XIII Encontro de Iniciação Científica
IX Mostra de Pós-graduação
06 a 11 de outubro de 2008
BIODIVERSIDADE
TECNOLOGIA
DESENVOLVIMENTO
EPB0109
ANÁLISE COMPARATIVA DA ENTOMOFAUNA EM AGROECOSSISTEMAS
CONVENCIONAL E ORGÂNICO
1
OLIVEIRA, E.F .; LABINAS, A.M.
2
1
EDUARDO FERREIRA DE OLIVEIRA –
GRADUANDO EM AGRONOMIA –
DEPTO DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS DA UNIVERSIDADE DE TAUBATÉ –
UNITAU - [email protected]
2
PROFA. DRA. ADRIANA MASCARETTE LABINAS –
DEPTO. DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS DA UNIVERSIDADE DE TAUBATÉ –
UNITAU - [email protected]
RESUMO
A agricultura chamada de convencional é fruto do pacote tecnológico da revolução verde, questionada
hoje pelo seu impacto ambiental. A agricultura orgânica tem buscado se aproveitar mais dos processos
ecológicos, apesar da falta de estudos científicos. Foram escolhidos dois produtores rurais, um orgânico e
outro convencional, com o objetivo de analisar a entomofauna de seus agroecosisstemas. Distribuiu-se 4
placas adesivas biotrap® ao acaso, 2 amarelas e 2 azuis em cada propriedade, num fatorial 2 x 2. As
armadilhas foram trocadas a cada quinze dias, de 01/03/08 a 10/05/08, perfazendo um total de 5
avaliações. No agroecossitema convencional era cultivado couve em monocultura, ladeado por fragmentos
de mata nativa. No agroecossistema orgânico era praticado o policultivo, sendo rodeado por fragmentos de
monocultura de eucalipto. Os insetos foram contados e os valores transformados em √x + 0,5. As médias
das freqüências para cada uma das espécies coletadas nas armadilhas foram analisadas e comparadas por
tukey a 5% de probabilidade. Verificou-se que na entomofauna do agroecossitema convencional havia
uma população maior de Thrips sp, Euxesta sp, Diabrotica speciosa, Apis mellifera. Já o agroecossistema
orgânico apresentou uma população maior de cigarrinhas (hemiptera: auchnorryncha), joaninhas
(coleoptera: coccinelidae), borboletas e mariposas (lepidoptera). Entretanto, as únicas populações que
apresentaram diferenças significativas foram Thrips sp e Apis mellifera, ambas maiores no
agroecossistema convencional. Concluí-se, apesar da limitação metodológica, que o tipo de manejo pode
influenciar na entomofauna dos agroecossistemas, sendo este, também, muito influenciado pela vegetação
do entorno e espécies cultivadas.
Palavras-chaves: ecologia de insetos, manejo integrado de pragas, agricultura orgânica, agricultura
convencional, biodiversidade
INTRODUÇÃO
Através de uma perspectiva histórica podemos perceber que a modificação do meio-ambiente está
relacionada, não só com processos geológicos e biológicos naturais, mas também com as ações antrópicas
de extração e transformação dos recursos naturais para suprir as demandas humanas por alimentos, fibras,
energia dentre outras matérias primas, caracterizando um processo de coevolução entre homem e biosfera.
Recentemente, através do IPCC (Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas) das Nações
Unidas, chegou-se a conclusões científicas que o aumento exponencial nos últimos anos das
concentrações de gás carbônico na atmosfera se deve fundamentalmente a queima de combustíveis
fósseis, ou seja, pela primeira vez na história da humanidade, os seres humanos estão sendo capazes de
influenciar nos processos climáticos do planeta, com conseqüências preocupantes.
As terras agricultadas ocupam hoje, aproximadamente, 1,5 bilhões de hectares do planeta, cobrindo
grande parte da superfície da terra. (ALTIERI et al.2003) Neste sentido, a forma como se pratica a
agricultura nesta imensa área, em geral, altamente dependente de produtos de origem fóssil, certamente
terá grande influencia no meio-ambiente e no clima como um todo, deixando o setor agrícola sob grande
responsabilidade ambiental. Na Era Industrial, com o crescimento demográfico e o aumento da demanda
por alimento, vimos surgir a partir da década de 60 a Revolução Verde, preconizada por Norman Burlaug,
que proporcionou grandes aumentos nas taxas de produtividade. Entretanto, esta técnica agrícola que se
tornou conhecida como “agricultura convencional”, tem como objetivo principal à maximização da
produção e do lucro a partir de seis práticas básicas que são: cultivo intensivo do solo, monocultura,
irrigação, aplicação de fertilizantes sintetizados, controle químico de pragas e manipulação genética de
plantas cultivadas. Desde que começou a ser praticada em larga escala nos países desenvolvidos, mas
sobretudo nos países em desenvolvimento, detecta-se como conseqüência uma elevada degradação do
solo, desperdício e uso exagerado de água, poluição do meio ambiente, dependência de insumos externos
e perda da diversidade genética. (GLIESSMAN, 2001)
A fim de dar resposta ao crescente impacto ambiental da agricultura convencional, a chamada
agricultura alternativa foi se desenvolvendo num movimento multifacetado, descentralizado e autônomo.
As diversas concepções de agricultura alternativa, como por exemplo a agricultura natural, biodinâmica,
orgânica, sustentável, permacultura, sistemas agroflorestais, agroecologia etc., possuem filosofias,
princípios e métodos com nuances diferentes, dificultando a universalização de um conceito único.
Entretanto, para a opinião pública em geral, tanto no Brasil como no Mundo, o termo “agricultura
orgânica” é o que mais tem sido difundido e conhecido, mas sendo relacionado apenas a produção de
alimentos sem o uso de agrotóxicos. A agroecologia, emergente ciência que começa e ser reconhecida pela
comunidade acadêmica, têm uma visão mais holística dos processos agrícolas, pois além de considerar o
respeito ambiental e a viabilidade econômica, insere também na análise da produção os aspectos sociais,
culturais e políticos, pois não se pode negar que a agricultura é um setor estratégico e tem íntimas relações
com a estabilidade política de um país.
No contexto da produção, os insetos praga e patógenos são responsáveis, em muitos casos, por
grandes perdas na produção agrícola, fazendo com que o seu controle seja uma das prioridades para os
agricultores. O conceito de “praga” na verdade é muito dinâmico e depende principalmente dos níveis
populacionais dos insetos e seu impacto na cultura, pois do ponto de vista ecológico a biodiversidade tem
um importante papel na manutenção do equilíbrio da cadeia trófica nos ecossistemas.(CROCOMO, 1990)
Entretanto, nossa metodologia ainda é muito limitada para analisar com precisão a multiplicidade dos
fatores que influem nos sistemas naturais.
OBJETIVO
O objetivo desse trabalho foi o de comparar a entomofauna de agroecossistemas convencional e
orgânico, relacionando-a com o tipo de manejo.
MATERIAL E MÉTODOS
Afim de unir a pesquisa e a extensão, este trabalho foi realizado nas áreas de dois produtores rurais
da cidade de Salesópolis – SP, distantes 18 km uma da outra. Para analisar a entomofauna, foram
distribuídas 4 placas adesivas Biotrap® (armadilhas) ao acaso, 2 amarelas e 2 azuis em cada propriedade,
num esquema fatorial 2 x 2. As armadilhas foram trocadas a cada quinze dias, de 01/03/08 a 10/05/08,
perfazendo um total de 5 avaliações. O agroecossitema convencional, (23°40‘S e 45°73‘W, altitude: 803
m), avaliado possui área de 2000 m² (25m x 80m) onde se cultiva couve em monocultura e é circundado
por fragmentos de mata nativa. No agroecossistema orgânico, (23°04'S e 45°73'W, altitude 835m), era
praticado no momento da avaliação o policultivo de beterraba, alface, vagem, quiabo numa área de
aproximadamente 1000m², rodeada por fragmentos de monocultura de eucalipto. Os insetos foram
contados com o auxílio de um microscópio-estereoscópio, exceto o Trips sp, cuja contagem foi realizada
por extrapolação do número contido em 1 cm² nas armadilhas infestadas. As médias das freqüências para
cada uma das categorias taxonômicas coletadas nas armadilhas foram analisadas e comparadas por Tukey
a 5% de probabilidade.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Tabela 1 – Comparação da freqüência relativa (F%) e número total de insetos (T) da entomofauna de
mesma ocorrência em agroecossistemas de cultivo convencional e orgânico.
Cultivo
Convencional
F%
T
Cultivo Orgânico
F%
T
Família/Gênero ou espécie
THYSANOPTERA: TRIPIDAE
Trips ssp
88,38
8231
34,07
525
DIPTERA: OITITIDAE
Euxesta sp
4,72
440
16,94
261
DIPTERA: CALLIPHORIDAE
(mosca-varejeira)
0,99
92
14,21
219
DIPTERA: SYRPHIDAE
Allograpta exotica
0,03
3
0,26
4
HEMIPTERA: CICADELIDAE
Empoasca ssp
0,86
80
8,76
135
HEMIPTERA: AUCHENORRHYNCHA
(várias espécies)
0,15
14
2,01
31
HEMIPTERA: PYRRHOCONIDAE
(Percevejo)
0,04
4
1,1
17
COLEOPTERA: CHRYSOMELIDAE
Diabrotica speciosa
Cerotoma arcuatus
0,81
0,81
75
75
2,27
5,06
35
78
COLEOPTERA: COCCINELIDAE
(Joaninha)
0,03
6
0,52
8
COLEOPTERA: LAMPIRIDAE
(Vaga-lume)
2,36
220
4,74
73
HYMENOPTERA: APIDAE-APIDAE
Apis mellifera
0,53
48
0,45
7
HYMENOPTERA: APIDAE-EUGLOSSINAE
Bombus ssp
0,1
8
0
0
HYMENOPTERA: BRACONIADE
(Parasitóides)
0,13
11
0
0
LEPIDOPTERA
(Borboletas)
0,02
2
3,12
48
LEPIDOPTERA
(Mariposas)
0,04
4
6,49
100
100
9313
100
1541
TOTAL
Gráfico 1. Comparação dos indivíduos coletados de Euxesta sp.
160
Convencional
Número de Indivíduos
140
Orgânico
120
A plicação de
agro tó xico
100
80
60
40
20
0
01/03/08 a 15/03/08 a 29/03/08 a 12/04/08 a 26/04/08 a
15/03/08
29/03/08 12/04/08 26/04/08
10/05/08
Avaliações
Gráfico 2. Comparação dos indivíduos coletados de Thrips sp.
Número de Indivíduos
6000
5000
A plicação de
agro tó xico
Convencional
Orgâncio
4000
3000
2000
1000
0
01/03/08 a 15/03/08 a 29/03/08 a 12/04/08 a 26/04/08 a
15/03/08 29/03/08 12/04/08 26/04/08 10/05/08
Avaliações
Gráfico 3. Comparação dos indivíduos coletados de Diabrotica speciosa.
40
Convencional
Número de Indivíduos
35
A plicação de
agro tó xico
30
Orgânico
25
20
15
10
5
0
01/03/08 a 15/03/08 a 29/03/08 a 12/04/08 a 26/04/08 a
15/03/08
29/03/08
12/04/08
26/04/08
10/05/08
Avaliações
Gráfico 4. Comparação dos indivíduos coletados de Apis mellifera.
30
Número de Indivíduos
Convencional
25
20
Orgânico
Co lméia na
mata adjacente
15
10
5
0
01/03/08 a 15/03/08 a 29/03/08 a 12/04/08 a 26/04/08 a
15/03/08 29/03/08 12/04/08 26/04/08 10/05/08
Avaliações
Gráfico 5. Comparação dos indivíduos coletados de Empoasca sp.
45
Número de indivíduos
40
Convencional
Cultivo de vagem
Orgânico
35
A plicação de
agro tó xico
30
25
20
15
10
5
0
01/03/08 a 15/03/08 a 29/03/08 a 12/04/08 a 26/04/08 a
15/03/08
29/03/08
12/04/08
26/04/08
10/05/08
Avaliações
Gráfico 6. Comparação dos indivíduos coletados de Lepidópteras.
30
Número de Indivíduos
Convencional
25
Orgânico
20
15
10
5
0
01/03/08 a 15/03/08 a 29/03/08 a 12/04/08 a 26/04/08 a
15/03/08
29/03/08
12/04/08
26/04/08
10/05/08
Avaliações
Verificou-se que na entomofauna do agroecossitema convencional havia uma população maior de
Trips ssp (Thysanoptera: Tripidae),
Euxesta sp (Diptera), Diabrotica speciosa (Coleoptera:
Chrysomelidae), vagalumes (Coleoptera: Lampyridae), Apis mellifera (Hymenoptera: Apidae-Apinae),
mamangavas (Hymenoptera: Apidae-Euglossinae) e parasitoides (Hymenoptera: Braconidae e
Ichneumonidae). Já o agroecossistema orgânico apresentou uma população maior de cigarrinhas
(Hemiptera: Auchnorryncha), percevejos (Hemiptera: Pyrrhocoridae), joaninhas (Coleoptera:
Coccinelidae), borboletas e mariposas (Lepidoptera). Entretanto, as únicas populações que apresentaram
diferenças significativas foram Trips ssp e Apis Mellifera, ambas maiores no agroecossistema
convencional. Concluí-se, portanto, que o tipo de manejo, orgânico ou convencional, pode influenciar na
entomofauna dos agroecossistemas que, por sua vez, também é muito influenciada pela vegetação do
entorno e das culturas em cultivo, havendo, no entanto, uma limitação da metodologia para avaliar com
precisão essa influência pela complexidade das variáveis.
CONCLUSÃO
Concluí-se, portanto, que o tipo de manejo, orgânico ou convencional, pode influenciar na
entomofauna dos agroecossistemas que, por sua vez, também são muito influenciados pela vegetação do
entorno e das culturas em cultivo, havendo, no entanto, uma limitação da metodologia para avaliar com
precisão essa influência pela complexidade das variáveis.
AGRADECIMENTOS
Agradeço ao Eng. Agrônomo João Paulo Sales, diretor de agronegócios, da secretaria de
Desenvolvimento da cidade de Salesópolis - SP, pois sem ele esse trabalho não poderia ter sido feito.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ALTIERI, M.A.; SILVA, E.; NICHOLLS, C. O papel da biodiversidade no manejo de pragas. Riberão
Preto: Holos, 2003.
CROCOMO, W. B.(Org). Manejo Integrado de Pragas: Botucatu: UNESP, 1990.
GLIESSMAN,S.R. Agroecologia: Processos ecológicos em agricultura sustentável. 2 ed. Porto Alegre:
UFRGS, 2001.
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