PERCURSO DO ROMACE AFRO-BRASILEIRO: REDES EDITORIAIS,
LINHAGENS E PROCEDIMENTOS
Ana Cláudia Muniz Soares Valério 1 (CEFET-MG) [email protected]
Luiz Henrique Silva de Oliveira 2 (CEFET-MG) [email protected]
Palavras-chave: redes de edição; literatura; romance afro-brasileiro.
Objetivo:
Estudar a trajetória evolutiva do romance afro-brasileiro a partir da análise do papel das redes
de edição para a consolidação e permanência desta linhagem narrativa em nossa literatura.
Metodologia:
Para elaborar as linhagens evolutivas, centraremos nossas análises em corpus literário
definido e levaremos em conta o conceito de sistema, tal como entendido por Antonio
Candido (1959). Nossa pesquisa será, portanto, prioritariamente bibliográfica, com o
levantamento dos romances afro-brasileiros, considerando principalmente a data de
publicação, local e editora.
Descrição
Nossa hipótese é a de que redes editoriais, entendidas aqui como conjunto de esforços,
exemplificados pela atuação da imprensa negra durante o século XX, o periodismo exercido
por afrodescendentes nos jornais diversos, os coletivos de escritores, como o Quilombhoje, as
séries literárias, como Cadernos Negros, já e sua 35ª edição, as edições dos próprios autores e
a atuação das editoras especializadas, como Selo Negro/Summus, Mazza e Nandyala, foram
fatores determinantes tanto para a gestação de intelectuais e romancistas negros, quanto para o
surgimento de romances escritos pelo segmento étnico em questão. Esta explicação acerca dos
fatores responsáveis pelo surgimento do romance afro-brasileiro é uma lacuna na literatura
especializada, a qual tentaremos preencher. Os principais estudiosos do tema, tais como
Octavio Ianni (1988), Zilá Bernd (1988), Edimilson de Almeida Pereira (2010), Eduardo de
Assis Duarte (2011) e Conceição Evaristo (2007, 2009), Florentina Silva Souza (2005), dentre
muitos outros, desenvolvem respeitáveis trabalhos analíticos sobre a literatura afro-brasileira,
sem, contudo, se voltar para os bastidores das condições de surgimento desta. E,
curiosamente, não há até o momento nenhuma tentativa de sistematização dos principais
procedimentos composicionais dos romances, tampouco alguma tentativa de sistematização
das linhagens dentro desta categoria de romance. Por outro lado, os grandes estudiosos do
desenvolvimento editorial brasileiro, como Laurence Hallewell (1985) e Márcia Abreu (2010)
deixaram de lado tanto a produção literária afrodescendente quanto o papel de exercido por
1
Ana Cláudia Muniz Soares Valério é graduanda em Letras - Tecnologias de edição - pelo
CEFET-MG e graduanda em Fotografia - Tecnólogo pela FUMEC-MG. Trabalha como fotógrafa.
Participa do PIBIC no CEFET-MG.
2
Luiz Henrique Silva de Oliveira é doutor em Teoria da Literatura e Literatura Comparada pela
UFMG (2013), onde também realiza pós-doutoramento. É Professor do CEFET-MG. Escreveu os livros
Poéticas negras (2010) e Negrismo (2014).
editores, coletivos e editoras especializadas. Justiça seja feita, estes destacam, em poucas
páginas, a atuação de Paula Brito, primeiro editor negro, atuante no século XIX, o que é muito
pouco diante da importância do conhecimento sobre as condições de produção do romance
afro-brasileiro.
Resultado/Discussão/Conclusão:
Percebemos, então, que nos anos em que a imprensa negra e a Frente Negra Brasileira tiveram
maior força, houve um crescimento nas publicações de romances afro-brasileiros. A pesquisa
ainda está em andamento. Vamos testar as hipóteses de que outras redes editoriais, tais como
o Quilombhoje e editoras especializadas, também impulsionaram a produção literária afrobrasileira. Consideraremos também as edições dos autores.
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