Substituição/Redução de aditivos sintéticos em alimentos Bioconservação de alimentos tradicionais por adição de Bactérias Acido-Lácticas e Bacteriocinas Instituto Politécnico de Viana do Castelo - Portugal Organización Manuela Vaz Velho Samuel Lima Jácome ENQUADRAMENTO Os produtos fumados e curados à base de carne, principalmente de carne de porco, têm um enorme impacto na economia portuguesa e dos países do sudoeste europeu. Com exceção de alguns países em desenvolvimento, onde a cadeia de refrigeração não está amplamente estabelecida, hoje fumar ou curar um alimento tem como principal objetivo dotá-lo de características organoléticas diferenciadas de acordo com o modo de produção, a cultura gastronómica ou o território onde este é fabricado. O efeito conservante destas técnicas é, nalguns casos, mínimo, pelo que o uso de aditivos químicos para garantia da segurança microbiológica está vulgarizado, desprezando-se, por vezes, a segurança química 1. É importante desenvolverem-se novos conceitos e tecnologias que permitam aumentar o valor comercial deste produtos e, por sua vez, dinamizar o setor sem descurar os seus processos típicos de produção, a sua origem e as suas gentes. ENQUADRAMENTO No caso dos produtos cárneos curados e fumados a indústria recorre à utilização de nitratos, particularmente de potássio (E-252), durante a cura, para ver assegurada uma característica sensorial, de predominância cultural, típica nestes produtos, e para conservação pela inibição do crescimento de microrganismos patogénicos, nomeadamente a inativação de Clostridium botulinum e, por sua vez, da formação da sua toxina. A cor vermelha produzida origina-se por uma reação química entre o pigmento da carne a mioglobina (Mb) e o ião nitrito (NO2-) resultante da transformação do ião nitrato (NO3-) por ação de certos microrganismos durante o processo de cura [7]. O nitrito de sódio (E-250), normalmente utilizado juntamento com o nitrato de potássio, apresenta, também, riscos para o consumidor, nomeadamente o risco de toxicidade aguda visto que é capaz de unirse à mioglobina do sangue da mesma forma que se une à mioglobina da carne, formando metahemoglobina, substância incapaz de transportar o oxigénio [7]. ENQUADRAMENTO Outro risco é a formação de nitrosaminas, substâncias cancerígenas que se formam no alimento ou no próprio organismo. No primeiro caso o risco limita-se a produtos que sofrem altas temperaturas durante o seu processamento como é o caso do toucinho curado/fumado, ou que são ricos em aminas nitrosáveis como são o caso do pescado e de outros produtos fermentados. No segundo caso as nitrosaminas podem formar-se devido às condições ambientais do estomago e às reações entre o NO2- e as aminas secundárias e terciárias resultantes da degradação da carne [1]. Para diminuição a formação de nitrosaminas, para além da redução significativa do uso nitritos e nitratos, que defendemos, utilizam-se diversas técnicas como por exemplo a adição conjunta de nitratos com agentes que bloqueiam os mecanismos de formação das nitrosaminas. Estes agentes são o ácido ascórbico e os seus derivados e o conjunto de tocoferóis alfa, gama e delta (E-306–E-309). ENQUADRAMENTO A quantidade inicial de nitritos e/ou nitratos adicionada durante o processo não é igual à quantidade encontrada no produto final pois são substâncias bastante instáveis e reativas o que conduz a uma redução significativa dos seus níveis antes do consumo. Nos USA é obrigatória a adição conjunta de nitratos e ácido ascórbico durante o processo tecnológico. Com o mesmo objetivo a União Europeia impôs a obrigatoriedade, na adição nitrito de sódio, da adição conjunta de cloreto de sódio na mistura, no sentido de evitar intoxicações agudas por parte de consumidores assíduos deste tipo de produtos alimentares [7]. ENQUADRAMENTO Nos últimos anos, o uso de bactérias ácido-lácticas (LAB) na conservação de alimentos tem ganho um especial destaque devido à capacidade de controlarem o crescimento de microrganismos patogénicos. O uso de estirpes protetoras selecionadas de produtos curados e fumados e a sua aplicação de forma otimizada nos mesmos permite reduzir ou até eliminar a adição de agentes conservantes como nitratos e nitritos mantendo a qualidade e a segurança do produto final. O objetivo desta apresentação é realçar os aspetos básicos da bioconservação por bactérias láticas em alimentos, especificamente em alimentos cárneos tradicionais, suscetíveis a alterações por microrganismos, apresentando-se como uma alternativa à conservação por agentes químicos. 1. O que é a Bioconservação por bactérias lácticas? É um método de conservação que através do controlo de certas condições permite aumentar a vida útil e a segurança alimentar dos alimentos. Baseia-se no uso da flora microbiana natural ou controlada e na adição dos seus produtos/metabolitos antimicrobianos. Existem muitos estudos que evidenciam, a utilização de Bactérias AcidoLácticas (LAB) na conservação de alimentos. Estes microrganismos podem ser isolados de produtos lácteos, cárneos, da pesca e vegetais, e dos seus metabolitos como o ácido láctico, o acético, o peróxido de hidrogénio, o diacetaldeído, a reuterina e as bacteriocinas2. O uso destes metabolitos de forma controlada pode ajudar a reduzir a quantidade de conservantes químicos assim como a intensidade do tratamento térmico, melhorando consideravelmente as propriedades organoléticas e nutricionais dos alimentos. 2. Porquê a Bioconservação? A demanda do consumidor por produtos mais naturais levará à diminuição e até proibição do uso de conservantes e aditivos químicos 3,4. O que nos obriga: Procura de metodologias alternativas. Desenvolvimento de metodologias e procedimentos complementares que permitam prolongar o tempo de prateleira e garantir a qualidade e segurança alimentar dos produtos tradicionais à base de carne 5. 3. Vantagens da Bioconservação? • Apresentam-se como uma solução segura e com menos limitações do que os conservantes químicos, já que se produzem de forma natural na matriz de alimentos curados; • Não são conhecidas resistências e o impacto meio ambiental é mínimo já que são rapidamente eliminadas pela cadeia alimentar; • Possuem um espetro de ação muito definido; a sua atividade vêse potenciada pelo pH e apresentam um efeito sinérgico com outros agentes metabólicos antimicrobianos; • A sua utilização é compatível com a rotulagem de produto biológico já que a conservação é obtida sem conservantes químicos nem de síntese. 3. Desvantagens da Bioconservação? • A inexistência de uma regulamentação comum a nível europeu que a tutele e a dificuldade em obter autorização para aplicação industrial; • A possível alteração das propriedades sensoriais dos alimentos e os custos elevados de produção e desenvolvimento. 4. Ecologia das Bactérias Acido-Lácticas • Compreendem um número elevado de microrganismos Gram-positivos não esporulados anaeróbios aerotolerantes e acido tolerantes; • Apresentam morfologia, metabolismo e fisiologia semelhante. A sua fonte de energia baseia-se na produção de ácido láctico a partir da fermentação dos carbohidratos; http://www.dicat.csic.es/rdcsic/rdcsic • Incluem cocos de géneros: lactococcus streptococcus, pediococcus, leuconostoc e bacilos dos géneros Lactobacillus e Carnobacterium 6,7; Fotos: Projeto Biofumados: tradição vs Qualidade 4. Ecología das Bactérias Acido-Lácticas • Grupo de bactérias mais abundante e difuso na natureza, devido à capacidade de crescerem numa vasta variedade de substratos e em diversas condições biológicas; • O grupo Lactobacillus é o mais importante e heterogéneo; • As bactérias lácticas não necessitam oxigénio para crescer, são tolerantes à presença de CO2, nitritos, fumo, concentrações de sal relativamente altas e valores de pH baixos. Fotos: Projeto Biofumados: tradição vs Qualidade 5. Mecanismos de Competição das Bactérias Acido-Lácticas • Competição por oxigénio; • Competição por sítios de ligação; • Competição por produção de substâncias antagonistas como: Diacetilo (produto de fermentação), peróxido de hidrogénio, acetaldeído, compostos não proteicos de baixo peso molecular Bacteriocinas 9,8,5. Fotos: Projecto Biofumados: tradição vs Qualidade 6. Metodologias de Aplicação das Bactérias Acido-Lácticas Bioconservação pode ser aplicada em alimentos, específicamente, em cárneos por 4 métodos básicos 2,10: 1) Adição de um cultivo puro LAB viabilidade na produção de bacteriocina. Êxito depende: • habilidade do cultivo para crescer e produzir a bacteriocina baixo condições ambientais e tecnológicas (temperatura, pH, Aw, aditivos, coadjuvantes); • devem ser capazes de competir com a microflora natural; • não devem ter impacto nas propriedades físico-químicas e organoléticas do alimento; • não devem produzir gás nem exopolisacáridos para evitar inchamento por acumulação de gases e formação de viscosidades; Método in situ de Inoculação em Alimentos 6. Metodologias de Aplicação das Bactérias Acido-Lácticas 2) Adição de bactérias acido-lácticas mesófilas, proteção contra o abuso de temperaturas durante o processo. • • • Manter a estirpe com uma concentração inicial conhecida e em condições de refrigeração; Em condições de temperatura elevada, a estirpe crescerá por competição frente à bactéria patogénica; Podem atuar como organismo deteriorante, segundo a temperatura do processo, assegurando que os microrganismos patogénicos não crescem e produto não possa ser consumido devido ao grau de decomposição. Método in situ de Inoculação em Alimentos 6. Metodologias de Aplicação das Bactérias Acido-Lácticas 3) Adição de preparações de bacteriocina (extrato cru), licor fermentado ou concentrados obtidos por crescimento de bactérias ácido-lácticas produtoras de bacteriocinas em substrato complexo. • Evita o uso de compostos purificados que obrigam à existência de regulação especial e maior custo de produção devido à purificação do composto; Método Ex Situ de Inoculação em Alimentos (produção em condições controladas fora do alimento) 6. Metodologias de Aplicação das Bactérias Acido-Lácticas 4) Adição de substâncias antagónicas puras o semi-puras como as bacteriocinas produzidas pelas LAB. • O método é mais preciso e mais previsível; • Esta técnica de bioconservação está limitada à legislação existente em cada país, concretamente no que concerne à adição de aditivos • É preferível padronizar a técnica de produção e precipitação da bacteriocina, de forma a garantir a sua reprodutibilidade e assegurar a quantidade com suficiente poder inibitório; Método Ex Situ de Inoculação em Alimentos (produção em condições controladas fora do alimento) 7. Requisitos de aplicação A aplicação destas metodologias depende indiscutivelmente de: • Controlar as variáveis tecnológicas a que os cultivos estão sujeitos; No método Ex situ: • Ter as estirpes iniciadoras (microrganismos completamente isolados); • Assegurar meios de cultivo e equipamento para o desenvolvimento das estirpes e para a produção da bacteriocina; • Garantir a atividade de cada extrato ou da bacteriocina; • Determinar a concentração mínima capaz de inibir o patogénico indicador (curvas de crescimento e inativação); • Padronizar a técnica para conseguir a quantidade de inóculo e efeito desejado; 8. Aspectos mais relevantes dos metabolitos produzidos pelas Bactérias Acido-Lácticas • A diminuição do pH resulta da formação do ácido láctico o que por si só pode ser suficiente para antagonizar muitos microrganismos, incluindo a Listeria monocytogenes. • Os ácidos orgânicos contribuem não só para o desenvolvimento do sabor, aroma e textura, mas também para a estabilidade microbiológica dos alimentos11. • Os ácidos acético e propiónico atuam de uma maneira semelhante ao ácido láctico. Estes ácidos orgânicos desempenham um papel importante em alguns alimentos fermentados, e sabe-se que o ácido acético tem um efeito antimicrobiano sinérgico na presença do ácido láctico. • As bacteriocinas, são os metabolitos que maior potencial apresentam para a bioconservação de alimentos. Estes compostos sintetizam-se no ribossoma e apresentam um largo espetro de ação dependente da espécie alvo. 8. Aspectos mais relevantes dos metabolitos produzidos pelas Bactérias Acido-Lácticas • Na última década, foram caracterizadas e identificadas uma grande variedade de bacteriocinas (péptidos de baterias acido-lácticas) o que conduziu a um avanço considerável nesta linha de investigação. Diversos estudos evidenciaram as capacidades antimicrobianas de diversas bacteriocinas que foram consideradas como excelentes conservantes quando utilizadas só ou em misturas12,13,14 , 15 ,16,17,18. Foto: Visualização por Microscopia de Força Atômica da deformação celular em L. ivanovii subsp. ivanovii ATCC19119 pela ação da bacteriocina ST5Ha 20 8. Aspectos mais relevantes dos metabolitos produzidos pelas Bactérias Acido-Lácticas • Embora nalguns países a bacteriocina pediocina seja permitida como conservante alimentar, na União Europeia e nos EUA a única bacteriocina permitida para incorporação direta em alimentos é a nisina. • Descoberta em 1928, a nisina recebeu o estatuto GRAS (Generally Regarded As Safe) em 1988, tendo sido aprovada pela US Food and Drug Administration (FDA) a sua aplicação a produtos alimentares 19. • Em 1995 foi autorizado o uso da nisina (E234) em alimentos na União Europeia, pela Diretiva 95/2/EC. • Dose Diária Admissível (DDA) de nisina 0 a 0.13mg/kg (DIRECTIVA 2010/69/UE DA COMISSÃO EUROPEIA) • Tal como a nisina, as outras bacteriocinas estudadas são rapidamente degradadas pelas protéases do trato gastrointestinal e cremos chegada a altura de estender o estatuto GRAS a algumas das amplamente testadas in vitro, através da promoção de estudos in vivo 20. 9. Características fisicoquímicas da Alheira Alheira – A Alheira é um enchido tradicional português, cozido, curado e levemente fumado. A sua origem remonta a finais do século XV e associase à presença das comunidades judaicas na região de Trás-os-Montes no Norte de Portugal 21. É um produto constituído por uma mistura de carne de vaca, frango, porco, pão e condimentos. Apresenta uma cor castanho-clara e uma forma cilíndrica recordando uma ferradura com cerca de 20 a 25 cm comprimento. É um produto alimentar que necessita uma regeneração antes de ser consumido a qual pode ser feita por fritura em óleo ou no forno. Foto: Projecto Biofumados: tradição vs Qualidade 9. Características fisicoquímicas da Alheira O produto apresenta uma vida útil de 60 dias, armazenado a uma temperatura entre 0 e 5°C e embalado em atmosfera modificada (80 % N2 e 20 % CO2). O seu peso oscila entre 150 e 200 gramas. Relativamente às características sensoriais, apresenta um sabor leve a fumo, agradável, destacando-se o sabor a alho, azeite e uma ligeira acidez típica. Tabela 1: Mínimo, máximo, média e desvio padrão de alguns parâmetros físico-químicos e nutricionais da alheira. Tabela adaptada de Ferreira et al., 22 Mínimo Máximo Média Desvio Padrão pH 4.5 6.3 5.1 0.5 % NaCl 1.0 1.8 1.3 0.3 % Humidade 43.3 57.2 52.3 4.3 % Gordura 10.9 29.6 18.4 4.7 % Proteína Total 6.9 15.5 11.4 2.8 % Carbohidratos 10.2 20.9 15.2 3.6 Energia (Kcal/100gr) 220 369 274.4 39.7 10. Desenvolvimento Experimental Este estudo tem como base os resultados preliminares do projeto Biofumados: Tradição vs Qualidade, co-promoção entre a empresa Minhofumeiro – Enchidos e Fumados à Moda de Ponte de Lima Lda, o Instituto Politécnico de Viana do Castelo e a Universidade Católica Portuguesa; apoiado no âmbito do Programa COMPETE – Programa Operacional Temático Fatores de Competitividade inserido no Quadro de Referência Estratégico Nacional do Governo de Portugal. 10.1. Metodologia 1. Foram realizados ensaios de isolamento e seleção de bactérias ácido-lácticas em produtos cárneos curados e fumados. 2. Foi demonstrada atividade bactericida em carne de porco esterilizada. 3. Procedeu-se à aplicação à escala industrial na empresa Minhofumeiro – Enchidos e Fumados à Moda de Ponte de Lima Lda. 4. Foi demonstrada atividade bacteriocinogénica no produto comercial e foi desenvolvida uma análise sensorial. 10. Desenvolvimento Experimental 10.1. Resultados Foram isoladas 6 estirpes com capacidade antimicrobiana: 2 de Lactobacillus plantarum; 3 de Lactobacillus sakei; 1 de Enterococcus faecium; Foram publicados resultados de otimização e produção de bacteriocinas 54, por várias destas estirpes concretamente sobre otimização da produção da bacteriocina ST153ch produzida pela estirpe Lactobacillus sakei e isoladas de “salpicão” e o Lactobacillus plantarum e a sua bacteriocina ST202ch isolado de “beloura”. Foto: Placa com halos de inibição pela ação do Lactobacillus sakei ST153ch frente a L. monocytogenes 10. Desenvolvimento Experimental 10.1. Resultados 10 Observou-se: 9 8 Controlo L. monocytogenes 7 Log (UFC/g) Inibição de L. monocytogenes na presença de ST 153ch ao longo dos 10 dias de estudo, a uma temperatura de incubação de 30 °C. 6 5 L. monocytogenes + L. plantarum ST202ch 4 3 2 L. monocytogenes + L. sakei ST153ch 1 Não se observou inibição do patogénico indicador com a ST202ch ao longo do tempo de estudo, contudo observou-se um aumento do período de latência (24 horas) (Gráfico 1). 0 0 5 10 Tempo (Dias) Gráfico 1: Contagens de L. monocytogenes em carne esterilizada na presença de ST202ch (L.. plantarum ST202ch) e de ST153ch (L. sakei ST153ch) (Controlo L. monocytogenes – crescimento de L. monocytogenes na carne; L. monocytogenes + L. plantarum ST202ch – crescimento de L. monocytogenes na carne com mistura de ST202ch; L. monocytogenes + L. sakei ST153ch – crescimento de L. monocytogenes na carne com mistura de ST153ch) 10. Desenvolvimento Experimental 10.1. Resultados 10 9 Observou-se: 8 Controlo L. monocytogenes Lactobacillus sakei ST153ch inibiu o crescimento de L. monocytogenes, com uma redução de 2 logaritmos face ao controlo ao longo dos 15 dias de armazenamento e a uma temperatura de refrigeração de 5°C. Log (UFC/g) 7 6 5 L. monocytogenes + L. sakei ST153ch 4 3 2 L. sakei ST153ch 1 0 0 5 10 15 Tempo (dias) Gráfico 2: Contagens de L. monocytogenes na alheira na presença do L. sakei ST153ch (Controlo L. monocytogenes – crescimento de L. monocytogenes em alheira; L. monocytogenes + L. sakei ST153ch – crescimento de L. monocytogenes em alheira com mistura de ST153ch; L. sakei ST153ch – crescimento do L. sakei ST153ch em alheira) 10. Desenvolvimento Experimental 10.1. Resultados A análise sensorial, realizada no dia 0, revelou que o painel de 9 provadores foi coerente na resposta (p>5%) para os atributos que apresentaram diferenças significativas, o “Cheiro Característico” a “Dureza da Massa” o “Sabor Característico”, o “Sabor Ácido” e o “Sabor Amargo” (p <5%). Isto quer dizer que o painel apresentou diferenças na perceção destes atributos comparando a alheira inoculada e a alheira comercial não inoculada. Foto: Projeto Biofumados: tradição vs Qualidade 10. Desenvolvimento Experimental 10.1. Resultados Não foram encontradas diferenças significativas na alheira inoculada embalada a vácuo e em atmosfera modificada (80% N2 e 20% CO2). A adição de uma suspensão salina de 500 ml por cada 10 Kg de massa inoculada, que provavelmente acidificou a amostra pela produção de mais ácido láctico, aumentou também a humidade do produto e alterou a sua textura. Estas duas condições são, certamente, responsáveis por esta perceção sensorial influenciando na dureza, no cheiro e no sabor percebido pelo painel. Foto: Projeto Biofumados: tradição vs Qualidade 11. Conclusões À semelhança do que foi desenvolvido neste trabalho vários autores demonstraram o poder das bactérias ácido-lácticas para inibir o crescimento de microrganismos patogénicos em produtos à base de carne curados e/ou fumados 23,24,25,26. No futuro este tipo de “culturas funcionais” poderão proteger o consumidor de intoxicações alimentares por estirpes patogénicas ou pela ingestão das suas toxinas, através de uma rápida acidificação do alimento ou através da produção de metabolitos antimicrobianos como as bacteriocinas 27. Certas estirpes especialmente selecionadas podem até apresentar benefícios probióticos se forem corretamente modificadas, podendo até mesmo ser denominadas como portadoras de características nutracêuticas 25. 11. Conclusões No entanto é importante que, quando se desenvolverem testes para determinar a capacidade antimicrobiana de novas estirpes, se tenham em conta os riscos associados, como a formação de aminas biogénicas e o desenvolvimento de resistências por parte das bactérias a antibióticos 27. Esta transferência de tecnologia e inovação dos produtores de conhecimento à indústria, neste caso tradicional, demonstra que a bioconservação através da adição de bactérias acido-lácticas é uma alternativa viável aos aditivos sintéticos garantindo a segurança química e microbiológica do produto, mas mantendo as suas características organoléticas e o seu modo de produção tradicional, sendo um exemplo do que temos vindo a designar de “Inovar na Tradição”. Referências Bibliográficas 1. Vaz-Velho, M., (2003). Smoked foods production. In: Encyclopedia of Food Sciences and Nutrition, Benjamin Caballero, Luiz Trugo and Paul M. Finglas editors, 2nd edition. 5302-5309. Elsevier-Academic Press. 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