TEMA
LEADERSHIP AGENDA
Novos Desafios a Vencer
por Novos Líderes
O advento da Sociedade do Conhecimento num mundo crescentemente Globalizado,
onde a Inovação se tornou no elemento dominante do desenvolvimento sócio-económico,
coloca novos desafios aos governantes, às empresas e aos cidadãos.
Importa a estes reflectir e compreender os novos desafios de forma a aumentarem
as suas probabilidades de êxito e definirem as respostas mais adequadas. Mas as
respostas aos novos desafios não podem ser encontradas nas soluções de ontem,
mesmo aquelas que tiveram êxito no passado. O presente e o futuro requerem novas
perspectivas, novas soluções, novos líderes. Terá êxito quem melhor conseguir formular
ou acompanhar os novos paradigmas do século XXI.
Neste novo mundo em transformação constante pelas Tecnologias de Informação e
Comunicação (TIC), o desenvolvimento dos países, o sucesso das empresas e a estabilidade
global dependem cada vez mais de lideranças inovadoras e agregadoras. Lideranças
que mobilizem as instituições, as empresas, os cidadãos e as novas comunidades em
prol de uma visão confiante e estratégica. Lideranças que compreendam as tendências
emergentes e resolvam positivamente os desafios essenciais associados à Sociedade
do Conhecimento.
Na emergente Sociedade do Conhecimento, que se desenvolve em países ricos e pobres, a aposta fundamental e
sustentável passa pela:
I)
cibercidadania, isto é, pela democratização e massificação da conectividade e do acesso digital; e
II)
construção de novas formas de
organização
sócio-económica,
empresarial e de governação,
onde a capacidade de inovação e
a liderança do talento assumem
um papel preponderante.
Neste novo contexto, o caminho do
desenvolvimento é cada vez mais
complexo e exigente. As TIC e a
consequente globalização da economia
geram
transformações,
roturas
e
desafios
tremendos
na
forma
de
produzir, consumir e viver, pressões
culturais e uma crescente e irresistível
competitividade internacional, com todas
as consequências positivas e negativas
inerentes.
Estas transformações radicais e inevitáveis, a nível económico e essencialmente
a nível social, podem dar lugar a sentimentos de perda, de crise, de desencanto e de
negação. Mas, podem também dar lugar
a uma visão positiva e global, focada num
futuro potenciador de novas oportunidades a todos os níveis: económico, social,
cultural e político.
Neste contexto de incerteza, a diferença
entre os caminhos positivo e negativo
está:
i)
na compreensão das principais
tendências emergentes e na
resolução dos principais desafios
que nos coloca o futuro desta
Sociedade do Conhecimento (ver
artigos a seguir); e
ii)
na existência e na qualidade
de
lideranças
agregadoras,
mobilizadoras
e
orientadas
para
resultados
social
e
economicamente
sustentáveis
(ver artigo “A Liderança do
Talento no Centro do Novo
Modelo Competitivo” no Capítulo
da Liderança).
Grandes
oportunidades
económicas
surgirão em redor dos criadores e
empreendedores das novas soluções.
Cinco Mega Tendências da Nova
Sociedade do Conhecimento
1. A Tecnologia Transforma Ainda Mais as Nossas Vidas
O impacto da revolução tecnológica vai aumentar e transformar
ainda mais a nossa forma de produzir e distribuir, e provocar
desequilíbrios e oportunidades económicas. Mas acima de tudo irá
alterar os nossos comportamentos e regras sociais, e desafiar os
padrões éticos.
A utopia de “ligar tudo a todos ao mais baixo preço possível” será
uma realidade nos países mais avançados economicamente, onde
as pessoas estarão sempre online, especialmente quando em
mobilidade. A gestão do conhecimento irá tornar-se um factor
mais determinante do que no passado, especialmente para as
empresas. Estar conectado vai ser condição base para competir.
Neste contexto, a coesão digital será um tema dominante.
Para além das Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC),
os desenvolvimentos da biotecnologia e da nanotecnologia irão
abrir um novo mundo de possibilidades de vida que constituirão
importantes desafios à forma como vivemos. Novos paradigmas
sociais, económicos, culturais e políticos surgirão.
2. Os Mercados Transformam-se
À medida que os mercados se tornam mais globais e mais
impactados pelas novas tecnologias, novos factores tornam-se
mais determinantes, nomeadamente:
i)
a especialização e a externalização (outsourcing e offshoring) da produção e da distribuição de componentes diferenciados tornam as fronteiras empresariais e dos mercados bem mais fluidas, obrigando à criação de competências
para gerir novos e complexos ecosistemas produtivos;
ii)
surgirão novos modelos de negócio e organizacionais
baseados no trabalho em rede e na capacidade de liderar
talentos a funcionarem com cada vez maior autonomia
dentro das organizações;
iii) a produção económica irá deslocar-se geograficamente
entre países e entre regiões de forma bem mais rápida e
abrupta do que no passado, podendo provocar desequilíbrios;
iv) novos segmentos de mercado continuarão a surgir em
resposta à sempre crescente inovação da oferta reforçando a sua importância económica, nomeadamente: as
“tribos” de comunidades virtuais, a “geração conteúdo”
(consumidores a colocar uma avalanche de conteúdos na
web, terabytes em texto, imagens e filme), a “massexclusivity” (exclusividade e luxo para as massas), os mestres
do “teuniverso” (maior customização, DIY, personalização,
co-criação de produtos pelos consumidores e comunidades virtuais), os “transumers” (consumidores em trânsito
ou que gostam de viver novas experiências);
v) a gestão da inovação e do talento que a produz será
o principal factor competitivo dos novos tempos (ver
artigo “A Liderança do Talento no Centro do Novo Modelo
Competitivo” no capítulo da Liderança).
LEADERSHIP AGENDA
3. A Democracia Liberal Surge como Tendência Dominante, mas
Incompleta
Esta nova sociedade parece vir acompanhada de uma pressão
estrutural para um modelo político e ideológico dominante. Um
modelo baseado na democracia liberal e no capitalismo regulado e
de consciência social (com objectivos de equidade, segurança social
e elevadas taxas de emprego) que afectará progressivamente
também os países BRIC (Brasil, Rússia, Índia e China).
Este modelo é caracterizado por mercados crescentemente
livres e competitivos, por menor intervenção dos governos, pelo
aumento do poder dos indivíduos em relação à definição e produção
dos seus objectivos e a consequente diminuição da tutela dos
governos e dos Estados sobre os indivíduos e a sociedade.
As estruturas de poder e controlo tradicionais - supranacionais
e nacionais - irão partilhar poder com redes horizontais de
comunidades sociais e económicas. A maior capacidade de aceder
e manipular informação aumenta a necessidade de proteger
a privacidade dos dados pessoais. Adicionalmente, para além
da liberdade e protecção do indivíduo, é necessário proteger o
colectivo contra o individualismo exacerbado e as “comunidades
egoístas ou disfuncionais.”
Aumentarão também as tensões entre a evolução deste modelo
dominante e as sociedades e as formas de vida mais tuteladas,
por religiões ou sistemas sociais rígidos. O exercício do poder e
da governação será cada vez mais complexo. Inevitavelmente
surgirão novos paradigmas de exercer o poder, mais adaptados
aos desafios do século XXI, que conciliem as novas formas de poder
a “governação global” e a “vida em comunidades”.
4. A Demografia, as Migrações e o Sector Público Tendem a
(Des)Equilibrar o Sistema
A baixa taxa de natalidade e o aumento da longevidade nos países
ocidentais coloca desafios tremendos aos sistemas sociais e
de saúde e aos sistemas produtivos, para além de estimular a
emergência de novos segmentos de mercado. Em contraste, a
elevada taxa de natalidade nos países menos desenvolvidos coloca
desafios sócio-económicos explosivos, especialmente quando a
riqueza dos países ocidentais passa diariamente nas televisões
dos países com ainda elevados índices e bolsas de pobreza.
A crescente desintermediação geográfica das actividades
económicas e a tendencial integração dos mercados de trabalho
permitirão suprir a escassez de trabalhadores e de talentos nos
países desenvolvidos através de recursos humanos formados nos
países em desenvolvimento, como acontece paradigmaticamente
com a Índia (forma 3,5 milhões de Licenciados por ano), e não só.
O factor força de trabalho tornar-se-á radicalmente mais móvel.
A forma como se fará a gestão dos processos migratórios pode
repor equilíbrios ou aumentar os desequilíbrios a nível nacional,
regional e internacional.
Neste contexto demográfico, a prestação de serviços públicos pelo
Estado tornar-se-á insustentável na ausência de ganhos radicais
de eficiência e da privatização da gestão de alguns serviços.
5. A Sustentabilidade Ambiental e Energética Pode Criar Roturas
O crescimento económico acelerado, agora acentuado pelos países
BRIC (Brasil, Rússia, Índia e China), tem conduzido ao consumo
exponencial dos recursos naturais finitos e ao aquecimento
global da atmosfera, com consequências climáticas imprevisíveis.
O aquecimento global deixará de ser um conceito abstracto e
passará a consumir orçamentos e a condicionar bem mais as
nossas opções económicas e de vida.
O consumo de petróleo e do gás natural vai continuar a aumentar
e a criar pressões económicas e políticas, não só entre o ocidente
e os países produtores, mas também entre a União Europeia e a
Rússia. A energia nuclear, com os seus riscos ambientais e bélicos,
continuará a desafiar a estabilidade e a criatividade dos decisores
políticos. A escassez e a qualidade de água pode acentuar-se
e continuar a limitar o desenvolvimento em certas partes do
mundo.
Os Desafios da Construção da
Nova Sociedade do Conhecimento
O actual paradigma de “consumir hoje e pagar amanhã” não será
sustentável.
Dos vários desafios que se apresentam, destacamos os seguintes
cinco como os mais determinantes.
1. O Desafio da Conectividade
O desafio da conectividade constitui o substrato caracterizador
da Sociedade do Conhecimento, baseado na utopia de “ligar tudo a
todos ao mais baixo preço possível”. No seu estágio mais avançado,
uma Sociedade do Conhecimento é caracterizada pela capacidade
dos seus membros - cidadãos, empresas e Estado - obterem e
partilharem qualquer tipo de informação instantaneamente, a
partir de qualquer lugar e da forma mais conveniente. A Internet
constitui o coração desta conectividade global. Quem tiver
maior conectividade, enquanto país e enquanto empresa, estará
necessariamente mais à frente no campo das possibilidades.
Neste contexto, os dois processos tecnológicos de maior impacto
no desenvolvimento da Sociedade do Conhecimento serão:
i)
a disponibilização ampla e massificada de infra-estrutura
fixa e móvel de banda larga, segura e interoperável; e
ii)
a convergência de tecnologias e de equipamento de acesso
às infra-estruturas, permitindo o acesso multi-plataforma
pelos cidadãos e empresas ( ver artigo sobre ebXML neste
capitulo).
A nível empresarial, serão importantes não só a conectividade
com o exterior - através de sites, portais, sistemas electrónicos
dedicados - mas também a conectividade interna - através de
aplicações empresariais e portais colaborativos - , conforme
ilustrado em alguns projectos inseridos nesta edição.
LEADERSHIP AGENDA
2. O Desafio dos Conteúdos Relevantes
No entanto, o factor decisivo será constituído pelos conteúdos,
aplicações e serviços que correm sobre as infra-estruturas
de conectividade e que transformam esta conectividade em
actividade económica e social relevante para os cidadãos, as
empresas, os clientes, o mercado e para os desafios de cada país.
O motor essencial da produção e distribuição do ciclo virtuoso “conectividade-conteúdos” será constituído pelas empresas inovadoras, e cada vez menos pelo sector público, em resposta aos estímulos de um mercado global onde os clientes e os consumidores
serão cada vez mais decisores (e menos simples receptores) das
novas soluções.
3. O Desafio da Governação Electrónica
Em grande parte dos países, o motor desta transformação será
o desafio da modernização da máquina do Estado. Este desafio
consiste na reforma organizacional em prol da transversalidade
e da eliminação de silos organizacionais, da reestruturação de
processos e da garantia de interoperabilidade de forma a prestar
serviços de qualidade aos cidadãos e às empresas, aumentar a
eficiência e reduzir custos, facilitar a participação democrática
dos cidadãos e aumentar a transparência.
A “governação electrónica” é assim mais sobre “melhor
governação” do que sobre “melhor tecnologia”. Nem todo o
investimento tecnológico é bom. As empresas e o Estado deveriam
trabalhar e decidir na base de uma política de portefólio que ligue
os investimentos tecnológicos à estratégia, ao risco, à capacidade
de absorção e que estabeleça prioridades de forma criteriosa. Os
investimentos tecnológicos deverão privilegiar:
i)
a prestação de serviços multicanal (não só Internet e frontoffice);
ii)
o aumento de eficiência e redução de custos; e
iii) a interoperabilidade e a integração tecnológica (colocar
racionalidade
tecnológica).
no
emaranhado
da
infra-estrutura
Mas acima de tudo, será necessário encetar uma transformação
cultural. Para este efeito, o exercício da governação e da
organização do Estado deverá evoluir para uma nova forma de
se relacionar com os cidadãos e as empresas, individualizada e
personalizada, de “um para um” (Estado versus cidadão individual ou
empresa individual) complementando a actual relação massificada
de “um para muitos” (Estado versus cidadãos). O Estado deve
servir as pessoas em três dimensões claras e fundamentais,
enquanto:
i)
cidadãos, que participam no processo democrático;
ii)
clientes, que exigem serviços de qualidade; e
iii) contribuintes
resultados.
(accionistas),
que
esperam
valor
e
4. O Desafio das Novas Competências
A sustentabilidade de todo o processo e o factor fundamental de
êxito será constituído pelo desafio sócio-educacional de habilitar os
cidadãos e as empresas para as novas competências necessárias,
reduzindo simultaneamente assimetrias de acesso e de utilização
de informação.
A habilitação necessária envolve três tipos de competências,
inseridas numa nova forma de actuar, mais activa e mais
baseada na auto-aprendizagem constante: competências sobre
a manipulação tecnológica (como técnico ou como utilizador de
interfaces e equipamentos); competências sobre a aplicação
sócio-económica da tecnologia (nas empresas, nas escolas, na
Administração Pública, etc.); e competências científicas.
O artigo “A Liderança do Talento no Centro do Novo Modelo
Competitivo”, no capítulo sobre Liderança, aborda a lógica
competitiva associada à gestão do talento na Sociedade do
Conhecimento.
5. O Desafio da Liderança Estratégica e Operacional
A nível de país, será determinante a forma como se aborda o desafio
político de patrocínio e de coordenação estratégica e operacional
das políticas e acções necessárias e do seu financiamento, bem
como o amplo envolvimento e a mobilização dos agentes sociais.
A experiência internacional ilustra que são factores críticos de
sucesso: a transversalidade de actuação e uma liderança de
coordenação clara dentro de um governo, de um ministério, ou
de uma organização; um patrocínio político ao mais alto nível
de forma a permitir as inovações e roturas necessárias; uma
visão estratégica de longo prazo e continuidade de actuação
entre governos; modelos orgânicos maduros, centralizados ou
articulados entre si, capazes de atrair e mobilizar as melhores
equipas; e capacidade de monitorização estratégica e operacional
permanente. O Sistema de Monitorização do Plano Tecnológico,
que se apresenta nesta edição, é um bom exemplo.
A nível empresarial, o “governance” das tecnologias de
informação deverá ser uma matéria cada vez mais importante
uma vez que os processos críticos da empresa estarão cada
vez mais dependentes das tecnologias de informação. Será
importante analisar e garantir o alinhamento entre a estratégia
e as características organizacionais e operacionais da empresa
com os sistemas de informação; a alavancagem competitiva do
negócio pela tecnologia digital; e o retorno sobre os investimentos
realizados.
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