quarta Cerca de 2 mil são beneficiadas com donativos [email protected] PÁGINAS 4 E 5 Despedida a Ramis Bucair causa emoção PÁGINA 3B A GAZETA - 1B CUIABÁ, 21 DE DEZEMBRO DE 2011 PRONTO-SOCORRO Pacientes denunciam precariedade no hospital. Perna de adolescente é presa a galão d‘água Faltam remédios e materiais TANIA RAUBER DA REDAÇÃO Mesmo após ser alvo de ação judicial solicitando aquisição de equipamentos e materiais hospitalares, o Pronto-Socorro de Cuiabá continua com estrutura precária para manter os atendimentos. Até mesmo medicamentos, como antibióticos, faltam na unidade. E em locais onde “tudo falta”, é preciso improvisar. Foi o que ocorreu com o filho da cozinheira Ana Luíza Magalhães, 36. O adolescente de 15 anos foi internado no PS há 4 dias, após levar um tiro na perna. Depois de passar pela ala vermelha, destinada a casos de emergência, foi transferido para uma sala de observação. A mãe diz que ficou indignada quando foi visitar o garoto e viu o pé dele enfaixado e amarrado em um galão de detergente cheio de água. “Eles me falaram que é para não atrofiar o músculo ou romper no local da fratura do osso. É um absurdo o descaso com os pacientes que estão todos misturados na ala. O ortopedista nem passa lá”. Um taxista, que pediu para não ser identificado, acompanhou por quase 20 dias o irmão que foi internado na unidade. Ele revelou que a equipe médica não tinha bisturi e nem gaze para fazer o curativo no ferimento do irmão. “A situação está caótica. Até mosca tinha na sala onde meu irmão estava internado. Isso é inadmissível”. O Sindicato dos Médicos do Mato Grosso (Sindimed) já cobrou explicações da Secretaria de Saúde da Capital sobre a falta de materiais e medicamentos. Porém, segundo o vice-presidente Celso Vargas Reis, não obteve respostas. “Faltar medicamento em um Pronto-Socorro é como faltar arroz em casa. É o básico, não pode faltar”. Em agosto, o Ministério Público entrou com ação para que a Prefeitura providenciasse a aquisição imediata de materiais e equipamentos solicitados pela diretoria administrativa do Hospital e Pronto-Socorro. Alguns considerados urgentes, como bisturis eletrônicos, aparelhos de anestesia, máscaras, cilindros de oxigênio portátil, termômetros digitais, suportes para soro, desfibriladores, aparelhos de pressão, termômetros digitais, caixas para traqueoscopia, dentre outros. O mesmo pedido, com aproximadamente 5 mil itens, já tinha sido encaminhado para a Secretaria Municipal de Saúde várias vezes, em caráter de urgência, já que são considerados básicos para o atendimento da população. Mesmo assim, nenhuma providência foi tomada. Grupo de médicos terceirizados estaria há 2 meses sem receber salários Divulgação Foto feita por celular mostra paciente com a perna imobilizada com a ‘ajuda’ de um galão d´água Atraso - O Sindimed também denunciou atraso no pagamento de alguns médicos. Segundo o vice-presidente, as pendências já passam de 60 dias e atingem equipes que foram contratadas para serviços terceirizados. “São pequenas terceirizações de alguns serviços feitos pela Prefeitura para um grupo médico, mas desde outubro o pagamento não é feito”. goutro lado Secretaria Municipal de Saúde informou, por meio da assessoria, que 90% da lista de medicamentos solicitada pela direção do PS já foi adquirida e que desconhece a falta de materiais. Reconheceu que, eventualmente, pode faltar algum medicamento devido a problemas com fornecedores, porém garantiu que a farmácia está abastecida. A secretaria negou atraso no pagamento aos profissionais. A Médicos ameaçam paralisação Prefeitura espera a estadualização CAROLINE RODRIGUES DA REDAÇÃO Cerca de 400 médicos que atuam no Sistema Único de Saúde (SUS) em Várzea Grande ameaçam entrar em greve devido ao atraso dos salários e das verbas indenizatórias, popular “mensalinho”. Desde agosto, o pagamento não acontece de forma regular. Paralelo a questão financeira, os profissionais reivindicam melhores condições de trabalho. Nas unidades, faltam medicamentos, equipamentos e a infraestrutura é precária. O indicativo de greve foi votado ontem a noite em uma assembleia da categoria. Até o fechamento da edição, não havia o posicionamento definitivo da classe. O representante do Sindicato dos Médicos de Mato Grosso (Sindimed), Celso Vargas, explica que a Prefeitura fez a proposta de pagar os salários atrasados com um repasse, que está programado pelo governo do Estado. Quanto às verbas indenizatórias, dependeriam de uma negociação com a Secretaria de Estado de Saúde (SES). A administração municipal pretende conseguir um adiantamento. Vargas afirma que a proposta está abaixo das expectativas dos profissionais. Ele diz que a definição só pode ser anunciada depois da assembleia, mas o médico acredita que a greve é algo certo. Para o representante do Sindimed, outra preocupação é com o equilíbrio do orçamento municipal. A Prefeitura quer abrir as policlínicas 24 horas e chamar os candidatos que passaram no último concurso. Caso os médicos optem pela greve, Vargas acredita que a saúde pública em Cuiabá e Várzea Grande vai entrar em colapso. Conforme o médico, depois que a greve foi deliberada, a negociação fica mais complicada e não há como prever o retorno do atendimento. g Outro lado - A SES, por meio da assessoria de imprensa, diz que apenas o repasse do último mês está atrasado. O restante foi quitado. A Secretaria de Saúde de Várzea Grande informou, por meio da assessoria de imprensa, que os salários serão normalizados até o final de dezembro, mas não há definição sobre as verbas indenizatórias. DA REDAÇÃO Uma das soluções apontadas pela Prefeitura para solucionar os problemas do Pronto-Socorro é a estadualização. O processo está em andamento e a promessa é que, até janeiro, a unidade passe para o controle da Secretaria de Estado de Saúde (SES). Enquanto isso, pacientes sofrem com a falta de estrutura e o longo tempo na espera. O tio do policial Joel Aparecido Campos Melo teve que aguardar 10 dias para realizar um procedimento cirúrgico. Ele sofre de um câncer na garganta e precisava colocar uma sonda para alimentar-se. “Eles me falavam que não era um caso de urgência e que lá a briga é entre grandes, então eu tinha que brigar para conseguir. Enquanto isso meu tio foi definhando, sem se alimentar, e está cada vez pior”. O pedreiro Eber Leite, 34, chegou no PS há 3 dias após a ruptura de um tendão. Ele conta que foi internado e passa o dia e a noite em uma cadeira de estabilização. “Pedi se eles tinham previsão de quando vou para casa e uma enfermeira disse que eu poderia me preparar para esperar uns 3 meses até conseguir a cirurgia. Não sei o que vai ser neste período”. Riscos - O pintor Aparecido da Silva, 32, chegou na unidade com suspeita de meningite. Ele conta que, enquanto aguardava o resultado dos exames passou várias horas deitado em uma maca, ao lado de um paciente que havia sido operado. “Eles me deram uma máscara e disseram que eu ficaria isolado. Mas me deixaram no corredor, ao lado do outro paciente. E eu tinha que ajudá-lo quando precisava, pois ninguém passava para dar assistência”. Durante uma hora que nossa equipe permaneceu no local presenciou pelo menos 3 funcionárias da unidade saírem para a parte externa com o uniforme de trabalho (jalecos e coletes brancos). Uma enfermeira, que pediu para não ser identificada, ressaltou o risco de contaminação que os pacientes sofrem. “Imagine se uma destas profissionais trabalha no centro cirúrgico ou sala de emergência e fica circulando para dentro e para fora, corre um sério risco de contaminar o local”. (TR) COBRADOR João Leite vai para o semiaberto LISÂNIA GHISI ESPECIAL PARA A GAZETA O ex-cobrador de João Arcanjo Ribeiro, João Leite, conseguiu progressão de regime e passará, agora, a cumprir pena no sistema semiaberto. A decisão foi dada pela juíza Nilza Maria Pôssas de Carvalho, titular da 2ª Vara Criminal de Cuiabá, na segunda-feira (19). Leite está preso desde 2007, época em que o Grupo Especial de Atuação Contra o Crime Organizado (Gaeco) descobriu que ele e outros 2 homens estava atuando em um esquema de cobrança de dívidas. Ele foi condenado a 10 anos e 8 meses de reclusão em 2009 pelos crimes de extorsão e formação de quadrilha. Além desta prisão, o exfuncionário de Arcanjo, já havia cumprido pena por ter intermediado a morte do empresário Sá- vio Brandão, em setembro de 2002. Por este crime, Leite foi condenado a 15 anos e 2 meses de reclusão. Após ter cumprido parte desta pena, a Justiça concedeu a ele a progressão de regime para o semiaberto. O fato é que João Leite voltou a praticar crimes, quando, novamente, foi preso em 2007 pelo Gaeco. Na época em que o esquema de cobrança de dívidas foi descoberto, Leite e outros 2 comparsas eram contratados por pessoas que não conseguiam receber seus débitos. Sob ameaças, os 3 homens conseguiam que os pagamentos acabassem sendo feitos em duplicidade. O trio pedia comissão aos credores e também extorquia as vítimas, sempre em valores superiores ao que era combinado. Conforme a decisão da magistrada, feita fora de audiência devido ao recesso judicial, Leite deverá ser encaminhado ao projeto “Qualifica Mato Grosso” para realizar cursos profissionalizantes, e deverá ainda se recolher em sua residência das 20 horas às 6 horas, todos os dias. A juíza informou também que a Secretaria Estadual de Segurança Pública de Mato Grosso (Sesp/MT) tem o prazo de 5 dias para disponibilizar uma pessoa que ficará responsável pela fiscalização do preso. Nilza Maria declarou que a decisão foi dada devido ao bom comportamento e aos trabalhos desenvolvidos pelo detento dentro da prisão. Segundo ela, as ações colaboraram para a progressão de regime e diminuição da pena. Atualmente, Leite está preso na Penitenciária Central do Estado (PCE), em Cuiabá. No ano passado, a defesa de João Leite já havia solicitado a progressão da pena, porém a solicitação foi negada pelo Judiciário. Chico Ferreira/Arquivo João Leite, quando recebeu a primeira condenação em 2005 pela morte de Sávio Brandão