NO 6 – Nº 06, AGOSTO 2015
Ano
Karen Garcia Rachid
Bruno Luiz Domingos De Angelis
06
n.
ESPAÇO PÚBLICO
06
Faculdade de Engenharia e Arquitetura – FEA
p.125-140
Centro Universitário Nossa Senhora do Patrocínio
CEUNSP – Salto-SP
Rachid K. G., De Angelis B. L. D. - ESPAÇO PÚBLICO - REVISTA
COMPLEXUS – FACULDADE DE ENGENHARIA E ARQUITETURA – CEUNSP,
SALTO/SP, ano. 06, n.6.
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RESUMO
O artigo vem debater e propor um entendimento de como o complexo e harmonioso meio vegetal se impõem e se
sobrepõe ao sistema urbano. O ponto relevante do artigo e validar os encontros entre os dois agentes e conseguir
determinar o que seria um espaço público hoje. Mas com o enfoque de valorizar e entender essa união.
PALAVRAS-CHAVE: estruturas, qualidades, cenário.
1. ESPAÇO PÚBLICO URBANO
A ligação entre as áreas verdes e urbanas é proporcionada pela conservação da
flora. Nas vias públicas, por exemplo, a arborização de calçadas forma corredores conectando
espaços vegetados com espaços públicos, conforme a Figura 1.
Figura 1 – Espaço urbano arborizado, Lago Igapó em Londrina-PR
Fonte: Autor, (24/06/2013).
O espaço urbano não é produzido, mas, sim, preparado para nele o homem habitar,
preparação esta realizada pela técnica urbanística de distribuição – traçado das ruas e
divisão em lotes – e pela tecnologia – as edificações, as obras-de-arte e as máquinas de
transportes – exigindo um sistema político e administrativo extremamente complexo para
manter tudo isto em funcionamento (FERRAZ, 1997, p. 142).
Para promover o planejamento e gestão desses espaços, utiliza-se um campo
específico à arquitetura paisagista. O espaço público urbano é um espaço da cidade destinado
ao uso comum, para atividades coletivas. Como explica Faria (2005), o paisagismo se divide
em duas categorias, as coletivas e privativas. As coletivas são de uso ou benefício de toda a
comunidade, ou seja, públicas.
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Um espaço urbano possui vias, edifícios, equipamentos urbanos, espaços vazios,
e espaços verdes, que, para o contexto urbano, podem ser públicos ou privados, são espaços
compostos de elementos vegetais. Segundo Jacobs (2003, p. 430):
Alguns espaços ao ar livre que atuam como centros de atração, às vezes chamados de
pontos centrais, têm muitas das características de um ponto de referência, e de boa parte de
seu poder de tornar a ordem mais explícita provém da diferenciação de seu uso, como ocorre
com as edificações que são pontos de referência.
Os primeiros grandes espaços verdes só apareceram no século XVIII, junto com
planos de urbanização das cidades, em que o paisagismo atua, dispondo de maneira
adequada e harmoniosa as vegetações. O espaço público de uma cidade é o lugar do lazer,
do descanso, da circulação de pessoas e da possibilidade de um encontro com outra pessoa,
ou seja, são significativos no cotidiano das pessoas e possuem também valores ambientais
como:
•
Melhoria na ventilação e aeração urbana, que permite a
circulação de ar;
•
Melhoria da insolação de áreas muito adensadas;
•
Ajuda no controle da temperatura;
•
Melhoria na drenagem das águas pluviais com superfícies
permeáveis;
•
Proteção do solo contra a erosão;
•
Proteção e valorização dos mananciais de abastecimento, dos
cursos d’água, lagos contra contaminação.
Segundo Macedo (1997), a paisagem retrata um processo de ocupação
executado pelo homem. O Brasil teve inicialmente uma ocupação mercantilista para a
exploração. Mesmo depois do fim do período da colonização no Brasil e da revolução
industrial, com o aumento da pobreza e da concentração de riqueza urbana, a desigualdade
social continua fazendo parte dos centros urbanos.
Esses espaços públicos são caracterizados pela desigualdade social, segregação
espacial e violência que assinalam a realidade atual, das cidades contemporâneas.
A reação do homem foi então a de restringir a ocupação: começou a criar a legislação
ambiental com o caráter que mantém basicamente até hoje. A partir da década de 70,
encontros internacionais vieram levantando a problemática ambiental, originando um
movimento, o ambientalista, que teve como consequência em nível governamental, a criação
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de diversas áreas protegidas, sob diversas classificações: parques, reservas ecológicas,
estações ecológicas, entre outras, de caráter preservacionista e pressupondo-se a
inexistência de ocupação humana (MACEDO, 1997, p. 80).
Porém, para assegurar o bem-estar dos seres, foi preciso especificar na legislação
o que deve ser preservado, ou seja, Área de Preservação Permanente (APP), a esse respeito,
o novo Código Florestal, Lei n° 12.651 de 2012, é uma lei brasileira que dispõe sobre a
proteção da vegetação nativa.
Apesar dos espaços públicos serem referência na paisagem da cidade,
necessitam da presença vegetal para oferecer aos usuários as condições de conforto
climático e visual. Ainda contam com equipamentos públicos, comércio e serviços, assim
como as praças públicas, que proporcionam ambientes para o lazer e benefícios para a
qualidade de vida dos seres. “Paisagem e espaço não são sinônimos. A paisagem é um
conjunto de formas que, num dado momento, exprimem as heranças que representam as
sucessivas relações localizadas entre homem e natureza. O espaço são essas formas que a
vida anima” (SANTOS, 1997, p. 66).
Essa concepção de paisagem está ligada à prática do paisagismo com a
introdução da arborização nos espaços públicos, por exemplo, nas praças, sobretudo por
serem áreas abertas, não edificadas e destinadas para circulação, lazer e permanência dos
usuários.
Portanto, os espaços públicos urbanos, em geral, são representados pelas suas
funções, como: circulação para vias, permanência para praças, lazer para os jardins e
parques, esporte e cultura para os equipamentos de uso coletivo e as áreas de preservação
ambiental. “Se as ruas de uma cidade parecerem interessantes, a cidade parecerá
interessante; se elas parecerem monótonas, a cidade parecerá monótona” (JACOBS, 2003,
p. 29).
1.1 Praça
A sucinta discussão anterior tratou da paisagem do meio urbano e dos espaços
públicos urbanos, bem como a importância delas para a cidade. As praças abordadas nesta
seção são uma forma de representação de espaços públicos urbanos, ou seja, espaços livres,
que são, por conseguinte, uma representação da paisagem.
Como já tratado anteriormente, os espaços livres permitem a inserção de
elementos vegetais muito importantes para a vida urbana. Conforme Terra (2004), desde a
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Antiguidade, na Europa, a inserção de áreas verdes fazia parte da estrutura organizacional
da cidade.
A adaptação das cidades às mudanças, resolvendo problemas como, inundações,
deslizamento do solo, seca, poluição sonora, poluição atmosférica, chegam sempre em
primeira instância ao elemento vegetal.
Conforme Gomes (2003), a vegetação passou a ter um papel importante nas
cidades depois do século XIX, pois, até então, o meio urbano tinha que expressar o oposto
do rural. Porém, depois, com as consequências provocadas pela ausência de planejamento
urbano, foi possível identificar a vegetação como elemento necessário ao espaço urbano.
Assim, as áreas destinadas ao verde, praças, surgem no século XVIII, mas se acentuam
durante o século XIX.
Assim como nas antigas cidades européias, os primeiros jardins públicos brasileiros
instalaram-se nas bordas das cidades e em terras em condições topográficas que
desfavoreciam o arruamento ou as construções. Da mesma forma, surgem as áreas verdes
urbanas no Brasil, ainda pouco planejadas. Exemplos desses tipos de jardins apareceram
em cidades como Rio de Janeiro, Belém, Olinda, Ouro Preto e São Paulo (GOMES, 2003,
p.2).
No Brasil, na segunda metade do século XIX, a arborização urbana é adotada
devido a questões relacionadas ao aspecto funcional, morfológico ou estético, como a
vegetação foi inserida também em locais decorrentes da monotonia dos edifícios, compondo
assim paisagem e amenizando-a.
A vegetação organiza elementos da estrutura urbana, sem ela a característica da
paisagem seria totalmente diferente. “Caracterizam a imagem da cidade; têm individualidade
própria; desempenham funções precisas: são elementos de composição e do desenho
urbano; servem para organizar, definir e conter espaços” (LAMAS, 2000, p. 106).
Vegetação como elemento marcante. Em algumas praças podem ser árvores históricas de
grande porte com intenso sombreamento e em outras um simples gramado. Espécies nativas
e/ou simbólicas com folhagens e floradas variadas e que mostrem o ciclo das estações.
Analisar a relação da vegetação com as possibilidades de uso (YAMAKI, 2008, p. 28).
Vê-se então que a praça é caracterizada também pelos seus elementos, por
exemplo, vegetação. “A definição de praça na cidade tradicional implica, como na rua, a
estreita relação do vazio (espaço de permanência) com os edifícios, os seus planos marginais
e as fachadas” (LAMAS, 2000, p. 102).
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A praça, juntamente com a rua, consiste em um dos dois mais importantes espaços públicos
urbanos da história da cidade no país, tendo, desde os primeiros tempos da Colônia,
desempenhado um papel fundamental no contexto das relações sociais em desenvolvimento
(ROBBA; MACEDO, 2003, p. 11).
De tal modo, a praça valoriza a paisagem e, por isso, deve ser apreciada, assim
como os espaços bem estruturados e planejados, que passam a servir como local de reunião
de pessoas, incrementando a cidade, valorizando os espaços, propiciando a convivência
harmoniosa entre as pessoas.
Segundo Yamaki (2008), na praça, além de lugar de encontro da população, há
valores simbólicos, estéticos e funcionais. Além disso, é utilizada também tanto para ser uma
praça de celebrações, manifestações políticas e culturais, como praça monumento.
Definir um sistema de praças com uma hierarquia e uma organização formal diferenciada.
Por exemplo, “praça da árvore”, “praça da escola”, ou do “posto de saúde”, buscando entre
outros, facilitar a orientação no espaço urbano (GOUVÊA, 2002, p. 71).
A geometria da praça varia em quadrada, triangular, circular dentre outras com
formatos irregulares, Lamas (2000) explica que no urbanismo, o desenho das praças tem se
formado muitas vezes por um logro. Assim Robba e Macedo (2003) determinam que as praças
possuem várias e distintas funções e podem ser classificadas em cinco tipologias:
•
Praça de Mercado (para atividade comercial da cidade, com
grande movimento);
•
Praça no Portal da Cidade (em áreas de passagem e distribuição
de tráfego, a maioria são triangulares);
•
Praça no Centro (no centro da cidade, ou no centro de
comunidades novas, para o lazer e/ou circulação das pessoas, serve
também à amenização das condições climáticas, da qualidade do ar e
insolação);
•
Adros de Igreja (em frente à igreja);
•
Praça Agrupada (pequenos espaços entre praças de mercado e
adros de igreja).
O Brasil possui muitas praças. Pouquíssimas, porém, assemelham-se às celebradas praças
medievais e renascentistas europeias. Somente alguns poucos espaços coloniais, que
resistem até hoje, possuem tal estrutura morfológica, como, por exemplo, o Largo do
Pelourinho, em Salvador, o Pátio de São Pedro, no Recife, e o Pátio do Colégio, em São
Paulo (ROBBA; MACEDO, 2003, p. 16).
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Com a transição do modelo de urbanização colonial para o de cidade, surge a
necessidade do belo e do higiênico, tendo assim uma nova tipologia urbana, a praça
ajardinada, que representa a junção da praça e do jardim, significando um marco na história
dos espaços livres urbanos, já que altera a função da praça na cidade. Além da distinção entre
funções, atualmente há classificações diferentes quanto a sua composição:
•
Praça vazia (seca): espaços destinados à circulação de
pedestres (Figura 2);
•
Praça com a presença do elemento água, por exemplo, com a
presença de um chafariz (Figura 3);
•
Praça com jardim, espaços com a presença da vegetação,
destinados a contemplação (Figura 4);
•
Praça recreativa, com espaços para o lazer com equipamentos
urbanos (Figura 5).
Figura 2 – Praça dos Três Poderes em
Brasília
Fonte: http://www.brasil.gov.br/ (2014).
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Figura 3 – Praça General Osório em
Curitiba
Fonte:
http://www.parquesepracasdecuritiba.com.br/ (2014).
Figura 4 – Praça Rui Barbosa em
Curitiba
Fonte:
http://www.parquesepracasdecuritiba.com.br/ (2014).
Figura 5 – Praça Afonso Botelho em
Curitiba
Fonte:
http://www.parquesepracasdecuritiba.com.br/ (2014).
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“A praça agora é um belo cenário ajardinado destinado às atividades de recreação
e voltado para o lazer contemplativo, a convivência da população e o passeio” (ROBBA;
MACEDO, 2003, p. 29).
Em um primeiro momento antes das classificações quanto à funcionalidade e
composição dos elementos das praças, deve-se categorizar qual análise precisa ser feita,
conforme Yamaki (2008) explica, a análise pode ser um estudo das características físicas
somente da praça; cognitiva, ou seja, análise do comportamento dos usuários; a cultural e
social.
Em alguns espaços, a localização, o entorno e o processo histórico da praça são
significativos. Para a análise em Londrina-PR, é necessário saber que, no Brasil, a ideia que
se tem de uma praça é a de um espaço público urbano livre de edificação, sem circulação de
veículos com a presença de vegetação.
Diferentemente da história no passado e de outros países, há praças totalmente
vazias, sem mobiliário e sem vegetação. Mas independente da tipologia da praça é importante
preservá-la e não transformá-la, mantendo, assim, a identidade dela.
De acordo com Mascaró (1996), a praça é delimitada pelas fachadas das
edificações que a circundam, apenas contesta o conceito de volume entre edifícios, tornandose um lugar particular (Figura 6).
Figura 6 – Praça Roosevelt em São Paulo
Fonte: http://www.prefeitura.sp.gov.br/cidade/ (2014).
Preservar, regenerar o caráter de praças históricas em cidades novas com pouco mais de
setenta anos é um desafio. É o caso de Londrina, fundada em 1934. A perda ou o
“desvirtuamento” do caráter das praças é um processo em que os métodos usuais de
planejamento não conseguem dar o suporte necessário. Em muitos casos observa-se que
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restaurar praças históricas é sinônimo de substituir o mobiliário, o piso, a vegetação e
implantar um módulo policial. Ou ainda, dar um “ar histórico” com mobiliário retrô (YAMAKI,
2008, p. 20).
No que se refere às praças, conclui-se que elas possuem características com
valores históricos e culturais, além de proporcionarem qualidade e identidade à cidade.
Afirma-se que a preservação das praças é indispensável às cidades. Uma das várias questões
que permeiam o trabalho é: Como se pode avaliar o estado de funcionalidade de uma praça?
Segundo Yamaki (2008), em Londrina-PR, por exemplo, a cidade foi projetada
pelo engenheiro Dr. Alexandre Razgulaeff em malha xadrez com elipse central tangenciada
por uma diagonal, a planta não tinha praças, só jardins (Figura 7).
Figura 7 – Primeira planta do parcelamento urbano da cidade de Londrina, elaborada por
Alexandre Razgulaeff - 1932
Fonte: BORTOLOTTI (2007).
Somente uns 20 anos depois, em 1953, houve a oficialização dos nomes de
quatorze praças em Londrina. Durante esses 60 anos as praças sofreram transformações,
mas atualmente, no início do século XXI, várias praças históricas estão sendo recuperadas.
Yamaki menciona ainda que, para recuperá-las, o critério seria identificar os
elementos que a permeiam, como: imagem inicial; relevo; acessos; escala (proporção na
paisagem); vegetação; mobiliário; visual; outras paisagens; história; significado da praça e do
entorno; apropriação (utilização) pela comunidade.
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1.2 Calçadão
Ao longo das discussões suscitadas neste estudo, foi possível perceber que
sempre se verificou a existência de uma relação do meio com o homem, seja essa relação
ligada à natureza, aos espaços livres na cidade, a praças ou até mesmo vias, tema abordado
nesta seção. Existe também, a relação dos espaços livres com as vias de circulação.
A criação de ruas para pedestres no centro das cidades teve início por
questionamentos de comerciantes com as administrações municipais, correlacionando o
atrativo turístico com questões econômicas, sendo o fator decisivo do seu surgimento o tempo.
“A imagem da cidade não se traduz apenas nas vias, prédios e serviços, ela se
diferencia por todo o repertório de sua memória” (MELO; ROMANINI, 2008, p. 54).
Antigamente as ruas de um centro histórico e áreas centrais eram caracterizadas por serem
estreitas e sem calçamento, com o tempo e com o aumento populacional e consequente
expansão, passaram por modificações. Hoje, são mais lineares, largas e acessíveis,
apresentam equipamentos urbanos e são lugares mais agradáveis para se caminhar.
O centro em geral destinado ao comércio e a negócios passou a ter um grande
fluxo de pessoas, assim, houve a necessidade do alargamento das calçadas. Porém, em
muitos casos não foi possível, então, algumas vias de fluxo de veículos tiveram que passar a
ser destinadas apenas à velocidade baixa, somente para pedestres e emergências. Segundo
Ferreira (2007), a rua passou a ter as características de uma via de pedestres, com piso
diferente, bancos, luminárias e ajardinamento.
No Brasil, no século XX, o urbanismo passou a seguir técnicas mais flexíveis de
intervenções urbanas, com questões econômicas, sociais e ambientais. Foi quando os
calçadões passaram a ser implantados, pois envolviam todas essas questões.
“A partir dos anos 60/70, tardiamente tocadas pela falta de lugar de circulação e
trocas sociais para o pedestre, as administrações começaram a introduzir alguns espaços
urbanos renovados, como o nome de ‘ruas de pedestres’ ou calçadões” (MACEDO, 1996, p.
103).
“O calçamento de vias públicas é bastante antigo, conhecendo-se vários sítios
arqueológicos nos mundos greco-romano e oriental” (MACEDO, 1996, p. 106).
As estradas romanas formavam vias de comunicação para o Império Romano,
antes o percurso era de terra. Em meados de 300 a 400 a.C, a primeira via romana foi criada
de Roma até a cidade de Cápua, com a necessidade de rotas sólidas, para uma circulação
mais rápida e segura para as tropas, de tal modo, comerciantes passaram a utilizá-la também.
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Os romanos calçavam as ruas, já as calçadas tinham pedras transversais mais
altas para escoar a água da chuva. Durante o percurso de uma rua havia bancos, pois havia
a preocupação com a sociabilidade, convivência e fontes pela necessidade de água nas
casas.
Todavia, bem mais tarde, com a revolução industrial, houve a necessidade de
deslocamento do homem e de matérias-primas às fabricas, surgindo a máquina a vapor, no
final do século XIX. Enquanto a velocidade da locomoção era baixa, não havia a necessidade
de vias somente para pedestres. Mas quando as locomotivas passaram do vapor à
eletricidade, com o surgimento do automóvel, o percurso não podia ser mais o mesmo,
criaram-se as vias para veículos separadas das vias para pedestres.
“O volume crescente de tráfego fez com que o poder público investisse mais nas
vias públicas, melhorando suas condições” (JANUZZI, 2006, p. 11). Com a via destinada para
uso do pedestre e remetendo à ideia dos romanos de espaços para convívio, a pavimentação
usada nas praças foi destinada para via de fluxo de pedestres. Os Calçadões tornaram-se
importantes na metade do século XX, principalmente com o objetivo de revitalização de áreas
centrais que estavam em processo de abandono e decadência.
“Esses projetos foram tentativas de conciliar os padrões de crescimento
econômico, renovando a estrutura da área central para estimular as cidades dentro das novas
formas de competição do mercado” (JANUZZI, 2006, p. 103).
A criação do Calçadão visou privilegiar o meio ambiente e os pedestres em relação
ao tráfego de veículos, valorizando a imagem da cidade e da convivência social, muitas vezes
com uma nova pavimentação, novo mobiliário urbano, arborização, instalações de bancas,
lanchonetes, entre outros equipamentos urbanos.
Projetada nos anos de 1950, uma das primeiras ruas de pedestres, foi em
Rotterdam na Holanda. Segundo Ferreira (2007), em Franca, o primeiro calçadão foi realizado
em 1974, a proposta dos anos de 1960, o pedido foi dos comerciantes locais, sendo a via
extremamente comercial, conhecida como Rua do Comércio.
No Brasil, no final dos anos de 1960, em Curitiba, criou-se o Calçadão da Rua das
Flores junto com a recuperação da área histórica da cidade. Hoje, a Rua das Flores abrange
a Avenida Luiz Xavier e parte de Rua XV de Novembro (Figuras 8 – 10). A rua tornou-se um
ponto comercial e de encontro de pessoas. O modelo foi reproduzido nas demais cidades
brasileiras e cada região tinha uma abordagem diferente, particularizando aspectos locais.
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Figura 8 – Rua XV de Novembro
Fonte: http://www.curitibaparana.net/rua-flores (2014).
Figura 9 – Rua XV de Novembro
Fonte: http://www.curitibaparana.net/rua-flores (2014).
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Figura 10 – Rua das Flores
Fonte: http://www.saopaulo.sp.gov.br/
(2014).
O Vale do Anhangabaú em São Paulo foi transformado, em 1981, criando-se um
espaço de lazer, resgatando a ideia de boulevard, com chafarizes, bancos, praça com áreas
verdes e esculturas. Localizado na região central da cidade de São Paulo, é um espaço
público caracterizado como praça, mas atualmente configurado como Calçadão, pois possui
um papel fundamental na circulação de pedestres.
Além da formação em áreas centrais, há calçadões que se originam à beira-mar,
pois a formação de algumas cidades tem seguindo a orla marítima, são cidades litorâneas
como, Recife, Rio de Janeiro, Santos e Salvador. Verifica-se que as vias são caracterizadas
e associadas ao histórico e à origem da cidade. O Calçadão tem sua formação junto com a
formação da cidade, aos redores de centros comerciais junto com a necessidade do fluxo de
pedestres.
Há presença também de calçadões provisórios, por exemplo, aos sábados e
domingos o trecho da Rua São Francisco, entre a Rua Pres. Faria e a Rua Riachuelo em
Curitiba-PR é bloqueada para circulação de pedestres, aos domingos a prefeitura optou por
fechar a Avenida Cândido de Abreu. Em Maringá-PR ao longo da Av. São Paulo no entorno
do Parque do Ingá, já para o fluxo de pedestres e ciclistas, em Londrina–PR, ao redor do Lago
Igapó II na Rua Prof. Joaquim de Matos Barreto.
2. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Ao longo deste artigo, foi possível compreender que os espaços públicos são uma
particularidade nas cidades. Referente ao planejamento urbano, a disposição de áreas livres
contribui com o melhoramento da cidade e o convívio entre os usuários. As praças, os
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calçadões têm a formação junto com a cidade e são uma forma de representação de espaços
públicos urbanos, que permitem a inserção de elementos vegetais.
3. REFERÊNCIAS
BRASIL. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. IBGE. Censo 2010. Disponível em
<www.ibge.gov.br/home/> Acesso 2013 e 2014.
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Londrina: Midiograf, 2007. Ilustrado. 204 p.
FARIA, R. T. D. Paisagismo: harmonia, ciência e arte. Londrina-PR: Editora Mecenas, 2005,
350 p.
FERRAZ, H. Filosofia urbana. São Paulo: Scor Tecci, 1997, 354 p.
FERREIRA, M. Planejamento Urbano nos tempos do SERFHAU: o processo de construção
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Tese. (Doutorado-Programa de Pós-Graduação em Arquitetura e Urbanismo). Escola de
Engenharia de São Carlos, Universidade de São Paulo, 2007.
GOMES, M. A. S.; SOARES, B. R. A Vegetação Nos Centros Urbanos: Considerações
Sobre Os Espaços Verdes Em Cidades Médias Brasileiras. Estudos Geográficos, Rio Claro,
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GOUVÊA, L. A. Biocidade: conceitos e critérios para um desenho ambiental urbano, em
localidades de clima tropical de planalto. São Paulo: Nobel, 2002, 174 p.
JACOBS, Jane. Morte e vida de grandes cidades. São Paulo: Martins Fontes, 2003, 170 p.
JANUZZI, D. D. C. R. Calçadões: a revitalização urbana e a valorização das estruturas
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