A CRIANÇA E O PROCESSO DE HOSPITALIZAÇÃO:
OS DESAFIOS PROMOVIDOS PELA SITUAÇÃO DA DOENÇA
MENÇA, Viviane Bayer 1,
SOUSA, Sandra Sales Paula Silva2
¹Graduanda
do
Curso
de
Psicologia
da
Faculdade
Dom
Bosco.
[email protected]
²Psicóloga, Mestre em Psicologia Social e da Personalidade (UFRJ/ FGV) e
docente do Curso de Psicologia da Faculdade Dom Bosco.
[email protected]
RESUMO
A infância é a fase em que o indivíduo inicia a construção de sua relação
com o próprio corpo e com o mundo externo, por meio de vivências pessoais,
familiares e sociais. Entretanto, em caso de hospitalização, as privações e
restrições impostas às crianças podem provocar grande sofrimento psíquico. O
principal objetivo deste artigo é identificar e apresentar pesquisas que abordem
temáticas relacionadas à vivência e aos desafios da criança hospitalizada e
caracterizar a prática de cuidados dispensados as mesmas. Foram realizadas
consultas a artigos indexados nas bases de dados: Data Mining, ISI, Medline,
Pubmed e Scielo. A hospitalização infantil constitui-se em um fenômeno
complexo, devendo ser compreendida em sua totalidade e considerar o
desenvolvimento integral desses pacientes.
Palavras-chave: Hospitalização infantil, adoecimento, hospital pediátrico,
psicologia.
ABSTRACT
Childhood is the stage at which individuals begin building their interaction
with their own body and the outside world, through personal, family and social
experiences. However, in case of hospitalization, privation and restriction
imposed to children can cause great psychological distress. The main objective
of this paper is to identify and to present research results that address issues
related to the experience and challenges of hospitalized children and to
characterize the care given to them. Articles indexed in: Data Mining, ISI,
Medline, Pubmed and SciELO were consulted. Children hospitalization
constitutes a complex phenomenon that should be understood in its entirety and
considered during the integral development of these patients.
Keywords:
Children hospitalization, illness, pediatric hospital, psychology.
1. INTRODUÇÃO
O presente artigo objetiva apresentar pesquisas que abordem temáticas
relacionadas à vivência da criança hospitalizada, tais como sua rotina
hospitalar e o processo de adaptação à nova realidade, a fim de caracterizar a
prática de cuidados dispensados às mesmas. Para tanto, foram realizadas
consultas a artigos indexados em bases de dados como Data Mining, ISI,
Medline, Pubmed e Scielo, com o intuito de identificar os conhecimentos
disponíveis na área e fornecer subsídios para o atendimento da criança
hospitalizada.
A infância é um período muito importante na vida de qualquer indivíduo.
É nesta fase que o indivíduo constrói sua relação com o próprio corpo e com o
mundo externo por meio de suas vivências pessoais, familiares e sociais. É
uma fase marcada pelas atividades físicas intensas, sendo que estas são
necessárias para que a criança possa explorar e conhecer o ambiente a sua
volta e assim, consequentemente, crescer e aprimorar seu conhecimento sobre
o mundo. Todavia, no decorrer de seu desenvolvimento, as crianças também
podem vivenciar períodos de doenças, o que muitas vezes pode ocasionar a
hospitalização (OLIVEIRA, 2009).
Para a compreensão do processo saúde-doença torna-se indispensável
o entendimento de saúde e qualidade de vida. A Organização Mundial de
Saúde (OMS) conceitua saúde como sendo um estado de completo bem-estar
físico, mental e social. Já a qualidade de vida é compreendida como sendo a
percepção do indivíduo de sua posição na vida, no contexto da cultura e
sistema de valores nos quais ele vive em relação a seus objetivos, suas
expectativas, seus padrões e suas preocupações (CALVETT, 2008).
De acordo com Collet, Oliveira e Viera (2002), o hospital é uma
instituição de atendimento à saúde que tem uma finalidade específica e exige
dos profissionais uma atuação junto aos que precisam de assistência no
processo diagnóstico-terapêutico. Considerando o aspecto histórico, verifica-se
que o hospital foi concebido como instrumento terapêutico no final do século
XVIII, porém a consciência de que o hospital era um instrumento destinado a
curar apareceu apenas em torno de 1780 (FOUCALT, 1992). Anteriormente a
isso, Mendonça (2009) relata que o hospital era o local dos doentes,
moribundos e inválidos. No entanto, com o avanço da cientificidade médica, o
hospital passa a ser visto como dispositivo de cuidado médico.
Calvett (2008) afirma que o estudo da pediatria surgiu na última metade
dos anos 1800, principalmente sob a influência do médico Abraham Jacobi
(1830-1919),
que
é
considerado
o Pai
da
Pediatria. Abraham
Jacobi
desenvolveu novas pesquisas na investigação científica e clínica das doenças
da infância, onde promoveu diversas perspectivas de como auxiliar a criança
no processo saúde-doença. Collet, Oliveira e Viera (2002) afirmam que essas
perspectivas influenciaram a visão dos profissionais sobre o ser criança, o
papel da família, a abrangência da assistência, a composição e o interrelacionamento da equipe de saúde.
Costa Junior, Coutinho e Ferreira (2006) apontam que o hospital
pediátrico já foi historicamente visto como um ambiente potencialmente
adverso e restritivo ao desenvolvimento humano. As diretrizes de atendimento
hospitalar eram baseadas nos modelos biomédicos de saúde, que enfatizavam
apenas o tratamento e a cura de doenças, desconsiderando a atenção integral
às crianças e adolescentes e a manutenção de comportamentos de saúde. A
criança hospitalizada era vista como um adulto, sem condições diferenciadas
em sua assistência. Dessa maneira, o enfrentamento de situações que não
contemplavam
as
necessidades
mínimas
do
desenvolvimento
infantil,
promoviam comportamentos de rejeição à terapêutica prescrita pelos
profissionais, comportamentos agressivos e dificuldades de socialização com
as demais crianças e membros da equipe de saúde.
Por conseguinte, Castro (2007) afirma que a Psicologia Pediátrica
emergiu do reconhecimento da importância dos aspectos psicológicos para os
problemas da saúde infantil, assim como da constatação da necessidade do
conhecimento do desenvolvimento infantil e da preocupação em realizar
intervenções breves e eficazes com as crianças. O termo Psicologia Pediátrica
surgiu em 1968, quando profissionais interessados no cuidado da saúde de
crianças, adolescentes e suas famílias, passaram a realizar uma avaliação e
intervenção diferenciada. Desde então, essa área tem crescido e se ampliado.
A definição atual de Psicologia Pediátrica se refere à aplicação dos
conhecimentos da Psicologia da Saúde para a criança, o adolescente e suas
famílias, contemplando o atendimento clínico, a pesquisa e o ensino.
2.
VIVÊNCIA
E
DESAFIOS
EXPERIMENTADOS
PELA
CRIANÇA
HOSPITALIZADA
Quando um indivíduo está hospitalizado, existe uma interrupção do seu
ambiente habitual, alterando seus costumes, hábitos e sua capacidade de
autorrealização e de cuidado pessoal (LÓPEZ, 1998). Frequentemente os
pacientes são submetidos às condutas terapêuticas, tais como visitas, exames
médicos, uso de medicamentos, rotinas rígidas de horários de alimentação,
repouso e impossibilidade de locomoção (BARROS, 2009).
Para a criança, a doença é um acontecimento inesperado e indesejável,
onde todos os costumes próprios da infância tornam-se algo distante devido às
restrições que a doença e o tratamento impõem (CARDOSO, 2007). Todas
essas mudanças causam impacto na vida da criança e podem modificar seu
comportamento durante e depois da internação. (OLIVEIRA, 2009).
O adoecimento e a hospitalização trazem para a criança vivências novas
e muitas vezes ameaçadoras. A doença coloca a criança e sua família diante
da condição de finitude humana, na qual o temor à morte é intensificado em
decorrência da situação de enfermidade que o paciente se encontra (LEPRI,
2008). Sendo assim, Angerami (2006) afirma que o hospital é uma instituição
marcada pela luta constante entre a vida e a morte, possibilitando a cura,
minimização ou suspensão do sofrimento.
Dessa forma, Sanchez (2011) afirma que o ambiente hospitalar pode se
tornar estressante, interferindo no estado psicológico da criança. Durante a
internação hospitalar, a criança pode apresentar sofrimento psíquico, através
da palavra, do comportamento e de reações emocionais, que muitas vezes são
diferentes do habitual. As diferentes causas do estresse podem estar
relacionadas ao medo da dor, das agulhas, exames e o receio de ser afastado
dos familiares. É importante ressaltar que a falta de estratégias de
enfrentamento para esta situação e o esquema de funcionamento estabelecido
pelo ambiente hospitalar, podem contribuir para o surgimento de sentimentos
de ansiedade e sintomas depressivos.
Sanchez (2011) afirma que a depressão pode se manifestar através de
problemas somáticos e alterações de comportamento. De acordo com a
Associação Psiquiátrica Americana, os sintomas básicos de um Episódio
Depressivo Maior são os mesmos para crianças e adolescentes. Na depressão
infantil o diagnóstico pode ser realizado de acordo com os mesmos critérios
utilizados na depressão adulta. Para um diagnóstico de Episódio Depressivo
Maior é necessário que o indivíduo apresente durante ao menos duas
semanas, cinco ou mais dos seguintes sintomas: humor deprimido; falta de
interesse e prazer nas atividades; perda ou ganho de peso; alterações no sono;
agitação ou retardo psicomotor; fadiga ou perda de energia; sentimentos de
inutilidade e culpa; indecisão e dificuldades de concentração; suicídio e
tentativa de suicídio.
O hospital é um ambiente que inspira receios e tristeza, sendo inevitável
encontrar crianças com sintomas depressivos em virtude da hospitalização. A
hospitalização e a doença interagem na vivência da criança, sendo necessário
desenvolver intervenções preventivas para minimizar as consequências
provenientes da doença orgânica, as quais dificultam o tratamento e a adesão
aos procedimentos necessários para sua recuperação.
Desse modo, Oliveira, Dantas e Fonseca (2004) relatam que informar as
crianças dos seus direitos, enquanto hospitalizadas, suscita um maior
entendimento e pode aliviar alguns dos sentimentos de impotência que elas
tipicamente experimentam. Os hospitais que fornecem serviços de pediatria
devem ter uma política hospitalar ampla sobre os direitos e responsabilidades
dos pacientes e de seus responsáveis, inclusive no que compete ao
acompanhamento de um adulto à criança hospitalizada.
No Brasil, a preocupação com a permanência dos pais no hospital
tornou-se mais efetiva após a promulgação da Lei nº. 8.069, de 13 de julho de
1990, regulamentando o Estatuto da Criança e do Adolescente e dispondo em
seu Artigo 12: “os estabelecimentos de atendimento à saúde deverão
proporcionar condições para a permanência em tempo integral de um dos pais
ou responsáveis, nos casos de internação de criança ou adolescente”.
(BRASIL, 1991).
A participação dos pais no ambiente hospitalar e sua permanência com
os filhos durante a hospitalização têm papel preponderante no processo de
cuidado da criança que sentirá maior segurança ao estar acompanhada neste
momento diferenciado. A família pode auxiliar na observação da criança em
diferentes situações e por mais tempo que o profissional que a acompanha. Os
pais exercem papel fundamental no contexto da hospitalização infantil, na
medida em que representam a referência fundamental da criança, enquanto
mediadores da relação terapêutica, fonte principal de segurança e de carinho,
além de apoio imprescindível ao enfrentamento desta situação desafiadora que
é a doença e a internação.
2.1 O BRINCAR NO CONTEXTO HOSPITALAR
De acordo com Sanchez (2011), a intervenção psicológica juntamente
com o brincar são estratégias que promovem um ambiente preventivo de
comportamentos de depressão, auxiliando a criança a enfrentar suas
dificuldades. Carvalho (2006) aponta que todas as instituições voltadas para
cuidados com a criança devem ser reconhecidas como espaços de
desenvolvimento integral, a fim de contemplar uma equipe de profissionais
especializados e conscientes das necessidades globais destes pacientes.
Dessa maneira, Motta (2004) afirma que entre as possíveis estratégias
utilizadas por crianças para enfrentar as condições estressantes está o brincar,
recurso utilizado tanto pela criança, como pelos profissionais do hospital para
lidarem com as particularidades da hospitalização. A importância do brincar no
contexto hospitalar ganhou relevância social especialmente a partir do trabalho
do médico Patch Adams (1999), nos Estados Unidos da América. Esta temática
vem ocupando um espaço significativo no estudo da hospitalização infantil,
trazendo
questões
relacionadas
à
sua
importância
no
processo
de
humanização hospitalar. Sendo assim, torna-se importante a inserção do
psicólogo nas enfermarias de pediatria, no sentido de desenvolver atividades
lúdicas para que a criança experimente sua nova forma de ser ou estar, a fim
de fortalecer sua autoestima e autoconceito, criando oportunidades de retorno
ao equilíbrio psíquico.
O reconhecimento da relevância do brincar no contexto hospitalar veio a
instituir a Lei
Federal nº 11.104 de 21 de março de 2005, que
prevê a
obrigatoriedade de instalação de brinquedotecas nas unidades de saúde que
ofereçam atendimento pediátrico em regime de internação. De acordo com o
Art. 2º, considera-se brinquedoteca, para os efeitos desta Lei, o espaço provido
de brinquedos e jogos educativos, destinados a estimular o brincar nas
crianças e seus acompanhantes. Verifica-se que o enfrentamento das
consequências psicológicas da doença é favorecido com a utilização do lúdico,
contemplando a abordagem em grupo, a fim de integrar as crianças e seus
familiares e proporcionar momentos de satisfação e de reorganização das
experiências (AZEVEDO, 2011).
O brincar, para a criança tem importância tanto para o seu
desenvolvimento sensório-motor e intelectual como para o processo de
socialização e aperfeiçoamento da autoconsciência e da criatividade.
O
brincar também é uma forma eficaz de diminuir o estresse, pois nele a criança
estimula sua criatividade, explora seus limites e expressa suas emoções
(COLLET; OLIVEIRA, 2002). É brincando que a criança desenvolve o equilíbrio
das emoções vividas, da necessidade de conhecer e reinventar a realidade,
desenvolvendo a atenção, concentração e outras habilidades (PAULA;
FOLTRAN, 2007).
2.2 A CLASSE HOSPITALAR COMO MODALIDADE DE ENSINO EM
EDUCAÇÃO ESPECIAL
Com o intuito de evitar a interrupção da escolaridade das crianças
hospitalizadas, o Ministério da Educação, por intermédio da Secretaria
Nacional de Educação Especial, prevê o atendimento educacional em classes
hospitalares (OLIVEIRA; FILHO; GONÇALVES, 2008). A formulação da Política
Nacional de Educação Especial (MEC/SEESP, 1994 e 1995) propõe que a
educação em hospital seja realizada através da organização de classes
hospitalares, devendo-se assegurar oferta educacional não só às crianças com
transtornos do desenvolvimento, mas também às crianças e adolescentes em
situações de risco, como é o caso da internação hospitalar (FONSECA, 1999).
A classe hospitalar tem por objetivo recuperar a socialização da criança
por um processo de inclusão, dando continuidade a sua aprendizagem. A
criação de classes escolares em hospitais é resultado do reconhecimento
formal de que crianças hospitalizadas, independentemente do período de
permanência na instituição ou de outro fator qualquer, têm necessidades
educativas e direitos de cidadania, onde se inclui a escolarização.
O médico francês Henry Wallon (1879 – 1962), um dos pioneiros da
psicologia infantil, dizia que “aprender alivia a dor infantil e, se alivia a dor
infantil o educador tem algo a fazer onde há crianças sofrendo por questões de
saúde" (MATA, 1997).
Sendo assim, o professor que trabalha na classe hospitalar é um
profissional que tem formação de educador e por meio de atividades
pedagógicas pode fazer um elo entre a realidade hospitalar e a vida cotidiana
da criança internada. O professor pode avaliar, acompanhar e intervir no
processo de aprendizagem da criança, além de oferecer informações para a
compreensão do processo de elaboração da doença e da morte, explicando
procedimentos médicos e auxiliando na adaptação ao hospital (MEDEIROS;
GABARDO, 2005).
2.3. A MORTE DA CRIANÇA HOSPITALIZADA E O LUTO FAMILIAR
A morte, como cessação definitiva da vida, faz parte do desenvolvimento
do ser humano e é algo biologicamente natural, embora vivida socialmente.
Falar sobre a morte implica lidar com sentimentos de tristeza, pela constatação
da nossa finitude e pelo medo do desconhecido (KOVACS, 1992).
A maneira como a morte é compreendida é dinâmica ao longo do
desenvolvimento humano. Desde a infância, as pessoas têm contato com
perdas, mas é na velhice que sua possibilidade parece ser mais considerada,
uma vez que tal etapa é encarada como última no ciclo de desenvolvimento
humano. Assim, a morte de uma criança é percebida como uma interrupção
precoce no ciclo da vida, provocando, naqueles que ficam, sentimentos de
fracasso e frustração e tornando a superação da perda uma tarefa difícil.
(BITTENCOURT, 2011).
A morte de um filho é um processo biopsicossocial e frequentemente
provoca um luto patológico. Sua compreensão requer a reconstrução de uma
nova realidade para a família, onde as anteriores expectativas em relação à
criança foram inesperadamente desfeitas. O luto parental costuma tomar
proporções de sofrimento tão intensas, afetando, além do próprio indivíduo, o
seu relacionamento com o parceiro e também com a dimensão social
(BITTENCOURT, 2011).
Segundo Papalia (2009), o luto consiste em uma resposta emocional
vivenciada nos primeiros estágios da perda. Para Kubler Ross (2005), há cinco
estágios pelos quais as pessoas passam ao lidar com a perda, denominados:
negação, raiva, barganha, depressão e aceitação. É importante ressaltar que
nem todos passam pelos estágios dentro dessa ordem e nem todos completam
o processo. O tempo de permanência em cada estágio dependerá de diversos
fatores como estrutura de personalidade, apoio familiar, apoio social, tipo de
cultura, idade e forma de comunicação do diagnóstico.
Para Kovács (1992), o processo de luto só estará finalizado quando
existir "a presença da pessoa perdida internamente em paz", havendo "um
espaço disponível para outras relações", sendo, portanto, necessário um tempo
para vivenciar o luto, e não para negá-lo. Vivenciar o sentimento de perda é
importante para que se possa externalizar a dor, o que proporciona as
condições necessárias para uma boa elaboração do luto e possibilita a
retomada da vida, ao lado das lembranças boas.
Bolze e Castoldi (2005) complementam que o luto não inicia com a
morte e, especialmente no caso das crianças hospitalizadas, ele já estará
sendo experienciado a partir da qualidade das relações familiares existentes
antes, pela qualidade dos vínculos estabelecidos e, também, influenciado por
condições atuantes mais próximas à morte propriamente dita. O luto, mesmo
quando considerado normal, não significa que não seja sofrido ou que não exija
um grande esforço de adaptação às novas condições de vida, tanto por parte
de cada um dos indivíduos afetados, quanto no sistema familiar, que também
sofre impacto em seu funcionamento e em sua identidade.
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
A partir do trabalho de pesquisa desenvolvido, verifica-se que os
desafios trazidos pela hospitalização infantil são múltiplos. A hospitalização
infantil pode alterar significativamente o desenvolvimento infantil, sendo que
está diretamente ligada à retirada do convívio familiar, ao afastamento dos
amigos, à privação da vida escolar e do ato de brincar e substituída por
situações ameaçadoras e dolorosas. Por outro lado, a hospitalização também
traz consigo inúmeras possibilidades, como a da cura e suspensão da dor
através de procedimentos médicos e rotinas terapêuticas adotadas no hospital.
Entretanto, a morte também pode estar presente no dia a dia das unidades de
internação.
Apesar de a morte ser um aspecto inerente à nossa condição humana,
esta possibilidade parece ser mais dolorosa quando se estende à população
infantil. Admitir a morte de uma criança parece retirar a esperança, colocandonos diante do fim prematuro de uma existência. Dessa maneira, torna-se
evidente a necessidade de cuidado também ao cuidador, seja este o
profissional ou o familiar que acompanha esse desfecho.
Concluindo, nota-se que a hospitalização infantil constitui-se em um
fenômeno complexo, com implicações profundas, que deve ser compreendido
em sua totalidade, pois compreende um leque de variáveis a serem
consideradas. Tendo em vista o reconhecimento destas implicações, torna-se
indispensável considerar a integralidade do cuidado à criança, para que o
paciente não seja visto como portador de uma doença, mas como um ser
humano provido de necessidades, expectativas e sentimentos.
A promoção do envolvimento das famílias nos cuidados da criança
enferma e a garantia do direito de ter a presença de um acompanhante durante
todo o tempo de sua internação é um grande avanço em termos da
humanização do atendimento à criança. Verifica-se que a família pode ser
grande fonte de segurança para o paciente infantil, por ser a instituição primária
na qual se processam as relações interpessoais e afetivas, ou seja, tanto a
família faz parte da vida dos filhos, como os filhos fazem parte da família. No
contexto hospitalar, a família assume novos papéis, tais como informantes,
auxiliares de tratamento e acompanhantes na experiência da hospitalização. A
interação entre a família e a equipe é necessária para que a hospitalização
infantil resulte em esforço conjunto, para manter a vida da criança, superando
suas dificuldades cotidianas.
A atividade na brinquedoteca, com as crianças e os pais que os
acompanham, se insere como uma tentativa de transformar o ambiente das
enfermarias, proporcionando condições psicológicas melhores para as crianças
internadas, pois favorece o acesso à atividade simbólica e a elaboração
psíquica de vivências do cotidiano infantil. As atividades escolares e
principalmente as lúdicas, tais como o desenho livre, o contar histórias, o
brincar com bonecos e jogos facilitam para a criança a assimilação da
realidade externa à realidade interna, auxiliando no desenvolvimento de
estratégias de enfrentamento e também o desenvolvimento de habilidades
cognitivas.
Dessa forma, a intervenção psicológica juntamente com o brincar são
estratégias que promovem um ambiente que tenta minimizar sentimentos
depressivos e efeitos iatrogênicos, auxiliando a criança a enfrentar as
dificuldades do processo de internação e da doença. Verifica-se, portanto, a
importância da adoção de cuidados de psicologia preventiva, além de outras
atribuições específicas por parte do psicólogo, visando o bem-estar individual e
social, através do diálogo com o paciente, seus familiares e a equipe de saúde.
O atendimento à criança hospitalizada deve conceber todas as instituições
voltadas aos cuidados para com ela como espaços de desenvolvimento
integral, contemplando uma equipe de profissionais especializados e
conscientes das necessidades globais dos pacientes.
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