Programa de Capacitação em Técnicas de Agroecologia e Agricultura
Orgânica, Instituto Planeta Água, Barra do Jacuípe, Camaçari, Bahia.
SALIM, Mateus Vieira da Cunha. Instituto Planeta Água de Pesquisas Ambientais e
Educacionais - IPAPAE, [email protected]; ARANTES, Tiago da Cunha. IPAPAE,
[email protected].
Resumo
Programa realizado pelo Instituto Planeta Água que tem por objetivos: capacitar
moradores de Barra do Jacuípe e região em princípios e técnicas de agroecologia e
agricultura orgânica, através da realização de cursos gratuitos de curta duração, e a
recuperaçao de uma área de preservação permanente (APP) degradada através da
implementação de uma zona de produção orgânica de alimentos, onde está sendo
realizado o treinamento de extensão em agroecologia e agricultura orgânica. O
primeiro módulo foi realizado em Março de 2009, com carga horária de 40 horas, e a
participação de 15 alunos inscritos. Neste módulo foi realizada a implementaçao da
zona agroecologica constituida até o momento por composteira, sementeira, 7 hortas
ferraduras (39 espécies alimentícias e florestais), 2 espirais de ervas (14 espécies
aromáticas e medicinais) e sistema agroflorestal (39 espécies alimentícias e florestais).
Ao final de cada módulo os alunos recebem certificados e materiais didáticos gratuitos.
Palavras-chave: Sistema agroflorestal, recuperação de áreas degradadas, ensino.
Contexto
Barra do Jacuípe, distrito localizado no litoral norte da região metropolitana de
Salvador (BA), de grande potencial turístico e ambiental, caracteriza-se pelo rápido
processo de expansão imobiliária, levando a população nativa, carente de
oportunidades e condições de vida dignas, aos empregos gerados pelo
desenvolvimento desenfreado e impactante como a construção civil em condomínios
de luxo, geralmente em desacordo com condutas ambientalmente sustentáveis. A
agricultura orgânica é amplamente aceita devido aos baixos custos para sua
realização e pela geração de produtos orgânicos, propiciando uma alternativa
econômica viável e ambientalmente sustentável. Pode-se afirmar que a agricultura
orgânica pode ser um caminho a ser percorrido para a busca da sobrevivência
harmônica do ser humano com o seu planeta (MAZZOLENI e NOGUEIRA 2006).
Desta forma a realização de cursos de capacitação em agroecologia e agricultura
orgânica passa a ser de fundamental importância como uma medida para formar
agentes mutiplicadores que atuem em suas comunidades, realizando práticas de
agricultura sustentável com conseqüente melhoria da qualidade de vida e manutenção
dos escassos recursos naturais.
O Instituto Planeta Água de Pesquisas Ambientais e Educacionais é uma ONG, sem
fins lucrativos, fundada no ano de 2000, com sede em Barra do Jacuípe, que atua em
parceria com a comunidade local. Educação ambiental, artesanato, capoeira,
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alfabetização de adultos, reuniões do conselho gestor ambiental local, e parceria com
a Secretaria de Meio Ambiente do Estado da Bahia são algumas das realizações da
comunidade e do Instituto desde sua fundação. Desta forma, a combinação da
pesquisa ecológica e da ação conservacionista pode proporcionar benefícios diretos
tanto às comunidades como à vida selvagem: a restauração de paisagens através da
incorporação de questões sociais, econômicas e institucionais, além da colaboração
de vários segmentos das comunidades locais como seu objetivo básico (CULLEN JR.
et al., 2003).
Descrição da experiência
O programa de agroecologia e agricultura orgânica do Instituto Planeta Água
caracteriza-se como experiência de ensino, extensão e divulgação da agroecologia.
Composto de 4 módulos de cursos gratuitos de 1 mês de duração (40h) cada,
realizados na sede do Instituto Planeta Água (Barra do Jacuípe, Bahia), localizado na
margem do Rio Jacuípe, área de manguezal e restinga. O primeiro módulo foi
realizado em Março de 2009, e contou com a participação de 15 alunos inscritos,
moradores da região de idades e ocupações variadas. Neste módulo foram abordados
os temas: planejamento agroecológico, interpretação e análise do meio e solos –
composiçao e fertilidade.
O segundo módulo teve início em Maio e ainda está em andamento. Estão sendo
abordados os temas: modelos agroecológicos de plantio e manejo de
agroecossistemas. O terceiro módulo será realizado em Agosto e abordará o tema de
beneficiamento de produtos. O quarto módulo será realizado em outubro e abordará o
tema de formação de cooperativas. Ao final de cada módulo os alunos recebem
certificado e material didático gratuito. A realização do programa envolve a
comunidade local, o Instituto Planeta Água com o apoio da Fundação Itaú Social S/A,
estudantes e profissionais de Ciências Biológicas. Para a realização deste projeto,
durante um ano, está sendo utilizada a quantia de R$25.000,00 para financiar gastos
como: materiais necessários para o curso, material didático e certificado, e mão-deobra (1 professor e 1 monitor).
Resultados:
Foi realizada a implementaçao da zona agroecológica, em uma área degradada,
constituida até o momento por composteira, sementeira, 7 hortas ferraduras¹ (39
espécies alimentícias e florestais) (Tab. 1), 2 espiral de ervas (14 espécies aromáticas
e medicinais) (Tab. 2) e sistema agroflorestal (39 espécies alimentícias e florestais)
(Tab.1) (Fig.2). Podemos observar a multiplicação dos conhecimentos e experiências
em agroecologia, de acordo como relatos dos participantes do programa, assim como
a familiaridade com os assuntos abordados, valorização da agricultura orgânica, e
atuação destes alunos (Fig.1) como agentes multiplicadores da agroecologia em suas
comunidades, através de projetos de educação ambiental e recuperação áreas
degradadas. As principais dificuldades enfrentadas são as condições microclimaticas
da área trabalhada, a exemplo da escassez de água seguida do encharcamento do
terreno em poucos meses, bem como a baixa fertilidade do solo devido ao alto grau de
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degradação da área trabalhada, a presença da espécie exótica invasora conhecida como cipóchumbo (Cuscuta racemosa Mart. et Humb.) e o baixo interesse da população local
em querer participar do curso.
1
TABELA 1. Nomes populares e científicos do sistema agroflorestal e hortas ferradura.
Nome popular
Abóbora
Abacaxi
Amendoim
Amora
Banana
Batata
Bucha
Cabaça
Cana
Caju
Cebolinha
Chaya
Côco
Embaúba
Fava
Feijão branco
Feijão de porco
Feijão fradinho
Feijão preto
Girassol
Guandu
Ingá de metro
Jacarandá
Jamelão
Leucena
Licurioba
Mamona
Manga
Mandioca
Massaranduba
Melancia
Milho
Morango
Mucuna preta
Nim
Ora pro nobis
Pião roxo
Pinha
Tamarindo
Nome científico
Cucurbita pepo L.
Ananas comosus L.
Arachis hypogaea L.
Morus nigra L.
Musa paradisiaca L.
Solanum tuberosum L.
Luffa cylindrica (L.) Roem.
Lagenaria siceraria (Molina) Standl.
Saccharum officinarum L.
Anacardium occidentale L.
Allium fistolosum L.
Cnidoscolus. aconitifolius (Miller) I. M. Johnston
Cocos nucifera L.
Cecropia glaziovii Snethl.
Stryphnodendron pulcherrimum (Willd.)Hochr.
Phaseolus vulgaris L.
Canavalia ensiformis DC.
Vigna unguiculata (L.) Walp.
Phaseolus vulgaris L.
Helianthus annus L.
Cajanus cajan (L.) Millsp.
Inga edulis Mart.
Jacaranda sp.
Syzygium cumini (L.)
Leucaena leucocephala (Lam.) de Wit
Syagrus schizophylla (Mart.) Glassman
Ricinus communis L.
Mangifera indica L.
Manihot esculenta Crantz
Manilkara sp.
Citrullus vulgaris Schrad.
Zea mays L.
Fragaria sp.
Mucuna aterrima (Piper & Tracy) Merr.
Azadirachta indica A. Juss.
Pereskia aculeata Mill.
Jatropha curcas L.
Annona squamosa L.
Tamarindus indica L.
1
- Horta em formato de ferradura com o solo do canteiro coberto com palha e
circundado por valas de armazenamento e infiltração d’água. Este tipo de formato
facilita o manejo e permite cultivar um grande número de espécies.
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TABELA 2. Nomes populares e científicos das espécies das espirais de ervas.
Nome popular
Alho
Alumã
Boldo
Boldo-chileno
Capim santo
Cebolinha
Cidreira
Citronela
Coentro
Gengibre
Hortelã da folha grossa
Manjericão
Mostarda
Ora pro nobis
Nome científico
Allium sativum L.
Vernonia bahiensis Tol.
Plectranthus barbatus Andr.
Peumus boldus Mol.
Cymbopogon citratus D.C.
Allium fistolosum L.
Melissa officinalis L.
Cymbopogon winterianus Jowitt
Co]riandrum sativum L.
Zingiber officinale Roscoe.
Mentha piperita L.
Ocimus basilicum L.
Brassica alba (L.) Rabenh.
Pereskia aculeata Mill.
FIGURA 1. Horta ferradura e alunos que participaram do primeiro módulo do curso.
Instituto Planeta Água, Barra do Jacuípe–BA.
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FIGURA 2. Sistema agroflorestal com 39 espécies. Instituto Planeta Água, Barra do
Jacuípe–BA.
Referências
CULLEN Jr., L. et al. Trampolins ecológicos e zonas de benefício múltiplo: ferramentas
agroflorestais para a conservação de paisagens rurais fragmentadas na Floresta
Atlântica Brasileira. Natureza & Conservação, Curitiba, v. 1, n.1, p. 37-46, 2003.
MAZZOLENI, E.M.; NOGUEIRA, J.M. Agricultura orgânica: características básicas do
seu produtor. Revista de Economia e Sociologia Rural, Rio de Janeiro, v. 44, n.2, p.
263-293, 2006.
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