UNIVERSIDADE FEDERAL DE OURO PRETO (UFOP) Instituto de Ciências Humanas e Sociais (ICHS) Departamento de Letras (DELET) CADERNO DE RESUMOS EXPANDIDOS DA 1ª. JORNADA DO GELP-UFOP Promoção: Departamento de Letras Endereço: http://www.ichs.ufop.br/delet/ Data e local de realização: 02/12/2011 no ICHS/UFOP Comissão Organizadora Profa. Leandra Batista Antunes Prof. Fábio César Montanheiro Profa. Andressa Cristina Coutinho Barboza Mariana – 2011 Sumário Apresentação ...................................................................................................................................................... 3 EIXO: FONÉTICA E PROSÓDIA ............................................................................................................. 4 Análise prosódica da indignação: um estudo inicial ...................................................................... 4 Estudo melódico de frases assertivas de falantes distintos: um recorte..................................... 6 As variações prosódicas de duas falantes de Mariana, Minas Gerais ......................................... 8 EIXO: EDIÇÃO DE MANUSCRITOS CONFRARIAIS MINEIROS..............................................10 Compromisso de uma irmandade de NS do Rosário dos Pretos: algumas características da escrita do século XVIII ..................................................................................................................................12 Edição de Manuscritos Confrariais Mineiros: Compromisso da Irmandade de S. Miguel e Almas, erecta na Capella doSenhor de Mattosinhos de Ouro Preto (1867) ..........................................14 EIXO: FORMAÇÃO DE PROFESSORES..............................................................................................17 Currículo de curso e perfil dos formadores de professores para o ensino da Língua Portuguesa da Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP) .................................................................17 O tratamento de transcrições em áudio para análise na pesquisa Formação de professores para o ensino da língua portuguesa: disciplinas e práticas de ensino ......................................................19 Caderno de Resumos Expandidos da 1ª. Jornada do GELP-UFOP Página |3 Apresentação O Grupo de Estudos em Língua Portuguesa da Universidade Federal de Ouro Preto (GELP-UFOP) iniciou suas atividades no ano de 2008. Sua proposta é congregar investigações que tenham como objeto a Língua Portuguesa, considerando sua materialidade e seu ensino. Neste evento, foram apresentados e discutidos trabalhos de três eixos de pesquisa: 1. Fonética e prosódia, coordenado pela Profa. Dra. Leandra Batista Antunes; 2. Edição de manuscritos confrariais mineiros, coordenado pelo Prof. Dr. Fábio Cesar Montanheiro; 3. Formação de professores, coordenado pela Profa. Dra. Andressa Cristina Coutinho Barboza. Em 2011, foi realizada a 1ª. Jornada do Grupo de Estudos em Língua Portuguesa com o objetivo de apresentar o andamento das investigações empreendidas pelo grupo e discutir as perspectivas de trabalho de seus eixos de pesquisa. No intuito de divulgar as pesquisas desenvolvidas pelo GELP-UFOP e promover as atividades realizadas no Departamento de Letras desta universidade, este Caderno de Resumos Expandidos reúne os trabalhos apresentados durante o evento. Comissão Organizadora Caderno de Resumos Expandidos da 1ª. Jornada do GELP-UFOP Página |4 EIXO: FONÉTICA E PROSÓDIA Análise prosódica da indignação: um estudo inicial Wisla Madleni A. C. Ferreira (Letras/UFOP) Profa. Dra. Leandra Antunes Batista (DELET/ICHS/UFOP) Este estudo pretende verificar o papel da prosódia – no que tange à entonação – como pista para a construção do significado, uma vez que focaremos nas noções de atitude do falante. Para tanto, abordaremos a entonação segundo os parâmetros dispostos por Halliday (1970), que considera a definição do termo entonação em seu sentido estrito, relacionando-se com a variação melódica. “A importância da entonação é também relacionada ao sentido da sentença, ao dizermos coisas diferentes. Caso a entonação de uma sentença seja modificada, certamente ocorrerá uma mudança no significado dessa sentença. A entonação é um dos muitos tipos de recursos que estão disponíveis na linguagem e que nos permitem fazer uma distinção de significados.” (HALLIDAY, 1970) Em seu trabalho para a Língua Inglesa, Halliday propõe uma distinção tonal, da qual podemos retirar características que se adéquam à Língua Portuguesa a fim de descrever padrões melódicos para a função expressiva da linguagem. RIZZO (1981), baseando-se nessa teoria de Halliday e nos elementos que o autor coloca como sendo importantes para a descrição da entoação no idioma inglês, destaca os elementos considerados básicos para a descrição entoacional do português brasileiro. Entre eles, os elementos que podem ser considerados mais importantes para o PB, são: 1) pé: ritmo compreendido entre duas tônicas cuja divisão é feita de acordo com o modo que a frase foi emitida podendo, assim, ter variações nas tônicas; 2) Grupo Tonal: é composto por um ou mais pés, sendo o grupo tonal simples composto apenas por uma tônica saliente e o grupo tonal composto possui duas tônicas salientes; 3) Tom: Trata-se de um movimento de altura melódica que se estende pelo grupo tonal podendo variar entre os níveis: alto (a), meioalto (ma), médio (m), meio-baixo (mb) e baixo (b). O tom permite perceber maior proeminência na tônica saliente: “para uma análise lingüística adequada, é preciso levar em conta o tom, a tonalidade, a tonicidade e elementos pragmáticos.” (RIZZO, 1981). Contudo, partimos da premissa que um enunciado pode possuir diversos significados dependendo, é claro, da intenção do falante. Como evidência dessa teoria podemos colocar que a significação não depende apenas das palavras, mas também de diversos outros elementos emocionais, pragmáticos, etc. Luiz Carlos Cagliari (1981) coloca que um mesmo enunciado pode variar entoacionalmente, produzindo dessa forma significados diversos. Sabemos ainda que um mesmo enunciado pode variar em altura melódica dependendo do significado. “Há muitas formas de dizer um ato de fala, sendo a entoação uma delas. Isto é, o valor de um enunciado é dado, muitas vezes, apenas a partir da entoação, o que equivale a dar à entoação um estatuto gramatical bem claro e definido.” (RIZZO, 1981). Salientamos, portanto, que a fala, ao considerarmos sua função prosódica, expressa muito mais que estruturas organizadas sintaticamente e, para além disso, desempenha papel importante na expressão das atitudes e emoções do falante frente ao conteúdo proposicional. O termo atitude reflete a expressão controlada do falante, ou seja, atitudes são intencionais e controladas, já as emoções são involuntárias; através dessas duas modalidades o falante se expressa a fim de desenvolver seu ponto de vista e sua subjetividade. Esse estudo está voltado para a expressão de atitudes, porém acrescentamos que ao expressar alguma atitude o falante poderá demonstrar Caderno de Resumos Expandidos da 1ª. Jornada do GELP-UFOP Página |5 também alguma emoção. Halliday (1970) nos apresenta uma análise perceptiva baseada nos tons, pois defende que cada tom define um padrão melódico atitudinal; a função da fala, ou seja, a escolha do tom, pelo falante, está diretamente ligada com suas relações com o interlocutor em situações específicas de comunicação, e para isso vale-se de proeminências na divisão das unidades de informação. Isso vai direcionar a interpretação do interlocutor em contextos sintaticamente semelhantes. Os estudos prosódicos ainda carecem de pesquisas e discussões, e o que buscamos é investigar como a prosódia atua nas expressões de atitudes específicas. Trataremos da atitude indignação. Segundo o Dicionário Aurélio (2008) o termo designa um “sentimento de cólera e desprezo que uma ofensa ou uma ação injusta provocam”. Entretanto, buscamos um corpus que atendesse às expectativas do estudo, que tratasse de temáticas que desenvolvessem essa atitude no falante. O corpus utilizado foi selecionado do Programa TV Verdade, transmitido semanalmente pela TV Alterosa. Esse programa trata de assuntos polêmicos e propõe discussões acerca desses temas. Acreditamos que as falas dos convidados e do apresentador se aproximam do espontâneo, uma vez que os mesmos são incitados a expressarem suas opiniões frente a debates calorosos. Para a composição do corpus, selecionamos 10 frases do programa televisionado no dia 07/04/2011 – o qual tratava do massacre em uma escola no Rio de Janeiro. Nessa edição procuramos frases que perceptivamente demonstrassem a indignação frente ao episódio apresentado e discutido. Após a seleção, analisamos na perspectiva auditivo-perceptiva, seguindo a metodologia proposta por Halliday (1970) as variações melódicas das frases em busca de padrões melódicos que diferenciassem o conteúdo dito com indignação e o conteúdo modal – aqui tratado como “neutro”, com variações de padrões tonais primários. Assim esperávamos encontrar, no corpus analisado, características prosódicas semelhantes nas expressões da atitude estudada. Com os resultados iniciais chegamos a conclusões preliminares do movimento melódico da indignação; percebemos que existem diferenças melódicas entre o neutro e a indignação, tanto na pré-tônica, quanto na pós-tônica. Contudo, pretendemos analisar um maior número de dados, a fim de buscar essas diferenças melódicas e outras ainda não percebidas. Palavras-chave: prosódia atitudinal; melodia; indignação. Referências bibliográficas HALLIDAY, M. A. K. A Course in Spoken English. Oxford: Oxford University Press, 1970. CAGLIARI, L. C. O sistema entoacional do português do Brasil. In: ______ Elementos de Fonética do Português Brasileiro. Tese de Livre Docência. Campinas: Unicamp, 1981. Cap. XII. RIZZO, J.F.P. O Papel da Entoação do Português Brasileiro na Descrição de Atos de Fala. Universidade Estadual de Campinas, 1981. Caderno de Resumos Expandidos da 1ª. Jornada do GELP-UFOP Página |6 Estudo melódico de frases assertivas de falantes distintos: um recorte Leandro Moura (Letras/UFOP) Sarah Dias Leocádio (Letras/UFOP) Prof.ª Dr.ª Leandra B. Antunes (DELET/ICHS/UFOP) O estudo prosódico da língua portuguesa é relativamente novo comparado com o estudo dos demais aspectos da fala. Os primeiros registros dialetológicos entonacionais datam do início do século XX e as impressões eram, por vezes, permeadas por juízos de valor. Essas descrições apresentaram informações importantes para os estudos que se seguiram. Atualmente há a possibilidade do uso de sistemas computacionais para análise mais refinada dos fenômenos entonacionais, o que vem contribuindo no fomento dos estudos da área. Os tons do português brasileiro são sistematizados de acordo com Luiz Carlos Cagliari (1981), tendo como base o modelo entonacional de M. A. K. Halliday (1970). O modelo de Halliday pareceu-nos o mais apropriado para execução deste trabalho, uma vez que a escolha de um tom exclui a possibilidade de outro. Halliday define cinco unidades que fazem parte da descrição fonológica da entonação do inglês britânico que também se aplicam ao português (pé, grupo tonal, tom, sílaba e fonema) e estão taxonomicamente relacionadas. O pé é caracterizado pela isocronia fonológica – intervalos regulares de tempo para a ocorrência de sílabas fortes – e é a unidade de ritmo compreendida entre essas sílabas. O autor estabelece uma unidade básica de entonação – denominada grupo tonal – e também os critérios para que os enunciados sejam segmentados em grupos tonais. O grupo tonal é uma unidade de informação, “um bloco na mensagem que o falante está comunicando” (Halliday 1970: 3), basicamente constituída pela dicotomia dado/novo, e apresenta dois componentes: o tônico e o pretônico. O autor afirma que nem todas as variações de altura usadas pelo falante são significativas. Considerando os valores relativos de variações de altura, tenta agrupá-los em um pequeno grupo que recebe o nome de tons e que se estendem pelo grupo tonal. Por sua vez, os tons são divididos em primários e secundários, sendo os tons primários empregados em um primeiro grau de minúcia e os secundários em graus ulteriores. Desse modo, os tons secundários representam distinções mais sutis dentro dos tons primários. Em um esquema tonal, o tom é representado por duas barras verticais || que antecedem a sílaba tônica saliente e indicam a configuração do contorno melódico do componente pretônico, são assinaladas com pequenos traços e seguidas pelo desenho do contorno melódico da sílaba tônica saliente e o restante do componente tônico. Halliday considera que a entonação é passível de ser sistematizada, assim como foram sistematizados os elementos segmentais da língua. Segundo Massini-Cagliari e Cagliari (2001) “nas línguas entoacionais, como o português, diferentes tipos de enunciados carregam padrões melódicos predeterminados pelo sistema”. Desse modo podemos, por exemplo, diferenciar frases declarativas de interrogativas pelo padrão entonacional que apresentam. O autor aponta seis tons primários e três tons secundários para o português brasileiro, cada um deles ligado a um significado. Os mesmos são identificados por números: 1, 2, 3, etc. A principal característica do tom se apresenta na sílaba tônica saliente. As variações melódicas do componente pretônico estão ligadas a essas características e a sua significação só é relativa nos tons secundários, enquanto nos primários esse componente se apresenta fixo e previsível. Os tons secundários têm uma conotação semântica mais forte do que o tom primário e indicam o uso marcado de um tom. Tomando como base a teoria dos atos de fala segundo Austin, Ducrot e Searle, deixando de lado as diferenças de ordem teórica acarretadas pela Caderno de Resumos Expandidos da 1ª. Jornada do GELP-UFOP Página |7 diferenciação dos atos de falas por esses autores – e aplicando-a ao modelo entonacional de Halliday, Rizzo (1981) define os respectivos tons relacionados ao ato ilocucional da asserção, no português brasileiro, caracterizando-o pela presença do tom 1 que apresenta tônica descendente média-alta/ média-baixa na forma neutra. O ato ilocucional da asserção pode ser enunciado em qualquer tempo verbal, com exceção do imperativo, e também pode ocorrer de forma marcada, onde a atitude do falante é levada em consideração, uma vez que os elementos de ordem pragmática são decisivos nas descrições dos atos de fala. Sumariamente os enunciados neutros apresentam tom 1~ e os enunciados marcados tom 5 e tom 1+1. Este trabalho visa comparar enunciados assertivos – que têm valor modal de um enunciado predicativo, positivo ou negativo, cuja validade o locutor assume totalmente, e que está em oposição a outros valores modais, como a interrogação, ordem, pedido, dúvida, etc. – e as possíveis variações ou semelhanças melódicas. O corpus de fala espontâneo foi retirado de gravações realizadas para execução de um trabalho de cunho Sociolinguístico, que tinha por objetivo analisar a ocorrência de alçamento vocálico, caracterizado pela elevação da altura de uma vogal média-alta, que se realizará como uma vogal alta. Os falantes escolhidos, que têm origem em regiões distintas, eram graduandos nos cursos do Instituto de Ciências Humanas e Sociais da Universidade Federal de Ouro Preto. Para essas gravações, foi pedido aos informantes que lessem um texto, no qual havia palavras onde possivelmente ocorreria alçamento vocálico. Almejando uma realização de fala mais próxima à realidade do falante, onde possivelmente não há influência gramatical, uma vez que o falante não tem auxílio de texto impresso, pediu-se que a história fosse contada, e não lida. Assim, o alçamento vocálico manifestar-se-ia de maneira próxima à fala espontânea. Para esse trabalho, optamos por analisar, entre as gravações realizadas, uma frase assertiva, como dito anteriormente, a fim de compará-la entre falantes de quatro estados brasileiros, a saber: Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Pará e São Paulo – e cotejar as variações melódicas entre os mesmos. O texto utilizado relata a história do misterioso assassinato de uma menina, que havia sumido da casa onde morava com outro menino. Um policial vai até a casa, interrogando João acerca do que possivelmente ele saberia sobre Verônica. Então, o detetive diz que um corpo fora encontrado, ferido a golpes de tesoura. A frase, então escolhida, diz respeito a isso: Ela (Verônica) foi morta a tesouradas/golpes de tesoura. A partir da análise dos dados, pudemos observar que a melodia mantém-se a mesma nas asserções estudadas, sendo que em todas o tom predominante é o tom 1. Não encontramos nas asserções estudadas tons do tipo 5 ou 1+1. É importante ressaltar que o modelo proposto por Halliday aplica-se de maneira mais visível ao enunciado produzido na região norte do país. O informante do Rio Grande do Sul mantém seu nível melódico, marcando a sílaba proeminente do mesmo modo que o falante da região norte. Quanto aos falantes de Santa Catarina e São Paulo, a marcação da sílaba tônica acontece em posição diferente, como verificamos. Percebemos nesses falantes que a queda melódica inicia-se na primeira sílaba, diferentemente dos outros, onde a descensão inicia-se na segunda sílaba da palavra tesoura, o que pode indicar um uso melódico diferente segundo diferentes falares brasileiros. Palavras-chave: variação melódica; entonação de assertivas; entonação regional. Referências bibliográficas: CAGLIARI, L. C. O sistema entoacional do português do Brasil. In: ______ Elementos de Fonética do Português Brasileiro. Tese de Livre Docência. Campinas: Unicamp, 1981. Cap. XII. Caderno de Resumos Expandidos da 1ª. Jornada do GELP-UFOP Página |8 CAGLIARI, L. C; GEMENTI, M. M. & CARVALHO, M. Uma análise interpretativa dos valores acústicos e auditivos dos padrões entoacionais de alguns dados do Português Brasileiro. In: III Colóquio de Brasileiro de Prosódia da Fala. Belo Horizonte: UFMG, 2011. HALLIDAY, M. A. K. A Course in Spoken English: Intonation. London: Oxford University Press, 1970. MASSINI-CAGLIARI, Gladis & CAGLIARI, Luiz Carlos. Fonética. In: MUSSALIM, F. & BENTES, A. C. Introdução à Linguística. 2. Ed. São Paulo: Cortez, 2001. V.1. RIZZO, J. F. P. O papel da entonação do Português Brasileiro na descrição de atos de fala. Dissertação (Mestrado). Universidade Estadual de Campinas. Campinas, 1981. SILVESTRE, A. P. S. De canto a canto: uma análise prosódica das orações assertivas nos falares Brasileiros. In: III Colóquio de Brasileiro de Prosódia da Fala. Belo Horizonte: UFMG, 2011. As variações prosódicas de duas falantes de Mariana, Minas Gerais Aline Ruiz Menezes (Letras/UFOP) Ricardo José Alves (Letras/UFOP) Profa. Dra. Leandra Antunes Batista (DELET/ICHS/UFOP) Este trabalho tem por objetivo analisar aspectos teóricos e metodológicos relativos à variação entonacional do português brasileiro, de falantes de Mariana/MG. Será trabalhada a prosódia de modo geral; e será verificado se, a partir dessa análise, há semelhanças e diferenças entonacionais nos tipos frasais, e no que se devem tais aspectos. O trabalho possui como base teórica o modelo descritivo de Halliday, apresentado na obra A Course In Spoken English: Intonation (1970), modelo este que possui cinco unidades de descrição fonológica do inglês britânico; e o de Rizzo (1981), que aplica as mesmas unidades descritivas que aquele, só que para o português brasileiro. Utilizaremos, das cinco unidades prosódicas que esses autores determinam, apenas as três que se seguem: 1. O Pé, que é a unidade de ritmo compreendida entre duas sílabas tônicas, em uma língua de ritmo acentuado; 2. O grupo tonal, que se compõe de um ou mais pés; 3. O Tom, que são as variações melódicas da fala. A análise foi feita a partir de um corpus constituído por uma entrevista breve, na qual foram utilizadas perguntas do cotidiano dos entrevistados de forma que as respostas fossem rápidas e espontâneas, e pela leitura de trechos do texto Sobre a morte e o morrer, de Rubem Alves, que foi selecionado com a preocupação de possuir um contexto emotivo e conter frases de diferentes tipos sintáticos, o que facilitaria a presença de variações prosódicas nas sentenças. A entrevista e o texto foram gravados com duas falantes do sexo feminino, naturais da cidade de Mariana/MG. Os dados foram gravados diretamente no computador, no programa PRAAT® (versão 32-bit), desenvolvido por Paul Boersma and David Weenink, do Institute of Phonetic Sciences, University of Amsterdam (acesso disponível gratuitamente em www.praat.org). Sendo assim, obtivemos quatro arquivos com as gravações. Com o auxilio do PRAAT, foram analisados dois trechos da gravação de cada falante para se estabelecer uma contraposição na maneira como ocorreram as variações melódicas, tanto durante a entrevista quanto durante a leitura do texto. Dentro desta abordagem, os padrões entonacionais foram descritos em cinco níveis: alto, meio alto, médio, meio baixo e baixo, conforme Halliday (1970). Primeiramente, foram utilizadas as letras A e B para se representar as falantes. Nota-se, a Caderno de Resumos Expandidos da 1ª. Jornada do GELP-UFOP Página |9 princípio, que na gravação que contém a leitura do texto, B possui uma fala muito mais pausada que A, realçando um pouco mais a tônica. Mesmo que não se trate de um elemento puramente entonacional, já percebemos, logo de início, uma diferença no modo como se comunicam. Entre as cinco unidades descritivas de Halliday (1970), o trabalho está focado nas variações que ocorreram nos Tons, a fim de estabelecer se há, ou não, um padrão prosódico nos enunciados. Tais possíveis semelhanças e/ou diferenças de atitudes entonacionais serão observadas em afirmações e interrogações. Os enunciados foram transcritos ortograficamente e, posteriormente, foi feita uma notação fonética dos tons de cada enunciado. Para a análise, a princípio, foi considerada a sílaba saliente, e, para que melhor fossem visualizadas na frase, utilizou-se a ferramenta sublinhado. A saber, como definido por Rizzo (1981), a sílaba tônica saliente caracteriza-se pelo fato de que nela ocorre a maior variação de altura melódica do enunciado. Após a análise de frases de entonação afirmativa e interrogativa dos sujeitos da pesquisa, conclui-se que há tanto semelhanças quanto diferenças na prosódia das duas falantes. As diferenças estão muito mais ligadas à intencionalidade; ou seja, naquilo que elas pretendem ressaltar; como, por exemplo, na entrevista, por ser mais espontânea e subjetiva, pôde-se perceber com maior clareza a diferença no uso da variação melódica usada pelas duas falantes, em que A usou a sílaba tônica saliente na sílaba (te-nho), e B, na sílaba (a-nos), na frase “tenho xx anos”. Pôde-se perceber, a partir da análise utilizada, que as semelhanças foram maiores recorrentes no texto, por ser algo mais padronizado, havendo, portanto, o uso das mesmas sílabas tônicas salientes. Palavras-chave: variação prosódica; fala de Mariana; entonação de assertivas e interrogativas. Referências bibliográficas: HALLIDAY, M.A.K. A Course In Spoken English: Intonation. Oxford University Press, London, 1970. RIZZO, J. O papel da entonação do Português Brasileiro na descrição dos Atos de Fala. Dissertação de mestrado. Campinas: Universidade Estadual de Campinas, 1981. Caderno de Resumos Expandidos da 1ª. Jornada do GELP-UFOP P á g i n a | 10 EIXO: EDIÇÃO DE MANUSCRITOS CONFRARIAIS MINEIROS Estatutos e Regra da Ordem Terceira de S.Francisco de Villa Rica do Ouro preto: modalidades de edição Isabela de Vasconcellos Piva (PIBIC-CNPq/UFOP) Fábio César Montanheiro (DELET / UFOP) O projeto de iniciação científica “Edição de Manuscritos Confrariais Mineiros: Estatutos e Regra da Ordem Terceira de S.Francisco de Villa Rica do Ouro preto” apresenta, como objeto de estudo, o mencionado manuscrito, datado de 1761, que tem seu fac-símile disponível em microfilme no Museu da Casa dos Contos, em Ouro Preto/MG, no rolo 0065. A pesquisa se dá a partir de versão impressa obtida desse microfilme. Seus objetivos consistem na edição do manuscrito nas modalidades diplomática, semidiplomática e interpretativa, tomando como referencial teórico-metodológico postulados filológicos e paleográficos. A fim de alcançar seus objetivos, a pesquisa foi dividida em algumas etapas. Iniciou-se com leituras de textos e discussões acerca das confrarias (irmandades e ordens terceiras) e seu papel no interior do processo de formação sócio-cultural de Minas Gerais; para isso, a obra do historiador Caio César Boschi, “Os Leigos e o Poder” (1986), foi lida, analisada e discutida em sua íntegra, por tratar do tema das confrarias em Minas Gerais durante o período colonial. Para melhor compreender a forma de funcionamento das confrarias, consignado em seus regimentos – Livros de Compromisso, no caso das irmandades, Estatutos, no caso das ordens terceiras – leu-se também o artigo “O Livro de Compromisso entre os manuscritos de confrarias: potencialidades para o trabalho filológico” (Montanheiro, 2008/2009). Em seguida, procedeu-se a leituras e discussões em torno de bibliografia especializada dos campos da filologia textual e paleografia. Essas primeiras atividades tiveram como objetivo inserir o editor do manuscrito nos assuntos que seriam vistos nos passos seguintes da pesquisa, bem como o fornecimento de subsídios teórico-metodológicos ao trabalho a ser executado. Sobre os três tipos de edição propostos, Cambraia (2005) comenta que a edição diplomática apresenta, por parte do editor, um “grau baixo de mediação” (p.93), ao passo que a edição semidiplomática se trata de um tipo de edição com “grau médio de mediação” (p.95) do editor e, finalmente, a edição interpretativa, ou atualizada, é “o passo mais à frente que se pode dar no processo de estabelecimento de um texto” (p.96), por apresentar o “grau máximo de mediação admissível” (p.97). Até o momento, foi realizada a edição diplomática do manuscrito. Embora se constitua como “uma interpretação subjetiva” (Cambraia, 2005, p.94), pois a leitura de um manuscrito, e sua interpretação, passam pela subjetividade daquele que executa a edição, a edição diplomática condiz com uma transcrição rigorosa, que procura conservar ao máximo todos os aspectos originais do documento – sinais de pontuação, abreviaturas, fronteira entre palavras, paragrafação, início e término de linhas e etc. Contudo, ao transpô-lo em caracteres romanos, eliminam-se dificuldades de leitura causadas pela letra manuscrita e pelo estado de conservação em que se encontra o manuscrito original – muitas vezes com manchas oriundas de umidade e deteriorado por insetos papirófagos e pelo tempo. Durante a realização da edição diplomática foram realizados alguns estudos que, além de embasarem o resultado do trabalho de edição, foram apresentados em alguns eventos ao longo do Caderno de Resumos Expandidos da 1ª. Jornada do GELP-UFOP P á g i n a | 11 período de agosto de 2010 a novembro de 2011. Levantamento dos aspectos gerais encontrados no manuscrito, como consoantes dobradas em posição intervocálica, emprego da letra y em ditongos decrescentes, ocorrências da letra v com função vocálica, baseou trabalhos que foram apresentados em dois eventos: XVIII SIC - Seminário de Iniciação Científica da UFOP, em novembro de 2010, e IV Seminário de Atividades Acadêmicas do Departamento de Letras do ICHS/UFOP, em junho de 2011. Também se estabeleceram as normas e critérios de leitura para a edição diplomática, sendo estes apresentados no XIX SIC – Seminário de Iniciação Científica da UFOP, em novembro de 2011. Particularmente a segunda modalidade de edição, a semidiplomática, possibilita o estudo criterioso de aspectos lingüísticos constantes dos manuscritos que apontem para um estado de língua da época de sua produção. Atualmente a atividade em andamento recai sobre a elaboração dessa modalidade semidiplomática de edição dos Estatutos e Regra da Ordem Terceira de S.Francisco de Villa Rica do Ouro preto. Para nortear e fundamentar os resultados do trabalho do editor, faz-se necessária a adoção de critérios de leitura e normas de edição. Essa é uma etapa determinante para a confiabilidade do resultado obtido. Se para a elaboração da edição diplomática foram consultados manuais – principalmente os de César Nardelli Cambraia, “Introdução à Crítica Textual” (2005) e de Vera Lúcia Costa Acioli, “A Escrita no Brasil Colônia” (1994), além de diversos artigos da Revista Filologia e Linguística Portuguesa, nos.10/11 (2008/2009), que, congregados em sessão temática, abordam filologia, edição de textos, crítica textual e paleografia –, para a edição semidiplomática do manuscrito em questão foram tomadas como base as “Normas para transcrição de documentos manuscritos para a História do Português do Brasil” (MEGALE et al., 2001), acrescidas de adaptações, dado que as normas para edição textual raramente contemplam todas as particularidades de um manuscrito. Para isso, as “Normas técnicas para transcrição e edição de documentos manuscritos” do Arquivo Nacional também foram consultadas com a intenção de complementar aquelas seguidas. As atividades a serem realizadas na continuidade deste projeto consistirão em leituras complementares, finalização da edição semidiplomática e elaboração da edição atualizada do manuscrito objeto desta pesquisa. A depender de acesso ao original, pretende-se analisar, também, seus aspectos materiais, com vistas a elaborar sua descrição codicológica. O trabalho de edição tem em vista disponibilizar textos como material fidedigno para consulta de pesquisadores de diversas áreas do conhecimento – além da linguística, pesquisadores do campo da história, da antropologia, da sociologia, etc. – , assim como para consulta do homem comum – uma vez que cada modalidade de edição possui uma finalidade e prevê um certo perfil de leitor. Com isso, contribui-se para a preservação do suporte material original do texto, e para desvelar da memória coletiva de um lugar e uma época bem definidos. Este último resultado do trabalho de edição, o da recuperação e preservação da memória cultural, é apontado por Acioli (1994) em seu livro “A Escrita no Brasil Colônia” como um importante aspecto do trabalho de edição, pois “o documento manuscrito é considerado a mola-mestra da História. É indiscutível que ele proporciona recursos inestimáveis ao historiador, representando o melhor testemunho do passado, fonte direta de informação básica para o estudo da História” (p.1). Palavras-chave: Filologia, Edição de Textos Setecentistas, Manuscritos, Minas Gerais. Referências bibliográfica: ACIOLI, Vera Lúcia Costa. A Escrita no Brasil Colônia. Recife: Editora Universitária, 1994. BOSCHI, C.C. Os leigos e o poder. São Paulo: Ática, 1986. Caderno de Resumos Expandidos da 1ª. Jornada do GELP-UFOP P á g i n a | 12 CAMBRAIA, César Nardelli. Introdução à crítica textual. São Paulo: Martins Fontes, 2005. Filologia e Linguística Portuguesa / Departamento de Letras Clássicas e Vernáculas. Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas. Universidade de São Paulo. n. 10/11 (2008/2009). São Paulo: FFLCH-USP, 2008/2009. MEGALE, Heitor et al. Normas para Transcrição de Documentos Manuscritos para a História do Português do Brasil. In: SILVA, Rosa Virgínia Mattos e. Para a história do português brasileiro. São Paulo: Humanitas / FFLCH/USP : FAPESP, 2001. v.II, t.II. p.553-5. MONTANHEIRO, Fábio César. O Livro de Compromisso entre os manuscritos de confrarias: potencialidades para o trabalho filológico. Filologia e Linguística Portuguesa, São Paulo, n°10-11, p. 121-148, 2008/ 2009. OURO PRETO. ARQUIVO CASA DOS CONTOS. Estatutos e Regra da Ordem Terceira de S. Francisco de Villa Rica do Ouro preto (1761). Compromisso de uma irmandade de NS do Rosário dos Pretos: algumas características da escrita do século XVIII Giovanna Marcella Verdessi Hoy (CAPES / PPG LETRAS UFOP) Prof. Dr. Fábio César Montanheiro (DELET/ICHS/UFOP) Prof. Dr. Adail Sebastião Rodrigues-Júnior (DELET/ICHS/UFOP) Pretende-se, nesta comunicação, apresentar características gráficas presentes no Livro de Compromisso da Irmandade de Nossa Senhora do Rosário dos Pretos da Freguesia de São Caetano (localidade hoje correspondente ao distrito de Mariana denominado Monsenhor Horta). O manuscrito compõe o acervo da Arquidiocese de Mariana e corresponde a um manuscrito do século XVIII, mais especificamente do ano de 1764. Não se pretende, aqui, proceder a uma análise linguística das ocorrências encontradas no manuscrito, mas elas serão apontadas como potencialidades para um posterior trabalho linguístico, tal como fez SantiagoAlmeida (2002) em seu artigo Estudos de um manuscrito setecentista. O texto foi editado na modalidade semidiplomática e, a partir dessa edição se procederá a uma análise textual, sob a ótica da Linguística Sistêmico-Funcional, teoria desenvolvida por Halliday (1978; 2004). Em termos gerais, a edição de um texto antigo também permite investigações em diversas outras áreas, constituindo-se como fonte segura para estudos do âmbito da História, da Linguística Histórica e da Filologia, entre outros. Pode-se ainda dizer, e utilizando-se as palavras de Cambraia (2005, p.19), que, “com certeza a contribuição mais evidente e importante da crítica textual é a recuperação do patrimônio cultural escrito de uma dada cultura”. O principal objetivo desta apresentação é recai sobre a análise da grafia de algumas palavras selecionadas do manuscrito, indicando-se a sua diferença em relação aos dias atuais, bem como as oscilações grafemáticas ocorrentes no próprio texto. Como dito na introdução, não será feita uma análise mais detalhada dessas variações, facultando-se essa tarefa ocasionalmente a outros pesquisadores. No entanto, será fornecido um breve panorama histórico da ortografia portuguesa com base em Coutinho (1974), a fim de clarificar as características da escrita da época em que o documento foi lavrado. Como objetivo secundário, pretende-se oferecer uma breve descrição do manuscrito e apresentar, sucintamente, informações históricas sobre as irmandades e de seus Compromissos. A par disso, será realizado um breve comentário paleográfico, correspondente, em conformidade com Cambraia (2005), à “descrição dos outros elementos não-alfabéticos Caderno de Resumos Expandidos da 1ª. Jornada do GELP-UFOP P á g i n a | 13 existentes e de seu valor geral: números, diacríticos, sinais de pontuação, separação vocabular intralinear e translinear, paragrafação, etc.” (p. 24). A edição semidiplomática, além de sua contribuição maior acima apontada, ao propor reproduzir a escrita de épocas pretéritas do modo o mais fiel possível, permite que estudos de outra natureza se realizem. Além de se constituir em trabalho de pesquisa em si, possibilita o despertar de interesse de pesquisadores de outras áreas de conhecimento que tomem o resultado do trabalho de edição como corpus de pesquisas que se voltem para textos brasileiros do Setecentos, sem que a edição se constitua em um de seus objetivos. Outra questão que pode ser levantada ao se optar por uma edição semidiplomática é que ela também favorece a leitura do texto antigo a um público mais vasto, uma vez que desdobra as abreviaturas, utiliza caracteres atuais e, em muitos casos, decifra signos gráficos incompreensíveis a leitores da atualidade. Por tal motivo é que apontamos uma segunda importância da edição semidiplomática, já que ao se pautar por critérios estabelecidos, ela possibilitará o “conhecimento do texto”, uma vez que o tornará acessível a um público que, de outra forma, talvez não teria acesso a ele, e ainda, favorece sua preservação por reproduzi-lo em outro suporte (ACIOLI, 1994, p. 2). Na edição do manuscrito se adotará a lição conservadora, resguardando as características da escrita do documento e serão seguidas as Normas para Transcrição de Documentos Manuscritos para a História do Português do Brasil, elaboradas durante o II Seminário para a História do Português Brasileiro, realizado em Campos do Jordão-SP, durante os dias de 10 a 16 de maio de 1998. Uma breve descrição do documento será feita, selecionando-se alguns aspectos históricos das irmandades, dos livros de compromisso e dos períodos ortográficos, estes segundo Coutinho (1974). Por fim, um quadro apresentará: i) as palavras que não apresentam grafia semelhante às de hoje; ii) a sua ocorrência na edição semidiplomática; iii) a comparação da ocorrência em relação a sua forma atual. A execução do trabalho de edição foi desenvolvida ao longo do ano de 2011, concluindo-se no mês de novembro. Porém, o processo ainda não está totalmente finalizado, pois aguardam-se as considerações finais do professor orientador desta tarefa, que analisará com mais critério os procedimentos adotados na edição do manuscrito e apontará possíveis falhas ou lapsos. No tocante à descrição de elementos não alfabéticos, observou-se, até o momento, o emprego de pontuação assim caracterizado: i) ponto para indicar paragrafação, final de texto e abreviação de palavra; ii) vírgulas; iii) ponto e vírgula; iv) dois pontos; v) til para indicar nasalização e abreviação, respectivamente detectados em “Escrivaõ” (linha 39, fólio 4r.), e “q~ ” (linha 39, fólio 4r.), por exemplo; vi) utilização do acento circunflexo observável na palavra “proporâ” (linha 76, fólio7r.), do acento agudo como mostra a palavra “dirá”, porém não do acento grave, como indicadores de tonicidade do vocábulo; vii) A divisão silábica em final de linha ocorre por hífen duplo e simples; viii) separação de palavra: intralinear, como na ocorrência de “em Cerramento” (linha 5, fólio 1r.); e translinear, como na ocorrência de “de= acordo” (linha 106, fólio 9r.). Quanto à grafia, observaram-se grafias oscilantes constatadas em “deexpecial” (linha 72, fólio 7r.) e “expicial” (linha 110, fólio 9r.). Aqui encontramos a oscilação do escriba entre o uso de //e// e //i//, bem como a utilização do grafema /x/ no lugar do /s/ que usamos atualmente. Verificaram-se palavras com letras dobradas representativas do período etimológico, ao qual pertence o manuscrito, a exemplo do vocábulo, “Officio” (linha 47, fólio 5r.), da palavra “Capellaõ” (linha 201, fólio 15). Também foi possível observar a presença de /th/ em lugar da letra /t/ como hoje ocorre na escrita, a exemplo a da palavra “Thezoureiro”. Outras ocorrências serão fornecidas no quadro ilustrativo que confeccionaremos. A edição semidiplomática de um manuscrito pode atender a diversos objetivos, dentre os quais preparar o texto para análise linguística, histórica ou filológica. Tal ocorre porque Caderno de Resumos Expandidos da 1ª. Jornada do GELP-UFOP P á g i n a | 14 numa edição semidiplomática o editor procura manter ao máximo as características intrínsecas do texto e marcar todas as suas interferências. Palavras-chave: Edição de Manuscritos Setecentistas, Livro de Compromisso, Características Gráficas de Escrita. Referências bibliográficas ACIOLI, V. L. C. A escrita no Brasil Colônia: um guia para leitura de documentos manuscritos. Recife: FUNDAJ, editora Massangana: UFPE, Editora Universitária, 1994, 310p. BOSCHI, C. C. Os Leigos e o Poder: Irmandades de leigos e política colonizadora. São Paulo: Ed. Ática, 1986, 255p. ______. Em Minas, os negros e seus compromissos. In: MARTINS FILHO, A. V. (org). Compromissos de Irmandades mineiras do século XVIII. Belo Horizonte: Claro Enigma/ Instituto Cultural Amilcar Martins, p. 275-293, 2007. CAMBRAIA, C. N. Introdução à crítica Textual. 1ª Ed. São Paulo: Martins Fontes, 2005, 216p. COUTINHO, Ismael de Lima. Pontos de gramática histórica. 6ª ed. rev. Rio de Janeiro: Livraria Acadêmica,1974, 357p. MONTANHEIRO, F. C. M. O Livro de Compromisso entre os manuscritos confrariais: potencialidades para o trabalho filológico. Filologia e Linguística Portuguesa, n. 10-11, p. 121-148, 2008/2009. Disponível em <http://www.fflch.usp.br/dlcv/lport/flp/images/arquivos/FLP10-11/Montanheiro.pdf>. Acesso em: 30 de mar. de 2011. SANTIAGO-ALMEIDA, M. M. Estudo de um manuscrito setecentista. Polifonia, n.4, p. 01-14, 2002. Disponível em: <http://cpd1.ufmt.br/meel/arquivos/artigos/203.pdf>. Acesso em : 17 de nov. de 2011. Edição de Manuscritos Confrariais Mineiros: Compromisso da Irmandade de S. Miguel e Almas, erecta na Capella doSenhor de Mattosinhos de Ouro Preto(1867) Ana Flávia Rodrigues (PIP/UFOP) Fábio César Montanheiro (DELET/ICHS/UFOP) O presente trabalho traz resultados incipientes de um projeto de iniciação científica em curso (PIP/UFOP), que objetiva, como resultado final, o estabelecimento da edição, sob as modalidades diplomática, semidiplomática e modernizada do manuscrito em referência, depositado no Arquivo Eclesiástico da Paróquia de Nossa Senhora do Pilar de Ouro Preto. Este projeto compõe a linha de pesquisa do GELP Edição de Manuscritos Confrariais Mineiros, sob coordenação do professor Fábio César Montanheiro. Embora o objetivo imediato deste projeto de Iniciação Científica consista no texto editado com rigor filológico nas três formas acima, pretende-se que, no futuro, que ele componha banco de dados dessa categoria documental e seja disponibilizado eletronicamente para consulta, em conjunto com outros Livros de Compromisso cuja edição se encontra em andamento ou já fora realizada. Com isso pretende-se contribuir, por intermédio de Caderno de Resumos Expandidos da 1ª. Jornada do GELP-UFOP P á g i n a | 15 ampla disponibilização, com estudos da área de Lingüística Histórica em particular, mas também com estudos de diversas outras áreas, tais como História, Sociologia, Antropologia e Economia. Metodologicamente, para o trabalho de edição, seguem-se as Normas para Transcrição de Documentos Manuscritos para a História do Português no Brasil (Megale et al., 2011), propostas por filólogos e lingüistas com vistas a harmonizar os procedimentos de edição de textos brasileiros manuscritos para análise lingüística. Até o momento, procedeuse a leituras teóricas nas áreas da Filologia, Paleografia e Codicologia, assim como da História, com vistas a apreender nosso objeto de pesquisa e o trabalho de edição em si. Na presente exposição, serão priorizados os aspectos codicológicos. A Codicologia, ciência afim à Filologia, “consiste basicamente no estudo da técnica do livro manuscrito (i.e, do códice)” (Cambraia, 2005, p.26) ou ainda, segundo Spina (1977, p.22), é “atinente exclusivamente ao conhecimento do material empregado na produção do manuscrito e das condições materiais em que esse trabalho se verificou”. A descrição codicológica permite uma “compreensão mais profunda do processo de transmissão de textos” (Cambraia, 2005, p. 27), de forma que, um estudo codicológico-descritivo, assim como uma transcrição, contribuem para a conservação do manuscrito. Assim sendo, este trabalho tem por objetivo expor dados codicológicos do Compromisso da Irmandade de S. Miguel e Almas, erecta na Capella do Senhor de Mattosinhos de Ouro Preto, datado de 1867, tomando como referência o Guia Básico de Descrição Codicológica proposto por Cambraia (2005) e analisar o grau de aplicabilidade desse Guia ao manuscrito estudado. Também se recorreu às análises de documentos setecentistas realizadas por Monte (2008/2009). Os dados codicológicos foram levantados a partir de imagens digitais do manuscrito. Os pontos explorados no manuscrito foram: cota, datação, lugar de origem, folha de rosto, suporte material, composição, organização da página, particularidades, encadernação, conteúdo e descrições prévias. A partir disso, afirma-se que o manuscrito encontra-se no Arquivo Eclesiástico da Paróquia de Nossa Senhora do Pilar, em Ouro Preto, sob o código: 001/0044-0063; o documento data de 1867 e é originário de Ouro Preto. Em seu primeiro fólio, vê-se o pedido dos irmãos da Irmandade S. Miguel e Almas, erecta na Capella do Senhor de Mattosinhos de Ouro Preto ao bispo de Mariana e ao Presidente da província de Minas Gerais para “fazer reviver a antiga Irmandade de São Miguel e Al= | mas” (f. 1r). O manuscrito, cujo material é o cartáceo com vergaturas e pontusais, é composto por 17 fólios, com dimensões de 307 mm x 205 mm, sendo que sete fólios apresentam marca d’água consistente de um brasão encimado por uma coroa de visconde, ladeado por volutas. Sua tarja central encontra-se ocupada por linhas em zigue-zague. Abaixo dele, verificam-se as letras G e M. Quanto à organização da página pode-se verificar que a dimensão da mancha é variável; apenas o fólio 12v apresenta duas colunas; os restantes, uma; são nove fólios numerados e rubricados; o número de linhas escritas nos fólios varia entre 4 [fls 2r(1) e 9r(8)] e 33 linhas (f.13v). O manuscrito apresenta algumas particularidades, como selo com Armas do Império; arabescos ao final dos textos de 09 fólios [f. 2r(1) ao f.10r(9)]; assinaturas dos “abaixo assignados devotos do Se= | nhor de Mattosinhos, Capella Filial da Freguezia de | Nossa Senhora do Pilar [ilegível] Ouro Preto” (fls.1r e 1v); assinatura do Bispo de Mariana “Antonio Bispo de Marianna”; assinatura do padre “OPadre Ignacio Pereira deAlmeida”, “Escrivam do Registro, e Ajudante da Camara” (f. 12r); “Elias Pinto de Carvalho”, “Francisco de Paula Ferreira de Carvalho” (f. 13v); Rubricas de “Menezes” e “Santos” (f. 12v); “Athaide” e (?) (f. 13v); marca de cola de provável selo – não mais presente no manuscrito – à esquerda do fólio 12r., à altura das linhas 27, 28 e 29. A capa, cuja dimensão é de 312 mm x 202 mm, é composta por pastas de papel-cartão recobertas por tecido aveludado vermelho, que se encontra descolado das pastas e rasgado em alguns pontos. No que se refere ao conteúdo, pode-se dizer que o fólio 1 consiste no termo de solicitação dos irmãos do Senhor de Matosinhos Caderno de Resumos Expandidos da 1ª. Jornada do GELP-UFOP P á g i n a | 16 para “fazer reviver a antiga Irmandade de São Miguel e Al= | mas” (f. 1r); os fólios 2r a 10r dizem respeito aos artigos do Compromisso; o fólio 11r apresenta a solicitação de aprovação do Compromisso; no fólio.12r pode-se ver a provisão de aprovação episcopal do Compromisso; o fólio 12v apresenta o registro de recolhimento de taxas para aprovação; e nos fólio 13r e 13v vê-se a provisão de aprovação da “parte civil” do Compromisso; os fólios 14r, 15r, 16r e 17r estão em branco. O Guia Básico de Descrição Codicológica mostrou-se como elemento relevante para o estudo deste manuscrito, pois faz com que o pesquisador entenda melhor o corpus estudado em sua materialidade e em seu contexto extra-linguístico, já que contempla elementos inerentes ao manuscrito, como data, local de origem, o lugar onde se encontra. Outros aspectos por ele contemplados são fundamentais para filólogos, paleógrafos e historiadores da cultura material, tais como o material do suporte, origem desse material e particularidades: selo, carimbos, assinaturas. Alguns dados propostos por Cambraia (2005) não puderam ser analisados, pois a falta de contato com o manuscrito original o impossibilitou: não foi possível abordar tópicos como número e estrutura dos cadernos, dimensão da mancha nem originalidade da encadernação. Palavras-chave: Filologia, Codicologia, Edição de Textos Oitocentistas, Livro de Compromisso. Referências bibliográficas CAMBRAIA, César Nardelli. Introdução à crítica textual. São Paulo: Martins Fontes, 2005. MEGALE, Heitor et al. Normas para Transcrição de Documentos Manuscritos para a História do Português do Brasil. In: SILVA, Rosa Virgínia Mattos e. Para a história do português brasileiro. São Paulo: Humanitas / FFLCH/USP : FAPESP, 2001. v.II, t.II. p.553-5. MONTE, Vanessa Martins do. Uma descrição codicológica: documentos setecentistas. Filologia e Linguística Portuguesa. São Paulo: FFLCH-USP, n.10/11, p.103-20, 2008/2009. SPINA, Segismundo. Introdução à edótica: crítica textual. São Paulo: Cultrix, Ed. da Universidade de São Paulo, 1977. Caderno de Resumos Expandidos da 1ª. Jornada do GELP-UFOP P á g i n a | 17 EIXO: FORMAÇÃO DE PROFESSORES Currículo de curso e perfil dos formadores de professores para o ensino da Língua Portuguesa da Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP) Janaina Mayra Nascimento (PIVIC/UFOP) Profa. Dra. Andressa Cristina Coutinho Barboza (DELET/ICHS/UFOP) Como a universidade vem formando os futuros professores de língua portuguesa que atuarão na Educação Básica? A esse respeito, Pacheco (2000, p. 140) afirma que a política curricular é a manifestação de uma validade e de um domínio que se relaciona com tomadas de decisões sobre todo o conteúdo de aprendizagem (seleção, organização e avaliação) que se encontram na parte explicita da realidade escolar e ainda com a responsabilidade de cada formador, de cada ator educativo, na formação do aluno. Pacheco reforça que é preciso chamar a responsabilidade para os professores e futuros professores pelo estado da educação. Por isso, a importância da formação de professores. De acordo com Medeiros (2009, p. 10) “o professor traz para a prática pedagógica seu habitus e seu capital cultural e esses interferem em sua forma de professorar”. Sendo assim, inexiste um modelo didático único, até mesmo porque as salas de aula não são homogêneas e o professor deve estar preparado para isso. Será que a universidade está sendo efetiva nesta preparação? Diante do exposto, a presente pesquisa tem por objeto a formação de professores para o ensino de Língua Portuguesa. Seu objetivo é delinear o caráter epistemológico de disciplinas que oferecem saberes referentes à Metodologia de Ensino de Língua Portuguesa (MELP). Acredita-se que estas disciplinas devam proporcionar uma ampla reflexão sobre os conteúdos, métodos e procedimentos que possam auxiliar os futuros professores na construção de sua prática pedagógica. Esta investigação é dividida em duas partes: 1) análise de currículo e ementa de disciplinas; 2) análise de currículo lattes de professores responsáveis por disciplinas voltadas ao ensino de MELP na UFOP. Na primeira parte, foram feitos os levantamentos das ementas das disciplinas dos cursos de licenciatura de Letras (Língua Portuguesa) e Pedagogia para identificação das disciplinas de MELP ministradas na UFOP. A análise das ementas visou identificar diferentes nomenclaturas das disciplinas destinadas ao ensino de MELP. Este levantamento ganha relevância, a partir do momento que essa diversidade pode significar pelo menos duas configurações para a formação de professores: 1) a diversidade exprime especificidade, ou seja, as diferentes disciplinas responsáveis pela MELP formam um projeto coerente e articulado de formação de professores; 2) a diversidade dá-se de maneira aleatória, consequentemente, as disciplinas responsáveis pela MELP repetem-se ou dispersam-se, considerando-se o conjunto da grade curricular de cada curso. Em relação ao curso de Letras, a porcentagem encontrada referente às disciplinas de MELP foi de 20%, e no currículo de Pedagogia essa porcentagem corresponde a 17%. Em uma avaliação preliminar, a observação destes dados denota que a porcentagem destinada à MELP no curso de Pedagogia é significativa, visto que o curso objetiva a formação de um profissional que atue em diversas áreas de conhecimento (matemática, história, entre outras). No caso do curso de Letras, é preciso considerar a seguinte informação: em 2011-2 encontram-se matriculados no curso de Letras da UFOP 399 alunos; destes, 64 seguem bacharelados (Tradução, Estudos Literários e Estudos Linguísticos), 69 seguem Caderno de Resumos Expandidos da 1ª. Jornada do GELP-UFOP P á g i n a | 18 licenciatura em Língua Inglesa, 266 a licenciatura em Língua Portuguesa. Tendo em vista a especificidade da formação de professores para o ensino de língua portuguesa e a ampla demanda pela habilitação de licenciatura, acreditamos que a quantidade de disciplinas destinadas à MELP no curso de Letras da UFOP seja insatisfatória. Na segunda parte desta investigação, foi feito o levantamento dos currículos lattes dos professores que ministram disciplinas de MELP na UFOP, com a proposta de constatar as diferentes formações destes professores. Identificamos o perfil formativo e profissional de quatro docentes do UFOP. Os quatro são licenciados em Letras-Língua Portuguesa e destes, um também possui licenciatura plena em Pedagogia. Todos possuem, minimamente, licenciatura em Letras, Língua Portuguesa. Três são mestres em Linguística e um é mestre em Educação. Suas dissertações versam acerca de estudos de gêneros discursivos e sua didatização, análise de materiais didáticos voltados para alfabetização e ensino da Língua Portuguesa e análise da entonação de enunciados infantis. Ainda em relação à formação dos professores de MELP da UFOP, dois são doutores em Linguísticas e um é doutor em Educação. Suas teses versam acerca dos estudos das relações identitárias do negro no Brasil, análise de prosódia e análise da produção de textos orais infantis em ambiente escolar. Atualmente, estes docentes desenvolvem projetos de pesquisa atrelados à temática de suas teses, a saber: relações étnico-raciais, fonética e prosódia e formação de professores de língua portuguesa. Esta investigação faz parte da pesquisa Formação de professores para o ensino da Língua Portuguesa: disciplinas e práticas de ensino, coordenada pela Profa. Dra. Andressa Cristina Coutinho Barboza (DELETUFOP) e do projeto de cooperação acadêmica Concepções de formação de professores de português x concepções de linguagem e ensino: as disciplinas da licenciatura e as metodologias de ensino desenvolvido pelas seguintes instituições: Universidade Federal de Lavras (UFLA), Universidade de São Paulo (USP), Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP), Universidade Federal de Alfenas (UNIFAL) e Universidade Federal do Triangulo Mineiro (UFTM). Palavras-chave: Currículo, Formação de professores, Metodologia de ensino de língua portuguesa. Referências consultadas FOUCAULT, Michel. A ordem do discurso. 20 ed. São Paulo: Loyola, 2010. MEDEIROS, C. C. C. de. A formação de professores e a teoria sociológica de Pierre Bourdieu: interface possível para pesquisas em Educação. In. Contrapontos. Volume 9 nº 2. Itajaí, 2009 PACHECO, J. A. Políticas curriculares descentralizadas: Autonomia ou recentralização. In. Educação & Sociedade. nº 73, Dezembro de 2000. UNIVERSIDADE FEDERAL DE OURO PRETO. Matriz Curricular do Curso de Letras 2011/1. Disponível em: http://www.prograd.ufop.br/images/stories/matrizes_curriculares/2011-1/letras.pdf. Acesso em 31 out 2011. _____. Matriz Curricular do Curso de Pedagogia 2011/1. Disponível em: http://www.prograd.ufop.br/images/stories/matrizes_curriculares/2011-1/pedagogia.pdf. Acesso em 31 out 2011. _____. Ementas do Curso de Letras da UFOP 2011/1. (mimeo.) _____. Ementas do Curso de Pedagogia da UFOP 2011/1. (mimeo.) Caderno de Resumos Expandidos da 1ª. Jornada do GELP-UFOP P á g i n a | 19 O tratamento de transcrições em áudio para análise na pesquisa Formação de professores para o ensino da língua portuguesa: disciplinas e práticas de ensino Nizete Mendes Gottschalk (PIVIC/UFOP) Lívia Caroline Gomes (Letras/UFOP) Profa. Dra. Andressa Cristina Coutinho Barboza (DELET/ICHS/UFOP) De acordo com Neves (1996), a pesquisa qualitativa permite ao pesquisador ter um contato direto e interativo com o seu objeto de estudo. Entre suas características estão o enfoque indutivo, o pesquisador como instrumento fundamental, o caráter descritivo e o ambiente natural como fonte direta de dados. As pesquisas qualitativas dividem-se em três possibilidades: a pesquisa documental, o estudo de caso e a etnografia. O autor destaca a importância do método etnográfico, o qual permite que o pesquisador tenha contato direto com o ambiente de coleta. Apesar de ser trabalhoso coletar e analisar dados, Neves explica que essas etapas são essenciais para que uma pesquisa tenha confiabilidade. Com base nestas considerações, este trabalho tem a proposta de descrever as particularidades do procedimento de transcrição de áudio realizado com o objetivo de organizar parte dos corpora analisados na pesquisa Formação de professores para o ensino da língua portuguesa: disciplinas e práticas de ensino, coordenado pela Profa. Dra. Andressa Cristina Coutinho Barboza. Cumpre esclarecer que a metodologia adotada para a execução desta pesquisa fundamenta-se em duas linhas que se complementam: 1) a análise documental de currículos e de programas de disciplinas de cursos de Letras e Pedagogia de universidades do Estado de Minas Gerais; 2) a produção de dados em aulas de disciplinas voltadas para a formação do professor de língua portuguesa, também de universidades mineiras. Esta apresentação versa acerca deste último caso, no qual a metodologia de pesquisa segue perspectiva etnográfica. Em um primeiro momento, alunos de iniciação científica vinculados ao projeto de pesquisa realizaram gravações em áudio de aulas voltadas à Metodologia do Ensino de Língua Portuguesa (doravante MELP), ministradas no Instituto de Ciências Humanas e Sociais (ICHS) da Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP). Em etapa posterior, esse material em áudio foi analisado, com a proposta de organizarem-se estratégias para sua transcrição seletiva, tendo em vista os objetivos específicos da proposta de pesquisa, quais sejam: 1) compreender algumas das representações de formação do professor de Língua Portuguesa e seu ensino-aprendizagem hoje; 2) compreender o perfil do profissional encarregado pela disciplina MELP; 3) avaliar as repercussões para o ensino e para a pesquisa no que concerne ao processo de ensino-aprendizagem de Língua Portuguesa, decorrentes das diferentes abordagens quanto ao que é focalizado e desenvolvido na MELP; 4) avaliar a presença de (inter)discursos que veiculam um ideal de educação inclusiva nos encaminhamentos da disciplina MELP; 5) verificar que pressuposto de educação inclusiva materializa-se na formação do professor de língua materna quanto à valorização das normas linguísticas; 6) construir um quadro panorâmico das diversas inserções institucionais da disciplina MELP e do perfil profissional por ela encarregado em diferentes Instituições de Ensino Superior de São Paulo e Minas Gerais; 7) analisar as consequências para o ensino e para a pesquisa a respeito do ensino-aprendizagem de Língua Portuguesa, oriundas dos diferentes encaminhamentos dados em MELP; 8) analisar, na relação entre proposição e objeto, os documentos institucionais e os enunciados legitimados pelos professores formadores em relação àqueles, de modo a identificar compromissos teórico-epistemológicos e institucionais da MELP em situações específicas. Para tanto, recorreu-se aos pressupostos teóricos da Análise da Conversação (MARCUSCHI, 2003) e às normas de transcrição estabelecidas pelo Projeto de Estudo da Norma Linguística Urbana Culta de São Paulo – Caderno de Resumos Expandidos da 1ª. Jornada do GELP-UFOP P á g i n a | 20 NURC/SP (PRETI, 1998). Estas orientações foram aplicadas aos dados coletados e, tendo em vista às especificidades da investigação empreendida, chegou-se a algumas constatações que visam a aperfeiçoar o trabalho de transcrição do material coletado, bem como criar um instrumento para catalogação deste material em um futuro banco de dados. Com bases nas experiências de transcrição de parte dos dados, enumeraram-se algumas peculiaridades a serem observadas por aquele que transcreve: 1) a variedade de disciplinas destinadas ao ensino de MELP nas licenciaturas de Letras e Pedagogia da UFOP; 2) a variedade de estratégias didáticas mobilizadas pelos professores de MELP em sala de aula; 3) a existência de condutas de interação presentes na conversação em sala de aula nem sempre diretamente relacionadas aos objetivos específicos da pesquisa. Diante destas variáveis, apontou-se a necessidade do estabelecimento de um único modelo ficha de transcrição a ser empregado por todos envolvidos nas etapas de coleta, transcrição e análise dos dados da pesquisa. Neste sentido, este trabalho tem a proposta específica de pontuar as normatizações que orientarão a elaboração de uma ficha de transcrição preliminar para a pesquisa Formação de professores para o ensino da língua portuguesa: disciplinas e práticas de ensino, de modo que ela possa ser testada pelos pesquisadores envolvidos ao longo do processo investigativo. Em relação à diversidade de disciplinas que oferecem MELP, propõem-se um cabeçalho para a ficha de transcrição, no qual conste: o número de ordem da ficha, o nome da disciplina, do curso e indicação do semestre para os quais da disciplina é oferecida, data da coleta, duração da gravação e indicação do nome do responsável pela transcrição seletiva. Em relação às diferentes estratégias de ensino que uma aula de MELP pode ter, propõe-se a descrição da dinâmica da aula que foi gravada. Em relação ao fato de as condutas dialógicas observadas nas gravações nem sempre estarem voltadas, diretamente, aos objetivos da pesquisa, propõe-se uma transcrição seletiva das gravações. Esta seleção terá como parâmetro os objetivos específicos enunciados no projeto de pesquisa e, para cada um dos fragmentos transcritos, haverá a indicação de início e fim do tempo de gravação, tendo como base a duração do tempo de gravação de uma aula completa. Palavras-chave: Pesquisa qualitativa. Estudo etnográfico. Ficha de transcrição. Organização de banco de dados. Metodologia do ensino da língua portuguesa. Referências bibliográficas MARCUSCHI, Luiz Antônio. Análise da conversação. 5a ed. São Paulo, Ática (2003). NEVES, Jose Luís. Pesquisa qualitativa – características, usos e possibilidades. Caderno de Pesquisas em Administração, São Paulo, v. 1, n. 3, 1996. Disponível em: < http://www.ead.fea.usp.br/cadpesq/arquivos/C03-art06.pdf>. Acesso em: 19 nov 2011. PRETI, Dino (org). Estudos da língua falada: variações e confrontos. São Paulo: Humanitas, 1998.