PREVALÊNCIA DE Malassezia pachydermatis EM CANINOS NA REGIÃO NOROESTE DO RIO GRANDE DO SUL ROSSLER, Azael1; FINKLER, Fabrine1; CAMERA, Letícia1; SCHNEIDER, Catia L. C. 1; CHAVES, Rodrigo1; POSSENTI, Cecilia G. R2; SPEROTTO,Vitor R.3 Palavras-Chave: Malasseziose. Micose. Otite. INTRODUÇÃO A Malassezia spp. é um fungo leveduriforme pertencente a microbiota normal, é um patógeno oportunista do meato acústico externo e tegumento de cães e gatos, podendo ser encontrado no reto, pele interdigital, sacos anais e vagina, que pode causar dermatite e otite externa (MARTINS et al., 2004). Weidman (1925) isolou da pele lesionada de rinoceronte indiano uma levedura lipofílica-não-dependente com forma de “garrafa” que foi primeiramente denominada de Pityrosporum pachydermatis, posteriormente denominada de Pityrosporum canis e atualmente conhecida como Malassezia pachydermatis.(SLOOF, 1971; McGINNS,1980). A otite externa corresponde a todo processo inflamatório, agudo ou crônico, que atinge o epitélio do conduto auditivo externo (BRUYETTE et al., 1993). Clinicamente observa-se dor regional, formação de exsudato e/ou cerúmen em excesso e balançar constante da cabeça. Possui etiologia multifatorial, sendo isolados vários agentes no conduto auditivo doente, como bactérias, fungos e ácaros (White, 1992). Os sinais clínicos localizam-se predominantemente no conduto auditivo externo, face, região ventral do pescoço, axilas, ventre, pele interdigital e áreas intertriginosas (MELO et al., 2008). Cerca de 80% dos cães, nos diferentes estágios de otites, apresentaram Malassezia pachydermatis num estudo realizado em Lisboa, onde 91,3% dos cães apresentarem histórico de otite recidivante, 65,7% possuírem orelha pendular e 86,9% serem machos (BERNARDO et al.,1998). Em alguns relatos de MACY (1992), a Malassezia pachydermatis pode ser encontrada em 20 a 49% dos ouvidos dos cães e gatos sadios. 1 Alunos do Curso de Medicina Veterinária da Universidade de Cruz Alta. Email: [email protected]¹ Aluna do Curso de Ciências Biológicas da Universidade de Cruz Alta. 3 Professor M.Sc. Medicina Veterinária da Universidade de Cruz Alta. 2 Os fatores predisponentes estão associados à dermatite seborréica decorrente de distúrbios endócrinos e metabólicos, alterações cutâneas por hipersensibilidade, defeitos de queratinização, tratamentos recentes com antibióticos e determinadas características raciais (MELO et al., 2008). A detecção e o isolamento de M. pachydermatis podem ser feitos por meio de observação microscópica direta do material suspeito (White, 1992) e cultura do agente em meios especiais (Huang, Little, 1993). A observação microscópica é o meio mais adequado para a detecção de M. pachydermatis, pois segundo Bornand (1992), a morfologia é característica e há menor possibilidade de erro quando comparada à cultura isoladamente. No exame histopatológico da pele há dermatite perivascular superficial a intersticial linfohistocítica com fungos e ocasionalmente pseudohifas. Pode-se ainda realizar cultura fúngica (MEDLEAU & HNILICA, 2003). Culturas de 30°C a 37°C são realizadas para diferenciação de Malassezia sp. e candidíase (WILLEMSE, 1998). O objetivo do presente trabalho foi verificar a presença de Malassezia pachydermatis em amostras clínicas, provenientes de caninos com suspeita da presença do agente como causador de otite externa, no Hospital Veterinário da Universidade de Cruz Alta-RS. METODOLOGIA Para a realização da pesquisa foram analisados os protocolos micológicos de recebimento de swab com amostras de secreções otológicas , de caninos com suspeita de otite externa por Malassezia pachydermatis, uni ou bilateral, com manifestação clínica aguda ou crônica da enfermidade, do Laboratório de Microbiologia Veterinária e Medicina Veterinária Preventiva da Universidade de Cruz Alta – UNICRUZ. Para o diagnóstico definitivo da presença do agente, foram considerados positivos os cultivos que apresentaram crescimento com número superior a 5 unidades formadora de colônia, em dois cultivos com Agar Sabouraud Dextrose + antibacteriano, onde um havia adição de ácidos graxos e no outro não. A observação dos cultivos foi por até três semanas, onde as colônias que apresentam aspecto fosco, cremoso, macio ou friável foram selecionadas e observadas com auxílio da técnica do Gram e microscópio óptico. Neste foram visualizadas células com morfologia ovalada e grande presença de brotamento. O período do estudo compreende os anos entre 2005 a 2009. RESULTADOS E DISCUSSÕES Foram analisadas 40 amostras no total, onde constatou-se que 55% foram positivos para Malassezia pachydermatis. Destes resultados observou-se a incidência de 62,9% nos meses de julho a outubro. As variações nos resultados obtidos durante os diferentes anos, no levantamento, podem ter sido influenciadas devido à um maior ou menor número de amostras recebidas. Levantamento da ocorrência de Malassezia pachydermatis no HV-UNICRUZ N° casos DEZ 7 NOV 6 OUT SET 5 AGO 4 JUL 3 JUN 2 M AI 1 ABR M AR 0 M F 2005 M F 2006 M F 2007 M F 2008 M F 2009 FEV JAN Mês/Ano Fonte: Laboratório de Microbiologia Veterinária – UNICRUZ Dos diagnósticos positivos, foram consideradas as amostras por indivíduos e não por bi ou unilateralidade. Segundo August et al. 1993, muitas vezes estas otites são bilaterais e apresentam uma forma eritema-ceruminosa, às vezes pruriginosas, eventualmente podem apresentar dor e o balançar constante da cabeça. A presença de outros organismo é observada e tem frequentemente predominância de bactérias (NOBRE et al. 2001). O tratamento sistêmico é realizado com drogas anti-fúngicas como cetoconazol ou itraconazol administradas junto com o alimento e tratamento tópico a base de xampus contendo cetoconazol 2%, miconazol 2%, gluconato de clorexidine 2% a 4% ou sulfeto de selênio 2,5% (MOÇO et al., 2007). O prognóstico é bom quando a causa é identificada e corrigida. A doença não é considerada contagiosa para outros animais ou para humanos, exceto para indivíduos imunossuprimidos (RHODES, 2005). A correta coleta de amostra para o exame micológico é fundamental para o diagnóstico fidedigno, sendo necessário à utilização de materiais estéreis independente do método escolhido. CONCLUSÃO Os dados obtidos demonstraram a presença do agente em 55% das amostras de casos suspeitos de otite por Malassezia pachydermatis em caninos no Hospital Veterinário da UNICRUZ, evidenciando a necessidade de sempre buscar a confirmação da patologia pelo diagnostico laboratorial específico. REFERÊNCIAS AUGUST, J.R. Otitis externa: una enfermedad de etiologia multifactorial. Clín.Vet. Norteam.: Práct. Clín. Peq. Anim., v.18, p.1-14, 1993. BERNARDO, F.M.; MARTINS, H. M.; MARTINS, M. L. A survey of mycotis otitis externa in dogs in Lisbon. Revista Iberoamericana de Micologia v.15, p.163-165, 1998. BORNAND, V. Bactériologie et mycologie de lotite externe du chien. Schweiz. Arch. Tierheilk., v.134, p.341-348, 1992. BREITWIESER, F. Results versus bacteriologic and mycologic investigations of otitis media in dogs. Tierarztl Prax v.25, n. 3, p.257-260, 1997. MARTINS, A. A.; ROSA, C. S.; NASCENTE, P. S.; SOUZA, L. L.; SANTOS, D. V.; FARIA, R. O.; MEIRELES, M. C. A. 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