A PEDAGOGIA DE COMENIUS: uma experiência didático-pedagógica através da leitura visual no Centro Velho de Santos MONTEIRO, Leide Patrício, mestranda do Programa de Mestrado em Educação, Universidade Católica de Santos – UNISANTOS, Santos, Brasil, [email protected] FRANCO, Luciana. Mestre e membro egresso do Programa de Mestrado em Educação, Universidade Católica de Santos – UNISANTOS, Santos, Brasil, [email protected] RESUMO A pedagogia comeniana tem como ponto central do ensino a experiência e, a partir dessa premissa, ter a oportunidade de reconhecer e valorizar a cultura local, experienciando-a e integrando-a a formação dos alunos da educação básica, constituindo isso uma forma de ensino-aprendizagem. Assim, a vivência estética e a produção textual dos estudantes do Ensino Fundamental II no conhecimento do patrimônio artístico/histórico da cidade de Santos é o tema deste trabalho, que buscou investigar a percepção dos estudantes em relação à leitura do espaço na perspectiva do pedagogo morávio Comenius. Este trabalho é parte da pesquisa em andamento desenvolvida no Mestrado em Educação da Universidade Católica de Santos e tem como fundamentos teóricos os conceitos de Comenius, Freire, Hernández e Barbosa, que discutiram a questão da cultura visual e a importância da leitura do mundo na formação do sujeito, a partir dos pressupostos de Freire e Manguel. O presente estudo, de natureza qualitativa, foi desenvolvido por meio da observação do patrimônio histórico e artístico do Centro Velho da cidade de Santos por alunos de Ensino Fundamental II de uma das escolas municipais, os quais relataram suas percepções sobre os locais visitados, utilizando-se de registros gráficos, escritos e manuais. O trabalho toma por base os relatos de experiência dos participantes, analisando os dados por eles apresentados. Os resultados da análise mostraram aspectos positivos em relação ao desenvolvimento da alfabetização visual dos alunos e em seu envolvimento com a escrita e a produção de objetos artísticos, além de outros aspectos referentes ao modo como passaram a olhar a cultura local, na expressão de sentimento e de pertença do patrimônio histórico e artístico da cidade. Palavras-chave: leitura do espaço, produção textual, pedagogia comeniana. Pdf downloaded from http://www.thepdfportal.net/c75daeae-af64-49a6-bbfa-fa0b360b049d_318018.pdf Introdução A educação sempre foi um tema muito discutido e controverso na evolução da humanidade, porque mobiliza múltiplos interesses sócio-politico-economico-culturais. A historicidade desse assunto oferece oportunidade para muitas reflexões, entre elas a temporalidade e o legado que alguns personagens deixam para a contemporaniedade educacional. Destaca-se como um desses personagens Jan Amos Komensky, conhecido por Comenius, nasceu em 1592 na Morávia. Homem religioso protestante envolveu-se em lutas políticas e religiosas do seu tempo. Destacou-se por ser um estudioso e pesquisador incansável na área da Educação, sua preocupação não era só o acesso das crianças e dos jovens às escolas, mas sim que recebessem os ensinamentos com qualidades de conteúdos. Criou o primeiro livro-texto pedagógico ilustrado o Orbis Pictus (“O mundo em imagens”), publicado em 1650, onde se pode perceber sua preocupação com a importância da representação visual e as experiências na vida do ser humano (Narodowski, 2004). Seus estudos sobre a Educação culminaram numa obra pedagógica revolucionária: a Didática Magna (1640). Essa obra abrangia ensinamentos sobre a educação na infância, na juventude, melhorar a função da escola e que todos tivessem o direito de freqüentá-la. A instituição era local para aprender a ler e cuidar da formação do caráter e tinha na natureza referências de verdade, ordem e bons caminhos. A formação humanística, ponto forte da Didática Magna, era pautada no aprendizado pela experiência, na qual os pressupostos da alegria e a segurança trariam o aluno mais próximo da realidade “e seja que tal que se desenvolva sem severidade e sem pancadas, sem nenhuma coarctação, com a máxima delicadeza e suavidade quase de modo espontâneo [...] os exercícios se convertem no espírito em sabedoria, virtude e piedade” (COMENIUS, 2006, p. 110). Pdf downloaded from http://www.thepdfportal.net/c75daeae-af64-49a6-bbfa-fa0b360b049d_318018.pdf Para Comenius a compreensão das palavras tinha que fazer sentido para o aluno, isto é “deve ser de regra saber expressar tudo o que é compreendido, e, reciprocamente, aprender a entender tudo o que é dito. A ninguém seja permitido falar do que não sabe ou entender o que não possa expressar” (COMENIUS, 2006, p.223). A experiência era a forma pela qual valorizava o aprendizado e tinha como presssuposto que a apreensão sobre o mundo passava pela cultura dos sentidos. O ensino das artes também ocupava um lugar tão valorizado quanto à ciência na sua Didática Magna. A Arte tem a capacidade de mobilizar todos os sentidos do homem, isto é, o sensível e o inteligível do ser humano, posto que “não tem importância para o homem somente como instrumento para desenvolver sua criatividade e sua percepção, mas tem importância em si mesma, como assunto, como objeto de estudo” (BARBOSA, 1995, p.113). Nesse aspecto, o desenvolvimento da capacidade estética do estudante do ensino fundamental e médio pressupõe um trabalho que integra conteúdos disciplinares, possibilitando ao aluno a oportunidade de unir os conteúdos de educação artística e língua portuguesa, vivenciando-os numa experiência estética, conciliando, deste modo, a aprendizagem significativa para sua formação. A aprendizagem significativa, por sua vez, está em consonância com uma prática pedagógica que leva em conta a importância da alfabetização visual, cujo objetivo é desenvolver diferentes leituras dos objetos, incluindo-se as leituras dos espaços nos quais os estudantes estão inseridos. Para tanto, é importante que eles saibam o real valor do ato de ler, uma vez que, no ponto de vista de Freire (1989, p. 9) “a leitura do mundo precede a leitura da palavra, daí que a posterior leitura desta não possa prescindir da continuidade da leitura daquela”. Esse mesmo autor salienta que a compreensão do texto a ser alcançado por sua leitura crítica, que compreende a percepção das relações entre o texto e contexto, contribui para o exercício da criticidade e da autonomia, posto que seja por meio da expressão escrita e oral que o sujeito se manifesta. Portanto Freire comunga com o pensamento de Comenius quanto ao valor da leitura significativa, para a formação do aluno. Deste modo, faz-se necessário reconhecer e valorizar a cultura local, colocandoa como o principal ponto de referência. Sob esse aspecto, o projeto de leitura do espaço, desenvolvido junto à Unidade Municipal de Ensino Pedro II, em parceria com a Pdf downloaded from http://www.thepdfportal.net/c75daeae-af64-49a6-bbfa-fa0b360b049d_318018.pdf Fundação Arquivo e Memória de Santos, teve como foco o resgate e a manutenção da memória da cidade, com objetivo de conscientizar os alunos do curso fundamental II, nono ano, sobre o valor do patrimônio histórico e artístico do período Barroco, considerando que Santos possui inúmeros monumentos e obras artísticas que retratam esse período da arte. Ao iniciar o estudante no conhecimento e na cultura de preservação do patrimônio artístico e histórico do Município, busca-se ampliar a sua capacidade de olhar as obras artísticas, compreendendo-as dentro de um contexto espacial, histórico e político, de modo a desenvolver habilidades para a interpretação das imagens a partir da expressão artística e textual. Em termos gerais, os estudantes do ensino fundamental II não têm noção do valor artístico e histórico de obras de arte, bem como do valor dessas obras como documento de registro da época, no qual estão grafados os momentos econômicos, políticos e culturais do período. Por outro lado, quando preparado com fundamentação teórica, e tem a oportunidade de estar em contato direto com essas produções, o estudante pode diminuir as dificuldades de entendimento em relação às obras artísticas. Além disso, ao realizar uma atividade vinculada ao conhecimento artístico de modo que possibilite compreender as produções culturais em seu contexto, há múltiplos ganhos em relação ao desenvolvimento estético. Hernández (2000) ao estudar essas questões afirma que: [...] algo que, por óbvio, muitos esquecem: que não só potencia uma habilidade manual, desenvolve um dos sentidos (a audição, a visão, o tato) ou expande sua mente, mas, também, e, sobretudo, delineia e fortalece sua identidade em relação às capacidades de discernir, valorizar, interpretar, comprender, imaginar, etc., o que lhe cerca e também a si mesmo (HERNÁNDEZ, 2000, p. 42). Dessa forma, o ensino/aprendizagem flui, acontece de forma espontânea e lúdica, transformando a experiência estética em conhecimento enriquecedor, o que dá ao estudante condições de ser mais crítico, questionador e apreciador do belo. Outro aspecto desse aprendizado diz respeito à educação patrimonial e ao respeito em relação ao meio ambiente. O sistema bio-ecológico não foi o único espaço a sofrer erosão e depredações; os patrimônios histórico-artísticos e naturais também sofreram Pdf downloaded from http://www.thepdfportal.net/c75daeae-af64-49a6-bbfa-fa0b360b049d_318018.pdf dasagregação de valores, considerando a era industrial, com a produção em série e o lucro financeiro colocados acima de qualquer outro interesse social, somados aos avanços desenfreados da era tecnológica, em meados do século XX e começo do século XXI, embricados à falta de políticas educacionais e de interesses político-econômicos que se omitiram diante desse processo destrutivo. Fundamentação teórica Um olhar cuidadoso sobre a Didática Magna de Comenius faz pensar que, após longos anos de pesquisas e estudos, seus conhecimentos sobre a educação ainda estão muito presentes na Pedagogia, como a graduação, a simultaneidade e a universalidade (NARODOWSKI, 2004), portanto, na abordagem comeniana como fundamentação teórica, destaca-se o valor da leitura e a compreensão da mesma, o método do ensino das línguas e o método para o ensino das artes. Geralmente associado apenas ao aspecto escrito, o ato de ler implica na percepção das relações entre o texto e o contexto, visto que quando se resume à mera decodificação do código lingüístico, o educando lê o que está escrito, porém têm certa dificuldades ao fazer inferências ou de associar as informações a outras que façam parte de sua realidade. Assim, tomando por base o pensamento de Freire (2005), a palavra escrita não flui para a palavra-mundo e, deste modo, sua compreensão fica limitada, de maneira que a formação do leitor se torne fragmentada, parcial e incompleta. Conforme nos lembra Manguel (1997, p. 53), “ao seguir o texto, o leitor pronuncia seu sentido por meio de um método profundamente emaranhado de significações aprendidas, convenções sociais, leituras anteriores, experiências individuais e gosto pessoal”. Assim, retomendo Freire (2005), é mister acentuar que a leitura de um texto, tomado como pura descrição de um objeto e feita no sentido de memorizá-la, nem é real leitura nem dela, portanto, resulta o conhecimento do objeto de que o texto fala. (FREIRE, 2005, p. 4) Neste mesmo sentido, é necessário que se destaque que o texto e a tessitura textual não são elementos empíricos da disciplina d elíngua portuguesa ou estritamente ligados aos texto escrito: ao contrário, o mundo é o campo de significações e os textos vão desdes os signos verbais aos visuais, conforme se percebe no ensino da arte. A arte, assim como a leitura, está Pdf downloaded from http://www.thepdfportal.net/c75daeae-af64-49a6-bbfa-fa0b360b049d_318018.pdf presente em toda trajetória das atividades humanas e sua influência na Educação se dá ao longo de toda vida. Partindo desse pressuposto, as práticas do professor de Arte, ao focar a alfabetização visual, podem transformar a realidade do ensino-aprendizagem dos professores em formação, a fim de que possam oferecer melhor qualidade de ensino aos seus estudantes. Parte-se do princípio que a reflexão é um dos conceitos mais utilizados para pensar as ações realizadas. Dentro dessa linha, considera-se importante que o exercício do pensar naquilo que se faz se transforme em reflexão metódica, a fim de que se possa aprender com as experiências e mudar as práticas. O estudo das práticas pedagógicas decorre da necessidade de rever novos referenciais, pois, o saber dos professores não é um conjunto de conteúdos cognitivos definidos de uma vez por todas, mas um processo em construção ao longo de uma carreira profissional na qual o professor aprende progressivamente a dominar seu ambiente de trabalho. Ao mesmo tempo em que se insere e o interioriza por meio de ação que se torna parte de sua consciência prática (TARDIF, 2005, p.15). Sendo uma das disciplinas do currículo escolar do ensino fundamental II, “a Arte-Educação não é usável em si mesma e seu lugar é considerado periférico no currículo” (BARBOSA, 1995, p. 38). Em contraste, as demais disciplinas, por seu turno, têm valor reconhecido no currículo porque atendem aos interesses da escola e da sociedade. Já aquelas voltadas à educação artística precisam justificar e convencer o porquê de sua inclusão no currículo escolar. Hernández (2000, p. 43) em estudo sobre a importância da arte na formação, mostra que, “junto com a história, são as experiências e conhecimentos afins ao campo das artes os que mais contribuem para configurar as representações simbólicas portadoras dos valores que os detentores do poder utilizam para fixar sua visão de realidade”. Dessa forma, verifica-se que a Arte ainda é um campo de conhecimento pouco valorizado no conjunto do currículo enquanto as outras disciplinas correspondem com mais compreensão às expectativas colocadas pelas políticas e pelas escolas. Método de pesquisa utilizado Pdf downloaded from http://www.thepdfportal.net/c75daeae-af64-49a6-bbfa-fa0b360b049d_318018.pdf A fim de atender aos objetivos da pesquisa, este estudo buscou investigar a percepção dos participantes sobre a leitura visual do Centro Velho de Santos e, para tal fim, teve como primeira ação a observação monitorada, proporcionando uma experência educativa em espaços não escolares, uma vez que, na perspectiva de Freire (2004), o espaço pedagógico é um texto para ser constantemente “lido”, interpretado, “escrito e reescrito”. O pensamnto de Freire insere-se no discurso Comeniano, o pedagogo diz como o professor deverá se organizar para que com uma única atividade sejam feitos dois ou três trabalhos: a formação da juventude deve ser organizada de modo semelhante, para que cada atividade possa produzir mais resultados. Para tal fim, como regra geral, as coisas correlatas deverão ser ensinadas juntas, sempre e em toda parte. Por exemplo, ligar as palavras às coisas, a leitura à escrita, o exercício do engenho ao do estilo, o aprendizado ao ensino, as coisas sérias às agradáveis, e assim por diante” (COMENIUS, 2006, p. 223). Trabalhar o ensino da arte e da lígua portuguesa foi uma ação educativa na qual a preocupação com a qualidade do aprendizado estava presente no decorrer dessa experiência educacional artística e estética. A visão dos estudantes A análise da produção textual dos sujeitos envolvidos (trinta e três, no total), possibilitou a caracterização dos principais referenciais, a saber, apreciar, apreender e conhecer ações relatadas nos textos produzidos e que constituíram valores epistemológicos na formação educacional do estudante. A análise dessas categorias possibilitou visualizar um universo estético que se amplia por meio do desenvolvimento da percepção e da sensibilidade, que, por sua vez, são fundamentais para que haja o aprendizado e o conhecimento. Os alunos também manifestaram sentimentos de alegria, emoção, tristeza, felicidade, auto-estima, quando aproximados da cultura visual. Essa emoção expressouse na imagem do escuro e do chão duro e frio do local histórico visitado, onde permaneciam os escravos. Rompeu-se a passividade do pensamento, e, através da Pdf downloaded from http://www.thepdfportal.net/c75daeae-af64-49a6-bbfa-fa0b360b049d_318018.pdf dialética entre o mundo interno e externo, a emoção aflorou no registro da expressão escrita. Dessa forma, compreende-se melhor esse processo da comunicação, porque “o pensamento tem que passar primeiro pelos significados e depois pelas palavras” (VIGOTSKI, 1999, p. 186). O reconhecimento de valor do espaço-histórico e dos objetos artísticos, assim como a reconstrução do conceito de tempo, na construção da cultura do cotidiano dos estudantes, além do sentimento de pertença do patrimônio histórico e artístico da cidade em que vivem, reforça o conceito de que a aprendizagem deve ser concebida como u ma produção ativa (HERNÁNDEZ, 2000). Na segunda etapa do trabalho, propôs-se a questão aos alunos: qual o sentimento que você experimentou ao vivenciar o projeto? Ao que foi respondido: “Meu sentimento foi ótimo por que eu nunca fiz um passeio igual a esse pelo centro Histórico de Santos. Foi muito bom saber como era antigamente a cidade de Santos. Adorei, valeu a pena!” (Aluna “A”). “Eu me senti muito bem. Foi como se eu tivesse naquele tempo antigo imaginando como seria tudo aquilo. Eu achei uma maravilha por que fiquei sabendo de coisas que nem imaginava que aconteceram” (Aluno “B”). “Senti tristeza quando conheci o Pantheon dos Andradas, e quando vi o lugar onde os escravos dormiam, no chão duro, frio e no escuro” (Aluno “C”). As mini-narrativas dos alunos expressam o desejo de conhecer o passado, mas também denotam percepções relacionadas à opressão do poder econômico-político do colonizador branco sobre os negros, e deixam fluir o sentimento de compaixão pelos escravos. A relação da percepção com o espaço, o sentimento de satisfação por adquirir um novo saber e a importância de estar num local histórico-artístico de sua cidade foram relatados pelos alunos que, no momento da produção artística e textual, demonstraram interesse, imaginação e criatividade. Os comentários dos alunos também demonstram, mesmo que de forma não intencional, uma leitura afetiva do espaço: Pdf downloaded from http://www.thepdfportal.net/c75daeae-af64-49a6-bbfa-fa0b360b049d_318018.pdf “Eu me senti surpreso, não sabia que esses lugares eram tão importantes. Confesso que pensei que fosse chato, mas fui descobrindo como apreciar aquilo, que faz parte da nossa cidade. O que era para ser um passeio, a fim de descobrir a arte que habita a nossa cidade, virou um passeio histórico e divertido, e o que posso dizer é que faria esse passeio outra vez” (Aluno “F”). “Eu senti que estava adquirindo mais conhecimento, não tinha noção que todas aquelas casas, monumentos, igrejas antigas, tinham tanta cultura para nos oferecer. Mas depois do passeio adquiri mais conhecimento do que aqueles patrimônios históricos, não são apenas coisas antigas, sem importância, mas, sim, aprendemos mais sobre o nosso passado, a importância daqueles patrimônios, e que para vivermos o nosso presente e futuro com mais cultura, precisamos estudar o passado para vivermos o agora. Gostei muito de ter feito o passeio, pois enriqueceu mais meu conhecimento” (Aluna “G”). A aluna G mostra em seu relato que, durante o passeio, os conhecimentos apresentados foram se incorporando aos seus interesses culturais, e que despertados pela curiosidade, constituíam-se novos conhecimentos. Pode-se constatar através dos registros das expressões escritas dos estudantes, que, num passeio sócio-cultural aliado a prática pedagógica, criou a posssibilidade de ensino-aprendizagem por um caminho que benefecía, também a reflexão do professor quanto às suas práticas, porque o professor não trabalha apenas um objeto, ele trabalha com sujeitos e em função de um projeto: transformar os alunos, educa -los e instruí-los. Ensinar é agir com outros seres humanos; é saber agir com seres humanos que sabem que lhes ensino; é saber que ensino a outros seres humanos que sabem que sou um professor, etc. Daí decorre um jogo sutil de conhecimentos, de reconhecimentos e de papéis recíprocos, modificados por expectativas e perspectivas negociadas. Portanto o saber não é uma substância ou um conteúdo fechado em si mesmo; ele se manifesta através de relações complexas entre o professor e seus alunos. Por conseguinte, é preciso inscrever no próprio cerne do saber dos professores a relação com o outro, e, principalmente, com esse outro coletivo representado por uma turma de alunos (TARDIF, 2005, p.13). Pdf downloaded from http://www.thepdfportal.net/c75daeae-af64-49a6-bbfa-fa0b360b049d_318018.pdf É relevante refletir, quanto às instituições atuais, por que a pedagogia de Comenius salienta, no capítulo XII da sua obra, que as escolas podem ser reformadas e melhoradas, propondo 31 cânones entre eles, salientando que todos sejam educados para uma cultura não vistosa, mas verdadeira, não superficial, mas sólida, de tal sorte que o homem, como animal racional, seja guiado por sua própria razão e não pela de outrem e se habitue não só a ler e a entender nos livros as opiniões alheias e a guardá-las de cor e a recitá-las, mas a penetrar por si mesmo na raiz das coisas e delas extrairem autêntico conhecimento e utilidade. A mesma solidez é necessária para a moral e a em processopiedade (COMENIUS, 2006, p.110). Percebe-se que o pensamento do pedagogo morávio, quanto ao empenho para melhorar a qualidade das escolas, continua sendo um processo que permeia as organizações escolares atuais e que educar e educar-se são tarefas constantes e dinâmicas na relação professor-aluno e de todos que fazem parte desse cenário escolar. Visto que abrange as políticas sócio-educacionais as quais atendem aos interesses econômicos do país. Considerações finais Importa ressaltar que a vivência estética e ética dos estudantes do ensino do fundamental II, no conhecimento do patrimônio artístico-histórico da cidade de Santos, buscou caracterizar a importância da observação dos espaços através de desenhos e produções textuais com gêneros literários como: mini-narrativas, poemas e relatos, consolidando essas produções em conhecimentos. Pôde-se constatar que o aprendizado não foi mecanizado, simplesmente memorizado, houve muitos questionamentos sobre os locais visitados, sobre a época, sobre a arte barroca e, principalmente, sobre a importância daquele universo novo que estavam desvelando e incorporando como transformação na sua formação como ser humano. E é nessa perspectiva que o discurso de Comenius, “destaca quão significativa é a qualidade dos conteúdos que serão transmitidos pela educação. Os atributos dos Pdf downloaded from http://www.thepdfportal.net/c75daeae-af64-49a6-bbfa-fa0b360b049d_318018.pdf conteúdos são tão relevantes quanto a quantidade e a extensão dos recursos mediante os quais se distribuirão os saberes” (NARODOWSKI, 2004, p. 30). Por isso, saber ler o mundo das imagens, isto é, o espaço em que vivem, com sensibilidade, estética e ética, é aprender a pensar com Arte, é ter a possibilidade de transformar o mundo de acordo com sua vontade, tendo a liberdade de escolhas. Comenius ao criar em 1650 o livro-texto pedagógico ilustrado Orbis Pictus demonstra sua preocupação com a importância das imagens no processo de apreensão dos objetos facilitando a compreensão do mundo. A alfabetização visual que se fez presente nesse projeto, como parte do processo da sensibilização, para compreender-se o quanto às imagens, captadas pelo olhar, podem interferir na visão que se elabora sobre nós mesmos e sobre o mundo, tanto na visão do professor ou como na do aluno, reflete o quanto esse ensino-aprendizagem foi significativo para os participantes. Está, portanto, na formação do professor-crítico-reflexivo, a importância da subjetividade ao fazer reflexões que norteiem suas práticas. O pensar-agir com ética não aceita a postura do professor que não tenha respeito, comprometimento e coerência com sua profissão, e também com o aluno, o qual deve ser tratado com respeito e afeto. As inúmeras dificuldades encontradas no percurso da profissão, a falta de políticas educacionais voltadas às realidades sociais, a falta de um olhar com dignidade ao educador, desencanta e esmorece esse profissional da educação, que, por vezes, diante das dificuldades presente na profissão, se deixa abater, tranformando-se num mero transmissor de conhecimento, Mas é na coerência de pensar com profundidade e na compreensão do ato de educar que se encontra a força criadora para superar essas adversidades. Saber combinar seus conhecimentos pedagógicos, adaptá-los e (re) elaborá-los de acordo com as realidades são formas de construir saberes pedagógico mais relacionados com experiências, sendo esse o papel do educador como transformador na sociedade. A curiosidade que move e estimula o interesse em busca do conhecimento também o coloca em confronto com as diversas formas de experiências. Diante de situações como essas, o professor reflexivo e crítico necessitam estar atento às mudanças que sua prática exige, porém, considerar o rigor metodológico e científico da Pdf downloaded from http://www.thepdfportal.net/c75daeae-af64-49a6-bbfa-fa0b360b049d_318018.pdf ciência, pode ajudá-lo a criar e fundamentar teoria e prática no saber-fazer docente, a partir do contexto sócio-cultural do aluno e do professor, pois, “o dialógo não pode existir sem esperança. A esperança está na raiz da inconclusão dos homens, a partir da qual eles se movem em permanente busca. Busca em comunhão com os outros” (FREIRE, 1979, p. 43). Na medida em que o professor amplia sua consciência sobre suas práticas, percebe que a teoria fundamenta, legitima esse conhecimento, e proporciona uma atuação mais emancipatória e criativa da sua prática pedagógica. Referências Bibliográficas COMENIUS, 1592/1670. Didáctica Magna. Aparelho crítico Marta Fattori. Tradução por Ivone Castilho Benedetti. 3. ed. 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