1 UNIVERSIDADE ANHANGUERA-UNIDERP EDNALDO ALMEIDA DOS SANTOS IMPACTOS AMBIENTAIS NO CÓRREGO DO RETIRO DECORRENTES DO CRESCIMENTO ECONÔMICO E POPULACIONAL E SEU CUSTO DE RECUPERAÇÃO AMBIENTAL E SOCIAL NO MUNICÍPIO DE AMAMBAI - MS CAMPO GRANDE MATO GROSSO DO SUL 2012 2 EDNALDO ALMEIDA DOS SANTOS IMPACTOS AMBIENTAIS NO CÓRREGO DO RETIRO DECORRENTES DO CRESCIMENTO ECONÔMICO E POPULACIONAL E O CUSTO DE RECUPERAÇÃO AMBIENTAL E SOCIAL NO MUNICÍPIO DE AMAMBAI - MS Dissertação apresentada ao Programa de PósGraduação em nível de Mestrado Acadêmico em Meio Ambiente e Desenvolvimento Regional da Universidade Anhanguera-Uniderp, como parte dos requisitos para a obtenção do título de Mestre em Meio Ambiente e Desenvolvimento Regional. Orientação: Profª. Dra. Vera Lúcia Ramos Bononi Profª. Dra. Mercedes Abid Mercante Profª. Dra. Rosemary Matias CAMPO GRANDE MATO GROSSO DO SUL 2012 ii 3 Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) Ficha catalográfica elaborada pela Biblioteca Anhanguera – Uniderp Santos, Ednaldo Almeida dos. Impactosambientais no córrego do Retiro decorrentes do crescimento econômico e populacional e o custo de recuperação ambiental e social no município de Amambai-MS. / Ednaldo Almeida dos Santos. -- Campo Grande, 2012. 84f. Dissertação Universidade Uniderp, 2012. (mestrado) Anhanguera – - 4 5 DEDICATÓRIA Dedico este trabalho à minha família, que sempre acreditou em meu potencial e me incentivou durante essa caminhada. Aos meus pais Adivaldo Rodrigues dos Santos (in memorian) e Alzira Almeida dos Santos que desde cedo me ensinaram queo estudo é essencial para o desenvolvimento de todo cidadão. E a todos os que contribuíram de uma forma ou de outra para que eu concluísse com sucesso mais esta etapa de minha vida. iii 6 AGRADECIMENTOS A Deus, incomparável e inconfundível, que na Sua infinita bondade compreende nossos anseios e nos dá saúde e coragem para atingirmos nossos objetivos. Aos meus pais, pelos ensinamentos que me foram passados e que contribuíram para a formação do meu caráter; minha conquista também é de vocês. Minha gratidão ao Coordenador prof. Silvio Fávero e aos professores do Mestrado, que souberam compartilhar seus conhecimentos e o magnífico exemplo de vida. Ao Comitê de Orientação, formado pelas professoras Vera Bononi, Rosemary Matias e Mercedes Mercante, por seu auxílio, que, ministrando suas disciplinas e também auxiliando neste trabalho, me apontaram novos horizontes, rumo à satisfação plena dos meus ideais profissionais e humanos e se tornaram mais que mestres, amigas. Aos meus colegas de mestrado pela convivência e companheirismo, que com o decorrer do curso, pode-se afirmar que se tornaram grandes amigos. À Prefeitura Municipal de Amambaí, por meio dos funcionários das Secretarias de Habitação, Meio Ambiente e de Obras e Serviços Urbanos, que dedicados e competentes, me assistiram, tiraram dúvidas e responderam meus questionamentos, sempre de forma muito cordial. À Empresa de Saneamento de Mato Grosso do Sul, pela contribuição, colaboração e presteza nas informações. E, a todos que contribuíram direta ou indiretamente para que essa etapa da minha vida fosse concluída com sucesso, o meu muito obrigado. iv 7 “Bem aventurado o homem que acha sabedoria, e o homem que adquire conhecimento; porque melhor é a sua mercadoria do que a mercadoria de prata, e a sua renda do que o ouro mais fino. Mais preciosa é do que os rubis, e tudo o que podes desejar não se pode comparar a ela.” (Provérbios, 3, 13-14) v 8 SUMÁRIO LISTA DE FIGURAS .......................................................................................... LISTA DE TABELAS ........................................................................................ RESUMO.............................................................................................................. vii viii ix ABSTRACT .......................................................................................................... x 1.INTRODUÇÃO.................................................................................................... 01 2. REVISÃO DE LITERATURA............................................................................ 03 2.1. A economia ambiental e o desenvolvimento sustentável.............................. 07 2.2. A importância dos recursos hídricos e os aspectos ambientais decorrentes da urbanização .................................................................................................... 14 2.3. A questão ambiental e o planejamento urbano ............................................ 26 3. MATERIAL E MÉTODOS ............................................................................... 32 31. Características históricas e geográficas do município de Amambai – MS... 32 3.2. Área de estudo ............................................................................................. 34 3.3. Procedimentos............................................................................................... 35 4. RESULTADOS E DISCUSSÕES.................................................................... 40 4.1. Impactos ambientais no córrego do Retiro .................................................. 45 4.1.1. Resultados das análises da água do córrego do Retiro ........................... 55 4.2. Número de residências à beira do córrego do Retiro que descumprem a legislação ambiental municipal ........................................................................... 68 4.3. Análise de custo para retirada das famílias ................................................. 73 5. CONCLUSÃO E CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................ 77 6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................ 80 vi 9 LISTA DE FIGURAS Figura 01. Fluxos dos resíduos produtivos no meio ambiente............................... 09 Figura 02. Sistemas do desenvolvimento sustentável ........................................... 13 Figura 03. Modelo de sistema de gestão ambiental .............................................. 29 Figura 04. Localização do município de Amambaí – MS....................................... 33 Figura 05. Trajeto do córrego do Retiro no município de Amambaí-MS................ 36 Figura 06. Pontos de coleta de água no córrego do Retiro................................... 37 Figura 07. Crescimento populacional no município de Amambaí-MS .................. 42 Figura 08. Crescimento populacional no município de Dourados-MS .................. 43 Figura 09. Aspectos da ocupação informal detectada durante a visita “in loco” para identificação de residências à beira do córrego do Retiro.............................. 45 Figura 10. Aspectos da ausência de vegetação no córrego do Retiro.................... 47 Figura 11. Aspectos do assoreamento no córrego do Retiro ................................. 48 Figura 12. Aspectos do processo erosivo no córrego do Retiro.............................. 51 Figura 13. Contenção da erosão pelo Poder Público Municipal .............................. 52 Figura 14. Resíduos sólidos presentes no córrego do Retiro.................................. 54 Figura 15. Representação média mensal da cor das amostras da água................. 59 Figura 16. Representação média mensal da turbidez das amostras da água.......... 60 Figura 17. Representação média mensal da condutividade elétrica das amostras da água do córrego do Retiro em Amambaí-MS .................................................... 62 Figura 18. Análise dos componentes principais entre as variáveis físicas e químicas dos locais de coleta do córrego do Retiro............................................... 65 Figura 19. Cadastro da rede coletora de esgoto no município de Amambaí.......... 66 Figura 20. Lançamento de esgoto no córrego do Retiro ......................................... 67 Figura 21. Número de residências detectadas entre as Ruas Benjamim Constant e Tiradentes em Amambaí – MS .......................................................................... 69 Figura 22. Número de residências detectadas entre as Ruas Tiradentes e Duque de Caxias em Amambaí – MS ............................................................................... 70 Figura 23. Número de residências detectadas entre a Rua Duque deCaxias e Av. Nicolau Otano em Amambaí – MS ......................................................................... 71 Figura 24. Planta Baixa da casa padrão do projeto PMCMV .................................. 74 vii 10 LISTA DE TABELAS Tabela 01. Evolução da população mundial ......................................................... 08 Tabela 02. Caracterização do impacto ambiental ................................................. 23 Tabela 03. Métodos de Avaliação de Impactos Ambientais ................................. 24 Tabela 04. Pontos de amostra do córrego do Retiro em Amambai-MS................ 35 Tabela 05. Dados econômicos do município de Amambaí (2010) ........................ 40 Tabela 06. Evolução do crescimento econômico (2002-2009).............................. 41 Tabela 07. Distribuição da população residente no município .............................. 43 Tabela 08. Análise química e física do solo às margens do córrego do Retiro..... 49 Tabela 09. Comparação das características físicas, químicas e bacteriológicas em três pontos no córrego do Retiro...................................................................... 55 Tabela 10. Teste estatístico ANOVA da temperatura da água do córrego do Retiro em Amambai - MS....................................................................................... 57 Tabela 11. Teste estatístico Kruskal-Wallis da turbidez da água do córrego do Retiro em Amambai – MS ..................................................................................... 60 Tabela 12. Check-List das ocorrências, grau de impacto e medidas de recuperação do córrego do Retiro em Amambaí – MS ............................................................... 72 Tabela 13. Local e número de residências em situação irregular ......................... 75 Tabela 14. Custo para remoção das habitações à beira do córrego...................... 75 viii 11 RESUMO No período de 1991 a 2010 o Município de Amambaí/MS, apresentoucrescimento econômico e populacional com atração de imigrantesa procura de melhores oportunidades de vida. Esses novos moradores se estabeleceram em áreas de risco e de preservação permanente às margens do córrego do Retiro, que nasce no centro do município e atravessa o Parque da Cidade, área de lazer Municipal. Levantamento efetuado no local analisou a qualidade da água que mostrou elevadas concentrações de coliformes fecais; presença de 22 habitações irregulares em diferentes situações de precariedade e de risco; desmatamentos; utilização das margens do córrego para pastagens; erosão; assoreamento; resíduos sólidos dispersos; despejo de esgoto não tratado e a existência de uma estação de tratamento de esgoto ineficiente. Os resultados expuseram deficiências do poder municipal no gerenciamento do saneamento básico. A recuperação da área deve ter inicio pela remoção das famílias das habitações irregulares para locais com infraestrutura de saneamento adequado. Foi avaliada em R$ 660.000 reais a construção dessas novas moradias, que poderiam ser subsidiadas pelo Programa Minha Casa Minha Vida do governo Federal. Os despejos de esgoto e disposição de resíduos sólidos precisam ser reorganizados obedecendo a legislação, o solo necessita de tratamento e planejamento de sistema de drenagem, a vegetação nativa deve ser reintroduzida as margens do córrego e programas de educação ambiental devem ser desenvolvidos para a conscientização da população de todo o Município, visando garantir a permanência das medidas corretivas. É importante que Amambaí, tenha o seu norte voltado para o desenvolvimento sustentável, buscando a expansão produtiva e oferecendo condições dignas de moradia a seus habitantes, sem deixar de lado a preservação do meio ambiente, fator esse preponderante para a manutenção da vida no planeta. Palavras-chave:Meio Ambiente; Expansão Urbana; Desenvolvimento Sustentável. ix 12 ABSTRACT From 1991 to 2010 the Amambaí County, MS, presented economic growth and increased its population, which attracted immigrants looking for better opportunity in their lives. Those new dwellers established their houses at risky and permanent preservation areas on the Retiro stream’s banks, which springs in the center of the country and crosses the City Park, a county leisure area. An assessment made at the site analyzed the quality of the water, which showed high concentration of faecal coliform; 22 irregular houses under different levels of precariousness and risk; vegetation clearings on the stream’s banks transformed into grazing areas; erosion; silting up; dispersed solid residues; untreated sewer discharges and the existence of an inefficient sewer treatment station. The results exposed deficiencies in the country authorities in the management of basic sanitation. The recovery of the area should start by removing the families from the irregular houses to sites with proper infrastructure and sanitation. Building up new houses has been estimated at R$ 660.000,00 which could be subsidized by the My House My Life Program of the federal government. Sewer discharges and disposal of solid residues need to be reorganized by complying with the legislation, the soil requires treatment and a draining system has to be planned, native vegetation should be reintroduced on the stream’s banks and environmental education programs should be implemented in order to bring awareness to the population of the whole county targeting on ensuring permanent corrective actions.It is important that Amambaí, has its north facing to the sustainable development, seeking to expand production and providing decent housing for its inhabitants, without neglecting the preservation of the environment, this preponderant factor for the maintenance of life on the planet. Key words : Sustainable development, degradaded area repair, environmental management x 1 1. INTRODUÇÃO As nações buscam o desenvolvimento econômico e social incentivando a produção em busca de emprego e qualidade de vida. O desenvolvimento traz aumento de imigração em busca de novas oportunidades, crescimento populacional, expansão imobiliária desordenada e impactos ambientais. A Constituição brasileira (BRASIL, 1988) em seu artigo 6° declara que a moradia é um direito social assegurado a todos os brasileiros e em seu artigo 225 trata a defesa do meio ambiente como responsabilidade de todos. A urbanização é vista por Rebouças et al. (1999) como uma das principais razões da deterioração dos recursos hídricos, alterando a qualidade, a drenagem, provocando enchentes e desequilíbrios no escoamento das águas e, sobretudo, acarretando problemas à saúde humana. As famílias vivem em condições precárias, sem infraestrutura básica, como rede de água e esgoto e despejando todo o tipo de lixo no entorno. Essa situação acarreta no alastramento de animais transmissores de doenças, como roedores. Grostein (2001) relaciona a sustentabilidade de aglomerados urbanos à forma de ocupação do território, a disponibilidade de insumos como a água, a descarga de resíduos, a mobilidade da população no espaço urbano, a oferta de moradias, equipamentos sociais e serviços e a qualidade dos espaços públicos. Portanto, para se promover o desenvolvimento é imprescindível um ordenamento territorial adequado, mediante o planejamento e controle do uso do solo urbano, função essa que compete aos municípios brasileiros, de acordo com o artigo 30 da Constituição Federal (BRASIL, 1988). Moraes e Jordão (2002) observam que no Brasil a ocorrência de rápida urbanização tem provocado a concentração de populações de baixo poder aquisitivo em periferias carentes de serviços de saneamento. Maricato (2003) aponta a notável tolerância do estado brasileiro em relação às ocupações irregulares de terras urbanas, sendo condescendentes principalmente quando as terras são públicas. A ocupação ilegal de áreas de preservação permanente ou de risco não ocorre por falta de legislação, mas sim, por falta de fiscalização. E mais recentemente Razzolini e Gunther (2008) destacam a expansão urbana na periferia das cidades, onde as áreas centrais dotadas de infraestrutura de 2 serviços urbanos ficam destinadas a população de alta renda e a periferia sem serviços é ocupada pelos mais pobres, muitas vezes em loteamentos ilegais e clandestinos. As famílias invadem e fixam residências à beira de encostas, morros e áreas de preservação ambiental como cursos de água e fundos de vale, ocasionando impactos ambientais e alterando ecossistemas e paisagens naturais. Os autores apontam a responsabilidade do estado pela ausência ou baixo alcance de políticas habitacionais, a especulação imobiliária e as desigualdades sociais. O município de Amambaí, localizado em uma região estratégica no sul do estado de Mato Grosso do Sul, não é uma cidade de grande porte. É um corredor para exportações pelo porto de Paranaguá e polo regional de desenvolvimento, com serviços de saúde, educação e comércio, atraindo uma corrente migratória dos municípios vizinhos em busca de melhores oportunidades de trabalho, sendo que uma população carente está se estabelecendo às margens do córrego do Retiro, área de preservação permanente e de risco com visíveis impactos ambientais. O objetivo deste trabalho foi expor a problemática da expansão econômica no município de Amambaí no período de 2002 a 2009 e a expansão imobiliária no período de 1991 a 2010. Além disso, foi realizado um diagnóstico dos impactos ambientais na sub-bacia do córrego Retiro quanto à mata ciliar, uso do solo, erosão, qualidade da água e despejo de lixo e esgoto, demonstrando e relacionando o crescimento urbano do município com a diversidade dos seus impactos ambientais, visando produzir informações capazes de contribuir com as autoridades competentes para a recuperação do solo e da sub-bacia hidrográfica. 3 2. REVISÃO DE LITERATURA Até algumas décadas atrás o assunto “preservação ambiental” não chamava tanto a atenção da população como ocorre nos dias atuais. Na verdade, ao longo das gerações, o relacionamento entre o homem e a natureza passa por profundas mudanças. O meio ambiente tem sido devastado de tal maneira que os espaços disponíveis para o uso comum da população estão diminuindo, e com isso, também o bem-estar geral. Segundo Guerra e Cunha (2001), os seres humanos ao se concentrarem num determinado espaço físico, aceleram inexoravelmente os processos de degradação ambiental, dessa forma cidades e problemas ambientais teriam entre si uma relação de causa-efeito rígida. É importante frisar que a exploração dos recursos naturais deve ser realizada em direção ao desenvolvimento econômico, porém faz parte do desenvolvimento a qualidade de vida e um meio ambiente seguro. Para Santos et al. (2007, p.932), “a interferência do homem no meio ambiente e a utilização inadequada das terras vem gerando, ao longo do tempo, a insustentabilidade dos recursos naturais”. As riquezas naturais como mananciais, córregos, flora e fauna estão sendo ameaçados por diversos fatores, o que tem trazido muita preocupação para autoridades de todo o planeta e gerado muitas reuniões em diversos partes do mundo. Conforme Campos (2004, p.19): [...] a Conferência de Estocolmo, em 1972, foi a primeira a tratar das relações entre o homem e o meio ambiente. Teve como objetivo conscientizar os países sobre a importância de se promover a limpeza do ar nos grandes centros urbanos, a conservação das bacias hidrográficas mais povoadas e o combate à poluição marinha. Moradillo e Oki (2004) observam que a Conferência de Estocolmo marcou a nível internacional a necessidade de introdução de políticas ambientais e reconheceu a Educação Ambiental como uma necessidade para a solução dos problemas ambientais. 4 A partir dessa Conferência surgiu a Declaração de Estocolmo sobre o Meio Ambiente. Segundo Campos (2004, p.20): [...] após essa Conferência, a questão ambiental evoluiu verdadeiramente e os cientistas preocuparam-se com o crescimento populacional, o aumento dos níveis de poluição e o esgotamento das fontes de recursos naturais não renováveis, como por exemplo, o petróleo. Jacobi (2005) observa que em 1973 utiliza-se pela primeira vez o conceito de ecodesenvolvimento para caracterizar uma concepção alternativa de desenvolvimento e tinha como pressupostos a existência de cinco dimensões de ecodesenvolvimento, a saber: a sustentabilidade social; a sustentabilidade econômica; a sustentabilidade ecológica; a sustentabilidade espacial; e a sustentabilidade cultural. O autor observa que apesar dos avanços ocorridos em vários setores, os princípios de proteção ambiental e de desenvolvimento sustentável continuam a ser considerados um entrave para o crescimento econômico, e os resultados estão à mostra: perda de biodiversidade, degradação da qualidade ambiental nas grandes cidades dos países em desenvolvimento e redução dos recursos não-renováveis. Em 1982 foram comemorados, em Nairóbi, os dez anos da Conferência de Estocolmo. Campos (2004, p.20) afirma que: [...] nesse momento entrava em discussão o agravamento das questões ambientais globais, demonstrando que o nível das atividades humanas e o modelo econômico capitalista vinham excedendo a capacidade de recuperação da natureza, o que era um fator preocupante para o futuro da humanidade. Silva (2007) observa que em 1983 a Organização das Nações Unidas criou a Comissão Mundial sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento (CMMAD), responsável pela publicação do relatório “Nosso Futuro Comum”, em 1987. O documento retoma a definição do conceito de desenvolvimento sustentável como aquele que atende as necessidades do presente sem comprometer a capacidade de as gerações futuras atenderem as suas. Para Vecchiatti (2004), o conceito gerado no relatório foi decisivo para se repensar as dimensões do desenvolvimento e para a conscientização da sociedade, questionando se as práticas econômicas e sociais desenvolvidas até então não 5 estavam limitando a capacidade dos ambientes naturais de suportar a vida no planeta. Ao final da divulgação desse relatório pelas Nações Unidas os países foram convocados para participar de uma conferência a ser realizada no Rio de Janeiro em 1992. Nessa reunião foram aprovados cinco documentos básicos: a) a Declaração do Rio, com 27 princípios sobre obrigações ambientais e questões de desenvolvimento; b) a Agenda 21 que seria um cronograma de ação sobre temas específicos como erosão, desertificação, mudanças climáticas, resíduos tóxicos e outros. c) a Convenção sobre Alterações Climáticas; d) a Convenção sobre Biodiversidade; e) a Declaração sobre as Florestas, (Giansanti,1998). Rosseto (2003 apud BARBISAN et al.2009, p.120) discorre que: [...] no Brasil, os trabalhos realizados para a elaboração da agenda 21 levaram a um amplo diagnóstico, com destaque para o agravamento dos problemas urbanos e ambientais das cidades em função dos adensamentos desordenados, da carência de recursos e de planejamento urbano, e também, de padrões inadequados de gestão. Alguns princípios fundamentais para a sobrevivência da humanidade também foram apontados na Rio-92: • Os seres humanos, e seu direito a uma vida saudável e produtiva em harmonia com a natureza, constituem o centro das preocupações relacionadas com o desenvolvimento sustentável; • A erradicação da pobreza é tarefa essencial do desenvolvimento sustentável; • Na corrida pelo desenvolvimento as nações contribuíram notadamente para a degradação do meio ambiente e, portanto, têm responsabilidades comuns, ainda que diferenciadas; • É indispensável que haja entre as nações cooperação mútua e intercâmbio de conhecimentos científicos.; • Deve-se garantir a não transferência entre nações de quaisquer atividades e substâncias que causem degradação ambiental grave e nociva; 6 • Mulheres, jovens e índios desempenham papel fundamental na ordenação do ambiente e no desenvolvimento; • A paz, o desenvolvimento e a proteção ao meio ambiente são interdependentes e inseparáveis (Giansanti,1998):. Verificou-se dessa forma que a Rio-92 trouxe uma gama variada de discussões importantes sobre a preservação do meio ambiente, mas, infelizmente, não teve o apoio de diversos países (principalmente os desenvolvidos) pois as medidas discutidas para mitigar os impactos ambientais afetariam o crescimento econômico dessas nações. Em 2010 ocorreu uma reunião em Nagoya, onde as autoridades concordaram em trabalhar em conjunto para implementar 20 metas até 2020. Segundo Weigand Jr. et al. (2011), essas metas estão baseadas nos seguintes objetivos : a) tratar das causas fundamentais da perda da biodiversidade fazendo com que preocupações com biodiversidade permeiem governo e sociedade; b) reduzir as pressões diretas sobre a biodiversidade e promover o desenvolvimento sustentável; c) melhorar a situação da biodiversidade protegendo ecossistemas, espécies e diversidade genética; d) aumentar os benefícios de biodiversidade e serviços ecossistêmicos para todos; e) aumentar a implementação, por meio de planejamento participativo, da gestão de conhecimento e capacitação. Em junho de 2012, no Rio de Janeiro, a Conferência Rio +20 teve como pauta o desenvolvimento sustentável e a economia verde. O encontro resultou em uma carta de intenções que propõe a visão conjunta de temas econômicos, sociais e ambientais. A partir dessas considerações, conclui-se que as autoridades e a população mundial estão preocupadas com o nível de degradação ambiental nos ecossistemas do planeta, mas ainda não encontraram os meios para reverter esse processo e ao mesmo tempo continuarem com a geração do crescimento econômico. 7 2.1 A ECONOMIA AMBIENTAL E O DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL Os recursos ambientais são devastados principalmente para que se consiga produzir bens e serviços para atender o consumo da população. Conforme Vasconcellos (1998, p.2), “em qualquer sociedade, os recursos ou fatores de produção são escassos, mas as necessidades são ilimitadas e sempre se renovam”. Esse processo do sistema capitalista irá gerar um desequilíbrio econômico e também ecológico. Os processos de fabricação, as técnicas e tecnologias para promover a extração de recursos, processá-los e transformá-los ampliaram o poder humano de exploração dos recursos naturais e alteraram o ciclo de recomposição dos ecossistemas, principalmente com o advento da Revolução Industrial. Sandroni (1994, p.305) afirma que “a Revolução Industrial pode ser vista como o ponto alto de um longo processo de transformação no âmbito das forças produtivas, tendo suas raízes na crise do sistema feudal europeu”. A partir dessa mudança no sistema econômico, a produção, distribuição e o consumo de bens e serviços aumentaram, o que se traduz numa elevação do capital e do emprego, com aumento da riqueza dos países. Com isso, a população mundial passa a ter acesso a novos bens e a serviços essenciais como à saúde, lazer, educação e moradias, o que leva a uma expansão da população mundial com o estressamento das questões ambientais (Moraes, 2009). Segundo Bellia (1996) o primeiro economista a sistematizar essa ideia foi Thomas Malthus, que em 1798 publicou o Ensaio sobre os Princípios de População que afetam o Desenvolvimento da Sociedade. Vasconcellos (1998, p.17) complementa que: [...] para Malthus, a causa de todos os males da sociedade residia no excesso populacional: enquanto a população crescia em progressão geométrica, a produção de alimentos seguia em progressão aritmética, o que faria com que o potencial da população excedesse em muito o potencial da terra na produção de alimentos. Verifica-se no decorrer dos tempos que a população mundial aumenta cada vez mais rápido eisso traz uma preocupação, pois o planeta Terra não consegue oferecer fatores de produção na abundância requerida para atender essa demanda cada vez maior. 8 Conforme mostrado na Tabela 1, para a população alcançar cada bilhão adicional na população, foi preciso cada vez menos tempo, o que acaba gerando pressões sobre o meio ambiente, com a produção de mais resíduos. Tabela 1 – Evolução da população mundial Tempo necessário para acrescentar mais 1 bilhão à população mundial Ordem Tempo Necessário Ano em que atingiu Primeiro bilhão 2.000.000 de anos 1.830 Segundo bilhão 100 anos 1.930 Terceiro bilhão 29 anos 1.959 Quarto bilhão 15 anos 1.974 Quinto bilhão 13 anos 1.987 Sexto bilhão 11 anos 1.998 Sétimo bilhão 13 anos 2.011 Fonte: Béllia (1996) e Guia Exame (2011). Jacobi (2005) observa que em 1972, os cientistas liderados por Dennis Meadows argumentavam de forma catastrófica que a sociedade se confrontaria dentro de poucas décadas com os limites de seu crescimento por causa do esgotamento dos recursos naturais e, para alcançar a estabilidade econômica e ecológica, propõe-se o congelamento do crescimento da população global e do capital industrial, mostrando a realidade dos recursos limitados e indicando um forte viés para o controle demográfico. A partir dessas considerações pode-se definir que a questão a ser resolvida pela humanidade é como combinar os fatores de produção, que são cada vez mais escassos, com uma necessidade de consumo cada vez maior, impactadas pelo aumento populacional com a filosofia consumista do sistema capitalista. Vasconcellos (1998, p.2) afirma: Economia é a Ciência Social que estuda como o indivíduo e a sociedade decidem (escolhem) empregar recursos produtivos escassos na produção de bens e serviços, de modo a distribuí-los entre as várias pessoas e grupos da sociedade, a fim de satisfazer as necessidades humanas. 9 Já a Economia Ambiental é o ramo da economia que se preocupa como se atenderá essa demanda de mercado sem deixar de lado as questões ambientais. Para Moraes (2009, p.9), Economia Ambiental consiste na aplicação dos princípios da economia ao estudo da administração dos recursos ambientais, visto que a questão principal reside no fato de que a degradação do meio ambiente tem aumentado, conforme o sistema econômico capitalista avança. É Importante considerar que, dentro desse sistema, existe uma relação entre produtores e consumidores, sendo que um está buscando o lucro ótimo e o outro busca a satisfação de suas necessidades. A partir desse confronto, o setor produtivo irá aumentar a sua produção e, consequentemente, o aumento da extração dos recursos naturais. Moraes (2009) afirma que essa relação causa uma preocupação entre os que se ocupam com o meio ambiente. Conforme a figura 1, os produtores utilizam matéria-prima e energia (M) para gerar bens e serviços (B) que serão vendidos aos consumidores. Os produtores e os consumidores descarregam os resíduos (Rp e Rc) de volta ao meio ambiente. O fluxo final de resíduos dos produtores descarregados no meio ambiente (Rpd) e dos consumidores (Rcd) é a base do estudo da Economia ambiental. Reciclado (Rpr) Matéria-prima (M) Resíduos (Rp) Produtores Descarga (Rpd) MEIO Bens AMBIENTE (B) Consumidores Resíduos (Rc) Descarga (Rcd) Reciclado (Rcr) Figura 1 – Fluxo dos resíduos produtivos no meio ambiente. Fonte: Adaptado de Moraes (2009, p.19). É importante considerar que no longo prazo, B = Rc, ou seja, todos os bens que são repassados para o consumidor, eventualmente irão terminar como resíduo dos consumidores. Assim, pode-se verificar que: Rpd + Rcd = M = B + Rp – Rpr – Rcr, o que revela que a quantidade de matéria-prima (M) é igual aos bens e 10 serviços (B) mais os resíduos resultantes dessa produção (Rp), menos os resíduos reciclados pelos produtores (Rpr) e pelos consumidores (Rcr). Conforme Moraes (2009), [...] para que se possa reduzir as descargas sobre o meio ambiente, deve-se reduzir M, e para isso as opções são: a) Reduzir B: A diminuição do lançamento de Rpr e Rcr irá ocorrer se a produção de bens diminuir, o que trará como consequência um limite no crescimento. b) Reduzir Rp: Pode-se também diminuir Rpr e Rcr se os produtores investirem em tecnologia, o que iria combinar melhor os fatores de produção diminuindo a quantidade de resíduos. c) Aumentar (Rpr + Rcr): Se as empresas aumentarem a reciclagem de resíduos, em vez de lançá-los no meio ambiente, irão reduzir M, já que poderiam substituir matéria-prima original pela reciclada, o que geraria um excedente de lucratividade. Vale a pena observar que diversas empresas têm criado novas alternativas que tem contribuído para a preservação do meio ambiente, reduzindo resíduos e investindo em tecnologia, como citado em b) e c) e isso, realmente, tem se traduzido em aumento de sua lucratividade. Mas, uma diminuição da produção, como está apresentada em a), num sistema consumista como o capitalista, acaba se tornando impraticável, visto que as necessidades de consumo sempre estarão aumentando e isso catapulta a mola propulsora do sistema, que é o lucro (Moraes, 2009. Assim, durante o passar dos tempos, verifica-se uma relação inversamente proporcional entre Crescimento Econômico e Meio Ambiente, visto que os países que mais cresceram, também foram os que mais devastaram seus ecossistemas.Isso ocorre devido ao elevado nível de produção, conforme explica Montoro Filho et al. (1998, p.567), “o ritmo de crescimento da economia mundial só se sustenta graças a uma exploração crescente e insustentável dos recursos naturais e ao comprometimento das condições do meio ambiente humano”. Gouveia (2012) observa que o desenvolvimento econômico, o crescimento populacional, a urbanização e a revolução tecnológica vêm sendo acompanhadas por alterações no estilo de vida e nos modos de produção e consumo da população e como decorrência direta disso vem ocorrendo o aumento na produção de resíduos sólidos, tanto em quantidade como em diversidade, visto que passaram a abrigar em sua composição elementos sintéticos e perigosos aos ecossistemas e à saúde humana, em virtude das novas tecnologias incorporadas ao cotidiano. 11 Mas, qual a diferença entre Crescimento e Desenvolvimento Econômico? Segundo Vasconcellos (1998), Crescimento econômico é a elevação contínua da renda per capita ao longo do tempo e o desenvolvimento econômico é um conceito mais qualitativo, incluindo as alterações da composição do produto e a alocação dosrecursos pelos diferentes setores da economia, de forma a melhorar os indicadores de bem-estar econômico e social. Para se verificar o nível de crescimento econômico, os países geralmente utilizam as análises de variação de seu PIB. Considerando que PIB é a sigla para Crescimento Interno Bruto, verifica-se, que esse indicador irá demonstrar como os diversos setores da economia estão se comportando em determinado período de tempo. Segundo Sandroni (1994, p.286), “refere-se ao valor agregado de todos os bens e serviços finais produzidos dentro do território econômico do país, independentemente da nacionalidade dos proprietários das unidades produtoras desses bens e serviços”. Para ocorrer o desenvolvimento econômico, geralmente, os países passam por um crescimento econômico acelerado, que irá se traduzir na distribuição desses recursos adicionais em melhorias nos diversos setores da economia, com ênfase na área social. Já em períodos de recessão econômica, a história recente demonstra que é mais difícil se conseguir distribuir riqueza entre os diversos setores da sociedade, visto que a produção fica comprometida e o desemprego tende a aumentar. A questão ambiental também é negligenciada pela falta de recursos. Para Moraes (2009), a execução da política ambiental é muito mais difícil nos países pobres onde prevalece a falta de recursos financeiros, baixo nível de instrução, falta de administração e instituições fracas. Assim, o grande desafio atual das nações, que é amplamente debatido nos encontros e fóruns sobre o meio ambiente é como gerar um crescimento econômico acelerado para diminuir a pobreza e ao mesmo tempo preservar os ecossistemas do planeta. Nessa difícil equação, é que está centrado o conceito de Desenvolvimento Sustentável (Giansanti, 1998). Moraes (2009, p.21 ) ainda afirma que: 12 [...] o conceito de desenvolvimento sustentável existe desde que existe o homem convivendo com a natureza e procurando preservála para a continuidade da obtenção dos alimentos e vestuário e também não é nenhum conceito novo na ciência econômica já que Malthus em 1798 concluiu que se o tamanho das famílias não fosse controlado, a miséria e a fome se tornariam uma epidemia global que eventualmente consumiria a raça humana. Na perspectiva de Giansanti (1998, p.9): [...] as idéias precursoras do desenvolvimento sustentável são creditadas a um engenheiro florestal norte-americano, Gifford Pinchot, já que ele defendia a conservação dos recursos apoiada em três princípios básicos: o uso dos recursos naturais pela geração presente, a prevenção do desperdício e o desenvolvimento dos recursos naturais para muitos e não para poucos cidadãos. Já Rebouças (1999, p.39) considera que: [...] o conceito de desenvolvimento sustentável foi introduzido numa versão moderna pelo relatório Nosso Futuro Comum, preparado pela Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento publicado em 1987 que definiu desenvolvimento sustentável como o desenvolvimento que atende às necessidades do presente sem comprometer a habilidade das futuras gerações satisfazerem suas necessidades. A partir desses conceitos, pode-se verificar que a questão crucial inserida no desenvolvimento sustentável é o que será deixado para as gerações futuras visto que no sistema capitalista para se produzir bens para o consumo, os produtores irão se utilizar de recursos naturais que não são renováveis e irão poluir o meio ambiente através do lançamento de seus dejetos em locais impróprios, como forma de ampliar suas riquezas rapidamente. De acordo com Moraes (2009, p.23): [...] na produção são utilizados recursos naturais (N) e recursos artificiais (A), que são fabricados pelo homem. Se a utilização dos recursos artificiais for mais barata que os recursos naturais, os empresários tenderão a utilizar mais A e menos recurso N, ou viceversa. E para que se consiga aumentar A é necessário investimentos nas diversas áreas de pesquisa. A decisão de produção, consumo e emissões é realizada num conjunto de instituições econômicas e sociais. São essas instituições políticas que levam à tomada de decisão sobre onde investir (Moraes, 2009). 13 Dessa forma, o desenvolvimento sustentável irá se basear na combinação dos sistemas de relações econômicas, políticas e biológicas que se organizam entre si. Denominando C como desenvolvimento sustentável na Figura 2, pode-se perceber que ele será comum aos três sistemas, indicando que é possível efetuar combinações para que se aumente essa área, gerando benefícios para todos os setores da sociedade e também para as futuras gerações. Sistema Econômico C Sistema Político Sistema Biológico Figura 2 – Sistemas do desenvolvimento sustentável Fonte: Moraes (2009, p. 29). Área C: Desenvolvimento Sustentável Outra solução que poderia ser explorada seria a ênfase no desenvolvimento aliado à educação ambiental. Mas, para que isso possa ocorrer, deve haver pensadores qualificados para essa questão. Jacobi (2005) afirma que os educadores devem estar cada vez mais preparados para reelaborar as informações que recebem, e dentre elas, as ambientais, para poder transmitir e decodificar para os alunos a expressão dos significados em torno do meio ambiente e da ecologia nas suas múltiplas determinações e intersecções. Nesse sentido, o papel dos educadores é muito importante para impulsionar a transformação de um processo educacional que assuma um compromisso com o desenvolvimento sustentável e também com a qualidade de vida das futuras gerações. 14 2.2 A IMPORTÂNCIA DOS RECURSOS HÍDRICOS E OS IMPACTOS AMBIENTAIS DECORRENTES DA URBANIZAÇÃO Nos debates sobre o meio ambiente, existe uma preocupação com o futuro da humanidade, em relação ao esgotamento das reservas naturais. E, sem dúvida, a água é um desses recursos naturais que são fundamentais para a sobrevivência humana. Donadio et al. (2005, p.116) destaca que: [...] a água ocupa um lugar específico entre os recursos naturais. É a substância mais abundante no planeta, embora disponível em diferentes quantidades, em diferentes lugares. Possui papel fundamental no ambiente e na vida humana, e nada a substitui, pois sem ela a vida não pode existir. Moraes (2009) explica que estimativas modernas mostram que a hidrosfera contém um imenso volume de água de cerca de 1.386 milhões de quilômetros cúbicos. Entretanto, 97,5% desse volume são de água salgada e somente 2,5% de água doce, sendo que somente 0,26% desse volume estão concentrados nos sistemas de lagos, reservatórios e rios. A partir dessa ótica, é de vital importância que se proteja essas reservas aquíferas de água doce, visto que sua oferta é mínima, se comparado com o total da hidrosfera mundial. Além da escassez, ainda há o problema da contaminação dos recursos hídricos mundiais, o que torna o problema ainda mais grave. Branco Jr. (2008) observa que, além de estar cada vez mais escassa em algumas regiões do país, a água está se convertendo em um elemento que não pode ser usado para a maioria dos usos humanos devido à contaminação causada pelo lançamento de efluentes domiciliares, industriais e hospitalares in natura nos corpos d’água. A oferta de água se apresenta como fator preponderante para que ecossistemas possam continuar existindo, além de ser recurso imprescindível para a produção de alimentos. Assim, pode-se especular o que ocorreria com a sua falta: o caos social pela falta de alimentos, o desequilíbrio ambiental e finalmente a extinção das espécies, já que a vida animal e vegetal não se desenvolve sem esse recurso. Nesse contexto, é importante considerar que o crescimento acelerado dos países tem gerado o lançamento de grandes quantidades de dejetos em rios, 15 córregos e mananciais, poluindo os recursos hídricos. As residências despejam esgoto e lixo enquanto as indústrias produtos tóxicos, o que em ambos os casos gera um desastre ecológico com a morte de peixes e outros organismos presentes na água, além de outras consequências para o meio ambiente. Para Moraes e Jordão (2002), há dois tipos de impactos exercidos pelo homem: o consumo de recursos naturais em ritmo mais acelerado do que podem ser renovados pelo sistema ecológico e a geração de produtos residuais em quantidades maiores do que podem ser integrados ao ciclo natural de nutrientes. Outra variável embutida no processo de crescimento econômico das cidades é a migração populacional de outras regiões e também da área rural, e isso traz a expansão imobiliária e a favelização de áreas de risco e, consequentemente o aumento da poluição dos recursos hídricos. Fernandes e Barbosa (2011) observam que este contingente da população que deixa a zona rural e passa a habitar os centros urbanos provavelmente vão ocupar áreas vulneráveis, como encostas que apresentam instabilidades, de leitos de rios, entre outras áreas impróprias para habitações que propiciam os desastres naturais, em muitos casos de grande magnitude. Para regulamentar a questão referente aos recursos hídricos, foi criada a Lein° 9.433 em 8 de Janeiro de 1997, que institui a Política Nacional de Recursos Hídricos, e se baseia nos seguintes fundamentos em seu artigo 1° : I – a água é um bem de domínio público; II – a água é um recurso natural limitado, dotado de valor econômico; III – em situações de escassez, o uso prioritário dos recursos hídricos é o consumo humano e a dessedentação de animais; IV – a gestão dos recursos hídricos deve sempre proporcionar o uso múltiplo das águas; V – a bacia hidrográfica é a unidade territorial para implementação da Política Nacional de Recursos Hídricos e a atuação do Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos; VI – a gestão dos recursos hídricos deve ser descentralizada e contar com a participação do Poder Público, dos usuários e das comunidades (BRASIL, 1997). A legislação brasileira que atua na classificação dos corpos d’água criou em 17 de março de 2005 a resolução que dispõe sobre a classificação dos corpos de água e também sobre as diretrizes ambientais para o seu enquadramento, bem 16 como estabelece as condições e padrões de lançamento de efluentes. Esta resolução possui uma classificação dos ambientes aquáticos superficiais em Classe Especial, Classe 1, 2, 3 e 4. A água é um bem coletivo e a sua preservação deve ser motivo de preocupação por todos os setores da sociedade, principalmente, pelo Poder Público Municipal, pois apesar das ações das Secretarias Ambientais aplicarem a Resolução do CONAMA, em muitos casos ocorre uma ineficiência no quesito fiscalização, controle e punição. É de extrema urgência e importância que o Poder Público assuma o seu papel e faça cumprir o que determina a legislação sobre os recursos hídricos, promovendo um aumento da fiscalização e também da punição para aquele que promove o dano ambiental. Além disso, a educação ambiental é de suma importância para que as novas gerações cresçam com o dever de preservar o meio ambiente. Assim, é importante que toda a sociedade assuma o seu papel e esteja empenhada nessa tarefa de preservação dos ecossistemas e dos recursos hídricos. Segundo Rebouças et al. (1999, p.40), “as ações que devem ser tomadas para que se consiga melhorar a oferta atual de água em qualidade e quantidade são, entre outras, as seguintes”: 1) Aprofundar os estudos científicos e tecnológicos sobre os recursos hídricos do país, tanto para águas superficiais como subterrâneas; 2) Desenvolver amplo programa de educação ambiental com foco centrado nos recursos hídricos e sua importância para a saúde, para o meio ambiente e para a produção; 3) Estabelecer mecanismos que permitam um aprimoramento contínuo e constante da legislação face à realidade da gestão da demanda e da oferta de recursos hídricos; 4) Aprimorar a estrutura institucional envolvida no manejo, utilização e fiscalização dos recursos hídricos; 5) Fazer com que os projetos que envolvem o manejo de recursos hídricos tais como construção de represas, saneamento básico, fornecimento de água e navegação fluvial, levem em consideração suas influências e interações com outros setores do meio ambiente e da sociedade; 6) Evitar a todo custo a contaminação das águas subterrâneas por substâncias tóxicas e metais pesados; 17 7) Estabelecer facilidades para a formação de recursos humanos na ciência e na técnica de preservação e utilização dos recursos hídricos; 8) Aumentar a cooperação internacional com instituições mais avançadas que as brasileiras com respeito ao conhecimento de hidrologia básica e aplicada. Dessa forma, pode-se afirmar que o desenvolvimento sustentável só vai ocorrer de forma efetiva se os diversos sistemas econômicos e ambientais interagirem entre si, e a partir daí, se consiga criar novas tecnologias de preservação dos recursos naturais importantes para a sobrevivência da vida na Terra. A partir dessas considerações, verifica-se em todo o planeta um aumento da degradação dos ecossistemas, causados principalmente pelo aumento populacional e pela expansão do processo produtivo, e isso traz embutida a diminuição da qualidade de vida da população mundial através da elevação de doenças relacionadas ao bem-estar, como o estresse. A Lei 6.938/81, Art. 3º, Inciso II, considera degradação da qualidade ambiental, como a alteração adversa das características do meio ambiente (BRASIL, 1981). Em seu Inciso III, entende a poluição como sendo a degradação da qualidade ambiental resultante de atividades que direta ou indiretamente: a) prejudiquem a saúde, a segurança e o bem-estar da população; b) criem condições adversas às atividades sociais e econômicas; c) afetem desfavoravelmente a biota; d) afetem as condições estéticas ou sanitárias do meio ambiente; e) lancem matérias ou energia em desacordo com os padrões ambientais estabelecidos (BRASIL, 1981). Moraes e Jordão (2002) observam que o aumento da população humana e de sua tecnologia, gerou uma diversificação dos impactos ambientais: a) produção de efluentes domésticos; b) erosão seguida de alteração da paisagem pela agricultura, pela urbanização e pelo reflorestamento; c) alteração de canais de rios e margens de lagos por meio de diques, canalização, drenagem e inundação de áreas alagáveis e dragagem para navegação; d) supercolheita de recursos biológicos; e) proliferação de agentes químicos tóxicos específicos ou não. Trabalhos da década de 50, Esteves (1950), já pregavam que “as cargas poluentes também podem alterar a temperatura da água, isto devido à presença de 18 numerosas substâncias ácidas, como sulfuretos e amoníaco, ocasionando seu aumento e incremento no consumo de oxigênio, o qual ameaça seriamente toda a vida aquática”. Para Fellenberg (1980), quando a concentração de substâncias poluentes aumenta consideravelmente, as bactérias anaeróbicas passam a contribuir para a putrefação da água, compondo substâncias orgânicas em ausência de oxigênio, como o metano (CH4), amônio (NH3), dissulfeto de carbono (CS2). Os gases resultantes do processo de putrefação são tóxicos para os seres superiores, impedindo a existência de vida animal aeróbica nessas águas. De acordo com Meybeck (1992), a qualidade do ambiente aquático pode ser determinada através de medidas quantitativas, como determinações físicas e químicas (na água, no material particulado e nos organismos) e/ou testes bioquímicos/biológicos/medidas de DBO5, testes de toxicidade ou medidas qualitativas como índices bióticos, aspectos visuais, inventários e espécies, odor, etc. O Potencial Hidrogeniônico(pH) é a medida da concentração relativa dos íons de hidrogênio numa solução, sua escala é constituída de uma série de números variando de 0 á 14, os quais denotam vários graus de acidez ou alcalinidade. Valores de pH 7 indica uma solução neutra, abaixo de 7 e próximos de 0 indicam aumento de acidez, enquanto valores de 7 a 14 indicam aumento da basicidade (BRANCOet al., 1986). Santos (2007) afirma que o nível adequado de pH para manutenção da vida no meio aquático situa-se entre 6 e 9. A concentração de sólidos totais dissolvidos e a salinidade são representadas pela condutividade, que em água naturais, podem ser encontradas faixas na ordem de 10 a 100 µS/cm (microsimens). Se amostras apresentarem índices superiores pode estar associado a práticas inadequadas, como a queima de pastos em áreas altamente declivosa, lançamento de esgotos, além da ocorrência de desmatamento no topo de morros (Santos, 2007). De acordo com Von Sperling (1996) apud Santos (2007) a turbidez define a alteração na penetração da luz em uma amostra da água, causada por partículas em suspensão, material coloidal, plâncton e outros organismos microscópicos. Entretanto, a cor da água é função tanto da presença de íons metálicos quanto de húmus e pequenas partículas, plâncton, algas e resíduos, parte dos quais pode ser removida por filtração. 19 Já a poluição traz graves consequências para os ecossistemas e também para a saúde da população. Montoro Filho et al. (1998, p.569) afirma “talvez o problema ambiental mais importante seja o problema da poluição, notadamente do ar e da água”. Em se tratando de poluição, Fogliatti et al. (2004, p.7) acredita que: [...] poluição ambiental consiste na presença, lançamento ou liberação nas águas, no ar ou no solo, de toda e qualquer matéria ou energia, com intensidade, qualidade, concentração ou com características em desacordo com os padrões de emissão e padrões de qualidade ou que tornem ou possam ornar as águas, o ar ou o solo: a) impróprios, nocivos ou ofensivos à saúde; b) inconvenientes ao bem-estar público; c) nocivos aos materiais, à fauna e à flora; d) prejudiciais à segurança, ao gozo da propriedade e às atividades normais da comunidade. Conforme Rebouças et al. (1999, p.486) “[...] “os despejos urbanos são evidentemente muito variados. Estima-se que as águas residuais contenham quantidades consideráveis de material em suspensão, metais pesados e, em determinadas épocas, cloro procedente da dispersão de sais”. Fellenberg (1980) observa que os esgotos urbanos contêm, além de detritos orgânicos, sabões e detergentes, portanto, essencialmente contém carboidratos, gorduras, material protéico, fosfato e polifosfatos. Outra fonte de poluição dos recursos hídricos são os coliformes lançados junto com dejetos. Queiroz e Berro (2011) observam que o grupo das bactérias denominado coliformes comporta todos os bacilos aeróbicos, Gram-negativos, não formadores de esporos, que, quando incubados a 35º C, fermentam a lactose, produzindo gás (CO2) em 48 horas. Já os coliformes termotolerantes são as bactérias originárias especificamente do trato intestinal. Deste modo, se for constatado a presença de bactérias coliformes em um recurso hídrico, pode-se considerar que suas águas recebem poluentes fecais, o que o torna perigoso à saúde pública. Assim, Rebouças (1999) afirma que a poluição de um ambiente aquático envolve, portanto, processos de ordem física, química e biológica. Dessa forma, os padrões de qualidade da água referem-se, a um certo número de parâmetros capazes de refletir a presença efetiva ou potencial de substâncias ou 20 microorganismos que possam comprometer a qualidade da água. Do ponto de vista da salubridade, exige-se que a água não contenha patógenos ou substâncias químicas em concentrações tóxicas, do ponto de vista estético, as exigências se refletem em aspecto físico e organoléptico que tornam a água repugnante ao consumidor. A toxicidade de uma água nem sempre depende da presença de um único componente, mas sim da interação de diferentes fatores e o despejo do esgoto nos rios e córregos das cidades traz profundas transformações para a fauna e flora ali presentes. Resende (2002, p.11) considera que: [...] esses resíduos orgânicos despejados nos corpos d’ água podem trazer sérios problemas em termos de desequilíbrio dos ecossistemas aquáticos devido ao processo de eutrofização que consiste na proliferação de algas e plantas aquáticas. Como consequência, pode haver redução da penetração de luz em profundidade, alterando o ambiente aquático. Além disso, a própria respiração e os restos de plantas e algas mortas depositados no fundo provocam a redução na disponibilidade de oxigênio, culminando com a mortandade de peixes e outros organismos. De acordo com Branco (2008, p.186): [...] a queda de oxigênio pode chegar até a sua total ausência, ocasião em que se instalam atividades fermentativas anaeróbicas, geralmente com forte exalação de maus odores, devido principalmente à redução biológica de compostos sulforosos, motivado pelo consumo das matérias orgânicas por microorganismos que deles se alimentam e que proporcionalmente, consomem oxigênio em sua respiração. A interferência do homem nos ecossistemas traz um efeito cascata, com a geração de diversos impactos ambientais e também a insustentabilidade dos recursos naturais, o que pode comprometer o futuro da humanidade. A Resolução CONAMA 001/86, Art. 1º, define impacto como sendo qualquer alteração das propriedades físicas, químicas e biológicas do meio ambiente, causada por qualquer forma de matéria ou energia resultante das atividades humanas, que, direta ou indiretamente, afetam: I – a saúde, a segurança e o bem-estar da população; II – as atividades sociais e econômicas; III – a biota; 21 IV – as condições estéticas e sanitárias do meio ambiente; V– a qualidade dos recursos ambientais (BRASIL, 1986). É importante considerar que no contexto de impacto ambiental é dada ênfase aos efeitos causados pela ação do homem na natureza, sem considerar efeitos danosos gerados por ocorrências naturais como terremotos, furacões, secas ou inundações. Assim, algumas vezes, as ações antrópicas podem não ser o fator principal no impacto, mas somente o agente acelerador do processo. Além de tudo isso, verifica-se que os recursos naturais do planeta são também afetados por ações indiretas impostas pelo homem quando modifica a paisagem natural. Os recursos hídricos, por exemplo, além de sofrerem diretamente com a poluição, são ainda impactados com a retirada da cobertura vegetal, que traz como consequência a erosão e o assoreamento entre outros fatores. As florestas ou matas que ocorrem às margens de cursos d’água são denominadas de matas ciliares e são consideradas pelo código Florestal Federal como área de preservação permanente, com diversas funções ambientais e com uma extensão específica em nascentes, de acordo com a largura dos rios, córregos e represas. No caso de cursos d’água com largura de 10 a 50 metros, deverão ser preservados 30 metros de mata ciliar (BRASIL, 1965). Com relação à devastação da cobertura vegetal, ela ocorre principalmente em virtude da expansão agrícola e pecuária e também pela expansão imobiliária, o que compromete todo o processo natural dos ecossistemas. Santos (2007) explica que alterações na estrutura de comunidades, sejam naturais, como o deslizamento em uma encosta com floresta conservada, ou seja antrópicas, como a abertura de clareiras, acarretam processos de sucessão, nos quais, dependendo do grau de alteração, comunidades podem ser substituídas ao longo do tempo. Conforme Silva (2005 apudVANZELA, 2010, p.56): [...] o efeito da cobertura do solo sobre as perdas de água e solo, pode ser explicado pela ação que a cobertura do solo tem em dissipar a energia cinética do impacto direto das gotas da chuva sobre a superfície, diminuindo a desagregação inicial das partículas de solo e, consequentemente, a concentração de sedimentos na enxurrada; além disso, representa um obstáculo mecânico ao livre escoamento superficial da água, ocasionando diminuição da velocidade e da capacidade de desagregação e transporte de sedimentos. 22 Assim, é importante considerar que a devastação da vegetação irá contribuir para a ocorrência de outros impactos ambientais como a erosão e o assoreamento. Santos (2007) afirma que a erosão é o processo pelo qual há remoção de uma massa de solo de um local e sua deposição em outros locais, como resultado da ação de forças exógenas. A erosão pode ser causada por fatores naturais, mas pode ser acelerada pelas ações do homem na natureza. Santos (2007) explica que o clima, o relevo e o solo condicionam em conjunto, o potencial natural de erosão em dado local, uma vez serem recursos naturais não controlados nem passíveis de remoção pelo homem. Já o tipo de uso, manejo e as práticas conservacionistas são considerados fatores antrópicos, que podem ser alterados tendo em vista o controle da erosão. Vanzela et al. (2010) observa que as áreas habitadas tendem a diminuir a infiltração da água no solo e a redução do escoamento artificial, visto que essas ocupações são caracterizadas pela redução da permeabilidade do solo, seja pela impermeabilização e/ou compactação no caso das áreas habitadas ou pela alteração das propriedades físicas, como a compactação nas áreas agricultadas. Dessa forma, uma expansão imobiliária sem planejamento é um fator impactante nos ecossistemas, visto que trará degradação ao meio ambiente. Já o assoreamento, Santos (2007) explica que é um processo de deposição de detritos: argila, areia e/ ou cascalho, que resulta da perda de capacidade de transporte de um fluxo pluvial, de uma corrente fluvial e ainda devido à ocorrência de movimentos de massa. Vanzela et al. (2010, p.56) afirma que: [...] as consequências desses fatores são o carreamento de grandes quantidades de solo, matéria orgânica e insumos agrícolas para o leito dos cursos d’água no período chuvoso, contribuindo significativamente com o aumento da concentração de sólidos e nutrientes na água dos mananciais. Dessa forma, a falta de conservação do solo e a retirada da vegetação nativa, que seriam a proteção natural, são fatores preponderantes para a ocorrência do assoreamento de rios e córregos. Com relação à mitigação de danos ambientais, Fogliatti et al. (2004) define “entende-se por medidas mitigadoras qualquer ação prevista para diminuir os efeitos dos impactos ambientais”. 23 Mas, para se aplicar essas medidas de recuperação, é necessário conhecer as características de cada impacto ambiental. Segundo Fogliattiet al. (2004, p.10), “[...] o impacto ambiental pode ser caracterizado quanto ao seu valor, ao espaço de sua ocorrência, ao seu tempo de ocorrência, à sua reversibilidade, a sua chance de ocorrência e quanto à sua incidência”. A Tabela 2 mostra que cada caracterização traz impactos diferenciados para o meio ambiente. Tabela 2 – Caracterização do Impacto Ambiental Caracterização Impacto Valor Positivo ou negativo Espaço Local, regional ou estratégico Tempo de ocorrência Imediato, de Médio ou Longo Prazos, Permanente ou Cíclico Reversibilidade Reversível ou Irreversível Chance de Ocorrência Determinístico ou Probabilístico Incidência Direto ou Indireto Fonte: Adaptada de Fogliattiet al., (2004) Fogliatti et al. (2004) explica que: a) quanto ao valor o impacto pode tanto ser positivo quanto negativo. O positivo acontece quando ele produz um resultado benéfico para um fator ambiental e negativo quando produz um malefício ao meio ambiente; b) quanto ao espaço, poderá ser local, regional ou estratégico. O impacto será local quando o projeto em questão afeta apenas a área em que a atividade está sendo desenvolvida. Regional quando é sentido fora do entorno do projeto e estratégico quando se expande para fora da sua área de influência; c) quanto ao tempo de ocorrência, pode ser imediato quando ocorre no instante da implantação do projeto, de médio ou longo prazos, quando ocorre depois da implantação do projeto. Pode ser ainda permanente, quando depois de iniciada a atividade que produz o efeito, este continua, ou cíclico, quando se manifesta de tempos em tempos; 24 d) quanto à reversibilidade pode ser reversível se alguma ação desenvolvida conseguir cessar o seu efeito e será irreversível quando seu efeito permanecerá ao longo do tempo; e) A chance de ocorrência pode ser determinística quando existe a certeza de ocorrência do mesmo e probabilístico quando é incerta a sua ocorrência; f) O impactoé direto quando fica limitado à zona de influência direta e indireta do projeto e indireto quando, através de agentes externos, é estendido para fora da zona de influência do empreendimento (Fogliatti et al., 2004). É importante analisar os diversos casos envolvendo a destruição do meio ambiente, visto que são diversos os fatores envolvidos nessa questão e o levantamento de impactos ambientais e as tabulações dessas informações são de primordial importância para a aplicação de métodos adequados Após essa verificação, é importante que se faça a escolha dos métodos de Avaliação dos Impactos Ambientais (AIA) para que se consiga vislumbrar qual o nível de estressamento existente no ambiente em estudo. Os principais métodos com suas vantagens e desvantagens estão especificados na Tabela 3. Tabela 3 – Métodos de Avaliação de Impactos Ambientais. MÉTODO VANTAGEM DESVANTAGEM Ad-Hoc Estimativa rápida em Avaliação de Avaliação detalhada e impacto real de Impactos Ambientais. Forma simples variáveis ambientais específicas não são e compreensiva. facilmente examinadas. Uso rápido para análise de impactos. O meio ambiente é classificado em Avaliação qualitativa para projetos compartimentos específicos. abordagem é unidirecional. (Espontâneo) Check-List São consideradas e fragmentos: a compreensivas, instigando o usuário na avaliação das consequências e das ações. Matrizes Combinação das ações humanas e Esta relação pode ser útil até certo ponto indicadores de impacto em dois eixos. . 25 Cont. da Tabela 3 Matriz de Leopold Compreensivo para comunicação do É baseado no meio físico e biológico com resultado. Cobre os fatores biológicos 67 entradas no total de 88 fatores. É e socioeconômicos. O método pode possível dupla contagem. A variável acomodar tempo não é considerada. Não distingue os dados quanti e qualitativos. Baixo custo e caráter impactos imediatos, multidisciplinar para avaliar impactos definitivos. Subjetivo. temporários e ambientais. Consideração dos mesmos É mais relativo e principalmente usado componentes ambientais noseixos em análises locais do que avaliação de horizontal e vertical.Forte poder de impacto.Análise limitada para área total Matriz de síntese indicando o relacionamento representada Interação espacial. As condições com e sem porque existe um limite para o número projeto são facilmente comparadas que podem ser vistas juntas. Forte poder de síntese indicando o Análise relacionamento representada Superposição de Mapas espacial. As pelas limitada transparências, para pelas área total transparências, condições com e sem projeto são porque existe um limite para o número facilmente que podem ser vistas juntas. comparadas. Recomendado para grandes projetos com seleção de alternativas. boas Requer muito trabalho preparatório para informações para caracterizar uma estabelecer as curvas das funções para dada situação ambiental e prever cada indicador ambiental. O conceito de impactos. qualidade ambiental é muito vago. Os Battelle resultados suprem Estimativa subjetiva é diminuída devido ao uso das técnicas Delphi. Esses diagramas foram construídos São desenvolvidos para cada projeto e para estudo sua situação ambiental são especulativos extensivo para os últimos impactos. em conteúdo, devido à grande variedade Não mostram apenas os impactos do de ambientes locais que exigem estudos projeto no ambiente, mas o efeito na extensivos na formulação de diagramas tendência ambiental. para cada situação. A exploração de não linearidade e Requer pessoal com experiência e o Modelos de ligações indiretas são possíveis pelo auxílio Simulação uso disponibilidade de dados apropriados. Diagrama de Fluxo vários de aspectos modelos do matemáticos computadores. Fonte: Adaptada de Oliveira e Medeiros, (2007). e de computador. Depende da 26 Vale salientar que a utilização da tecnologia permite o desenvolvimento de vários métodos de avaliação de impactos ambientais, sendo possível se obter resultados satisfatórios com a situação particular de cada projeto analisado, que se traduzirá numa melhoria para os ecossistemas e também na qualidade de vida da população. 2.3 A QUESTÃO AMBIENTAL E O PLANEJAMENTO URBANO A questão ambiental está intimamente ligada ao planejamento urbano dos municípios, sendo que em diversos casos, existem falhas nesse processo o que gera danos ao meio ambiente. Com a ocorrência da expansão imobiliária nas cidades, muitas residências (geralmente irregulares) contribuem para a ocorrência de impactos ambientais. Como não possuem saneamento básico, utilizam os córregos e mananciais para depositar os seus dejetos ou os despejam em fossas abertas no terreno, o que em ambos os casos traz como resultado a poluição dos recursos hídricos (Campos, 2004). Conforme o Instituto de Planejamento e Urbanização de Florianópolis (2003) apud Campos (2004) entende-se por edificação clandestina toda aquela obra executada ao arrepio da legislação urbanística, edilícia e ambiental nas três esferas de Governo, e cujas consequências imediatas são a urbanização caótica e desordenada, a degradação ambiental, a carência de infraestrutura, e a evasão de divisas dos cofres públicos, dentre outras deficiências. Para Grostein (2001) um dos principais obstáculos para alcançar o objetivo de assentamentos adequados para todos, é a falha dos mercados e governos em colocar terra e financiamento suficientes e adequados em termos de preço, tempo e lugar. Maricato (2003) afirma que a tolerância pelo Estado em relação à ocupação ilegal, pobre e predatória de áreas de proteção ambiental por parte das camadas populares, está longe de significar uma política de respeito aos carentes de moradia ou aos direitos humanos, já que a população que ali se instala não somente compromete os recursos que são fundamentais a todos os moradores, como não contam com infraestrutura básica. 27 Para o autor muitos são os fatores que determinam quando a lei é aplicada ou não, mas a principal, é quando a localização de uma terra ocupada por favelas é valorizada pelo mercado imobiliário, a lei se impõe. Dessa forma, é a lei de mercado, e não a norma jurídica, que determina o cumprimento da lei. Não é por outra razão que as áreas ambientalmente frágeis, objeto da legislação preservacionista, “sobram” para o assentamento residencial da população pobre. A partir dessa fragilidade ou não ocorrência do planejamento urbano, é importante que os municípios criem mecanismos para que se consiga implementar as metas de gestão ambiental que estão explicitadas nas legislações federal, estaduais e municipais, pois somente dessa forma, se conseguirá promover o desenvolvimento sustentável. Fogliati et al. (2004), explica que a gestão ambiental pode ser entendida como o conjunto de ações encaminhadas para obter uma máxima racionalidade no processo de decisão relativo a conservação, defesa, proteção e melhoria do Meio Ambiente. Ainda segundo Fogliati et al. (2004, p.5.): [...] os objetivos da Gestão Ambiental consistem em punir quem polui, preservar o meio ambiente com o monitoramento do mesmo e zelar pelo não esgotamento dos recursos naturais, otimizando o seu uso, atendendo às necessidades da sociedade da melhor forma possível. Verifica-se que muitas cidades não estão preparadas para uma expansão imobiliária e ao mesmo tempo não cumprem as determinações impostas por uma gestão ambiental eficiente e isso traz como consequências prejuízos materiais, humanos e ambientais. Barbisan (2009) observa que na gestão pública, quer seja devido à carência de recursos técnicos, financeiros ou até mesmo em função da falta de pressão da população, o processo de gestão ambiental não é levada em consideração na tomada de decisão sobre a implantação da maior parte dos empreendimentos. E essa ineficiência na gestão ambiental traz consequências desastrosas ao meio ambiente. São diversos os exemplos, como a ocupação desordenada nos morros cariocas, que traz inúmeros impactos negativos, como a transformação da paisagem natural do Rio de Janeiro, deslizamentos e as perdas de vidas humanas ou ainda a cidade de São Paulo que por ser o maior centro produtivo do país, atrai 28 um grande número de trabalhadores em busca de uma vida melhor que acabam tendo que morar em favelas ou debaixo de viadutos, contribuindo para a poluição e avançando sobre áreas verdes de proteção ambiental. Também a cidade de Florianópolis sofre com a expansão imobiliária e com o descumprimento da legislação ambiental. Conforme Campos (2004) a legislação urbana tem sido ineficaz em vários aspectos e a ocupação de áreas de fácil degradação ambiental tem sido comum nas cidades, que, somados à especulação imobiliária, potencializam, ainda mais, os impactos sobre o meio ambiente. Observa ainda Campos (2004), que devido ao ineficaz controle e fiscalização sobre a expansão imobiliária, percebe-se, em vários balneários da cidade, que foram desmatados morros, aterradas áreas próximas ao mar e removidas dunas, para dar lugar a loteamentos para a classe média e alta, sem que se tomasse qualquer providência, tanto pela comunidade, como pelos gestores públicos municipais. Maricato (2003) cita também o caso na Serra do Mar junto às rodovias Anchieta e Imigrantes, que ligam São Paulo à Baixada Santista. Observa a autora que a segurança da ocupação fica comprometida não apenas pela precariedade das construções, mas também pelo despejo de lixo nas encostas, pela ausência de obras de drenagem e pelo encharcamento do terreno promovido pela infiltração de esgotos provenientes das fossas individuais. Em todo esse processo existe ainda a questão política envolvida, visto que o aumento da população que vive em situações precárias depende das ações assistencialistas do Estado e contribui para a ocorrência dos chamados “currais eleitorais”. Para que se consiga aplicar uma gestão ambiental eficiente, é importante que o Poder Público consiga identificar os pontos críticos em seus municípios e criem mecanismos de gestão ambiental para a solução desses problemas. Fogliatti et al. (2004), observa para que se consiga aplicar uma gestão ambiental eficiente, é importante que se consiga implementar um conjunto de normas que poderão minimizar os impactos ambientais decorrentes do crescimento econômico. Essas normas são descritas no Plano Diretor dos municípios, e a sua implementação e fiscalização pelo Poder Público municipal se traduziria numa 29 melhoria nos processos de gestão ambiental e consequentemente, numa melhoria no padrão de vida da população. Conforme exemplificado na Figura 3, uma política ambiental eficiente deve passar pelas fases do planejamento antes de sua implementação. É importante que durante a operação desse processo, sejam efetuadas verificações e ações corretivas para se alcançar os melhores resultados. Se houver a necessidade de revisão gerencial, deve ser feita o mais rápido possível. Planejamento Política Ambiental Implementação e Operação Melhoria Contínua Verificação e Ações Corretivas Revisão Gerencial pela Administração Figura 3 – Modelo de sistema de gestão ambiental Fonte: Fogliati et al. (2004), p. 6 Com esse sistema funcionando de forma eficiente, será obtida uma melhoria contínua na gestão ambiental. E para que isso ocorra, é importante que ocorra um incremento nos investimentos públicos a nível federal, estaduais e municipais em gestão ambiental com a efetiva aplicação desses recursos. Além disso, é de suma importância que os municípios se utilizem da legislação municipal e façam cumprir as suas determinações para que se consiga mitigar e reverter impactos negativos e recuperar áreas já degradadas. Para Barbisan (2009), um sistema de gestão ambiental (SGA) deve ser visto como uma estrutura que possibilite estabelecer uma política ambiental, com o adequado planejamento para se implantarem ações e, ao mesmo tempo, permitir um monitoramento permanente. Esse monitoramento é realizado por meio de aplicações de indicadores que estabelecem as respectivas correções do sistema, atingindo seus objetivos em um processo de melhoria contínua. 30 Um dos instrumentos importantes para nortear as ações do poder público municipal com relação à Gestão Ambiental é o Plano Diretor. De acordo com Campos (2004, p.65): [...] o plano diretor é elaborado para satisfazer e conciliar as várias necessidades da população de um município, que determina áreas específicas para cada tipo de atividade combinando eficientemente as diversas funções da cidade, como circulação, habitação, meio ambiente, patrimônio histórico e outros aspectos relacionados com o desenvolvimento das cidades. O artigo 182 da Constituição Federal de 1988 especifica que é o instrumento básico da política de desenvolvimento e de expansão urbana, sendo obrigatório para cidades com mais de vinte mil habitantes (BRASIL, 1988). Dessa forma, deve existir e ser aplicado em grande parte dos municípios brasileiros. O Plano Diretor é um instrumento muito importante na gestão municipal e se for realmente colocado em prática, contribui para o desenvolvimento dos municípios sem desprezar a gestão ambiental. Mas, o que se verifica constantemente é que a aplicação das leis é negligenciada e isso traz diversas consequências negativas para os ecossistemas e para o padrão de vida da população. Campos (2004), afirma que para que se assegure o desenvolvimento do município e a integridade de seus cidadãos, é imprescindível que o Plano Diretor seja aplicado com racionalidade e precisão. Dessa forma, verifica-se que o Plano Diretor é um instrumento importante na Gestão Ambiental. Mas, para que surta o efeito desejado, o Poder Público Municipal deve fazer cumprir suas determinações e punir aqueles que o estão desrespeitando ou criar condições para que toda a população possa atender suas determinações. Com o intuito de minimizar os problemas de moradias, que é comum em todo o Brasil, o Governo Federal tem criado programas para incentivar a construção de conjuntos habitacionais, o que pode ser uma saída para que os municípios retirem famílias que estejam morando e impactando áreas ambientais. Um exemplo é o Programa Minha Casa, Minha Vida para Municípios com população de até 50.000 (cinquenta mil) habitantes, cujas diretrizes estão especificadas na Portaria nº 547 de 28 de Novembro de 2011 e tem por objetivo apoiar estados e municípios no desenvolvimento de ações integradas e articuladas 31 que facilitem o acesso à moradia digna, em áreas urbanas e estabelece os seguintes critérios para a seleção de propostas: a) propostas que contemplem realocação de famílias situadas em áreas insalubres ou de risco ou que tenham sido desabrigadas por fenômenos naturais; b) déficit habitacional acima da média da Unidade da Federação Correspondente; c) municípios em situação de calamidade pública, reconhecida por Portaria da Secretaria Nacional de Defesa Civil do Ministério da Integração Nacional; d) municípios inseridos no Programa Brasil Sem Miséria; e) municípios integrantes do Território da Cidadania e; f) atendimento à demanda habitacional decorrente do crescimento demográfico resultante do impacto de grandes empreendimentos de infraestrutura, tais como: usinas, hidrelétricas, portos, aeroportos, rodovias e outros (BRASIL, 2011). Vale salientar que pessoas que residem em áreas de risco possuem prioridade em conseguir recursos do programa, o que favorece o Poder Público, já que pode usar essa prerrogativa para remover tais moradias e colocá-las em um local apropriado e com infraestrutura básica. Como essas habitações irregulares são fonte de degradação ambiental, é de primordial importância que os diversos setores da sociedade, em especial o Poder Público municipal consigam encontrar soluções para resolver esse problema que é comum em diversas regiões do país. Aliado a isso, deve-se criar imediatamente medidas de mitigação e reversão dos impactos ambientais já presentes nos ecossistemas e a conservação dos recursos hídricos, visto que disso depende a vida no planeta. 32 3. MATERIAL E MÉTODOS 3.1 CARACTERÍSTICAS HISTÓRICAS E GEOGRÁFICAS DO MUNICÍPIO DE AMAMBAI - MS O município de Amambaí está localizado na região sul do Estado de Mato Grosso do Sul, e está inserido na microrregião de Dourados, distante 359 km de Campo Grande e próximo da fronteira com o Paraguai. Possui latitude de 23º06’15” Sul e longitude de 55°13’33” Oeste e possuindo em 2010 34.730 habitantes (IBGE, 2012), que estão distribuídos em uma área territorial de 4.202 km2, possuindo uma densidade demográfica de 8 hab./km². No que se refere aos solos do município predomina o Neossolo Quartzarênico de baixa fertilidade natural, pouco desenvolvidos, profundos e muito profundos, excessivamente drenados, mas com baixa capacidade de retenção de água, tornando esse solo desaconselhável à utilização agrícola, tem ocorrência mais significativa na porção centro-sul do município, e o latossolo vermelho-escuro álico de textura média, que são solos minerais, não hidromórficos, altamente intemperizados, profundos, bem drenados, sendo encontrados geralmente em regiões planas ou suave onduladas (Prefeitura Municipal de Amambai - PMA, 2012). Situa-se numa região de relevo levemente ondulado, com uma altitude de 480 metros. Predominam os relevos planos e dissecados com topos tabulares, predominando os “Campos de Vacaria” e “Mata de Dourados”. Os de dissecação ocupam aproximadamente 60% da área do município e a declividade máxima é de 5°. O município de Amambaí encontra-se na Região dos Planaltos AreníticoBasálticos Interiores, dividindo-se em duas unidades geomorfológicas: Divisores das Sub-Bacias Meridionais e Planalto de Dourados. O clima pode ser definido como tropical (AW) com média de 22°C. O clima do município apresenta-se úmido, com uma precipitação pluviométrica anual variando de 1.750 a 2.000 mm. Com relação aos recursos fluviais, o município possui o Rio Amambaí como principal recurso hídrico da região. Existem ainda diversos córregos que cortam sua área urbana, como por exemplo, os córregos da Lagoa, Retiro, Areião e Panduí. Está localizado em uma região estratégica, visto que está próximo do 33 Estado do Paraná, o que facilita o transporte de sua produção e também de toda a região para o porto em Paranaguá – PR. Além disso, situa-se próximo ao país do Paraguai, o que contribui para o desenvolvimento das transações com o exterior, conforme mostrado na Figura 4. Figura 4 – Localização do município de Amambaí – MS Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Amambai O povoamento de Amambai surgiu a partir da extração da erva-mate. Conforme Sobrinho (2009, p.42) “ a Companhia Mate Larangeira, necessitava de mão-de-obra para trabalhar nos ervais e incentivou a migração de sul-riograndenses e paraguaios para essas terras, além da utilização dos indígenas que já viviam na região”. Para Sobrinho (2009), a erva-mate teve grande influência também na economia e na geração de renda, visto que se tornou uma mercadoria de grande importância que se traduziu em uma grande movimentação financeira e de pessoal em toda a região. A partir desse período até sua emancipação que ocorreu em 1° de janeiro de 1949, o município teve seu desenvolvimento baseado na agricultura e pecuária. Em função disso, diversas empresas agropecuárias instalaram-se no município, entre elas, um frigorífico e um curtume, fazendo com que o gado de corte fosse abatido no próprio município, gerando assim, crescimento econômico para toda a região (PMA, 2012). 34 A partir da década de 2000, com a crise nacional pela qual passou o setor de carnes, ocorreu o fechamento dessas empresas no município, com uma mudança no cenário econômico da região, o que tem levado muitos pecuaristas a utilizarem parte de sua propriedade na cultura agrícola, principalmente de soja. Essa nova circunstância tem atraído diversas agroindústrias paranaenses como, por exemplo: a Coamo Agroindustrial Cooperativa; a Cooperativa Agroindustrial Lar; C-Vale Cooperativa Agroindustrial e; Sperafico Agroindustrial Ltda., com a transferência de trabalhadores de outros estados para o município. A partir desse crescimento, o município de Amambaí pode ser considerado como polo de desenvolvimento na região sul do estado de Mato Grosso do Sul, visto que os municípios vizinhos buscam diversos bens e serviços para satisfazer suas necessidades. 3.2. Área de estudo O objeto deste trabalho é o córrego do Retiro no município de Amambaí. A microbacia do Retiro está inserida na Bacia do Rio Amambaíque possui uma extensão aproximada de 290 km e atravessa nove municípios (Amambaí, Aral Moreira, Caarapó, Iguatemi, Itaquiraí, Juti, Laguna Caarapã, Naviraí e Ponta Porã) do Estado de Mato Groso do Sul, desde a sua nascente até a foz no Rio Paraná (SOBER, 2010). O córrego do Retiro corta os bairros Centro, Crepúsculo I, II e III, Vila Corrêa e Jardim Copacabana. A partir da Vila Vargas se encontra com o Córrego da Lagoa, que por sua vez irá desaguar no córrego Panduí que é um dos afluentes do Rio Amambaí. O Retiro possui uma extensão de 1.457,32 m sendo 907,85 m de leito natural e 549,47 m drenados em galeria com largura que varia entre um e três metros (PMA, 2012). O córrego possui grande importância para o município, tanto pelo seu recurso hídrico como pelo seu trajeto que se inicia na área central e faz parte da paisagem da cidade. O córrego Retiro possui uma área drenada, que começa nos cruzamentos entre a Avenida da República e a Rua Benjamim Constant, onde, atualmente, situa-se o Departamento Estadual de Trânsito (DETRAN) e um leito natural que inicia-se no cruzamento entre a Rua Sebastião Espíndola e a rua Benjamim Constant, onde foi construído o Parque da Cidade. 35 No Parque da Cidade o leito do córrego foi alterado e foram criadas duas lagoas, que são utilizadas para o embelezamento local e também para a criação de alguns animais, como peixes, gansos e tartarugas. Após o Parque o seu leito segue seu curso normal e irá se encontrar com o córrego da Lagoa na região da Vila Vargas. 3.3. Procedimentos Para verificar a expansão econômica e imobiliária no município de Amambaí foram levantados dados referentes ao crescimento econômico de 2002 a 2009 e a evolução populacional no período compreendido entre 1991 e 2010, conforme informações disponíveis no Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE (2012). Foram utilizados o Plano Diretor e o Código de Postura do município de Amambaí para se verificar as diretrizes ambientais que deveriam ser cumpridas para a manutenção do meio ambiente. A área é considerada de preservação permanente às margens do córrego do Retiro, descrita na Legislação Municipal e Federal e os imóveis irregulares foram diagnosticados na verificação in loco e demarcados em figuras. Os impactos ambientais no córrego do Retiro, perda da vegetação, assoreamento, erosão e o despejo de lixo e esgoto foram registrados com uma máquina digital Sony 4,7 – 18,8 mm, 14.1 mega pixels. Para a demarcação dos pontos de coleta foi utilizado o GPS Garmin com projeções UniversalTransversade Mercator (UTM), conforme apresentados naTabela 4, que representa o Fuso e UTM de cada ponto amostral: Tabela4: Pontos de amostragem do córrego do Retiro, Amambaí - MS. Pontos Fuso UTM Localização P.1 21K0680628 7444007 Parque da Cidade P.2 21K0680662 7443486 Fundos da Faculdade de AmambaiFiama P.3 21K0680822 7443072 Av. Nicolau Otano 36 As coletas de amostra de água foram realizadas em três pontos denominados como P.1, P.2 e P.3 e mostrados na figura 5. Figura 5. Pontos de coleta de água no córrego do Retiro em Amambaí – MS. Fonte Google Earth(2011) a) Ponto 1 (P.1) A região denominada como Parque da Cidade, localiza-se entre as ruas Benjamin Constant e Tiradentes, totalizando uma área de 300 metros de extensão; b) Ponto 2 (P.2) A região denominada como FIAMA localiza-se entre as ruas Tiradentes e Duque de Caxias, o que perfaz uma área de 200 metros de extensão; c) Ponto 3 (P.3) A região denominada como NICOLAU OTANO (P.3) localiza-se entre as ruas Duque de Caxias e Av. Nicolau Otano, o que resulta em uma área de 200 metros de extensão. O 1° ponto (P1) escolhido está localizado à 400 metros de distância da nascente do córrego e localiza-se à Rua Sebastião Espíndola, onde situa-se o Parque da Cidade, sendo o início do seu leito natural (figura 6). 37 Com relação ao 2° ponto (P2), este localiza-se na rua Marechal Floriano, nos fundos da Faculdade de Amambaí – FIAMA. Nesses locais, as águas possuem aspecto barrento, provavelmente, devido à ausência de mata ciliar, que proporcional a entrada de sedimento, com ausência de odores. O 3° ponto de coleta está localizado na Avenida Nicolau Otano, onde o Retiro passa ser denominado “Cabeceira da Lagoa”, sendo que nesse local, as águas são escuras e o cheiro de esgoto e dejetos é intenso. Com essa 3ª. amostra a intenção é comparar os danos ambientais do córrego do Retiro no ponto em que se forma o córrego da Lagoa. P.2 P.1 P.3 Figura 6. Pontos de coleta de água no córrego do Retiro em Amambaí – MS. P.1.Parque da Cidade; P.2. FIAMA; P.3. Nicolau Otano. Fonte: O pesquisador (2011). Os três pontos do córrego do Retiro foram monitorados entre 20 de outubro de 2010 e 17 de maio de 2012, compreendendo as estações da primavera, verão e outono com intervalo aproximado de 30 dias entre as coletas. É importante considerar que o período de chuvas no município é de dezembro a fevereiro. 38 Em cada ponto foram coletadas três amostras em recipientes de vidro e acondicionadas em caixa térmica (temperatura ≈ 4º.C), para evitar possíveis alterações até a chegada no Laboratório de Hidroquímica Ambiental da Universidade Anhanguera – Uniderp Campus Agrárias, onde foram analisadas. Coletou-se as amostrassempre no período vespertino, em horários fixos entre as 14:00às 16:00 horas da tarde e entregues no dia seguinte ao laboratório de hidroquímica da Uniderp-Anhanguera no horário entre 7:00 e 8:00 horas da manhã, para impedir a interferência da variação horária da composição do esgoto lançado no manancial na comparação entre os períodos de seca e chuva. As amostras de água foram submetidas à analise física, química e microbiológica de acordo com Standard Methods (APHA, 1998) em repetição, visando os seguintes parâmetros: cor (colorímetro), turbidez (turbidímetro), pH (pHmetro), condutividade elétrica (condutivímetro), alcalinidade, acidez, dureza total e cloretos por titulometria, oxigênio dissolvido (OD) (Oxímetro), demanda bioquímica de oxigênio (DBO) (incubação durante 5 dias à 20°C e aferição através do oxímetro), demanda química de oxigênio (DQO) (digestor de DQO/Titulometria), óleos e graxas (Gravimetria), sólidos sedimentáveis (Cone de Inhoff), sólidos totais (Gravimetria). Os dados obtidos das análises mensais foram registrados em planilhas e comparados com os parâmetrosfísicos, químicos e microbiológicos estabelecidos para águas superficiaisna Resolução 357/2005 do CONAMA (BRASIL, 2005) etambém efetuado analise comparativa entre os pontos de amostragem. Para as análises microbiológicas foram utilizados frascos de vidros esterilizados e a técnica empregada é de tubos múltiplos para determinar o Número Mais Provável (NMP) de Coliformes Totais e Termotolerantes. (APHA, 1995). Todas as analises foram executadas no Laboratório de Hidroquímica Ambiental da Universidade Anhanguera - Uniderp. Os resultados foram comparados com os limites recomendados pela resolução CONAMA 357/2005 para rios de classe 2 (CONAMA, 2005). A análise estatística multivariada foi a ferramenta empregada para interpretação da qualidade de água e, também, a discriminação dos parâmetros mais representativos, resultando em um modelo de avaliação de qualidade de água a partir da interface água influenciada pelos processos antrópicos (HAIR, 1998). Para caracterização pedológica e diagnóstico da fertilidade química dos pontos de amostragem (P1, P2 e P3) foram coletadas amostras de solo sendo 39 5amostras simples por ponto, nas profundidades 0 – 20 cm (fertilidade química) e 40 – 60 cm (classificação do solo), para formar uma amostra composta, a coleta foi realizado com um trado manual de perfuração. As amostras foram encaminhadas para o Laboratório de Análise de Solos da Universidade Anhanguera - Uniderp, para análise física e química conforme Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária EMBRAPA (1999). Para fins de classificação do solo, através dos resultados analíticos das amostras de terra em profundidade, foi classificado o solo de acordo com o Sistema Brasileiro de Classificação do Solo (EMBRAPA, 2006). Para cálculo do custo de remoção das famílias para um local adequado e com infraestrutura, foram utilizadas informações do Programa Minha Casa Minha Vida do Governo Federal e da Secretaria Municipal de Habitação do município de Amambaí. A partir de todas as informações coletadas, foi elaborado um check-list com os impactos ambientais observados no córrego do Retiro bem como medidas que podem ser utilizadas para sua recuperação. 40 4. RESULTADOS E DISCUSSÕES O crescimento do Estado de Mato Grosso do Sul, principalmente, após a divisão em 11 de outubro de 1977, gerou uma migração oriunda de vários locais para a região de Amambai, ocasionando o crescimento das cidades e a expansão urbana, com consequências negativas para o meio ambiente como a contaminação de córregos e mananciais e aceleração do desmatamento, o que deixou o solo suscetível à fenômenos como erosão e o assoreamento. Esse crescimento econômico com a degradação ambiental ocorre em diversas regiões do país, inclusive em cidades menores como é o caso de Amambaí.Segundo dados oficiais da Prefeitura Municipal de Amambaí, o município situa-se em 16° lugar no ranking estadual de arrecadação, o que serve de atrativo para implantação de novas empresas e contribui para o crescimento econômico e também para o aumento da população (PMA,2012). Esse potencial pode ser visualizado na Tabela 5, que mostra os dados econômicos do município em 2010. Tabela 5. Dados econômicos do município de Amambaí (MS) – 2010. Pecuária – Efetivo dos rebanhos 384.904 cabeças Suinocultura – Efetivo dos rebanhos 11.435 cabeças Avicultura 700.800 cabeças Mel de Abelha 27.730 kg. Produção de Leite 6.756 litros Agricultura 30 mil ha cultivados Empresas 660 pequenas e médias empresas Setor financeiro 5 agências bancárias instaladas Fonte: IBGE, PMA (2012) O município de Amambaí tem apresentado um significativo crescimento econômico a partir de 2002, o que tem ocasionado alguns fatores positivos, como por exemplo, o incremento da produção e a melhoria das condições de vida da população. Mas, esse fenômeno traz um problema embutido, que é a expansão imobiliária, com o agravamento de questões sociais e ambientais. É importante considerar que esse crescimento no município ocorre mesmo após o fechamento de 41 alguns setores industriais importantes que operavam no município em meados da década de 2000, como o frigorífico e o curtume. Dessa forma, o que tem alavancado o PIB do município tem sido principalmente, os setores de serviços e a agropecuária, conforme pode-se comprovar na Tabela 6. Tabela 6 – Evolução do crescimento econômico de Amambaí – (2002 a 2009) – (Em mil reais) 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 Agropecuária 43.908 59.407 56.703 40.749 38.684 55.354 69.603 78.415 Indústria 24.563 19.669 31.771 20.355 37.458 32.655 33.790 34.417 Serviços 89.813 122.117 120.542 131.702 153.245 179.934 191.241 205.127 Impostos 16.464 25.714 24.912 24.986 28.863 36.990 39.250 37.823 PIB 174.747 226.907 233.928 217.803 258.249 304.932 333.884 355.783 __ __ __ __ PIB per/cap. __ __ __ 10.169 Fonte: Sistematizado a partir do IBGE (Acesso em Março de 2012) Enquanto o setor industrial cresceu 40,12% no período de 2002 a 2009, o setor agropecuário cresceu 78,59% e o setor de serviços cresceu 128,39%, o que gerou um aumento no recolhimento de impostos de 129,73%. Já o crescimento econômico, traduzido pela evolução do PIB foi de 103,60% o que mostra o aquecimento dos setores econômicos no município e traz como resultado um aumento no processo migratório. A consolidação do município de Amambaí como um dos polos regionais de desenvolvimento da região sul do Estado de Mato Grosso do Sul, propiciou um fluxo migratório e consequentemente um crescimento populacional e uma expansão econômica e urbana, atraídos por um padrão de vida melhor. Tais fatores contribuíram para o surgimento de conflitos e para a ocupação de locais impróprios, como por exemplo, às margens de córregos e mananciais, o que gera diversos impactos negativos ao meio ambiente, como por exemplo, o despejo de lixo e esgoto, a derrubada da vegetação e a eliminação da vida animal presente nos recursos hídricos. Vale salientar que geralmente existe uma correlação direta entre crescimento econômico e o aumento populacional de uma região, já que os trabalhadores são atraídos pela oferta de emprego e pelas oportunidades de ganhos salariais maiores. Ao mesmo tempo, que as empresas também serão atraídas pela 42 oferta abundante de mãodeobra, com um custo menor e que irá aumentar os seus lucros. Essa expansão populacional pode ser comprovada pela Figura 7 que mostra o crescimento populacional do município de Amambai ocorrido entre 1991 e 2010. 33.426 25.951 1991 27.531 1996 34.730 29.484 2000 2007 2010 Figura 7 – Crescimento populacional do município de Amambaí – 1991-2010 Fonte: Sistematizado de IBGE.Acesso em Março/2012 Conforme verifica-se na figura 7, a população de Amambaí passou de 25.951 habitantes em 1991 para 34.730 habitantes em 2010, o que representa um aumento populacional de 33,83%. É importante ressaltar que essa evolução ocorreu também em outras cidades do estado. Na cidade de Dourados, que possui a segunda maior população e o segundo maior PIB do estado de Mato Grosso do Sul (IBGE, 2012), o crescimento populacional passou de 135.984 habitantes em 1991 para 196.035 habitantes em 2010, o que representa um aumento de 44,16% conforme mostrado na figura 8. 43 135.984 196.035 2007 2010 164.949 152.489 1991 181.869 1996 2000 Figura 8 – Crescimento populacional do município deDourados – MS,(1991-2010). Fonte: Sistematizado de IBGE.Acesso em Março/2012 Além da migração de pessoas de outras localidades, ocorre ainda nos municípios um êxodo da área rural para a área urbana, atraídos pelo crescimento econômico, o que contribui ainda mais para uma expansão urbana desproporcional e traz como consequências, a favelização e a degradação do meio ambiente. Tabela 7 – Distribuição da população residente no município de Amambaí-MS em 2010 População População Residente total População Residente - Situação Indivíduos % 34.730 100% 22.366 64,4% 12.364 35,6% Domicílios Urbanos População Residente – Situação Rural Fonte: IBGE (Acesso em Março de 2012) Conforme pode-se observar na Tabela 7, a população urbana do município de Amambaí situa-se em torno de 64,4% do total do município, enquanto a rural 35,6%, o que ainda não é um valor tão elevado, mas o fator preocupante é que essa situação tende a se agravar, visto que há uma expectativa de reabertura do frigorífico no município, além da instalação de uma usina de açúcar e álcool, o que deverá alavancar ainda mais o crescimento econômico no município. E esse 44 fator é um atrativo para que mais pessoas deixem o campo para vir buscar trabalho na cidade. A título de comparação, a cidade de Dourados, por exemplo, já possui uma taxa de urbanização de 92,33% em 2010 (IBGE,2012). A partir dessa expansão houve um aumento dos assentamentos urbanos informais e, consequentemente, da degradação ambiental na região do córrego do Retiro devido à questões ligadas à desigualdades na estrutura socioeconômica e também na falta de valorização das questões relacionadas ao meio ambiente na ocupação do espaço urbano. Grostein (2001, p.18) observa que: [...] em um território urbanizado, onde prevalecem a escassez terra adequada e acessível para o assentamento das populações baixa renda e a precariedade nas periferias em um quadro exclusão e pobreza, dificilmente poderão ser equacionados problemas ambientais, sem uma política habitacional. de de de os Segundo a Secretaria Municipal de Habitações, as moradias que estão em torno do Córrego do Retiro são irregulares e não possuem habite-se da Prefeitura Municipal, ou seja, os moradores simplesmente invadem, constroem suas casas e ficam esperando que o Poder Público possa, posteriormente, regularizar a situação concedendo o habite-se (PMA, 2012). Maricato (2003) observa que um cenário frequente da dinâmica de ocupação ilegal de área de proteção ambiental é o conflito que opõe a população, que luta para permanecer no local, apoiada por um parlamentar clientelista, insensível à questão ambiental, ou por um parlamentar democrático, perplexo, sensível a ambos os problemas, e que tem, como adversário, o Ministério Público e ONGs dedicadas à causa ambientalista. A figura 9 retrata a região da FIAMA e a região da Nicolau Otano com ocupações às margens do córrego do Retiro onde se verificou a presença de alguns resquícios de arvoredo, com a predominância de gramíneas e vegetação arbustiva. Ali acontece uma ocupação desordenada em um local inadequado, com o terreno em declividade. Os materiais utilizados nas construções são variados, sendo feitas de pedaços de madeira, alvenaria, telhas de fibrocimento e também de cerâmicas. Com relação à infraestrutura, as residências contam com o fornecimento de água e energia elétrica, o que demonstra que apesar de estarem irregulares, recebem esses serviços básicos de moradia. 45 P.2 P.3 Figura 9 – Aspectos da ocupação informal detectada durante a visita “in loco” para identificação de residências à beira do córrego do Retiro em Amambaí-MS. P.2. FIAMA; P.3. Nicolau Otano. Fonte: O pesquisador, (2012). Esse fator é explicado por Maricato (2003) que observa que em vez de planejar a remoção da população (cujo custo é bastante alto), os governos incentivam a ocupação, executando um programa de obras pontuais de iluminação pública e asfaltamento do acesso das residências para a entrada do transporte coletivo. Com relação ao saneamento básico, não existem redes de esgoto, e com isso as famílias se utilizam de buracos abertos em seus terrenos (fossas negras), o que contribui para a contaminação do curso d’água. Além disso, essa parcela da população está exposta a animais nocivos e peçonhentos que são próprios de áreas poluídas como insetos, roedores, cobras, escorpiões e outros. É importante salientar, que o uso dessas áreas é de risco, pois com chuvas intensas podem ocorrer desmoronamentos, com perdas materiais e de vidas humanas, principalmente nos pontos em que o solo está desprovido de vegetação. 4.1 IMPACTOS AMBIENTAIS NO CÓRREGO DO RETIRO Durante as visitas in loco realizadas às margens do Córrego do Retiro no município de Amambaí, foram constatados diversos impactos ambientais decorrentes da expansão urbana, os quais prejudicam o desenvolvimento sustentável no município de Amambaí e trazem riscos de vida, de saúde e também materiais (desabamento das residências) para os moradores que residem nessas áreas de risco. 46 Os impactos ambientais observados são os descritos a seguir: a) Ausência da vegetação nativa A vegetação encontrada às margens do córrego do Retiro pode ser considerada como secundária e muito modificada, sendo que em alguns locais está completamente destruída. É importante considerar que a destruição da vegetação nativa geralmente acontece quando as famílias se instalam às margens do córrego, sendo um fator preocupante, visto que as matas ciliares possuem funções na dinâmica dos ecossistemas aquáticos. Rodrigues e Filho (2004), destacam as funções da cobertura ciliar: contenção de ribanceiras, diminuição da entrada de sedimentos, sombreamento, regulação da vazão e do fluxo de corrente da água, além da influência na filtragem de substâncias que chegam ao manancial e fornecimento de matéria orgânica, alimentos para animais aquáticos e substrato de fixação para invertebrados. A regulamentação relacionada à largura mínima da mata ciliar à beira do córrego do Retiro está contida no Plano Diretor do município de Amambaí, que foi criado em Julho de 2006 e entrou em vigor no dia 2 de Janeiro de 2007. O título II – item XI especifica o seguinte: “ao longo das margens urbanas dos córregos será implantada faixa ciliar, non aedificandi, com largura mínima de 30,00 m” (PMA, 2006). No Parque da Cidade, local construído pelo Poder Público Municipal, a predominância é de gramíneas, sendo que as árvores predominantes no local são de pequeno porte, como por exemplo, a espécie Chorãozinho, com altura variando de dois a quatro metros. No trecho entre o Parque da Cidade e a FIAMA, verifica-se a ocorrência de vegetação em ambas as margens do córrego, o que é um fator positivo para o local, inclusive pela estabilização do processo erosivo nessa região. As árvores também são secundárias, de grande porte, algumas ornamentais exóticas, como mangueiras (Mangifera indica L.) e flamboyant (Delonix regia), entre outras espécies, com uma altura variando de seis a dez metros, conforme mostrado na figura 10. 47 P.1 P.2 P.3 Figura 10 – Aspectos da vegetação no córrego do Retiro detectada durante a visita “in loco” no município de Amambaí – MS. P.1.Parque da Cidade; P.2. FIAMA; P.3. Nicolau Otano. Fonte: O pesquisador,(2012). Na região da FIAMA, a vegetação arbórea foi totalmente devastada, o que gerou um impacto visual negativo, conforme observa-se na figura 10. Nesse local só existe vegetação arbustiva, com a predominância de gramíneas como invasoras, o que serve de alimentos para os animais que ali pastam. Na região pertencente à Avenida Nicolau Otano existe vegetação nos dois lados do córrego, mas como as casas estão muito próximas do seu leito, podem comprometer sua permanência. Ao sul da Av. Nicolau Otano, verifica-se que na margem direita do córrego existem somente arbustos e pastagens em decorrência da existência de sítios nesse local, que se utilizam da pecuária e que devem ser um fator impactante no local, conforme explica Carvalho (2000, p.618): [...] a criação de pastagens diminui a diversidade vegetal local e a diversidade animal, sendo que a intensidade de forrageamento compromete a manutenção e a regeneração do sistema florestal (devido ao pisoteio) de forma que a vegetação arbustiva é lentamente substituída pela herbácea (2000). 48 Verifica-se que, conforme o córrego segue o seu curso para a região sul do município, as residências vão diminuindo e automaticamente a vegetação fica mais densa, o que demonstra que existe uma correlação direta entre desmatamento e habitações às margens do córrego. A distância mínima de manutenção da vegetação, determinadas no Plano Diretor do município de Amambaí, não está sendo cumprida em nenhum ponto do córrego do Retiro. b) Assoreamento Com a ocorrência de chuvas torrenciais nos meses de outubro a fevereiro que podem chegar à 200 mm (EMBRAPA, 2011), aliado à falta de vegetação, o assoreamento é inevitável e atinge praticamente todos os pontos analisados, sendo que em alguns pontos o processo é mais intenso. Analisando-se a Figura 11, observa-se que na região do Parque da Cidade e também na região da Nicolau Otano o fenômeno do assoreamento está menos presente, devido ao fato de haver vegetação nesses locais. P.2 P.1 P;2 P.3 Figura 11 – Aspectos do assoreamento no córrego do Retiro detectado durante a visita “in loco” no município de Amambaí – MS. P.1.Parque da Cidade; P.2. FIAMA; P.3. N.Otano. Fonte: O pesquisador,(2012). 49 O impacto ambiental de assoreamento é mais intenso na região da FIAMA, onde se verifica grandes quantidades de lixo, areia, pneus e outros tipos de sedimentos no leito do córrego. Também nesse local, é onde se encontra os maiores níveis de devastação da vegetação. Carvalho (2000) observa que a falta de vegetação deixa o solo exposto e isso irá gerar uma lixiviação superficial, que leva consigo a deposição orgânica de vegetais e sua microfauna associada e à lixiviação profunda que promove uma lavagem dos nutrientes nas camadas subsequentes sendo que tais processos resultam em empobrecimento do solo e conduzem o material para áreas mais baixas, que em geral convergem para rios e lagos. É importante considerar que esse fenômeno gera a diminuição na vazão de água do córrego, o que compromete a vida animal presente nesses locais, além de promover enchentes. Assim, com relação ao fenômeno do assoreamento, verifica-se sua ocorrência em todos os pontos do córrego, sendo que nos locais em que a vegetação arbórea foi retirada o processo é mais intenso. Dessa forma, é evidente que existe uma relação direta entre assoreamento e devastação da cobertura vegetal. c) Erosão e levantamento do tipo de solo As análises de solo coletados às margens do córrego do Retiro, resultaram nos indicadores demonstrados na tabela 8: Tabela 8. Análise química e física do solo da região do córrego do Retiro ANÁLISE QUÍMICA Protocolo Amostra pH + P 1:2,5 ++ K Ca Mehlich-1 H20 CaCl2 ++ Mg Al 3+ Extração por KCl / titulometria 3 + 3+ H +Al pH SMP 3 mg/dm MO Colorimetria g/dm3 cmolc/dm 8773 1 P. Cidade 5,95 5,05 5 92 1,80 0,80 0,0 2,90 12,6 8774 2 Fiama 6,36 5,54 11 66 2,30 0,90 0,0 2,02 11,3 8775 3 N. Otano 5,50 4,59 2 105 1,70 1,20 1,0 3,26 11,2 Soma de Bases (S) Capacidade de troca Cátions efetiva (t) Capacidade de troca Cátions a pH7,0 (T) Saturação por alumínio (m) Saturação por Bases (V) Amostra cmolc/dm3 % Relações Ca/K Ca/Mg Ca+Mg/K Mg/K 8773 1 P.Cidade 2,8 2,8 5,7 0 49 7,6 2,3 11,0 3,4 8774 2 Fiama 3,4 3,4 5,4 0 62 13,7 2,6 19,0 5,3 8775 3 N. Otano 3,2 4,2 6,4 24 49 6,3 1,4 10,8 4,5 50 Continuação da tabela8 Amostra Saturações da CTC 7,0 Saturações da CTC efetiva K Ca Mg Al K Ca Mg % 8773 1 P. Cidade 4,1 31 14 0 8 63 28,2 8774 2 Fiama 3,1 43 17 0 5 68 26,7 8775 3 N. Otano 4,2 26 19 0 6 41 28,8 Fina Média Grossa ANÁLISE FÍSICA Amostra Argila Silte Areia Total g/ kg 8773 1 P. Cidade 8774 2 Fiama 8775 3 N. Otano 144 168 688 428 251 9 62 39 899 557 337 5 182 70 748 556 183 9 Para o critério classificação do solo, os resultados analíticos das amostras evidenciaram nos três pontos de coletas NeossolosQuartzarênicos apresentando textura areia no horizonte até 40 cm de profundidade a partir da superfície com base EMBRAPA (1999). Das variáveis químicas analisadas a Capacidade de Troca de Cátions (CTC) do solo e o teor de fosfato indica que a região provavelmente tenha recebido carga de resíduo de origem da construção civil, uma vez que na região em estudo não há intervenções de produção agrícola. Além do solo arenoso, ocorreu também a destruição da vegetação arbórea em grande parte do córrego, gerando a ocorrência da erosão em diversos pontos. Esse fator é preocupante, visto que diversas residências estão próximas dessas áreas, o que pode acarretar desmoronamentos e prejuízos para essas famílias, além do risco de perdas de vidas humanas. É importante observar que mesmo a região do Parque da Cidade, que é a área mais arborizada e com vegetação arbustiva ao longo do córrego, também apresenta níveis erosivos, apesar de estarem aparentemente estabilizadas, pois o solo arenoso do local facilita o processo, conforme demonstrado na Figura 12 (P.1). A Figura 12 (P.2) mostra a região da FIAMA e nela verifica-se que o processo erosivo já derrubou a cerca e avança em direção à residência, o que pode comprometer sua estrutura futuramente. É importante salientar que a vegetação 51 arbustiva nesse local é utilizada como pastagens por diversos animais, o que gera uma compactação do solo e dificulta a infiltração das águas da chuva. P.1 P.2 P.3 Figura 12 – Aspectos do processo erosivo presente no córrego do Retiro detectada durante a visita “in loco” no município de Amambaí – MS. P.1.Parque da Cidade; P.2. FIAMA; P.3. Nicolau Otano Fonte: O pesquisador,(2012). A situação é a mesma verificada no P.3, que foi efetuada na região da Nicolau Otano e comprova-se que o muro da residência está prestes a desabar devido à fragilidade do terreno. Em ambos os casos, as residências estão muito próximas ao leito do córrego (menos de 5 metros) e os prejuízos que podem ser inevitáveis, visto que em períodos de chuva os deslizamentos e desmoronamentos tendem a ocorrer em áreas desse tipo. Analisando-se as figuras apresentadas, percebe-se que o solo já perdeu sua consistência, devido à falta de vegetação e também pela manutenção de pastagens, conforme explica Carvalho (2000, p.618): “[...] o forrageamento 52 gradualmente desgastam o solo e o deixam exposto a escorrimentos superficiais da chuva ou até de erosões profundas”. Um aspecto importante a ser considerado com relação a esse impacto ambiental é que o fenômeno avança em direção às diversas casas instaladas na região da FIAMA e da Av. Nicolau Otano, o que deve servir de alerta para as autoridades competentes. Assim como o fenômeno do assoreamento, verifica-se no processo erosivo a mesma relação direta: as áreas mais devastadas com relação à vegetação arbórea, também são as mais atingidas pelo processo erosivo. O Poder Público Municipal na tentativa de conter o processo erosivo no córrego do Retiro, colocou uma barreira de pneus nas encostas, para suavizar a força da água da chuva e também conter os desmoronamentos, na região da FIAMA, conforme Figura 13. P.2 P.2 Figura 13 – Pneus para contenção da erosão implantada pelo Poder Público Municipal detectada durante a visita “in loco” no município de Amambaí – MS. P.2. FIAMA. Fonte: O pesquisador, (2012). Essa medida se mostrou ineficiente para conter o avanço do processo erosivo, visto que as enxurradas destroem a barreira e levam os pneus para dentro do córrego, aumentando ainda mais, o nível de entulhos em seu leito. É importante ainda considerar que esses pneus podem contribuir para o aumento nos casos de dengue no município. Santos (2007) alerta que o ciclo degradador provocado por desmatamentos, exposição do solo às intempéries, intensa utilização de insumos e escoamento superficial gera impactos negativos decorrentes da erosão, fato esse agravado por um difícil e custoso controle. Para minimizar tais efeitos, é necessário 53 estabelecer um sistema de conservação do solo na paisagem e da movimentação da água, em uma situação específica de cada área. Dessa, forma, a prevenção da erosão é bem mais fácil e econômica do que o seu combate e o reflorestamento é imprescindível para combater esse impacto ambiental. Para Bertoni e Neto (1990) a utilização racional de vegetações para recobrir e travar o solo é um dos princípios básicos da sua conservação. No que diz respeito ao controle da erosão segundo Curtis (1971) apud Griffith (1980), reconhece-se que o único recurso para controlar efetivamente a erosão e a sedimentação a longo prazo, é restabelecer a cobertura vegetal. d) Resíduos sólidos Outro fator impactante resultante do avanço imobiliário às margens do córrego do Retiro no município de Amambaí é a grande quantidade de resíduos sólidos encontrados em seu leito e às suas margens, que trazem graves consequências para o meio ambiente. A legislação municipal, que trata sobre esse assunto é o Código de Postura, especificado na Lei Municipal n° 1.078/1984, que em seu artigo 14 determina: “É terminantemente proibido o lançamento de lixo nos terrenos baldios, nas vias e logradouros públicos e seu depósito em quintais” (PMA, 1984). Mucelin e Bellini (2008) observam que a prática de disposição inadequada de resíduos sólidos pode provocar contaminação de corpos d’água, assoreamento, enchentes e a proliferação de vetores transmissores de doenças, além da poluição visual, mau cheiro e contaminação do ambiente. O lixo é despejado a céu aberto pela população e carregado pelas águas da chuva para o leito do córrego, o que contribui a poluição das águas. Esse impacto ambiental provoca odores e a cor escura na água, além de poluição visual nesses locais. Gouveia (2012) explica que a decomposição da matéria orgânica presente no lixo resulta na formação de um líquido de cor escura, o chorume, que pode contaminar o solo e as águas superficiais ou subterrâneas pela contaminação do lençol freático. Além disso, os locais de armazenamento e de disposição final tornam-se ambientes propícios para a proliferação de vetores e de agentes transmissores de doenças. 54 A Figura 14 (P.1) mostra a região do Parque da Cidade, que é o local mais protegido do córrego, que inclusive foi cercado pelo Poder Público e que deveria ser um fator impeditivo de despejo de lixo em suas águas. Mesmo assim, pode-se verificar a presença de papéis, sacos plásticos, latas de bebidas e outros objetos no leito do córrego, que pode estar ligado ao consumo e o descarte incorreto pelas ruas da cidade. Com isso, esses resíduos serão carregados para dentro do córrego pelas águas das chuvas, o que traz os prejuízos ambientais demonstrados. Nos fundos e ao lado da FIAMA, conforme Figura 15 (P.2) é frequente o despejo de grandes quantidades de entulhos, dejetos e lixo, o que contribui para irregularidades no terreno, mau cheiro e traz uma poluição visual para aquela paisagem. É importante considerar que não é somente a população local responsável por esse impacto ambiental, mas também o restante da população do município que utiliza indevidamente as margens do córrego do Retiro para descartar lixo e entulhos. P.2 P.1 P.3 Figura 14– Lixo presente no córrego do Retiro detectada durante a visita “in loco” no município de Amambaí – MS. P.1.Parque da Cidade; P.2. FIAMA; P.3. Nicolau Otano. Fonte: O pesquisador, (2012). Na Av. Nicolau Otano, também se encontra lixo e dejetos em grandes quantidades, principalmente no leito do córrego. Parte dos resíduos dessa região 55 vem do P.2, que devido à falta de vegetação local, são levados para dentro do córrego com as chuvas. Também se verificou que no P.3 a água nesse local é mais escura do que nas outras regiões do córrego do Retiro, que pode estar relacionado tanto ao descarte incorreto de resíduos sólidos como pela ação da Estação de Tratamento ali existente que despeja esgoto em suas águas. Dessa forma, comprova-se que todos os locais analisados do córrego do Retiro continham lixo e dejetos tanto em suas margens como em seu leito, sendo esse impacto diretamente proporcional ao nível de atividade humana em cada local. 4.1.1. Resultados das análises da água do córrego do Retiro Apresentam-se na tabela 9 as análises exploratórias dos atributos dos recursos hídricos ao longo córrego do Retiro, Amambaí, MS, com os respectivos resultados. Tabela 9 – Comparação das características Físicas, Químicas e Bacteriológicas em três pontos no córrego do Retiro em Amambaí - MS PERÍODO PONTOS DE COLETA 20/10/11 24/11/11 07/12/11 26/01/12 23/02/12 15/03/12 27/04/12 17/05/12 O. TEMPERATURA - T. C P.1. P. da Cidade 17,0 24,0 25,0 26,0 26,0 26,4 25,0 25,0 P.2. FIAMA 17,0 24,0 25,0 26,0 25,0 26,4 25,0 25,0 P.3. Nicolau Otano 18,0 25,0 26,0 26,0 25,0 26,4 25,0 25,0 p.H – Parâmetros V.M.P 6,0 – 9,0 P.1. P. da Cidade 6,5 6,5 6,7 6,3 6,2 6,5 6,65 5,0 P.2. FIAMA 7,2 6,8 6,83 8,2 6,5 5,8 6,60 5,50 P.3. Nicolau Otano 6,8 6,9 6,83 6,83 6,08 5,7 6,73 6,0 Cor - Parâmetros V.M.P.ate 75 mg Pt/L P.1. P. da Cidade > 100 30 10 30 > 100 30 > 100 10 P.2. FIAMA 30 40 20 12,5 > 100 20 > 100 15 P.3. Nicolau Otano 40 40 20 20 > 100 20 > 100 25,0 Turbidez - Parâmetros V.M.P até 100 U.N.T. P.1. P. da Cidade 24,27 10,67 8,64 16,38 20,62 11,72 11,72 7,54 P.2. FIAMA 11,7 10,77 9,5 12,37 82,2 13,3 76,40 5,15 P.3. Nicolau Otano 12,07 10,75 12,08 12,08 45,37 14,95 103,0 11,54 56 Continuação da tabela 9 Sólidos Totais V.M.P. 500 mg/L P.1. P. da Cidade 559,0 109,0 114,0 118,0 108,0 105,0 130,0 88,0 P.2. FIAMA 75,0 110,0 144,0 134,0 105,0 107,0 160,5 98,0 P.3. Nicolau Otano 141,0 106,0 211,0 211,0 105,0 107,0 95,0 88,0 Sólidos Sedimentares – V.M.P. – 0,1 mL/L P.1. P. da Cidade 1,7 0,0 0,2 0,2 0,2 0,2 0,6 0,0 P.2. FIAMA 0,1 0,0 0,2 0,2 1,0 0,2 0,5 0,0 P.3. Nicolau Otano 0,1 0,0 0,5 0,5 0,5 0,1 0,1 0,0 Condutividade elétrica µS/cm P.1. P. da Cidade 351,0 193,6 172,8 148,4 188,0 269,0 121,2 179,9 P.2. FIAMA 280,0 198,3 250,0 250,0 278,2 136,0 43,0 112,6 P.3. Nicolau Otano 244,0 203,0 238,0 176,7 301,0 273,0 166,1 199,0 Cloretos - V.M.P. 250,0 mg/L P.1. P. da Cidade 31,5 17,49 15,0 23,99 23,0 17,9 19,9 1,99 P.2. FIAMA 19,9 24,0 19,9 12,49 22,9 18,5 13,49 4,9 P.3. Nicolau Otano 19,9 29,93 9,99 9,99 8,49 32,5 32,5 1,99 Óleos e graxas - V.M.P até 50 mg/L P.1. P. da Cidade 1,8 0,91 1,0 0,7 0,87 1,0 1,4 1,1 P.2. FIAMA 0,3 0,0 1,01 0,93 0,95 0,88 1,2 0,3 P.3. Nicolau Otano 1,2 1,1 1,3 1,3 0,88 1,0 1,5 0,2 Fosfato total - V.M.P. 0,1 mg/L P.1. P. da Cidade 0,056 0,0073 0,0062 0,0073 0,0073 0,003 0,004 0,002 P.2. FIAMA 0,0015 0,0012 0,055 0,0031 0,0053 0,05 0,06 0,0003 P.3. Nicolau Otano 0,0058 0,0043 0,055 0,0077 0,063 0,147 0,0025 0,002 OD Parâmetros V.M.P ≥ 5 mg/L P.1. P. da Cidade 4,88 5,60 5,37 5,46 6,22 5,59 4,92 5,39 P.2. FIAMA 5,67 5,40 4,88 5,63 6,15 4,41 4,87 4,77 P.3. Nicolau Otano 5,67 5,93 5,17 5,17 6,08 5,41 5,36 5,15 DQO em mg/L P.1. P. da Cidade 43,8 31,5 28,7 23,5 20,15 18,5 20,0 15,33 P.2. FIAMA 19,4 23,0 13,08 25,5 15,0 16,03 25,13 25,13 P.3. Nicolau Otano 19,4 16,5 29,53 29,53 11,23 25,11 30,5 13,0 DBO Parâmetros V.M.P até 5 mg/L P.1. P. da Cidade 3,11 3,47 3,04 3,49 2,89 3,26 2,26 3,13 P.2. FIAMA 3,22 3,07 2,76 3,12 3,03 1,90 1,66 2,62 P.3. Nicolau Otano 4,07 3,26 2,82 2,82 2,68 2,69 2,78 2,07 Coliformes termotolerantes Parâmetros 1.000 N.M.P. em 100 mL P.1. P. da Cidade > 2400 > 2400 > 2400 > 2400 > 2400 > 2400 > 2400 > 2400 P.2. FIAMA > 2400 > 2400 > 2400 > 2400 > 2400 > 2400 > 2400 > 2400 P.3. Nicolau Otano > 2400 > 2400 > 2400 > 2400 > 2400 > 2400 > 2400 > 2400 57 A partir das análises físicas, químicas e microbiológicas realizadas com as amostras de água nos três pontos de amostragem no córrego do Retiro constatou-se que dos parâmetros avaliados apenas o coliformes termotolerantes ultrapassaram o valor máximo permitido (VMP > 2.400 ) pela legislação ambiental (BRASIL, 2005) para água de classe 2 em todos os períodos e pontos P.1, P.2, e P.3 de amostragem. A determinação de coliformes termotolerantes foram realizadas com o objetivo de monitorar a entrada de poluição fecal derivada de fezes humanas ou de outros animais. Visto que estas bactérias residem no intestino do homem e são eliminadas em grande quantidade nas fezes e, junto com estas, são eliminadas também as bactéria e vírus patogênicos causadores de doenças ao homem, logo, a água contaminada por poluição fecal é identificada como sendo potencialmente perigosa pela presença de coliformes (MACÊDO, 2001). Em consulta ao Instituto de Meio Ambiente de Mato Grosso do Sul (IMASUL) os ambientes aquáticos superficiais da região sul de Mato Grosso do Sul que fazem parte da bacia do Rio Paraná e que não possuem classificação devem ser enquadrados na classe 2. Com base na Resolução CONAMA no 375, de 2005 o limite coliformes termotolerantes é de 1.000 unidades formadoras de colônias em 100 mililitros em 80% (CONAMA, 2005). A temperatura manteve uma regularidade entre as amostras, com a mínima em 17º e a máxima 26,4º, com resultados iguais nas amostras do P.1 e P.2 nos meses avaliados.Pararecursos hídricos de pequenas bacias hidrográficas a radiação solar é a principal variável que controla a temperatura da água (ARCOVA et al., 1993). Foi realizado o teste estatístico de Análise da Variância (ANOVA) para a temperatura cujo resultado consta na tabela 10: Tabela 10. Teste estatístico ANOVA da temperatura da água do córrego do Retiro Fontes de Variação GL SQ QM Tratamento 2 0,583 0,292 Erro 21 178,895 8,519 F= 0,0342 (p)= 0,9669 58 A comparação entre as médias das temperaturas, nos três pontos, foi realizada através da Análise de Variância (ANOVA), de um critério considerando um nível de significância de 5% (p ≤ 0,05). Como p = 0,9669 >> 0,05, as médias podem ser consideradas iguais. Para Branco (1986), a capacidade de penetração de radiação solar em ambiente aquático depende da quantidade de material suspenso presente na massa líquida. De acordo com Branco Jr. (2008), a principal variável que controla a temperatura da água de pequenos cursos é a radiação solar. Além disso, a variação pode ser explicada pela pequena quantidade de material suspenso na massa líquida, representado pela turbidez, quanto pela falta de vegetação ripária promovendo a sombra. Para o pH todas as amostras estão dentro dos parâmetros estipulados como normas pela legislação ambiental, ou seja de 6 a 9 V.M.P., exceto para o mês de maio para nos pontos de amostragem P.1 e P.2 A média do pH entre os meses analisados e pontos de amostragem P.1 (pHmédio = 6,29); P.2 (pHmédio = 6,68) e P.3 (pHmédio = 6,48) foram semelhantes.Estatisticamente, a comparação entre as médias do pH, nos três pontos, foi realizada através da Análise de Variância (ANOVA), de um critério considerando um nível de significância de 5% (p ≤ 0,05). Como p = 0,503 >> 0,05, as médias podem ser consideradas iguais. O pH pode ser de origem natural, através da dissolução de rochas, absorção de gases da atmosfera, oxidação da matéria orgânica e fotossíntese, ou devida a ação do homem através de despejos domésticos (oxidação da matéria orgânica) e despejos industriais (VON SPERLING, 2005). A média dos valores obtidos para cor dos pontos de amostragem foram semelhantes para os pontos P.2 e P.3 e diferentes do ponto P.1 com maior média em relação aos demais pontos (Figura 15). As amostras dos meses de fevereiro e abril em todos os pontos de amostragem ultrapassaram 100 mg/PT, o que está relacionado com as chuvas que ocorreram no município nesse período. Santos (2007) observa que é um parâmetro estético e o valor limite para o consumo humano deve ser menor que 15 mg PT. 59 Figura 15- Média mensal da cor das amostras de água do córrego do Retiro em AmambaíMS no período de Outubro de 2011 a Maio de 2012 nos pontos de coleta (P.1. Parque da Cidade; P.2. FIAMA; P.3. Nicolau Otano). Estatisticamente, a comparação entre as médias da cor, nos três pontos, foi realizada através da Análise de Variância (ANOVA), de um critério considerando um nível de significância de 5% (p ≤ 0,05). Como p = 0,8886>> 0,05, as médias podem ser consideradas iguais. A cor da água é função tanto da presença de íons metálicos quanto de húmus e pequenas partículas, plâncton, algas e resíduos, parte dos quais pode ser removida por filtração (Santos, 2007). Para a média da turbidez as amostras de água nos três pontos de amostram foram semelhantes para os pontos P.2 e P.3 e diferentes do ponto P.1 com menor média em relação aos demais pontos (Figura 16). Branco Jr.(2008) observa que a turbidez na água é causada pela matéria orgânica e inorgânica em suspensão, sendo que o limite de turbidez estabelecido pela legislação vigente para corpos d’água de classe 2 é de até 100 U.N.T, o que foi excedido somente pela amostra de abril/2012 da Av. Nicolau Otano. 60 Figura 16- Média mensal da turbidez das amostras de água do córrego do Retiro em Amambaí-MS no período de Outubro de 2011 a Maio de 2012 nos pontos de coleta (P.1. Parque da Cidade; P.2. FIAMA; P.3. Nicolau Otano). Foi realizado o teste estatístico de Kruskal-Wallis com um nível de significância de 5% para a turbidez cujo resultado consta na tabela 11: Tabela 11. Teste estatístico Kruskal-Wallis da turbidez da água do córrego do Retiro Kruskal-Wallis H= Resultados 0,9458 Graus de liberdade = (p) Kruskal-Wallis = 2 0,6232 Como p(Kruskal-Wallis) = 0,6232 >>0,05, as médias podem ser consideradas iguais. A turbidez representa o grau de interferência com a passagem da luz através da água, causado por partículas em suspensão, conferindo uma aparência turva à mesma (VON SPERLING, 2005). Já a alteração da penetração da luz é provocada, por exemplo, pelo plâncton, bactérias, argilas e silte em suspensão, fontes de poluição que lançam materiais finos e outros (BRANCO, 1991). A turbidez de origem natural não traz inconvenientes sanitários diretos, porém, é esteticamente desagradável na água potável, e os sólidos em suspensão podem servir de abrigo para microorganismos patogênicos (VON SPERLING, 2005). 61 O Aumento da turbidez reduz a zona eufótica, que é a zona de luz onde a fotossíntese ainda é possível ocorrer (MACÊDO, 2001). As amostras de água dos pontos de amostragem P.1, P.2e P.3 analisadas quanto os sólidos solúveis e totais não ocorreu diferença significativa nas médias de cada variável analisada, somente a amostra P.1, no mês Outubro/2011, apresentou valores alterados para sólidos totais, ficando fora do limite de 500 mg/L V.M.P. Por outro lado, para sólidos solúveis os menos valores ocorreram nos meses de maio e novembro para os três pontos de amostragem. A comparação estatística entre as médias dos sólidos totais, nos três pontos do córrego do Retiro, foi realizada através do teste não-paramétrico de Kruskal-Wallis, de um critério considerando um nível de significância de 5% (p≤0,05), o qual obteve-se um resultado de 0,9235, o que leva-se a considerar que as médias podem ser consideradas iguais. Com relação aos Sólidos Sedimentares verificou-se que estão bem acima do normal, o que pode estar relacionado coma grande quantidade de detritos espalhados às margens e no leito do Córrego. A comparação estatística entre as médias dos Sólidos Sedimentares, nos três pontos do córrego do Retiro, foi realizada através da Análise de Variância (ANOVA), de um critério considerando um nível de significância de 5% (p≤0,05), o qual obteve-se um resultado de 0,7156, o que leva-se a considerar que as médias podem ser consideradas iguais. Todas as impurezas da água, com exceção dos gases dissolvidos, contribuem para a carga de sólidos presentes nos recursos hídricos. Sólidos podem ser classificados de acordo com seu tamanho e características químicas. Quanto ao tamanho, podem ser classificados em sedimentáveis, em suspensão, colóides e dissolvidos. Na prática, a classificação é feita separando-se os sólidos apenas em dois grupos: em suspensão e dissolvidos. Os sólidos em suspensão dividem-se em sedimentáveis e não sedimentáveis. Sólidos sedimentáveis são aqueles que se depositam quando de deixa a amostra de água em repouso durante uma hora. Quanto a caracterização química, os sólidos podem ser classificados em voláteis e fixos (BRANCO, 1991). A média das medidas de condutividade elétrica das amostras de água nos três pontos de amostram apresentaram semelhançasnos pontos P.1e P.2 e diferentes do ponto P.3 com menor média em relação aos demais pontos, (Figura 17). 62 Segundo Santos (2007), a condutividade elétrica esta relacionada com a concentração de sólidos totais dissolvidos e a salinidade que em água naturais, podem ser encontradas faixas na ordem de 10 a 100 µS/cm. Se amostras apresentarem índices superiores isso pode estar associado a práticas inadequadas, como a queima de pastos em áreas altamente declivosa, lançamento de esgotos, além da ocorrência de desmatamento no topo de morros. Com base nesses parâmetros, somente a amostra de abril/2012 da FIAMA apresentou condutividade menor que o valor máximo permitido de 100 µS/cm. Todas as demais ultrapassaram as determinações da legislação ambiental, chegando ao valor máximo de 351 µS/cm. Dessa forma, o maior número apresentado em algumas amostras pode estar associado à presença de substâncias poluentes procedentes de esgoto existente em todo o trajeto do correto, que pode estar alterando significativamente a condutividade da água. Figura 17- Gráfico representando a média mensal da condutividade elétrica das amostras de água do córrego do Retiro em Amambaí-MS no período de Outubro de 2011 a Maio de 2012 nos pontos de coleta (P.1. Parque da Cidade; P.2. FIAMA; P.3. Nicolau Otano). A comparação estatística entre as médias da condutividade elétrica, nos três pontos do córrego do Retiro, foi realizada através da Análise de Variância (ANOVA), de um critério considerando um nível de significância de 5% (p≤0,05), o qual obteve-se um resultado de 0,6719, o que leva-se a concluir que as médias podem ser consideradas iguais. 63 Para as médias das variáveis cloretos, oxigênio dissolvido, DBO, DQO e óleos e graxas obtidas das análises realizadas com as amostras de água nos três pontos de amostragem não ocorreu diferença significativa. O teor de cloretos apresentou uma variação mínima de 1,99 e máxima de 32,5 mg/L, sendo que o valor máximo permitido pela legislação ambiental é de 250 mg/L. Os Óleos e graxas tiveram valor máximo de 1,8 mg/L sendo que o valor máximo permitido é de 50 mg/L, estando normais os resultados. Todas as águas naturais, em menor ou maior escala, contêm íons resultantes da dissolução de minerais. Os cloretos são advindos de sais (ex: cloreto de sódio) (VON SPERLING, 2005). O Fosfato totalsomente na amostra da Nicolau Otano de Março/2012 resultou em um índice de 0,147 mg/LP superando o valor máximo permitido pela legislação que é de 0,1 mg/LP. O fosfato pode ter origem natural pela dissolução de compostos do solo e decomposição da matéria orgânica e pode ser de origem antropogênica causados por despejos domésticos ou industriais, presença de detergentes, excrementos de animais ou fertilizantes (VON SPERLING, 2005). O fósforo é o elemento indispensável no crescimento de algas, e quando em grandes quantidades, pode levar a um processo de eutrofização de um recurso hídrico. È também o nutriente essencial para o crescimento das bactérias responsáveis pela estabilização da matéria orgânica (MACÊDO, 2001). Para as análises de Oxigênio Dissolvido (OD) as amostras de fevereiro/2012 dos três pontos de coleta resultaram em 6,22, 6,15 e 6,08 mg/L e superaram o valor máximo permitido que é de ≥ 5 mg/L. A chuva que ocorreu nesse período pode ter influenciado nos resultados. O restante das amostras apresentaram resultados que estão próximos aos parâmetros exigidos pela legislação. Acomparação estatística entre as médias de Oxigênio Dissolvido, nos três pontos do córrego do Retiro, foi realizada através da Análise de Variância (ANOVA), de um critério considerando um nível de significância de 5% (p≤0,05), o qual obtevese um resultado de 0,5063, o que leva-se a concluir que as médias podem ser consideradas iguais. Poroutro lado, a Demanda Química de Oxigênio (DQO) apresentou os maiores resultados na amostra doParque da Cidade, sendo 43,8 mg/L em Outubro/2011 e 31,5 mg/L em Novembro/2011. Já os menores resultados foram verificados naamostra da Avenida Nicolau Otano, com 11,23 mg/L em fevereiro/12 e 64 13,0 em Maio/2012. Thebaldi (2011) observa que apesar do DQO não possuir seu valor regulamentado pela Resolução 357/2005 do CONAMA, é um parâmetro de grande importância em estudos sobre a qualidade da água; é um teste rápido que dá uma indicação do oxigênio requerido para estabilização da matéria orgânica (BRASIL, 2005). A comparação estatística entre as médias da Demanda Química de Oxigênio, nos três pontos do córrego do Retiro, foi realizada através da Análise de Variância (ANOVA), de um critério considerando um nível de significância de 5% (p≤0,05), o qual obteve-se um resultado de 0,5649, o que leva-se a concluir que as médias podem ser consideradas iguais. Os resultados de Demanda Bioquímica de Oxigênio (DBO)variaram de um valor mínimo de 1,66 ao valor máximo de 4,07 mg/L, sendo que o valor máximo permitido é de 5 mg/L, estando assim dentro dos parâmetros estabelecidos pela resolução 357/2005 do CONAMA (BRASIL, 2005). A comparação estatística entre as médias da Demanda Bioquímica de Oxigênio, nos três pontos do córrego do Retiro, foi realizada através da Análise de Variância (ANOVA), de um critério considerando um nível de significância de 5% (p≤0,05), o qual obteve-se um resultado de 0,3166, o que leva-se a concluir que as médias podem ser consideradas iguais. Com o intuito de estabelecer uma relação entre as variáveis analisadas nos três pontos de amostragem do córrego do Retiro foi utilizado o método das componentes principais, a aplicação deste método é importante para analises com um grande número de variáveis. Este método possibilita encontrar e/ou prognosticar uma propriedade de um conjunto de amostras, a qual não é diretamente mensurável, mas que se relaciona com as medidas analíticas que são obtidas. Após a análise individual dos locais de amostragem, todos os dados disponíveis foram reunidos em uma só matriz e o estudo de componentes principais respondeu com a nítida separação dos três locais. Na Figura 18 aparecem correlações significativas e positivas entre as variáveis Cor, DBO, DQO e Sólidos Totais a 79,83% da variância total dos dados, têm contribuições significativas dos elementos avaliados e estão corroborando para a baixa qualidade da água do ponto P.1. No ponto P.2 apenas a condutividade elétrica foi o parâmetro determinante para a qualidade da água e no Ponto P.3 a turbidez a 20,17% da variância total. 65 Figura 18. Analise dos Componentes principais entre as variáveis físicas e químicas dos locais de coleta (P.1. Parque da Cidade; P.2. FIAMA; P.3. Nicolau Otano) do córrego do Retiro em Amambaí-MS no período de Outubro de 2011 a Maio de 2012. Com relação aos altos níveis de coliformes termotolerantes encontrados, possivelmente se devem à destinação de esgoto pelas moradias, que não possuem condições de tratamento dos dejetos, à criação de animais nos arredores do córrego e também às falhas no sistema de captação de esgoto do município. Moraes e Jordão (2002) observam que os esgotos e excrementos humanos são causas importantes da deterioração da qualidade da água, sendo que esses efluentes contêm misturas tóxicas, como pesticidas, metais pesados, produtos industriais e uma variedade de outras substâncias, o que traz sérias consequências para a saúde humana e para o meio ambiente. O resultado obtido no Parque da Cidade foi inesperado, visto que nesse local visualmente não há fontes poluidoras e não existem moradias próximas ao córrego. Conforme informações da Empresa de Saneamento de Mato Grosso do Sul – Sanesul, nessa região pode estar ocorrendo ligações de algumas empresas e/ou residências diretamente nas galerias pluviais e não na rede de esgoto do município, o que pode ser o fator preponderante para a poluição das águas do Parque da Cidade. Observa-se na Figura 19 o cadastro da rede coletora de esgotos existentes no município de Amambaí. A área em amarelo representa o espaço 66 coberto pela rede de esgoto, o que demonstra que existe estrutura em boa parte da cidade, inclusive na região do Parque da Cidade (sinalizada em vermelho), que é o local afetado pela poluição. Figura 19.Cadastro da rede coletora de esgotosexistentes no município de Amambaí – MS. Fonte: Sanesul (2012). Dessa forma, essas ligações clandestinas estão sendo efetuadas provavelmente pelo interesse na diminuição dos gastos com a conta de água, visto que esse artifício gera uma redução de 70% (setenta por cento) nessa taxa, sendo esse o percentual que deixa de ser arrecadado pela Empresa de Saneamento de Mato Grosso do Sul – SANESUL. Já os altos níveis de coliformes fecais na região da FIAMA e da Nicolau Otano podem estar relacionados com o lançamento clandestino de esgoto e dejetos feito por algumas famílias diretamente no córrego, conforme observa-se na figura 20 (A). Morrison et al. (2001) apud Thebaldi (2011) observa que os despejos de água residuária são o maior componente da poluição aquática, contribuem para 67 aumentar a demanda de oxigênio e a carga de nutrientes de corpos d’água, causam impactos negativos ao meio ambiente e levam à desestabilização de ecossistemas aquáticos. Outro fator encontrado foi a inclusão de animais para pastar à beira do córrego pelos seus proprietários, o que irá contribuir para sua poluição, através dos dejetos carregados para o seu leito, conforme figura 20. P.2 A P.2 B P.3.C P.3.D Figura 20 – Lançamento de esgoto no córrego do Retiro detectado durante a visita “in loco” no município de Amambaí – MS. P.2. FIAMA; P.3. Nicolau Otano. Fonte: O pesquisador, (2012). Além disso, o córrego recebe esgoto das residências do restante da cidade, o que demonstra que existem falhas no sistema de esgoto municipal, sendo outro fator importante para a poluição nesse local. Existe uma Estação de Tratamento de Esgoto no P.3, que possivelmente não cumpre o seu papel, visto que o mau cheiro é muito forte nessa região. Além disso, essa água que aparentemente está sendo tratada vai ser despejada no córrego, o que resulta também no escurecimento de suas águas. 68 Com relação ao impacto ambiental de poluição das águas do córrego do Retiro, verificou-se que sua ocorrência está relacionada diretamente às habitações irregulares, às condições da atividade humana e animal e a falhas no sistema de esgoto do município de Amambaí. 4.2 NÚMERO DE RESIDÊNCIAS À BEIRA DO CÓRREGO DO RETIRO QUE DESCUMPREM A LEGISLAÇÃO AMBIENTAL MUNICIPAL Foi pesquisado o número de residências que estão inseridas no trecho do córrego do Retiro entre o Parque da Cidade e a Avenida Nicolau Otano para comparar com as diretrizes do Plano Diretor Municipal (as representações das residências estão dispostas na figura conforme sua posição em cada região). Os resultados foram os seguintes: a) Região do Parque da Cidade (P.1) No primeiro ponto analisado, entre as ruas Benjamim Constant (onde situa-se o Parque da Cidade) e a Rua Tiradentes, as casas são em sua grande maioria de alvenaria, com padrão de classe média. Foram verificadas somente duas casas na Rua Marechal Deodoro que estão bem próximas das margens do Córrego do Retiro (a menos de 30 metros). As duas casas estão demarcadas por um círculo na Figura 21, e caso não sejam removidas, é importante que sejam monitoradas pelas autoridades competentes, pois o processo erosivo está próximo ao terreno das mesmas, o que as coloca como áreas de risco. 69 ri Rua Moacir PimentelCórrego Rua Tiradentes de proteção ambiental _ _ Linha de 30 mts Rua Rio Branco Residências Rua Marechal Deodoro Rua Benjamim Constant Parque da Cidade Vegetação Rua Jose P. Machado Figura 21 – Número de residências detectadas entre as Ruas Benjamim Constant e Tiradentes durante a visita “in loco” em Amambaí-MS, 2012. É importante salientar que as demais casas dessas quadras são de estrutura de alvenaria, de classe média e não estão próximas às margens do córrego. Mas o processo erosivo apesar de aparentemente estagnado, é frequente nessa área, o que deve servir de alerta pelas autoridades competentes. b) Região da FIAMA (P.2) No segundo ponto verificado, as residências que estão inseridas na quadra entre as ruas Tiradentes e Marechal Floriano também são de alvenaria, com padrão médio de construção e cumprem a legislação ambiental, mas há ocorrência de fenômenos erosivos mais intensos que do que na região do Parque da Cidade e avançam em direção às moradias, o que pode comprometer suas estruturas e por em risco a vida dos moradores (Figura 22). 70 Rua Jose P. MachadoCórrego do Retiro Rua Padre Anchieta _ _ _ Linha de 30 mts de Proteção ambiental Rua Tiradentes Residências Rua Marechal Floriano FACULDADE FIAMA Rua Duque de Caxias Vegetação Figura 22 – Número de residências detectadas entre as Ruas Tiradentes e Duque de Caxias durante a visita “in loco” em Amambaí-MS, 2012. Arquivo do autor Já o trecho entre as ruas Marechal Floriano Duque de Caxias existem três residências, conforme círculo na Figura 22 que estão bem próximas das margens do córrego, descumprindo a legislação imposta no Plano Diretor. A outra residência que consta nessa área está afastada das margens, mas ali existe um galpão que está a menos de 30 metros do córrego, e deveria ser demolido. O padrão das casas nesse local começa a piorar, o que pode contribuir para desabamentos. c) Av. Nicolau Otano (P.3) No terceiro ponto analisado, entre a Rua Duque de Caxias e a Av. Nicolau Otano existem 17 (dezessete) casas que descumprem totalmente a distância mínima de 30 metros de afastamento do Córrego do Retiro, que está estipulado no Plano Diretor. Conforme observa-se na Figura 23 existem Dezessete casas na Rua Tijuca e 01 (uma) no final da Rua Duque de Caxias, demonstradas através do círculo. Essas residências estão praticamente às margens do córrego, descumprindo completamente as determinações do Plano Diretor. Algumas dessas casas possuem a estrutura de alvenaria com complementos de madeira, mas a 71 predominância é de casas com uma estrutura muito frágil, construídas de maneira precária e com produtos de má qualidade. Também, existem dois terrenos que possuem casas anexadas em cada um desses locais, o que leva a crer que existe mais de uma família residindo em cada terreno. Rua TijucaCórrego do Retiro __ _ _ _ linha de 30 metros Av. Nicolau Otanode proteção ambiental Residências Rua General Câmara Rua Duque de Caxias Vegetação Figura 23 – Número de residências detectadas entre a Rua Duque de Caxias e Av. Nicolau Otano durante a visita “in loco” em Amambaí-MS, 2012. Arquivo do autor Com relação ao terreno, essas habitações estão em posição declinante e bem próximos de uma ribanceira, o que pode vir a ocorrer deslizamentos de terra. A condição do terreno com a estrutura das residências é uma combinação perigosa que pode resultar em prejuízos materiais e humanos, principalmente em dias de chuva. É importante salientar que esse é o ponto mais impactado do córrego do Retiro com relação à construção de moradias irregulares que descumprem a Legislação Ambiental, o que deve servir de alerta para as autoridades competentes. A partir das informações geradas, é possível elaborar um chek-list demonstrando as ocorrências encontradas, o grau do Impacto ambiental e medidas de recuperação ambiental para o córrego do Retiro, demonstrado na Tabela 12. 72 Tabela 12. Check-list das ocorrências, grau de impacto e medidas de recuperação do córrego do Retiro em Amambaí - MS Impactos Ambientais Medidas de Recuperação Grau do Impacto Baixo Médio Perda da Vegetação Alto X a) Reflorestamento de áreas específicas b) Educação ambiental c) Retirada das habitações irregulares d) Proibição de animais à beira do córrego e) Multas ambientais Assoreamento a) Reflorestamento b) Limpeza do córrego X c) Construção de bocas de lobo em pontos estratégicos para diminuir a força das águas d) Proibição de animais à beira do córrego Erosão X a) Reflorestamento b) Construção de bocas de lobo em pontos estratégicos para diminuir a força das águas d) Proibição de animais à beira do córrego Lixo a) Limpeza do Córrego b) Retirada das famílias para local apropriado X c) Educação ambiental d) Incentivo à coleta seletiva Poluição X a) Limpeza do Córrego b) Identificação e controle de empresas e moradias poluidoras c) Multas ambientais d) Educação ambiental e) Revisão e adequação das Estações de Tratamento de Esgoto Fonte: Adaptado de Fogliatti, (2004). 73 4.3 ANÁLISE DE CUSTO PARA RETIRADA DAS FAMÍLIAS Verifica-se dessa forma que os impactos ambientais decorrentes da expansão urbana são diversos e a sociedade deve buscar medidas de recuperação do córrego. Mas, é importante frisar que o primeiro passo para a efetivação desse processo, seria a remoção dessas famílias para um local apropriado e com infraestrutura básica. Para se efetuar o cálculo do custo de remoção dessas famílias, foi utilizado como base a Portaria n. 547 de 29 de Novembro de 2011 que regula o Projeto Minha Casa Minha Vida (PMCMV), onde o governo federal repassa o valor de R$ 25.000,00 (Vinte e Cinco Mil Reais) para que os municípios construam casas populares e retirem pessoas que morem em situação precária. Segundo a Secretaria Municipal de Habitação de Amambaí, o município recebe o repasse do Governo Federal e entra com uma contrapartida de aproximadamente R$ 5.000,00 (Cinco Mil Reais) para criar a infraestrutura necessária para as novas residências, perfazendo assim, um valor aproximado de R$ 30.000,00 (Trinta Mil Reais) por habitação construída. Com relação ao terreno, a Prefeitura Municipal fica responsável pelo repasse para a construção dos conjuntos habitacionais. É importante considerar que as despesas com instalação de água encanada e energia elétrica correm por conta do beneficiário, sendo que o mesmo pode se valer da tarifa social e também de parcelamentos junto aos órgãos competentes. Conforme dados da Secretaria de Estado de Habitação das Cidades SEHAC, essas casas possuem área útil mínima de 36 m2, com piso cerâmico em toda a unidade com rodapé. O forro é colocado em todos os cômodos e o revestimento de azulejo é assentado com altura de 1,5 no banheiro, na cozinha e na área de serviço. 74 Figura 24 – Planta Baixa da casa padrão do Projeto PMCMV. Fonte: SEHAC (2012). As casas populares do PMCMV possuem a seguinte estrutura: Quarto de casal com 8,15 m2, Quarto de Solteiro com 7,38 m2, Sala/Cozinha com 15,40 m2 e o banheiro com 3,23m2, além de uma área de serviço conforme mostrado na Figura 24. A entrada é pela lateral da casa.Ficam à vista 2 janelas, sendo que a do quarto do casal possui 1,50 m de largura por 1,00 m de altura e a janela da sala possui 2,0 m de largura por 1,0 m de altura. É importante que as residências possuam um aspecto convidativo e agradável, pois isso, pode ser um fator preponderante para que as pessoas aceitem deixar suas casas à beira do córrego do Retiro para residirem em um conjunto habitacional. O levantamento “in loco” efetuado às margens do Córrego do Retiro diagnosticou 22 casas que descumprem a legislação ambiental (Tabela 13) e que estão em situação precária, com riscos para essas famílias. 75 Tabela 13. Local e número de residências em situação irregular Localização Número de residências Região do Parque da Cidade 2 residências Região da FIAMA 3 residências Região da Av. Nicolau Otano 17 residências Total de residências 22 residências Fonte: O pesquisador, (2012) Com base, nesse levantamento, o custo para removê-las baseado no Programa Minha Casa, Minha Vida é mostrado na Tabela 14: Tabela 14 – Custo para remoção das habitações à beira do córrego do Retiro Especificação Custo por Unidade Custo Total p/ 22 casas Repasse PMCMV R$ 25.000,00 R$ 550.000,00 Repasse prefeitura R$ 5.000,00 R$ 110.000,00 Custo total R$ 30.000,00 R$ 660.000,00 Fonte: SEHAC (2012) Dessa forma, verifica-se um custo de R$ 660.000,00 (Seiscentos e Sessenta Mil Reais) para que se possa remover as vinte e duas famílias da beira do córrego do Retiro e levá-las para um conjunto habitacional com infraestrutura básica, o que é um valor relativamente baixo, se comparados com os benefícios que poderão ser usufruídos posteriormente, como mais segurança e melhores condições ambientais para o Município. De qualquer forma, a não retirada das famílias do local pode gerar um custo financeiro bem maior para o município e para toda a sociedade, já que os riscos de desabamentos e desmoronamentos são reais. Além disso, essa medida 76 resultaria em uma redução dos gastos com saúde, visto que há uma tendência de diminuição de contaminações diretas ou indiretas pelas águas do córrego do Retiro. Outra medida importante a ser adota seria a demolição imediata das casas construídas irregularmente, para evitar novas invasões e a reintrodução da vegetação para que ocorra a estabilização do terreno. As transferências de famílias que residem em áreas de risco ou de proteção ambiental estão previstas no título VIII do Plano Diretor do município de Amambaí, previsto no artigo 16 – item IV: “reassentamento urbano das famílias de baixa renda do município em situação habitacional de irregularidade ou de risco”. Mas, para que uma medida dessa natureza seja implantada é necessário que o poder público crie um projeto socioeducativo que contemple todas as etapas de transferência dessas famílias, desde o estágio preparatório até ao processo já concluído, para que essa comunidade tenha plena consciência das vantagens que terão. Gonçalves (2010) observa que é importante a ação de um Projeto de Participação Comunitária, para assegurar a ampla participação, acesso às informações que precisam ser claras e definidas, garantindo a democracia do processo, tornando as discussões mais ricas, educativas e produtivas, com a população exercendo o controle e o monitoramento do programa. É importante que essa ação tenha todo um processo delineado previamente e a população envolvida participe, para que não se sintam lesadas ou pensem que estejam sendo retirada a força de seus locais de moradia, mas sim que tenham consciência que a medida possui a finalidade de proteger sua integridade e melhorar suas condições de vida. 77 5. CONCLUSÃO E CONSIDERAÇÕES FINAIS O município de Amambaí destaca-se como um polo importante de desenvolvimento na região sul do Estado de Mato Grosso do Sul. Mas, esse fator positivo traz como consequência um aumento populacional e a expansão das moradias irregulares. Esse fator atinge principalmente a população mais pobre, que se instala em locais inapropriados e com isso, geram graves problemas ambientais, como por exemplo, erosões, deslizamentos, poluição da água e a diminuição da cobertura vegetal. Geralmente as habitações são construídas de forma precária e irregular, pois estão localizadas em terrenos de propriedade alheia ou pública, ocupados de forma desordenada e densa, carente de serviços públicos essenciais, inclusive em áreas de risco ou legalmente protegidas. O estudo sintetizado neste trabalho representou um primeiro passo para a criação de um conjunto de informações com abrangência municipal, que propicie um diagnóstico da precariedade urbana e habitacional com os impactos ambientais dela inerentes. Um fato importante a considerar é que as águas do Parque da Cidade estão com nível de poluição acima do normal. Dessa forma, é importante que o Poder Público busque as causas do alto nível de coliformes termotolerantes nesse local, visto que visualmente não há despejo de esgoto das residências no córrego, o que se leva a crer que algumas empresas devem ligar seus esgotos nas galerias de águas pluviais. Outro ponto importante com relação a essa região há um fator positivo que é a ocorrência de vegetação, porém a erosão (apesar de aparentemente estagnada) e o assoreamento estão presentes ali e acompanham todo o leito do córrego. As residências são de boa estrutura e não estão próximas ao leito do córrego, mas para se evitar prejuízos, é de primordial importância que se busque medidas de revitalização do córrego. Assim, no ponto P.1, as ações devem se concentrar na limpeza e contenção do assoreamento e da erosão, replantio de áreas com pouca vegetação e a contenção imediata de esgoto clandestino nas águas do córrego. Também foi verificado que o Poder Público já cercou as entradas para o córrego e colocou 78 placas de advertência, o que são medidas importantes para a redução do trânsito de pessoas e também para a retirada de vegetação. Além disso, é necessário um projeto de educação ambiental, para a conscientização da população que reside nesse local, visto que, foi verificada a existência de algumas casas que despejam dejetos diretamente no córrego. A presença de lixo só poderá ser limitada a partir de um programa intensivo com palestras e atividades que envolvam todas as faixas etárias com o apoio do sistema educacional do município. Os pontos P.2 e P.3, são os locais mais impactado do leito do córrego, com devastação da cobertura vegetal, erosão avançada, assoreamento, lixo e poluição das águas. Nesse local foram verificadas 20 (vinte) residências, algumas em situação precária que descumprem a legislação ambiental, pois estão praticamente às margens do córrego, o que compromete a qualidade de vida dessas famílias, além de trazer riscos materiais e de vidas humanas. Além disso, essas residências poluem o córrego diretamente através do despejo direto de lixo e dejetos no leito do córrego, além de construção de fossas que também poluem o lençol freático. Também existe nesse local uma Estação de Tratamento de Esgotos que aparentemente não está cumprindo a sua função e está impactando o córrego do Retiro com o despejo de esgoto não tratado, fator que deve ser revisto imediatamente. Um ponto importante a considerar é que a implantação de medidas para a recuperação do córrego do Retiro devem se voltar para a retirada do lixo e dejetos em seu leito, reflorestamento de áreas devastadas, contenção da erosão e do assoreamento, além da imediata contenção de despejo de esgoto no córrego. Tais medidas de revitalização somente trarão resultados a partir da retirada dessas famílias para um local apropriado e da destruição dessas moradias irregulares. Como o custo de remoção das famílias desse trecho é de R$ 660.000,00 (seiscentos e sessenta mil reais), verifica-se que existe uma viabilidade econômica, principalmente pela valorização que ocorreria nos bairros cortados pelo córrego e pela melhoria no padrão de vida dessa população. Além disso, toda a população do município de Amambaí seria beneficiada pela ampliação de ambientes com recursos naturais preservados e pela reversão dos aspectos poluidores. Outra questão importante é que esse custo financeiro para retirada das habitações não é um valor elevado se o Poder Público Municipal levar em 79 consideração que o local das moradias é de alto risco para as famílias, e se não forem adotadas medidas urgentes, as chuvas podem gerar prejuízos materiais e também de vidas humanas. Além disso, essas populações convivem com um mau cheiro muito forte, além da proximidade com a água contaminada, o que pode ocasionar despesas com saúde. A partir de uma recuperação ambiental proposta do córrego do Retiro, o Poder Público poderia criar mecanismos de valorização da área, com a construção de parques lineares de lazer, pistas de caminhadas e academias ao ar livre para que a população possa desfrutar de mais um local para a prática de atividades físicas e de lazer. A partir dessa ótica, essa área verde poderia ser utilizada como fonte de renda para o município, visto que a manutenção e preservação de áreas ambientais são vistas como atividades de fácil acesso a financiamentos que são a base para o desenvolvimento sustentável das cidades. . A eficácia de uma política de recuperação ambiental e também de sua manutenção, só poderá obter sucesso se for considerada e tratada com seriedade, com a implantação de uma fiscalização constante em parceria com a própria população. Além disso, é de primordial importância que ocorram investimentos em programas preventivos e educativos, visto que o desenvolvimento de uma consciência ambiental tende a trazer resultados mais eficientes do que simplesmente a implantação de medidas punitivas. Torna-se oportuno que Amambaí, como uma cidade que busca os rumos do crescimento econômico, tenha o seu norte voltado para o desenvolvimento sustentável, com uma correlação direta entre a expansão dos indicadores econômicos com os sociais. Mas é importante salientar que essa expansão não pode ser às custas da degradação ambiental, visto que apesar da Constituição assegurar o direito à moradia, também assegura a manutenção e preservação do meio ambiente, fator esse preponderante para a manutenção da vida no planeta. 80 6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS APHA - American Public Health Association. Standard methods for examination of water and wastewater. 20th ed. Washington: EPS Group, 1998. ANDRADE, R. O. 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