A AVENTURA MODERNISTA NA ESCOLA DE CATAGUASES Alex Carvalho Brino Arquiteto e Mestre em Teoria História e Crítica pela UFRGS, Prof. E Coord. Escritório Modelo de Arquitetura e Urbanismo da UNIVATES Prof. E Coord. Do Trabalho Final de Graduação da UNISC Ramonika Ode Brino Arquiteta formada pelo Centro Universitário UNIRITTER 1 CATS 2012 – Congresso de Arquitetura, Turismo e Sustentabilidade Resumo O presente trabalho faz uma breve contextualização histórica do período antecessor a construção, na cidade de Cataguases, da Academia para Meninos de Cataguases, projetado por Oscar Niemeyer na década de quarenta e também aborda questões relacionadas com a própria academia. Neste ponto são tratados especificamente a relação da obra com o lugar, sendo este entendido como lugar geográfico e lugar temporal. Deste diálogo entre estas duas visões sobre o lugar, surge um tensão interna ao projeto. Palavras Chaves: Arquitetura Moderna, Cataguases, Oscar Niemeyer Resumen Este documento ofrece una breve reseña histórica del período anterior a la construcción en la ciudad de Cataguases de la Academia para niños, diseñado por Oscar Niemeyer en los años cuarenta y también se ocupa de cuestiones relacionadas con la propia academia. Aquí se abordan específicamente la relación de la obra con el lugar, entendido como un lugar geográfico y lugar en el tiempo. Este diálogo entre estos dos puntos de vista sobre el lugar, hay un mantenimiento interno al proyecto. Palabras clave: Arquitectura Moderna, Odessa, Oscar Niemeyer 2 Introdução O tema que engloba estudos da relação entre a cidade e o modernismo, levandose em conta sua origem cultural, sua identidade e a relação dessas com o patrimônio tombado é a perspectiva principal no entendimento da relação entre a Escola de Cataguases, sua cidade e seu contexto cultural. A legenda do catálogo da exposição: Paulo Werneck Muralista Brasileiro ocorrida no Centro Cultural da Caixa em Brasília (PAULO WERNECK, 2011, p.18) traz a seguinte frase: A aventura modernista de arquitetos, artistas e paisagistas fez da pequena cidade de Cataguases, em Minas Gerais, um emblema da época. Em 1947 Oscar Niemeyer encomendou um painel para o Ginásio e Edgar Guimarães do Valle um painel para a casa de Nélia Peixoto. Na verdade, a cidade começa sua preparação desde a década de vinte e o país passa por profundas modificações na arquitetura na década de trinta. 3 CATS 2012 – Congresso de Arquitetura, Turismo e Sustentabilidade Figura 1: Mural de Paulo Werneck no Pilotis da Academia de Cataguases. Fonte: PAULO WERNECK, 2011, p. 19. O Movimento de Renovação das Artes no País na Década de Vinte O período após a Primeira Guerra Mundial é marcado por levantes militares, lutas por reformas políticas, manifestações públicas em vários pontos do Brasil e no mundo. A semana de Arte Moderna de 22 ocorrida em São Paulo é uma destas manifestações, era composta essencialmente por artista plásticos e escritoresi, a arquitetura passa de modo tangencial ao evento, segundo Paulo Santos (in XAVIER , 2003, p. 351) “... a arquitetura contemporânea brasileira deixa à margem a Semana ou ignora a Semana, filiando-se diretamente a Le Corbusier.” No entanto, conforme relata Vilanova Artigas (in XAVIER, 2003, p. 275): Não se pode dizer que no bojo do movimento de 22 houvesse uma proposta que incluísse reformas necessárias na arquitetura brasileira Mas é bem verdade que o movimento era suficientemente aberto a 4 todas as artes para poder assimilar no seu desenrolar as inquietudes que foram se acumulando no meio dos intelectuais, artistas, arquitetos e construtores... Conta-se que Sérgio Buarque de Holanda trazia debaixo do braço livros de Le Corbusier para a conveniente agitação dos círculos de intelectuais e artistas de vanguarda. E Brecheret morava numa casa em São Paulo que me disse ter sido “desenhada” por Mallet-Stevens. Deste modo fica claro que mesmo não havendo uma participação ativa nos três dias em que ocorreram encontros na Semana de Arte Moderna, esta foi importante para possibilitar outras ações nos meios artísticos. Gregório Warchavchickii faz um manifesto em 1925, e constrói em 1927-28 a primeira casa modernista do Brasil, na Rua Santa Cruz, onde rapidamente foi considerado brasileiro pelos líderes da semana de arte moderna de 1922, pois em um país jovem como o Brasil e em uma cidade repleta de diversidade como São Paulo a inclusão é habito constante deste povo. Em seu manifestoiii Warchavchick argumenta sobre a necessidade da arquitetura adequar-se a seu tempo, tal qual os automóveis e aviões dialogavam. Este manifesto possui em seu encaminhamento final a afirmação de que o arquiteto moderno saberá fazer uma arquitetura moderna tão original, quanto foi a gótica. E seu último parágrafo registra uma frase de ordem: Abasso le decorazioni assurde e viva La construzzione lógica! (WARCHVCHICK in BRUAND, 2002, p. 381). A relação de Cataguases com o ideário moderno inicia entre o período de 1925-29, algum tempo após ocorrer a semana de arte moderna de 22, onde Humberto Mauro estabelece contato permanente com poetas e escritores modernistas, principalmente os integrantes do Movimento Verde. Com o cinema Humberto Mauro e Pedro Comello iniciam em 1925 a produção de filmes em Cataguases, que se estende até 1929. Neste período também ocorre a publicação da revista “Verde” entre 1927 e 29, com repercussão nacional. 5 CATS 2012 – Congresso de Arquitetura, Turismo e Sustentabilidade O Movimento de Renovação das Artes no País na D écada de Trinta A década de trinta possui três momentos marcantes que modificam a história da arquitetura no Brasil, com repercussões mundiais. Estes foram o texto de Lucio Costa intitulado Razões na Nova Arquitetura, o Ministério de Educação e Saúde e o Pavilhão do Brasil na Feira Internacional de Nova York. A virada da década trás consigo uma transformação inicial na Escola Nacional de Belas Artes, quando entre 1930-31 Lucio Costa foi convidado para assumir a Direção desta escola. A reforma pretendida foi profunda, porém não foi duradoura sua direção. De imediato vem o período denominado pelo próprio Lucio Costa como Chômage, quando ele se dedica a estudar a obra de Le Corbusier, Mies van Der Rohe e Walter Gropius, neste período ele produz as “casas sem dono”. Em 1934, Lucio Costa escreve o Texto Razões da Nova Arquitetura, onde ele reflete sobre o período de transição entre a arquitetura anterior e aquela, então nova, arquitetura. Neste texto é exposto os princípios que passam a ser entendidos como delineadores da nova arquitetura. Em 1936, quando ocorre o projeto do Ministério de Educação e Saúde elaborado pela equipe liderada por Lucio Costaiv, com a consultoria de Le Corbusier ocorre uma primeira manifestação de uma arquitetura de renovação, diferente das obras realizadasv pela iniciativa privada, este foi em uma escala institucional e com o aval do Estado. A característica de exceção na implantação do prédio em relação ao seu entorno, aliado à linguagem industrializada dos brises ao norte e a pele de vidro ao sul, reforçado pelos elementos de controle de incidência solar e a planta livre elevada sobre pilotis dão ao movimento que se iniciava a afirmação necessária para sua consolidação. O concurso ocorrido em 1938 para o projeto do pavilhão do Brasil em Nova York, na feira internacional que ocorreria no ano seguinte, Lucio Costa vence,mas convida Oscar Niemeyervi para fazer uma nova proposta. Esta versão final é muito superior as duas propostas anteriores, pois apresenta a leveza que se tornaria característica das obras de arquitetura moderna brasileira. 6 A partir deste ponto começam a proliferar em grande quantidade obras que percorrem todo o país, com especial presença, inicialmente, no Rio de Janeiro. Confluência de Espíritos: Oscar Niemeyer e a Arquitetura Moderna Brasileira em MG Em 1940, Niemeyer inaugura o ciclo de arquitetura modernista no estado de Minas Gerais com o convite para o projeto do Grande Hotel de Ouro Preto, fruto do sucesso obtido no Pavilhão do Brasil. Neste mesmo ano, ele recebe outros dois encargos no estado, o primeiro com o próprio estado. A parceria entre Jucelino Kutschek e Niemeyer inicia, na capital entre1940-45, o Conjunto da Pampulha voltado, predominantemente, para as atividades de lazer, embora o programa contivesse a Igreja de São Francisco de Assis, o Cassino, o Yatch Clube, a Casa de Baile e o Hotel, sendo que este último não foi construído. Nestas obras Niemeyer se utiliza de um requintado repertório de soluções tipológicas, compositivas, materiais e de controle solar. Ele varia entre a curva e linha reta, entre a estrutura como esqueleto independente e a estrutura como forma, entre o objeto na paisagem e o enquadramento da paisagem. O segundo encargo recebido foi a Residência Francisco Inácio Peixoto construída entre 1940-42, na cidade de Cataguases. Neste caso também ocorre uma conjunção de ideais, pois esta cidade é berço de um movimento moderno nas artes. Sua relação com a cidade não se limita a este exemplar, pois mais tarde sua contribuição com a cidade seria retomada, desta vez em um prédio institucional, com o projeto da Academia para os Meninos de Cataguases em 1945-49. No entanto, a ligação entre Oscar Niemeyer e o estado de Minas Gerais ocorre de modo aberto, em larga escala, o trabalho do Grande Hotel de Ouro Preto inaugura uma longa parceria entre o arquiteto e este estado. Isto é o que podemos perceber no quadro a seguir: 7 CATS 2012 – Congresso de Arquitetura, Turismo e Sustentabilidade Grande Hotel de Ouro Preto Residência Francisco Inácio Peixoto 1940 Ouro Preto Obra 1940-42 Cataguases Obra Residência João Lima Pádua 1943 Belo Horizonte Obra Cassino da Pampulha 1940 Belo Horizonte Obra Yate Clube da Pampulha 1940 Belo Horizonte Obra Casa de Baile 1940 Belo Horizonte Obra Igreja de São Francisco de Assis 1940 Belo Horizonte Obra Hotel de Turismo na Pampulha 1943 Belo Horizonte Proj. Casa de Final de Semana – Jucelino K 1943 Belo Horizonte Obra 1943-46 Belo Horizonte Obra 1943 Belo Horizonte Obra Golfe Clube da Pampulha Teatro Municipal de Belo Horizonte Academia para Meninos de Cataguases 1945-49 Cataguases Obra Centro da Juventude (Praça de Esportes) 1950 Diamantina Obra Escola Júlia Kubitschek 1951 Diamantina Obra Hotel Tijuco 1951 Diamantina Obra Faculdade de Odontologia 1953 Diamantina Obra Aeroporto 1951 Diamantina Proj Banco do Brasil 1950 Juiz de Fora Obra Complexo Kubitschek 1951 Belo Horizonte Obra Residência ERH 1952 Belo Horizonte Obra Banco Mineiro da Produção 1953 Belo Horizonte Obra Residência Dalva Simão 1953 Belo Horizonte Obra Edifício Niemeyer 1954 Belo Horizonte Obra Clube Libanês 1954 Belo Horizonte Obra Escola Secundária 1954 Belo Horizonte Obra Biblioteca Pública 1955 Belo Horizonte Obra Museu do Homem 8 Belo Horizonte Proj A trajetória de Niemeyer em Cataguases O primeiro projeto de Niemeyer em Cataguases, foi a residência de um industrial e fazendeiro, que também foi um importante escritor e poeta, autor de Meia Pataca em 1928, ele possui uma profunda relação com o movimento moderno e participava de modo intenso na Revista Verde. Esta residência localizada à margem do Rio Pomba, a aproximadamente duas quadras da praça central da cidade, a qual é denominada de Praça Santa Rita, na qual situasse a igrejavii com mesmo nome e também próximo a praça hoje denominada Rui Barbosa, a qual antes era conhecida com Largo do Rosário (Santos, 2005). O lote situavase na região central da cidade entre as duas praças iniciais. Esta condição estabelecia uma relação importante, pois de um lado era um terreno central, e de outro lado era um terreno que para o seu interior possui uma relação com o rio. Figura 2: Fachada frontal e plantas da Residência Francisco I Peixoto . Fonte: ALONSO, 2009, p728. Fachada Posterior da mesma residência. Fonte: PAPADAKY, 1950, p.120. Por se tratar de um projeto residencial Niemeyer estabelece uma conexão direta com a escala da cidade, do mesmo modo que o Grande Hotel, após os veto de Lucio Costaviii, Oscar, neste caso, também estabelece um diálogo direto com o entorno, sem com isto se subordinar a este e, tão pouco, deixa de impor suas linhas de contemporaneidade, à sua época. Esta residência, por exemplo, apresenta um pequeno pilotis à sua frente, a pureza volumétrica na relação entre térreo e segundo pavimento, 9 CATS 2012 – Congresso de Arquitetura, Turismo e Sustentabilidade janelas com venezianas deslizantes conformando uma fenestração mais horizontalizada e contínua, pilares recuados da fachada, a permeabilidade entre os ambientes nos dois pavimentos, entre outras características que diferenciam este projeto e abrem as portas para uma sucessão de obras com aspectos pertencentes ao ideário moderno. Cinco anos mais tarde, após o primeiro contato com a cidade o arquiteto é novamente convidado a projetar um prédio, porém desta vez, com um viés institucional, pois se tratava da Academia para os Meninos de Cataguases. Germinação em terra fértil: Academia para os Meninos de Cataguases Situado em uma das extremidades da então cidade de Cataguases, a escola estabelece uma relação com a orientação da Av. Humberto Mauro. O prédio composto por uma barra de aproximadamente 117 metros com pequenas extrusões no pavimento térreo que é permeado por uma parcela significativa de pilotis. O bloco superior é composto por dois pavimentos, originalmente, o primeiro destes foi destinado às salas de aula e o segundo aos alojamentos. Figura 3: Planta do Térreo, Segundo e terceiro pavimentos da Academia de Meninos de Cataguases. Fonte: PAPADAKY, 1950, p. 154-157. 10 Este projeto possui a mesma estrutura compositiva que outros projetos também construídos neste estado, no que diz respeito à barra elevada sobre pilotis com espaços de apoio compondo o térreo. O Grande Hotel de Ouro Preto, ou a Escola Júlia Kubitschek, ou ainda o Hotel da Pampulha são exemplos desta solução. O rompimento que este prédio, de certo modo, estabelece com a escala da cidade é marcante, pois o único prédio moderno anterior é a residência Francisco I Peixoto, que possui um telhado com telha cerâmica e volumétrica de dois pavimentos e no mesmo ano da construção da escola ocorre o projeto da Residência José Pacheco de Medeiros Filho projetada por Francisco Bolonha entre 1945-47, que também possui escala comedida, similar ao seu entorno. No entanto, a linhagem de cidade precursora, envolta com uma cultura de vanguarda, torna Cataguases palco para a instalação deste prédio. Em virtude da linearidade, materialidade e linguagem compositiva o prédio se destaca, porém é absorvido pela relação com seu entorno imediato. Pois este é configurado por uma densa massa vegetal, a qual absorve esta escala necessária ao número de alunos proposto pelo programa. A relação do prédio com o entorno, do ponto de vista topográfico, por se tratar de um terreno em aclive, foi baseado na manipulação do relevo, de modo a criar uma grande área plana para inserção da barra que caracteriza o prédio. Este fato gerou um talude de aproximadamente 5 metros de altura em relação ao terreno onde se localiza a área da piscina e do campo de futebol. 11 CATS 2012 – Congresso de Arquitetura, Turismo e Sustentabilidade Figura 4: Vista da piscina e da fachada sudoeste da escola. Fonte: PAPADAKY, 1950, p 152. Então, neste projeto, se percebe uma ação impositiva, na locação do prédio. Diferente da abordagem da barra destinada ao Grande Hotel, o qual dialoga com o terreno ao posicionar o estacionamento no nível mais baixo, a fim de nivelar parcialmente o terreno e ainda acresce outros dois pavimentos de pilotis destinados a espaços de uso coletivo, para só então utilizar os pavimentos de ocupação serial. Figura 5: Vista externa, alojamento e sala de aula. Fonte: PAPADAKY, 1950, p. 154, 156 e 157. Quanto a orientação solar do prédio, este possui seu eixo longitudinal na direção sudeste / noroeste, possuindo suas fachadas principais abrindo para nordeste e sudoeste. Esta última abriga os ambientes principais, como sala de aula e dormitórios. Este lado também possui a visual mais ampla em direção ao vale. A faixa destinada a circulação vertical está voltada para a fachada oposta, a qual se abre para o bosque marginal ao terreno. 12 As dez salas de aula e as duas salas de leitura que finalizam o prédio em suas duas extremidades possuem o controle da incidência solar promovido pela utilização de brises verticais. Ainda com relação à adequação e conforto térmico estas últimas possuem ventilação cruzada. Deste modo, se de um lado a relação com o entorno imediato, com o lugar geográfico ocorre de modo ajustado, no caso da orientação solar e ventilação, de outro, a relação topográfica inflige ao terreno uma cicatriz. O Quaterno Contemporâneo Em virtude da sucessão de avanços tecnológicos do final do século XIX, associado às mudanças nos hábitos cotidianos da sociedade, às condições econômicas vigentes, a arquitetura moderna propõe uma reformulação. Passa a ser explicada pela Tríade Vitruviana acrescida do Lugar (MAHFUZ, 2004). No entanto, este lugar pode e deve ser entendido de dois modos distintos. Primeiro é o Lugar Geográfico, ou seja, o lugar físico, a condição topográfica do terreno, a orientação em relação ao sol e ao vento, as condições do entorno e a legislação que incide no terreno. O segundo é o Lugar Temporal, ou seja, é o lugar dentro da história, o qual se relaciona com a cultura local, é o diálogo que a arquitetura estabelece com o período em que ela se insere, é o relacionar-se com a tecnologia vigente, é a utilização da espacialidade que condiz com as demandas programáticas do período em que ela se insere, é a utilização de uma linguagem que relacione o contexto social, econômico e artístico. No que tange ao lugar temporal, o projeto da Academia se ajusta de modo eficiente. Isto pode ser percebido, primeiramente, em relação ao período histórico e cultural, pois a eclosão da cultura moderna iniciada na década de vinte se fazia presente não apenas no país, como no próprio estado e ainda mais na cidade de Cataguases, por meio do Movimento Verde. 13 CATS 2012 – Congresso de Arquitetura, Turismo e Sustentabilidade Figura 6: Vistas do patamar criado para inserção da escola. Fontes: Foto da esquerda: http://v1.cache2.c.bigcache.googleapis.com/static.panoramio.com/photos/original/45995636.jpg ?redirect_counter=2 e Foto da direita: PAPADAKY, 1950, p. 155. Os preceitos modernos de industrialização da arquitetura podem ser percebidos na modulação estrutural, na reprodução das esquadrias e dos brises, na repetição serial dos espaços de ensino, todos com uma tendência ilimitada. Ainda em relação ao lugar temporal, a organização volumétrica funcional que ganha força com a industrialização, pois aponta em uma direção onde, em função de uma especialização espacial, os ambientes similares ou repetitivos são agrupados em um mesmo volume e distinguidos dos especiais. Deste modo, a barra horizontal que abriga os espaços seriais se apoia sobre os volumes excepcionais do auditório, refeitório e administração, os quais se encontram no térreo e se expandem em relação ao volume superior. Espaços estes que não se adaptam aos locais repetitivos e que por uma questão de controle, acesso e de hierarquia não se ajustam à barra. A pureza volumétrica vai além das relações funcionais. Neste caso, tal qual a Obra do Berço, o Ministério entre outras obras da faze inicial de Niemeyer, nesta academia também se constata um rigor em relação à definição dos volumes, as arestas são íntegras. 14 Considerações Finais O que se percebe no caso de Cataguases é uma rica condição cultural, que propiciou, através de seus membros a presença de uma arquitetura de vanguarda, assim como a presença do paisagista Roberto Burle Marx e dos artistas Cândido Portinari e Paulo Werneck. Figura 7: Salão de entrada e antigo dormitório convertido em sala de aula. Fonte: MATOSO, 2008, p. 412. Estas obras comprovam a interiorização da arquitetura moderna brasileira, que esta é, de fato, brasileira, que pertence a todos, mas mais do que isto, também prova que o movimento contrário também existe e interfere positivamente na arquitetura e na cultura brasileira, pois é este retorno, o que dá ao movimento moderno seu caráter de brasilidade a esta arquitetura. Especificamente o caso da escola é marcado pela sua relação com o lugar, onde o diálogo entre o lugar geográfico e o lugar temporal estabelece uma relação tencionada, onde as características de materialidade e linguagem se adéquam a cultura emergente da cidade. 15 CATS 2012 – Congresso de Arquitetura, Turismo e Sustentabilidade i Mário de Andrade, Oswald de Andrade, Víctor Brecheret, Plínio Salgado, Anita Malfatti, Menotti Del Pichia, Guilherme de Almeida, Sérgio Milliet, Heitor VillaLobos, Tarsila do Amaral, Tácito de Almeida, Di Cavalcanti ii Gregório Warchavchik era russo, naturalizado brasileiro é considerado o marco zero da arquitetura moderna de renovação, após visita de Le Corbusier ao Brasil, Gregório é indicado como representante do América do Sul nos CIAMs em função da casa moderna. iii Este manifesto foi publicado em 14 de junho de 1925, no jornal italiano de São Paulo e por ter tido um impacto limitado pelo fato de ter sido publicado em italiano, o autor manda traduzir e este é novamente publicado em 01 de novembro de 1925, em um dos principais jornais do Rio de Janeiro, o Correio da Manhã. iv Equipe inicial era composta por Lucio Costa, Carlos Leão, Jorge Moreira, Affonso Reidy e posteriormente foram acrescidos Ernani Vasconcellos e Oscar Niemeyer. v Casos como o prédio da Associação Brasileira de Imprensa-ABI em 1936, ou as vilas corbusianas já construídas à essa época. vi Niemeyer é premiado no mesmo concurso com o segundo lugar, porém Lucio Costa, reconhece a superioridade do projeto do amigo e assistente. vii A Igreja de Santa Rita de Cássia teve seu prédio atual construído entre 1944- 68 projetado pelo arquiteto Edgar Guimarães do Valle, obra também de grande relevância na arquitetura moderna de Cataguases. viii Lucio Costa no projeto do Grande Hotel de Ouro Preto, veta, na condição de funcionário do Serviço do Patrimônio Histórico, fundado em 1937, à Oscar Niemeyer de realizar o terraço jardim proposto para tal projeto. (NOBRE, 2004, p. 125) 16 Referências Bibliográficas ALONSO, Paulo Henrique, org. Cataguases – arquitetura modernista: guia do patrimônio cultural. Cataguases, Instituto de Estudos do Desenvolvimento Sustentável, 2009. BRUAND, Yves. Arquitetura Contemporânea no Brasil. São Paulo, Editora Perspectiva, 2002. MAHFUZ, Edson da Cunha. Reflexões sobre a construção da forma pertinente. In Vitruvius 2004. (acessado em 20 de março de 2012) http://www.vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos /04.045/606 MATOSO, Danilo. Da Matéria à Invenção. Brasília, Câmara dos Deputados, Coordenação de Publicações, 2008. NOBRE, Ana Luiza, org. Um modo de ser moderno: Lucio Costa e a crítica contemporânea, São Paulo, Cosac&Naify, 2004. PAPADAKI, Stamo. The Work os Oscar Niemeyer. New York, Reinhold Publishing Corporation, 1950. PAPADAKI, Stamo. Oscar Niemeyer. New York, George Braziller Inc, 1960. PAULO WERNECK: Muralista Brasileiro. Brasília, Caixa Cultural, 2011. SANTOS, Cecília Rodrigues dos. Cataguases Patrimônio da Modernidade. In Vitruvius, 2005. (acessado em 20 de março de 2012) http://www.vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/05.056/512 XAVIER, Alberto, org. Depoimento de uma geração. São Paulo, Cosac&Naify, 2003. 17