“ThinkTank” Tlantic da TEXTO Bruno Farias FOTOS D.R. ganha fôlego O “think thank” da Tlantic, “The Everywhere Store, One Retailer, Many Journeys, One Experience”, voltou a realizar-se, desta feita em Madrid, com presente e futuro do retalho organizado a estar em discussão. Espaço privilegiado para projetar o retalho moderno e o consumidor de hoje, a empresa que nasceu no retalho voltou a demonstrar a pertinência deste momento de reflexão sobre o farol do consumo 82 em tempos de transição para o digital. Isto sem esquecer a importância das lojas físicas no consumo moderno. TECNOLOGIA n.º35/2015 | SETEMBRO/OUTUBRO 83 O “claim” diz tudo. Ou quase tudo. A jornada ainda pouco vai mais do que no início e o caminho, ou os possíveis caminhos, são mais do que muitos, tantos quanto as dúvidas em torno do amanhã do retalho. O que move o consumidor moderno? As lojas físicas vão acabar? Como estar presente em todo lado e ao mesmo tempo? E a logística? Como se gere um stock neste contexto? Questões às quais a Tlantic procurou dar resposta nesta abordagem que já se torna habitual, apesar de ser somente a sua segunda edição, estendendo ao mercado e aos operadores a oportunidade de, em conjunto, analisar e debater questões de interesse comum. Experiências e tendências em debate, ou não estivesse o retalho moderno a atravessar, talvez, a sua mais profunda metamorfose de sempre. Uma mudança sentida e vivida à escala mundial, com o retalho organizado a apresentar-se como um negócio cada vez mais próximo do “shopper”, numa convivência entre o consumo físico e digital, cujo equilíbrio futuro se apresenta como a equação mor. A seu favor, o retalho físico apresenta a localização privilegiada e o facto de receber um enorme número de consumidores, com o necessário envolvimento da relação humana associado ao processo de compra, assim como a capacidade de se adaptar aos processos de consumo, com as promoções e os folhetos a serem um exemplo paradigmático, não só da elasticidade do preço, como da capacidade do retalho em se adaptar, de forma mais ou menos célere, às reivindicações do “shopper” moderno. O mesmo que com recurso ao seu smartphone ou tablet pesquisa online para ir comprar na loja, ou encomenda algo que lhe surgiu numa promoção cruzada, ou num anúncio dinâmico em qualquer rede social, o A emergência do que demonstra a dificuldade “prosumer” é uma em conhecer e prever realidade incontornável os comportamentos do da era digital, onde a consumidor moderno. Internet das Coisas é O farol que aponta o apenas o primeiro capítulo caminho da inovação e de uma longa história por da evolução do retalho, escrever verdadeiro indutor daquilo que poderá ser o futuro do sector. A emergência do “prosumer” é uma realidade incontornável da era digital, onde a Internet das Coisas é apenas o primeiro capítulo de uma longa história por escrever, com possibilidades associadas a uma experiência de consumo com níveis de conforto e mobilidade cada vez mais elevados. Flexibilidade e capacidade de adaptação exigem-se, pôde-se concluir no final dos dois dias de apresentações. Ainda que cada caso seja, naturalmente, um caso e as idiossincrasias de cada cultura constituam um desafio à implementação de estratégias globais comerciais e de marketing, já que o padrão e o perfil de consumo não é igual em todos os países. “Brick&Mortar” Com a compressão da noção de tempo e espaço reduzida ao formato “mobile”, onde os smartphones e os tablets ditam tempos de resposta e procedimentos logísticos e operacionais, que papel ocupam as lojas físicas nesta revolução do retalho? Questão a que Manel Jadraque, co-CEO da Talent Republic, procurou responder, partilhando a ideia de que uma abordagem multicanal não eliminará, necessariamente, a existência da loja física, apontando, contudo, para a necessidade de renovação das lojas físicas como hoje as conhecemos. Para Manel Jadraque, no futuro, existirão menos lojas físicas, mas serão maiores e melhores. “Megastores” focadas em possibilitar a melhor experiência de consumo de sempre a um consumidor cada vez mais infiel e com comportamento me-nos previsível, com este mundo novo, conectado na íntegra, a desafiar os retalhistas a ir mais além da sua zona de conforto, ao mesmo tempo que representa NO TE3C 15 2 / 5 0 n.º novas oportunidades de “engagement” e de excelência de serviço. Uma das razões pela qual a abordagem multicanal é o futuro do retalho, segundo Manel Jadraque, é o facto de não permitir apenas tornar os retalhistas mais adaptáveis, mas ser uma abordagem também ela adaptável. Operações Até porque a abordagem multicanal é muito mais do que é percetível pelo consumidor, com Paulo Magalhães, CEO da Tlantic, a salientar a importância dos procedimentos e o facto de trabalhar de forma direta na melhoria e evolução Do “showrooming” ao “webrooming “ “ do serviço ao cliente. Miguel Mota Freitas, CEO da Sonae SR, foi um Questões como a dos interlocutores convidados na conferência sincronização de stock “The Everywhere Store”, que reuniu, em Madrid, e catálogo único, alguns dos maiores retalhistas mundiais da Europa, América Latina, África do Sul, EUA e Ásia. O entre outras, irão evento, realizado pela Tlantic e apoiado pela possibilitar às marcas IE Business School, teve ainda como oradores simplificar o ato de Masaaaki Imai, fundador do Kaizen Institute, Alan Jensen, CIO da Dansk Supermarked, e Leo Ponte, compra, reforçando, CIO da Adolfo Dominguez, a par de Mário Pereira, assim, a relação administrador responsável pela Worten. com o consumidor Na sua apresentação, dedicada à emergência do omnicanal no retalho a nível mundial, Miguel (ao gerar poupança Mota Freitas considerou que o fenómeno de efetiva de tempo e “showrooming” (pesquisa de produtos em loja de passos necessários física, para posterior aquisição online) tem vindo a ser substituído pelo “webrooming” (aquisição para a compra final). em loja após pesquisa do produto e preparação do “Passa a ser possível processo de compra online), enfatizando o papel aceder a uma gama relevante da loja física como centro da estratégia de qualquer retalhista. “O retalho está a evoluir impressionante de para um modelo onde o mundo físico e o digital se produtos à distância fundem num só, proporcionando uma experiência de um clique, trocar de compra única ao cliente. As lojas vão estar cada vez mais focadas no serviço distintivo e um produto comprado especializado aos clientes, com uma gama de na loja física produtos alargada pelos catálogos digitais e enquanto compra, serviços de aconselhamento, e trabalharão em perfeita articulação com as plataformas online, simultaneamente, um produto exclusivo online ou apenas disponível numa loja de outra região e tê-lo entregue em casa ou no local de trabalho”, destaca o responsável da Tlantic. Mas esta interligação apenas se torna particularmente apelativa quando a multiplicidade de canais que ligam consumidores e retalhistas é feita de forma proveitosa, promovida de maneira intensa, mas quanto baste, caso contrário tem o mesmo efeito que muitos correios eletrónicos: é considerado SPAM. Ideia defendida por Alan Jensen, CIO e vice-presidente executivo da Dansk Supermarked. O que faz com que, e como explicou João Dionísio, da Porto Business School, cada marca deva adotar uma abordagem multicanal personalizada, ajustada à medida daquilo que é o seu ADN e em onde o peso do móvel tem vindo a aumentar e onde a diferenciação acontecerá também pelo suporte dado ao cliente”. Uma boa forma de resumir tudo o que foi debatido ao longo dos dois dias do “The Everywhere Store”. 84 função daquilo que são as necessidades dos seus seguidores. Preservar a identidade e os valores de cada uma das marcas é tão ou mais importante quando se trata de definir cuidadosamente onde faz e não faz sentido estar presente. Customização da presença multicanal que passa por aceitar a necessidade de mudança e aplicar, estrategicamente, as ferramentas e o conhecimento necessários para responder às necessidades do “prosumer” e mudar a relação entre retalho e consumidor. Até porque as vendas online cresceram 184% nos últimos cinco anos (dados Planet Retail), face aos 38% das lojas, com o canal digital a ter uma influência em 49% das vendas apuradas nas lojas físicas em 2015. Ainda que 56% dos consumidores considerem que a tecnologia faz com que a experiência de loja seja melhor, 33% dos “shoppers” procura a experiência de loja. Menos, ainda assim, face aos 43% que assume preferir fazer toda a compra online. Assim também o pensam na China, que deverá ultrapassar os Estados Unidos da América nas compras online já em 2017. O desafio é imenso. As dúvidas também. TECNO LOGIA n.º35 /2015 | SET EMBR