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INTRODUÇÃO
Este curso de latim destina-se aos alunos que fazem Letras na universidade,
portanto é necessário um conhecimento básico da língua portuguesa, para que se
possam compreender as noções elementares da língua latina.
Para que esse conhecimento não fique indefinido, façamos um esboço do que
será necessário entender na estrutura da língua portuguesa:
1. noções de classe de palavra: substantivo, adjetivo, advérbio, verbo,
conjunção, preposição, artigo, numeral e pronome.
2. noções de função sintática: sujeito, predicativo do sujeito, objeto direto,
predicativo do objeto, objeto indireto, agente da passiva, complemento
nominal, adjunto adnominal e complemento adverbial; predicado nominal e
predicado verbal.
Essas noções serão fundamentais para o entendimento das relações entre os
casos latinos e as funções das palavras em português. Esses casos do latim
correspondem às funções sintáticas das palavras na oração. Entendamos oração como
uma estrutura com sujeito e predicado, para que possamos exemplificar com modelos
mais simples cada parte de sua constituição.
Se algum aluno encontrar dificuldades em identificar essas estruturas simples de
morfologia e sintaxe, deverá providenciar uma revisão dessa matéria, antes de começar
propriamente o estudo da língua latina. Essas noções darão ao aluno a segurança de
prosseguir o curso, sem maiores problemas.
Este curso é dado em etapas que levam o aluno a refletir sobre a estrutura da
língua latina, através do seu conhecimento da língua portuguesa. Como o latim é línguamãe da língua portuguesa - além de ser também de outras como espanhol, francês,
italiano e romeno, para ficar só nas línguas oficiais de Estados -, é possível compreender
sua estrutura com o conhecimento médio, passado nas escolas, presente em gramáticas e
livros didáticos e exigido em todos os programas oficiais do Brasil.
Portanto, todos os alunos podem fazer o curso de latim com bom desempenho.
Não será exigido conhecimento aprofundado de nenhuma noção lingüística. O que se
verifica é exatamente o contrário: o aluno passará a compreender melhor a estrutura de
seu próprio pensamento, raciocinando melhor, lendo e escrevendo com maior
competência.
METODOLOGIA
Este curso é dado semestralmente na UFPB, obrigatório para alunos de Letras e
optativo para alunos de outros cursos.
As aulas são desenvolvidas de acordo com a matéria dada, ou seja, o tema da
primeira aula será retomado na seguinte, de forma cumulativa, de modo que o aluno
possa desenvolver o que foi aprendido e avançar no curso. Não haverá tempo para uma
reflexão mais aprofundada de cada tema desenvolvido, pois o curso se condensa em um
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semestre; no entanto, deve-se dominar o assunto de cada aula, no formato como é dado,
uma vez que o próximo assunto pressupõe o conhecimento do que foi anteriormente
dado.
O vocabulário empregado é reduzido ao essencial, para que se possa empregá-lo
nos exercícios, sem a necessidade de consulta a dicionários e glossários. Contudo, é
importante que cada aluno tenha a disposição um dicionário de latim, não para o curso
em si, mas para usá-lo para traduzir trechos de citações, em prosa ou em verso, seja de
autores clássicos como Cícero, Virgílio e Horácio, seja de autores cristãos.
OBJETIVO
De modo geral, o aluno deverá ser capaz de identificar as formas nominais e
verbais, para organizá-las em uma expressão coerente e compreensível. Essa dificuldade
será abordada ao longo do curso, para que se reconheça a estrutura da língua latina, o
que é fundamental para a tradução para o português.
Particularmente, o aluno que conseguir organizar um texto latino, para traduzir
suas formas de modo claro, será capaz de explicar esse processo de análise e
composição, tornando-se competente na explicação desse texto na sala de aula e por
escrito.
AVALIAÇÃO
As provas serão aplicadas de acordo com o exercício dado como modelo e serão
feitas com consulta aos próprios apontamentos. Não será preciso decorar nada! Todas as
tabelas de nomes e verbos servirão de instrumento do exercício de tradução para o
português e versão para o latim. Sem isso, não haverá possibilidade de concluir em um
semestre o estudo essencial da estrutura da língua latina.
PARTE I
A língua latina é proveniente do indo-europeu, grupo lingüístico que abrange a
maioria das línguas européias, com ramificações até a Índia, com o sânscrito. Pode-se
imaginar esse grupo como uma árvore de imensa copa, em que cada ramo principal
representa um subgrupo: indo-iraniano (sânscrito, persa, iraniano etc.), helênico (grego
antigo, grego moderno), céltico (escocês, irlandês, bretão, galês etc.), germânico
(alemão, holandês, inglês etc.), eslavo (russo, ucraniano, polonês, búlgaro etc.), báltico
(lituano, letão etc.), indo-irânico (sânscrito, híndi, curdo etc.), germânico (alemão,
holandês, inglês etc.), itálico (osco, umbro, latim), além de outros como anatólio e
tocariano, apenas com referências indiretas.
Do ramo itálico, através do latim, nasceram as línguas românicas: italiano,
catalão, português, espanhol, francês, sardo, ladino, galego etc.
No entanto, o latim que dá origem a essas línguas é o latim falado, e não o
escrito, literário. Como não se pretende falar em latim, mas aprender a traduzir obras
clássicas, o latim clássico, da poesia e da prosa, será nosso objeto de estudo. Esse latim
clássico abrange dois séculos: I a. C. e I d. C., ou seja, o século primeiro antes de Cristo
e o século primeiro depois de Cristo.
Situada a época, passemos às características básicas do latim:
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A posição das palavras não caracteriza sua função sintática, como em português.
Por exemplo, o homem vê o lobo é diferente de o lobo vê o homem. Embora essas
orações contenham as mesmas palavras, seu sentido é diferente, pois em uma oração
homem é sujeito, em outra, é complemento do verbo, ou seja, objeto direto. Da mesma
forma, a palavra lobo, em uma oração é sujeito e em outra é complemento. Ora, não é
preciso analisar a oração para entendê-la, pois compreendemos e empregamos
naturalmente essa variação, que é característica de todas as línguas românicas. Em
latim, não há essa possibilidade de inverter a posição das palavras e modificar o sentido;
sendo uma língua declinada, a simples inversão da ordem não altera o sentido.
Em uma língua declinada, cada palavra (substantivo e adjetivo) traz no final uma
característica que identifica sua função sintática em uma oração. Se passarmos para o
latim os exemplos dados, homo videt lupum (o homem vê o lobo) e lupus videt hominem
(o lobo vê o homem), perceberemos que -além de não haver artigo, nem acentuação- as
palavras também se modificaram, quando se modificou o sentido.
Se tomarmos um desses exemplos, homo videt lupum, e simplesmente
invertermos a posição das palavras, sem alteração, não haverá mudança de sentido: videt
homo lupum; lupum homo videt; lupum videt homo. A tradução continuará sendo o
homem vê o lobo. Portanto, é preciso conhecer o quadro da relação caso-função e os
quadros das declinações de substantivos e adjetivos.
PARTE II
Caso é a variação ou flexão que as palavras apresentam no final. Cada caso está
relacionado basicamente a uma função sintática:
Nominativo, é o caso do sujeito e do predicativo do sujeito, em uma oração.
Vocativo é propriamente o vocativo.
Acusativo, é o caso do objeto direto.
Genitivo, é o caso do adjunto adnominal.
Dativo, é o caso do objeto indireto.
Ablativo, é o caso do adjunto adverbial e do agente da passiva.
Para praticar essa relação, leiamos as seguintes frases:
1. O aluno leu o livro.
2. Aluno, lê o livro.
3. O livro do aluno é grande.
4. O professor deu um livro ao aluno.
5. O professor ensina com o livro.
6. O livro foi lido pelos alunos.
Se fôssemos verter essas frases para o latim, em que caso colocaríamos as
palavras em destaque? Deve-se justificar a escolha. Por exemplo:
1. aluno – nominativo/sujeito; livro – acusativo/objeto direto.
Deve-se tentar responder a todas antes de ver as respostas. É importante que se
faça a análise sintática da frase toda, antes de determinar o caso.
Respostas:
2. aluno – vocativo/vocativo.
4
3. aluno – genitivo/adjunto adnominal; grande – nominativo/predicativo do
sujeito.
4. professor – nominativo/ sujeito; livro – acusativo/objeto direto; aluno –
dativo/objeto indireto.
5. livro – ablativo/adjunto adverbial.
6. alunos – ablativo/agente da passiva.
Devemos lembrar que antes de tentar aprender as teorias lingüísticas mais
complexas, é preciso dominar os fundamentos de sua própria língua.
Em uma frase como esta: O meu livro de história, que comprei neste ano, é
grande e pesado, é obrigação do aluno (futuro professor) conhecer a classe gramatical
das palavras e a função sintática de cada uma delas.
Para repetir o exercício anterior, em que caso ficariam as seguintes palavras:
livro – história – que – ano – grande – pesado?
PARTE III
Na língua latina, as palavras declináveis (substantivos e adjetivos) possuem tema
vocálico ou um radical consonântico. Didaticamente, elas se dividem em cinco
declinações, que correspondem às que têm tema –a, -o, -i, -u e as de radical
consonântico.
A primeira declinação é de tema –a, com palavras femininas, na maioria, e
algumas masculinas. Vamos ao exemplo:
Magistra legit bonam fabulam.
A tradução dessa oração é “A professora lê uma boa fábula”. Deve-se lembrar
que a ordem da oração em latim não é necessariamente a mesma que em português.
Supondo-se que não saibamos sua tradução, como poderíamos traduzi-la?
Precisaríamos consultar um dicionário ou um glossário.
As palavras em latim mudam sua forma, ou seja, se declinam. Então, como elas
aparecem no dicionário?
A entrada lexical das palavras declináveis é o nominativo. Em seguida, vem o
genitivo. Os outros casos não aparecem como entrada lexical, portanto deveremos
conhecer a declinação das palavras para poder traduzi-las.
Mas como conhecer todas as palavras, com suas declinações? É claro que isso é
impossível. Então, deveremos conhecer um modelo que sirva para todas.
Modelo da primeira declinação, tema –a: fabula, -ae (f). Assim aparecem os
substantivos nos dicionários, primeiro o nominativo fabula, depois o genitivo fabulae e
por último o gênero (f), de feminino. O significado é fábula, conto, estória etc.
O adjetivo concorda com o substantivo em gênero, número e caso. Como o latim
tem gênero masculino, feminino e neutro, o adjetivo aparece nessas três formas, no
nominativo: bonus, bona, bonum; primeiro o masculino, depois o feminino e em
seguida o neutro.
Ocorre que fabulam não se encontra no nominativo; na oração dada, esse
substantivo está no acusativo, objeto direto do verbo legit, que será estudado mais
adiante.
A conclusão é que deveremos conhecer o nominativo das palavras, para saber
como se declinam. Eis o modelo do tema –a:
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SINGULAR
PLURAL
N
fabula bona
fabulae bonae
V
fabula bona
fabulae bonae
A
fabulam bonam
fabulas bonas
G
fabulae bonae
fabularum bonarum
D
fabulae bonae
fabulis bonis
Ab
fabula bona
fabulis bonis
Como se observa na tabela, o substantivo está acompanhado do adjetivo,
fazendo-se a concordância devida; os casos estão abreviados pelas letras iniciais; alguns
casos são coincidentes; nem todas as formas apresentam o –a do tema.
O mais importante é observar o nominativo singular, o genitivo singular e o
genitivo plural, pois este último determina o tema, com o final –arum.
Em todas as declinações, o genitivo plural é que determina o tema.
Felizmente, todas as palavras de tema –a seguem esse modelo. Conhecendo-o,
poderemos declinar qualquer palavra desse tema.
Dado o vocabulário, façamos a tradução:
Magistra, -ae (f): professora.
Fabula, -ae (f): fabula, conto, estória.
Discipula, -ae (f): discípula, aluna.
Bonus, bona, bonum: bom, boa, boa coisa (masculino, feminino e neutro).
Legit : lê, 3ª pessoa do singular, indicativo presente, voz ativa.
Legunt : lêem, 3ª pessoa do plural, indicativo presente, voz ativa.
Legitur : lê-se, 3ª pessoa do singular, indicativo presente, voz passiva.
Leguntur : lêem-se, 3ª pessoa do plural, indicativo presente, voz passiva.
1.
2.
3.
4.
Magistra legit fabulam bonam.
Discipula fabulam bonam legit.
Magistra bonas fabulas legit discipulis bonis.
Discipulae bonae legunt fabulas magistris.
Respostas:
1. A professora lê uma boa fábula. (Em latim, não há artigo.)
2. A aluna lê uma boa fábula. (A posição das palavras é aleatória.)
3. A professora lê boas fábulas às boas alunas. (Nominativo singular –
acusativo plural – dativo plural)
4. As boas alunas lêem boas fábulas às professoras. (Nominativo plural –
acusativo plural – dativo plural)
Para utilizar a voz passiva, é preciso lembrar que os verbos devem ser transitivos
diretos, que passam à voz passiva, o sujeito passa a agente da passiva e o objeto direto
passa a sujeito paciente. Assim, em “A professora lê a fábula”, na voz passiva será “A
fábula é lida pela professora”. O agente da passiva, em português é antecedido da
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preposição por, contraída com o artigo (pelo, pela, pelos, pelas); em latim, a preposição
é a ou ab, se a palavra seguinte se inicia por vogal. O caso do agente da passiva é o
ablativo. Experimentemos traduzir:
5. Fabula bona legitur a magistra.
6. Bona fabula legitur a discipula.
7. Bonae fabulae leguntur a magistra discipulis bonis.
8. Fabulae leguntur a bonis discipulis magistris.
Respostas:
5. Uma boa fábula é lida pela professora. (Verbo na passiva analítica)
6. Uma boa fábula é lida pela aluna.
7. Boas fábulas são lidas pela professora às boas alunas. (O dativo/objeto
indireto permanece inalterado)
8. As fábulas são lidas pelas boas alunas às professoras.
PARTE IV
A segunda declinação é de tema –o, com palavras masculinas, na maioria, e
algumas femininas e neutras. Vamos ao exemplo:
Magister legit bonum librum. (O professor lê um bom livro.)
No dicionário, a entrada lexical dos substantivos é:
Magister, magistri (m): professor.
Liber, libri (m): livro.
Para saber como se declinam essas e todas as palavras de tema –o, observemos o
modelo de uma delas:
SINGULAR
PLURAL
N
magister
magistri
V
magister
magistri
A
magistrum
magistros
G
magistri
magistrorum
D
magistro
magistris
Ab
magistro
magistris
Os substantivos masculinos desse tema têm também a terminação –us no
nominativo singular, mas o modelo é o mesmo. Por exemplo:
Magister legit bonum librum discipulo sedulo. (O professor lê um bom livro
ao aluno aplicado.)
Continuando o vocabulário:
Discipulus, discipuli (m): aluno, discípulo.
Sedulus, sedula, sedulum: aplicado, zeloso, estudioso.
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Note-se que o substantivo se apresenta no nominativo, seguido do genitivo; o
adjetivo mantém as três formas (triforme ou de primeira classe), como em bonus, bona,
bonum (masculino, feminino e neutro).
Observemos este outro modelo de substantivo, acompanhado de adjetivo:
SINGULAR
PLURAL
N
discipulus sedulus
discipuli seduli
V
discipule sedule
discipuli seduli
A
discipulum sedulum
discipulos sedulos
G
discipuli seduli
discipulorum sedulorum
D
discipulo sedulo
discipulis sedulis
Ab
discipulo sedulo
discipulis sedulis
Note-se que nesta tabela, as terminações são idênticas às daquela, com exceção
do nominativo e vocativo singular.
Utilizando o vocabulário dado até aqui, façamos a tradução:
1. Magister legit librum discipulo.
2. Bonus magister legit librum discipulo sedulo.
3. Bonos libros magister sedulis discipulis legit.
4. Liber bonus a magistro sedulis discipulis legitur.
Deve-se evitar, antes de fazer o exercício, olhar estas respostas:
1. O professor lê um livro ao aluno. (Nominativo – acusativo – dativo)
2. O bom professor lê um livro ao aluno aplicado.
3. O professor lê bons livros aos alunos aplicados.
4. Um bom livro é lido pelo professor aos alunos aplicados. (Nominativo –
ablativo – dativo)
As palavras femininas, em menor número, seguem o mesmo modelo. No entanto, a
palavras de gênero neutro seguem este outro modelo:
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SINGULAR
PLURAL
N
uerbum bonum
uerba bona
V
uerbum bonum
uerba bona
A
uerbum bonum
uerba bona
G
uerbi boni
uerborum bonorum
D
uerbo bono
uerbis bonis
Ab
uerbo bono
uerbis bonis
O substantivo neutro uerbum é com u, e não v, pois esta letra só entra no
alfabeto latino no século XVI, junto com o j. Na forma maiúscula, escreve-se
VERBUM, com a seguinte entrada lexical:
Verbum, uerbi (n): palavra.
Note-se que o nominativo, vocativo e acusativo, no singular e no plural, são
idênticos. Isso deve acontecer sempre no gênero neutro.
Todas as palavras de tema –o fazem o genitivo singular em –i e o genitivo plural
em –orum; este último determina o tema das palavras.
Verter ao latim:
1. O aluno lê boas palavras no livro do professor. (A preposição em é in e se
emprega com ablativo, adjunto adverbial de lugar.)
2. Boas palavras no livro do professor são lidas pelo aluno.
Não se deve esquecer de que é preciso analisar em português, antes de tentar
verter ao latim. Cada palavra deve ser analisada e identificada com o respectivo caso
latino. Antes de olhar a resposta, é preciso ter feito a versão latina. É preciso repetir o
exercício, até compreender totalmente o processo.
Respostas:
1. Discipulus legit bona uerba in libro magistri.
2. Bona uerba in libro magistri leguntur a discipulo.
Façamos uma síntese do que deve ser conhecido, para a continuação do estudo.
Substantivos de tema em –a, genitivo singular –ae e genitivo plural –arum.
Substantivos de tema em –o, genitivo singular –i e genitivo plural –orum.
Adjetivos de primeira classe: bonus, -a, -um.
Esse conhecimento básico é exigido com auxílio das tabelas e apontamentos
dados até aqui. Não se exige conhecimento ‘decorado’, mas é exigida a aplicação desse
processo, no estudo do latim, consultando dicionários e gramáticas.
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1. Bonus magister bonum librum discipulo sedulo legit.
2. Magister bona librorum uerba discipulis legit.
3. Amicus certus in hora incerta cernitur.
4. Verbum incertum in momento incerto dicitur.
5. Bona exempla a magistro discipulis dantur.
6. Magister pulchras bonorum librorum sententias discipulis legit.
7. Discipulus librum pulchrarum sententiarum legit.
8. Discipuli a librorum sententiis erudiuntur.
9. Declinar
a. bonus liber
b. pulchra sententia
c. pulchrum exemplum
d. uerbum certum
1. Incertus, -a, -um: incerto, incerta, (algo) incerto.
2. Cernitur: distinguir, ver; 3ª pessoa do singular, indicativo
presente, voz passiva.
3. Dicitur: dizer; 3ª pessoa do singular, indicativo presente, voz
passiva.
3. Certus, -a, -um: certo, certa, (algo) certo.
4. Pulcher, pulchra, pulchrum: belo, bela, (algo) belo.
5. Sententia, -ae (f): sentença, opinião, pensamento.
6. Amicus, -i (m): amigo.
7. Hora, -ae (f): hora; tempo.
8. Erudiuntur: educar, instruir; 3ª pessoa do plural, indicativo
presente, voz passiva.
9. Exemplum, -i (n): exemplo.
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Como se percebe, o vocabulário é complementar, ou seja, apenas as palavras que
não apareceram são dadas. As outras já estão nos exercícios anteriores. Não adianta
querer fazer esses exercícios, se o processo não foi seguido, desde o início, em detalhes.
As respostas seguintes devem comprovar a competência do aluno para passar para a
próxima unidade.
1.
2.
3.
4.
5.
6.
7.
8.
9.
Respostas:
O bom professor lê um bom livro ao aluno aplicado.
O professor lê boas palavras dos livros aos alunos.
O amigo certo se vê na hora incerta.
Palavra incerta é dita em momento incerto.
Bons exemplos são dados pelo professor aos alunos.
O professor lê belas sentenças dos bons livros aos alunos.
O aluno lê o livro de belas sentenças.
Os alunos são educados pelas sentenças dos livros.
Declinação de substantivos e adjetivos:
a.
SINGULAR
PLURAL
N Bonus liber
Boni libri
V
bone liber
Boni libri
A
Bonum librum Bonos libros
G
Boni libri
Bonorum librorum
D
Bono libro
Bonis libris
AB Bono libro
Bonis libris
b.
SINGULAR
N
Pulchra sententia
V
Pulchra sentintia
A
Pulchram sentintiam
G
Pulchrae sentintiae
D
Pulchrae sentintiae
AB Pulchra sentintia
PLURAL
Pulchrae sentintiae
Pulchrae sentintiae
Pulchras sentintias
Pulchrarum sentintiarum
Pulchris sentintiis
Pulchris sentintiis
c.
SINGULAR
N
Pulchrum exemplum
V
Pulchrum exemplum
A
Pulchrum exemplum
G
Pulchri exempli
D
Pulchro exemplo
AB Pulchro exemplo
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PLURAL
Pulchra exempla
Pulchra exempla
Pulchra exempla
Pulchrorum exemplorum
Pulchris exemplis
Pulchris exemplis
d.
SINGULAR
N
Verbum certum
V
Verbum certum
A
Verbum certum
G
Verbi certi
D
Verbo certo
AB Verbo certo
PLURAL
Verba certa
Verba certa
Verba certa
Verborum certorum
Verbis certis
Verbis certis
PARTE IV
A partir de agora, temos condições de consultar um dicionário e conhecer mais
de cinqüenta por cento das palavras do vocabulário latino. De fato, as palavras de tema
A e de tema O são as mais numerosas. Como não é impossível apresentar todas neste
tempo e espaço, apresenta-se um modelo que possibilitará o acesso a todas as outras.
Esse modelo funciona como uma chave que abrirá as travas para o conhecimento.
O próximo passo é conhecer um grupo de palavras, menos numeroso, mas muito
importante para avançar no estudo; trata-se do grupo de palavras que não têm tema
vocálico, ou seja, sua base de flexão ou declinação é formada sem uma vogal. As
desinências se juntam a uma base consonantal.
Como todas as outras, essas palavras também se caracterizam pelo genitivo, que
no singular é –IS e no plural é –VM; a gramática as classifica como a 3ª declinação.
Nesta mesma parte, iniciaremos também o estudo dos verbos, pois começaremos
a ler alguns trechos originais latinos.
Iniciemos com uma inscrição tumular à beira de uma estrada:
Viator, uiator, quod es, ego fui, quod nunc sum, et tu eris.
A palavra uiator é de 3ª declinação e aparece no dicionário assim:
Viator, uiatoris (m): caminhante, viajante.
O sentido se refere a quem vai por um caminho, por uma via. Como se sabe, a
primeira forma indica o nominativo, entrada lexical; a segunda forma indica o genitivo.
Nesta, deve-se observar o seguinte: vem abreviada (-oris); há uma marca, como um
traço reto, sobre o o, que indica a quantidade. Essa característica da língua latina não
passou às línguas românicas, mas é importante para a prosódia latina, ou seja, para
pronunciar corretamente. Assim, essa marca que parece um traço indica que a vogal é
longa; se ela tivesse a forma de curva, indicaria que a vogal seria breve. Em que isso
importa? Se a penúltima vogal de uma palavra for longa, pronuncia-se como paroxítona;
se for breve, pronuncia-se como proparoxítona. Então, a leitura do genitivo é “uiatôris”,
porque o o (penúltima sílaba) é longo; se fosse breve, a pronúncia seria “uiátoris”. Não
existem oxítonas em latim!
No entanto, a característica mais importante que o dicionário nos dá é que o
genitivo termina em –is. Vejamos a declinação dessa palavra na tabela:
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SINGULAR
N
Viator
V
Viator
A
Viatorem
G
Viatoris
D
Viatori
AB Viatore
PLURAL
Viatores
Viatores
Viatores
Viatorum
Viatoribus
Viatoribus
A tradução da inscrição é: “Caminhante, caminhante, o que és, eu fui; o que
agora sou, também tu serás.”
Nota-se que o substantivo uiator está no vocativo singular e que a estrutura das
orações é idêntica à estrutura em língua portuguesa.
O verbo ser aparece repetidas vezes, com formas latinas muito semelhantes às
portuguesas: es, fui e sum. Apenas a última forma é diferente. Assim como os
substantivos, os verbos aparecem no dicionário latino de forma diferente do dicionário
português. A entrada lexical é a 1ª pessoa do singular do indicativo presente: sum; em
seguida vem a 1ª pessoa do indicativo perfeito: fui; por último, aparece o infinitivo:
esse. Isso vale para todos os verbos, em todos os dicionários de latim. Vejamos esta
apresentação do verbo ser:
Sum, fui, esse: ser, estar; existir...
Portanto, para saber de um verbo num dicionário latino, é preciso conhecer a 1ª
pessoa do indicativo presente, isto é, a entrada lexical. No dicionário português, a
entrada lexical é o infinitivo.
Vejamos a conjugação do indicativo presente:
Sum, es, est, sumus, estis, sunt.
Sua tradução: sou, és, é, somos, sois, são. Devem-se notar a semelhança das
formas e a ausência dos pronomes pessoais (ego/eu; tu/tu; ille/ele; nos/nós; uos/vós;
illi/eles), pois cada forma verbal indica o sujeito.
A conjugação do indicativo perfeito:
Fui, fuisti, fuit, fuimus, fuistis, fuerunt.
Sua tradução: fui, foste, foi, fomos, fostes, foram.
Essas formas latinas representam o modo indicativo em dois aspectos: um é
durativo, inacabado (sou, continuo sendo); outro, concluído, acabado (fui, existi). Essas
duas formas de aspecto são muito importantes para formação dos modos e dos tempos.
A conjugação do futuro:
Ero, eris, erit, erimus, eritis, erunt.
Sua tradução: serei, serás, será, seremos, sereis, serão.
Complementando o vocabulário:
Quod (pronome indefinido singular neutro): que, o que, aquilo que.
Nunc (advérbio): agora.
Et (conjunção/advérbio): e; também.
Tendo relido a inscrição em latim, vamos traduzir:
1. Discipuli, discipuli, quod fui, uos estis nunc.
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2. Discipule, discipule, quod sum, et tu eris.
3. Magister, magister, quod sumus, et tu fuisti.
Verter ao latim:
1. Caminhantes, caminhantes, o que sois agora, nós também fomos; o que
sereis, somos agora.
2. Os alunos serão o que os professores são agora.
Antes de ver as respostas, é preciso ter feito o exercício.
Respostas (tradução):
1. Alunos, alunos, o que fui, vós sois agora.
2. Aluno, aluno, o que sou, também tu serás.
3. Professor, professor, o que somos, também tu foste.
Respostas (versão):
1. Viatores, uiatores, quod estis nunc, nos et fuimus; quod eritis, sumus nunc.
2. Discipuli erunt quod magistri sunt nunc.
Todo o vocabulário visto até aqui será reaproveitado nas futuras lições, sem que
necessariamente seja dado de novo. Assim, é preciso lembrar que cada lição nova
pressupõe o conhecimento das anteriores.
Para complementar o estudo do verbo ser, eis as tabelas completas dos aspectos,
modos e tempos:
Aspecto inacabado (Infectum)
INDICATIVO
PRESENTE PASSADO
(Sou)
(Era)
Sum
Eram
Es
Eras
Est
Erat
Sumus
Eramus
Estis
Eratis
Sunt
Erant
FUTURO
(Serei)
Ero
Eris
Erit
Erimus
Eritis
Erunt
SUBJUNTIVO
PRESENTE PASSADO
(Seja)
(Fosse)
Sim
Essem
Sis
Esses
Sit
Esset
Simus
Essemus
Sitis
Essetis
Sint
Essent
IMPERATIVO
PRES. FUT.
Es
Esto
Esto
Este
Estote
Sunto
Aspecto acabado (Perfectum)
INDICATIVO
PRESENTE PASSADO
(Fui)
(Fora)
Fui
Fueram
Fuisti
Fueras
Fuit
Fuerat
Fuimus
Fueramun
Fuistis
Fueratis
Fuerunt
Fuerant
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SUBJUNTIVO
FUTURO
PRESENTE PASSADO
(Terei sido) (Tenha sido) (Tivesse sido)
Fuero
Fuerim
Fuissem
Fueris
Fueris
Fuisses
Fuerit
Fuerit
Fuisset
Fuerimus
Fuerimus
Fuissemus
Fueritis
Fueritis
Fuissetis
Fuerint
Fuerint
Fuissent
Note-se que o tempo passado do indicativo, no infectum, é o pretérito
imperfeito; no perfectum, é o pretérito mais-que-perfeito; a 3ª pessoa do plural no
indicativo presente do perfectum pode variar: fuerunt/fuere (ambas as formas
pronunciadas como paroxítonas, pois a penúltima sílaba é longa); as bases verbais que
servem de tema são mantidas em cada aspecto: es-/er-/su-/si- para o infectum, e fupara o perfectum.
Além dos substantivos sem uma vogal temática, como uiator, a 3ª declinação
engloba também substantivos de tema em –i, como ciuis (lê-se kiuis) “cidadão” ou
como urbs “urbe, cidade”, que, como os substantivos de tema consonantal, fazem
genitivo singular em –is. A diferença se faz pelo genitivo plural, que esses substantivos
em –i fazem em –ium, ao invés de –um.
Vejamos suas tabelas:
N
V
A
G
D
AB
SINGULAR PLURAL SINGULAR PLURAL
Ciuis
Ciues
Vrbs
Vrbes
Ciuis
Ciues
Vrbs
Vrbes
Ciuem
Ciues
Vrbem
Vrbes
Ciuis
Ciuium
Vrbis
Vrbium
Ciui
Ciuibus
Vrbi
Vrbibus
Ciue
Ciuibus
Vrbe
Vrbibus
Assim, vamos verter ao latim:
1. Urbe do cidadão;
2. Urbe dos cidadãos;
3. Cidadão da urbe;
4. Cidadãos das urbes.
Respostas:
1. Vrbs ciuis; 2. Vrbs ciuium; 3. Ciuis urbis; 4. ciues urbium. Lembrando-se
sempre que a locução adjetiva em português se verte ao latim com genitivo.
As gramáticas latinas fazem uma distinção quanto ao número de sílabas no
nominativo e no genitivo: se em ambos os casos o número de sílabas é igual, par,
denomina-se parissílabo (ciuis, ciuis); se o número de sílabas não é igual, ímpar,
denomina-se imparissílabo (uiator, uiatoris).
Resumindo: os substantivos que têm genitivo singular em –is classificam-se na
3ª delinação.
1.
2.
3.
4.
5.
15
Magistra legit librum legum discipulo.
Ciuis legit librum legum magistro.
Magister, ut ciuis, docet legem discipulis.
Discipuli discunt leges urbis.
Líber ciuium habet leges urbium.
6. Ciues discunt cum legibus.
Lex, legis (f): lei.
Vt (advérbio): como, do mesmo modo que.
Docet (3ª pessoa do indicativo presente, singular): ensina (algo a alguém).
Discunt (3ª pessoa do indicativo presente, plural): aprendem.
Habet (3ª pessoa do indicativo presente, singular): tem.
Cum (preposição): com (caso ablativo).
Para comparação, segue-se a tabela de lex ‘lei’:
N
V
A
G
D
AB
SINGULAR PLURAL
Lex
Leges
Lex
Leges
Legem
Leges
Legis
Legum
Legi
Legibus
Lege
Legibus
Respostas:
1. A professora lê o livro das leis ao aluno.
2. O cidadão lê o livro das leis ao professor.
3. O professor, como cidadão, ensina lei aos alunos.
4. Os alunos aprendem as leis da cidade.
5. O livro dos cidadãos tem leis das cidades.
6. Os cidadãos aprendem com as leis.
Conforme foi visto, os substantivos têm tema em –a (1ª declinação: discipula),
em –o (2ª declinação: discipulus), em –i (3ª declinação: ciuis) e em consoante (3ª
declinação: uiator).
Os adjetivos de tipo triforme (1ª classe: bonus, a, um) seguem a declinação dos
substantivos de 1ª e 2ª declinação. Por exemplo: bonus discipulus, bona discipula,
bonum uerbum.
Os outros adjetivos, chamados de 2ª classe, seguem a 3ª declinação dos
substantivos. Eles se apresentam como de tipo biforme (omnis, omne: todo) ou uniforme
(felix, felicis: feliz); (prudens, prudentis: prudente); (uetus, ueteris: velho). Os adjetivos
biformes apresentam a 1ª forma em –is (omnis) para substantivos masculinos e
femininos, e a 2ª forma em –e (omne) para substantivos neutros. Os adjetivos uniformes
apresentam uma única forma para os três gêneros e vêm sempre seguidos do genitivo
singular (prudens, prudentis).
Vamos verter ao caso nominativo do latim as seguintes expressões:
16
1.
2.
3.
4.
5.
6.
Todo aluno; toda aluna; toda palavra.
Professor feliz; professor prudente; palavra prudente.
Professora feliz; professora prudente; palavras prudentes.
Cidadão feliz; cidadão prudente; cidadão velho.
Cidadãos felizes; palavras velhas; professores prudentes.
Urbe feliz; urbe velha; urbes velhas.
Respostas:
1. Omnis discipulus; omnis discipula; omne uerbum.
2. Magister felix; magister prudens; uerbum prudens.
3. Magistra felix; magistra prudens; uerba prudentia.
4. Ciuis felix; ciuis prudens; ciuis uetus.
5. Ciues felices; uerba uetera; magistri prudentes.
6. Vrbs felix; urbs uetus; urbes ueteres.
Esses adjetivos de 2ª classe também são de tema em –i (omnis, e; felix, -cis;
prudens, -entis) ou de tema consonantal (uetus, -eris). Observem-se suas tabelas:
SINGULAR
M/F
N
N
Omnis Omne
A
Omnem Omne
G
Omnis Omnis
D
Omni
Omni
AB Omni
Omni
PLURAL
M/F
Omnes
Omnes
Omnium
Omnibus
Omnibus
N
Omnia
Omnia
Omnium
Omnibus
Omnibus
SINGULAR
M/F
N
N
Felix
Felix
A
Felicem Felix
G
Felicis Felicis
D
Felici
Felici
AB Felici
Felici
PLURAL
M/F
Felices
Felices
Felicium
Felicibus
Felicibus
N
Felicia
Felicia
Felicium
Felicibus
Felicibus
SINGULAR
M/F
N
N
Prudens
Prudens
A
Prudentem Prudens
G
Prudentis Prudentis
D
Prudenti
Prudenti
AB Prudenti
Prudenti
17
PLURAL
M/F
Prudentes
Prudentes
Prudentium
Prudentibus
Prudentibus
N
Prudentia
Prudentia
Prudentium
Prudentibus
Prudentibus
SINGULAR
M/F
N
N
Vetus
Vetus
A
Veterem Vetus
G
Veteris Veteris
D
Veteri
Veteri
AB Veteri
Veteri
PLURAL
M/F
Veteres
Veteres
Veterum
Veteribus
Veteribus
N
Vetera
Vetera
Veterum
Veteribus
Veteribus
Para confirmar a compreensão, basta declinar as respostas do exercício anterior.
P.S. – Notar o ablativo singular em –i, diferente dos substantivos.
PARTE V
Para o seguimento natural do curso, essas noções de substantivos e adjetivos
serão necessárias, sem que se repita sua teoria, pois em todo léxico latino elas se
aplicam da mesma forma. O mesmo vale para as noções iniciais do verbo.
O verbo em latim também se forma por temas, o que a gramática denomina
conjugação regular, como em português. Há verbos de tema em –a, -e, -i e verbos de
tema consonântico, em que a ausência de vogal temática torna necessário o emprego de
uma vogal de ligação, -Ɵ- breve. As vogais temáticas são sempre longas.
A correspondência com o sistema verbal português é evidente, no entanto ela
não é obrigatória.
Verbos de tema A são aqueles que apresentam esse tema para formar o infinitivo
em –Ɨre. Todos eles se classificam na 1ª conjugação. Como de hábito, daremos um
modelo para que sirva para todos os outros verbos dessa conjugação:
AmƗre: “amar”.
No dicionário, ele se apresenta do mesmo modo do verbo ser:
Amo, amƗre; amaui, amatum.
Note-se que a entrada lexical é amo, 1ª pessoa do singular, indicativo presente,
voz ativa, no infectum (aspecto inacabado). Também no infectum está amare. Essas
formas verbais são obrigatórias, pois com elas podem-se formar os modos, os tempos e
as vozes, em toda sua flexão.
Também são obrigatórias as formas do perfectum (aspecto acabado); amaui
‘amei’ dá o tema para a conjugação de todas as formas ativas do perfectum. Amatum é
um substantivo verbal (denominado supino) que forma o particípio passado passivo,
como um adjetivo de 1ª classe: amatus, amata, amatum.
Essa apresentação dos verbos no dicionário vale para todas as conjugações.
Vejamos um modelo completo para a 1ª conjugação:
18
Tema -Ɨ (Infectum)
INDICATIVO
PRESENTE
PASSADO
FUTURO
(amo/sou amado)
(amava/era amado)
(amarei/serei amado)
ativo
passivo
ativo
passivo
ativo
passivo
amo
amor
amabam
amabar
amabo
amabor
amas
amaris/-re
amabas
amabaris/-re
amabis
amaberis/-re
amat
amatur
amabat
amabatur
amabit
amabitur
amamus
amamur
amabamus
amabamur
amabimus
amabimur
amatis
amamini
amabatis
amabamini
amabitis
amabimini
amant
amantur
amabant
amabantur
amabunt
amabuntur
Note-se que, no indicativo, há presente, passado e futuro. Quando o
verbo for transitivo, há voz ativa e passiva. A segunda pessoa do singular da voz
passiva no infectum possui uma variação em –re, que se emprega na poesia. Os
sinais de vogal longa (³) e breve ( ) servem para ajudar a pronúncia. Não
existem oxítonas em latim.
SUBJUNTIVO
PRESENTE
PASSADO
(ame/seja amado)
(amasse/fosse amado)
ativo
passivo
ativo
passivo
amem
amer
amarem
amarer
ames
ameris/-re
amares
amareris/-re
amet
ametur
amaret
amaretur
amemus amemur amaremus
19
amaremur
ametis
amemini
amaretis
amaremini
ament
amentur
amarent
amarentur
Note-se que, no subjuntivo, não há futuro, diferente do português, que é a
única língua ocidental que o emprega. No imperativo, infinitivo e particípio só
há presente e futuro.
IMPERATIVO
PRESENTE
FUTURO
ativo
passivo
ativo
passivo
ama (ama)
amare (sê amado)
amato (ama)
amator (sê amado)
amato (ame ele)
amator (seja amado)
amate (amai)
amamini
amatote (amai)
(sede amados)
amanto (amem eles) amantor (sejam amados)
INFINITIVO
FUTURO
PRESENTE
[radical do SUPINO]
ativo
passivo
ativo
passivo
amare
amari
amaturum, -am, -um
amatum iri
(amar) (ser amado) esse (haver de amar) (haver de ser amado)
PARTICÍPIO
PRESENTE
Ativo
passivo
[radical do SUPINO]
[GERUNDIVO]
amans, -antis
amaturus, -a, -um
amandus, -a, -um
(amante; que ama)
(havendo de amar)
(havendo de ser amado)
ativo
20
FUTURO
passivo
GERÚNDIO
(declinação do INFINITIVO)
Nominativo
amare (amar)
Acusativo
amandum (amar)
Genitivo
amandi (de amar)
Dativo
amando (para o amar)
Ablativo
amando (pelo amar/amando)
O gerúndio é como uma declinação do infinitivo, necessária pela
ausência de artigo.
Tema –Ɨ (Perfectum)
INDICATIVO
PRESENTE
PASSADO
(amei/fui amado)
(amara/fora amado)
ativo
ativo
amaui
amauisti
amauit
amauimus
amauistis
passivo
amatus, a,
um sum
amatus, a,
um es
amatus, a,
um est
amati, ae, a
sumus
amati, ae, a
estis
amauerunt/ amati, ae, a
amauere
21
sunt
amaueram
amaueras
amauerat
passivo
amatus, a,
um eram
amatus, a,
um eras
amatus, a,
um erat
FUTURO
(terei amado/terei sido
amado)
ativo
amauero
amaueris
amauerit
eramus
amauerimus
amati, ae, a
amaueratis
amauerant
eratis
amati, ae, a
erant
amatus, a,
um ero
amatus, a,
um eris
amatus, a,
um erit
amati, ae, a
amati, ae, a
amaueramus
passivo
eri
mus
amati, ae, a
amaueritis
amauerint
eri
tis
amati, ae, a
erunt
Atenção às formas passivas do perfectum, que empregam o particípio
passado passivo com a conjugação do verbo ser. Como o particípio se apresenta
como um adjetivo de 1ª classe, há variação de pessoa, número e gênero. Assim,
‘eu fui amado’ é amatus sum, ‘eu fui amada’ é amata sum, ‘eu fui coisa
amada’ é amatum sum; tudo isso no plural: amati sumus, amatae sumus,
amata sumus.
O indicativo presente no perfectum corresponde ao que a gramática
portuguesa denomina pretérito perfeito do indicativo.
A 3ª pessoa do plural, no presente, na voz ativa, possui variante.
SUBJUNTIVO
PRESENTE
PASSADO
(tenha amado/tenha sido amado)
(tivesse amado/tivesse sido amado)
ativo
passivo
ativo
amauerim
amatus, a, um sim
amauissem
amaueris
amatus, a, um sis
amauisses
amauerit
amatus, a, um sit
amauisset
amauerimus
amati, ae, a simus
amauissemus
amaueritis
amati, ae, a sitis
amauissetis
amati, ae, a essetis
amauerint
amati, ae, a sint
amauissent
amati, ae, a essent
INFINITIVO
ativo
amauisse
(ter amado)
passivo
amatus, a, um
essem
amatus, a, um
esses
amatus, a, um
esset
amati, ae, a
essemus
PARTICÍPIO
passivo
ativo [SUPINO]
amatum, am, um
amatum (para
esse
amar)/
(ter sido amado)
amatu (de amar)
passivo
amatus, a, um
(amado)
Verbos de tema E são aqueles que apresentam esse tema para formar o infinitivo
em –Ɲre. Todos eles se classificam na 2ª conjugação. Eis o modelo:
22
DelƝre: ‘apagar; destruir’(lê-se ‘delêre’).
No dicionário: deleo, delere; deleui, deletum.
Note-se a vogal temática, sempre longa, em todas as formas do infectum (deleo,
delere)e do perfectum (deleui, deletum).
Tema -Ɲ (Infectum)
INDICATIVO
PRESENTE
PASSADO
FUTURO
(destruo/sou destruído)
(destruía/era destruído)
(destruirei/serei destruído)
ativo
passivo
ativo
passivo
ativo
passivo
deleo
deleor
delebam
delebar
delebo
delebor
deles
deleris/-re
delebas
delebaris/-re
delebis
deleberis/-re
delet
deletur
delebat
delebatur
delebit
delebitur
delemus
delemur
delebimus
delebimur
deletis
delemini
delebatis
delebamini
delebitis
delebimini
delent
delentur
delebant
delebantur
delebunt
delebuntur
delebamus delebamur
SUBJUNTIVO
PRESENTE
PASSADO
(destrua/seja destruído) (destruísse/fosse destruído)
ativo
passivo
ativo
passivo
deleam
delear
delerem
delerer
deleas
delearis/-re
deleres
delereris/-re
deleat
deleatur
deleret
deleretur
deleremus
deleremur
deleamus deleamur
23
deleatis
deleamini
deleretis
deleremini
deleant
deleantur
delerent
delerentur
IMPERATIVO
PRESENTE
FUTURO
ativo
passivo
ativo
passivo
dele (destrói)
delere (sê destruído)
deleto (destrói)
deletor (sê destruído)
deleto (destrua) deletor (seja destruído)
delete
delemini (sede
deletote
(destruí)
destruídos)
(destruí)
delento
delentor (sejam
(destruam)
destruídos)
INFINITIVO
FUTURO
PRESENTE
[radical do SUPINO]
ativo
passivo
ativo
passivo
delere
deleri (ser
deleturum, am esse
deletum iri (haver de
(destruir)
destruído)
(haver de destruir)
ser destruído)
PARTICÍPIO
PRESENTE
FUTURO
Ativo
ativo
passivo
[radical do
SUPINO]
24
delens, -entis
deleturus, a, um
(destruinte; que
(havendo de
destrói)
destruir)
passivo
[GERUNDIVO]
delendus, a, um (havendo
de ser destruído)
GERÚNDIO
(declinação do INFINITIVO)
Nominativo
delere (destruir)
Acusativo
delendum (destruir)
Genitivo
delendi (de destruir)
Dativo
delendo (para o destruir)
Ablativo
delendo (pelo destruir; destruindo)
Tema –Ɲ (Perfectum)
INDICATIVO
FUTURO
PRESENTE
PASSADO
(destruí/fui destruído)
(destruíra/fora destruído)
ativo
deleui
passivo
deletus
sum
ativo
deleueram
deleuisti
deletus es
deleueras
deleuit
deletus est
deleuerat
deleuimus
deleti
sumus
passivo
deletus
eram
deletus
eras
deletus
erat
(terei destruído/terei sido
destruído)
ativo
passivo
deleuero
deletus ero
deleueris
deleuerit
deleti
deleueramus
eramus
deleuerimus
deletus
eris
deletus erit
deleti
erimus
deleti
25
deleuistis
deleti estis
deleueratis
deleuerunt
deleti sunt
deleuerant
eratis
deleti
erant
deleueritis
deleuerint
deleti eritis
deleti
erunt
SUBJUNTIVO
PASSADO
PRESENTE
(tenha destruído/tenha sido destruído)
(tivesse destruído/tivesse sido
destruído)
ativo
passivo
ativo
deleuerim
deletus, a, um sim
deleuissem
deleueris
deletus, a, um sis
deleuisses
deleuerit
deletus, a, um sit
deleuisset
deleuerimus
deleti, ae, a simus
deleuissemus
deleueritis
deleti, ae, a sitis
deleuissetis
deleti, ae, a essetis
deleuerint
deleti, ae, a sint
deleuissent
deleti, ae, a essent
INFINITIVO
ativo
deletus, a, um
essem
deletus, a, um
esses
deletus, a, um
esset
deleti, ae, a
essemus
PARTICÍPIO
passivo
deletum, am, um
deleuisse
(ter destruído)
passivo
esse
(ter sido destruído)
ativo [SUPINO]
passivo
deletum (para
destr.)/
deletus, a, um
deletu (de
(destruído)
destruir)
Verbos de tema consonântico ou de tema zero são aqueles que se apresentam
sem vogal temática. A forma do infinitivo é também em –Ɵre, mas com e breve, pois
essa vogal é apenas de ligação. Todos eles se classificam na 3ª conjugação. Eis o
modelo:
LegƟre: ‘ler’ (lê-se ‘légere’).
No dicionário: lego, legere; legi, lectum.
Tema zero (Infectum)
26
INDICATIVO
PRESENTE
PASSADO
FUTURO
(leio/sou lido)
(lia/era lido)
(lerei/serei lido)
ativo
passivo
ativo
passivo
ativo
passivo
lego
legor
legebam
legebar
legam
legar
legis
legeris/-re
legebas
legebaris/-re
leges
legeris/-re
legit
legitur
legebat
legebatur
leget
legetur
legimus
legimur
legebamus
legebamur
legemus
legemur
legitis
legimini
legebatis
legebamini
legetis
legemini
legunt
leguntur
legebant
legebantur
legent
legentur
SUBJUNTIVO
PRESENTE
PASSADO
(leia/seja lido)
(lesse/fosse lido)
ativo
passivo
ativo
passivo
legam
legar
legerem
legerer
legas
legaris/-re
legeres
legereris/-re
legat
legatur
legeret
legeretur
legamus
legamur
legeremus
legeremur
legatis
legamini
legeretis
legeremini
legant
legantur
legerent
legerentur
IMPERATIVO
PRESENTE
FUTURO
ativo
passivo
ativo
passivo
lege (lê)
legere (sê lido)
legito (lê)
legitor (sê lido)
legito (leia)
legitor (seja lido)
legite (lede) legimini (sede lidos)
legitote (lede)
legunto (leiam) leguntor (sejam lidos)
27
INFINITIVO
FUTURO
PRESENTE
[radical do SUPINO]
ativo
passivo
ativo
passivo
legere
legi (ser
legiturum, am esse (haver
lectum iri (haver de ser
(ler)
lido)
de ler)
lido)
PARTICÍPIO
PRESENTE
FUTURO
Ativo
passivo
[radical do SUPINO]
[GERUNDIVO]
legens, -entis
lecturus, a, um
legendus, a, um (havendo
(lente; que lê)
(havendo de ler)
de ser lido)
ativo
passivo
GERÚNDIO
(declinação do INFINITIVO)
28
Nominativo
legere (ler)
Acusativo
legendum (ler)
Genitivo
legendi (de ler)
Dativo
legendo (para o ler)
Ablativo
legendo (pelo ler; lendo)
Tema zero (Perfectum)
INDICATIVO
PRESENTE
PASSADO
FUTURO
(li/fui lido)
(lera/fora lido)
(terei lido/terei sido lido)
ativo
passivo
ativo
passivo
ativo
passivo
legi
lectus sum
legeram
lectus eram
legero
lectus ero
legisti
lectus es
legeras
lectus eras
legeris
lectus eris
legit
lectus est
legerat
lectus erat
legerit
lectus erit
legimus lecti sumus legeramus lecti eramus legerimus lecti erimus
legistis
lecti estis
legeratis
lecti eratis
legeritis
lecti eritis
legerunt
lecti sunt
legerant
lecti erant
legerint
lecti erunt
SUBJUNTIVO
PRESENTE
PASSADO
(tenha lido/tenha sido lido)
(tivesse lido/tivesse sido lido)
ativo
passivo
ativo
passivo
legerim
lectus, a, um sim
legissem
lectus, a, um essem
legeris
lectus, a, um sis
legisses
lectus, a, um esses
legerit
lectus, a, um sit
legisset
lectus, a, um esset
legerimus lecti, ae, a simus legissemus lecti, ae, a essemus
legeritis
lecti, ae, a sitis
legissetis
lecti, ae, a essetis
legerint
lecti, ae, a sint
legissent
lecti, ae, a essent
INFINITIVO
ativo
passivo
PARTICÍPIO
ativo [SUPINO]
passivo
legisse lectum, am, um esse lectum (para ler)/ lectus, a, um
(ter lido)
(ter sido lido)
lectu (de ler)
(lido)
Verbos de tema I são aqueles que apresentam esse tema para formar o infinitivo
em –Ưre. Todos eles se classificam na 4ª conjugação. Eis o modelo:
AudƯre: ‘ouvir’.
No dicionário: audio, audire; audi, auditum.
29
Tema –Ư (Infectum)
INDICATIVO
PRESENTE
PASSADO
FUTURO
(ouço/sou ouvido)
(ouvia/era ouvido)
(ouvrei/serei ouvido)
ativo
passivo
ativo
passivo
ativo
passivo
audio
audior
audiebam
audiebar
audiam
audiar
audis
audiris/-re
audiebas
audiebaris/re
audies
audieris/-re
audit
auditur
audiebat
audiebatur
audiet
audietur
audimus audimur audiebamus audiebamur audiemus audiemur
auditis
audimini
audiebatis
audiebamini
audietis
audiemini
audiunt audiuntur
audiebant
audiebantur
audient
audientur
SUBJUNTIVO
PRESENTE
PASSADO
(ouça/seja ouvido)
(ouvisse/fosse ouvido)
ativo
passivo
ativo
passivo
audiam
audiar
audirem
audirer
audias
audiaris/-re
audires
audireris/-re
audiat
audiatur
audiret
audiretur
audiamus audiamur audiremus audiremur
30
audiatis
audiamini
audiretis
audiremini
audiant
audiantur
audirent
audirentur
IMPERATIVO
PRESENTE
FUTURO
ativo
passivo
ativo
passivo
audi (ouve)
audire (sê ouvido)
audito (ouve)
auditor (sê ouvido)
audito (ouça)
auditor (seja ouvido)
audite
audimini (sede
(ouvi)
ouvidos)
auditote (ouvi)
audiunto
audiuntor (sejam
(ouçam)
ouvidos)
INFINITIVO
FUTURO
PRESENTE
[radical do SUPINO]
ativo
passivo
ativo
passivo
audire
audiri (ser
auditurum, am, um esse
auditum iri (haver de
(ouvir)
lido)
(haver de ouvir)
ser ouvido)
PARTICÍPIO
PRESENTE
Ativo
passivo
[radical do SUPINO]
[GERUNDIVO]
audiens, -entis
auditurus, a, um
audiendus, a, um
(ouvinte; que ouve)
(havendo de ouvir)
(havendo de ser ouvido)
ativo
31
FUTURO
passivo
GERÚNDIO
(declinação do INFINITIVO)
Nominativo
audire (ouvir)
Acusativo
audiendum (ouvir)
Genitivo
audiendi (de ouvir)
Dativo
audiendo (para o ouvir)
Ablativo
audiendo (pelo ouvir; ouvindo)
Tema –Ư (Perfectum)
INDICATIVO
PRESENTE
PASSADO
(ouvi/fui ouvido)
(ouvira/fora ouvido)
ativo
audiui
passivo
auditus
sum
ativo
audiueram
audiuisti
auditus es
audiueras
audiuit
auditus est
audiuerat
audiuimus
auditi
sumus
audiueramus
audiuistis auditi estis audiueratis
audiuerunt auditi sunt
32
audiuerant
passivo
auditus
eram
auditus
eras
auditus
erat
auditi
eramus
auditi
eratis
auditi erant
FUTURO
(terei ouvido/terei sido
ouvido)
ativo
passivo
audiuero
auditus ero
audiueris
auditus eris
audiuerit
auditus erit
audiuerimus
auditi
erimus
audiueritis
auditi eritis
audiuerint
auditi erunt
SUBJUNTIVO
PRESENTE
PASSADO
(tenha ouvido/tenha sido ouvido) (tivesse ouvido/tivesse sido ouvido)
ativo
passivo
ativo
passivo
audiuerim
auditus, a, um sim
audiuissem
auditus, a, um essem
audiueris
auditus, a, um sis
audiuisses
auditus, a, um esses
audiuerit
auditus, a, um sit
audiuisset
auditus, a, um esset
audiuerimus auditi, ae, a simus audiuissemus auditi, ae, a essemus
audiueritis
auditi, ae, a sitis
audiuissetis
auditi, ae, a essetis
audiuerint
auditi, ae, a sint
audiuissent
auditi, ae, a essent
INFINITIVO
ativo
audiuisse
(ter ouvido)
passivo
PARTICÍPIO
ativo [SUPINO]
passivo
auditum, am, um esse auditum (para ouvir)/ auditus, a, um
(ter sido ouvido)
auditu (de ouvir)
(ouvido)
Como se vê, as quatro conjugações regulares do latim equivalem às três do
português, pois a segunda e a terceira se fundem em uma só, com a perda da noção da
quantidade vocálica.
Para que se aplique esse sistema verbal, vamos estudar um epigrama de Marcial
(40 – 104 d. C.), em que aparecem um verbo da 1ª conjugação e outro da 2ª:
Esses dois versos foram escritos no século primeiro da nossa era por um poeta
que se caracterizou por satirizar personagens de sua época. Embora o tema desse
pequeno poema seja banal, sua forma obedece ao rígido sistema das composições
poéticas da Antigüidade clássica. Na verdade, essa composição caracteriza o que se
denomina dístico elegíaco, em que o primeiro verso tem seis medidas poéticas
(hexâmetro), e o segundo tem cinco (pentâmetro).
33
Os nomes próprios seguem as mesmas regras dos nomes comuns:
Quintus, -i (m): Quinto, nome de homem (tema –o, como discipulus).
Thais, Thaidis (f): Taís, nome de mulher (tema consonântico, como lex). Por
ser de origem grega, esse nome faz o acusativo à moda grega: Thaida, ao invés de
Thaidem. Nos outros casos mantém-se a regularidade. Eis sua declinação:
N/V – Thais; A- Thaida; G- Thaidis; D- Thaidi; Ab- Thaide.
O vocabulário restante aparece no dicionário assim:
A, ab (prepos. de ablativo –
Habeo, -Ɲre; habui,
ag. da passiva): por [per].
habitum: haver;ter.
Oculus, i (m): olho.
Amo, amare; amaui,
Ille, illa, illud: aquele,
Quis, quae, quid (pron. subs.
amatum: amar.
aquela, aquilo.
interrog.): que, quem.
Duo, duae, duo: dois, duas,
Luscus, a, um: caolho,
Vnus, a, um: um só, uma só,
duas coisas.
caolha.
uma só coisa.
Esse vocabulário servirá também para os exercícios propostos.
Para se traduzir um texto latino, deve-se proceder ao seguinte:
1. localizar o verbo;
2. identificar o aspecto, o modo, o tempo, a voz, a pessoa, o número;
3. localizar o sujeito desse verbo;
4. formar a oração com os termos do predicado;
5. relacionar essa oração à seguinte, na formação do período.
Observando-se o poema de Marcial, não é difícil identificar as orações, devido à
pontuação. O primeiro verbo é amat.
Como esse verbo está como paradigma da 1ª conjugação, torna-se fácil
identificá-lo, conjugando-o no infectum, indicativo, presente, ativo, 3ª pessoa, singular:
amo, amas, amat, amamus, amatis, amant.
O sujeito de amat é Quintus, nominativo singular.
A oração, na ordem direta, será Quintus amat Thaida, que se traduz ‘Quinto
ama Taís’. Portanto, Thaida, acusativo, é o complemento do verbo, chamado objeto
direto.
Depois, observa-se que há uma pontuação interrogativa. Não há verbo. No
entanto, o verbo deve estar implícito na pergunta: Quam Thaida?. O que fica implícito
na pergunta está na afirmação, que é Quam Thaida (Quintus amat)?.
Para que se entenda a interrogação, é preciso saber algo sobre o pronome
interrogativo quis, quae, quid, que em português é quê? ou quem?. Em latim, esse
pronome se apresenta de três formas, a primeira para o masculino (entrada lexical do
dicionário), a segunda para o feminino, a terceira para o neutro. Como todos os
pronomes, eles se declinam e têm singular e plural:
34
SINGULAR
M
F
PLURAL
N
N quis/qui quis/quae/qua quid/quod
M
F
N
qui
quae
quae/qua
quos
quas
quae/qua
A
quem
quam
quid/quod
G
cuius
cuius
cuius
D
cui
cui
cui
quibus quibus
quibus
AB
quo
qua
quo
quibus quibus
quibus
quorum quarum quorum
No nominativo masculino singular e no nominativo neutro singular e plural, há
duas formas: a primeira se usa como pronome interrogativo substantivo; a segunda,
como pronome substantivo adjetivo. Vejamos um exemplo:
O aluno lê um livro. Que aluno? O aluno aplicado.
Vertendo-se para o latim:
Discipulus legit librum. Qui discipulus? Discipulus sedulus.
Note-se que qui é pronome interrogativo adjetivo, pois funciona sintaticamente
como adjunto adnominal de discipulus, exatamente como em português.
Se a pergunta fosse Quem?, a tradução seria Quis?, pois o pronome
interrogativo é substantivo.
A diferença entre pronome interrogativo substantivo e pronome interrogativo
adjetivo é que o primeiro não vem acompanhado de substantivo; o segundo, vem.
No nominativo feminino singular, há três formas que são variantes, ou seja,
pode-se empregar uma ou outra, tanto para interrogativo substantivo como para
interrogativo adjetivo. Outro exemplo:
A aluna lê um livro. Que aluna? A aluna aplicada.
Vertendo-se para o latim:
Discipula legit librum. Quae discipula? Discipula sedula.
Note-se que se poderia usar tanto quis quanto qua.
E, se a pergunta incidisse sobre o complemento verbal, como faríamos?
Vejamos o mesmo exemplo:
O aluno lê um livro. Que livro? Um livro de fábulas.
Vertendo-se para o latim:
Discipulus legit librum. Quem librum? Librum fabularum.
Como livro, em latim, é masculino singular, o pronome empregado é quem, se
fosse feminino, seria quam, se fosse neutro, seria quod (interrogativo adjetivo).
Vejamos ainda um outro exemplo:
O aluno lê uma bela fábula do livro. Que fábula?
Vertendo-se ao latim:
Discipulus legit pulchram fabulam libri. Quam fabulam?
Se a pergunta fosse ‘Quem lê?’, a tradução seria Quis legit?.
Agora, um exemplo com gênero neutro:
O aluno diz uma palavra. Que palavra?
Vertendo-se ao latim:
Discipulus dicit uerbum. Quod uerbum?
35
Se a pergunta fosse ‘(diz) o quê?’, a tradução seria Quid?.
Olhando a tabela dos interrogativos, podemos empregá-los em todas as
situações, tanto no singular quanto no plural.
O importante é observar que, na pergunta, o caso, o gênero e o número
acompanham o raciocínio da afirmação.
Assim, Quam Thaida está no acusativo feminino singular, porque na afirmação
também estava.
A resposta Thaida luscam também mantém a mesma forma, porque fica
implícito o que está na afirmação (Quintus amat).
A tradução do primeiro verso:
Quinto ama Taís. Que Taís? Taís caolha.
Para testar o entendimento, façamos um exercício, com os nomes Antonius, da 2ª
declinação, tema –o, e Antonia, da 1ª declinação, tema -a.
Verter para o latim:
1. Antônio ama Antônia. Que Antônio?/Quem (ama Antônia)?
2. Antônio ama Antônia. Que Antônia?/Quem (Antônio ama)?
3. Antônio é amado por Antônia. Por que Antônia?/Por quem (Antônio é
amado)?
4. Antônia é amada por Antônio. Por que Antônio?/Por quem (Antônia é
amada)?
Respostas:
1. Antonius amat Antoniam. Qui Antonius?/ Quis?
2. Antonius amat Antoniam. Quam Antoniam?/ Quam?
3. Antonius amatur ab Antonia. A qua Antonia?/ A qua?
4. Antonia amatur ab Antonio. A quo Antonio?/ A quo?
Prosseguindo-se com a tradução do epigrama, no segundo verso encontramos
habet, que no vocabulário se apresenta assim:
Habeo, habƝre; habui, habitum: haver; ter. Pela terminação do infinitivo
(habƝre), reconhecemos a 2ª conjugação. Na tabela, o modelo correspondente é deleo,
delƝre.
Em um bom dicionário, haverá muito mais informação acerca de significados e
construção sintática dos verbos. Em nossa aplicação, vamos nos restringir ao essencial.
Localizado o verbo, devemos determinar sua forma: aspecto, modo, tempo, voz,
pessoa e número. Assim:
Habeo, habes, habet, habemus, habetis, habent.
Portanto, sabemos que é infectum, indicativo, presente, ativo, 3ª pessoa, singular.
Devemos agora identificar o sujeito desse verbo.
Como vimos, Thais é nominativo, oculum é acusativo (tema –o), non é
advérbio de negação e unum é numeral, que se apresenta no vocabulário como um
adjetivo de 1ª classe: unus, una, unum.
Já sabemos que não há artigo em latim, nem definido nem indefinido. Quando se
usa o numeral um, há ênfase sobre a unidade, ou seja, significa um só. Assim, a
expressão unus discipulus significa ‘um só aluno’; una discipula, ‘uma só aluna’;
unum uerbum, ‘uma só palavra’.
Dos ordinais, apenas os numerais um, dois e três se declinam:
36
Vnus, una, unum: um, uma, uma coisa.
Duo, duae, duo: dois, duas, duas coisas.
Tres, tria: três, três coisas.
M
M
F
N
M/F
N
una unum
duo
duae
duo
tres
tria
A unum unam unum
duos
duas
duo
tres
tria
N
F
unus
N
G unius unius unius duorum duarum duorum trium trium
uni
uni
uni
duobus duabus duobus tribus tribus
AB uno
una
uno
duobus duabus duobus tribus tribus
D
Devemos agora traduzir a oração com habet: “Taís não tem um só olho”.
Na oração seguinte, depois da vírgula, parece não haver verbo. No entanto, como
em português, tudo está implícito: Ille (non habet) duos (oculos).
O pronome demonstrativo de 3ª pessoa ille significa ‘aquele’. Em linguagem
mais coloquial, esse pronome se identifica com a pessoa, podendo-se traduzir por ‘ele’.
Eis sua declinação:
SINGULAR
N
PLURAL
M
F
N
M
F
N
ille
illa
illud
illi
illae
illa
illos
illas
illa
A illum illam illud
G illius illius illius illorum illarum illorum
illi
illi
illi
illis
illis
illis
AB illo
illa
illo
illis
illis
illis
D
Completanto a tradução do último verso: “Taís não tem um só olho; ele, os
dois”. O pronome ille se refere a Quintus, que ama Taís caolha. A sátira é: se Taís não
tem um só olho, ele não tem os dois. Ou seja, o amor é cego.
Como se vê, o exercício de tradução de textos literários é trabalhoso e lento. A
consulta a dicionários e a tabelas nas gramáticas é indispensável, pois não se pode
esperar que alguém memorize todas as tabelas nominais, verbais e pronominais do
latim. Assim, paciência é a principal virtude daquele que quer aprender a traduzir. Não
37
há atalhos. Os textos literários e poéticos são os mais difíceis, pois empregam engenho e
arte do escritor, em sua máxima potência. Eles são expressão de arte pura. Portanto, a
dificuldade que alguém encontre para traduzi-los é proporcional à sua apuração artística,
desejada pelo autor.
Como vimos na tradução desse dístico elegíaco, o verbo haver dá o sentido de
posse. Então, podemos dizer, em latim:
Discipulus habet librum.
A tradução será: ‘O aluno tem um livro’.
No entanto, essa forma de expressar posse é coloquial. Há outra, mais literária,
que é empregada, quando o autor deseja ser mais formal:
Discipulo est liber.
A tradução será: ‘Para o aluno existe um livro’.
Essa forma de expressão de posse é chamada dativo de posse ou dativo ético.
Vejamos as diferenças formais: discipulus, nominativo sujeito, passa para o dativo;
habet, verbo transitivo, se substitui por est, verbo intransitivo de sentido existencial;
librum, acusativo objeto direto, passa para o nominativo, como o novo sujeito.
Resumindo, a coisa possuída passa para o nominativo, o possuidor passa para o
dativo e o verbo é esse ‘ser, existir’. Essa é a forma mais comum na poesia e nos textos
literários em geral.
Para entender, vertamos ao latim, usando dativo de posse, o seguinte período:
Quinto ama Tais, que tem um só olho.
Note-se que há duas orações e dois verbos. A segunda oração é subordinada
adjetiva, pois emprega um pronome relativo (que/a qual) a um termo da primeira (Taís).
Os pronomes relativos, em latim, são semelhantes aos pronomes interrogativos e
se apresentam deste modo:
Qui, quae, quod: que, o qual, a qual. Como sempre, a primeira forma é para o
masculino, a segunda, para o feminino, e a terceira, para o neutro.
38
Vejamos sua tabela:
SINGULAR
M
N
qui
F
PLURAL
N
M
F
N
qui
quae
quae
quos
quas
quae
quae quod
A quem quam quod
G cuius cuius cuius quorum quarum quorum
cui
cui
cui
quibus
quibus
quibus
AB quo
qua
quo
quibus
quibus
quibus
D
Se não usarmos o dativo de posse, a versão corresponderá mais ao português:
Quintus amat Thaida, quae habet unum oculum.
A oração relativa, como em português, tem um pronome relativo, que é sujeito
de habet. Por isso, em latim, esse relativo está no nominativo feminino singular (quae).
No dativo de posse, o nominativo passa para o dativo, o acusativo passa para o
nominativo e usa-se o verbo ‘ser’. Então, vejamos:
Quintus amat Thaida, cui est unus oculus.
Se quisermos verter ao latim este período ‘Taís é amada por Quinto, que não
tem os dois olhos’, deveremos proceder do mesmo modo:
Thais amatur a Quinto, cui non sunt duo oculi.
O verbo ser concorda com o novo sujeito (duo oculi), ficando no plural. Se, em
português, o verbo estivesse no passado (tinha), em latim ficaria erant; se estivesse no
futuro, erunt, e assim por diante.
Passemos agora para o dativo de posse o segundo verso do poema traduzido:
Vnum oculum Thais non habet, ille duos.
Conforme a tradução ‘Taís não tem um só olho, ele (não tem) os dois’:
Vnus oculus Thaidi non est, illi duo.
Para continuar esse estudo, devemos traduzir este outro poema de Marcial:
39
Como se vê, agora são quarto versos, dois dísticos elegíacos. As relações entre
as orações são praticamente as mesmas, tanto no latim como no português. Portanto, o
procedimento de tradução continuará o mesmo:
1.
2.
3.
4.
5.
localizar o verbo;
identificar o aspecto, o modo, o tempo, a voz, a pessoa, o número;
localizar o sujeito desse verbo;
formar a oração com os termos do predicado;
relacionar essa oração à seguinte, na formação do período.
Ago, agƟre; egi, actum: impelir; levar
para frente.
Quattuor (num. indecl.): quatro.
Dens, dentis (m): dente.
Qui, quae, quod (pron. relativo): que.
Dies, -ei (m/f): dia.
Securus, -a, -um: seguro, segura.
Duo, duae, duo: dois, duas.
Si (conj.): se.
Expello, -Ɵre; expuli, expulsum: expelir. Tertius, -a, -um: terceiro.
Istic (adv.): aí.
Tibi (pron. pess. sing. dat.): a ti.
Iam (adv.): já.
Totus, -a, -um: todo, inteiro.
Memini, meminisse: lembrar-se.
Tussio, tussƯre: tossir.
Nihil/nil (n. indecl.): nada.
Tussis, -is (f): tosse.
Possum, potes; posse; potui: poder.
Vna ... una: uma ... outra.
Começando pelo verbo, memini é verbo defectivo, ou seja, não possui todas as
formas. Na verdade, todo o sistema do infectum não é usado; só se emprega o
perfectum. No entanto, em português se traduz pelo presente. Vejamos sua conjugação,
no indicativo presente (eu me lembro, tu te lembras ...):
Memini, meministi, meminit, meminimus, meministis, meminerunt.
No passado (eu me lembrava, tu te lembravas ...):
Memineram,
memineras,
meminerat,
meminerant.
No futuro (eu me lembrarei, tu te lembrarás ...):
40
memineramus,
memineratis,
Meminero,
memineris,
meminerit,
meminerimus,
memineristis,
meminerint.
No subjuntivo presente (eu me lembre, tu te lembres …):
Meminerim,
memineris,
meminert,
meminerimus,
memineristis,
meminerint.
No passado (eu me lembrasse, tu te lembrasses …):
Meminissem,
meminisses,
meminisset,
meminissemus,
meminissetis,
meminissent.
No imperativo (lembra-te, lembrai-vos):
Memento, mementote.
No infinitivo (lembrar-se):
Meminisse.
Essas são as formas possíveis desse verbo. Então, a expressão si memini se
traduz ‘se eu me lembro’, como uma oração subordinada adverbial condicional.
Quanto ao segundo verbo fuerant, trata-se do verbo ser no indicativo passado
do perfectum (pretérito mais-que-perfeito do indicativo):
Fueram, fuieras, fuerat, fueramus, fueratis, fuerant.
O nominativo sujeito referente a esse verbo é quattuor dentes. Portanto, podese compor ‘quatro dentes foram/tinham sido’, sobrando tibi e Aelia, que é um vocativo
de Aelia, -ae (tema -a): nome próprio feminino, Élia.
Como o vocativo é apenas um chamamento, não fazendo parte da estrutura
lógica oracional, temos de relacionar o verbo com tibi, pronome pessoal de 2ª pessoa do
singular, no dativo. Para isso, é necessário conhecer a tabela de declinação dos
pronomes pessoais de 1ª e 2ª pessoa:
1ª Pessoa
2ª Pessoa
SINGULAR PLURAL SINGULAR PLURAL
41
N
Ego
Nos
Tu
Vos
A
Me
Nos
Te
Vos
G
Mei
Nostri
Tui
Vestri
D
Mihi
Nobis
Tibi
Vobis
AB
Me
Nobis
Te
Vobis
No genitivo plural, nostrum ‘dentre nós’; uestrum ‘dentre vós’.
Relacionando então fuerant com tibi, obtém-se ‘foram para ti’, que pode ser
entendido ‘existiram para ti’, ou seja, o verbo ser associado a um dativo configura a
construção do dativo de posse. O período traduzido literalmente seria ‘Se eu me lembro,
Élia, existiam para ti quatro dentes’, que se pode dizer melhor ‘Se eu me lembro, Élia,
tu tinhas quatro dentes’, passando tibi do dativo de posse para o sujeito do verbo ter,
que tem como complemento ‘quatro dentes’, que em latim é sujeito do verbo ser.
Deve-se notar que fuerant está no perfectum, que em português se traduz foram
ou tinham existido; a tradução parece melhorar quando se emprega o infectum: existiam
para ti/tinhas. Isto se deve a que, em latim, memini só se emprega no perfectum, o que
força o emprego do mesmo aspecto na oração principal. Como empregamos, em
português, o aspecto inacabado com o verbo lembrar-se, também se mantém o mesmo
aspecto na posse.
No segundo verso, o verbo é expulit, que é 3ª pessoa do singular, indicativo
perfectum de expullƟre (notar o duplo l de todo sistema do infectum):
Expuli, expulis, expulit, expulƱmus, expulƯstis, expulerunt.
Essa conjugação se depreende pela observação da tabela dos verbos da 3ª
declinação (-Ɵre), voz ativa, no aspecto perfeito.
Antes de buscar o sujeito desse verbo, convém conhecer as declinações de dens,
dentis e de tussis, tussis:
Terceira Declinação – temas sonânticos em –i: *dentis > *dents > dens; deste
modo também mens, mentis: mente, espírito; frons, frontis: fronte; urbs, urbis: urbe,
cidade; mors, mortis: morte; sors, sortis: sorte, destino; etc.
Formas particulares: tussis, is (f): tosse; sitis, is (f): sede; etc.
42
SINGULAR
PLURAL
SINGULAR PLURAL
N/V
Dens
Dentes
Tussis
Tussis
G
Dentis
Dentium
Tussis
Tussium
A
Dentem
Dentes/Dentis
Tussim
Tussis
D
Denti
Dentibus
Tussi
Tussibus
AB
Dente
Dentibus
Tussi
Tussibus
Como tussis é do gênero feminino, a ligação natural é una tussis, que forma o
sujeito-nominativo de expulit. Duos (acusativo, masculino, plural) deve-se referir a
dentes (masculino plural), que também pode ser dentis, conforme a tabela.
Então, podemos formar, na ordem direta:
Vna tussis expulit duos (dentis) et una (tussis expulit) duos (dentis).
Já vimos que o numeral unus, una, unum, quando vem sozinho com um
substantivo, se traduz por ‘um só, uma só, uma só coisa’; mas, quando vem seguido de
et (conjunção coordenativa ‘e’) e sua repetição (unus et unus, una et una, unum et
unum), caracteriza a coordenação disjuntiva: ‘um e outro’, ‘uma e outra’, ‘uma e outra
coisa’. Assim, pode-se traduzir:
Uma tosse expeliu dois dentes, e outra (tosse expeliu) dois (dentes).
Como se vê, trata-se de mais uma sátira ou brincadeira que o poeta faz, embora
em dísticos elegíacos, devidamente metrificados.
Para reforçar o estudo dos verbos, convém conjugar expellƟre no indicativo, em
todos os tempos e em ambos aspectos, na voz ativa e passiva. O modelo será legƟre;
deve-se atentar à variação de tema do infectum, com ‘ll’, e do perfectum,com ‘l’. As
primeiras pessoas são: expello, expellor; expellebam, expellebar; expellam, expellar;
expuli, expulsus sum; expuleram, expulsus eram; expulero, expulsus ero.
Continuando a tradução, o terceiro verso apresenta potes, 2ª pessoa do indicativo
presente, infectum, de possum, posse; potui: ‘poder’, que se constrói com o tema do
verbo esse ‘ser’ acrescentado a pot-, formando pot-sum > possum, pot-es > potes etc.;
no perfectum, pot-fui > potui, pot-fuisti > potuisti etc. Vejamos sua conjugação:
43
Infectum
INDICATIVO
SUBJUNTIVO
PRESENTE PASSADO FUTURO PRESENTE PASSADO
(posso)
(podia)
(poderei)
(possa)
(pudesse)
possum
poteram
potero
possim
possem
potes
poteras
poteris
possis
posses
potest
poterat
poterit
possit
posset
possimus
possemus
possumus
poteramus poterimus
potestis
poteratis
poteritis
possitis
possetis
possunt
poterant
poterunt
possint
possent
Infinitivo presente: posse (poder).
Infinitivo futuro: ________
Perfectum
INDICATIVO
PRESENTE PASSADO
SUBJUNTIVO
FUTURO
PRESENTE
PASSADO
(pude)
(pudera)
(terei podido) (tenha podido) (tivesse podido)
potui
potueram
potuero
potuerim
potuissem
potuisti
potueras
potueris
potueris
potuisses
potuit
potuerat
potuerit
potuerit
potuisset
potuimus
potueramus
potuerimus
potuerimus
potuissemus
potuistis
potueratis
potueritis
potueritis
potuissetis
potuerunt
potuerant
potuerint
potuerint
potuissent
Infinitivo perfeito: potuisse (ter podido).
Esse verbo (potes) se une ao infinitivo tussƯre, da quarta conjugação, que só se
emprega no infectum, daí a presença de apenas duas formas no vocabulário. A tradução
será ‘podes tossir’, referindo-se a Élia, como sujeito.
44
O adjetivo de primeira classe secura ‘segura’ também se refere a Élia, na função
de predicativo do sujeito. O substantivo diebus, ablativo plural da 5ª declinação, tem
tema –e e apresenta a seguinte declinação:
SINGULAR PLURAL
N
Dies
Dies
V
Dies
Dies
A
Diem
Dies
G
Diei
Dierum
D
Diei
Diebus
Die
Diebus
Ab
A quinta declinação apresenta um número muito reduzido de palavras,
comparando-se às três primeiras. O mesmo acontece com a quarta declinação, cujos
modelos são:
a- gradus, -us (m): passo; grau;
b- manus, -us (f): mão;
c- genu, -us (n): joelho.
SINGULAR
PLURAL
NEUTR MASCULIN FEMININ NEUTR
MASCULINO FEMININO
O
O
O
O
N
Gradus
Manus
Genu
Gradus
Manus
Genua
V
Gradus
Manus
Genu
Gradus
Manus
Genua
A
Gradum
Manum
Genu
Gradus
Manus
Genua
G
Gradus
Manus
Genus
Graduum
Manuum
Genuum
D
Gradui
Manui
Genui
Gradibus
Manibus
Genibus
Ab
Gradu
Manu
Genu
Gradibus
Manibus
Genibus
O outro adjetivo de primeira classe (totis), ablativo plural, está relacionado a
diebus, também no ablativo plural. Como o caso ablativo se usa para as noções de
advérbio, a expressão totis diebus pode-se traduzir por ‘dias inteiros’ ou ‘todos os dias’,
como adjunto adverbial de tempo.
Organizando-se o terceiro verso no ordem direta:
45
Iam potes tussire secura totis diebus.
Com o vocabulário e o estudo das palavras relacionadas, podemos traduzir:
Já podes tossir segura todos os dias.
No quarto e último verso, há dois verbos: agat e habet. Este já conhecemos do
primeiro poema traduzido. Aquele, segundo o vacabulário, é da 3ª conjugação e segue o
modelo de legƟre. Portanto, seu modo é subjuntivo, no infectum, e sua conjugação é:
Agam, agas, agat, agamus, agatis, agant.
Resta saber qual é o sujeito de cada um. Tertia tussis está no nominativo
singular; nil e quod, como neutros, podem ser ou nominativo ou acusativo.
Quando houver tal dúvida, o melhor é traduzir na ordem latina, para depois
ordenar em português. Assim, ‘nada aí que leve terceira tosse há’.
Se relermos o poema em latim, podemos ordenar o quarto verso:
Nada há aí que uma terceira tosse leve.
De fato, parece haver coerência, pelo que se entendeu dos versos anteriores.
Pois, se duas tosses expeliram dois dentes, e outras duas mais dois, então nada haverá
que uma terceira tosse possa levar.
Como se vê, o trabalho de tradução requer consentração e raciocínio lógico. Não
basta saber o significado das palavras, é preciso pensar a melhor forma de empregar os
recursos da língua, pois essa é a marca do escritor.
Para pôr em prática tudo isso, devemos verter ao latim:
1. Duas tosses expeliram os dentes de Élia, que tinha quatro dentes.
2. Os quatro dentes foram expelidos por duas tosses.
3. Uma tosse expelirá quatro dentes.
4. Dois dentes serão expelidos por uma tosse.
5. Élia nada tem que uma terceira tosse leve.
É dever do aluno tentar fazer todo o exercício antes de verificar as respostas,
pois o entendimento desses pontos são aproveitados na próxima tradução.
1. Duae tussis expulerunt dentis Aeliae, quae habebat quattuor dentis. A oração
relativa pode-se verter também assim, no dativo de posse: ‘cui erant quattuor dentes’.
2. Quattuor dentes expulsi sunt a duabus tussibus. No perfectum, a voz passiva
se faz com o particípio passado passivo, que possui gênero e número, como os
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adjetivos, e com o verbo ser, conjugado ou no presente ou no passado ou no futuro. O
agente da passiva se emprega no ablativo.
3. Tussis expelet quattuor dentis.
4. Duo dentes expellentur a tussi.
5. Aelia nil habet quod tertia tussis agat.
Note-se que cada processo da tradução é ressaltado pela versão. É necessário que
tudo esteja bem entendido e executado, desde a conjugação verbal, que se deve fazer
tantas vezes quantas forem necessárias, até a estruturação do poema todo, que exige
concentração e empenho em cada fase.
Na parte final deste trabalho, faremos a tradução de alguns trechos de Caio Túlio
Cícero (106 – 43 a. C.):
Animus, -i (m): ânimo, espírito.
Audiens, -ientis: ouvinte (part. pres.
de audio).
Debitum, -i (n): dever.
Honorarium, -i (n): brinde, prêmio.
Necessarius, a, um: necessário, a.
Optimus, a, um: ótimo, o melhor (superlativo de
bonus, a,um).
Delecto, -Ɨre, -Ɨui, -Ɨtum: deleitar.
Orator, -ǀris (m): orador.
Dico, dicƟre, dixi, dictum: dizer.
Permoueo, -ere, -ui, -motum: comover.
Doceo, docƝre, docui, docitum:
intruir, ensinar.
Et ... et: tanto ... quanto.
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Qui, quae, quod: que, o qual (pron. relativo).
O trabalho de tradução deve seguir o mesmo procedimento.
No período composto deve-se atentar à separação das orações e à relação entre
elas. Para isso, é necessário identificar os verbos, determinando sua forma e sentido.
Em primeiro lugar aparece est, que já se conhece, formando a primeira oração
‘ótimo é o orador’. Em seguida vem dicendo, que é uma forma nominal do verbo
dicƟre, relativa ao gerúndio. Ao se observar o gerúndio pelo paradigma dos verbos da 3ª
conjugação (legƟre), verifica-se que essa forma de gerúndio é uma declinação do
infinitivo, que corresponde a um substantivo. Assim, pode-se declinar:
GERÚNDIO
Nominativo
dice
re (dizer)
Acusativo
dicendum (dizer)
Genitivo
dicendi (de dizer)
Dativo
dicendo (para o dizer)
Ablativo
dicendo (pelo dizer; dizendo)
Deixemos essa forma nominal, por enquanto. Os próximos verbos estão
coordenados por et...et e são docet, delectat e permouet. O primeiro é da 2ª
conjugação (delƝre), o segundo é da 1ª (amƗre) e o terceiro é também da 2ª.
Conjugando-os, sabemos que estão no infectum, indicativo, presente, 3ª pessoa
do singular, voz ativa. Portanto, a palavra que pode corresponder a um nominativo
singular, como sujeito, é qui, pronome relativo referente a orator. Devemos também
declinar orator, que é da 3ª declinação, como uiator.
Falta a expressão animos audientium; a primeira palavra é substantivo da 2ª
declinação, como discipulus, a segunda é um particípio presente ativo do verbo audƯre
‘ouvir’, que como adjetivo de 2ª classe, de tema –i, assim se declina:
SINGULAR
PLURAL
M/F
N
M/F
N
N/V audiens audiens audientes audientia
A audientem audiens audientes audientia
G audientis audientis audientium audientium
D audienti audienti audientibus audientibus
AB audienti audienti audientibus audientibus
Como vemos no vocabulário, podemos traduzir o particípio presente
ativo por ‘ouvinte’. Assim a expressão animos audientium se traduz ‘ânimos
dos ouvintes’, que é objeto direto dos verbos docet, delectat, permouet. O
núcleo do objeto é o substantivo que está no acusativo animos, o adjunto
adnominal desse núcleo é o genitivo plural audientium.
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Temos a primeira parte traduzida assim: ‘Ótimo é o orador que, pelo
dizer, tanto ensina, quanto deleita, quanto comove os ânimos dos ouvintes’.
Na segunda parte, temos est, que se distribui a três orações coordenadas:
docere est debitum; delectare est honorarium e permouere est necessarium.
Então, pode-se traduzir: ‘Ensinar é um dever, deleitar é um brinde,
comover é necessário’.
Note-se que os infinitivos, como sujeitos gramaticais, deixam os
predicativos no gênero neutro.
Para exercício, devemos indicar a classe gramatical, o caso e a função
sintática de cada palavra:
1. optimus; 2. orator; 3 animos; 4. audientium; 5. debitum; 6.
honorarium; 7. necessarium; 8. qui.
Para responder é preciso declinar cada palavra; a classe gramatical é dada
na entrada lexical.
Respostas:
1. adjetivo, nominativo, predicativo do sujeito;
2. substantivo, nominativo, sujeito (de est);
3. substantivo, acusativo, objeto direto (de docet, delectat, permouet);
4. particípio presente ativo, genitivo, adjunto adnominal (de animos);
5. substantivo, nominativo, predicativo do sujeito (docere);
6. substantivo, nominativo, predicativo do sujeito (delectare);
7. adjetivo, nominativo, predicativo do sujeito (permouere);
8. pronome relativo, nominativo, sujeito (de docet, delectat,
permouet).
Verter ao latim:
1. O ânimo do orador é necessário aos ouvintes.
2. O bom livro é lido pelos bons alunos.
3. Lendo bons livros, a professora ensina e comove os alunos.
4. A fábula, que é lida pelo aluno, deleita os ânimos dos ouvintes.
5. O aluno, que lia as fábulas do livro, comovia os ânimos dos professores.
6. O aluno, que foi instruído pelos professores, leu bons livros.
É preciso conjugar todos os verbos exigidos na versão, no mesmo modo, tempo
e voz.
Respostas:
1. Animus oratoris est necessarius audientibus.
2. Bonus liber legitur a bonis discipulis.
3. Legendo bonos libros, magistra docet et permouet discipulos.
4. Fabula, quae legitur a discipulo, delectat animos audientium.
5. Discipulus, qui legebat fabulas libri, permouebat animos magistrorum.
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6. Discipulus, qui docitus est a magistris, legit bonos libros.
Auaritia,
-ae
(f):
avareza,
cobiça, Negotium, -ii (n): ocupação, trabalho.
ganância.
Caput, capitis (n): cabeça; capítulo; o Pello, pellƟre; pepuli, pulsum: repelir;
principal.
afastar.
Etiam (adv.): até mesmo.
Procuratio,
-onis
(f):
administração;
procuração.
In (preposição): em.
Publicus, -a, -um: público, oficial.
Minimus, -a, -um: mínimo, -a.
Suspicio, -onis (f): suspeita, suspeição.
Munus, muneris (n): cargo, ofício; Vt (conj. integrante): que.
funeral.
Há agora dois verbos: est e pellatur. O primeiro já conhecemos, o segundo, pelo
que se vê no vocabulário e pelo paradigma da 3ª conjugação, está no infectum, no modo
subjuntivo, presente, terceira pessoa, singular, e se conjuga assim:
Legar, legaris, legatur, legamur, legamini, legantur.
Todas as palavras que ofereçam alguma dificuldade devem ser declinadas,
observando-se no vocabulário seus temas ou declinações. Por exemplo, caput, munus,
procuratio, suspicio.
SINGULAR
N Caput
V
Caput
A
Caput
G
Capitis
D
Capiti
AB Capite
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PLURAL
Capita
Capita
Capita
Capitum
Capitibus
Capitibus
SINGULAR
Munus
Munus
Munus
Muneris
Muneri
Munere
PLURAL
Munera
Munera
Munera
Munerum
Muneribus
Muneribus
N
V
A
G
D
AB
SINGULAR
Procuratio
Procuratio
Procurationem
Procurationis
Procurationi
Procuratione
PLURAL
Procurationes
Procurationes
Procurationes
Procurationum
Procurationibus
Procurationibus
SINGULAR
Suspicio
Suspicio
Suspicionem
Suspicionis
Suspicioni
Suspicione
PLURAL
Suspiciones
Suspiciones
Suspiciones
Suspicionum
Suspicionibus
Suspicionibus
A primeira oração não oferece dificuldade, devendo-se traduzir caput est por ‘o
principal é’. Em seguida vem uma longa expressão iniciada por in ‘em’, que indica
lugar; se ela for seguida de ablativo, a relação é de adjunto adverbial de lugar,
instrumento ou meio. De fato, procuratione é ablativo, o pronome indefinido omni
concorda em gênero (feminino), número (singular) e caso (ablativo). Como exercício,
podemos declinar a expressão omni procuratione:
SINGULAR
N Procuratio ominis
V
Procuratio omnis
A
Procurationem omnem
G
Procurationis ominis
D
Procurationi omni
AB Procuratione omni
PLURAL
Procurationes omnes
Procurationes omnes
Procurationes omnes
Procurationum omnium
Procurationibus omnibus
Procurationibus omnibus
Já podemos traduzir in omni procuratione por ‘em toda administração’. O
substantivo negotii está no genitivo singular (neutro de tema –o), sendo portanto
adjunto adnominal de procuratione; o outro substantivo no genitivo singular (neutro de
tema consonantal) muneris está coordenado por et a negotii, sendo também adjunto
adnominal. A última palavra é o adjetivo de 1ª classe publici, adjunto adnominal de
muneris, concordando em gênero, número e caso. Então podemos traduzir todo esse
adjunto adverbial por ‘em toda administração de negócio e de cargo público’.
Na segunda oração, que se inicia por ut ‘que’, determina-se o sujeito do verbo
pellatur, pela expressão no nominativo singular minima suspicio. Na ordem em que
está, se traduz ‘que de cobiça seja afastada até mesmo a mínima suspeita’, ou seja, ‘que
seja afastada até mesmo a mínima suspeita de cobiça’.
Para exercitar, verter ao latim:
1. Afastamos (perfectum) toda suspeita de cobiça na administração pública.
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2. Em todos os cargos públicos, a mínima suspeita de cobiça será afastada por
nós.
3. Em todo cargo público, a mínima suspeita de cobiça foi afastada.
4. Em todos cargos públicos, a mínima suspeita de cobiça fora afastada.
5. Em todos cargos públicos, as mínimas suspeitas terão sido afastadas.
É preciso conjugar os verbos em todas as formas pedidas.
Respostas:
1. Pepulimus omnem suspicionem auaritiae in procuratione publica.
2. In omnibus muneribus publicis, minima suspicio auaritiae pelletur a nobis.
3. In omni munere publico, minima suspicio auaritiae pulsa est.
4. In omnibus muneribus publicis, minima suspicio auaritiae pulsa erat.
5. In omnibus muneribus publicis, minimae suspiciones pulsae erunt.
Capio, capƟre; cepi, captum: capturar;
Opus (n. indecl.; na lococução opus esse):
tomar.
ser preciso.
Existimo, -are; -aui, -atum: estimar,
considerar.
Publicus, a, um: público; do povo.
Insanus, a, um: insano, louco.
Res, rei (f): coisa.
Loquor, loqui; locutus sum: falar.
Seruus, -i (m): escravo, servo.
Oportet, oportƝre; oportuit: ser
preciso, convir.
Oppressus, a, um: vencido.
Opprimo, -Ɵre; oppressi, -essum:
oprimir.
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Si (conjunção adversativa): se.
Taceo, -Ɲre; tacui, tacitum: calar, silenciar.
Vero (adv.): com certeza, em verdade.
Em latim, quando se emprega o pronome pessoal, há um reforço, uma ênfase
sobre ele; em geral, não se emprega, pois o sujeito se mostra pela desinência dos verbos.
Desse modo, a expressão ego uero qui pode-se traduzir por ‘eu mesmo, na verdade,
que’ ou ‘ eu mesmo com certeza que’. É preciso identificar os verbos, suas formas e
seus respectivos sujeitos.
Como essa construção pode oferecer mais dificuldades, pode-se observar que as
conjunções se relacionam a verbos conjugados, bem como os pronomes relativos. A
primeira conjunção si está relacionada a loquor, forma verbal que só se usa na voz
passiva, ou seja, não há voz ativa, em todos os modos e tempos conjugados. Esses
verbos são ditos depoentes: forma passiva e significado ativo.
Na verdade, o paradigma que lhe correspondente é legor (sou lido), da 3ª
conjugação regular; para facilitar o entendimento, apresenta-se aqui sua conjugação
completa:
INFECTUM
INDICATIVO
SUBJUNTIVO
Presente
Passado
Futuro
Presente
Passado
(falo)
(falava)
(falarei)
(fale)
(falasse)
Loquor
Loquebar
Loquar
Loquar
Loquerer
Loqueris
Loquebaris
Loqueris
Loquaris
Loquereris
Loquitur
Loquebatur
Loquetur
Loquatur
Loqueretur
Loquimur
Loquebamur
Loquemur
Loquamur
Loqueremur
IMPERATIVO
Presente
Loquere
Loquimini Loquebamini Loquemini Loquamini Loqueremini Loquimini
Loquuntur Loquebantur
Loquentur
Loquantur
Loquerentur
No imperativo, há ainda o tempo futuro: loquitor, para 2ª e 3ª pessoas do
singular; loquuntur, para 3ª pessoa do plural.
No infinitivo: loqui, presente (falar); locutum iri, futuro (haver de falar).
No particípio: loquens, loquentis, presente (nominativo e genitivo, como
adjetivo de 2ª classe; falante); locuturus, a, um, futuro (como adjetivo de 1ª classe;
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havendo de falar). Há ainda o gerundivo, adjetivo verbal que exprime dever:
loquendus, a, um (que deve ser falado).
No gerúndio, como declinação do infinitivo loqui, há o genitivo loquendi, o
acusativo loquendum, o dativo e ablativo loquendo.
PERFECTUM
INDICATIVO
SUBJUNTIVO
Presente
Passado
Futuro
(falei)
(falara)
(terei falado)
Locutus sum
Locutus eram
Locutus ero
Locutus sim
Locutus essem
Locutus es
Locutus eras
Locutus eris
Locutus sis
Locutus esses
Locutus est
Locutus erat
Locutus erit
Locutus sit
Locutus esset
Locuti simus
Locuti essemus
Locuti sumus Locuti eramus Locuti erimus
Presente
Passado
(tenha falado) (tivesse falado)
Locuti estis
Locuti eratis
Locuti eritis
Locuti sitis
Locuti essetis
Locuti sunt
Locuti erant
Locuti erunt
Locuti sint
Locuti essent
No perfectum, os modos e tempos se constroem sobre o tema do particípio
passado passivo locutus, a, um, masculino, feminino e neutro, mais esse ‘ser’
conjugado. Assim, é preciso considerar o gênero do sujeito antes de conjugar; se o
sujeito for feminino, locuta est (ela falou); se for neutro, locutum est (aquilo falou).
No infinitivo: locutum esse (ter falado); no particípio: locutus, a, um (falado).
Então, a oração condicional si loquor se traduz por ‘se falo’; a expressão de re
publica emprega o substantivo res, da 5ª declinação (a exemplo de dies), no ablativo
singular antecedido de de (preposição com sentido de sobre, a respeito de) e sucedido
por publica, adjetivo de 1ª classe. Assim, se traduz por ‘da coisa pública’, ou seja, ‘do
governo’.
A expressão quod oportet emprega um pronome relativo sem antecedente, que
fica implícito (id), portanto se traduz por ‘o que; aquilo que’. O verbo oportet é
unipessoal, ou seja, só se emprega na terceira pessoa. Sua tradução é ‘o que convém’.
O que vem a seguir, separado por vírgulas, é o adjetivo de 1ª classe insanus, que
se refere à primeira pessoa do singular, no nominativo, como predicativo do sujeito qui.
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A pontuação ajuda a perceber a ordem sintática, pois as orações condicionais estão
separadas por vírgulas. Falta ainda determinar o verbo da oração que subordina a
primeira condicional. Na seqüência, vem outra condicional: si quod opus est, em que
fica implícito o verbo loquor, da condicional anterior, além da expressão de re publica.
Então, pode-se traduzir por ‘se (falo) o que é preciso (sobre o governo)’. Como em
português, as expressões usadas antes não se repetem, como veremos na tradução final.
Seguindo-se a isso vem outro adjetivo de 1ª classe seruus, com a mesma função
do primeiro e no mesmo caso; só aí aparece o verbo relacionado a esses adjetivos,
predicativos do sujeito, que se refere a qui: existimor, infectum, indicativo, presente,
voz passiva, da primeira conjugação, como se observa no vocabulário. Se o verbo
existimo significa ‘considero’, existimor significa ‘ sou considerado’.
Portanto, retomando-se todo o período traduzido, teremos: ‘Sou eu mesmo que,
se falo do governo o que convém, sou considerado louco, se falo o que é preciso, sou
considerado escravo ...’. Para se conservar as elipses do texto original, pode-se traduzir
assim: ‘sou eu mesmo que sou considerado louco, se falo do governo o que convém,
escravo, se o que é preciso, ...’.
Falta ainda a última condicional do período si taceo ‘se calo’, que deixa
implícita a expressão de re publica. Na seqüência, a expressão coordenada oppressus
et captus, em que há dois particípios passados passivos de opprimo e de capio,
respectivamente; ou seja, considerando-se o mesmo verbo existimor, pode-se traduzir
‘se calo, sou considerado vencido e capturado’.
É importante conjugar todos os verbos que possam causar alguma dúvida. A
tradução em si é bem simples, mas a forma final do texto requer capacidade de articular
o pensamento. A tradução final nunca é final. Um texto assim pode ter uma forma
variada de tradução, dependendo do gosto e tendência do tradutor. No entanto, deve-se
ressaltar que a correção tem preferência sobre o estilo, pois o texto é de Cícero, e não do
tradutor. Assim, retomando as partes traduzidas, teremos: ‘sou eu mesmo que sou
considerado louco, se falo do governo o que convém, escravo, se o que é preciso, si
calo, vencido e capturado’.
A respeito desse texto, façamos um exercício de versão:
1. É preciso falar sobre o governo o que convém.
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2. Calaremos sobre o governo o que não convém a nós.
3. Falaremos sobre o governo o que convém a vós.
4. Era preciso falar o que convinha a todos.
Respostas:
1. Opus est loqui de re publica quod oportet.
2. Tacebimus de re publica quod non oportet nobis.
3. Loquemur de re publica quod oportet uobis.
4. Opus erat loqui quod oportebat omnibus.
Podemos ainda fazer um exercício de versão que envolve os textos anteriores:
1. O principal para ti é que fales o que convém a todos.
2. Era preciso falar que os bons alunos liam bons livros.
3. Convém que o orador fale o que é preciso a todos os ouvintes.
4. O principal é que, lendo bons livros, o professor eduque os alunos.
5. Não convém que o aluno leia um só livro.
6. O professor lê um só livro aos alunos. Que professor? O professor que tem
um só livro.
7. O professor lia um só livro aos alunos. Que livro? O livro de fábulas.
8. O professor lerá um só livro aos alunos. A que alunos? Aos alunos que têm
um só livro.
9. O bom livro foi lido pelo professor a todos os alunos. Que bom livro? O bom
livro de fábulas.
10. O bom livro de fábulas fora lido pelo professor aos alunos. Por que
professor? Pelo professor que tinha um só livro.
11. Bons livros de fábulas terão sido lidos pelo professor aos alunos. A que
alunos? Aos alunos que têm um só livro.
12. Élia expeliu quatro dentes com duas tosses. Que Élia? Élia que tinha quatro
dentes.
O principal para o aluno é reler todos os textos traduzidos, com todos os
exercícios; assim esse exercício será apenas uma revisão.
Respostas:
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1. Caput tibi est ut loquaris quod oportet omnibus.
2. Opus erat loqui ut boni discipuli legebant bonos libros.
3. Oportet ut orator loquatur quod opus est omnibus audientibus.
4. Caput est ut, legendo bonos libros, magister docet discipulos.
5. Non oportet ut discipulus legat unum librum.
6. Magister legit unum librum discipulis. Qui magister? Magister qui habet
unum librum/Magister cui est unus liber (dativo de posse).
7. Magister legebat unum librum discipulis. Quem librum? Librum fabularum.
8. Magister leget unum librum discipulis. Quibus discipulis? Discipulis qui
habent unum librum/Discipulis quibus est unum liber (dativo de posse).
9. Bonus liber lectus est a magistro omnibus discipulis. Qui bonus liber? Bonus
liber fabularum.
10. Bonus liber fabularum lectus erat a magistro discipulis. A quo magistro? A
magistro qui habebat unum librum/A magistro cui erat unus liber (dativo de
posse).
11. Boni libri fabularum lecti erunt a magistro discipulis. Quibus discipulis?
Discipulis qui habent unum librum/ Discipulis quibus est unus liber (dativo
de posse).
12. Aelia expulit quattuor dentis cum duabus tussibus. Quae Aelia? Aelia quae
habebat quattuor dentis/ Aelia cui erant quattuor dentes (dativo de posse).
Com isso se completa o primeiro ciclo do aluno de latim. Não se deve pensar
que um segundo ciclo seria muito mais difícil, pois o segundo ciclo consiste no estudo
constante, na tentativa de traduzir os textos literários. Toda a base da língua está contida
nestas páginas que permitirão ao aluno avançar no estudo do latim, com eficiência.
É claro que não se formam latinistas em um semestre letivo; nem mesmo dois,
três ou mais semestres serão suficientes para isso. Então, com uma boa base, cada aluno
poderá avançar tanto quanto a vida possa exigir dele, sem necessidade de um curso
regular que muitas vezes repete semestre a semestre a mesma teoria inicial.
Para esse aprendizado avançar, é indispensável uma boa gramática latina, além
de um bom dicionário de latim. Assim, damos umas referências:
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Maia Junior, Juvino Alves. Latim: teoria e prática nos cursos universitários. João
Pessoa: Idéia/Editora Universitária, 2007.
Torrinha, Francisco. Dicionário latino/português. Porto: Marânus, s. d.
Faria, Ernesto. Dicionário escolar latino/português. Rio de Janeiro: MEC, s. d.
___________. Gramática da língua latina. Brasília: Fundação de Assistência ao
Estudante, s. d.
Saraiva, F. R. dos Santos. Novíssimo dicionário latino/português. Rio de Janeiro:
Garnier, s. d.
Observação: as referências sem data de edição podem nem estar disponíveis para
compra, como livros novos; no entanto elas são adquiridas em sebos, ou seja, em
livrarias de livros usados. Como a maior parte dos meus livros adquiri assim,
desconheço a data da última edição deles. De todo modo, evidencia-se a notória
escassez de livros de latim no Brasil.
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