grosseira desmemória e que tenhamos enfim chegado a tal nobilitante distinção significa pois quando Secretário da Cultura do MEC, pernambucano amante da sua terra e de sua gente, que sucedeu no cargo — sem pretensões de substituir — a outro pernambucano devotado, Aloísio Magalhães, segui-lhe no trabalho em favor de Olinda, epopeia do nosso civismo e do amor a tradição. A marcha triunfal do grande ideal animou a todos. Era como que um sigiloso desafio de enfrentação comum. Ninguém faltou com o seu contributo. Olinda, o povo e as autoridades; Pernambuco, os governos de Marco Maciel e Roberto Magalhães, e as gentes todas; o Brasil, seus Ministros Eduardo Portella, Rubem Ludwig, Esther Figueiredo Ferraz; o Ministério das Relações Exteriores, com os seus qualificados profissionais — talentosos, cultos, patrióticos; os técnicos da Secretaria da Cultura; a UNESCO, na acolhida dos dirigentes e no aval dos seus especialistas de saberes vários. À semelhança de Ouro Preto, tínhamos legado artístico, paisagístico e histórico. Olinda nos conferia inquestionável igualdade de condições para obter idêntico galardão. Fui incandescente alma pernambucana no frio daquele dezembro de 82 em Paris, a participar da consolidação da vitória, no plenário soberano da UNESCO, defendendo Olinda, em nome do Brasil, num trabalho de muitos meses. Olinda é o encanto doce, bonito, musical, colorido. É o mais viver; é o sentir amplo, do alto de suas colinas vendo, para frente: o mar pra trás: a terra. Marcada pelo barroco, ainda hoje cuidamos ver os seus antigos beneditinos, jesuítas e franciscanos descerem as ladeiras que são caminhos da história, fecundações de vida. Olinda é tudo isso, as igrejas, os conventos, os cursos jurídicos, a ciência, o povo que mora em casa de porta e janela, o banho de mar, a jangada. Olinda múltipla, plural, oferecendo aos que a contemplam também o cenário magnífico do seu casario colonial. Olinda de frades e doutores, uma Coimbra tropical onde se iniciou a literatura brasileira. Olinda do gesto romântico de Bernardo Vieira de Mello. Olinda do Capitão Temudo e, igualmente, da Pitombeira e do Elefante, do Homem da Meia-Noite e da Mulher do Dia, de Samico, de José Cláudio, de Luiz Delgado, de Bajado, de Carlos Trevi. Olinda, a bela, a linda Olinda, mas Olindíssima, sem partidarizações dos seus méritos, sem esbofetear a verdade histórica, sem cultivar a mediocridade, sem perder suas virtudes conviviais. Olinda deve atentar ao seu louvor feito na Assembleia pelo deputado Augusto Coutinho, fiel ao fato histórico, fiel aos valores olindenses, olindensimente pernambucano. Deixem-me dizer. EU VI. Projetada no cenário mundial entre as cidades históricas de maior significado na cultura humana, Olinda bem mereceu a distinção. Os atos fundadores do Brasil subiram pelas suas encostas, escalando-as por ato de vontade. Os atos mantenedores da identidade nacional continuam a ser anunciados de suas cumeadas, onde ganharam morada definitiva. Sua lição é uma permanente harmonia entre arte e tradição histórica, entre a paisagem talássica e a vida urbana permeada de monumentos sagrados e profanos que lhe compõem o perfil. Veio com um destino traçado: teria que ser na especulação do próprio nome o lindo cenário que lhe daria preeminência no complexo urbano. Diario de Pernambuco — Domingo, 27 de janeiro de 2008. Primeiro Caderno — página 15. 34 O’linda! O teu nome bem diz... Leonardo Dantas Silva A os olhos de quem a contempla pela primeira vez, Olinda se apresenta povoada de sonhos e tomada pela claridade a ofuscar as retinas de quem chega: De limpeza e claridade é a paisagem defronte. Tão limpa que se dissolve a linha do horizonte. Carlos Pena Filho Uma visão de Olinda, no início do século XVII, nos é dada por Ambrósio Fernandes Brandão, em Diálogos das grandezas do Brasil (1618): Dentro na Vila de Olinda habitam inumeráveis mercadores com suas lojas abertas, colmadas de mercadorias de muito preço, de toda a sorte em tanta quantidade que semelha uma Lisboa pequena. A barra do seu porto é excelentíssima, guardada de duas fortalezas bem providas de artilharia e soldados, que as defendem; os navios estão surtos da banda de dentro, seguríssimos de qualquer tempo que se levante, posto que muito furioso, porque têm para sua defensão grandíssimos arrecifes, a onde o mar quebra. Sempre se acham nele ancorados, em qualquer tempo do ano, mais de trinta navios, porque lança de si, em cada um ano, passante de 120 carregados de açúcares, pau-brasil e algodão. A vila é assaz grande, povoada de muitos e bons edifícios e famosos templos, porque nela há o dos Padres da Companhia de Jesus [1551], o dos Padres de São Francisco da Ordem Capucha de Santo Antônio [1585], o Mosteiro dos Carmelitas [1588], e o Mosteiro de São Bento [1592], com religiosos da mesma ordem. Na primeira metade do século XVII, a riqueza da capitania de Pernambuco, bem conhecida em todos os portos da Europa, veio a despertar a cobiça dos Países Baixos. A produção de 121 engenhos de açúcar, correntes e moentes, no dizer de van der Dussen, viria a despertar a sede de riqueza dos diretores da Companhia, que armou uma formidável esquadra sob o comando do almirante Hendrick Corneliszoon Lonck. Uma grande armada, com 65 embarcações e 7.280 homens, apresentou-se nas costas de Pernambuco em 14 de fevereiro de 1630, iniciando assim a história do Brasil Holandês. Senhores da terra, os holandeses escolheram o Recife como sede dos seus domínios no Brasil, por ter nesta praça a segurança que não dispunham em Olinda. Na noite de 25 de novembro de 1631, resolveram os chefes holandeses pôr fogo na sede da capitania de Pernambuco, a infeliz vila de Olinda tão afamada por suas riquezas e nobres edifícios, arderam seus templos tão famosos, e casas que custaram tantos mil cruzados em se fazerem. Em Olinda, a paisagem e os costumes foram assim descritos pelo Frei Manuel Calado, tudo eram delícias e não parecia esta terra senão um retrato do terreal paraíso. Com a sua paisagem, porém, tecida de sonho e claridade, impregnada pelas diversas tonalidades de verde, nas águas do seu mar, e de azul e outras cores no crepúsculo do seu céu, Olinda vem com o passar dos anos fascinando a todos que a conhecem. A sua vista litorânea, povoada de jangadas e outros tipos de embarcações, foi uma sedução para esses viajantes ao longo dos séculos sendo hoje fonte de deleite e de paz para o visitante e mesmo para os próprios olindenses. Em passeio por Olinda e seus arredores, como cicerone do escritor português Ramalho Ortigão, em l887, Joaquim Nabuco assim descreve a paisagem, em artigo publicado no jornal O Paiz (Rio), quando vista do terraço da Sé de Olinda: [...] não é uma dessas vistas de altura, das quais o mar fica tão abaixo aos pés do espectador, que perde o movimento e a vida, parecendo uma tela diáfana estendida sobre o fundo vazio do ar, vistas em profundidade, que dão vertigem e nas quais a perspectiva é tão longínqua como se víssemos por um óculo virado. A vista de Olinda é outra; é uma vista em comprimento, em que os planos sucedem-se uns aos outros como o desenvolvimento da mesma sensação visual, em que desde Olinda até ao Recife, e mais longe até o Cabo de Santo Agostinho. Possuído do orgulho de ser pernambucano, enfatiza Joaquim Nabuco, com o seu poder de observador perspicaz: 35 Para conhecer uma paisagem não basta vê-la, é preciso muito mais, é preciso que as duas almas, a do contemplador e a do lugar, cheguem a entender-se, quantas vezes elas nem mesmo se falam! Não é a todos que a natureza conta os seus segredos e inspira o seu amor, mas mesmo com os poucos de quem ela tem prazer em fazer pulsar o coração é preciso que eles se aproximem dela sem pressa de a deixar, com tempo para ouvi-la. Os viajantes nunca estão nessa disposição de espírito em que é possível estabelecer-se o magnetismo da paisagem sobre os sentidos, de fato sobre o coração. Felizmente Ramalho Ortigão é uma máquina fotográfica instantânea, que apanha num segundo o seu objetivo todo, e acontece que hoje as boas máquinas percebem e notam sombras na pele, que não se veem a olho nu, e que servem para conhecer a enfermidade latente. Ele não terá sentido os eflúvios desta nossa terra, os quais talvez seja preciso ser pernambucano para sentir e que podem não ter realidade e magia senão para nós mesmos, mas a impressão que lhe causou a nossa Veneza há-de rendernos uma pintura que durará como as gravuras holandesas do Século XVII. 36 OLINDA, LINDA FORMA DE CONSTRUIR UMA HISTÓRIA DA ARTE E DA ARQUITETURA José Luiz Mota Menezes A LONGA PERCEPÇÃO DO LUGAR C aminhando na direção da vila, um desconhecido pintor, naquele distante ano de 1630, tomou do lápis e definiu usando sua lente de alcance o perfil de Olinda. Marcou cada parte construída, as janelas, portas e telhados e, acima de tudo, a silhueta que cortava então o céu de suaves nuvens. Depois de tudo isso, inclusive de seu sentimento, ele passou a outro capaz também de tudo gravar no interesse da necessária ilustração de um livro. Outra gente, hoje seguindo na direção do mesmo sítio, recorta com a vista o perfil que marca a presença da cidade no horizonte e noutro momento. O tempo é presente, mas a poesia das formas sensibiliza talvez da mesma maneira. A construção do belo transitou no tempo. A cidade não é a mesma. O que se percebe nesse longo espaço percorrido do tempo é uma fruição estética determinante de uma singularidade plasmada na apropriação da natureza, sem que nela seja marcada uma forte ruptura. A cidade se deita no horizonte e nele traça a suave curva de suas colinas. Curvas talvez femininas pela sinuosidade delas e das contracurvas que definem o modelo do belo no urbano. As casas sobem as ladeiras com a mesma canseira da gente e, entre as duas forças ascendentes, um mesmo percurso busca o azul que cobre de cor o lugar acima da colina. As ruas se encurvam na procura de outras e, ao encontrá-las, se cumprimentam e seguem. Marcando cada ponto alto, aonde em princípio chegam àquelas subidas para o céu, estão igrejas, conventos e colégio dos antigos e desaparecidos padres da Companhia de Jesus. A cidade, qual a velha vila, se defende dos maus ventos com as cercas envolventes das casas dos religiosos. Eles fazem, com a força da religião, não se aproximarem da vila as doenças vindas pelo ar e mar. Cada imensa cerca começa quando outra termina. Assim, se pode ver, inicia tudo com a dos Jesuítas, logo deixando lugar para a dos frades de São Francisco. Então estes entregam a defesa aos Carmelitas, que por fim passam a vigilância aos Beneditinos. Estes assumem o último baluarte. Uma forte cortina a serviço de Deus e dos homens. Mais forte que as muralhas de pau a pique ou edificadas em pedras. As ruas estão marcadas pelo pisar de tanta gente em tanto tempo. Uma superposição de dramas, solidão e lutas. Por tais ruas correram e andaram pobres, ricos com seus belos cavalos de arreios de pratas ou frades de surradas batinas. Por ruas estreitas e cheias de curvas, serpentearam as procissões. Nelas hoje o carnaval com seus possíveis pecados lavam o choro das velas e o lento percorrer dos andores com seus sofridos santos carregados de pedidos os mais diversos. A cidade é percebida por muitos olhos, maiores e variadas sensações estéticas. Um resultado nos conforta: praticamente todos reconhecem o valor da arquitetura e sequer desvendam nelas estilos ou formas. O que guardam na percepção da cidade de Olinda é a escala do que tem sido construído pelo talento humano e a forte identidade da mesma emoção entre vários observadores e a coisa observada. O mesmo gesto de tomar para si o lugar pertence à eternidade do fruir uma beleza onde o nome passa a cada um de Olinda a linda. UMA PERCEPÇÃO IRRACIONAL A construção da cidade de hoje não se fez de uma vez. Ela foi sendo edificada devagar. Mal se afirmava bela e um incêndio, em 1631, a deixa cinza e escura. O branco das paredes se fez sujo e a beleza se consumiu nas labaredas do incêndio. Assumindo o ver da cultura acadêmica, passamos a perceber na cidade tempos e estilos. Estilo entendido como modos semelhantes de um proceder estético no resultado da leitura das formas. Talvez de princípio tudo fosse Maneirista. Depois se vestiu de Barroco. Olhando a cidade no geral, a escala das edificações das moradias confunde o leitor com suas formas. As casas ao sabor da vontade de mudar da gente trocam de roupa e se vestem conforme cada tempo. Talvez as moradias tivessem antes em um tempo bem atrás um mesmo ou próximo desenho e este teria nascido Maneirista. Mas a moda que se faz forte no construir a imagem da cidade transformou algumas delas em Barrocas. E então se instalou a confusão. Uma diferença de leitura onde tudo reflete alternâncias no querer e no gostar do diferente. As casas dos religiosos também passaram por tal vexame. Surgiram as dos Franciscanos em uma escala bem ao sabor dos frades mendicantes. Eles logo ganharam força dentro da comunidade e tudo no interior das igrejas e conventos se vestiu de ouro, numa riqueza capaz de causar vergonha aos guardiões dos velhos tempos de São Francisco. Os Jesuítas Vista aérea, Rua de São Bento ∙ F|8 e E|8 nascem grandiosos e assim ao sabor da arquitetura da igreja e do convento constroem uma enorme mole com quarenta janelas para tão poucos religiosos. O mosteiro dos Beneditinos naquele distante século XVI, antes do incêndio, era bem pequeno e dominava o alto da colina que olha por sobre o Varadouro. De suas formas mais antigas, restam pedaços em pedras lavradas e destinadas a um pequeno retábulo de altar. Findas as guerras contra os flamengos, em 1654, a força da fé e a alegria da vitória se plasmam numa construção monumental. O irracional da pobreza dos engenhos destruídos se transforma na miséria dourada dos interiores desse tempo de comemoração. Um rico e belo retábulo delineado em Portugal é então cortado na madeira da terra em pleno século XVIII por artistas locais para a nova capela-mor dos padres de São Bento e tudo se transforma em ouro e grandeza. O desenho da 37 cidade põe por terra a ideia de um traçado irregular como forma definidora da ausência de razão. O delinear das ruas e praças nos mostra a racionalidade do irregular. Um irregular não decorrente do espontâneo. Isso não existe. O ato de marcar um caminho é prenhe de razão e singular lógica preside sempre a gente na firmeza do querer chegar mais depressa e melhor de canto a canto. O casario de Olinda é envolvido por um anel formado por ruas e este formato anelar começa no Varadouro, passa ao largo, diante do mar e chega ao Rocio, de onde sobe por uma ladeira em direção ao convento dos Franciscanos, segue na direção da matriz e daí toma o caminho da Misericórdia. Daí, por uma ladeira tortuosa, desce para os Quatro Cantos dos comerciantes e dele toma outra ladeira até a Ribeira. Ao lado da Igreja de São Pedro, desvia direto para o lugar dos padres de São Bento, mas bem 38 Rua Bernardo Vieira de Melo e Rua Prudente de Morais ∙ E|8 próximo ao Palácio antigo desce para a velha Alfândega na calçada do porto fluvial. Estamos novamente no Varadouro. Nada mais racional e onde de maneira urbana e moderna se fez a proteção do casario. E dentro de tal anel, outras ruas são traçadas segundo uma mesma materialidade racional. De lugar a lugar determinando centros quentes, qual aquele dos comerciantes dos Quatro Cantos ou outros semelhantes ao criado na frente da Matriz do Salvador formador da longa e bela fechada Rua Nova. Nova porque antes havia a das Fontes, a mais antiga, passando por detrás da Câmara transformada em Palácio dos Bispos da Cidade de 1676. Tudo isso se fez verdade no alto da Matriz, onde em sua torre forte o Donatário demarcava o poder real. E de onde o padrasto avistava o mar e sonhava com o infinito. Nesse sonhar, uma vontade de viver o difícil momento do retorno por sobre águas para o Velho Mundo, em um trajeto cheio de medo, dor e fome. A poesia se faz Olinda. E de cada lugar a razão do traçado e a riqueza do casario, na simplicidade de seu desenho constrói espaços diferentes e desiguais criando becos, ruas de serviço e vazios em um concerto como que musical edificado e fiel aos largos e fortes sons da forma barroca de compor tempos de uma música de pedra e cal. Beco das Cortesias. Onde quem desce cumprimenta quem passa e ligeiros os dois deixam para trás sonhos e alegrias do viver eterno em uma cidade diferente e humana. Uma cidade, onde Cristãos-Novos e Velhos se cumprimentavam e logo a seguir em 1593 iam se denunciar no mesmo espaço de tempo ao Visitador do Santo Ofício. Moradias que abrigavam lésbicas e homens que gostavam de outros, qual aquele morador de bem perto do Largo da Misericórdia. Cidade de grandes pecados, tantos pecados que um padre disse forte e bom som ser facilmente transformada em Olanda dos hereges, caso acontecido poucos anos depois. Mas Olinda não se tornou Olanda. Preferiu as labaredas do Inferno e as cinzas da agonia. Uma cidade de todos, construída por eles, pedra a pedra. As mesmas pedras que ajudaram, carregadas por ricos e pobres, na construção da bela igreja de Nossa Senhora da Graça, aquela dos Jesuítas. História e Arte se compactuam na formação de um espaço urbano cheio de vida e capaz de moldar o viver de cada morador. Viver em Olinda é deixar de lado o espaço-gaiola definido no apartamento e abraçar espaços poéticos criados nas sombrias e velhas alcovas, estas carregadas daqueles pecados de mais de cinco séculos. Alcovas e salas onde a paisagem penetra por meio de cercaduras construtoras de vazios, janelas e portas abertas sobre a paisagem exuberante do redor. Natureza exuberante e edificações encantadoras para um abade belga vindo à cidade para restaurar o mosteiro dos Beneditinos no século XIX. Uma cidade formada por tais edificações, criadas por uma telúrica gente vinda de um Portugal agrário e nem tão grandioso quanto os vizinhos Castela e Aragão, tem o sabor e cheiro de terra. A mesma terra formadora dos quintais, situados diante das salas de viver das moradias. Salas nas quais as mulheres viviam a liberdade dita inexistente do lado de fora. Liberdade do lado de dentro, no qual a forma de beleza de cada uma dominava os tão fortes senhores e cuja imagem fora construída pelos outros do lado de fora, na rua. O desenho das casas seguia um mesmo traçado, isso por conta de uma sociedade garantidora de certo ar muçulmano no olhar a família, a mulher e os filhos. Sala na frente, corredor ladeando as alcovas e sala de viver, o lugar do harém diante daquele quintal. Uma sociedade que transformou modos de vida em espaços e os manteve fiéis a tal filosofia por muitos séculos e assim chegou plasmada na velha Olinda. A PERCEPÇÃO DO ESPAÇO SAGRADO Eles chegaram ao novo lugar no distante ano de 1535. Traçaram o sistema de ocupação do solo e escreveram um Foral e nele modificaram a redação, transformando-o de Foral em Carta de doação. Um primeiro e talvez único documento em que o poder constituído pelo Rei deixou o direito de doar as terras para as moradias aos representantes da mesma gente, a Câmara dos ditos homens bons da sociedade colonial. Os homens da religião receberam ou compraram seus lugares. Os Jesuítas foram contemplados pelo próprio Donatário e se instalaram em 1551 numa alta e forte ponta de terra acima e na direção do mar. Os Igreja de Nossa Senhora da Misericórdia ∙ D|9 Franciscanos se colocaram logo abaixo desses, uma maneira inusitada, sendo esta resultante da doação do lugar por uma viúva religiosa e que fora casada com um primeiro povoador. Encontram obra conventual já feita e a ampliam, mas nem tanto. Os de Nossa Senhora do Carmo, lá no fim do primeiro século, receberam uma ermida muito pequena dedicada ao Santo casamenteiro Santo Antônio. Os Beneditinos por último compram e recebem terras a cavaleiro do Varadouro onde se concertavam as galeotas. Os do Carmo projetam imenso convento. Eram reinóis e fortes em prestígio. Os Beneditinos se contentam com um simples mosteiro. Todos eles edificam segundo o gosto Maneirista dominante. Uma singularidade une tais casas religiosas: as gentes da terra e as de Portugal estavam sob um só soberano, um espanhol da linha real dos Filipes. Era toda gente, naquele distante século XVI, espanhóis por linha genealógica determinada pelas cortes. A união das Coroas pairava sobre todos. Nesse tempo de domínio espanhol, Olinda assistiu à construção de seus mais importantes monumentos, vistos segundo a grandiosidade da criação e sua mole. De todos os três maiores, a casa dos Jesuítas, o convento de Santo Antônio do Carmo e a Matriz do Salvador, somente um hoje denuncia nas suas linhas a presença daquele poder real de Espanha, a casa dos frades Carmelitas. Inconcluso por ocasião da invasão dos holandeses, conserva-se desse tempo, em sua igreja e nos restos de uma fachada retabular ao que se soma a forma construtiva do interior cercado por capelas, uma influência dos arquitetos daquela Espanha. Uma fachada retabular e capaz de ser incluída no corpus das muito poucas edificadas em Portugal. Contrafação que não se completou da mesma maneira, mas reveladora de uma arquitetura não lusitana em terras que forçadamente também eram de Espanha no período de tempo ora considerado. Daqueles interiores de rica e sóbria decoração, visível em seus retábulos de cantaria douradas, restam três altares, dois na igreja dos Jesuítas e um na dos frades do Carmo. São peças de arte entre outras que desapareceram e materializaram a declaração 39 de um reverendo chamado Baers, que veio com a armada invasora holandesa. Tal religioso elogia a riqueza desses interiores, rivais de banquetes regados a vinhos dos casamentos e dos animais carregados de arreios e outras peças de montaria em uma terra onde as gentes viviam o fausto da nova economia agrária instalada no Novo Mundo pela vontade do velho Donatário Duarte Coelho e dos Cristãos-Novos de sua comitiva colonizadora. Depois da vitória de 1654, tudo em Olinda ainda cheirava a queimado. No entanto, a religiosidade do povo e da nobreza do açúcar se expressava na força do reconstruir as casas para a religião, tudo talvez no interesse de conseguir um lugar privilegiado no céu. Lugar capaz de salvar tal poder constituído de seus pecados desenhados no perdão pedido nas pedras tumulares. O casario de Olinda mal estava reconstruído e as igrejas subiam suas paredes e refaziam seus telhados. E os interiores assim definidos cobriam-se de novos altares com seus retábulos dourados. O açúcar, o construtor de uma nova aristocracia, tudo transformava com as folhas finíssimas de ouro que revestiam belas talhas cortadas na madeira da terra, fiéis representantes de uma religião capaz de expressar pompa e circunstância do Barroco. Qual um novo Egito, Olinda construiu para a eternidade. Uma eternidade forjada também na eterna diferença entre os mais ricos e os mais desvalidos de uma sociedade desigual que ainda persevera nos nossos dias. O tempo andou com seus lentos passos e o Recife, que de porto se transformou em cidade, muito cresceu. Olinda a tudo assistiu longe seis léguas. Suas terras demarcadoras de seu termo foram sendo tomadas. E, reduzida a pouco espaço à volta, sobreviveu com suas formas da arquitetura e da arte e tudo segundo o modo de ser de seus moradores. As mesmas singularidades descritas e outras que a fizeram galgar o posto de Cidade Monumento e Monumento da Humanidade. Um pequeno frasco cujo perfume marcou sua presença no cenário mundial. Malgrado as intervenções nem sempre boas do hoje, nela a poesia ainda se encontra na pátina dos muros e nos cheios e vazios das moradias e no encanto das ruas e adros e largos da cidade. O encanto do tempo se soma ao da cidade permanentemente bela. Olinda cidade recoberta de sonhos, pecados e grandiosidade. 42 Páginas 40 e 41, Igreja de Nossa Senhora das Neves e Convento de São Francisco ∙ G|12. Abaixo, vista da Catedral da Sé - Igreja de São Salvador do Mundo ∙ F|11. Mais abaixo, à esquerda, Rua do Amparo ∙ D|8. Mais abaixo, à direita, Rua Prudente de Morais e, ao longe, Igreja de São Pedro Apóstolo ∙ E,F,G,H|8 43 Olinda, an expression of beauty Marcos Vinicios Vilaça I am shocked at the willful amnesia about the recognition of Olinda as World Heritage on the silver jubilee of the date. I am disturbed by the risk of this all plunging into a pit of forgetfulness and of us having actually reached such an ennobling distinction. For when I became Secretary for Culture at the Ministry of Education and Culture, devoted as I am to my Pernambucan homeland and people, and taking over from – but in no way replacing – another impassioned Pernambucan, Aloísio Magalhães, I took on the work he had done for Olinda, the ultimate expression of our civic pride and love of tradition. The triumphal march of the great ideal inspired everybody. It was like some kind of secret, shared campaign. No-one failed to make their contribution. Olinda, its people and its authorities; Pernambuco, the administrations of Marco Maciel and Roberto Magalhães, and all their people; Brazil, its ministers, Eduardo Portella, Rubem Ludwig and Esther Figueiredo Ferraz; the Ministry of Foreign Affairs, with its patriotic, cultivated, talented and highly-skilled staff; the professionals at the Department of Culture; Unesco, for the reception by its leaders and the positive response of its experts in different areas of knowledge. Like Ouro Preto, we had an artistic, landscape and historical legacy. Olinda, equally endowed as it was, had everything it needed to earn comparable glory. I was a glowing soul from Pernambuco that cold Parisian day in December 82 where I took part in the consolidation of the victory at a plenary session of Unesco, defending Olinda on the behalf of Brazil after so many months’ work. Its destiny was marked out from the start: the beautiful (lindo) setting that would raise its status as a town would have to be a reflection of its beautiful (linda) name. Olinda is a sweet, beautiful, musical, colorful delight. It is living to the full; it is feeling to the full, from the tops of its hills, with the sea ahead and the land behind. Marked by the baroque, we can still make out its former Benedictines, Jesuits and Franciscans making their way down the hills that are the pathways of history, the seeds of life. Olinda is all this: the churches, the monasteries, the legal courses, the science, the people who live in houses with doors and windows, the sea-bathing, the fleet of jangadas. Multiple, plural, Olinda with the fine sight of its magnificent colonial houses. Olinda of friars and doctors, a tropical Coimbra where the first Brazilian literature was written. Olinda of the romantic gesture of Bernardo Vieira de Mello. Olinda of Captain Temudo and, just as much, of its carnival characters, the Pitombeira and the Elephant, and the legendary Midnight Man and Daytime Woman, of Samico, José Cláudio, Luiz Delgado, Bajado, Carlos Trevi. Olinda, this fine, beautiful Olinda, without apportioning off its merits, without insulting its true history, without cultivating mediocrity, without losing its convivial virtues. Olinda should wake up to the tribute it received in the House of Deputies by Augusto Coutinho, faithful to historical facts, faithful to the values of Olinda’s people, the epitome of Pernambuco. Let me tell you: I SAW. Projected on the world stage between the historical towns of the greatest significance to human culture, Olinda truly deserved that distinction. Acts which founded Brazil took place on its hillsides, rising to their heights by sheer willpower. Acts which have maintained the nation’s identity are still pronounced from its hilltops, where they are now unshakable. What it teaches is a permanent harmony between art and historical tradition, between the coastal landscape and the life of the town with its distinctive monuments, both sacred and secular. Diario de Pernambuco – Sunday, January 27th, 2008. Primeiro Caderno – page 15. 44 O’linda! Oh, how fine! Your name says it all... Leonardo Dantas Silva T o anyone who sets eyes on it for the first time, Olinda seems inhabited by dreams and imbued with brightness as it dazzles the sight of its visitors: On November 25th 1631, the leaders of the Dutch garrison decided to set fire to the seat of the Pernambuco captaincy: woeful town of Olinda, so famed for her riches and fine buildings, her famed temples and the houses that had cost so many thousands of cruzados to build, in flames. So bright and clear is the landscape fine So bright that it melts the horizon line Lords of the land, the Dutch chose Recife as the capital of their dominions in Brazil, as it would provide them with a level of security they would not have in Olinda. Carlos Pena Filho We are given an idea of what Olinda was like in the 17th century by Ambrósio Fernandes Brandão, in Diálogos das grandezas do Brasil (1618): The town of Olinda is home to numerous tradesmen with their shops open, cluttered with wares of many prices, of every kind in such quantity that it is like a small Lisbon. The quayside is very fine, flanked by two forts equipped well with artillery and soldiers, which defend them; the ships are moored on the lee side, quite safe from any weather that may blow in, however inclement, for they have for their defense great reefs, where the sea breaks. At any time of the year, there are always over thirty ships anchored there, because every year there set sail more than 120 loaded with sugars, timber and cotton. The town is quite large, made up of many fine buildings and notable temples, for there stands the temple of the Priests of the Company of Jesus [1551], that of the Priests of Saint Francis, of the hooded Order of St. Anthony [1585], the Monastery of the Carmelites [1588], and the Monastery of St. Benedict [1592], with religious men from that order. In the first half of the 17th century, the wealth of Pernambuco captaincy, which was well known at every port in Europe, awakened the interest of the Netherlands. The output from 121 sugar mills, the chains and grindstones, in the words of van der Dussen, excited the hunger for wealth of the directors of the Dutch West India Company, which mounted a formidable fleet under the command of Admiral Hendrick Corneliszoon Lonck. A great armada, with 65 vessels manned by a crew of 7280 men reached the coast of Pernambuco on February 14th 1630, marking the beginning of the story of Dutch Brazil. The landscape and customs of Olinda were, in the words of Friar Manuel Calado, all delightful and this land seemed nothing if not a picture of paradise on earth. With its landscape woven out of dreams and brightness, mottled with different shades of green, in the waters of its sea, and blue and other colors in the twilight of its sky, Olinda has continued to fascinate everyone who has visited it over the years. The view from the coast, dotted with jangadas and other kinds of boats, has attracted many people over the centuries, and is still a source of delight and serene contemplation for visitors and even for the locals. On a trip through Olinda and its outskirts in l887, accompanying Portuguese writer Ramalho Ortigão, Joaquim Nabuco wrote an article for a Rio-based newspaper, O Paiz, in which he describes the landscape seen from the terrace of Olinda church: [...] it is not one of those views from high above, where the sea is so far below the viewer’s feet that it loses all movement and life, looking like a gossamer screen stretched over midair, seen at depth, which gives vertigo and where the perspective is so distant that it is as if we saw it through the wrong side of a lens. The view of Olinda is different; it is a lengthwise view, where the planes succeed one another as the same visual sense unfolds, from Olinda to Recife and further still, to the Cape of Saint Augustus. Proud as he was of his Pernambucan roots, Joaquim Nabuco goes on, displaying his sharp powers of observation: If you want to know a landscape, it is not enough to see it, much more is needed, what is needed is for the two souls, that of the viewer and that of the place, to come to understand one Igreja de Nossa Senhora da Misericórdia e Academia Santa Gertrudes ∙ D|9 another, for how often is it that they do not exchange even a word! Not to everyone does nature tell her secrets and inspire her love, but even for the few she has the pleasure of touching, making their hearts beat stronger, they must still approach her without being in any hurry to leave, taking their time to hear her. Travelers are never in a state of spirit where it is possible for the magnetism of the landscape to overcome the senses, in fact, the heart. Luckily, Ramalho Ortigão is an instant photographic camera, who grasps in a second everything he seeks, and it so happens that today the good cameras perceive and note shadows on the skin, which one does not see with the naked eye, and which serve to reveal latent infirmity. He will not have smelt the aromas of this land of ours, which maybe one 45 has to be from Pernambuco to sense, and which may not be real or magic to anyone but ourselves, but the impression our Venice had on him will render us a painting that will last like the Dutch prints of the 17th century. 46 OLINDA – A FINE HISTORY OF ART AND ARCHITECTURE José Luiz Mota Menezes A VIEW FROM AFAR I n the faraway year of 1630, an unknown painter on his way to the village took out his spyglass and pencil to sketch the outline of Olinda. He traced the details of the buildings: the windows, doors and rooftops, and especially the silhouette it made against the sky with its scudding clouds. Time passed, and he gave his sketches to another, who made them the illustrations for a book. Today, people approaching the town from the same direction catch sight of the same line it makes against the horizon. The time may be present, but the poetry of the forms surely affects the senses in just the same way. This man-made beauty has withstood the test of time, even if the town is no longer the same. What we can tell from the passage of time is how this urban aesthetic has blossomed in its unique, non-invasive appropriation of nature. The town nestles under the skyline, hugging the gentle curves of its hills. Curves and undulations that are so shapely they are almost feminine, setting a standard for urban beauty. The houses meander up the hills at the same easy pace as the people, with these two ascending forces forging a single route towards the blue that splashes the hilltops with color. The roads bend towards each other, meet, greet each other, then go on their way. Every hilltop, where each upward route should reach the heavens, is topped with a church, monastery or a college of the former, longgone priests of the Company of Jesus. The town, like the village it once was, is defended from unwelcome winds by the walled religious establishments. They, and the power of faith, keep the town free of any air- or sea-borne diseases. When one great wall ends, another begins. The first is the Jesuits’, which soon makes way for the walls of the Franciscan friars. From there, the city’s defense is handed over to the Carmelites, who then pass it on to the Benedictines. This is the last bulwark: a sturdy barrier in the service of God and man. Sturdier than the reinforced clay or stone walls. The roads bear the marks of the passage of so many people over so many years. Overlapping dramas, solitude, trials and tribulations. The poor on foot, the rich on their fine horses with silver tack, the friars with their threadbare robes: all once shared these roads. Along narrow, winding routes, processions have wended their way. Today, the same streets play host to carnival, with its acceptable sins, cleansed by the tears of the candles and the slow progress of the litter-bearers with their afflicted saints encumbered with requests of every kind. The town can be seen from so many viewpoints and with the most varied of aesthetic sensibilities. This is reassuring in one sense: practically everyone acknowledges the value of the architecture but cannot identify its different styles or forms. What they are struck by as they observe Olinda is the scale of what has been built by the hand of man, and the strength of the emotion they share as they look at it. This instinct to take the place for oneself comes from the eternal fruition of a beauty, where the name on everyone’s lips changes from Olinda to linda (“beautiful”). AN IRRATIONAL VIEW The town as it stands today was not built all at once. It was raised little by little. But hardly had it started to reveal its beauty than a fire, in 1631, left it gray and dark. The white of the walls was sullied and the beauty was consumed by the licking flames. If we take an academic perspective, we start to see different periods and styles in the town. By style, I mean an aesthetic approach that results in a similar final interpretation of the forms. Perhaps to start off with, everything was Mannerist. Then Baroque became the order of the day. Looking at the town as a whole, the scale of the houses seems incompatible with their forms. Bending to our will to change, they have clad themselves differently according to the times. Ages ago, they may have had the same or a similar design based on Mannerist concepts. But the prevailing trend that changed the appearance of the town made some of them Baroque. And that’s when the muddle set in. Different interpretations where everything reflects shifting tastes and a desire for change. Indeed, the religious establishments were also caught up in this. There were the Franciscan buildings, whose scale was in keeping with the ways of the mendicant friars. But they soon gained ground in the community and everything inside the churches and monasteries became bathed in gold in an exhibition of wealth that would strike shame into the hearts of the guardians from St. Francis’s times. Then the Jesuits arrived in great style. They borrowed the architecture of the church and the monastery to erect an imposing building with forty windows for Catedral da Sé - Igreja de São Salvador do Mundo ∙ F|11 but a handful of religious men. The Benedictine monastery in the 16th century, before the fire, was very modest, standing on top of the hill that overlooks Varadouro. Of the original construction, there remain a few parts shaped from carved stone used for a small altarpiece. When the wars with the Flemish ended in 1654, the power of faith and joy in the victory gained expression in a monumental building. The irrational poverty of the destroyed mills was transformed into the immodest gilt work of the interiors from this time of celebration. In the 18th century, a fine new altarpiece designed in Portugal was carved out of cedar by local artisans for a new main chapel for the Benedictine priests, and everything was gold and glory. The layout of the town defies any idea that an irregular form reveals an absence of reason. The organization of the roads and squares shows how rational irregularity can be. But it is not an irregularity born of spontaneity; quite the contrary. The act of setting a route is a rational enterprise and a very unique logic 47 always presides whenever we harness our resolve to get from one place to another more quickly and effectively. Olinda’s houses are surrounded by a ring of roads. The circular shape begins at Varadouro, goes past the plaza, along the sea front, until it reaches Rocio, where it goes uphill towards the Franciscan monastery, then towards São Salvador, and then heads down Misericórdia. This steep hill leads down to Quatro Cantos, with its smattering of shops, and then another hill to Ribeira marketplace. Alongside São Pedro church, it turns towards the Benedictines, but when it gets near the former palace it drops town to the old customs building alongside the river harbor. And we are back at Varadouro. Nothing could be more logical or more urban and modern for protecting the town’s residential area. And inside this ring there are other streets that follow the same rationale. From one place to another they converge on certain points, like Quatro Cantos or in front of São Salvador church, which forms the handsome, long Rua Nova (“New Street”). New, because before it there was Rua Fontes, which ran behind the town’s administrative building, which in 1676 became the Bishop’s Palace. All this culminated on the hilltop occupied by São Salvador church, where, in his stronghold, Duarte Coelho Pereira meted out the power granted him by the crown. And from where the original landlord could see the sea and dream of eternity. The dream involved the desire to embark on the arduous voyage back to the Old World; a journey full of fear, pain and hunger. There is poetry in Olinda. And everywhere, in the rationality of its layout, the wealth of its architecture or the simplicity of its design, it makes room for different, unique places, creating alleys, cul-de-sacs and empty spaces in a concerto of building-music in tune with the robust, forceful sounds of the Baroque in a music of masonry. Beco das Cortesias (“Courtesy Alley”), where pedestrians on their way down greet the people they pass, leaving a fleeting sense of the dreams and joys of forever living in a different, humane town. A town where New and Old 48 Christians first greeted each other, but soon afterwards, in 1593, denounced each other in the presence of the Inquisitor. Dwelling places that housed lesbians and men who liked other men, like the one who lives near Largo da Misericórdia. A town of great sins, of so many sins that a priest once said it could easily turn into the heretical “Olanda” (“Holland”), as happened a few years later. But Olinda did not become Olanda. It preferred the inferno of flames and the ashes of agony. A town for all, built by the people, stone by stone. The same stones, carried by rich and poor, that were used to build the fine Jesuit church of Nossa Senhora da Graça. History and art joined forces in the formation of this vibrant town capable of molding the lives of its every resident. Living in Olinda means leaving behind the cage-space of the apartment and embracing the poetic spaces formed in the shadowy, old bedchambers imbued with the sins of over five centuries. Bedchambers and drawing rooms whose windows and doors let in the lush landscape outside. The same lush wildlife and charming buildings that caught the eye of a Belgian abbot who came to the town to restore the Benedictine monastery in the 19th century. This town, made of these buildings, created by a rural folk from an agrarian Portugal that was cast into the shadows by its neighbors, Castile and Aragon, smells and tastes of the earth. The same earth that makes its houses’ front gardens, overlooked by their parlors, where the womenfolk could enjoy a freedom denied them out-ofdoors. Freedom indoors, where their unique beauty overcame the powerful menfolk and whose likeness was only imagined by others outside. The houses were all designed in much the same way because the society preserved a certain Muslim attitude towards the family, women and children. Drawing room at the front, hallway running from there with the bedchambers leading off it; then the parlor for the harem to look out over the garden. A society that turned ways of life into physical spaces and held true to that philosophy for hundreds of years until it was imprinted on the old town of Olinda. A VIEW OF THE SACRED The newcomers arrived in the distant year of 1535. They set out how the land would be occupied and wrote a charter, and then changed its wording and turned it into a letter of donation. The first and perhaps the only document to transfer the power constituted by the king to donate lands to a town’s residents and their representatives, the chamber of the so-called good men of colonial society. The religious men were given or bought their lands. The Jesuits were already included in the division of lands, and settled in 1551 on a strong headland overlooking the sea. The Franciscans opportunely occupied land just beneath them, thanks to the donation of the site by a pious widow whose husband had been one of the first settlers there. They took over the existing monastery building and extended it slightly. Towards the end of the 1500’s, the Carmelites received a very small chapel dedicated to the matchmaker saint, St. Anthony. Finally, the Benedictines purchased and received some land overlooking Varadouro, where rowing boats were mended. The Carmelites designed a huge building for their monastery – they garnered the greatest prestige – while the Benedictines settled for a simple monastery. All were built in the prevailing Mannerist style. But there was one thing that all these religious orders had in common: the landowners and the people from Portugal all answered to the same ruler: King Phillip II of Spain, for in the 16th century, by birthright, the Spanish line ruled supreme. The Iberian Union oversaw everything. At this time of Spanish rule, Olinda witnessed the construction of its most important monuments, at least from the perspective of the grandeur of their conception and dimensions. Of the three largest – the Jesuits’ college, the monastery of Santo Antônio do Carmo and São Salvador church – only one now hints of the power of the Spanish crown: the house of the Carmelite friars. As it had not been finished when the Dutch invaded, the church, the remains of an ornamental stone facade, and the construction method of the interior surrounded by chapels, all bear the influence of Spanish architects. Indeed, there were very few buildings in Portugal that could have made room for its facade. All of which reveals the presence of non-Portuguese architecture in lands that were also under Spanish rule at the time. Of those interiors with their fine, sober details and altarpieces of gilded stonework, there remain three altars: two in the Jesuit church and one in the Carmelite church. These are the only surviving artworks from so many that inspired the words of Baers, a minister who accompanied the Dutch armada. He praised the interiors, which could rival in ornateness any wine-soaked wedding banquet or Em primeiro plano, Igreja do Convento de Santo Antônio do Carmo ∙ H|8 beast of burden adorned with decorative tack, in a land which was flaunting the wealth of its agrarian economy, introduced to the New World by the will of the original feudal landlord, Duarte Coelho, the New Christians and their group of colonizers. After the victory in 1654, everything in Olinda smelt charred. But the commoners and the sugar barons channeled their faith into the reconstruction of the religious establishments, maybe all in the interest of earning a privileged place in heaven. A place capable of saving this constituted power from its sins, drawn in the requests for forgiveness on the tombstones. Olinda’s houses had hardly been rebuilt when the church walls went up and their roofs were replaced. And the new interiors were filled with altars with golden altarpieces. Sugar, the driving force of the new aristocracy, transformed everything with the most delicate of gold leaf, decorating the fine carvings in cedar: faithful representatives of a religion capable of expressing all the pomp and circumstance of the Baroque. Like a new Egypt, Olinda was built for eternity. 49 An eternity also forged in the eternal contrast between the richest and the most downtrodden in an unequal society – a contrast that persists to this day. Time passed with languid steps and Recife turned from a harbor into a town, outgrowing its sister town. Olinda watched on from a distance of six leagues. Its demarcated lands were gradually taken over. And, reduced to the limited space around it, it survived with its architectural and artistic forms, all in tune with the spirit of its people. These very singularities described above and many others, earning it the title of world heritage. A small bottle of perfume whose scent has impregnated the world scene. And despite the sometimes ill-advised interventions made today, there is still poetry in the patina of its walls and the nooks of its houses and the charm of its streets and terraces and squares. And the charm of time only enhances this eternally beautiful town. Olinda: town of dreams, sins and grandeur. 50 Vista aérea da colina histórica Igreja de São João Batista dos Militares ∙ A|9 51 52 Página ao lado, Igreja de São João Batista dos Militares ∙ A|9 53 Olinda, une ville ravissante Marcos Vinicios Vilaça J e suis étonné de l’amnésie volontaire en ce qui concerne la reconnaissance de Olinda comme Patrimoine Mondial, lors du jubilé d’argent de la date. Le risque de tout cela de cheminer vers une grossière absence de mémoire me fait peur et que nous soyons enfin arrivés à une telle noble distinction quand le secrétaire de la Culture du MEC (Ministère de l’éducation et de la culture), pernamboucain amoureux de sa terre et de ses gens, qui a succédé au poste – sans la prétention de le remplacer – à un autre pernamboucain dévot, Aloísio Magalhães, l’a suivi dans le travail en faveur de Olinda, épopée de notre civisme et de l’amour à la tradition. La marche triomphale du grand idéal nous a tous animés. C’était comme un défi secret d’affrontement commun. Personne n’a manqué à sa contribution. Olinda, le peuple et les autorités; le Pernambouc, les gouvernements de Marco Maciel et Roberto Magalhâes, et tous les gens; le Brésil, ses ministres Eduardo Portella, Rubem Ludwig, Esther Figueiredo Ferraz; le ministre des relations extérieures, avec ses qualifications professionnelles – talentueux, cultivés, patriotiques; les techniciens du secrétariat de la culture; l’UNESCO, l’accueil de ses dirigeants et en aval de ses spécialistes en divers savoirs. La ressemblance de Ouro Preto, nous avions un héritage artistique, paysagiste et historique. Olinda nous offrait une égalité de conditions inquestionnables pour obtenir le même honneur. L’âme pernamboucaine était incandescente dans le froid de décembre 82 à Paris, pour participer à la victoire, lors de la réunion plénière de l’UNESCO, défendant Olinda, au nom du Brésil, après de longs mois de travail. Laissez moi vous dire. Elle est venue avec un destin tout tracé: cela devait être sur la spéculation à propos de son propre nom qui allait lui donner la prédominance sur le complexe urbain. Olinda est un doux enchantement, beau, musical, coloré. C’est vivre plus; les vastes sensations, du haut de ses collines, voyant au-devant, la mer et derrière, la terre. Marquée par le baroque, nous voyons encore aujourd’hui ses vieux bénédictins, jésuites et franciscains descendre les pentes qui sont les chemins de l’histoire, fécondations de la vie. Olinda est tout cela, les églises, les couvents, les écoles de droit, la science, les gens qui habitent dans des maisons avec des portes et des fenêtres, le bain de mer, les embarcations. Olinda multiple, plurielle, offrant aussi à ceux qui la contemplent le magnifique décor de ses maisons coloniales. Olinda de moines et de docteurs, une Coimbra tropicale où a pris naissance la littérature brésilienne. Olinda du geste romantique de Bernard Vieira de Mello. Olinda du Capitão Temudo et aussi de la Pitombeira et de l’Elephant, de l’Homme de Minuit et de la Femme du Jour, de Samico, de José Cláudio, de Luiz Delgado, de Bajado, de Carlos Trevi. Olinda, la belle, la jolie Olinda, la magnifique Olinda, sans politisation de ses mérites, sans égratigner la vérité historique, sans cultiver la médiocrité, sans perdre ses vertus conviviales. Olinda doit assister à ses louanges prononcés à l’Assemblée par le député Augusto Coutinho, fidèle au fait historique, fidèle aux valeurs de Olinda, pernamboucain de Olinda. J’AI VU ÇA. Projetée à l’échelle mondiale parmi les villes les plus signifiantes de la culture humaine, Olinda méritait bien sa distinction. Les actes fondateurs ont gravi ses pentes, les grimpant par acte de volonté. Les actes maintenant l’identité nationale continuent à être annoncés du haut de ses crêtes, où ils ont définitivement obtenu domicile. Sa leçon est une harmonie permanente entre l’art et la tradition historique, entre le paysage maritime et la vie urbaine imprégnée se monuments sacrés et profanes qui composent son visage. Diario de Pernambuco – Dimanche, 27 janvier 2008. Primeiro Caderno – page 15. 54 O’linda! Tu portes bien ton nom... Leonardo Dantas Silva A ux yeux de qui la contemple pour la première fois, Olinda se révèle peuplée de rêves et empreinte d’une clarté capable de blesser les rétines de celui qui y arrive: De limpeza e claridade é a paisagem defronte. Tão limpa que se dissolve a linha do horizonte. Carlos Pena Filho Une vision de Olinda, au début du XVIIe siècle nous est donnée par Ambrósio Fernandes Brandão, dans Dialogues des grandeurs du Brésil (1618): Dans la ville de Olinda habitent d’innombrables marchands avec leurs boutiques ouvertes, remplies de marchandises de valeur, de toutes sortes et en telle quantité qu’elle ressemble à une petite Lisbonne. La digue de son port est tout à fait excellente, gardée par deux forteresses bien pourvues en artillerie et en soldats qui la défendent; les navires sont protégés à l’intérieur, à l’abri de n’importe quel temps, même très furieux, parce qu’il y a pour les protéger de très grands récifs ou les vagues se brisent. On y trouve en permanence ancrés, à n’importe quelle époque de l’année, plus de trente navires parce qu’il en part, chaque année, de l’ordre de 120 navires chargés de sucres, de bois de Pernambouc et de coton. La ville est assez grande, remplie de nombreux bons bâtiments et de célèbres temples parce qu’on y trouve ceux des Pères de la Compagnie de Jésus [1551], des Pères de São Francisco et de L’Ordre de la Capuche de Santo Antonio [1585], le Monastères des Carmélites [1558] et le Monastère de São Bento [1592] avec des religieux de ces mêmes ordres. Dans la première moitié du XVIIe siècle, la richesse de la capitainerie du Pernambouc, bien connue dans tous les ports d’Europe, a éveillé la cupidité des Pays-Bas. La production de 121 usines de canne à sucre, en pleine activité, selon les dires de Van der Dussen, allait réveiller la soif de richesse des directeurs de la Compagnie qui a fretté une formidable escouade sous le commandement de l’amiral Hendrick Corneliszoon Lonck. Une grande armada avec 65 embarcations et 7 280 hommes s’est présentée sur les côtes du Pernambouc le 14 février 1630 commençant ainsi l’histoire du Brésil hollandais. Seigneurs de la terre, les hollandais ont choisi Récife comme siège de leur domination du Brésil, parce qu’on y trouvait la sécurité dont on ne disposait pas à Olinda. La nuit du 25 novembre 1631, les chefs hollandais ont décidé de mettre le feu à la capitainerie du Pernambouc, la pauvre ville de Olinda si célèbre pour ses richesses et ses nobles édifices, ils ont brûlé ces si fameux temples, et des maisons qui ont coûté tant de milliers de cruzados pour les construire. Les paysages et les coutumes de Olinda ont ainsi été décrites par le frère manuel Calado: tout était délice et cette terre ne ressemblait à rien d’autre qu’à un portrait du paradis sur terre. Cependant, avec son paysage, tissé de rêves et de clarté, imprégné des diverses tonalités de vert, dans les eaux de son océan, du bleu et d’autres couleurs au crépuscule de son ciel, Olinda, au fil du temps, fascine tous ceux qui la connaissent. Sa vue du littoral, remplie de radeaux de pêcheurs et d’autres types d’embarcations, a été une séduction pour ces voyageurs tout au long des siècles et est, aujourd’hui, source de plaisir et de paix pour le visiteur et pour ses propres habitants. Lors d’une promenade à Olinda et ses alentours, en tant que cicérone de l’écrivain portugais Ramalho Ortigão, en 1887, Joaquim Nabuco décrit ainsi le paysage, dans un article publié dans le journal O Paiz (Rio de Janeiro), à propos de la vue de la terrasse de la Sé de Olinda: [...] ce n’est pas une de ces vues de hauteurs, desquelles la mer semble être si bas aux pieds du spectateur qu’elle en perd le mouvement et la vie, semblant être un voile diaphane tendu sur le fond vide de l’air, vues en profondeur qui donnent le vertige et dans lesquelles la perspective est si éloignée comme si nous regardions au travers de lunettes à l’envers. La vue de Olinda est autre; c’est une vue en longueur, dans laquelle les plans se succèdent les uns aux autres comme le développement de la même sensation visuelle, de Olinda jusqu’à Récife, et plus loin jusqu’à Cabo de Santo Agostinho. Vista aérea da Catedral da Sé - Igreja de São Salvador do Mundo ∙ F|11, da Igreja de Nossa Senhora das Neves e Convento de São Francisco ∙ G|12 e da Igreja de Nossa Senhora da Graça e Seminário de Olinda ∙ F|12 Possédé de la fierté d’être pernamboucain, Joaquim Nabuco insiste, avec son pouvoir d’observation perspicace: Pour connaître un paysage, il ne suffit pas de le voir. Il faut beaucoup plus, il faut que les deux âmes, celle du contemplateur et celle du lieu, arrivent à s’entendre, et combien de fois elles ne se parlent même pas ! Ce n’est pas à tous que la nature raconte ses secrets et inspire son amour, mais même avec les rares de qui elle a plaisir à faire battre le coeur, il faut qu’ils s’approchent d’elle sans hâte de la quitter, avec du temps pour l’écouter. Les voyageurs n’ont jamais cette disposition d’esprit où il est possible d’établir le magnétisme du paysage sur les sens, de fait sur le coeur. Heureusement, Ramalho Ortigão est un appareil photographique instantané qui capte en une seconde son objectif entier et il arrive qu’aujourd’hui les bons appareils perçoivent et notent des ombres sur la peau qui ne 55 se voient pas à l’oeil nu et qui servent à connaître l’infirmité latente. Il n’aura pas senti les effluves de notre terre, et peutêtre faut-il être pernamboucain pour sentir ce qui peut n’avoir de réalité et de sens que pour nous-mêmes, mais l’impression que cela lui a causé notre Venise devra nous offrir une peinture qui durera comme les gravures hollandaises du XVIIe siècle. 58 Páginas 56 e 57, Igreja de São João Batista dos Militares ∙ A|9, Igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos de Olinda ∙ A|10 e Igreja de Nossa Senhora do Amparo ∙ B|9 LINDA – UNE BELLE MANIÈRE DE CONSTRUIRE UNE HISTOIRE DE L’ART ET DE L’ARCHITECTURE José Luiz Mota Menezes La longue perception du lieu M archant en direction de la ville, un peintre inconnu, en cette lointaine année de 1630, a pris son crayon et a défini le profil de Olinda, utilisant sa longue vue. Il a noté chaque partie construite – les fenêtres, les portes et toitures et, surtout, la silhouette qui coupait alors le ciel de ses doux nuages. Après tout cela, y compris ses sensations, il a tout repassé à un autre capable d’en produire l’illustration d’un livre. Une autre personne, allant aujourd’hui en direction du même lieu, découpe avec la vue le profil qui marque la présence de la ville à l’horizon à un autre moment. Le temps est présent, mais la poésie des formes sensibilise peut-être de la même manière. La construction du beau transite dans le temps. La ville n’est pas la même. Ce que l’on perçoit dans ce long intervalle parcouru du temps est une réalisation esthétique déterminante d’une singularité moulée dans l’appropriation de la nature, sans qu’il n’y soit marqué une forte rupture. La ville se couche à l’horizon et y trace la douce courbe de ses collines. Courbes peut-être féminines par leur sinuosité et par les contrecourbes qui définissent un modèle du beau urbain. Les maisons grimpent les collines avec la même fatigue que nous et, entre deux forces ascendantes, un même parcours recherche le bleu qui couvre de couleur le lieu au-dessus de la colline. Les rues sinuent à la recherche les unes des autres et lorsqu’elles se rencontrent, se saluent et continuent. Marquant chaque point surélevé, où en principe mènent ces pentes vers le ciel, il y a églises, couvents et collèges des anciens pères disparus de la Compagnie de Jésus. La ville, la vieille ville, se protège des vents mauvais par les clôtures entourant les maisons des religieux. Elles font en sorte, par la force de la religion, que les maladies apportées par l’air et la mer ne s’approchent pas de la ville. Chaque immense clôture se termine là où une autre commence. On peut ainsi voir que tout commence avec celle des jésuites, laissant aussitôt place à celle des frères de São Francisco. Et puis celles-ci abandonnent la défense aux carmélites, qui repassent enfin la vigilance aux bénédictins. Ceux-ci sont en charge du dernier rempart. Un fort rideau au service de Dieu et des hommes. Plus fort que les murailles de torchis ou de pierre. Les rues sont marquées par les pas de tant de monde pendant tant de temps. Une superposition de drames, solitude et luttes. Par de telles rues ont couru et marché pauvres, riches avec leurs beaux chevaux aux harnais d’argent ou des moines aux bures usées. Les processions ont serpenté dans des rues étroites et sinueuses. Aujourd’hui, le carnaval et ses possibles péchés y lave les pleurs des cierges et la lente progression de marcheurs avec leurs saints souffrants chargés de voeux les plus divers. La ville est perçue par de nombreux yeux avec de grandes sensations esthétiques variées. Un résultat nous réconforte: pratiquement tous reconnaissent la valeur de l’architecture et même y découvrent des styles ou des formes. Ce qui garde la perception de la ville de Olinda est l’échelle de ce qui a été construit par le talent humain et la forte identité de la même émotion entre divers observateurs et la chose observée. Le même geste de s’approprier le lieu appartient à l’éternité de jouir d’une beauté où le nom passe pour chacun de Olinda à belle. UNE PERCEPTION IRRATIONNELLE La construction de la ville d’aujourd’hui ne s’est pas faite en une fois. Elle a été édifiée lentement. Elle s’affirmait à peine comme belle et un incendie, en 1631, l’a laissée grise et sombre. Le blanc des murs est devenu sale et la beauté s’est consumée dans les flammes de l’incendie. Assumant le regard de la culture académique nous en venons à percevoir dans la ville époques et styles. Style compris comme des modes similaires d’un procédé esthétique dans le résultat de la lecture des formes. Peut-être qu’au début, tout a été Maniériste. Ensuite elle s’est vêtue de Baroque. Regardant la ville en général, l’échelle des édifications des habitats confond le lecteur avec ses formes. Les maisons, selon la volonté de changer des gens, changent d’habits et s’habillent en conformité avec leur temps. Peut-être les habitations avaientelles il y a a bien longtemps un même dessin, ou semblable et celle-là serait née Maniériste. Mais la mode qui est forte dans la construction de la ville en a transformé certaines en baroques. La confusion s’est alors installée. Une différence de lecture où tout reflète des alternances dans le vouloir et le goût du différent. Les maisons des religieux sont aussi passées par une telle 59 humiliation. Celles des franciscains ont surgi à une échelle bien au goût des frères mendiants. Ils ont bientôt gagné de la force dans la communauté et tout á l’intérieur des églises et des couvents s’est vêtu d’or, une richesse capable de provoquer la honte des gardiens des vieux monuments de São Francisco. Les jésuites sont nés grandioses et ainsi, au goût de l’église et du couvent, ils construisent un énorme môle avec 40 fenêtres si peu religieuses. Le monastère des bénédictins, en ce XVIe siècle si éloigné, avant l’incendie, était bien petit et dominait le sommet de la colline qui surplombait le Varadouro. De ses formes les plus anciennes ne restent que des morceaux en pierre taillée destinée à un petit retable de l’autel. Une fois finies les guerres contre les flamands, en 1654, la force de la foi et la joie de la victoire se manifestent par une construction monumentale. L’irrationnel de la pauvreté des plantations de canne à sucre détruites se transforme en la misère dorée des intérieurs de ce temple de commémoration. Un riche et beau retable dessiné au Portugal est alors découpé dans le bois local en plein XVIIIe siècle par des artistes locaux pour le nouveau presbytère des pères de São Bento et tout se transforme en or et grandeur. Le destin de cette ville met à terre l’idée d’un tracé irrégulier comme moyen de définir de l’absence de raison. Le plan des rues et des places nous montre la rationalité de l’irrégulier. Un irrégulier non pas issu de la spontanéité. Cela n’existe pas. Le fait de marquer un chemin est plein de raison et une logique singulière nous guide toujours dans la certitude de vouloir aller plus vite et mieux d’un endroit à un autre. Les maisons de Olinda sont entourées par un anneau formé par des rues et ce format commence au Varadouro, passe au large du Salgado, devant la mer et arrive au Rocio d’où il gravit une colline en direction du couvent des franciscains et continue vers la matrice. Puis il prend le chemin de la Misericórdia et là, dans cette pente raide, il descend vers les Quatro Cantos des commerçants. A partir de là, il prend une autre pente, va à la Ribeira et à côté de l’église de São Pedro il se détourne en direction du bâtiment des pères de São Bento et, bien près de l’ancien Palace, il descend vers l’ancienne Douane sur le trottoir du port fluvial. Nous sommes de nouveau au Varadouro. Rien de plus rationnel et où de manière urbaine et moderne se fait la protection des habitations. A l’intérieur d’un tel anneau, d’autres rues sont tracées selon une même matérialité rationnelle. De place en place, déterminants des points chauds, comme celui des commerçants des Quatro Cantos ou d’autres semblables à celui créé en face de la Matriz de Salvador, formant la belle et longue rue fermée Rua Nova. Nouvelle parce qu’avant il y avait celles des Fontes, la plus ancienne, passant derrière la Chambre transformée en Palais des évêques de la ville en 1676. Tout cela prend son sens depuis le haut de la Matriz où, dans sa tout, le Donatário transmettait le pouvoir royal. Un piédestal d’où l’on pouvait voir la mer et où l’on rêvait de l’infini. Dans cette rêverie se ressentait une envie de vivre le dur moment du retour sur les eaux vers le Vieux monde, un voyage plein de peur, de douleur et de faim. La poésie fait Olinda. La raison du tracé et la richesse des habitations sont partout, dans la simplicité de leur dessin, construisant des espaces différents et inégaux, créant des passages, des ruelles et des espaces vides en un concert comme une comédie musicale édifiée et fidèle aux amples sons puissants de la forme baroque de composer une musique de pierre et de chaux. Ruelle des Cortesias. Là où qui descend salue qui passe et rapidement, tous deux laissent derrière eux rêves et joies de vivre éternellement dans une ville différente et humaine. Une ville où les nouveaux chrétiens et les anciens se saluaient et un peu plus tard, en 1593, allaient se dénoncer au visiteur du Saint Office. Habitations qui abritaient des lesbiennes et des hommes qui en aiment d’autres, dont un résident à proximité du Largo da Misericórdia. Ville de grands péchés, si bien qu’un prêtre a dit à voix haute et tonitruante qu’on pourrait la nommer Olanda des hérétiques, ce qui a eu lieu peu de temps après. Mais Olinda n’est pas devenue Olanda. Elle a préféré les flammes de l’enfer et les cendres de l’agonie. Une ville pour tous, construite par eux, pierre après pierre. Ces mêmes pierres qui ont aidé, portées par riches et pauvres, à la construction de la belle église de Nossa Senhora da Graça, celle des jésuites. Histoire et art se compactent dans la formation d’un espace urbain plein de vie et capable de modifier le mode de vie de chaque habitant. Vivre à Olinda est abandonner l’espace-cage défini par un appartement pour embrasser des espaces poétiques créés dans de sombres et vieilles alcôves, chargées de péchés de plus de cinq siècles. Alcôves et salles où le paysage pénètre par des moulures qui construisent des vides, fenêtres et portes ouvertes sur le paysage luxuriant tout autour. Nature exubérante et constructions enchanteresses d’un abbé belge venu dans la ville pour restaurer le monastère des bénédictins au XIXe siècle. Une ville formée de tels édifices, créée par des gens telluriques venus d’un Portugal agraire et pas aussi glorieux que les voisines 60 Castille et Aragon, a la saveur et l’odeur de la terre. La même terre qui recouvre les cours, situées devant les salles de séjour des habitations. Salles dans lesquelles les femmes vivaient la liberté que l’on disait inexistante au-dehors. Liberté au-dedans, ou la beauté de chacune dominait ces messieurs si forts dont l’image avait été construite par les autres au-dehors, dans la rue. Le dessin des rues suivait le même tracé, cela à cause d’une société qui garantissait un certain air musulman dans le regard sur la famille, la femme, les enfants. Salle devant, couloir bordant les alcôves et salle de séjour, le lieu du harem devant cette cour. Une société qui a transformé les manières de vivre en espaces et les a maintenus fidèles à une telle philosophie pendant de nombreux siècles et elle est arrivée moulée de cette forme dans la vieille Olinda. LA PERCEPTION DE L’ESPACE SACRE Ils sont arrivés dans un nouveau lieu en cette année distante de 1535. Ils ont tracé le système d’occupation du sol et ont écrit un Foral et ont modifié la rédaction, le transformant de Foral en Carta de doação. Un premier et peut-être seul document dans lequel le pouvoir constitué par le roi a concédé le droit de donner les terres et les habitations aux représentants de ces mêmes gens, la Chambre dite des hommes bons de la société coloniale. Les hommes de la religion ont reçu ou acheté leurs lieux. Les jésuites ont reçu du Donatario lui-même une haute pointe de terre surplombant la mer et s’y sont installés en 1551. Les franciscains se sont installés immédiatement au-dessous, une manière singulière, le lieu leur ayant été donné par une veuve religieuse qui avait été mariée à l’un des premiers habitants. Ils ont trouvé un couvent déjà fait et l’ont agrandi, mais pas tellement. Ceux de Nossa Senhora do Carmo, à la fin du premier siècle, ont reçu un très petit ermitage dédiée au saint du mariage Santo Antonio. Les bénédictins, en dernier lieu, ont acheté et reçu des terres en surplomb du Varadour, là où se réparaient les bateaux. Ceux du Carmo ont projeté un immense couvent. Ils avaient goût pour le prestige. Les bénédictins se sont contentés d’un simple monastère. Tous construits selon le goût maniériste dominant. Une singularité unit ces maisons religieuses: les gens « de la terre » et ceux du Portugal étaient sujets d’un même souverain, un espagnol de la ligne royale des Filipes. C’étaient tous des gens, en ce lointain XVIe siècle, espagnole par lignée généalogique déterminée par les cours. L’union des couronnes régnait sur tous. En cette époque de domination espagnole, Olinda a vu la construction de ses monuments les plus importants, considérés selon la grandeur de leur création. Parmi les trois plus grands, la maison des jésuites, le couvent de Santo Antonio do Carmo et la Matriz do Salvador, seul un dénonce encore aujourd’hui dans ses lignes la présence de ce pouvoir royal de l’Espagne – la maison des frères carmélites. Inachevée en raison de l’invasion des hollandais, elle conserve de cette époque, dans son église et sur les vestiges d’une façade à retable à laquelle s’ajoute la forme constructive de l’intérieur entouré de chapelles, une influence des architectes de cette Espagne. Une façade à retable peut être inclue dans le corpus des rares construites au Portugal. Une contrefaçon qui n’a pas été complétée de la même manière, mais révélatrice d’une architecture non lusitanienne sur des terres qui, forcément, étaient à l’Espagne à cette époque-là. De ces intérieurs aux décorations riches et sobres, visibles sur ses monumentaux retables dorés, restent trois autels, deux dans l’église des jésuites et une dans celle des frères du Carmo. Ce sont de oeuvres d’art qui disparaissent et matérialisent la déclaration d’un révérend appel Baers, venu avec l’armée de l’invasion hollandaise. Ce religieux fait l’éloge de la richesse de ces intérieurs, rivaux des banquets arrosés de vins de mariage et des animaux chargés de harnais et autres harnachements sur une terre où les gens vivaient la splendeur de la nouvelle économie agraire installée dans le Nouveau Monde par la volonté du vieux Donatário Duarte Coelho et des Nouveaux chrétiens de son entourage colonial. Après la victoire de 1654, tout à Olinda sentait encore le brûlé. Cependant, la religiosité des gens du peuple et de la noblesse du sucre s’exprimait dans la volonté de reconstruire les maisons pour la religion, tout cela peut-être dans l’espoir d’obtenir une place privilégiée au ciel. Lieu capable de sauver tel pouvoir constitué de ses péchés dessinés dans le pardon des pierres tombales. Les habitations de Olinda étaient à peine reconstruites que les églises s’érigeaient et refaisaient leurs toitures. Et les intérieurs ainsi définis se couvraient de nouveaux autels avec leurs retables dorés. Le sucre, constructeur d’une nouvelle aristocratie, transformait tout avec les très fines feuilles d’or qui revêtaient de belles sculptures coupées dans le bois local, fidèles représentantes d’une religion capable 61 d’exprimer la pompe et le faste du baroque. Comme une nouvelle Egypte, Olinda a construit pour l’éternité. Une éternité également forgée dans l’éternelle différence entre les plus riches et les plus démunis d’une société inégale qui continue de nos jours. Le temps a passé lentement et Récife, qui de port s’est transformé en ville, a beaucoup grandi. Olinda a regardé cela de loin. Ses terres initiales ont été prises. Et, réduite à un petit espace tout autour, elle a survécu avec ses formes architecturales, son art et tout cela selon la manière d’être de ses habitants. Les mêmes singularités décrites et d’autres qui lui ont valu d’obtenir le titre de Ville monument et de Monument Mondial. Un petit flacon dont le parfum marque sa présence sur la scène mondiale. Malgré les interventions, pas toujours bonnes, de nos jours, on y trouve la poésie sur la patine des murs et dans les pleins et vides des habitations et dans l’enchantement des rues. L’enchantement du temps s’ajoute à celui de la ville toujours belle. Olinda, ville couverte de rêves, péchés et grandeur. 62 OLINDA POÉTICA Edson Nery da Fonseca Poetic Olinda OLINDA POETIQUE Q uando passo pelo bairro recifence de Santo Amaro e vejo aqueles pequenos barcos ao pé da ponte do Limoeiro, lembro-me de minha avó materna, que morava onde é hoje a Casa do Marinheiro. Fiel à sua origem inglesa, ela educou os filhos de acordo com o preceito latino mens sana in corpore sano. Todos aprenderam a remar e subiam o rio Beberibe de barco até Olinda. Minha mãe e meu pai se conheceram na praia dos Milagres. Por isso eu a ouvia dizer de cor este poema de um dos primeiros livros de Adelmar Tavares (18881963): W hen I pass through the neighborhood known as Santo Amaro and see those little boats around the Limoeiro Bridge, I remember my maternal grandmother who lived where the Casa do Marinheiro (Sailor’s House) is today. Always faithful to her Engish origins, she raised her children according to the Latin precept mens sana in corpore sano. So we all learned to row and used to go up the Beberibe River towards Olinda by boat. My parents met on the beach at Milagres. This must be why Mother often quoted this poem from one of the first books by Adelmar Tavares (18881963), which she knew by heart. Q uand je passe dans le quartier de Santo Amaro et que je vois ces petits bateaux au pied du pont du Limoeiro, je me rappelle ma grandmère maternelle qui habitait où se trouve aujourd’hui la Maison du Marin. Fidèle à son origine anglaise, elle a élevé ses enfants selon le précepte latin mens sana in corpore sano. Tous ont appris à ramer et remontaient le fleuve Beberibe en barque jusqu’à Olinda. Ma mère et mon père se sont connus sur la plage des Miracles. C’est pour cela que j’écoutais réciter par coeur ce poème de l’un des premiers livres de Adelmar Tavares (1888-1963): 63 A PRAIA DE Milagres Ao pôr do sol... Aquela praia linda, de “Milagres” plantada à beira-mar de Olinda, ao pôr do sol, é como um sonho que se esfuma... Como um lençol de bruma estendido às alvíssimas areias, Ninho branco de ninfas e sereias. Fica entre coqueirais a igreja pequenina, alva, como uma lágrima do céu! como uma noiva, de capela e véu, que estivesse a esperar o noivo que se foi para não mais voltar! Pelas tardes serenas, em surdina, passa um rumor de penas. São elas, – são as tristes andorinhas, que vão falar de amores marinheiros, e de fadas marinhas, aninhadas às folhas dos coqueiros... O sino tange... O som do sino é como um ai, que pela praia vai, a se perder... Do alto da tarde desce... qualquer cousa de prece... – São as Ave-Marias, É a canção vesperal dos jangadeiros, que levaram assim dias inteiros de pescarias... Minha história de amor ficou também contigo, branco recanto amigo! Na água do mar, na luz do sol, na voz do vento hás de sentir que está meu pensamento! Ninguém te entende mais do que a minha alma que em sonhos, noite calma, como um fantasma errante, vai te beijar distante... Agora, és muito linda, alva praia de Olinda, coalhado todo o mar de vigas e batéis... – Mar que escravo de ti, vem te beijar os pés. – Milagres, que é que têm teus coqueirais sombrios? Que estranhas emoções, ao pôr do sol revelas! Quanta esperança vem no fumo dos navios!... Quanta saudade vai no côncavo das velas!... 64 Infelizmente, o mar que outrora beijava a areia como um escravo, destruiu quase toda a praia dos Milagres, deixando respeitosamente a igrejinha, comparada pelo poeta a “uma lágrima do céu” e como “uma noiva de capela e véu”. Em 1887, o grande escritor português Ramalho Ortigão visitou Olinda tendo Joaquim Nabuco como guia. Referindo-se a essa visita, o grande abolicionista pernambucano escreveu no jornal carioca O Paiz que “desde Olinda até ao Recife, e mais longe, até o cabo de Santo Agostinho, o olhar não precisa mover-se para apanhar a totalidade do cenário que se prolonga à beira-mar, salpicado das velas brancas de jangadas, penas destacadas das grandes asas da coragem, do sacrifício e também da necessidade humana. O que faz a grande beleza deste nosso torrão pernambucano é, em primeiro lugar, o seu céu, que muda a cada instante, leve, puro, suave, onde as nuvens parecem ter asas, e que não é o mesmo um minuto; e depois, o nosso mar, verde, Unfortunately that very sea which in former times kissed the sand like a slave also destroyed the beach at Milagres, leaving only the little church, which the poet compared to “a tear from the sky” and “a bride with diadem and veil”. In 1887, the well-known Portuguese writer, Ramalho Ortigão, visited Olinda with Joaquim Nabuco as his guide. Reporting on this visit, the great Pernambucan abolitionist wrote in the newspaper in Rio de Janeiro O Paiz: “from Olinda to Recife and further down the coast to the Cape of Santo Agostinho, the gaze need not wander far to take in the whole of the landscape along the shore, peppered with the white sails of the jangadas [ittle fishing rafts made from balsa], detached feathers from the great wings of courage, of self and sometimes even bodily sacrifice to an angry sea. What constitutes the great beauty of our native Pernambuco is, in the first place, its smooth, pure and bright sky Malheureusement, la mer qui embrassait autrefois le sable comme une esclave a détruit presque toute la plage des Miracles, laissant respectueusement la petite église, comparée par le poète à “une larme du ciel” et comme “une fiancée voilée”. En 1887, le grand écrivain portugais Ramalho Ortigão a visité Olinda en ayant pour guide Joaquim Nabuco. Se référant à cette visite, le grand abolitionniste pernambucain a écrit dans le journal de Rio de Janeiro O Paiz: “de Olinda à Recife, et plus loin jusqu’au Cabo de Santo Agostino, le regard n’a pas besoin de se déplacer pour capter la totalité du décor qui s’étend au bord de mer, parsemé des voiles blanches des radeaux, superbes plumes des grandes ailes du courage, du sacrifice et aussi de la nécessité humaine. Ce qui donne cette grande beauté à notre colline pernamboucaine est, en premier lieu, son ciel qui change à chaque instant, léger, pur, doux, où les nuages semblent avoir des ailes et qui n’est plus le même en une minute; ensuite, notre vibrátil e luminoso, as nossas areias tépidas e cobertas de relva, os nossos coqueiros, que se erguem desde o soco até o espanador de um brilho metálico e dourado, com que parecem ao longe sacudir as nuvens brancas, as jaqueiras e mangueiras, cuja sombra rendada é um oásis de frescura e abundância”. Em seu livro Olinda: 2º Guia prático, histórico e sentimental de cidade brasileira – cuja primeira edição para bibliófilos apareceu em 1939 – Gilberto Freyre lamentou que “nunca nenhum poeta brasileiro dos grandes cantou Olinda, como Manuel Bandeira o Recife, como Mário de Andrade, Belo Horizonte”. Freyre ignorava que, em 1925, o então quase desconhecido Joaquim Cardozo (1897-1978) escrevera este belíssimo poema, somente conhecido com a publicação, em 1971, de suas Poesias Completas. which is constantly changing, where the clouds seem to have wings and are not the same from minute to minute; then there is the shining, vibrant, green sea, warm sands covered with grass, coconut palms, rising from plinth to tuft shining bright and metallic and looking from far away as though they are brushing the white clouds, jackfruit and mango trees, whose lacy shade provides a cool and abundant oasis”. In his book, Olinda: a second practical, historical and sentimental guide to a brazilian city, whose first edition for bibliophiles appeared in 1939, Gilberto Freyre deplored the fact that “No great Brazilian poet has sung the praises of Olinda as Manuel Bandeira has of Recife or Mário de Andrade of Belo Horizonte.” Freyre didn’t know that in 1925, the hither unknown Joaquim Cardozo (18971978) had written this lovely poem which was only published in 1971, in his Poesias Completas. mer, verte, vibrante et lumineuse, nos sables tièdes couverts d’herbes, nos cocotiers qui se dressent de la racine à la tête avec une brillance métallique et dorée, et qui paraissent secouer au loin les nuages blancs, les jacquiers et les manguiers dont l’ombre dentelée est une oasis de fraîcheur et d’abondance.” Dans son livre Olinda: 2e Guide pratique, historique et sentimental de la ville brésilienne – dont la première édition pour les bibliophiles a paru en 1939 – Gilberto Freyre s’est plaint que ”jamais aucun des grands poètes brésiliens n’ait loué Olinda, comme Manuel Bandeira avec Récife, comme Mario de Andrade avec Belo Horizonte”. Freyre ignorait qu’en 1925, Joaquim Cardozo (1897-1978), qui était alors pratiquement inconnu, avait écrit ce très beau poème, seulement connu lors de la publication, en 1971, de ses Poésies complètes. 65 É também de 1925 o poema “Recordações de Tramataia”, no qual Joaquim Cardozo faz esta impressionante confissão: Olinda Olinda, Das perspectivas estranhas, Dos imprevistos horizontes, Das ladeiras, dos conventos e do mar. Olho as palmeiras do velho seminário, O horto dos jesuítas; E neste mar distante e verde, neste mar Numeroso e longo Ainda vejo as caravelas... Sábio silêncio do Observatório Quando à noite as estrelas passam sobre Olinda. Muros que brincam de esconder nas moitas, Calçadas que descem cascateando nas ladeiras. It was also in 1925 that in the poem, “Recordações da Tramataia” (“Memories of Tramataia”) Joaquim Cardozo makes this startling confession: Olinda, Quando o luxo, o esplendor, o incêndio E os Capitães-mores e os jesuítas E os Bispos e os Doutores em Cânones de Leis. E ainda Com as velhas bicas, os velhos pátios das igrejas: Amparo, Misericórdia, S. João, S. Pedro, Nossa Senhora de Guadalupe; E os Beneditinos e as irmãs Dorotéias E os padres de S. Francisco. Neste silêncio, neste grande silêncio, No terraço da Sé, Sentindo a tarde vir do mar, tão doce e religiosa, Como a alma celestial de S. Francisco de Assis. Egalement, en 1925, le poème “Recordações de Tramataia”, dans lequel Joaquim Cardozo nous fait cette impressionnant aveu: 66 Certamente inspirado pelo guia de Gilberto Freyre, o poeta Carlos Pena Filho (1930-1962) – que morreu jovem como Castro Alves, Gonçalves Dias e Casimiro de Abreu – a ele dedicou este poema que quase todo olindense sabe de cor e só apareceu no póstumo Livro Geral de 1969: Se eu morresse agora, Se eu morresse precisamente Neste momento, Duas boas lembranças levaria: A visão do mar do alto da Misericórdia de Olinda ao [nascer do verão E a saudade de Josefa, A pequena namorada do meu amigo de Tramataia. Surely inspired by Gilberto Freyre’s guidebook, the poet Carlos Pena Filho (1930-1962), who died a young man just as the other poets Castro Alves, Gonçaves Dias and Casimiro de Abreu had, dedicated the following poem to Freyre, a poem which every resident of the Olinda knows by heat, but which was only published posthumously, in 1969. Certainement inspiré par le guide de Gilberto Freyre, le poète Carlos Pena Filho (1930-1962) – qui est mort jeune comme Castro Alves, Gonçalves Dias et Casimiro de Abreu – lui a dédié ce poème que presque tous les natifs de Olinda connaissent par coeur et qui n’a paru que dans un livre posthume de 1969: 67 Olinda Do alto do mosteiro, um frade a vê A Gilberto Freyre De limpeza e claridade é a paisagem defronte. Tão limpa que se dissolve a linha do horizonte. Lembre-se ainda que Jaci Bezerra – grande poeta alagoano radicado no Recife – publicou em 1982 seus poemas olindenses no Livro de Olinda, reeditado em 1997. O próprio livro de Gilberto Freyre é um ensaio do qual foram desentranhados vários poemas por Manuel Bandeira, Mauro Mota, Ledo Ivo, Thiago de Mello e César Leal. Estão todos no livro Talvez poesia (1962). Prefaciando esse livro, Mauro Mota reproduz o melhor de todos os poemas, desentranhado por César Leal: As paisagens muito claras não são paisagens, são lentes. São Íris, sol, aguaverde ou claridade somente. Olinda é só para os olhos, não se apalpa, é só desejo. Ninguém diz: é lá que eu moro. Diz somente: é lá que eu vejo. Another great poet, Jaci Bezerra, a famous poet from Alagoas who settled in Recife, published a series of poems about Olinda, Livro de Olinda, in 1882, which was republished in 1997. Tem verdágua e não se sabe, a não ser quando se sai. Não porque antes se visse mas porque não se vê mais. Gilberto Freyre’s work also included poems by Manuel Bandeira, Mauro Mota, Ledo Ivo, Thiago de Mello and César Leal. They can all be found in the book Talvez poesia (1962). In the preface to this book, Mauro Mota cites one of the best of these poems, written by César Leal: As claras paisagens dormem no olhar, quando em existência. Diluídas, evaporadas, só se reúnem na ausência. Limpeza tal só imagino que possa haver nas vivendas. Das aves, nas áreas altas, muito além do além das lendas. Os acidentes, na luz, não são, existem por ela. Não há nem pontos ao menos, nem há mar, nem céu, nem velas. Quando a luz é muito intensa é quando mais frágil é: planície, que de tão plana parecesse em pé. On se souvient également que Jaci Bezerra – grand poète de l’Alagoas habitant à Récife – a publié en 1982 ses poèmes sur Olinda dans le Livre de Olinda, réédité en 1997. Le livre de Gilberto Freyre, lui-même, est un essai duquel ont été tirés plusieurs poèmes de Manuel Bandeira, Mauro Mota, Ledo Ivo, Thiago de Mello et César Leal. Ils se trouvent tous dans le livre Talvez poesia (1962). Préfaçant ce livre, Mauro Mota reproduit le meilleur de tous les poèmes venu de César Leal: 68 Poetas estrangeiros também se apaixonaram por Olinda. Cito como exemplo o mexicano Carlos Pellicer (1897-1977). Ivo Barroso traduziu este poema de seu livro de 1924 Pedra de sacrifícios: Praias com brancas areias reclinadas sobre o mar, águas verdes, verdes montes com seus cumes dentro do ar. Torre de Duarte Coelho fundida no monte maior, mas ainda há sete montes de escalas em tom menor; das quatro praias de Olinda Milagres é a primeira; ao note, há mais três ainda: Carmo, Farol e a terceira A number of foreign poets also fell in love with Olinda. An example is the Mexican Carlos Pellicer (1897-1977). Ivo Barroso translated this poem from his book of 1924, Pedra de sacrifícios: que chamam de São Francisco com seu hábito de areia, eternamente tão limpa, seja a maré baixa ou cheia. Olinda é pois esta soma de coisas que não têm fim: mulheres quase divinas, praias de montes assim. Des poètes étrangers sont aussi tombés amoureux de Olinda. Citons comme exemple le mexicain Carlos Pellicer (1897-1977). Ivo Barroso a traduit ce poème de son livre de 1924 Pedra de sacrifícios: 69 Canção de Olinda, canção! Canção de palmeiras nas colinas e da colina junto ao coração. Canção de Olinda cantada ao som da cintilação da água verde, jardim de sol. Olinda, a brasileira blasonada e linda que atou no penacho de suas palmeiras jogos de faixas e é a mais linda. Canção de Olinda, canção de palmeiras sobre a colina junto ao coração. Não foram apenas poetas conquistados por Olinda. Gilberto Freyre dedica seu guia ao naturalista alemão Konrad Günter, que foi hóspede por quase um ano dos Beneditinos de Olinda. Professor da Universidade de Freiburg, ele escreveu em seu livro Das antlitz brasiliens – publicado em Londres com o título A naturalist in Brazil – que jamais esqueceria da luz de Olinda, que mudava muitas vezes de cor durante o dia, fazendo a água do mar assemelhar-se a “uma irradiação de éter”. Outro estrangeiro apaixonado pela luz de Olinda foi o inglês Sacheverell Sitwell (1897-1988). Irmão dos poetas Edith e Osbert Sitwell, Sacheverell era historiador da arte. Em seu livro Southern baroque revisited, publicado em 1967, ele conta como ficou deslumbrado com o pôr do sol olindense, chegando ao ponto de confessar que gostaria de ficar para sempre em Olinda: “it was there, had one the choice, that one would to live in Brazil”. Nor were just poets enchanted by Olinda. Gilberto Freyre dedicated his guide to the German naturalist Konrad Günter, who lived for almost a year in the Benedictine Monastery in Olinda. Professor at the University of Freiburg, he wrote in his book Das antlitz brasiliens, published in London under the title of A naturalist in Brazil, that he would never forget the light in Olinda, which would change color during the day, causing the sea to appear as an “etherial irradiation”. Another foreigner impassioned by the light of Olinda was the Englishman Sacheverell Sitwell (1897-1988). Brother of poets Edith and Osbert Sitwell, Sacheverell was an art historian. In his book Southern baroque revisited, published in 1967, he tells of how he became fascinated by the sunsets in Olinda, confessing that he would like to stay forever in Olinda: “it was there, had one the choice, that one would to live in Brazil”. Ce ne sont pas que des poètes qui ont été conquis par Olinda. Gilberto Freyre a dédié son guide au naturaliste allemand Konrad Günter, qui a été hébergé pendant presque un an chez les bénédictins de Olinda. Professeur de l’université de Fribourg, il a écrit dans son livre Das antlitz brasiliens – publié à Londres sous le titre A naturalist in Brazil – qu’il n’oublierait jamais la lumière de Olinda qui changeait de couleur pendant la journée, faisant que la mer ressemble à une “irradiation d’éther”. Un autre étranger amoureux de la lumière de Olinda a été l’anglais Sacheverell Sitwell (1897-1988). Frère ses poètes Edith et Osbert Sitwell, Sacheverell était historien de l’art. Dans son livre Southern baroque revisited, publié en 1967, il raconte comment il a été émerveillé par le coucher de soleil à Olinda, en arrivant au point d’avouer qu’il aimerait rester au Brésil pour toujours: “it was there, had one the choice, that one would to live in Brazil”. 70 Minha condição de oblato – “oblato fescenino”, como fui denominado pelo meu querido Clênio Sierra de Alcântara, num artigo carinhoso que ele dedicou a mim por ocasião do meu octogésimo aniversário – me ligou – me liga – de modo visceral a Olinda, porque é olhando diariamente para o Mosteiro de São Bento ou ouvindo o badalar dos seus sinos, que encontro a paz interior tão necessária para que eu suporte resignado os achaques da velhice. qualquer folga para ir às praias do Rio de Janeiro, quando não para as do meu Pernambuco. Eu mirava aquela imensidão por vezes esmeraldina, recordando a crônica-poética “Banho de mar”, na qual Clarice Lispector dizia: “Nunca fui tão feliz quanto naquelas temporadas de banhos em Olinda”. Assim como, em certa época, Gilberto Freyre conseguia avistar o rio Capibaribe da sacada de sua Vivenda de Santo Antônio de Apipucos, houve um tempo em que eu avistava o mar de Olinda do quintal de minha casa. Mas as árvores cresceram tanto. Eu mirava esse mar – que tinha e tem qualquer coisa do poema “El Contemplado”, do Pedro Salinas – pensando nos tempos em que, funcionário público lotado em Brasília, eu aproveitava My situation as an oblate – a “scurrilous oblate” as I was called by my old friend Clênio Sierra de Alcântara, in a charming article he dedicated to me on the occasion of my eightieth birthday – linked me, continues to link me – in a visceral way to Olinda. Looking down towards the Monastery of St. Benedict, or listening to the clamor of its bells fills me with an interior peace essential to put up with the problems of old age. beaches there when there wasn’t enough time to get back to my Pernambuco. I would look at that vastness, sometimes emerald green, and remember the story poem “Banho de mar”, where Clarice Lispector says:”I was never so happy as during those times at the seaside in Olinda.” Similar to, at another time, Gilberto Freyre could look down on the Capibaribe River from the porch of his home in Apipucos, there was a time when I could see the ocean bordering Olinda from the backyard of my home. But the trees have grown so tall…. I looked down on this sea – which had and still has something of the poem, “El Contemplado” by Pedro Salinas – remembering the time when I was a government employee living in Brazilia and used every opportunity to get down to Rio de Janeiro and the Ma condition d’oblat – un « oblat licencieux » comme le dit mon très cher Clênio Sierra de Alcântara dans l’affectueux article qu’il m’a dédié à l’occasion de l’anniversaire de mes quatre-vingts ans – me reliait – me relie – de manière viscérale à Olinda, car c’est en regardant chaque jour le monastère de São Bento ou en écoutant le tintement de ses cloches que je trouve la paix intérieure qui m’est nécessaire pour supporter avec résignation les maux de la vieillesse. Tout comme, à une certaine époque, Gilberto Freyre pouvait apercevoir le fleuve Capibaribe depuis le balcon de sa villa de Santo Antônio de Apipucos, il y eut un temps où j’apercevais la mer d’Olinda depuis le jardin de ma demeure. Mais les arbres ont tellement grandi. Je contemplais cette mer – qui avait et garde toujours je ne sais quoi du poème « El Contemplado » de Pedro Salinas – en me souvenant du temps où, fonctionnaire muté à Brasilia, je profitais de la moindre période de repos pour m’en aller vers les plages de Rio de Janeiro, quand ce n’était vers celles de mon cher Pernambouc. Je contemplais cet infini où chatoyaient parfois des tons émeraude, en me remémorant la chronique poétique « Banho de mar » [Bain de mer] de Clarice Lispector, où elle dit: « Je n’ai jamais été aussi heureuse qu’à Olinda à la saison des bains ». Rua XV de Novembro e Igreja e Mosteiro de São Bento ∙ H|6. Próxima página, Igreja de Nossa Senhora das Neves e Convento de São Francisco 71 74 Casa com muxarabi na Rua do Amparo ∙ C|9 75 76 Catedral da Sé - Igreja de São Salvador do Mundo ∙ F|11, mais à esquerda, torre da Igreja Senhor Jesus do Bonfim ∙ E|9 Acima, à esquerda, meninos no adro da Igreja de Nossa Senhora do Amparo. Acima, à direitra, liga de dominó na Rua do Amparo. Abaixo, à esquerda, Rua Prudente de Morais ∙ E|8. Abaixo à direita, padaria na Rua Prudente de Morais 77 78 Vista aérea, Quatro Cantos de Olinda ∙ D|8. Abaixo, vista aérea da Catedral da Sé - Igreja de São Salvador do Mundo ∙ F|11, da Igreja de Nossa Senhora das Neves e Convento de São Francisco ∙ G|12, e da Igreja de Nossa Senhora da Graça e Seminário de Olinda ∙ F|12 Vistas aéreas do Palácio dos Governadores ∙ G|6 e 7 e Mosteiro de São Bento ∙ H|6 79 80 Caixa d’agua. Abaixo, vista de telhados e da Rua do Amparo. Página ao lado, Quatro Cantos ∙ D|8 81 82 Página ao lado, Igreja e Mosteiro de São Bento ∙ H|6 83 Olinda ensina Jurema Machado O que faz de um sítio histórico, uma cidade ou um monumento, Patrimônio Mundial? Como pano de fundo, tem-se um tratado internacional – a Convenção UNESCO para a Proteção do Patrimônio Cultural e Natural da Humanidade, de 1972 – que tem origem na convicção de que alguns sítios e monumentos possuem valor universal excepcional, o que implicaria uma responsabilidade mundial pela sua preservação. Para dar materialidade e consistência à ideia de valor universal, um edifício conceitual e normativo veio sendo construído desde então, envolvendo categorias de bens, critérios e sistemáticas de seleção, defesas contra a instrumentalização política e estratégias para que o reconhecimento surta efeitos mais duradouros para a conservação do bem.1 Em que pese toda essa arquitetura de conceitos e normas, na definição dos caminhos que levam um bem a tornar-se ou não Patrimônio Mundial não são nada desprezíveis as circunstâncias: o desejo, o empenho e a liderança de pessoas e grupos que, num dado momento, são capazes de mobilizar governos e comunidades em torno da candidatura. A tudo isso, somam-se a inescapável subjetividade e as diferentes visões de mundo de atores essenciais: os especialistas internacionais que analisam as propostas de candidaturas e o Comitê do Patrimônio Mundial, um conselho formado por representantes de 21 países, que toma a decisão final. Mesmo com todas essas nuanças, é inegável que, ao final, resulta uma lista de bens muito especiais. Há, no entanto, dentre esses bens especiais, independentemente de seu grau de excepcionalidade ou beleza, alguns dotados de maior capacidade de representação. São aqueles cujos atributos materiais e imateriais remetem com mais clareza à ideia de continuidade, de acúmulo, de simultaneidade de tempos. São aqueles densos e complexos, independentemente do porte que tenham. Continuam, com o passar do tempo, ensinando e propondo novos temas para reflexão, além de expor sucessivos desafios e complexidades. Assim parece acontecer com Olinda, há quase 30 anos reconhecida como Patrimônio Mundial2, hoje um sítio histórico com cerca de 20 mil habitantes, pequeno se comparado com a grande aglomeração urbana onde se encontra, seja diretamente com o município de Olinda ou, mais ainda, com a Região Metropolitana do Recife, uma das maiores e mais complexas do Brasil.3 Françoise Choay refere-se ao monumento como um desafio à entropia, à ação dissolvente que o tempo exerce sobre todas as coisas naturais e artificiais4; um pouco antes, Walter Benjamin descrevia o Progresso como sendo aquilo que um anjo, com os olhos voltados para o passado mas soprado por uma tempestade que o impele sempre para o futuro, vê formando-se aos seus pés: a imagem aterrorizante de um amontoado de destroços e de ruínas.5 Os valores transmitidos por Olinda parecem dotá-la dessa capacidade de desafiar a ação dissolvente do tempo, não apenas sobre as coisas, mas sobretudo sobre a nossa capacidade de compreensão, recriação e reordenamento dos destroços produzidos pelo Progresso. Se isso for verdade, a condição de Patrimônio do País e da Humanidade já terá tido mais do que suficiente motivação. Olinda ensina, como de resto é papel de todo bem considerado Patrimônio, mas a hipótese é de que o faz com particularidades, as quais se apresentam, no caso, sob duas formas: a primeira é a de que seus atributos – como sempre ocorre com objetos complexos – não podem ser vistos, compreendidos ou tratados de forma estanque ou compartimentada; e a segunda refere-se à frequência com que se verificam, na trajetória daquele sítio, abordagens e medidas inovadoras sob a ótica da gestão do patrimônio, ou seja, quase a criação de uma tradição em oferecer inovações. Vejamos a seguir os exemplos. A característica que responde pela primeira e definitiva imagem de Olinda é a da indissociabilidade entre paisagem natural e espaço construído. Dos registros iconográficos produzidos durante a dominação holandesa até os depoimentos dos viajantes entre os séculos XVII e XIX, chegando aos anos de 1966-67 quando Em 2010, segundo o Censo do IBGE, Olinda tinha 375.559 habitantes e a Região Metropolitana do Recife, 3.688 428, a 5ª maior do país. 4 CHOAY, Françoise. A alegoria do patrimônio. São Paulo: Unesp, 2001. 5 BENJAMIN, Walter. Sobre o conceito da história. In: Magia e técnica, arte e política: ensaios sobre literatura e história da cultura. Obras Escolhidas. São Paulo: Brasiliense, 1994. 3 Sobre isso, ver: Convenção para a Proteção do Patrimônio Mundial, Cultural e Natural e Orientações Técnicas para Aplicação da Convenção do Patrimônio Mundial. Disponíveis em: <http://whc.unesco.org/archive/convention-pt.pdf>e <http://whc.unesco.org/archive/opguide08-pt.pdf>, respectivamente. 2 Olinda foi inscrita na Lista do Patrimônio Mundial da UNESCO em 1982. 1 84 Passo da Ribeira ∙ E|7 a UNESCO envia sua primeira missão à cidade, conduzida por Michel Parent, o impacto da paisagem de colinas, da vegetação e do mar é o ponto de partida obrigatório para qualquer das descrições do lugar. A iconografia dos holandeses registra com equivalente riqueza de informações o espaço construído e o natural, como ocorre em planta de 1630 de Algemeen Rijksarchief6, onde os quintais e os vazios urbanos cobertos por vegetação têm peso de representação equivalente a o do arruamento. Mais de trezentos anos depois, Michel Parent iria afirmar que Olinda não é uma cidade, mas um jardim transbordante de obras de arte.7 Para além do primeiro impacto, que é sobretudo visual, a vegetação é determinante de toda a experiência com o sítio: ameniza a temperatura, filtra e interfere na luz, produz aromas, paladares, comidas, hábitos de uso do tempo e de convivência, determina soluções da arquitetura. Para além do desfrute de uma paisagem edênica, Olinda ensina, por meio da renitente permanência dessas características, sobre a importância de se buscar formas mais autônomas, menos massificadas, menos passivas e, principalmente, mais integradoras para o ambiente urbano. Mais do que testemunhar um passado idealizado, esses registros devem servir sobretudo ao presente: ser objeto de defesa intransigente de moradores e dos órgãos públicos, mas também recurso de aproximação e diálogo do núcleo tombado com o restante da cidade, vítima, como a maioria das cidades brasileiras, do embrutecimento e da banalização que vêm dominando a produção do espaço construído. É bom lembrar que, ainda que esse seja um fator relevante, não se trata apenas de consequência da má distribuição de renda e da pobreza urbana, uma vez que os espaços urbanos mais privilegiados passam por análogo empobrecimento cultural. Ainda que como uma miragem, Olinda pode servir como instigadora da reflexão, especialmente para sua vizinhança mais próxima, sobre alternativas de assentamento e de soluções construtivas, mas também sobre hábitos de cultivo de plantas, de flores e de frutíferas, de seu uso na cozinha, na medicina tradicional, seu sentido nas celebrações e Imagem sem título [Planta de Olinda]. Original manuscrito do Algemeen Rijksarchief, Haia. In: REIS FILHO, Nestor Goulart. Imagens de vilas e cidades do Brasil colonial. São Paulo: USP, 2000. 7 LEAL, Claudia Feierabend Baeta. As missões da UNESCO no Brasil: Michel Parent. Brasília, IPHAN, 2009. (Série Pesquisa e Documentação do IPHAN). 6 nas festas. A continuidade no tempo e sua influência sobre a conformação do espaço construído, sobre os hábitos, sobre o imaginário, as artes e a literatura fazem da paisagem de Olinda, mais do que um bem natural, um bem sobretudo cultural, rompendo assim com mais uma das segmentações que tendemos a fazer ao tentar descrever nossos objetos de investigação. As referências culturais denominadas patrimônio imaterial pela atual legislação federal brasileira e pela Convenção da UNESCO8, além de indissociáveis das pessoas, são também indissociáveis dos lugares e da sua capacidade de determinar, criar e recriar comportamentos, conhecimentos e práticas. Essa espécie de transgressão de fronteiras está presente também, de forma simbólica, no carnaval, constantemente recriado, em que bonecos gigantes das horas do dia (o Homem da MeiaNoite, a Mulher do Meio-Dia, o Menino e a Menina da Tarde) e Ver, respectivamente, Artigo 216 da Constituição Federal de 1988; Decreto 3.551/2000 e Convenção para a Salvaguarda do Patrimônio Cultural Imaterial da UNESCO, 2003. 8 Museu de Arte Sacra ∙ E|10 85 tempos e de fatos históricos e estilísticos com rara serenidade. É o caso das reconstruções que se impuseram sobre quase todos os seus edifícios religiosos, incendiados e saqueados em 1631 pelos holandeses, resultando em edificações com uma complexa história de arruinamentos, reconstruções e restauros. O exemplo mais completo, capaz de oferecer material para estudos de toda natureza no campo da conservação, é o da Igreja do Carmo, onde os arqueólogos identificam até dez fases construtivas que iriam de 1540 a 1907. Além da complexidade da edificação em si, o tema do seu uso e apropriação contemporâneos oferece vasto material para reflexão em razão da conturbada trajetória do conjunto, que esteve de propriedade da União por aproximadamente 130 anos. Enquanto parte da edificação era adaptada para uso do IPHAN, por meio de solução arquitetônica que, por si, é um exemplo interessante de aplicação das teorias da conservação, a comunidade persistia em manter e retomar plenamente suas práticas religiosas ali, o que redundou na retomada da posse do edifício pelos Carmelitas em 2008. das pessoas do lugar recebem e se misturam, a cada ano, com novos personagens da história, da cultura regional, das narrativas da televisão, do mundo pop. Ou na tendência, não particular de Olinda, mas que, partindo do Recife, tem marcado o ambiente cultural de Pernambuco, de hibridização e de uma espécie de “revisão com autonomia” de uma produção cultural marcadamente voltada para o tradicional e o regional. Os exemplos mais evidentes são o movimento, para usar a expressão do jornalista José Teles, que vai do frevo ao manguebeat, assim como a recente produção audiovisual de origem pernambucana. Essas transformações remetem a discussões sobre o conceito de autenticidade, um tema desafiador para os especialistas do patrimônio, tanto quando se trata do patrimônio material quanto do imaterial.9 O caso de Olinda é, mais uma vez, rico em pautas para reflexão: como poucos centros históricos brasileiros, seus edifícios e sua imagem urbana suportam a superposição de Ver ICOMOS: Conferência sobre a autenticidade em relação à Convenção do Patrimônio Mundial, de 6 de novembro de 1994, e Carta Brasília: Documento Regional do Cone Sul sobre Autenticidade, 1995. 9 Ainda sob o prisma das superposições de tempos e estilos, deve-se observar o acervo de patrimônio eclético, perfeitamente aclimatado ao núcleo histórico. Esse acervo testemunha a fase de ressurgimento econômico de Olinda no início do século XIX, impulsionado pela instalação da Academia de Direito e pelas melhorias no sistema de transporte, que passa a proporcionar maior integração e complementaridade entre os sítios do Recife e de Olinda. Novos moradores, que agora se deslocam nos espaços contíguos das duas cidades, passam a exigir a modernização das casas antigas ao gosto do ecletismo, deixando registros desse momento por todo o núcleo urbano. Esse fato, ao contrário de adulterar ou empobrecer o centro histórico, acaba por lhe conceder mais densidade, a ponto de merecer a seguinte menção de Aloísio Magalhães, à época presidente do IPHAN, no dossier encaminhado à UNESCO: Mesmo a sua arquitetura não é tão definida. [...] parte de uma casa é do século XVII, outra, do século XVIII. [...] há um acúmulo de vivências que justificam a inclusão de Olinda no Patrimônio da Humanidade. Finalmente, tem-se o segundo grupo de particularidades que Olinda oferece como tema para reflexão: a gestão do patrimônio. A frequência com que, a partir dos anos 1970, ocorrem situações de aproximação entre a gestão urbana e a preservação do patrimônio, tal como se vê em Olinda, é um dado conhecido 86 na história da preservação no Brasil, mas apresenta o risco de passar despercebido se não for visto no seu conjunto. O fato, por si, já mereceria uma investigação detalhada por se tratar de uma situação rara ou, nessa proporção, até inédita entre os centros históricos brasileiros. A proximidade do Recife, que teve na Fidem dos anos 1970-80 um dos mais ativos órgãos de gestão metropolitana do País, é certamente um fator relevante para explicar a cultura do planejamento urbano e a disponibilidade de urbanistas, que puderam interferir de forma inovadora na abordagem tradicional da preservação do patrimônio. Além de arquitetos, urbanistas e intelectuais que passam a viver no centro histórico, é indiscutível também a importância de personagens emblemáticos na política nacional de preservação, como Joaquim Falcão e Aloísio Magalhães, cujas trajetórias, pessoal e depois profissional, se tornam indissociáveis da história de Olinda. No final da década de 1990, talvez como um eco das preocupações que Olinda começa a “incutir” no ambiente acadêmico de Pernambuco, é criado o Centro de Estudos Avançados da Conservação Integrada (CECI), uma iniciativa não governamental que introduz uma abordagem até então inovadora no país – a conservação integrada – e que hoje tem na cidade, além da sua sede, um dos seus objetos preferenciais de investigação. A seguir, uma cronologia simplificada dos momentos de aproximação entre gestão do patrimônio e gestão urbana torna mais claras tais afirmações: Em 1973, cinco anos após o seu tombamento pelo IPHAN, o município de Olinda complementa a ação federal definindo regras de uso e ocupação do solo para o centro histórico e áreas vizinhas por meio do Plano de Desenvolvimento Local Integrado, em linha com o que preconizava o Plano de Cidades Históricas (PCH), implantado pelo IPHAN. Em 1979, em seguida à criação da Fundação Centro para a Preservação dos Sítios Históricos de Olinda, a ação municipal se completa com a criação do Sistema de Preservação do Município de Olinda, composto por essa Fundação, pelo Fundo de Preservação e pelo Conselho de Preservação apto a promover o tombamento municipal. Essa agenda é inédita entre os municípios brasileiros. A maioria deles só vem a se comprometer com políticas de preservação depois da Constituição Federal de 1988, sob pressão de movimentos sociais e de questionamentos jurídicos. Nos anos 1970, umas poucas capitais e grandes cidades esboçam algumas ações na área, mas ainda assim pontuais e reativas, nunca se configurando como um sistema que percorresse da regulação ao fomento. Os Fundos de Preservação foram incorporados ao vocabulário dos municípios apenas no início dos anos 2000, quando se tornaram condição obrigatória para sua elegibilidade ao Programa Monumenta.10 E a ideia de sistema, enquanto ação concreta na área da Cultura, é ainda mais recente.11 Outra inovação é o reconhecimento da habitação como elemento essencial à vitalidade da área histórica, tema até hoje muito relegado pelas políticas, tanto as de patrimônio quanto as setoriais de habitação, exceções feitas aos esforços mais recentes do IPHAN por meio do Programa Monumenta e, bem antes, ao caso de Olinda descrito a seguir. Trata-se do exemplo mais emblemático dentre as tentativas de tratamento integrado entre política preservacionista e de habitação. Aconteceu na gestão de Aloísio Magalhães, no IPHAN, que estimulou o então Banco Nacional da Habitação a criar um programa habitacional específico para os sítios históricos. A ideia foi implantada sob a forma de um projeto-piloto em Olinda e se encerrou com a extinção do BNH, em 1986. Na composição do financiamento, coube ao IPHAN o aporte de recursos a fundo perdido e ao mutuário o pagamento da parte financiada pelo BNH. O Município atuou como agente promotor e ofereceu as garantias ao Banco, diante das dificuldades de comprovação de renda pela população. Embora breve, a experiência foi considerada um sucesso, haja vista o interesse e a participação dos moradores, o baixo índice de inadimplência e os subsídios gerados para experiências de financiamentos habitacionais em sítios históricos. A presença da comunidade local na gestão da preservação é outra característica peculiar de Olinda, se considerarmos que o tema é objeto do movimento organizado dos moradores, desde pelo menos 1964, com o Movimento da Ribeira, que mais tarde deu O Monumenta é um programa de recuperação do patrimônio cultural urbano brasileiro, executado pelo Ministério da Cultura/IPHAN e financiado pelo Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID). O Programa conta com apoio técnico da UNESCO. 11 O Sistema Federal de Cultura, que articula os órgãos federais, foi criado por Decreto presidencial em 2005. O Sistema Nacional de Cultura encontra-se em processo de criação. 10 Vista aérea, em primeiro plano, Academia Santa Gertrudes, Horto d’El Rey e Igreja e Convento de Nossa Senhora da Conceição. Próxima página, Igreja de São Pedro Apóstolo origem à Associação dos Moradores e Amigos de Olinda (Amoa), que atuou até 1981. Em 1984, surge a Sociedade Olindense de Defesa da Cidade Alta (Sodeca), em atividade até os dias atuais. A preservação de Olinda, sob a ótica dos seus moradores, sempre esteve associada à qualidade de vida, característica que implicou, por diversas ocasiões, em resistência à intensificação descontrolada do uso do sítio, estimulada pelas políticas de fomento ao turismo. Deu também origem a debates e soluções, ao seu tempo inovadores, como é o caso da circulação de veículos, que chegou a motivar um plebiscito em 1987, do qual resultou a proibição do tráfego no centro histórico. No final de 2010, um novo instrumento de conservação do patrimônio é oferecido diretamente aos moradores, a fim de orientá-los quanto aos critérios a serem adotados para a realização de intervenções nos imóveis, já que esse é um tema que lhes diz respeito cotidianamente. Trata-se do manual Conservar: Olinda boas práticas no casario, produzido com profundidade e qualidade pelo CECI. Sob esse formato – um manual com sólido conteúdo técnico-científico de conservação destinado aos moradores, ou seja, a um público leigo –, essa é mais uma inovação para compor a lista de experiências inaugurais de Olinda. 87 Sem qualquer pretensão de aprofundamento, o simples enunciado desses fatos pretendeu oferecer evidências de como um sítio histórico pode dar origem e alimentar um debate referencial, que diz respeito diretamente a ele, mas também a quantos forem os sítios culturais brasileiros e, por que não, a todos os listados como Patrimônio Mundial. Não se trata de uma idealização do caso de Olinda, até porque é importante ter em mente que o poder municipal, embora em geral alinhado com as práticas preservacionistas, diante de uma cidade de mais de 370 mil habitantes e sérios problemas sociais, nem sempre foi capaz de responder com regularidade à qualidade das diretrizes e aos desafios da preservação, revelando frequentes fragilidades e instabilidades. À luz da experiência de Olinda, compreende-se melhor que a principal contribuição que pode advir da Convenção da UNESCO de 1972 é eleger bens capazes de representar valores visando promovê-los e compartilhá-los. E, como queria Aloísio Magalhães, por meio deles influenciar o presente, realimentando constantemente o ciclo entre tradição e criação, entre patrimônio, inovação e desenvolvimento. 90 OLINDA PATRIMÔNIO CULTURAL DA HUMANIDADE Sônia Coutinho Calheiros O s quase 30 anos como detentora do título de Cidade Patrimônio Cultural da Humanidade se passaram rapidamente na trajetória dos 476 anos de Olinda. Tive o privilégio de acompanhar de perto todo esse período, tanto como moradora, pois habito o sítio histórico desde 1971, quanto como gestora da Administração municipal em diversos períodos, perfazendo mais de 15 anos na condução de diferentes órgãos.1 A Cidade Patrimônio guarda no seu dia a dia um clima de tranquilidade. Manhã de domingo e, enquanto escrevo, ouço o cantar dos pássaros nos quintais, os sussurros das pessoas passando pelo beco que margeia minha casa; o badalar dos sinos ao longe. Essa qualidade de vida, contudo, é constantemente interrompida pela efervescência das manifestações culturais, sendo o maior exemplo o carnaval. Olinda é uma cidade feita de paradoxos. Sua trajetória, como a de qualquer cidade, relaciona-se com o dinamismo da região onde está inserida. À medida que se modifica, cresce a pressão para a substituição das suas estruturas físicas, sociais e dos aparatos institucionais vigentes. O presente texto é um testemunho da trajetória de Olinda e um relato sobre o desafio de salvaguardar um Patrimônio Cultural da Humanidade, cujo título foi atribuído a uma cidade em constante mutação – posto que viva. Ver uma pequena mostra das fotos tiradas de Olinda em 1981, e que compuseram o dossiê apresentado à UNESCO por ocasião do pleito ao título de Patrimônio da Humanidade, chamou-me a atenção para diversos aspectos que são importantes destacar, a respeito daquele registro, quando comparados com a situação atual do Sítio Histórico de Olinda, situado em um perímetro de 1,4 km2, com uma área de proteção no entorno de 10 km2. As imagens tiveram como objetivo registrar aquilo de mais significativo que Olinda apresenta: sua localização excepcional distribuída em colinas próximas ao litoral; a paisagem que forma a ambiência do sítio histórico e que tem o mar como pano de fundo; o traçado urbano de sua ocupação tipicamente portuguesa e a arquitetura civil e religiosa cercada de exuberante vegetação. Diretora geral da Fundação Centro de Preservação dos Sítios Históricos de Olinda (1986-1989). Secretária de Planejamento e da Fazenda (1993-1994); de Planejamento, Transportes e Meio Ambiente (2001-2004); e de Planejamento e Gestão Estratégica, ocupando o cargo desde janeiro de 2005. 1 Nessas imagens, estão registradas a diversidade da tipologia do casario antigo e a harmonia dos mais variados estilos refletida nas fachadas, a integridade dos telhados e da volumetria das cobertas, a abundância da vegetação dos quintais, das cercas conventuais, das praças e, sobretudo, do maciço do Horto Del Rey, as igrejas e mosteiros com as especificidades arquitetônicas de cada ordem religiosa, as vias com seus revestimentos em paralelepípedos praticamente intactos e as interferências da fiação das redes de iluminação e telefonia. Por outro lado, nas fotografias também se percebe que alguns imóveis apresentam sinais de deterioração, bem como as calçadas, as quais apresentam trechos precários e ausência de urbanização de espaços que hoje se tornaram importantes locais de confraternização, de convívio e de lazer. Na época em que foram tiradas as fotos, havia ainda pouca oferta de serviços e de redes de infraestrutura, como abastecimento d’água, esgotamento sanitário, circulação e sinalização viária, o que só recentemente é que veio a ter um melhor fornecimento. Ao longo de sua história, Olinda perdeu, desde a sua fundação até os dias atuais, cerca de 99% do seu território. Os limites da cidade diminuíram drasticamente. De sede da capitania hereditária mais próspera da colônia, passa hoje a integrar a Região Metropolitana do Recife (RMR), um aglomerado urbano de mais de 3,5 milhões de habitantes distribuídos em quatorze municípios, todos eles com suas áreas urbanas interligadas. Olinda, apesar de ser a cidade com menor área, abriga a terceira maior população (375 mil habitantes) do Estado. Trata-se da mais alta densidade demográfica de Pernambuco e uma das maiores do país. Integra hoje o grupo dos municípios brasileiros populosos com baixa receita per capita e alta vulnerabilidade social – o G100. Outro dado interessante é que em razão de a oferta de trabalho acontecer substancialmente na capital do Estado, Olinda ficou conhecida como cidade dormitório. Tem uma localização privilegiada pela facilidade de acesso e proximidade da capital, do porto e do aeroporto internacional. Porém, no seu exíguo território de 43 km2 predomina a ocupação residencial, com atividades econômicas incipientes concentradas nas áreas de comércio e serviços que não são capazes de oferecer emprego e gerar receita suficiente para fazer frente aos desafios de 91 uma população cuja grande maioria se encontra na faixa de renda de até dois salários mínimos. Por isso, Olinda, Patrimônio Cultural da Humanidade, vive as contradições de reunir numa de suas colinas um Centro Histórico de excepcional valor arquitetônico, cultural e paisagístico, enquanto nas demais áreas de morro tem-se uma ocupação desordenada, sem infraestrutura e equipamentos públicos adequados; de ter uma riqueza cultural inestimável e uma pobreza refletida no seu baixo PIB; de ser a Primeira Capital Brasileira da Cultura e ostentar o quarto lugar entre as cidades com maior índice de violência entre os jovens; de ter um dos maiores carnavais do mundo e, por conseguinte, abrigar mais de um milhão de foliões em suas estreitas ladeiras e becos durante as festas de Momo; de ter o local mais visitado por turistas no Estado – o Alto da Sé – e, no entanto, só hospedar 5% desses visitantes. Por esses motivos, o município detentor de um dos mais importantes patrimônios histórico e cultural do Brasil, reconhecido no mundo como um excepcional exemplar da arquitetura, encontra dificuldades para cuidar e zelar sozinho dessa importante herança cultural. A atração de novos empreendimentos é dificultada cada vez mais pela escassez de áreas adequadas à implantação de atividades econômicas de peso. Os espaços vazios atuais resumem-se aos 6,8 km2 da área rural que protege as nascentes dos nossos principais riachos e à planície situada nos limites com o Recife e que se constitui área de proteção da visibilidade da colina histórica. Ambos os lugares sofrem uma grande pressão. A zona rural apresenta vários loteamentos irregulares enquanto a planície no entorno do sítio histórico teve todas as suas áreas alagadas e alagáveis (consideradas nas legislações como non aedificandi) ocupadas de forma desordenada, e que hoje estão sendo objeto de intervenção por parte do poder público. Essa região, hoje conhecida como Memorial Arcoverde, é a mais cobiçada para implantação de empreendimentos que venham a contribuir para dotar o município de um maior dinamismo econômico. Isso se dá por conta de sua localização estratégica, próxima dos centros político e administrativo de Olinda e do Recife, e por ser de fácil acesso. Ocupar essa área, contudo, resulta em uma equação delicada. Apesar das ocupações irregulares e de no seu entorno já conter vários equipamentos de porte metropolitano, os vazios ainda existentes e os espaços ocupados com baixa densidade exercem, na sua maioria, interferência na visibilidade da Colina Histórica. Esse polígono de proteção ao sítio tombado foi instituído pelo IPHAN de forma complementar ao tombamento do centro histórico, logo após a conclusão das obras do Complexo Rodoviário de Salgadinho. O objetivo foi garantir um interstício entre as duas cidades e proteger os novos cones de visada da Colina Histórica e sua relação com a planície. O sistema de preservação municipal, implantado no final da década de 1970, foi pioneiro, entre os municípios brasileiros, na medida em que constituiu um Conselho, um órgão técnico específico, a Fundação Centro de Preservação dos Sítios Históricos de Olinda, o Fundo de Preservação e, ainda, o tombamento municipal. Certamente, todo esse arcabouço institucional contribuiu para que Olinda viesse a merecer o título de Patrimônio Histórico da UNESCO. Olinda dispõe de legislações de proteção em todos os níveis, federal, estadual e municipal, que se complementam entre si, e ostenta ainda os títulos de Cidade Ecológica e de Primeira Capital Brasileira da Cultura. O turismo cultural tem sido bastante expressivo nos últimos anos, mas ainda não representa o maior fluxo. Ser detentora do título de Patrimônio Cultural da Humanidade não parece mobilizar a maioria dos brasileiros para sua visitação, mas sim o seu charme e sua grade de eventos culturais. O que comprova que os elementos que mais caracterizam hoje sua identidade são, a despeito dos argumentos que lhe renderam o título da UNESCO, suas manifestações culturais. Diferentemente de outros países guardiões de cidades que ostentam o símbolo da UNESCO com orgulho e como chamariz para o turismo cultural, no Brasil, isso nunca foi fortemente difundido nos sítios brasileiros que são reconhecidos como Patrimônio Mundial, seja pelos organismos governamentais, seja pela iniciativa privada. Em Olinda, por exemplo, só recentemente é que a logomarca indicando Olinda como Patrimônio Cultural da Humanidade passou a ser utilizada como ícone principal na sinalização turística da cidade e na sua papelaria promocional. No entanto, estar entre uma das nove Cidades Patrimônio Mundial no Brasil foi fator decisivo para a inclusão do Sítio Histórico de 92 Olinda no Programa Monumenta (desde sua primeira etapa), assim como no Programa de Desenvolvimento do Turismo (Prodetur). Tais iniciativas vêm permitindo a realização de intervenções significativas em conservação de monumentos e revitalização de logradouros. Dentre essas intervenções, destacamse: a requalificação dos Largos do Rosário dos Homens Pretos, do Varadouro e do Fortim, que receberam tratamento urbanístico, mobiliários urbanos, equipamento de recreação e lazer e estacionamentos; a recuperação da Ladeira Saldanha Marinho e do Beco do Bajado; a restauração das Igrejas do Carmo e do Rosário dos Homens Pretos; a implantação do Parque do Carmo, integrando as praças da Abolição, do Carmo e o Sítio de Seu Reis, no maior parque urbano da cidade; a reurbanização do Alto da Sé, incluindo a recuperação da caixa d’água e a instalação do elevador panorâmico; a construção do mercado para comerciantes de artesanatos; a restauração do Observatório; a implantação do estacionamento no Largo da Conceição. Deter o título de Patrimônio da Humanidade certamente tem um peso importante na captação de recursos não só para intervenções no sítio histórico, como também para atrair investimentos em infraestrutura de áreas pobres de Olinda, como é o caso da urbanização dos Assentamentos Precários do V8, do V9 e da Ilha do Maruim, comunidades estas inseridas no polígono de preservação da área tombada e que estão recebendo investimentos em saneamento integrado; pavimentação de vias principais; implantação de espaços de convivência, de lazer e esporte; programas sociais; construção de novas moradias e revestimento e tratamento urbanístico das margens do canal da Malária. Intervenções dessa mesma natureza e porte estão sendo realizadas em mais cinco áreas pobres do município. No Sítio Histórico, Olinda antecipou-se ao Programa de Aceleração do Crescimento, ou PAC das Cidades Históricas, quando obteve dos governos federal e estadual recursos necessários para a execução de projetos e obras de infraestrutura, como, por exemplo, a implantação de duas etapas do projeto de embutimento das redes aéreas de telefonia e de energia elétrica, o que possibilitou a substituição dos postes e dos suportes da iluminação pública; a implantação da setorização das redes de distribuição de água nas partes alta e baixa da cidade, advindas dos reservatórios do Monte e dos reservatórios da Sé e da Ribeira; implantação da primeira Rota Acessível, com adaptação dos níveis das calçadas e travessias, aplicação de revestimentos adequados nos passeios e remoção de obstáculos, permitindo um caminhar livre e seguro para todos; destaque para o disciplinamento do tráfego e sinalização das vias, onde, hoje, é proibida a circulação de veículos pesados. Foi implantado também o sentido único de tráfego de forma a garantir melhor fluidez e permitir o estacionamento em um dos lados da via. Projetos para implantação da sinalização turística já foram aprovados pelo IPHAN e autorizada a sua implantação. Nessa área, foi feito também um aprofundamento dos estudos para contenção dos deslizamentos das encostas, com detalhamento dos projetos de drenagem, de esgotamento sanitário e de contenção de áreas críticas de deslizamento, cujos recursos já estão inseridos no PAC-2. Paralelamente, a Administração municipal tem dado tratamento diferenciado à manutenção dos logradouros e serviços públicos do sítio histórico, incluindo: recuperação do pavimento das vias e das calçadas e substituição das lâmpadas; varrição e coleta diária de resíduos sólidos, incluindo-se aí a coleta seletiva de resíduos recicláveis duas vezes na semana; lavagem periódica das ladeiras, proteção dos monumentos nos grandes eventos, entre outros serviços. Há, no entanto, alguns aspectos que precisam ser reforçados, apesar do muito que já está sendo feito, pois são fundamentais para a garantia da preservação do sítio como, por exemplo: manutenção e substituição da vegetação, reforço na fiscalização e na educação patrimonial, ampliação da acessibilidade e da permanência do turista, entre outros. Com o título de Patrimônio da Humanidade, empresas se sensibilizaram em prol da preservação do sítio histórico, a exemplo da Petrobras e do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), que consideraram Olinda cidade-polo e, portanto, digna de tratamento diferenciado no repasse de recursos para a recuperação de equipamentos culturais e, sobretudo, para a realização de eventos. Olinda é considerada polo de lazer da Região Metropolitana do Recife. E isso se concretiza no fluxo intenso de visitantes durante os finais de semana. Moradores de bairros e municípios vizinhos vêm em busca de entretenimento ou, simplesmente, para passear por suas ladeiras e desfrutar das vistas e das paisagens em seus Av. da Liberdade, casarão Herman Lundgren ∙ G|9 diversos mirantes. No verão, os finais de semana são animados com ensaios de blocos, maracatus, escolas de samba e outros grupos que desfilam pelas ruas e ladeiras – a cada ano mais cheias aos domingos – durante o período que se estende do final de dezembro até o carnaval. A cidade apresenta também um farto e atraente calendário cultural, composto por eventos consolidados, como: Arte em Toda a Parte; Mostra Internacional de Música de Olinda (MIMO); Olinda Jazz; Encontro de Bandas de Pífanos; encenação da Paixão de Cristo (na Semana Santa) e, mais recentemente, a Feira Literária Internacional – Fliporto. Sem falar nas serenatas semanais, no São João, no Réveillon e na gastronomia. Conciliar a pujança desses atrativos turísticos, culturais e de lazer com a vida da população residente, assim como com a capacidade de carga populacional do sítio histórico é o grande desafio imposto 93 no dia a dia à Administração municipal. Intermediar os conflitos de interesses entre os diversos públicos e os atores sociais envolvidos, entre os que habitam a cidade e aqueles que a frequentam em busca de distração e entretenimento requer parcimônia e bom senso do poder público para alcançar o equilíbrio entre essas diferentes atividades, o respeito ao bem-estar das pessoas e a manutenção da integridade física do ambiente edificado – do qual é o principal guardião. As casas e seus moradores Olinda sempre teve vários períodos de dinamismo intercalados com fases de estagnação. Depois do seu apogeu e da perda da sede do governo para o Recife, no período colonial, Olinda 94 Casarões situados na Ladeira de São Francisco ∙ H|10 passou um grande momento de estagnação, só vindo a ressurgir nas primeiras décadas do século passado com a introdução dos banhos de mar por recomendação dos médicos, tornando-se assim uma cidade de veraneio. Ocasião em que houve a expansão e a substituição das estruturas existentes às quais foram incorporados elementos neoclássicos e ecléticos. Posteriormente, nos anos 1960, Olinda foi o destino escolhido por artistas plásticos, tornando-se palco de movimentos de arte como, por exemplo, o da Ribeira. De lá para cá, a cidade assiste a ciclos, entre eles, o dos profissionais liberais, que a escolheram como local de moradia, com maior incidência a partir dos anos 1970, além dos estrangeiros, que passaram a adquirir imóveis, sobretudo depois de a cidade ter recebido o título da UNESCO. Como em qualquer localidade onde existem atrativos e dinamismos, há sempre maior pressão imobiliária e consequentemente modificações e adaptações de suas estruturas físicas. No caso do sítio histórico, as mudanças ocorrem tanto no uso das edificações quanto no perfil da população residente. À medida que o tempo passa, a casa se adapta mais e mais para atender às necessidades de seus moradores. E esse é mais um desafio do patrimônio edificado: como renovar sem perder suas características? As principais substituições do uso residencial ocorreram nos imóveis de maior porte, pertencentes a famílias tradicionais que não conseguiram manter o seu patrimônio (ou melhor, o patrimônio da Humanidade). Hoje, estão instalados nesses imóveis, pousadas, restaurantes, lojas de artesanato, equipamentos públicos, entre outras atividades ligadas ao turismo e à cultura. Se por um lado essas renovações recuperaram imóveis deteriorados e trouxeram aportes econômicos à cidade, por outro interferiram na tipologia das construções históricas. Observa-se que a intensidade das interferências é proporcional à capacidade financeira do proprietário. E são mais ou menos positivas ou danosas ao patrimônio conforme o nível de conhecimento dos intervencionistas sobre os valores atribuídos ao imóvel. Assim, a iniciativa recente do Centro de Estudos Avançados da Conservação Integrada (CECI) de publicar o manual intitulado Conservar: Olinda boas práticas no casario (com recursos do Fundo de Direitos Difuso, do Ministério da Justiça) tem o mérito de contribuir para a conservação dos valores patrimoniais do sítio histórico. A publicação descreve, ainda, de forma clara, objetiva e mesmo didática a importância do patrimônio construído e orienta proprietários e profissionais a realizarem intervenções arquitetônicas no casario de forma compatível com as características originais. As informações contidas nesse trabalho preenchem as falhas nas legislações vigentes que, embora tenham estabelecido parâmetros rígidos para a volumetria e os revestimentos exteriores de casas e sobrados, pouco instituíram sobre limitações para a preservação das suas características internas. Para os moradores, os que aqui nasceram e aqueles que escolheram a cidade pelos seus atributos (outrora chamados de “forasteiros”), a importância do título tem percepções diferenciadas, que variam conforme a natureza de sua relação com a cidade. O que se percebe, contudo, é que o nível de consciência da população é bastante alto, comprovado pela existência de instituições como, por exemplo, a Sociedade de Defesa da Cidade Alta (Sodeca). Atuante desde o início dos anos 1980, a Sodeca está presente e ativa em todos os momentos da vida da cidade, defendendo tanto a preservação de seu sítio histórico quanto os interesses dos seus moradores. Participa de discussões de projetos e de políticas públicas, sobretudo aquelas que envolvem 95 a preservação da cultura aliada ao turismo e às demais atividades que trazem repercussões à vida dos moradores da área tombada. A organização dos empresários do segmento de turismo permitiu sua participação no conselho e nas conferências. A construção recente do Sistema Municipal de Cultura proporcionou a organização e o fortalecimento de todos os segmentos culturais do município, com uma concentração bastante expressiva de atores do sítio histórico. A predominância por sua vez do uso residencial tem permitido manter as tradições e a cultura local, resultando numa cidade viva, onde os moradores se integram e participam ativamente das instituições religiosas e profanas e garantem a continuidade de suas atividades. Hoje, depois de quase 30 anos do reconhecimento pelo Comitê do Patrimônio Mundial de seu excepcional valor universal, podese dizer que esse status alcançado pela cidade de Olinda trouxe a todos – governantes, moradores, investidores – um novo modo de olhar a cidade, demonstrado pelas intervenções realizadas na proteção do patrimônio e na oferta de melhores serviços e infraestrutura tanto para a população que nela vive como para visitantes e turistas. As fotos do hoje comprovam essas mudanças, as quais, certamente, garantirão uma longa sobrevida na sua trajetória e no uso pelas gerações futuras. 96 Casarões na Avenida da Liberdade ∙ H|9 97 98 Olinda teaches us Jurema Machado W hat can transform a historical place, a city or even a monument into a World Heritage site? As a background, we have an international agreement – the 1972 UNESCO Convention Concerning the Protection of the World Cultural and Natural Heritage– which originated from the conviction that certain sites and monuments are of exceptional universal value, and therefore call for global responsibility for their preservation. To give materiality and consistency to the idea of universal values, a normative and conceptual framework has been developed, encompassing site categories, selection criteria and systems, defenses against political exploitation and strategies to maximize the benefits of listing for the long-term maintenance of a heritage site.1 Despite the complexity of such a framework, through which a site may eventually become a World Heritage site, one cannot ignore the surrounding circumstances: the motivation, effectiveness and leadership of groups and people that, at a given moment, are able to drive governments and communities in favor of a site nomination. To all this we can add the inescapable aspect of subjectivity and different world visions of key agents: international experts who analyze the nominations and the World Heritage Committee, a rotating board of 21 country representatives that takes the final decision. Even with so many nuances, it is undeniable that, ultimately, a list of very special sites is produced. Although all listed sites have a proven degree of exceptionality or beauty, some of them have a greater capacity for representation. These are the ones with material and immaterial features that refer more obviously to an idea of continuity, accumulation, and simultaneity of epochs. These sites are dense and complex, irrespective of their size, and they continue to teach and instigate over time, in addition to presenting successive challenges and complexities. This seems to have been the case with Olinda, listed as a World Heritage almost 30 years ago2. Today, it is a historical site with around 20 thousand inhabitants, small when compared to the large urban agglomeration surrounding it – either directly as part of the municipality of Olinda or indirectly within the Metropolitan Region of Recife – one of Brazil’s biggest and most complex.3 Françoise Choay refers to a monument as a challenge to entropy, to the dissolvent action of time upon every natural and artificial thing4; a short while before that, Walter Benjamin described Progress as an angel with eyes turned to the past but blown by a storm which always impelled it towards the future, and, under its feet, the frightening image of piles of wreckage and debris.5 The values that Olinda conveys apparently endow it with just such a capacity to challenge these dissolvent actions of time, not only with regard to objects but in particular in relation to our capacity to understand, reenact and rearrange the ruins left by Progress. If this be the case, the status of a Brazilian and World Heritage will have had more than sufficient justification. Olinda teaches us, not only because that is the role of each protected monument, but the present hypothesis is that it does so in a very particular manner, which can be presented in two ways: the first is that its features – as always happens with complex objects – cannot be viewed, understood or considered in a narrow or compartmentalized sense; and the second refers to how frequently innovative management measures and approaches have come up during the site’s trajectory, arguably creating of a tradition of offering innovation. Let us see some examples: A characteristic that explains the first and definitive image of Olinda is the inseparable links between the natural and manmade aspects of the city’s landscape. From iconographic records produced during the Dutch colonization through to the testimony of travelers from the 17th to the 19th Centuries, and until 1966-67 when UNESCO sent its first mission led by Michel Parent to Olinda, the impact caused by its landscape of hills, vegetation and the sea has been a mandatory starting point for every description of the site. With a similar wealth of detail Dutch iconography depicted the built and the natural environment, as In 2010, according to the IBGE Census, Olinda had 375,559 inhabitants and the Metropolitan Region of Recife, 3,688,428, the 5th biggest in Brazil. 4 CHOAY, Françoise. A alegoria do patrimônio. São Paulo: Unesp, 2001. 5 BENJAMIN, Walter. Sobre o conceito da história. In: Magia e técnica, arte e política: ensaios sobre literatura e história da cultura. Obras Escolhidas. São Paulo: Brasiliense, 1994. 3 About this topic, please check: Convenção para a Proteção do Patrimônio Mundial, Cultural e Natural e Orientações Técnicas para Aplicação da Convenção do Patrimônio Mundial. Available in: <http://whc.unesco.org/archive/conventionpt.pdf> and <http://whc.unesco.org/archive/opguide08-pt.pdf> respectively. 2 Olinda was included in UNESCO’s World Heritage List in 1982. 1 Rua Bernardo Vieira de Melo ∙ E|8 99 the majority of Brazilian cities – are victim to the roughening and trivialization that have dominated the production of their built space. It is important to bear in mind that even if urban poverty and unjust income distribution may be of significance, the phenomenon is not merely a consequence of this factor, since the most privileged urban spaces have also gone through a similar cultural impoverishment. Even as a kind of mirage, Olinda can serve to instigate rethinking, especially for its close neighbor – Recife – offering alternative solutions for settlement and construction, but also practices for gardening, and for growing flowers and fruit trees, as well as their use in the local cuisine and traditional medicine, and their significance in celebrations and festivals. can be seen in drawings by Algemeen Rijksarchief (1630)6, in which the representation of gardens and open spaces was similar in importance to the street plan. More than three hundred years later, Michel Parent affirmed: Olinda is not a town, but a garden overflowing with works of art.7 Beyond the first – above all, visual – impact, Olinda’s vegetation is determinant in all experiences of the city: it appeases high temperatures, filters and modifies the light, produces aromas, flavors, dishes, ways of using time and forms of coexistence; it determines architectural solutions. Besides the enjoyment of an edenic landscape, Olinda teaches us through of the renitent permanence of those features – the importance of more actively seeking forms that are more autonomous, less massified and, in particular, more integrating for the urban environment. Beyond witnessing an idealized past, those records should above all serve the present: being the object of intransigent defense by its inhabitants and public bodies, but also a resource for rapprochement and consultation between the preserved area and the remaining parts of the town, which – like Image without title [Olinda’s plan]. Original manuscript of Algemeen Rijksarchief, The Hague. In: REIS FILHO, Nestor Goulart. Imagens de vilas e cidades do Brasil colonial. São Paulo: USP, 2000. 7 LEAL, Claudia Feierabend Baeta. As missões da UNESCO no Brasil: Michel Parent. Brasília, IPHAN, 2009. (Série Pesquisa e Documentação do IPHAN). Its enduring timelessness and influence over urban development, customs, the imaginary, arts and literature, makes Olinda’s landscape more than just a natural asset – it is essentially a cultural site – thus defying yet another of the segmentations that we tend to adopt to describe our objects of research. The cultural references addressed as “intangible heritage” by current Brazilian Federal Legislation and the UNESCO Convention8, besides being inseparable from the people, are also deeply linked to the places and their capacity to determine, create and recreate behavior, knowledge, and practices. This kind of transgression of boundaries is also symbolically present in carnival. In a constantly recreated tradition, giant puppets are named after periods of the day (the Midnight Man and the Woman of Noon, the Afternoon Boy and Girl), as well as after famous people born in Olinda. Every year people add new characters linked to History, regional culture, TV programs, and the pop world. Or following a trend that is not specific to Olinda but was born in neighboring Recife, and marked the cultural environment of Pernambuco: elements of hybridism and a kind of “autonomous review” of the local cultural production centered in traditional and regional values. The most noticeable examples can be found in the “movement” (as designated by journalist José Teles) that ranges from frevo to manguebeat rhythms, as well as in Pernambuco’s recent audiovisual production. 6 See respectively the Clause 216 of the Federal Constitution of 1988; Decree 3.551/2000 and UNESCO’s Convention for the Protection of Immaterial Cultural Heritage, 2003. 8 100 These transformations are related to discussions on the concept of authenticity, a challenging theme for specialists in both material and the immaterial heritage.9 Olinda’s case is, once again, rich in thought-provoking themes: its buildings and urban image cope with an overlapping of periods, historical events and changes in style with a serenity rarely seen in Brazil’s historical centers. For instance, reconstructions that have been carried out on almost all of its religious buildings, destroyed by fires and pillages carried out by the Dutch in 1631. This has given rise to a complex trajectory of destruction, reconstruction, and restoration. The most complete case, which can provide subject-matter for all types of conservation studies is that of Carmo Church, where archaeologists have identified up to ten construction phases, dating from 1540 until 1907. Besides the building’s very complexity, its contemporary use and appropriation offer study material due to the troubled history of this architectural ensemble, which belonged to the Federal Government for around 130 years. While the building’s architecture was being adapted for use by the Brazilian Institute for the Preservation of National and Artistic Heritage (IPHAN), which in itself has been an interesting example of applied conservation theories, the local community continued to hold and completely resume its religious practices there. This led the Carmelite monks to claim the building in 2008. Still through the prism of overlapping times and styles, we should observe the elements of eclectic heritage perfectly adapted to Olinda’s historical center. Those buildings witness the new phase of Olinda’s economic growth at the beginning of the 19th Century, impelled by the installation of a Law School and improvements in the transport system that brought greater integration and complementarity between Recife and Olinda. New inhabitants, who now could move through the contiguous spaces of both cities, began to demand the modernization of old houses following eclectic tastes, and such changes are still visible throughout the entire urban center. Rather than corrupting or impoverishing the historical center, this in fact has given it more density, to the extent that it deserved the following mention by former President of IPHAN, Aloísio Magalhães, in documents sent to UNESCO: Even its architecture is not so definite. [...] one part of a house is from the 17th Century, another See ICOMOS: Conferência sobre a autenticidade em relação à Convenção do Patrimônio Mundial, November 6th 1994, and Carta Brasília: Documento Regional do Cone Sul sobre Autenticidade, 1995. 9 is from the18th. [...] there is an accumulation of experiences that justify the listing of Olinda as a World Heritage site. Finally we have the second set of peculiarities that Olinda offers as a topic for reflection: the management of its heritage. Since the 1970s, Olinda has seen frequent initiatives combining urban management and heritage preservation. This is a widely known fact in Brazil’s preservation history, but might go unnoticed if not observed in its entirety. In this sense, Olinda is in a rare, or even unparalleled position amongst Brazil’s historic sites. The proximity to Recife, which in the 70s/ 80s had one of the country’s most active metropolitan management authorities, the Foundation for Municipal Development, known as FIDEM, is certainly a significant factor behind urban planning and the availability of developers who could provide new inputs to the traditional heritage preservation approach. In addition to architects, city planners, and intellectuals who moved into the historical center, iconic individuals at the national preservation policy, such as Joaquim Falcão and Aloísio Magalhães, also had an unquestionable importance: their personal and later professional backgrounds are inseparable from Olinda’s history. At the end of the 90s, possibly as an echo of anxieties that Olinda instilled in Pernambuco’s academic environment, the Center for Advanced Studies in Integrated Conservation (CECI – Centro de Estudos Avançados da Conservação Integrada) was created – a non-governmental initiative that introduced an innovative approach in the country – the so-called “integrated conservation”. Today it has its main office in the town – which represents one of its preferred objects of investigation. The following simplified chronology of key moments of that approach between heritage and urban management helps clarify those affirmations: In 1973, five years after being listed as a national historic landmark by IPHAN, the municipality of Olinda complemented the Federal measures, defining rules for land use and occupation in its historical center and neighboring areas. This was done through the adoption of an Integrated Plan for Local Development, in line with the Plan for Historical Cities (PCH – Plano de Cidades Históricas) established by IPHAN. In 1979, following the creation of a foundation named Center for the Preservation of the Historical Sites of Olinda (Centro Rua 7 de Setembro ∙ G|8 para a Preservação dos Sítios Históricos de Olinda), the local government set up a Preservation System for the Municipality of Olinda, consisting of the foundation, the Preservation Fund and the Preservation Council, in order to promote the conservation of the municipality as a historical site. It was the first Brazilian municipality to follow such an agenda. Most other municipalities have engaged in preservation policies only after the adoption of the Federal Constitution of 1988, responding to intense pressure from social organizations as well as lawsuits. In the 1970s a few of the country’s state capitals and larger cities drafted preservation actions, but these were nonetheless very specific and reactive, instead of belonging to a system comprising all steps, from regulation to promotion. Preservation Funds were only added to the local authorities’ lingo at the beginning of the 21st Century, when they became a mandatory condition for a city to be selected for co- 101 funding by Monumenta Program.10 And the idea of a system as a concrete action in the field of culture is even more recent.11 Another innovation is the recognition of residences as an essential element to the vitality of the historic site, an issue still underestimated by housing and heritage policies, except the most recent efforts of IPHAN through the Monumenta Program and, long before that, in the case of Olinda, described as follows. Olinda’s example is one of the most emblematic among the attempts towards an integrated approach between preservation policy and habitation. During the Aloísio Magalhães’ administration Monumenta is a program for the recovery of Brazilian urban cultural heritage achieved by the Ministry of Culture/ IPHAN and supported by the Interamerican Development Bank (IDB). The Program has also technical support from UNESCO. 11 The Federal System of Culture linking federal bodies was created by Presidential Decree in 2005. The Sistema Nacional de Cultura is being developed. 10 102 in IPHAN, the National Bank for Housing (BNH), was encouraged to set up a custom residential program for historic sites. The idea was put forward as a pilot project in Olinda and terminated in 1986, when the BNH was extinct. As a co-funder of that programme, IPHAN provided non-refundable resources, while BNH’s loan was repaid by the borrowers. Local authorities acted as promoters and guarantors to the Bank, in the light of people’s difficulties in proving their earnings. Even for a short period, this experience has been considered successful thanks to the residents’ interest and participation, low default rates and the experience gained in terms of funding for housing in historic sites. The participation of the local community in preservation management is another of Olinda’s specific characteristics, given that the issue triggered a movement organized by the city’s inhabitants dating – at least – from 1964, with the Movimento Ribeira, that later gave rise to AMOA (Associação dos Moradores e Amigos de Olinda) the Association of Inhabitants and Friends of Olinda, which remained in activity until 1981. In 1984, SODECA (Olinda’s Society for the Defense of the Old (High) Town / Sociedade Olindense de Defesa da Cidade Alta) was founded and is in activity to this day. Olinda’s preservation, to the eyes of its inhabitants, has been always associated with its quality of life. That is an issue that has, on several occasions, propelled resistance to the uncontrolled intensification of land-use, which was encouraged by tourism incentive policies. It also gave rise to debates and innovative solutions (at that time), such as the restriction on vehicle traffic in the historical center, established after a plebiscite held in 1987. At the end of 2010, a new instrument for heritage conservation was offered directly to the population. It provides guidelines for the refurbishing of properties, a topic of everyday relevance to olindenses. This high-quality manual, called Conservar Olinda: boas práticas no casario (Preserving Olinda: good practices in old houses), was carefully produced by CECI. In handbook format, an containing solid technical and scientific content about conservation, it is aimed at the inhabitants and non-specialists, and adds another innovation to Olinda’s list of inaugural experiences. Without loftier pretentions, the simple enunciation of these events is intended to illustrate how a historical site can give rise to and sustain a referential discussion directly related to it, but also related to any other Brazilian cultural site and – why not? – to all World Heritage sites. It is not an idealization in the case of Olinda, not least because it is important to remember that the local authorities, – although generally aligned with preservation practices – in a city with over 370 thousand inhabitants and serious social problems, has not always been able to meet the high standards of guidelines and challenges of preservation, thus revealing frequent weaknesses and instabilities. From the experience of Olinda, we can better understand the role of UNESCO’s 1972 Convention in the selection of heritage sites that represent values to be promoted and shared. And, as Aloísio Magalhães would have us believe, influencing the present through these values, constantly feeding them back into the cycle between tradition and creation; between heritage, innovation, and development. Página ao lado e esta, casarões na Rua do Amparo. Abaixo, casarão na Rua de São Bento. Próximas páginas, Quatro Cantos ∙ D|8 103 106 Olinda WORLD Cultural HERITAGE Sônia Coutinho Calheiros T he thirty years since being named as an World Cultural Heritage have been but a small part of the 476 years of Olinda’s history. My privilege has been to be a close part of these thirty years, both as a resident, since I have lived in the historical site since1971, and as a manager in the municipal government at various times – all together more than fifteen years directing different agencies. Daily life in the Heritage Site is calm. Right now it is Sunday morning and as I write, I can hear birds singing in the yards, the murmurs of people coming through the laneway which passes by my house, the ringing of bells in the distance. The quietness of this life, however, is often interrupted by the exuberance of cultural groups, the best example being connected with Carnival. Olinda is a city formed from paradoxes. Its history, like that of any other city, mirrors the dynamics of the region where it is located. As these have evolved, pressure has been put on the city to reform its physical, social and institutional structures. In this text, I will testify to the course of this history and report on the challenge to safeguard this World Cultural Heritage whose title was granted to a city not stuck in the past but in constant change – a living place. Take a look at some of the photos taken of Olinda in 1981, which were part of the proposal sent to UNESCO when Olinda applied for the title of World Heritage. Right away you can see some important differences between that record and the present situation of the Olinda Historical Site, which occupies an area of 1.4 km2, surrounded by a protective area of about 10 km2. The purpose of these photographs was to illustrate the significant aspects of Olinda: its spectacular location on the hills near the coast; the landscape of the historical site with the ocean always in the background; the urban remains, typical of Portuguese occupation and its civil and religious buildings surrounded by luxuriant vegetation. These photographs are a reminder of the varied types of the antique houses and how the varied styles of their facades, the integration of their tile roofs with large covered areas, the abundant vegetation of the yards, of the areas surrounding the convents, the public squares and in particular the elevated Horto Del Rey (King’s Botanic Garden), the churches and monasteries, each reflecting its religious order’s architectural tastes, the cobblestone streets, today still practically intact, and the criss-crossing of wires for streetlights and telephones. On the other hand, the photographs also show signs of deterioration: houses, sidewalks with sections broken or missing, and lack of planning for spaces that today have become popular for gatherings, living and entertainment. At the time when the pictures were taken, there was still little available in the way of services and infrastructural networks such as water supply, sewage removal, street traffic and signage, which have only recently received attention. As time passed since the founding of Olinda up to the present, Olinda has lost almost 99% of its land. The city limits have decreased drastically. From its former situation as the wealthiest place in the colony, Olinda today is part of the Metropolitan Region of Recife (RMA), an urban agglomerate of more than 3.5 million people, distributed across fourteen municipalities, each linked to the others. Although it has the smallest area, Olinda has the third largest population (375 thousand inhabitants) in the State. This is the highest demographic density in Pernambuco and one of the highest in the country. Olinda forms part of a group of populous Brazilian municipalities with low per capita income and high social vulnerability, known as the G100. Another important fact is Casa na Ribeira ∙ E|7 that because Recife offers most of the job opportunities in the area, Olinda has become known as a “dormitory town”. Ease of access and nearness to the capital, the ports, and the international airport make Olinda’s location advantageous. But the small land space it occupies, not more than 43km2, is characterized by private homes and small commercial and service businesses which offer few jobs and fail to generate sufficient taxable contributions to municipal income to meet the needs of a population, the majority of whom earn less than two minimum wages. Here is an example of the contradiction: on the principal elevation of the Historic City, one side has architectural, cultural and scenic views of exceptional value. While on the other side of the same hill, there are ungoverned settlements with no facilities or adequate public utilities. An inestimable cultural wealth side by side with 107 poverty as reflected in its GDP. The first Brazilian city to be named a Cultural Capital and the fourth in youth violence. Location of one the largest carnival celebrations in the world, with more than a million revelers visiting its narrow laneways and cul-de-sacs, and location of the Cathedral most visited by tourists to Pernambuco – but a city able to host only 5% of these visitors overnight. All of this adds up to the fact that the municipality which has one of the most important historical and cultural patrimonies in Brazil, recognized world-wide for its outstanding architecture, is having problems caring for its heritage. Attraction of business and industry to the area is complicated by the lack of land available for economic development. Unoccupied land represents about 6.8 kim2 of Olinda’s rural area within the municipality, most of which is either wetland around river sources and the flat area on the border with Recife, which has been 108 designated as an area to protect the visibility of the historical site. Both places are under population pressure. The rural area has numerous irregular residential settlements while the plain around the historical area, which is generally water-logged and considered non-viable for housing in municipal legislation, has been invaded and settled irregularly and today is subject to governmental intervention. At the present, this area, named the Memorial Arcoverde, is very desirable for the construction of businesses which could provide an economic impulse for the municipality, since it is this area which is the most strategically located near the political and administrative centers of Olinda and Recife and because of its easy access. Occupation of this area, however, implies a delicate balance. The existence of irregular settlements and of various metropolitan utilities on the land already interfered with the visibility of the Historical elevation. The protective polygon around the land designated as the Historical Site was established by IPHAN to provide a safeguard for the site just after the conclusion of the Salgadinho Highway Complex. The idea was to guarantee a space between the two cities and protect the viewing angles for the Historic site and its relation to the plains area. The municipal preservation system, begun at the end of the 70’s, was a pioneering institution among Brazilian municipalities in as it set up a Council, a specific technical agency, The Centre for the Preservation for the Historical Places in Olinda Foundation as well as for the world site. Certainly this institutional support contributed to having Olinda named as an UNESCO Historical Site. There are a number of laws at all levels of government, federal, state and municipal, designed to work together to protect the site. Further, the city has been awarded titles of Ecological City and First Brazilian Cultural Capital. Cultural tourism has increased over the last years, although it does not represent the greatest reasons for tourists coming to the city. The title of World Cultural Heritage does not seem to be the attraction for most visitors, but rather the charm and cultural events in the city. Which goes to prove that it is these cultural events which best characterize the identity of Olinda, although these were not the reasons given to UNESCO in support of its title. Different from other countries where there are heritage cities which take pride in the display of the UNESCO logo and use it as a cultural tourist attraction, this never has been strongly advertised among the Brazilian sites recognized as world heritages, either by governmental agencies or by private enterprise. Only recently, for example, has Olinda begun to display the icon which claims Olinda as a World Cultural Heritage on the city streets or in its tourist brochures. Once Olinda was chosen as one of the nine World Heritage sites in Brazil, it became easier to include the Olinda Historical Site in the Monument Program (since its beginning) as well in the Tourist Development Program (PRODETUR). These initiatives brought in important contributions towards the conservation of the city’s monuments and public areas. Among these, the following can be mentioned: the reconstruction of the Church of Rosário dos Homens Pretos (Black Men’s Rosary Church); of the Varadoura area, and of Fortim, the Little Fort, which were revitalized for urban use with a modernization of the buildings, recreation and exercise equipment and parking; the recovery of the Saldanha Marinho slope and of the Bajado cul-de-sac; reconstruction of the Carmo and Rosãrio dos Homens Pretos Churches; establishment of the Carmelite Park, integrating it with the Abolition and Carmelite public squares and the Sítio de Seu Reis which all together will form the largest urban park in the city; urbanization of the Alto da Sé hill, including reform of the water tower and installation of a panoramic elevator, construction of a market for craftspeople and local merchants, restoration of the Observatory, and establishment of a parking area in the Church of Conceição churchyard. Acquisition of the title of World Heritage has also been important in fundraising, not only for investment in the historical site but also in attracting investment for the poor areas of Olinda, for example in the case of the urbanization of precarious settlements of V8 and V9 on the Island of Maruim. These communities are part of the preservation area under the control of the government and have undergone investments in sanitation, paving of the main streets, establish of public squares and places for recreation and sports, social programs, construction of new houses and covering and urbanization along the borders of what is known as the Malaria Channel. Interventions of a similar size and nature have been made in five other poor areas in the municipality. 109 As for the Historic Site, Olinda was ahead of the Program for the Accelerated Growth (PAC das Cidades Históricas) of the federal government having already received federal and state monies for the implantation of infrastructural projects and works. Examples of this are a project to hide electrical and telephone wires, substitution of public lighting poles and supports; establishment of a network of sectors for water supply in both the high and low parts of the city coming from reservoirs both on the Alto da Sé hill and in the neighborhood of Ribeira; construction of the first disabled access routes, adapting sidewalk levels and crossings, paving the sidewalks and removing obstacles to allow for a clear and safe passageway; traffic control and street signage and prohibition fo the circulation of heavy vehicles. A one-way street system has been established to improve traffic flow and allow for parking on both sides of the street. Projects to produce and mount tourist information plaques have been approved by IPHAN. Serious studies have been carried out for the protection of the hill slopes against mudslides, with detailed projects for drainage, sanitation, and special protection for areas where mudslides are most likely. Financial resources for this are already contemplated in PAC-2. At the same time, the municipal government has given special treatment to the residences and public services located in the historic site, including: re-paving the streets and sidewalks, substituting street lights; street cleaning and daily trash collection, including a program of selective collection of recyclable material twice a week; periodic washing of the steps up the slopes, and protection of public monuments during big events, among other services. There remain some areas which need special support, even though much has already been done. These are basic for the preservation of the site, or example, conservation and care for the green areas, better means of inspection and patrimonial education, broadening tourist accessibility and places for them to stay, among others. After Olinda was awarded the World Heritage title, various companies became interested in preserving the historical site, for example Petrobras and BANDES ( Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), considering Olinda as a tourist center worthy of investment in cultural agencies, such as theaters and museums, in particular those used for putting on events. Olinda is considered to be a recreation place for the Metropolitan Region of Recife. Because of this there is an intense flow of visitors on the weekends. Residents of the neighborhoods and nearby municipalities come in search of entertainment or simply to walk through the streets and enjoy the views and landscape from the various lookout points. In the summer, weekends are busy with groups rehearsing for carnival, maracatu, samba schools and others who parade through the streets and up and down the slopes – every year there are more – during the period from the end of December until after Carnival. The city also has a strong and attractive cultural calendar, composed of joint events such as Art everywhere (Arte em Toda a Parte); International Music Exhibition (Mostra Internacional de Música – MIMO), Olinda Jazz, Flute Bands Encounter (Encontro de Bandas de Pifanos); Staging of the Passion of Christ during Holy Week, and, most recently, the International Literary Fair – Fliporto. There are also weekly serenades through the streets, as well as events related to the feast of St. John, New Year’s eve, and gastronomy. The challenge is to reconcile the force of these cultural and recreational tourist attractions with the daily life of the resident population as well with the ability of the municipality to deal with the crowds that come. It is necessary to take extreme care and have good sense in the mediation of the conflict of interests between the different publics and social actors involved, between those who live in the city and those who come in search of distraction and entertainment, remaining respectful of the wellbeing of these persons and the maintenance of the physical integrity of the buildings – of which the public power is the principal guardian. The Houses and their residents Olinda has always suffered from times of dynamic action mixed with phases of stagnation. Following its peak as the seat of 110 Rua do Amparo government and then its loss to Recife, in the colonial period, Olinda went through a long period of stagnation, only coming out of it in the first decades of the last century owing to of a wave of medical advice that bathing in the sea contributed to health, which turned Olinda into a summer seaside town. At this time there was an upsurge of new construction and replacement of the existing structures, incorporating neoclassic and eclectic designs. Later, in the 60’s, Olinda was the destination chosen by painters, making it a display place for various art movements, for example the Ribeira Movement. From then until now, the city has gone through various cycles, among them becoming the chosen residence of members of the liberal professions, chiefly in the 70’s, and later of foreigners who arrived and purchased houses, particularly after the city received the UNESCO title. As can be expected, in a place which is attractive and dynamic, there is always housing pressure and as a consequence changes and adaptations to its physical structures. In the case of the historic site, changes happened as quickly as the profile of its residents changed. As time passes, the houses are adapted to meet the needs of the residents. And this is a further challenge to the architectural patrimony – how to accommodate renewal without a loss of character? The main changes in residential use occurred in the larger houses belonging to traditional families who no longer could afford to maintain their patrimony (or rather, the World Heritage). Today these houses have become bed and breakfasts, restaurants, craft shops and for public use among other activities linked to tourism and culture. While on the one hand these renovations served to recover deteriorating buildings and to bring economic resources into the city, on the other they have tampered with the internal layout of the historical constructions. These interferences have taken place in direct proportion to the financial capacity of the owner. And they have been either positive or damaging to the patrimony according to the knowledge of the reconstruction agents about the value of the real estate. To combat this, the Center for Advanced Studies of Integrated Conservation (Centro de Estudos Avançados da Conservação Integrada – CECI) has recently published a manual entitled Conservation:Good Housing Practices for Olinda (Conservar: Olinda boas práticas no casario) with resources from the Fund for Diffuse Rights of the Ministry of Justice. The goal of this manual is to help with the safeguarding of the patrimonial values of the historic site. The book describes in a clear, objective and even didactic way the importance of this heritage and provides orientation for property-owners and professionals about how to undertake architectural reforms compatible with the original characteristics. The information given in this manual serves to fill in the gaps in the current legislation which has established parameters for the enlargement and exterior finishing of houses and mansions, but does not establish limits on the preservation of the internal characteristics. For the city’s residents, both those who were born here and also those who have chosen to live in Olinda because of its attributes (in other times they were called outlanders), the importance of the city’s title is seen in different ways, varying with each one’s relationship to the city. What can be seen, however, is that the population is very aware of the importance of this title, witnessed by the growth of civil institutions such as the Society of the Defense of the Cidade Alta (SODECA). In existence since the beginning of the 80’s, SODECA is present and active in all municipal events, defending both the preservation of the historic site and the interests of its residents. Its members participate in Rua 13 de Maio ∙ F|7 debates on projects and public policy, in particular those items which involve culture linked to tourism and all the activities which might have repercussions on the residents of the historic site. Further, the organization of those in the tourist business has facilitated the participation of these people in meetings and conferences. The recent establishment of a Municipal Culture System offers organizational help and support for all the cultural elements in the municipality, in particular, people from the historical site. The fact that the historic site has remained principally residential has served to preserve local traditions and culture, resulting in a lively city where the residents are part of and participate actively in 111 religious and profane institutions, assuring the continuity of these activities. Today, after almost 30 years of recognition by the World Heritage Committee of its exceptional universal value, we can say that this status earned by Olinda has brought to everyone – administrators, residents, investors – a new way of understanding a city, witnessed by their efforts to protect this heritage and to provide better services and facilities both for the population who resides in the city as well as for visitors and tourists. Photographs taken recently illustrate these changes which, surely, will ensure a long existence in its future path and use for generations to come. 112 Largo do Amparo e, ao fundo, Igreja de São João Batista dos Militares ∙ A|9 Subida da Rua do Amparo ∙ D|8 113 114 Página ao lado, vista da Ladeira da Misericórdia ∙ G|7 115 Olinda enseigne Jurema Machado Q u’est-ce qui rend un site historique, une ville ou un monument, Patrimoine mondial? Comme toile de fond, il y a un traité international – la convention de l’UNESCO pour la protection du Patrimoine Culturel et Naturel Mondial, de 1972 – qui trouve son origine dans la conviction que certains sites historiques et monuments possèdent une valeur universelle exceptionnelle, ce qui impliquerait une responsabilité mondiale pour leur préservation. Pour donner matérialité et consistance à l’idée de valeur universelle, un édifice conceptuel et normatif a été construit depuis lors, impliquant catégories de biens, critères et systématiques de sélection, défenses contre l’instrumentalisation politique et stratégies pour que la reconnaissance provoque des effets plus durables pour la conservation du bien.1 Dans quelle mesure toute cette architecture de concepts et de normes pèse-t-elle dans le trajet qui mène un bien à devenir ou non Patrimoine mondial? Les circonstances ne sont en rien négligeables: le désir, les efforts et le leadership de personnes et de groupes qui, à un certain moment, sont capables de mobiliser gouvernements et communautés pour la candidature. On ajoute à tout cela l’incontournable subjectivité et les différentes visions du monde des acteurs essentiels: les spécialistes internationaux qui analysent les propositions de candidatures et le Comité du patrimoine mondial, un conseil formé de représentants de 21 pays, qui prennent la décision finale. Même avec toutes ces nuances, il est indéniable qu’en fin de compte, on obtienne une liste de biens très spéciaux. Il y a pourtant, parmi ces biens spéciaux, indépendamment de leur degré d’exception ou de beauté, certains pourvus d’une plus grande capacité de représentation. Ce sont ceux dont les attributs matériels et immatériels rappellent le plus clairement l’idée de continuité, d’accumulation, de simultanéité de temps. Ce sont ceux, denses et complexes, indépendamment de la portée qu’ils ont. Ils continuent, au fil du temps, à enseigner et proposer de nouveaux thèmes de réflexion et en plus à montrer de successifs défis et complexités. Il semble qu’il en est ainsi avec Olinda, reconnue comme Patrimoine mondial depuis presque 30 ans2, aujourd’hui un site historique avec environ vingt mille habitants, petit comparé à la grande agglomération urbaine dans laquelle il se trouve, que ce soit la commune de Olinda mais aussi la Région métropolitaine de Récife, une des plus grandes et plus complexes du Brésil.3 Françoise Choay fait référence au monument comme un défi à l’entropie, à l’action dissolvante que le temps exerce sur toutes les choses naturelles et artificielles4; un peu plus tôt, Walter Benjamin décrivait le Progrès comme étant ce qu’un ange, les yeux tournés vers le passé, mais pris dans une tempête qui le pousse toujours vers le futur, voit se former à ses pieds: l’image terrifiante d’un tas de destructions et de ruines.5 Les valeurs transmises par Olinda semblent la doter de cette capacité de défier l’action dissolvante du temps sur les choses, mais surtout sur notre capacité de compréhension, recréation et réorganisation des destructions produites par le Progrès. Si cela est vrai, la condition de Patrimoine du pays et mondial aura déjà eu une motivation suffisante. Olinda enseigne, comme c’est bien évidemment le rôle de tout bien considéré comme Patrimoine, mais l’hypothèse est qu’elle le fait avec des particularités qui se présentent, dans ce cas, sous deux aspects: le premier est que ses attributs – comme c’est toujours le cas avec des objets complexes – ne peuvent être vus, compris ou traités de manière étroite ou compartimentée, et le deuxième fait référence à la fréquence avec laquelle on peut vérifier, dans la trajectoire de ce site, les abordages et les mesures innovantes sur l’optique de la gestion du patrimoine, c’est-à-dire presque la création d’une tradition d’offrir des innovations. Voyonsen les exemples. La caractéristique qui répond à la première image de Olinda est celle de l’impossibilité de dissocier le paysage naturel de l’espace bâti. Des registres iconographiques produits pendant la domination hollandaise aux témoignages des voyageurs du XVIIe au XIXe siècles, jusqu’aux années 1966-67 quand l’UNESCO a envoyé Olinda a été inscrite sur la Liste du Patrimoine Mondial de l’UNESCO en 1982. En 2010, selon le recensemant de l’IBGE, Olinda avait 375.559 habitantes et la Région Métropolitaine de Récife, 3.688 428, la 5e du pays. 4 CHOAY, Françoise. A alegoria do patrimônio. São Paulo: Unesp, 2001. 5 BENJAMIN, Walter. Sur la conception de l’art. In: Magia e técnica, arte e política: ensaios sobre literatura e história da cultura. Obras Escolhidas. São Paulo: Brasiliense, 1994. 2 3 A ce propos, voir: Convenção para a Proteção do Patrimônio Mundial, Cultural e Natural e Orientações Técnicas para Aplicação da Convenção do Patrimônio Mundial. Disponibe à: <http://whc.unesco.org/archive/convention-pt.pdf> et <http://whc.unesco.org/archive/opguide08-pt.pdf>, respectivement. 1 116 sa première mission dans la ville, conduite par Michel Parent, l’impact du paysage de collines, de la végétation et de la mer, est le point de départ obligatoire pour n’importe quelle description du lieu. L’iconographie des hollandais a gravé avec une richesse d’informations équivalente l’espace construit, comme cela est le cas avec le plan de 1630 de Algemeen Rijksarchief6, où les jardins et les espaces vides urbains couverts de végétation ont un poids de représentation équivalent à celui des rues. Plus de trois cents ans plus tard, Michel Parent allait affirmer que Olinda n’est pas une ville, mais un jardin débordant d’oeuvres d’art.7 Au-delà du premier impact, qui est surtout visuel, la végétation est déterminante dans toute l’expérience avec le site: elle adoucit la température, filtre et interfère sur la lumière, produit des arômes, des aliments, habitudes d’usage du temps et de vie, elle détermine des solutions d’architecture. En plus de bénéficier d’un paysage édénique, Olinda enseigne, au moyen de la permanence obstinée de ces caractéristiques, sur l’importance de chercher des formes plus autonomes, moins massives, moins passives et, principalement, plus intégrées à l’environnement urbain. Plus que de témoigner d’un passé idéalisé, ces registres doivent surtout servir au présent: être objet de défense intransigeante d’habitants et des organes publics, mais aussi moyen de rapprochement et de dialogue du noyau classé avec le reste de la ville, victime, comme toutes les villes brésiliennes, de la croissance et de la banalisation qui dominent la production de l’espace construit. Il est bon de rappeler qu’il ne s’agit pas seulement, même si c’est un facteur à prendre en compte, de la mauvaise distribution des revenus et de la pauvreté urbaine, puisque les espaces urbains les plus privilégiés souffrent d’un même appauvrissement culturel. Comme un mirage, Olinda peut servir à provoquer la réflexion, spécialement pour sa voisine la plus proche, en ce qui concerne les règlements et solutions constructives, mais aussi les habitudes de culture de plantes, de fleurs et d’arbres fruitiers, de leur usage dans la cuisine, la médecine traditionnelle et son sens de la célébration des fêtes. Image sans titre [Planta de Olinda]. Manuscrit original de Algemeen Rijksarchief, Haia. In: REIS FILHO, Nestor Goulart. Imagens de vilas e cidades do Brasil colonial. São Paulo: USP, 2000. 7 LEAL, Claudia Feierabend Baeta. As missões da UNESCO no Brasil: Michel Parent. Brasília, IPHAN, 2009. (Série Pesquisa e Documentação do IPHAN). 6 La continuité dans le temps et son influence sur la conformation de l’espace construit, sur les habitudes, sur l’imaginaire, les arts et la littérature font du paysage de Olinda, plus qu’un bien naturel, un bien surtout culturel, rompant ainsi avec une des segmentations que nous avons tendance à faire lorsque nous tentons de décrire nos objets de recherche. Les références culturelles dénommées patrimoine immatériel par la législation fédérale brésilienne actuelle et par la Convention de l’UNESCO, bien qu’elles soient indissociables des personnes, sont aussi indissociables des lieux et de leur capacité à déterminer, créer et recréer des comportements, savoirs et pratiques. Cette espèce de transgression de frontières est présente également, de manière symbolique, dans le carnaval, constamment recréé, où des poupées géantes des heures du jour (L’Homme de Minuit, la Femme de Midi, le Garçon et la Fille de l’Après-midi) et des gens du lieu reçoivent et se mélangent, tous les ans, à de nouveaux personnages de l’histoire, de la culture régionale, des histoires de la télévision, du monde pop. Ou bien dans la tendance, pas propre à Olinda, mais qui, venant de Récife, a marqué le panorama culturel du Pernambouc, d’hybridation et d’une espèce de “révision avec autonomie” d’une production culturelle très marquée par le traditionalisme et le régionalisme. Les exemples les plus évidents sont le mouvement, pour utiliser l’expression du journaliste José Teles, qui va du frevo au manguebeat, tout comme la récente production audiovisuelle pernamboucaine. Ces transformations nous renvoient à des discussions sur le concept d’authenticité, un thème défiant pour les spécialistes du patrimoine, aussi bien quand il s’agit du patrimoine matériel que du patrimoine immatériel.8 Le cas de Olinda est, une fois de plus, riche en sujets de réflexion: comme peu de centres historiques brésiliens, ses édifices et son image urbaine supportent la superposition du temps et de faits historiques et stylistiques avec une rare sérénité. C’est le cas des reconstructions qui se sont imposées pour presque tous les édifices religieux, incendiés et saccagés en 1631 par les hollandais, ce qui a eu pour résultat des édifications avec une histoire complexe de ruines, reconstructions et restaurations. Le cas le plus complet, capable Voir ICOMOS: Conférence sur l’authenticité par rapport à la Convention du Patrimoine Mondial du 6 novembre 1994, te Carta Brasília: Documento Regional do Cone Sul sobre Autenticidade, 1995. 8 117 d’offrir du matériel d’études de toutes sortes dans le domaine de la conservation, est celui de l’Eglise du Carmo, où les archéologues identifient jusqu’à dix phases de construction qui iraient de 1540 à 1907. Outre la complexité de l’édifice en soi, le thème de son usage et appropriation contemporains offre un ample matériel pour la réflexion en raison de la trajectoire trouble de l’ensemble, qui a été propriété du Gouvernement Fédéral pour environ 130 ans. Alors qu’une partie de l’édifice était adaptée pour l’usage de l’IPHAN, au moyen de solutions architecturales qui, en soi, sont un exemple intéressant d’application de théories de conservation, la communauté persistait à y maintenir et reprendre ses pratiques religieuses, ce qui a entraîné le reprise de possession du monument par les Carmélites en 2008. Toujours sous l’angle des superpositions de temps et de styles, il se doit d’observer la collection de patrimoine éclectique, parfaitement acclimatée au noyau historique. Cette collection témoigne de la phase de renaissance économique de Olinda au début du XIXe siècle, stimulée par l’installation de l’Académie de droit et par l’amélioration des systèmes de transport, qui va offrir une plus grande intégration et complémentarité entre les sites de Récife et Olinda. De nouveaux habitants, qui se déplacent maintenant dans les espaces adjacents des deux villes en viennent à exiger la modernisation des vieilles maisons au goût de l’éclectisme, laissant des registres de ces moments dans tout le noyau urbain. Ce fait, au lieu d’altérer et d’appauvrir le centre historique, finit par lui concéder plus de densité au point de mériter la deuxième mention de Aloísio Magalhães, à l’époque président de l’Iphan, dans le dossier envoyé à l’UNESCO: Même son architecture n’est pas si définie. [...] une partie d’une maison est du XVIIe siècle, l’autre du XVIIIe [...] il y a une accumulation de vécus qui justifient l’inclusion de Olinda au Patrimoine Mondial. Il y a finalement le second groupe de particularités qu’offre Olinda, comme thème de réflexion: la gestion du patrimoine. La fréquence avec laquelle, à partir des années 1970, ont lieu des situations d’approximation entre la gestion urbaine et la préservation du patrimoine, comme on le voit à Olinda, est une donnée connue dans l’histoire de la préservation au Brésil, mais elle présente le risque de passer inaperçue si elle n’est pas vue dans son ensemble. Le fait en soi mériterait déjà une investigation détaillée parce qu’il s’agit d’une situation rare ou même, toutes proportions gardées, inédite dans les centres historiques brésiliens. La proximité de Récife, qui a eu, avec la Fidem des années 197080, un des organes de gestion métropolitaine des plus actifs du pays, est certainement un facteur notable pour expliquer la culture de la planification urbaine et la disponibilité d’urbanistes qui ont pu interférer de manière innovatrice dans l’abordage traditionnel de la préservation du patrimoine. Outre les architectes, urbanistes et intellectuels qui sont venus vivre dans le centre historique, l’importance de personnages emblématiques dans la politique de préservation est indéniable, comme Joaquim Falcão et Aloísio Magalhães, dont les trajectoires, personnelles et professionnelles, sont devenues indissociables de l’histoire de Olinda. A la fin des années 1990, peut-être comme un écho des préoccupations que Olinda commence à “inculquer” dans le panorama académique du Pernambouc, est créé le Centre d’études avancées de la conservation intégrée (CECI), une initiative non gouvernementale qui introduit une approche jusqu’alors innovatrice dans le pays – la conservation intégrée – et qui a aujourd’hui dans la ville, en plus de son siège, un de ses objectifs d’investigation de prédilection. Cette chronologie simplifiée des moments de rapprochement entre gestion du patrimoine et gestion urbaine rend plus claires de telles affirmations: En 1973, cinq ans après son classement par l’Iphan, la commune de Olinda a complété l’action fédérale en définissant des règles d’usage et d’occupation du sol pour le centre historique et les aires voisines au moyen du Plan de développement local intégré, en phase avec ce que préconisait le Plan de villes historiques (PCH), implanté par l’Iphan. En 1979, suite à la création de la Fondation Centre pour la préservation des sites historiques de Olinda, l’action municipale a été complétée par la création du Système de préservation de la commune de Olinda, se constituant, au travers de cette fondation, le Fonds de préservation et le Conseil de préservation, aptes à promouvoir le classement municipal. Cet agenda est inédit parmi les communes brésiliennes. La majorité d’entre elles s’engage à des politiques de préservation après la Constitution fédérale de 1988, sous la pression de mouvements sociaux et de questionnements juridiques. Dans les années 1970, peu de capitales et de grandes villes ébauchent des actions dans ce domaine. Mais même ainsi ponctuelles et relatives, ne se configurant jamais comme un système qui irait de la régulation 118 Casas na Ladeira da Misericórdia à l’action. Les Fonds de préservation n’ont été incorporés au vocabulaire des municipalités qu’au début des années 2000, quand ils sont devenus des conditions obligatoires pour l’éligibilité au Programme Monumenta.9 Et l’idée de système, en tant qu’action concrète dans le domaine de la culture, est encore plus récente.10 Une autre innovation est la reconnaissance de l’habitation comme élément essentiel de la vitalité du domaine historique, thème auquel se réfèrent beaucoup les politiciens aujourd’hui, aussi bien celles du patrimoine que celles du secteur de l’habitation, exception faite des efforts plus récents de l’Iphan au moyen du programme Monumenta et, bien avant, dans le cas de Olinda décrit ci-dessous. Il s’agit de l’exemple le plus emblématique parmi les tentatives de traitement intégré entre la politique de préservation et d’habitation. Cela s’est passé sous la gestion de Aloísio Magalhães à l’Iphan, qui a stimulé ce qui était alors la Banque nationale d’habitation (BNH) à créer un programme d’habitation spécifique pour les sites historiques. L’idée a été mise en place sous la forme d’un projet pilote à Olinda et s’est terminé avec l’extinction de la BNH en 1986. Dans la composition du financement, il incombait à l’Iphan d’apporter les ressources à fonds perdu et à l’emprunteur le paiement de la partie financée par le BNH. La municipalité a agi comme agent promoteur et a offert les garanties à la banque face aux difficultés de la part de la population de fournir des preuves de leurs revenus. Bien que brève, l’expérience a été estimée comme un succès, prenant en compte l’intérêt et la participation des habitants, le faible taux de non-remboursement et les subventions générées par les expériences de financements d’habitations dans les sites historiques. La présence de la communauté locale dans la gestion de la préservation est une autre caractéristique particulière, si nous prenons en compte que le thème est l’objet de mouvement Le Monumenta est un programme de récupération du patrimoine culturel urbain brésilien, exécuté par le Ministère de la Culture/IPHAN et financé par le Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID). Le programme a le soutien technique de l’UNESCO. 10 Le Système fédéral de culture, qui articule les organismes fédéraux, a été créé par décret présidentiel en 2005. Le Système fédéral de culture est en processus de création. 9 Rua do Amparo ∙ D|10. Próxima página, vista de Olinda 119 organisé des habitants, depuis au moins 1964, avec le Mouvement de la Ribeira, qui a donné naissance plus tard à l’Association des habitants et amis de Olinda (Amoa), en activité jusqu’à 1981. En 1984, est apparue la Société de Olinda de défense de la ville haute (Sodeca), en activité jusqu’à nos jours. La préservation de Olinda, au vu de ses habitants, a toujours été associée à la qualité de vie, caractéristique qui a causé, à diverses occasions, la résistance à l’intensification incontrôlée de l’usage du site stimulée par les politiques de promotion du tourisme. Cela a également donné origine à des débats et des solutions, en leur temps innovateurs, comme cela a été le cas pour la circulation des véhicules, qui a même abouti à un plébiscite en 1987 et qui a eu pour résultat l’interdiction de la circulation de véhicules dans le centre historique. Fin 2010, un nouvel instrument de conservation du patrimoine est directement offert aux habitants, afin de les orienter quand aux critères à adopter pour la réalisation d’interventions sur les bâtiments, puisque c’est un thème qui les concerne quotidiennement. Il s’agit du manuel Conserver: Olinda, bonnes pratiques dans les habitations, produit avec rigueur et qualité par le CECI. Sous ce format – un manuel avec un solide contenu technico-scientifique de conservation destiné aux habitants, c’està-dire à un public profane - c’est encore une innovation à ajouter à la liste des expériences inaugurales de Olinda. Sans aucune prétention d’approfondissement, le simple énoncé de ces faits a cherché à montrer les évidences de comment un site historique peut donner origine et alimenter un débat référentiel, qui le concerne directement, mais aussi tous les sites culturels brésiliens et, pourquoi pas, tous les sites listés comme patrimoine mondial. Il ne s’agit pas d’une idéalisation du cas de Olinda, parce qu’il est important d’avoir à l’esprit que le pouvoir municipal, bien que généralement aligné sur les pratiques de préservation, face à une ville de plus de 370 mille habitants et avec de sérieux problèmes sociaux, n’a pas toujours été capable de répondre avec régularité à la qualité des directrices et aux défis de la préservation, révélant de fréquentes fragilités et instabilités. A la lumière de l’expérience de Olinda, on comprend mieux que la principale contribution issue de la Convention de l’UNESCO de 1972 a été d’élire des biens capables de représenter des valeurs et visant à les promouvoir et à les partager. Et, comme le voulait Aloísio Magalhães, influencer le présent par ce moyen, réalimentant constamment le cycle entre la tradition et la création, entre patrimoine, innovation et développement. 122 OLINDA PATRIMOINE CULTUREL Mondial Sônia Coutinho Calheiros P resque trente ans comme détentrice du titre de Ville Patrimoine Mondial se sont passés rapidement au vu de la trajectoire des 476 ans de Olinda. J’ai eu le plaisir d’accompagner de près toute cette période, aussi bien en tant qu’habitante, puisque j’habite le site historique depuis 1971, qu’en tant que gestionnaire de l’administration municipale durant diverses périodes, totalisant plus de 15 ans à la tête de différents organismes. 1 Ces images sont un registre de la diversité de typologie des habitations anciennes et de l’harmonie des plus divers styles de façades, de l’intégrité des toitures et de leurs volumes, de l’abondance de végétation des jardins, des clôtures de couvents, des places et surtout du massif (jardin) du Horto Del Rey, des églises et monastères avec les spécificités architecturales de chaque ordre religieux, des rues couvertes de pavés presque intacts et des interférences des fils des réseaux d’électricité et de téléphone. La ville patrimoine conserve son calme au quotidien. Dimanche matin, alors que j’écris, j’entends chanter les oiseaux dans le jardin, les murmures des gens passant dans la ruelle longeant ma maison; le carillon des cloches au loin. Cette qualité de vie, pourtant, est constamment interrompue par l’effervescence des manifestations culturelles, le carnaval en étant le principal exemple. D’autre part, on s’aperçoit aussi sur les photos que certains bâtiments présentent des signes de détérioration, tout comme les chaussées qui montrent des parties précaires et l’absence d’urbanisation d’espaces qui sont aujourd’hui devenus des lieux importants de rencontre et de loisirs. A l’époque où ces photos ont été prises, il y avait une faible offre de services et de réseaux d’infrastructure, comme l’alimentation en eau, les égouts, la circulation et la signalisation, qui ne se sont améliorés que récemment. Olinda est une ville faite de paradoxes. Sa trajectoire, comme celle de n’importe quelle ville, est liée au dynamisme de la région où elle se trouve. A mesure qu’elle se modifie, la pression pour substituer ses structures physiques, sociales et les appareils institutionnels existants augmente. Ce texte est un témoignage de la trajectoire de Olinda et un rapport sur le défi de sauvegarder un Patrimoine Culturel Mondial dont le titre a été attribué à une ville en constante mutation – puisque vivante. Voir un petit échantillon des photos prises à Olinda en 1981 qui ont composé le dossier présenté à l’UNESCO à l’occasion de la demande du titre de Patrimoine Mondial, m’a interpellée sous divers aspects qu’il est important de remarquer, à propos de ces archives, quand on les compare à la situation actuelle du site historique de Olinda, situé sur un périmètre de 1,4 km2, avec une aire de protection de l’ordre de 10 km2. Les images avaient pour objectif de montrer ce que Olinda montre de plus significatif: sa localisation exceptionnelle distribuée sur des collines proches du littoral; le tracé urbain de son occupation typiquement portugaise et l’architecture civile et religieuse entourée d’une végétation exubérante. Directrice générale de la Fondation centre de préservation des Sites historiques de Olinda (1986-1989). Adjointe au plan et aux finances (1993-1994); au plan, transports et environnement (2001-2004); au plan et à la gestion stratégique, occupant le poste depuis janvier 2005. 1 Tout au long de son histoire, Olinda a perdu, de sa fondation à nos jours, environ de 99 % de son territoire. Les limites de la ville ont diminué de manière drastique. De Capitainerie héréditaire la plus prospère de la colonie, elle en est venue à intégrer la région métropolitaine de Récife (RMR), une agglomération urbaine de plus de 3,5 millions d’habitants répartis sur quatorze communes, toutes ces zones urbaines étant reliées. Olinda, bien qu’étant la plus petite en termes de superficie, abrite la troisième plus importante population (375 mille habitants) de l’état. Il s’agit de la plus forte densité démographique du Pernambouc et une des plus grandes du pays. Elle intègre aujourd’hui le groupe des communes brésiliennes peuplées avec de faibles revenus per capita et une forte vulnérabilité sociale – le G100. Une autre donnée intéressante est que du fait que les offres d’emploi se rencontrent principalement à Récife, capitale de l’état, Olinda est connue comme ville dortoir. Elle possède une localisation privilégiée en raison de son accès facile et de sa proximité de la capitale, du port et de l’aéroport international. Cependant, l’occupation résidentielle prédomine sur son territoire exigu de 43 km2, avec des activités économiques naissantes concentrées dans les domaines du commerce et des services et qui ne sont pas capables d’offrir des emplois et de générer des recettes suffisantes pour affronter le défi d’une 123 population dont la grande majorité a des revenus de l’ordre de deux salaires minimums. Ce sont les raisons pour lesquelles Olinda, Patrimoine Culturel Mondial, vit les contradictions de réunir sur une de ses collines un centre historique d’une exceptionnelle valeur architecturale, culturelle et en termes de paysage, alors que certaines zones de collines sont occupées de manière désordonnée, sans infrastructure ni équipements publics adéquats; d’avoir une richesse culturelle inestimable et une pauvreté qui se reflète dans son faible PIB; d’être la Première capitale brésilienne de la culture et être classée quatrième des villes ayant le plus grand indice de violence chez les jeunes; d’avoir l’un des principaux carnavals du monde et, par conséquent, recevoir plus d’un million de personnes dans ses étroites ruelles en pente pendant les fêtes de Momo; de posséder le lieu le plus visité par les touristes dans l’état – le Alto da Sé – et, cependant, ne loger que 5 % de ces visiteurs. vides existants encore et les espaces occupés avec une faible densité interfèrent, dans la plupart des cas, sur la visibilité de la colline historique. Ce polygone de protection du site classé a été institué par l’IPHAN de manière complémentaire au classement du site historique, immédiatement après la conclusion des travaux du Complexe routier de Salgadinho, l’objectif étant de garantir un interstice entre les deux villes et de protéger les nouveaux cônes de vision de la colline historique et sa relation à la plaine. Le système de préservation municipal, implanté à la fin des années 70, a été pionnier, parmi les communes brésiliennes, dans la mesure où il a constitué un Conseil, un organisme technique spécifique, la Fondation centre de préservation des Sites historiques de Olinda, le Fonds de préservation et, en plus, le classement municipal. Bien sûr, tout ce cadre institutionnel a contribué à ce que Olinda en vienne à mériter le titre de Patrimoine historique de l’UNESCO. C’est pourquoi, la commune possédant l’un des plus importants patrimoines historiques et culturels du Brésil, mondialement reconnu comme un exceptionnel exemple d’architecture, rencontre des difficultés pour prendre soin de cet important héritage culturel. Olinda dispose de législations de protection à tous les niveaux, fédéral, de l’état et municipal qui se complètent les unes les autres et, de plus, arbore les titres de Ville écologique et de Première capitale brésilienne de la culture. Attirer de nouvelles entreprises est une tâche toujours plus difficile à cause de la rareté de zones adaptées à l’implantation d’activités économiques de poids. Les espaces vides se résument actuellement à 6,8 km2 d’une zone rurale qui protège les sources de nos principaux ruisseaux, et à la plaine située aux limites de Récife et qui constitue une aire de protection de la visibilité de la colline historique. Les deux lieux souffrent une forte pression. La zone rurale présentent plusieurs lotissements irréguliers alors que toute la surface de la plaine qui entoure le site historique est inondable (considérées par la législation comme non aedificandi) et occupée de manière désordonnée, ce qui est aujourd’hui objet d’intervention de la part des pouvoirs publics. Cette région, à présent connue comme Mémorial Arcoverde, est la plus convoitée pour l’implantation d’entreprises qui viendraient contribuer à offrir à la commune un plus grand dynamisme économique. Cela en raison de sa localisation stratégique, proche des centres politiques et administratifs de Olinda et de Récife et de son accès aisé. Le tourisme culturel a pris de l’importance lors de ces dernières années, mais il ne représente pas encore un très grand flux. Etre détentrice du titre de Patrimoine Culturel Mondial ne semble pas inciter la majorité des brésiliens à la visiter. C’est plutôt son charme et son éventail d’événements culturels qui jouent ce rôle. Ce qui prouve que les éléments qui caractérisent le plus son identité aujourd’hui, en dépit des arguments qui lui ont valu le titre de l’UNESCO, sont ses manifestations culturelles. Néanmoins, occuper cette zone nous pose une équation délicate. Hormis les occupations irrégulières et le fait qu’il existe à ses alentours plusieurs équipements d’envergure métropolitaine, les A la différence d’autres pays où se trouvent des villes qui exhibent le symbole de l’UNESCO avec fierté et comme attrait pour le tourisme culturel, au Brésil, les sites qui sont reconnus comme Patrimoine mondial n’ont jamais été très divulgués, que ce soit par les organismes gouvernementaux ou par l’initiative privée. A Olinda, par exemple, c’est depuis peu que le logotype indiquant que Olinda est Patrimoine Culturel Mondial est utilisé comme icône principal de la signalisation touristique de la ville et dans sa documentation promotionnelle. Cependant, faire partie des neuf villes Patrimoine Mondial du Brésil a été un facteur décisif pour l’inclusion du Site Historique 124 À esquerda, Rua 27 de Janeiro ∙ G|7. À direita, Av. Sigismundo Gonçalves ∙ I|8 de Olinda dans le Programme Monumenta (dès sa première étape), aussi bien que dans le Programme de développement du tourisme (Prodetur). De telles initiatives permettent la réalisation d’interventions significatives de conservation des monuments et de revitalisation des places (rues, jardins publics). On peut remarquer parmi ces interventions: la requalification du Largo do Rosário dos Homens Pretos, du Varadouro et du Fortim, qui ont bénéficié du traitement d’urbanistes, d’équipement urbain, de loisirs et de stationnement; la récupération de la Ladeira Saldanha Marinho et du Beco do Bajado; la restauration des églises du Carmo et du Rosário dos Homens Pretos; l’implantation du Parc du Carmo qui intègre les places de l’Abolição, du Carmo et le Sítio de Seu Reis, le plus grand parc urbain de la ville; la réurbanisation de l’Alto da Sé, comprenant la récupération du château d’eau et l’installation de l’ascenseur panoramique; la construction du marché pour les vendeurs d’artisanat; la restauration de l’Observatoire: la mise en place du stationnement du Largo da Conceição. Avoir le titre de Patrimoine Mondial a bien sûr un poids important pour obtenir des financements, non seulement pour des interventions dans le site historique, mais aussi pour attirer des investissements en infrastructure dans les zones pauvres de Olinda, comme c’est le cas pour l’urbanisation des Assentamentos Precários (favelas) du V8, du V9 et de l’île du Maruim, communautés insérées dans le polygone de préservation de l’aire classée et qui reçoivent des investissements en assainissement intégré, asphaltage des rues principales, mise en place d’aires de rencontre, loisirs et sports, programmes sociaux, construction de nouvelles habitations, couverture et traitement urbanistique des berges du canal de la Malária. Des interventions de cette nature et de cette ampleur sont réalisées dans cinq autres aires pauvres de la commune. Dans le Site Historique, Olinda a anticipé le Programme d’accélération de la croissance, ou PAC des villes historiques, quand elle a obtenu de la part des gouvernements, à la fois fédéral et de l’état du Pernambouc, les ressources nécessaires à l’exécution de projets et oeuvres d’infrastructure comme, par exemple, la mise en place de deux étapes du projet d’enterrement des réseaux de fils de téléphone et d’électricité, ce qui a permis le remplacement des poteaux et de l’illumination publique; la mise en place de la sectorisation des réseaux de distribution d’eau dans les parties haute et basse de la ville, provenant des réservoirs du Monte, de la Sé et de la Ribeira; mise en place de la première Route accessible, avec adaptation des niveaux des trottoirs et chaussées, revêtements adaptés et élimination d’obstacles, offrant ainsi à tous un cheminement libre et sûr; régulation de la circulation et de la signalisation des rues où l’accès est aujourd’hui interdit aux véhicules lourds. Des sens uniques garantissant une plus grande fluidité et permettant le stationnement unilatéral ont également été mis en place. Des projets de signalisation touristique ont déjà été approuvés par l’IPHAN qui a autorisé leur implantation. Dans cette zone, des études approfondies ont été faites pour retenir les glissements de terrain, avec des projets détaillés de drainage, d’égouts et de retenue des zones à risque et dont les financements ont déjà été inclus dans le PAC-2. Parallèlement, l’administration municipale a offert un traitement particulier à l’entretien des parcs et des services publics du site historique incluant: récupération des revêtements de la chaussée et des trottoirs; remplacement des lampes; balayage et collecte quotidienne des déchets solides; collecte sélective des déchets recyclables deux fois par semaine; lavage périodique des rues; protection des monuments lors de grands événements, entre autres services. Malgré tout ce qui a déjà été fait, il y a certains aspects qui doivent être renforcés dans la mesure où ils sont fondamentaux pour la À esqueda, casa na Rua Prudente de Morais ∙ F|8. À direitra, casarão na Rua de São Bento ∙ E|7 garantie de la préservation du site comme, par exemple: l’entretien et le remplacement de la végétation, le renforcement du contrôle et de l’éducation patrimoniale, l’élargissement de l’accessibilité et de la durée des séjours des touristes, entre autres. Avec le titre de Patrimoine Mondial, des entreprises se sont sensibilisées à la préservation du site historique, à l’exemple de la PETROBRAS et de la Banque nationale de développement économique et social (BNDES), qui estiment que Olinda est une ville-phare et donc digne d’un traitement de faveur en ce qui concerne l’octroi de ressources pour la récupération d’équipements culturels et, surtout, pour la réalisation d’événements du même type. Olinda est considérée comme un pôle de loisirs de la Région métropolitaine de Récife. Le flux intense de visiteurs les week-ends en est la preuve. Des habitants des quartiers et des communes avoisinants y viennent à la recherche de diversion ou, tout simplement, pour s’y promener et jouir des panoramas et des paysages offerts en différents endroits. En été, les week-ends sont animés par les répétitions des groupes de carnaval, maracatu, écoles de samba et autres groupes qui défilent dans les rues et ladeiras qui montent et descendent les collines – tous les ans plus fréquentées surtout les dimanches et durant la période qui s’étend de fin décembre jusqu’au carnaval. La ville offre également un riche et attrayant calendrier culturel composé d’événements déjà traditionnels comme – Arte em Toda a Parte; Mostra Internacional de Música de Olinda (MIMO); Olinda Jazz; Encontro de Bandas de Pífanos; le spectacle de la Paixão de Cristo (durant la semaine de Pâques) et, plus récemment, la Feira Literária Internacional – Fliporto. Sans compter les sérénades hebdomadaires, la Saint Jean, le réveillon et la gastronomie. Arriver à concilier la force de ces attraits touristiques, culturels 125 et de loisirs et la vie de la population résidente, tout comme la capacité d’accueil de la population du site historique est le grand défi imposé quotidiennement à l’administration municipale. Intercéder dans les conflits d’intérêts entre les divers publics et les acteurs sociaux impliqués, entre ceux qui habitent la ville et ceux qui la fréquentent à la recherche de distraction et de loisirs, demande modération et bon-sens de la part des pouvoirs publics afin d’atteindre un équilibre entre ces différentes activités, le respect du bien-être des gens et le maintien de l’intégrité physique des bâtiments – dont elle est le principal gardien. Les maisons et leurs habitants Olinda a toujours eu diverses périodes de dynamisme alternant avec des phases de stagnation. Après son apogée et la perte du siège du gouvernement en faveur de Récife, à l’époque coloniale, Olinda est passée par une longue période de stagnation, ne ressurgissant que dans les premières décennies du siècle dernier avec l’introduction des bains de mer, recommandés par les médecins, devenant ainsi une ville estivale. Occasion par laquelle il y a eu une expansion et la modification de structures existantes auxquelles ont été ajoutées des éléments néoclassiques et éclectiques. Plus tard, dans les années 60, Olinda a été choisie par des artistes, devenant ainsi la scène de mouvements artistiques comme, par exemple, celui de la Ribeira. Depuis lors, la ville assiste à des cycles, parmi lesquels, celui des professions libérales qui l’ont élue comme domicile, avec une plus grande incidence à partir des années 70, en plus des étrangers qui ont fait l’acquisition de maisons, surtout après que la ville a reçu le titre de l’UNESCO. 126 Comme n’importe quel lieu où existent des attraits et du dynamisme, il y a toujours une plus grande pression immobilière et, par conséquent, modifications et adaptations de ses structures physiques. Dans le cas du site historique, les changements ont lieu aussi bien dans l’utilisation des bâtiments que dans le profil de la population résidente. A mesure que le temps passe, les habitations s’adaptent de plus en plus pour répondre aux besoins des habitants. C’est un défi de plus du patrimoine construit: comment se rénover sans perdre ses caractéristiques? Les principales modifications de l’utilisation résidentielle ont eu lieu avec les constructions les plus importantes, appartenant à des familles traditionnelles qui n’ont pas réussi à conserver leur patrimoine (ou mieux, le Patrimoine Mondial). Aujourd’hui, on y trouve auberges, restaurants, boutiques d’artisanat, équipements publics entre autres activités liées au tourisme et à la culture. Si, d’une part, ces rénovations récupèrent des immeubles détériorés et apportent des bénéfices économiques à la ville, elles interfèrent d’autre part sur la typologie des constructions historiques. On peut observer que l’intensité de cette interférence est proportionnelle à la capacité financière du propriétaire. Et elles sont plus ou moins positives ou nuisibles envers le patrimoine selon le niveau de connaissance des personnes qui interviennent sur les valeurs attribuées au bâtiment. Ainsi, l’initiative récente du Centre d’études avancées de conservation intégrée (CECI) de publier un manuel intitulé Conservar: Olinda boas práticas no casario (avec des ressources du Fundo de Direitos Difusos, du Ministère de la justice) a le mérite de contribuer à la conservation des valeurs patrimoniales du site historique. La publication décrit de manière claire, objective et même didactique, l’importance du patrimoine construit et oriente les propriétaires et professionnels à réaliser des interventions architecturales de manière compatible avec les caractéristiques originales. Les informations contenues dans ce travail comblent les failles des législations en vigueur qui, bien qu’elles aient établie des paramètres rigides pour la volumétrie et le revêtement des façades des maisons et immeubles, ont peu déterminé de limites pour la préservation des caractéristiques internes. Pour les habitants, les natifs et ceux qui ont choisi la ville pour ses attributs (autrefois appelés “forasteiros” ou ceux qui viennent du dehors), l’importance du titre reçoit des échos divers, qui varient selon la nature de leur relation à la ville. Ce que l’on perçoit cependant, c’est que le niveau de conscience de la population est relativement élevé, ce qui est prouvé par l’existence d’institutions telles que, par exemple, la Sociedade de Defesa da Cidade Alta (Sodeca). Active depuis le début des années 80, la Sodeca est présente dans tous les moments de la ville, défendant aussi bien la préservation du site historique que les intérêts de ses habitants. Elle participe aux discussions de projets et de politiques publiques, surtout quand cela concerne la préservation de la culture liée au tourisme et aux autres activités qui apportent des répercussions dans la vie des habitants de la zone classée. L’organisation des entrepreneurs du secteur touristique a permis leur participation au conseil et aux conférences. La construction récente du Système municipal de culture a permis l’organisation et le renforcement de tous les secteurs culturels de la ville, comme une concentration assez expressive des acteurs du site historique. La prédominance de l’usage résidentiel a, à son tour, permis de maintenir les traditions et la culture locale ce qui a pour conséquence une ville vivante où les habitants s’intègrent et participent activement aux institutions religieuses et profanes et garantissent la pérennité de ces activités. Aujourd’hui, presque 30 ans après la reconnaissance par le Comité du patrimoine mondial de son exceptionnelle valeur universelle, on peut dire que ce statut obtenu par la ville de Olinda a apporté à tous – gouvernants, habitants, investisseurs – une nouvelle manière de voir la ville, ce que prouvent les interventions réalisées dans la protection du patrimoine et dans l’offre de meilleurs services et infrastructures, aussi bien pour la population qui y vit que pour les visiteurs et touristes. Les photos d’aujourd’hui prouvent ces changements qui, certainement, garantiront une longue trajectoire et son usufruit par les générations à venir. Cine Olinda, Av. Sigismundo Gonçalves ∙ I|9 127 128 Farol de Olinda 129 1 3 2 A 1 Igreja de Nossa Senhora do Desterro e Convento de Santa Tereza ∙ E|1 2 Igreja de São Sebastião ∙ G|5 3 Igreja e Mosteiro de São Bento ∙ H|6 4 Igreja dos Milagres ∙ I|4 5 Igreja do Convento de Santo Antônio do Carmo ∙ H|8 6 Fortim de São Francisco ∙ I|11 7 Igreja de São Pedro Apóstolo ∙ G|8 8 Museu do Mamulengo ∙ F|7 9 Museu de Arte Contemporânea ∙ E|7 10 Igreja de Nossa Senhora da Boa Hora ∙ D|7 11 Capela de São Pedro Advíncula ∙ E|7 12 Mercado da Ribeira ∙ E|8 13 Quatro Cantos ∙ E|8 14 Igreja do Senhor Jesus do Bonfim ∙ E|9 15 Igreja de Nossa Senhora da Misericórdia ∙ D|9 16 Observatório do Largo da Sé ∙ E|10 17 Catedral da Sé - Igreja de São Salvador do Mundo ∙ F|11 18 Igreja de Nossa Senhora das Neves e Convento de São Francisco ∙ G|12 19 Igreja de Nossa Senhora da Graça e Seminário de Olinda ∙ F|12 20 Museu de Arte Sacra ∙ E|10 21 Igreja e Convento de Nossa Senhora da Conceição ∙ C|10 22 Igreja de Nossa Senhora do Amparo ∙ B|9 23 Igreja de Nossa Senhora de Guadalupe ∙ A|9 24 Igreja de São João Batista dos Militares ∙ A|9 25 Igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos de Olinda ∙ A|10 26 Igreja e Mosteiro de Nossa Senhora do Monte ∙ A|12 B C D E 1 Recife Av. Ol inda F G H I Polígono de preservação Área de tombamento 1 2 3 8 7 23 lc a nt i 400m ti o Sítio de “Seu” Reis Rua 10 de es Praça Rio Branco (Jacaré) a Manoel Borb Ru a Saldanh aM R. A eira Lad Av .d aL ibe rd a Sé Co uti nh 17 o 19 d F Rua da Pa lh 5 Av .L sco Trav. de São Franci ui zG om 18 es G ad e o cisc Praça da Abolição (Preguiça) Rua Manuel Ribeiro Rua D. Pedro Roeser Gonçalv E o Praça João Alfredo Alfredo Trav. João R. Justino Gonçalves 7 br es ntônio Gom uro Ru a Po rto S e g Be n t o S ão de Ru a o nt Be o Sã de Ru a Praia d o Rua Rua Prudente de Morais 13 Ru a Ru a V ie Be ir a d de u im o aq l. J Ce Rua S iqu Camp eira os ntos Rua Sa Praça d Milagreos s Am an C av alc buc o Na im aqu Av. Jo Trav. 15 de Novembro co bu Na m qui Joa A v. Dum ont MILAGRES m n do ve s mu ro No S igi ALTO DA SÉ p Bis 4 a Bon a Ru VARADOURO o 3 20 a mb Janeiro nh u ti embro 7 a2 Ru fim do a de Nov Co ete Praça Mons. Fabrício Av en id 7S v. Tra og Ru a 14 Rua do Bomfim Rua 15 8 16 rti Dias ue iq r n He D Be 12 ricó ise M da Lad Horto D’el Rey da 11 Rua Bisp rdia fim 9 13 15 Bon do elo ar rn e M C 21 o a Rua Praça do Carmo de n Fra São CARMO H Rua do Sol Av. Be ir a Mar 6 I Praia do Carmo s Milag res N OCEANO ATLÂNTICO 4 5 6 A B a Ru aio M Rua Cel. João Lapa 2 o ad Ru eira Hor om Rua D cio á f i n o B sem Ja n o Estrada do Bonsucess do Rua a Ru p ar s nto Ca ão ltr Be 10 Boa 800m o ão Jo l. Ce da 26 arin h o va Ca m ui aq s4 do ica aB Ru a Ru Rua AMPARO im sm Ja o d co Be 12 11 10 25 22 Jo l. Ce 9 24 Trav. do Rosário 6 5 Rua São João 4 7 8 9 10 11 12 132 Catedral da Sé - Igreja de São Salvador do Mundo ∙ F|11 Interior da Catedral da Sé - Igreja de São Salvador do Mundo · F|11 133 134 Vista do Largo da Sé ∙ F |11. Abaixo, comércio e aspectos do Largo da Sé Em primeiro plano, Caixa d’Água com elevador panorâmico e Catedral da Sé - Igreja de São Salvador do Mundo e, mais ao longe, Fortim de São Francisco 135 136 137 138 Páginas 136 e 137, Igreja do Convento de Santo Antônio do Carmo ∙ I|11. Nesta página, Praia do Carmo ∙ I|11 Fortim de São Francisco ∙ I|11 139 140 Igreja de Nossa Senhora das Neves e Convento de São Francisco ∙ G|12 141 142 Página ao lado, Igreja de Nossa Senhora das Neves e Convento de São Francisco ∙ G|12. Nesta página, abaixo, Igreja do Convento de Santo Antônio do Carmo ∙ H|8 143 144 Igreja do Senhor Jesus do Bonfim ∙ E|9 Igreja de Nossa Senhora do Amparo ∙ B|9 145 146 Página ao lado, Igreja de Nossa Senhora da Graça e Seminário de Olinda ∙ F|12. Abaixo, Capela de São Pedro Advíncula ∙ E|7 e Bica de São Pedro, na Rua Henrique Dias 147 148 149 150 Páginas 148 e 149, Igreja e Mosteiro de São Bento ∙ H|6. Nesta página, à esquerda e à direita superior, Igreja de Nossa Senhora da Misericórdia ∙ D|9. À direita, abaixo, Academia Santa Gertrudes. Página ao lado, Rua Bernardo Vieira de Melo ∙ E|8 e, ao fundo, vista do Recife 151 152 Igreja dos Milagres ∙ I|4 Igreja e Mosteiro de Nossa Senhora do Monte ∙ A|12 153 154 À esquerda, acima, Igreja de Nossa Senhora de Guadalupe ∙ A|9. À esquerda, abaixo, Igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos de Olinda ∙ A|10 À direita, sino da Igreja de Nossa Senhora da Boa Hora ∙ D|7 Igreja e Mosteiro de Nossa Senhora do Monte ∙ A|12 155 156 Passo da Ribeira ∙ E|8 e, ao longe, Catedral da Sé - Igreja de São Salvador do Mundo ∙ F|11 Acima, à esquerda, Catedral da Sé ∙ F|11, vista do Seminário de Olinda ∙ F|12. Acima, à direita, Igreja e Convento de Nossa Senhora da Conceição ∙ C|10 Abaixo, à esquerda, Igreja de N. Sa. das Neves e Convento de São Francisco ∙ G|12, vistos do Seminário de Olinda ∙ F|12. Abaixo, à direita, Igreja e Mosteiro de São Bento ∙ H|6 157 158 Acima, à esquerda, Convento de Nossa Senhora da Conceição ∙ C|10. Acima, à direita, Igreja de Nossa Senhora de Guadalupe ∙ A|9. Abaixo, à esquerda, Igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos de Olinda ∙ A|10. Abaixo, à direita, imagem de Nossa Senhora, Igreja dos Milagres ∙ I|4 Beco das Cortesias ∙ D|8 159 160 Palácio dos Governadores, atual Prefeitura Municipal de Olinda, Rua de São Bento ∙ F|7 Cláudia Ribeiro Nigro Socióloga, coordenadora de planejamento da Sodeca – Sociedade Olindense de Defesa da Cidade Alta. Sociologist, planning coordinator of the Society for the Defense of the Upper Town of Olinda. Sociologue, coordinatrice de la planification de la Sodeca – Sociedade Olindense de Defesa da Cidade Alta. Papai era músico, poeta, boêmio e tocava vários instrumentos. Ele fez não só o Hino do Elefante, como o da Pitombeira, e várias músicas desses blocos antigos. Mãe também era uma carnavalesca. My father was a musician, a poet, a bohemian. He played lots of instruments, and he didn’t just write the carnival music for the Elefante parade, but also for Pitombeira. He wrote lots of songs for those old-time carnival parades. My mother also worked designing carnival parades. Mon père était musicien, poète, bohème. Il jouait plusieurs instruments et il a composé non seulement l´Hymne de l´Eléphant, comme celui de la Pitombeira et plusieurs autres musiques de vieux orchestres traditionnels. Ma mère aussi était une passionnée du Carnaval. In our family, we all love Olinda. We fight for this town. We really can’t put into words what this love feels like... Chez nous, on adore Olinda, on lutte pour cette ville, tout cet amour… on ne sait même pas comment le décrire… Nós aqui em casa adoramos Olinda, a gente luta por essa cidade, a gente não sabe nem explicar que amor é esse... Acima, à esquerda, Largo do Amparo ∙ D|9. Acima, à direita, Rua de São Bento ∙ F|7. Abaixo, à direita, Quatro Cantos ∙ E|8 161 162 Página ao lado, Igreja do Convento de Santo Antônio do Carmo ∙ H|8, vista do Alto da Sé. Abaixo, vista de Olinda e do Recife a partir do Alto da Sé ∙ F|11 Alcione Sá Leitão da 163 Silva Comerciante de artesanato do Alto da Sé. Esse visual é maravilhoso, aqui no fundo a gente tem o sítio e do outro lado o mar, é maravilhoso. Craft seller on Alto da Sé. This view is wonderful. Here behind us is the site, and on the other side is the sea. It’s wonderful. Commerçante et artisanne de l´Alto da Sé. Cet endroit est merveilleux, on a au fond le site et de l´autre côté la mer, c´est merveilleux. 164 Rua Bernardo Vieira de Melo ∙ E|8, vista da Ladeira da Misericórdia ∙ D|9 Eduardo Layme Dantas Maestro Duda de Olinda. A cidade tem em si um nome, é um patrimônio da humanidade e esses Quatro Cantos aqui significam muito para esta cidade. Consequentemente, nós estamos muito bem num local que faz muito bem aos músicos e até à cidade propriamente dita. The town is an expression of its name. It’s the heritage of mankind and this carnival parade meeting point here, Quatro Cantos, means a lot to this town. So we’re doing very well at a place that does a lot for its musicians and even for the town itself. La ville est un nom en soi, un patrimoine de l´humanité, et ces Quatro Cantos ici signifient beaucoup de choses pour cette cité. Ainsi, nous vivons très bien dans ce lieu qui fait beaucoup de bien aux musiciens et à la ville proprement dite. 165 166 Rua Prudente de Morais ∙ F|8. Rua do Amparo, vista da Rua Saldanha Marinho ∙ C|9. Rua Bernardo Vieira de Melo ∙ E|8, vista da Ladeira da Misericórdia ∙ D|9. Página ao lado, ruinas na Rua de São Francisco ∙ H|10 167 168 169 170 Página ao lado, Observatório do Largo da Sé ∙ E|10. Abaixo, Museu de Arte Sacra de Pernambuco, antigo Palácio dos Bispos de Olinda ∙ E|10 Dulce Helena do Nascimento Tapioqueira do Alto da Sé Minha mãe se chama Lúcia Rosa do Nascimento, conhecida como Tia Lu, é a primeira tapioqueira do Alto da Sé, está aqui há mais de 50 anos. Fui criada aqui no Alto da Sé, fazendo tapioca com ela. Tapioca, só no Alto da Sé! Tapioca maker from Alto da Sé My mother is called Lúcia Rosa do Nascimento, but everyone calls her Tia (“Auntie”) Lu. She was the first tapioca maker on Alto da Sé. She’s been here for over fifty years. I was brought up here on Alto da Sé, making tapioca with her. The only tapioca worth having is here at Alto da Sé! Tapioqueira do Alto da Sé Ma mère s´appelait Lúcia Rosa do Nascimento, connue comme Tia Lu, première tapioqueira de l´Alto da Sé, cela fait plus de 50 ans. J´ai été élevée ici à l´Alto da Sé en faisant des tapiocas avec elle. Tapioca? Seulement ici, à l´Alto da Sé! 171 172 À esquerda, Rua Coronel Joaquim Cavalcanti, esquina com Rua do Amparo ∙ B|9. À direita, em primeiro plano, Rua do Amparo ∙ B|9 e, ao fundo, Igreja de São João Batista dos Militares ∙ A|9, vistas do adro da Igreja de Nossa Senhora do Amparo ∙ B|9 Praça do Carmo ∙ H|9. Rua Prudente de Morais ∙ F|8. Avenida Sigismundo Gonçalves ∙ I|9 173 174 175 176 Em primeiro plano, Rua 15 de Novembro, Igreja de São Sebastião ∙ G|5, em segundo plano, Igreja de N. Sa. do Destino e Convento de Santa Tereza ∙ E|I e, ao fundo, o Recife Olinda e Recife 177 Carlos Eugênio Trevi Administrador de empresas, morador de Olinda desde 2001. Manager, resident of Olinda since 2001. Administrateur, habitant de Olinda depuis 2001. Eu acho muito mais charmoso você ter uma casa dentro de um sitio histórico, acho importante você morar num local que você tem certeza absoluta de que daqui a dez , vinte, trinta anos não vão construir um prédio na frente da sua casa ou um posto de gasolina do lado. Acho isso um privilégio. I think it’s far pleasanter for you to have a house inside a historical site. I think it’s important to live somewhere where you’re absolutely sure that in ten, twenty, thirty years’ time they won’t erect a high-rise building opposite your house or a gas station next- Je trouve bien plus charmant d´avoir une maison dans un site historique, c´est important de vivre dans un lieu où vous êtes sûr que d´ici dix, vingt, trente ans on ne va pas vous construire un immeuble en face, ou une station d´essence sur le côté. C´est un privilège. door. I think that’s a real privilege. 178 Casario da Ladeira da Misericórdia ∙ D|9, visto do Mercado da Ribeira ∙ E|8 Vera Milet Arquiteta e urbanista, moradora de Olinda desde 1972. Architect and town planner, resident of Olinda since 1972. Architecte et urbaniste, habitante de Olinda depuis 1972. No meu entendimento, é necessário que a ideia de educação patrimonial seja amplamente adotada. Ela deve atuar tanto na conscientização e treinamento de técnicos e gestores, como também em escolas, associações de moradores, de comerciantes, e outros canais ou esferas de educação e comunicação. É necessário que seja divulgada a ideia de responsabilidade compartilhada, e que todos se sintam comprometidos com a causa patrimonial. As I see it, the idea of heritage education must be adopted across the board. It should be part of the awareness-raising and training courses for civil servants and public administrators, and also in schools, residents’ associations, trade associations, and other channels or spheres of education and communication. We must spread the idea of shared responsibility, so that everyone feels engaged in the heritage cause. Je pense qu´il est nécessaire que l´idée d´éducation patrimoniale soit amplement adoptée. Elle doit agir tant sur la formation de conscience de techniciens et gestionnaires, comme dans les écoles, les associations d´habitants, de commerçants ainsi que dans d´autres secteurs ou sphères d´éducation et communication.. Il est nécessaire que l´idée de responsabilité partagée soit divulguée, et que tous se sentent engagés dans la cause patrimoniale. Vista do Alto da Ladeira da Misericórdia ∙ D|9 179 180 Acima, Igreja de Nossa Senhora da Graça e Seminário de Olinda ∙ F|12 e Igreja de Nossa Senhora das Neves e Convento de São Francisco ∙ G|12. Abaixo, Catedral da Sé - Igreja de São Salvador do Mundo ∙ F|10. Página ao lado, Rua São João, Igreja e Rua do Amparo e Rua Saldanha Marinho ∙ B|9 181 182 À esquerda, acima, Rua do Amparo ∙ C|9. À esquerda, abaixo, Rua de São Bento ∙ G|6. À direita, Rua Bernardo Vieira de Melo ∙ E|8 Sílvio Botelho Artesão e artista plástico, criador de uma centena de bonecos gigantes. Olindense por nascimento e morador da cidade. Craftsman and artist, creator of over a hundred giant carnival figures. Born and resident in Olinda. Artisan d´arts plastiques, créateur de centaine de poupées géantes. Olindense de naissance et habitant de la ville. Eu ainda não me acostumei com a ideia e a certeza de que Olinda é patrimônio cultural da humanidade porque tudo pra mim é novidade, é beleza e encantamento. Ainda consigo me encantar com os mínimos detalhes da beleza que é morar em Olinda e ter nascido aqui. Olinda deixa esse sentimento de felicidade em quem mora nela. I still haven’t got used to the idea and the certainty that Olinda is cultural heritage of mankind, because I see everything as new, beautiful and delightful. The slightest detail of beauty can still enrapture me, which is what it means to live in Olinda and be born here. Olinda really makes the people who live here feel happy. Je ne me suis pas encore habitué à l´idée ni très sûr sur le fait qu´Olinda est patrimoine culturel de l´humanité parce que pour moi tout est nouveauté, beauté et enchantement. J´arrive encore à m´enchanter sur les plus petits détails de la beauté d´habiter Olinda et d´être né ici. Olinda remplit qui y habite de ce sentiment de bonheur. Rua da Boa Hora ∙ E|7. Rua do Bonfim ∙ E|9. Ladeira da Misericórdia ∙ D|9 183 184 185 186 187 188 À esquerda, Rua de São Bento ∙ E|8. À direita, Rua Bernardo Vieira de Melo ∙ E|8. Abaixo, cadeiras na calçada 189 Maria Luisa Mendes Lins Isa do Amparo Artista plástica, moradora de Olinda desde 1981. Vim para Olinda pela mesma opinião de todos que vieram pra cá e ficaram: a liberdade da cidade, ela deixa você à vontade, você aqui se sente tolerado em suas diferenças, nos seus credos, em suas ideologias. Olinda é uma grande casa, a rua é um corredor e cada casa é um cômodo porque a gente convive com o vizinho da frente, dos lados, pela frente, pelos fundos, pelos quintais, então ela é uma comunidade por isso. Artist, resident of Olinda since 1981. Artiste d´arts plastiques, habitante de Olinda depuis 1981. I came to Olinda for the same reason as everyone that comes here and stays: the sense of freedom the town has. It makes you feel comfortable. Here, your feel that your differences, your beliefs, your ideologies are tolerated. Olinda is like a big house: the street is a hallway, and each house is a room, because we spend time with our next-door neighbors, our neighbors across the road, round the back, across the gardens, so all of this makes it a community. Je suis venue habiter à Olinda pour la même raison que les autres qui sont arrivés et sont restés : la liberté de la ville. Elle vous rend à l´aise, vous vous sentez acceptés dans vos différences, croyances, idéologies. Olinda est une grande maison, la rue, un couloir et chaque maison, une chambre parce que l´on vit avec le voisin d´en face, d´à côté, de l’arrière-cours et ces jardins au fond, pour cela, c´est une communauté. 190 Rua de São Bento ∙ D|9 À esquerda, Mercado da Ribeira ∙ E|8 e, abaixo, casa na Rua de São Bento. À direita, Rua 27 de Janeiro ∙ G|7, casarão Herman Lundgren na Av. da Liberdade ∙ G|9 e Quatro Cantos ∙ D|8 191 192 Cine Olinda ∙ I|9. Pastor evangélico gravando programa de televisão na Praça dos Milagres ∙ I|4 Seu Biu do Doce, Praça de João Alfredo ∙ G|8 193 César Santos Chef do restaurante Oficina do Sabor, comerciante em Olinda desde 1991. Chef at Oficina do Sabor, tradesman in Olinda since 1991. Chef du Restaurant Oficina do Sabor, commerçant de Olinda depuis 1991. Eu não vejo o Oficina do Sabor fora daqui. Eu acho que esse restaurante foi criado dentro de Olinda, por conta da sua comida, das cores, da valorização dos seus artistas que a gente expõe no restaurante, que virou uma referência gastronômica dentro e fora do Estado e fora do Brasil. I can’t imagine Oficina do Sabor being anywhere else but here. I think this restaurant was created inside Olinda because of its food, its colors, the value it gives to the local artists we exhibit in the restaurant. It’s become a gastronomic point of reference inside and outside the state, outside Brazil. Je ne vois pas l´Oficina do Sabor en dehors d´ici. Je pense que ce restaurant a été créé dans Olinda à cause de sa nourriture, des couleurs, de la valorisation de ses artistes dont nous exposons les œuvres au restaurant. C´est devenu une référence gastronomique à l´intérieur et en dehors de l´état, en dehors du Brésil. 194 Quatro Cantos ∙ E|8 Bar na Rua da Boa Hora ∙ E|7. Loja Azul nos Quatro Cantos ∙ E|8 195 196 Acima, detalha de Rua Prudente de Morais ∙ G|8. Abaixo, muxarabi da Praça João Alfredo ∙ G|8 Jodecilda Airola da Silva Dona Dá, Há 26 anos, ela confere um troféu às agremiações carnavalescas que desfilam pela Rua da Boa Hora. Gosto de tudo nessa cidade e Olinda é um eterno carnaval pra mim, apesar de que não é como era antigamente, porque antes respeitavam mais as pessoas, as agremiações. Mas eu adoro esta cidade. Since 1985, Dona Dá has awarded a trophy to the carnival groups that parade down Rua da Boa Hora. I like everything about this town. Olinda is an eternal carnival for me, even though it isn’t like it was in the olden days, because then people had more respect for each other, for the carnival parades. But I love this town. Depuis 1985, Dona Dá confère un trophée aux groupes du Carnaval qui défilent dans la Rue da Boa Hora. Moi, j´aime tout de cette ville et Olinda est pour moi, un carnaval permanent, même si, ce n´est plus comme autrefois, quand les personnes, les groupes étaient plus respectés. Mais, j´adore cette ville. Ladeira da Misericórdia ∙ D|9 197 198 199 200 201 202 Major José Antônio da Silva Atual comandante da Companhia de Apoio ao Turista, da Polícia Militar de Pernambuco. Filho O que tem de diferença em relação à cidade é a importância que ela tem para o país. Olinda tem um contexto histórico magnífico e é importante para a nossa história; nós estamos vivendo essa história hoje, não estamos vivendo no passado, estamos vivendo no presente. Captain of the tourism brigade run by the Pernambuco Military Police Force. What makes this town so special is its importance to the country. Olinda has an incredible history and it’s important for our history; we’re experiencing this history today. We’re not living in the past, we’re living in the present. Actuel commandant de la Compagnie d´appui au touriste, de la Police Militaire de Pernambouc. Ce qu´il y a de différent dans cette ville c´est l´importance qu´elle a pour le pays. Olinda a un contexte historique magnifique, important pour notre histoire et cette histoire, nous la vivons aujourd´hui, non au passé, mais au présent. Museu do Mamulengo ∙ F|7 203 206 Igreja de Nossa Senhora do Desterro e Convento de Santa Tereza ∙ E|1 207 Terminou-se de imprimir este livro em 2011. 30 anos após o registro fotográfico das imagens em preto e branco que nele se encontram. Os cadernos preto e branco foram impressos em duotone, os demais em cmyk, tudo em papel couché 150g produzido pela Suzano Papel e Celulose. Em seu projeto foram utilizadas as fontes News Gothic e pf monumenta pro, desenhadas por Franklin Gothic e Panos Vassiliou, respectivamente. Foram impressos 2 mil exemplares. Olinda foi sempre, como para responder a uma misteriosa vocação, uma cidade de poetas, pintores, escultores, ceramistas, uma cidade de música e dança, em um cenário natural tão suntuoso que não sabemos se é preciso descrevê-la como um conjunto arquitetônico ornamentado de jardins ou como um parque tropical decorado de monumentos. As though in fulfillment of some mysterious vocation, Olinda has always been a town of poets, painters, sculptors and ceramists, a town of music and dancing, in a natural setting so magnificent that one does not know whether to describe it as an architectural ensemble embellished with gardens, or as a tropical park graced with monuments. Comme si c´était pour répondre à une mistérieuse vocation, Olinda a toujours été la cité des poètes, peintres, sculpteurs, céramistes, une cité de musique et de danse, dans un scénario naturel si somptueux que nous ne savons pas si nous devons la décrire comme un ensemble architectural ornée de jardins ou comme un parque tropical décoré de monuments. Amadou-Mahtar M’Bow Patrocínio Realização