Associação Norte-Nordeste de Química (ANNQ) A QUÍMICA COMPUTACIONAL E O MISTÉRIO DOS ÁTOMOS E DAS MOLÉCULAS Aldinéia Pereira da Silva1 (IC)*, Cíntia Beatriz de Oliveira1 (PQ). *[email protected]. 1 Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE), Unidade Acadêmica de Serra Talhada (UAST), Fazenda Saco, S/N, Caixa Postal 063, CEP 56.900-000, Serra Talhada - PE Palavras Chave: Química Computacional, Ensino de Química, Programa Avogadro. . Introdução A Química é uma ciência extraordinária e, em se tratando do campo disciplinar, tem sua razão de ser, razão esta que muitas vezes passou ou passa despercebida pela sociedade, fazendo com que a mesma torne-se um elemento quase invisível em meio a ela. No entanto, esse campo é uma ciência bastante holística, abrangendo as várias áreas do conhecimento, desde a matemática até as inovadoras tecnologias presentes no nosso dia-a-dia. Porém, mesmo sendo a Química bastante relevante, é ainda considerada pelos alunos como uma das disciplinas mais difíceis de se compreender e a razão dessa não compreensão tornou-se motivo de investigação por vários pesquisadores da área, assim como também preocupação de muitos professores, posto que entender a Química é fundamental para se entenderem os fenômenos que nos rodeiam, os quais explicam as transformações da matéria, além de ajudar o homem a participar da sociedade, que está cada vez mais globalizada, em que a ciência e a tecnologia têm um papel de suma importância [1]. E essa é uma das propostas estabelecidas pelo PCN+ (Parâmetros Curriculares Nacionais). No entanto, o que se nota no ensino da Química é que o mesmo ainda é uma mera matéria, em que o objetivo principal é avaliar a capacidade decorativa dos alunos, sendo esse um dos fatores que contribui para a total antipatia dos mesmos, assim como também para a total desmotivação em frente a essa magnífica área do saber. Com a finalidade de tornar as aulas de Química motivadoras, o presente trabalho visa utilizar, dentre outros recursos, um programa computacional para estimular os alunos. O computador, usado de maneira adequada, é essencial para melhorar o ensino e até mesmo para motivar os alunos, valendo salientar que o mesmo não tomará o lugar do professor em sala de aula, servindo apenas como um auxílio no desenvolvimento intelectual dos estudantes [2]. Portanto, tendo em vista as dificuldades dos mesmos em relação à compreensão da Química e com a intenção de auxiliá-los no processo de ensino-aprendizagem, utilizamos como peça fundamental, a química computacional, um ramo da química que utiliza métodos computacionais para solucionar problemas químicos. Nesse ramo, é possível visualizar as moléculas de maneira tridimensional, a fim de se obter uma noção de como as mesmas estão orientadas espacialmente. Dessa forma, compreendem-se muitos fenômenos II Encontro Norte-Nordeste de Química, 2011, Natal, RN associados a moléculas de interesse químico, biológico e físico. Este projeto, desenvolvido por graduandos do curso de Licenciatura em Química da Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE), na Unidade Acadêmica de Serra Talhada (UAST), junto ao Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência (PIBID) da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), foi realizado na escola Estadual Cornélio Soares, localizada na cidade de Serra Talhada, sertão central do Pajeú, no período de junho a dezembro de 2010. Seu principal objetivo foi auxiliar os alunos da terceira série do Ensino Médio a compreender a ciência química, assim como também ajudá-los na contextualização do conteúdo de Química, relacionando-a com as demais disciplinas, a fim de que os mesmos tivessem uma visão global das ciências, além de contribuir na aprovação do Exame Nacional do Ensino Médio-ENEM [3], Para isto, utilizamos o programa Avogadro [4], o qual permite construir moléculas e visualizar suas principais propriedades, além do kit de montagem de moléculas (Atomlig 77 Educação). Estes recursos foram de grande importância na compreensão do “mistério dos átomos e das moléculas”, enfim, na compreensão da Química como um todo. Metodologia O trabalho na escola começou com a apresentação do projeto: A Química Computacional e o Mistério dos Átomos e das Moléculas. Como recursos didáticos, utilizaram-se o programa computacional Avogadro e o kit de montagem de moléculas (Atomlig 77 Educação). As moléculas estudadas foram moléculas orgânicas de interesse biológico, complementando o conteúdo curricular da terceira série do Ensino Médio, que envolve a Química Orgânica. Documentários também foram exibidos aos alunos, a fim de contextualizar o assunto ensinado em sala de aula. Experimentos utilizando apenas materiais caseiros foram feitos, mostrando que a Química está presente no quotidiano. Realizou-se também um breve cursinho preparatório para o ENEM, inclusive com aplicação de simulados. Por fim, houve uma avaliação das atividades realizadas. Associação Norte-Nordeste de Química (ANNQ) Resultados e Discussão A Química Computacional foi bastante importante para o desenvolvimento da capacidade intelectual dos alunos, assim como também para nós, os licenciandos, por podermos colocar em prática os saberes adquiridos nas salas de aula, além de contribuir para que a escola capacite melhor seus alunos, tanto para o mercado de trabalho como para a inserção dos mesmos em universidades. O programa Avogadro e o kit de moléculas foram bastante relevantes no decorrer do trabalho, pois possibilitaram a demonstração de vários conceitos abordados na Química Orgânica, como comprimentos, ângulos e ordens de ligação, cargas sobre os átomos e hibridização. No entanto, só não obtivemos um melhor resultado com essa atividade porque os alunos não tiveram acesso aos computadores, pois a maioria deles estava quebrada. Essa atividade foi importante, pois a mesma não se limitou à utilização do software, mas fomos bem mais além, discutindo o que realmente interessava, que são os conceitos químicos e posteriormente sua aplicação no quotidiano. Esse tipo de atividade foi repetida várias vezes, e, à medida que a repetíamos, obtivemos melhores resultados, pois a cada aula pedíamos para os alunos trazerem temas para discutirmos. A dificuldade foi marcante, logo no começo, pois os alunos não conseguiam entender a Química em si nem relacioná-la com a realidade que vivenciavam. A apresentação de documentários foi uma atividade bastante motivadora, pois quem conduzia a discussão era o próprio documentário. Foi notada a evolução dos alunos, a autonomia em cada palavra mencionada por eles, a confiança na suas falas, enfim, estávamos frente a alunos bem mais dinâmicos, animados com os estudos. Por fim, eles mesmos escolhiam temas de relevância social com o objetivo de inserir a Química neles. Uma atividade interessante foi a realização de experimentos utilizando materiais caseiros, onde orientamos os alunos na construção de uma estufa, utilizando caixa de sapato, papel filme, papel alumínio e dois copos com água. Pedimos que eles colocassem um copo com água dentro da caixa que estava enrolada com papel alumínio e depois que eles fechassem a caixa com papel plástico, logo após colocassem no sol a caixa e outro copo com água fora da mesma. Depois de alguns minutos, após analisar a temperatura da água de cada copo, eles puderam perceber que a água que estava no copo dentro da caixa tinha uma temperatura maior do que a água que estava no copo fora da caixa [5]. A partir desse experimento, iniciou-se uma tomada de discussões sobre aquecimento global, efeito estufa e suas conseqüências e até que ponto a Química se inseria nesse contexto. Houve também vários dias com discussões sobre as provas do ENEM de anos anteriores, onde vários temas foram analisados. Discutimos a diferença entre as prova do ENEM e as dos vestibulares, onde eles concluíram que “o ENEM não era difícil, o grande problema era a quantidade de questões, enquanto que o vestibular era mais decorativo”. Após essas discussões, um simulado II Encontro Norte-Nordeste de Química, 2011, Natal, RN com 45 questões foi aplicado a 90 alunos. Abaixo encontra-se um gráfico com os resultados. Fig 1- Resultado do simulado Analisando o gráfico, percebemos que 45 alunos acertaram 35 questões, o que corresponde a 77,7% da prova, um resultado considerado bom; 15 alunos acertaram 27 questões, correspondendo a 60%, resultado também bom, 10 alunos acertaram 20 questões, que correspondem a 44,4%, resultado não muito bom, 15 alunos obtiveram 40 acertos, o que equivale a 88,8%, resultado excelente e 5 alunos acertaram 15 questões, o que equivale a 33,3% da prova, resultado ruim. Os 10 alunos que acertaram somente 20 questões tinham participado apenas de 5 aulas e os 5 alunos que acertaram 15 questões foram a 1 encontro apenas. Os demais participaram de mais da metade dos encontros, valendo salientar que 10 alunos não perderam nenhum encontro. O simulado era composto apenas por questões de ciências da natureza retiradas de versões anteriores do ENEM. A avaliação feita pelos alunos sobre o projeto teve grande relevância para trabalhos futuros. Eles salientaram pontos positivos e negativos. Um dos pontos positivos foi a dinâmica de como iniciávamos um assunto e depois inseríamos nele a Química. Um dos negativos foi a falta de computadores, o que impediu que o programa Avogadro fosse mais explorado Conclusão O desenvolvimento desse trabalho proporcionou uma evolução bastante significativa para os alunos, pois eles cresceram em sua capacidade de raciocínio, adquirindo autonomia, interagindo mais com os professores, interessando-se pelas aulas e adquirindo confiança para expressar suas opiniões nas discussões, além de perceberem a importância da Química e de aprenderem a reconhecer como ela se apresenta em nosso dia-a-dia, deixando de ser algo distante e inatingível. Agradecimentos À Capes (PIBID), pelo apoio financeiro, à escola Cornélio Soares e à Unidade Acadêmica de Serra Talhada (UAST/UFRPE). ____________________ [1] Orientações Curriculares para o Ensino Médio: Ciências da Natureza, Matemática e suas Tecnologias; Secretaria de Educação Básica, DF, 2006 2 Associação Norte-Nordeste de Química (ANNQ) [2] [3] [4] [5] Giordan, M. O computador na educação em ciências: breve revisão crítica acerca de algumas formas de utilização. Ciência & Educação, v. 11, n. 2, p. 279-304, 2005. Conselho Nacional de Educação. Diretrizes e Bases Curriculares Nacionais para o Ensino Médio. Resolução CBE nº 3, de 23 de junho de 1998 Homepage e Download do Avogadro em: http://avogadro.openmolecules.net/ OLIVEIRA, G.S.; SILVA, N.F.; HENRIQUES, R. 2009. Mudanças Climáticas: ensino fundamental e médio. Brasília: MEC, SEB, MCT, AEB, il. – (Coleção Explorando o Ensino; v.13). II Encontro Norte-Nordeste de Química, 2011, Natal, RN 3