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PERSPECTIVAS E ALTERNATIVAS PARA A PROMOÇÃO DO DESENVOLVIMENTO RURAL
SUSTENTÁVEL NA VISÃO DE CAPORAL E COSTABEBER
Lucinéia Juriatti dos Santos 1
Nas últimas décadas, vem sendo abordado, de forma intensa a questão ambiental. E no cenário do
meio rural, a questão polêmica está centralizada na maneira mais adequada de promover o desenvolvimento
rural sustentável, e a busca de alternativas que possam ser utilizadas visando, além da promoção do
desenvolvimento rural, a preservação do meio ambiente.
Quando abordamos o assunto: desenvolvimento rural sustentável nos deparamos com vários autores
que dissertam sobre esse tema e encontramos diversas teorias que visam promover esse tão almejado
desenvolvimento. Porém, dentre esses inúmeros autores, destacam-se Caporal e Costabeber (2004), que
analisam agroecologia e a extensão rural como fatores indispensáveis para desenvolver o meio rural de forma
sustentável, e para que este desenvolvimento seja pleno é necessário que ambas caminhem juntas.
Analisemos, portanto, estes dois fatores propostos por Caporal e Costabeber (2004), e neste
contexto, a agroecologia juntamente com uma extensão rural agroecológica são fatores contribuintes para a
promoção do desenvolvimento rural sustentável.
Primeiramente, para que seja promovido o desenvolvimento rural sustentável é preciso de uma
reestruturação na extensão rural e no modelo de agricultura, e isso só é possível a partir da compreensão da
realidade dos anos 90, pois será a base para a redescoberta de caminhos para a extensão rural.
Neste sentido, a extensão rural tem que mudar seu foco, ser redirecionada, ou seja, mudar a maneira
como vem sendo trabalhada. O foco principal da extensão rural é prestar assistência técnica aos pequenos
agricultores, porém hoje, está sendo trabalhada de forma equivocada. Tanto o modelo agrícola como o
assistencialista vigente agride o meio ambiente e torna uma unidade de produção inviável, pois faz desta
dependente de insumos externos ao invés de ajuda-la a encontrar alternativas sustentáveis que utilizem os
recursos internos disponíveis de forma a preservar o meio ambiente.
A extensão rural vigente está um pouco deficitária e para cumprir sua função social deverá passar por
reformas e ajustes, e visando isso, nos deparamos com um modelo de extensão rural agroecológica que:
Bacharel em Administração pela Universidade Estadual do Rio Grande do Sul e Pós-graduanda em Contabilidade Empresarial e
Auditoria pela Universidade do Norte do Paraná.
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...constitui-se num esforço de intervenção planejada para o estabelecimento de estratégias de
desenvolvimento rural sustentável, com ênfase na participação popular, na agricultura familiar e nos
princípios da agroecologia como orientação para a promoção de estilos de agricultura
socioambiental e economicamente sustentáveis. Na realidade, se trata de um enfoque intervenção
rural oposto ao difusionismo reducionista homogeneizador que, desde meados do século XX,
auxiliou a implantação do modelo de agricultura de tipo Revolução Verde. (CAPORAL E
COSTABEBER, 2000, p.02)
Quando falamos de agroecologia referimo-nos a uma agricultura menos agressiva ao meio ambiente,
que utilize recursos disponíveis dentro da unidade de produção, que promova a inclusão social e que
proporcione, além de melhores condições financeiras, qualidade
de vida aos agricultores.
Conseqüentemente, estará sendo produzido e ofertado produtos com maior qualidade, ecológicos, sem
resíduos químicos, ao contrário dos oriundos da Revolução Verde, que propõe maior produtividade deixando
de lado a qualidade. O modelo de agricultura influenciado pela Revolução Verde não visa a produção de um
produto saudável e ecologicamente correto, tem como principal modelo de produção a monocultura. Para a
agricultura familiar, quando se trata de pequenas unidades de produção, a monocultura torna-se inviável, uma
vez que, esta é um sistema de produção desenvolvido para grandes extensões de terras. Deste modo, para
pequenas unidades de produção familiar uma alternativa é a diversificação dos sistemas de produção dentro
da propriedade.
Analisando formas de promoção do desenvolvimento Almeida e Navarro (1997), centralizam a
discussão do desenvolvimento em duas principais concepções distintas, uma dessas concepções vê a
natureza como um bem de capital, gestado dentro da esfera econômica, considerando a natureza como parte
incorporada à cadeia de produção, sendo desta forma que é pensado o fator social. Já a outra concepção,
tenta quebrar esse paradigma que está voltado a uma visão instrumental do meio ambiente que a economia
impõe ao conceito de sustentabilidade. Quando analisamos o caso da agricultura, nos deparamos com alguns
critérios radicais que propõem o abandono da agricultura convencional, baseada na monocultura para a
transição de modelos de produção diversificados, que utilizem práticas de manejo ecologicamente correto e
que sejam baseados nas culturas locais, além de valorizar a especificidade de cada agroecossistema. E
dentro desses critérios está incluso técnicas conservacionistas, dentre as quais podem ser citadas, adubação
verde, rotação de culturas, entre outras práticas de manejo ecológico.
Quando citamos esses tipos de práticas e técnicas conservacionistas estamos referindo-nos a
técnicas e práticas agroecológicas, pois a agroecologia que tem como princípio a otimização do equilíbrio do
agroecossistema como um todo, o que nos remete a necessidade de conhecer, analisar e interpretar as
relações existentes entre as pessoas e o meio ambiente.
De acordo com Caporal e Costabeber (2002) a agroecologia precisa ser entendida com um enfoque
científico, uma ciência ou um conjunto de conhecimentos que nos ajudarão tanto para a análise crítica da
agricultura como também para orientar o correto redesenho e o adequado manejo de agroecossistemas, na
perspectiva da sustentabilidade.
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A tendência da agroecologização pode prevalecer como estratégia para a agricultura familiar pouco
tecnificada e para as chamadas agriculturas de subsistência.
Seguindo a perspectiva agroecológica, a extensão rural deveria tratar de potencializar o uso dos
meios disponíveis, os estilos de desenvolvimento endógeno. Considera-se fundamental centrar atenção nos
recursos localmente oferecidos pela natureza.
A extensão rural ou agrária, mencionada por Caporal e Costabeber (2004), foi entendida como uma
deliberada intervenção, de natureza pública ou privada, num espaço rural dado, realizada por agentes
externos ou por indivíduos do próprio meio, orientada a realização de mudanças no processo produtivo
agrosilvopastoril, ou em processos socioculturais e econômicos inerentes ao modo de vida da população rural
implicada. Se trata, de uma intervenção intencional, movida por objetivos normativos e levada a cabo através
de um processo comunicativo que envolve inúmeros atores, possuidores de diferentes conhecimentos.
Diferentemente do modelo de extensão rural tradicional, o modelo de extensão rural agroecológico é
tido como um processo de intervenção de caráter educativo e transformador, baseado em metodologias de
investigação-ação participante, que permitam o desenvolvimento de uma prática social mediante a qual os
sujeitos do processo buscam a construção e sistematização de conhecimentos que os leve a coincidir
conscientemente sobre a realidade, com o objetivo de alcançar um modelo de desenvolvimento socialmente
eqüitativo e desenvolvimento e seleção das soluções mais adequadas e compatíveis com as condições
específicas de cada agroecossistema e do sistema cultural das pessoas implicadas no seu manejo.
Nesta perspectiva, Costabeber e Caporal (2004), colocam que para a aplicação desta extensão rural
diferenciada é exigido a superação de alguns obstáculos: a necessidade de imersão do agente; o resgate do
conhecimento local; participação como direito; o processo educativo; sistematização das experiências.
Entretanto, a nova extensão rural será um conjunto de aprendizagem sobre o mundo. Exige um novo
profissional que se caracterize com a capacidade de ver as pessoas e coloca-las antes das coisas, com
especial atenção aos grupos menos favorecidos. E que os profissionais atuantes sejam capacitadores e
prestem assessoria, de forma que trabalhem um modelo de extensão participativo, que as estratégias de
desenvolvimento partam dos agricultores e não lhes sejam impostas.
O Rio Grande do Sul está em fase de transição de uma agricultura convencional para um modelo
agroecológico. E segundo Gliessmann (2001), há três níveis de transição: primeiro, é o incremento da
eficiência das práticas convencionais para reduzir o uso e o consumo de insumos; segundo, a substituição de
insumos e práticas convencionais por alternativas sustentáveis; terceiro, o redesenho do agroecossistema
para funcionar em base num conjunto de processos ecológicos, sendo que para desenhar sistemas agrícolas
sustentáveis é necessário entender o funcionamento dos ecossistemas naturais, revalorizar os conhecimento
e as capacidades dos atores locais.
Tomando por referencia os conceitos e contribuições de alguns autores que dissertam sobre o
assunto, a agroecologia pode ser definida como:
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a ciência ou a disciplina cientifica que apresenta uma série de princípios, conceitos e metodologias,
para estudar, analisar, dirigir, desenhar e avaliar agroecossistemas com o propósito de permitir a
implantação e o desenvolvimento de estilos de agricultura com maiores níveis de sustentabilidade
no curto, médio e longo prazo. (CAPORAL E COSTABEBER, 2000, p. 26)
Portanto, a agroecologia vem se constituindo numa nova forma de ver e entender o desenvolvimento
agrícola na perspectiva da sustentabilidade, tratando-se de um enfoque para o estudo e manejo de sistemas
agrícolas, marco teórico cujo fim é analisar processos agrícolas de maneira mais ampla e ver a agricultura
com um enfoque sistêmico.
Neste sentido, o futuro de uma agricultura com base agroecológica dependerá de se as políticas
emergentes oferecerão ou diminuirão as práticas consistentes com a sustentabilidade.
Porém, a extensão rural e a agroecologia só contribuirão para a promoção do desenvolvimento rural
visado pelos autores, se estiverem voltadas ao redesenho dos sistemas agrícolas sustentáveis e buscar
entender o funcionamento dos ecossistemas naturais, revalorizando os conhecimento e as capacidades dos
atores locais.
Para que este desenvolvimento sustentável seja consolidado é necessário um novo modelo de
extensão rural que priorize e incentive a adoção de técnicas e práticas agrícolas que visem uma agricultura
agroecológica. Neste sentido, a extensão rural agroecológica só pode ser efetivada se tiver uma metodologia
que permita colocar em marcha, estimular e apoiar os processos efetivamente participativos.
A partir desta análise sobre agroecologia e a extensão rural, nos é possível entender que o
desenvolvimento rural sustentável tem relevante importância no momento em que gera maiores quantidades
de postos de trabalhos e oportunidades, absorvendo mão-de-obra ociosa no meio rural, bem como a
qualidade de vida que este proporciona aos agricultores.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ALMEIDA, J.; NAVARRO, Z. Reconstruindo a agricultura: idéias e ideais na perspectiva de um
desenvolvimento rural sustentável. Porto Alegre: Editora da Universidade/ UFRGS, 1997.
CAPORAL, F. R.; COSTABEBER, J. A. Agroecologia: Enfoque científico e estratégico. Porto Alegre:
EMATER/RS, 14.05.2002
___________. Agroecologia e Extensão Rural: Contribuições para a promoção do Desenvolvimento
Rural Sustentável. Brasília: MDA/SAF/DATER-IICA. 2004.
___________. Agroecologia e Desenvolvimento Rural Sustentável: perspectiva para uma nova
extensão rural. Disponível em: www.emater.tche.br/docs/agroeco/revista/n1/05_artigo_agroeco.pdf. Acesso
em: 04 de abril de 2008.
GLIESSMANN, S.R. Agroecologia: Processos Ecológicos em Agricultura Sustentável. Editora da Univ.
Fed. Rio Grande do Sul. 653 pg, 2001.
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