RACIOCÍNIO LÓGICO, CONCEITOS E ESTABELECIMENTO DE PARÂMETROS PARA A APRENDIZAGEM MATEMÁTICA Poliana Alves de Oliveira – Acadêmico de Matemática da FACITEC Andréia Júlio de Oliveira Rocha - MSc. em Ensino de Ciências Naturais e Matemática – FACITEC Resumo Este artigo tem por objetivo trabalhar o significado do Raciocínio Lógico, buscando construir conceitos que auxiliem no entendimento de seu significado tanto cognitivo como pedagógico na área de matemática. Queremos aqui mostrar as relações existentes entre a lógica, a matemática e o raciocinar, estas juntas estabelecem conexões que auxiliam na estruturação do pensamento, e ainda, oferecem subsídios pedagógicos para buscar as relações existentes nos temas do currículo do Ensino Fundamental abordados nos PCN’s e o Raciocínio Lógico, mostrando que esta última é uma ferramenta importante para que o processo de aprendizagem ocorra de forma satisfatória. Palavras-chave: Raciocínio Lógico, matemática, temas PCN’s, aprendizagem. Reestruturando e estabelecendo as conexões dos conceitos Para o trabalho com o Raciocínio Lógico há que se falar em um primeiro momento da dissociação de palavras, isto é, o raciocínio e a lógica devem ser vistos cada qual em seu conceito. Temos então que, o raciocinar significa fazer inferências, não vamos tratar aqui dos aspectos biológicos do pensar, pois envolve questões anatômicas e neurológicas que estão fora do plano aqui proposto, queremos tratar dos aspectos cognitivos ligados a psicologia, sociologia e a pedagogia. A inferência considerada consiste em manipular as informações, fazendo conexões com informações já pré-existentes e novos recebidas, é estruturar a ordem dos pensamentos criando linhas de informações hierarquizando e fazendo análises que apresentam resultados concebidas como informações novas (Mortari, 2001). Podemos ainda fazer uma breve busca de como se deu a criação do objeto de estudo raciocínio ao longo da história, de imediato afirmamos que questões culturais sempre foram preponderantes para o surgimento e aperfeiçoamento do conhecimento e sua formalização quanto teoria ou prática, assim o ato de raciocinar veio da ‘evolução’ do ato de pensar, este último sugerido e trabalhado por René Descartes, filósofo do século XVII onde a época é vista como o início da Filosofia Moderna, marcada pela ruptura das explicações divinas para a busca da origem do conhecimento de forma a questionar e buscar verdades pelo pensar, idéias que influenciaram posteriormente o Iluminismo, dono da frase “penso, logo existo”, onde pensar é o processo mental que modula o mundo e as informações contidas nele inclusive sentimentos próprios, “Sou uma coisa que pensa, isto é, que duvida, que afirma, que ignora muitas, que ama, que odeia, que quer e não quer, que também imagina e que sente" (Descartes, 1996). Resumindo o conceito anterior, dizemos que raciocinar é pensar logicamente, o que nos remete a um outro conceito, o da lógica. “Lógica é a ciência que estuda princípios e métodos de inferência, tendo o objetivo principal de determinar em que condições certas coisas se seguem (são consequência), ou não, de outras.” (Mortari, 2001) (...) a lógica é a disciplina que trata das formas de pensamento, da linguagem descritiva do pensamento, das leis da argumentação e raciocínios corretos, dos métodos e dos princípios que regem o pensamento humano. Portanto, não se trata somente de uma arte, mas também de uma ciência. É uma ciência porque possui um objeto definido: as formas de pensamento. (Bastos et. al., 1991) “O estudo da lógica é o estudo dos métodos e princípios usados, para distinguir o raciocínio correto do incorreto.” (Copi, 1978) Fazer uma busca pelo estudo da lógica requer um alto nível de pesquisa e referencias sobre o pensamento humano, já que a ciência e a forma mental estão ligadas por dependências de forma e técnica. Podemos resumidamente dividir a Lógica em três principais fases que caracterizam a ‘evolução’ de sua forma, são elas: 1. Forma clássica antiga ou lógica grega antiga: destacando a lógica aristotélica por silogismos, com uso de linguagens usuais porém há a preocupação para a sistematização do pensamento, seja na forma de leis ou regras; 2. Forma Escolástica ou Medieval: marcada pela influência religiosa,foi um pensar impregnado de dogmas e influências, ainda sim, alguns filósofos procuraram criar um relação entre a forma e a sintaxe, dando um caráter mais formal a lógica; 3. Forma Matemática: surgiu no Renascimento, da idéia de uma lógica não acabada, mas sim necessitada de complementação, daí a matemática asumiu papel norteador das pesquisas, já que a matemática também como ciência possue preocupação na formalização da linguagem e dos métodos. Tratamos aqui de uma lógica voltada ao conhecimento, dotada de uma personalidade científica e formal, queremos argumentar uma extrapolação de conceitos já formados pelas pessoas, de que a lógica é uma forma de pensar, vai além, é uma técnica vinculada ao raciocínio e que possue propriedades que auxiliam na metodologia de diversas áreas, principalmente na matemática, buscando formular verdades, ou ainda, construir o conhecimento para que ele se torne verdadeiro para os indivíduos e indiretamente eleve os níveis cognitivos das pessoas quando expostas situações-problemas de qualquer tipo. Vamos novamente juntar as palavras, podemos dizer que o raciocínio lógico surgiu concomitantemente com o nascimento da matemática, daí a necessidade de mostrar primeiro a formação da matemática no mundo. Segundo o dicionário, matemática é a “ciência que estuda objetos abstratos(números, figuras, funções) e as relações existentes entre ele, procedendo por método dedutivo” (Houaiss, 2001) ou ainda, “Ciência que investiga relações entre entidades definidas abstrata e logicamente.” (Aurélio, 2009), percebemos que, segundo estes conceitos, a matemática tem por objetivo buscar mediar as relações existentes entre o mundo e suas possíveis explicações, seria dar forma e conceitos aos objetos, evidenciando que os objetos a serem tratados nem sempre estão em um campo visual ou material, usa-se os objetos abstratos, aqueles formados socialmente e culturalmente, como sistemas de contagem e numeração. E ainda, a formulação matemática depende de elaborações cognitivas, seria raciocinar, que é o pensar logicamente, como anteriormente explicitado. Para melhor fundamentar nossos conceitos, resgatamos a origem da matemática a fim de mostrar como o pensar lógico e a matemática sempre estiveram minimamente ligadas, mesmo que tenham sido formuladas de modo separado e tenham se constituído como ciências de forma independente, afirmamos então que a matemática estabelece laços fortes com a lógica a partir do princípio da argumentação com base em critérios formulados e analisados pelo ser humano, deixando de ser subjetivo, mesmo que use a dedução como premissa para algumas formulações, passando a ter caráter argumentativo de forma organizada, seja por símbolos ou pela técnica como os algoritmos. Em certa época pensou-se que a matemática se ocupava do mundo que nossos sentidos percebessem, e foi somente no século dezenove que a matemática pura se libertou das limitações sugeridas por observações da natureza. É claro que a matemática originalmente surgiu como parte da vida diária do homem, e se há validade no princípio biológico da “sobrevivência do mais apto” a persistência da raça humana provavelmente tem relação com o desenvolvimento no homem de conceitos matemáticos. A princípio as noções primitivas de número, grandeza e forma podiam estar relacionadas com contrastes mais do que com semelhanças. (...)Gradualmente deve ter surgido, da massa de experiências caóticas, a realização de que há analogias: e dessa percepção de semelhanças em números e forma nasceram a ciência e a matemática. (Boyer, 1991) A lógica não procura dizer como as pessoas raciocinam (mesmo porque elas “raciocinam errado” muitas vezes), mas se interessa primeiramente pela questão de se aquelas coisas que sabemos ou em que acreditamos – o ponto de partida do processo – de fato constituem uma boa razão para aceitar a conclusão alcançada, isto é, se a conclusão é uma consequência daquilo que sabemos. Ou, em outras palavras, se a conclusão está adequadamente justificada em vista da informação disponível, se a conclusão pode ser afirmada a partir de informação que se tem. (Mortari, 2001) Construção do conceito de Raciocínio Lógico Tendo os conceitos anteriormente trabalhados como referência, podemos definir o Raciocínio Lógico de acordo com certos parâmetros, são eles: abstração, compreensão (interpretação), o número e suas relações, argumentação com base em critérios e em princípios logicamente validados e a expressão de idéias de forma lógica e organizada. Quando apresentado qualquer tipo de situação-problema em um ambiente de aprendizagem, faz se necessário para a obtenção do resultado esperado o esforço do para a abstração do que se pede e seu conteúdo, isto é, quando procuramos repostas primeiro precisamos levar o assunto tratado do aspecto teórico do papel para um nível mental, seria transpor os signos para uma esfera interna do pensar, Piaget fala deste fenômeno, denominado-o de abstração construtivista, mostrando que certos processos como o comparar, buscar diferenças ou quantificar não tem existência na realidade externa, são ações internas e próprias de cada indivíduo. A fase de compreender está ligada ao entender, saber extrair e classificar as informações em grupos ou subgrupos obtendo as informações necessárias à resolução do problema. O processo de interpretação envolve o conhecimento de signos e conteúdos e ainda, ultrapassando o campo lógico-matemático, apresenta domínio de leitura, percepção de detalhes e ordem de apresentação das informações, essas características devem ser trabalhadas desde a infância dos indivíduos através de diálogos, interação social e apresentação de diferentes informações. Como estamos tratando do raciocínio lógico na matemática, temos que após o aluno abstrair para ter uma interpretação das informações, o próximo passo é buscar as relações existentes entre o que foi apresentado e os conhecimentos adquiridos, no caso o número e suas relações, sejam elas geométricas, algébricas ou de tratamento das informações, para isso é necessário uma boa base teórica de matemática, firmada na interação do aluno com a aprendizagem, isto é, a matemática é trabalhada na vida dos indivíduos em um primeiro momento de forma empírica, o sócio-interacionismo de Piaget afirma que: o conhecimento lógico matemático, incluindo o numero e aritmética, é construído ou “criado” por cada criança de dentro para fora, na interação com o ambiente, ou seja, o conhecimento lógico matemático não é adquirido diretamente do ambiente por internalização, é necessária a interação para que a criança construa internamente este conceito. (Kunast et. al., 2006, APUD Piaget, 1970) Depois de forma sistematizada na escola as informações e experiências são guiadas pelo formalismo científico e experiências direcionadas para a aprendizagem matemática. A argumentação envolve a discussão do raciocínio, são as avaliações e testagem do pensamento, quando argumentamos procuramos buscar respostas que sejam verdadeiras e que validem nossa forma de pensar. Tendo como base informações e argumentos pré-validados, pois partimos de uma verdade para a sua generalização. É importante ressaltar que critérios e princípios lógicos são usados para que nosso argumento tenha maior aceitação e aprovação, destacamos não só o pensar mas o pensar racionalmente, valendo-se da razão matemática e lógica. Queremos ainda mostrar que todos os parâmetros acima citados precisam ser apresentados de forma argumentativa, e ainda, precisam ser apresentados, expostos de tal forma que todos que recebam a informação compreendam as linhas de raciocínio, para isso faz se necessário a expressão de idéias de forma lógica e organizada. Para isso uitiliza-se a matemática e a lógica no sentido organizacional e representativo dos signos como também na clareza e sequência organizada dos pensamentos. “Pensar e argumentar logicamente é indispensável para dar sentido ao pensamento.” (Rauber et al., 2003) Resumindo, podemos verificar a construção do conceito acima trabalhado no gráfico abaixo: Raciocínio lógico na aprendizagem matemática Os PCN’s afirmam que a matemática tem como uma de suas características o rigor lógico, e ainda, a matemática proporciona o desenvolvimento do raciocínio lógico e de capacidades como observação, comunicação, argumentação e validação de processos, estimulando as diversas formas de raciocínio. Queremos mostrar que a aprendizagem matemática, seja no tratamento de informações, estudo dos números e das operações, estudo das grandezas e das medidas ou no estudo do espaço e das formas, tem como um dos denominadores comum o raciocínio lógico, a proposta é que este recurso seja usado como uma metodologia intrínsica da técnica utilizada pelo professor, pois oferece um complexo esforço mental que proporciona além do estímulo ao pensar também mostra resultados na aprendizagem de conteúdos, pois são ferramentas que auxiliam na solução e reflexão de problemas e na construção de indivíduos críticos que intervêem em suas realidades ativamente. A seguir alguns autores serão citados para que a prática porposta seja justificada: “O aprendizado da lógica auxilia os estudantes no raciocínio, na compreensão de conceitos básicos, na verificação formal de programas e melhor os prepara para o entendimento do conteúdo de tópicos mais avançados.” (Abar, 2006) “A aprendizagem lógica faz com que o pensamento proceda coretamente a fim de chegar a conhecimentos verdadeiros.” (Scolari et al., 2007) Da mesma forma que na leitura ou escrita, o raciocínio lógico na resolução de problemas matemáticos é um fator de extrema importância. É fundamental que os alunos compreendam e raciocinem sobre o que está sendo proposto e não somente decorem e apliquem fórmulas. (Scolari et. al., 2007) Considerações finais O presente trabalhado teve por objetivo fazer um ensaio de conceitos, remontando assim os significados, utilizamos as palavras porém não sabemos definir claramente sua essência, por mais que tentemos tratar as ciências como a matemática e a lógica separadamente não conseguimos, pois estão intimamente ligadas por sua origem e tem como fator de ligação o pensar (raciocínio) está intrínseco a prática de ambas. Saber trabalhar os conteúdos de matemática, tendo o raciocínio lógico como ferramenta, faz com que a aprendizagem seja elaborada em parâmetros cognitivos que trabalham os aspectos superiores da mente e do aprender. Cabe ao professor em sua prática reelaborar os conteúdos a fim de acrescentar como princípio norteador da técnica o raciocínio lógico, para isso vale-se de diferentes recursos como as Tecnologias da Informação e da Comunicação (TIC) (Scolari et. al., 2007), ou com material concreto (Kunast et. al., 2006). 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