A COMUNICAÇÃO DURANTE A VISITA AO LEITO COMO FATOR DE QUALIDADE DA
ASSISTÊNCIA DE ENFERMAGEM
Rosiléa Alves de Sousa(1), Sarah Maria Fraxe Pessoa(2), Marta Maria Soares Herculano(3), Maria
Alette Pinto do Vale(4)
Doutora em enfermagem. Enfermeira da Maternidade Escola Assis Chateaubriand. Rua Pedro Machado, 921, Bloco A, Ap. 104 – Damas.CEP60.416-430. email – [email protected]. (2)Mestra em Enfermagem. Enfermeira da Maternidade Escola Assis Chateaubriand. (3)Especialista
em Enfermagem Obstétrica. Enfermeira da Maternidade Escola Assis Chateaubriand. (4)Enfermeira da Maternidade Escola Assis Chateaubriand
(1)
O presente estudo visa descrever e analisar a prática da comunicação durante a visita ao leito como fator de qualidade
da assistência de enfermagem na Clínica de Cirurgia Ginecológica da Maternidade Escola Assis Chateaubriand,
hospital integrante do Complexo da Universidade Federal do Ceará. A reflexão proposta leva a inferir que esta
atividade representa um grande desafio das enfermeiras que se propõem a promover este tipo de comunicação visto
que envolve, além de uma faceta importante da atenção, que seria disponibilizar um tempo para esta atividade, outro
aspecto importante da assistência de enfermagem, que representa a valorização da paciente, buscando desvelar seu
mundo e entendendo suas necessidades.
Palavras-chave: cirurgia, assistência de enfermagem, comunicação
COMMUNICATION DURING THE VISIT TO THE BED AS A NURSING CARE QUALITY FACTOR
The present study tries to describe and analyze communication practice during the visit to the bed as a nursing care
quality factor in the Gynecological Surgery Clinic of the Maternity School Assis Chateaubriand, a hospital that is part
of the Federal University of Ceará. The proposed reflection leads to the inference that this activity represents a great
challenge for the nurses that intend to promote this kind of communication, since it involves, besides being an
important facet of attention, that time would have to be made for this activity, which is another important aspect of
nursing care, represented by patient valuation, seeking to uncover their world and understand their needs.
Key words: surgery, nursing attendance, communication
INTRODUÇÃO
Ao longo dos anos, o hospital tornou-se um substituto do cuidado domiciliar oferecido aos doentes das mais
diversas patologias. Essa substituição teve como ganho a assistência adequada aos vários tipos de doenças, a garantia
de um melhor tratamento e o conseqüente aumento das chances de cura.
Percebe-se, no entanto, que à medida que se ganha em tecnologia e interdisciplinaridade no atendimento ao
doente, tem-se regredido na humanização do cuidado prestado, visto que cada paciente passa a ser encarado como um
indivíduo, objeto do nosso fazer, que recebe um codinome relacionado ao número do leito que ocupa, parecendo
mais um sujeito passivo e pouco integrado ao tratamento que recebe durante sua permanência no hospital.
Discordando desta prática, Caldonha e Mendes (1998) referem que o fato do profissional de enfermagem
permanecer um maior tempo com o paciente faculta-lhe o dever de oferecer um cuidado mais humano, visando
amenizar a sua angústia, tratando assim a ansiedade e promovendo uma recuperação mais rápida e tranqüila.
O labor em uma clínica de cirurgia ginecológica tem permitido identificar alguns entraves que dificultam a
comunicação entre a equipe de enfermagem, os demais membros da equipe de saúde e as pacientes. Dentre estes,
podemos descrever a ocorrência do uso de termos científicos durante a visita médica, que deixa a mulher confusa
quanto à sua patologia e ao respectivo tratamento. Sobre o uso de expressões que podem gerar sentimentos de medo,
impotência e frustração, Andrade e Soares (2001) relatam que o próprio termo hospitalização, muitas vezes, pode ser
encarado como sinônimo de morte.
Esse fato faz com que a paciente se sinta ainda mais desprotegida, por não conhecer a linguagem científica,
preferindo, muitas vezes, permanecer calada a espera de outra pessoa que possa lhe tirar as dúvidas.
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Matsuda et al. (1998) considera que esta situação perdura nos hospitais, como maneira de manter o poder e a
hegemonia do saber restrito a algumas categorias.
Muitas vezes, essa doente tenta confirmar a informação que recebeu a respeito da conduta médica a ser
seguida e não tem uma resposta satisfatória junto à equipe de enfermagem, uma vez que seus integrantes não foram
atualizados quanto à propedêutica que dará continuidade ao tratamento.
O desconhecimento do diagnóstico, bem como o prognóstico que lhe aguarda e a falta de acesso às rotinas
do hospital, tais como tempo de internamento, exames aos quais serão submetidas também são fatores de angústia
para as mulheres hospitalizadas.
Percebe-se, diante desta realidade, que a visita ao leito representa um fator importante para a promoção do
conhecimento mútuo entre enfermeira e paciente e, para o esclarecimento de dúvidas e tranqüilidade da mulher sob a
responsabilidade da equipe de enfermagem. O presente estudo visa descrever esta prática e analisá-la dentro da
dinâmica de internamento para a realização do tratamento cirúrgico prescrito.
SITUANDO A EXPERIÊNCIA DAS AUTORAS
O presente estudo nasceu da reflexão das autoras quanto ao desenvolvimento de suas atividades na Clínica
de Cirurgia Ginecológica da Maternidade Escola Assis Chateaubriand, hospital integrante do Complexo da
Universidade Federal do Ceará.
Nesta clínica, são recebidas as mulheres que têm internamento para tratamento cirúrgico, dentre os quais os
mais freqüentes são: perineoplastia, exérese de nódulos de mama, laparotomia diagnóstica e histerectomia, em suas
diversas modalidades. Em geral, as pacientes são internadas no dia anterior à cirurgia, estando na responsabilidade
dos médicos residentes a elaboração do mapa operatório, que determina o horário e os procedimentos pré-operatórios
exigidos para cada paciente de acordo com a avaliação ginecológica.
Neste contexto, a enfermeira tem como meta prestar o cuidado nas duas etapas do tratamento operatório: 1.
no período antes da cirurgia, quando a mulher apresenta-se vulnerável, angustiada e expectante quanto aos
acontecimentos que lhe aguardam e, ao mesmo tempo, necessita se submeter aos cuidados pré-operatórios:
tricotomia, embrocação vaginal, esvaziamento intestinal e jejum; 2. após o ato cirúrgico, quando voltando da sala de
recuperação pós-anestésica, esta se mostra ansiosa por saber do resultado da cirurgia e do seu prognóstico, além de
precisar de cuidados específicos, tais como: administração de medicamentos analgésicos quando apresentar dor e
curativo. Nas duas situações, a enfermeira enfrenta conflitos e momentos tensos, visto que, as respostas às indagações
das pacientes exigem tempo e disponibilidade da equipe.
Além desse momento de tensão, as enfermeiras ainda enfrentam situações angustiantes, quando, por motivos
relacionados à paciente ou à infraestrutura hospitalar, as mulheres, após um longo período de jejum absoluto, tomam
conhecimento do adiamento do procedimento cirúrgico. Essa informação precisa ser esclarecida e, na maioria das
vezes, essa atribuição fica a cargo da enfermeira responsável pela unidade. Cavalcante et al.(2000) lembram que,
pelo fato da equipe considerar este um acontecimento rotineiro, quase sempre, parece esquecer da importância desta
alteração para a paciente.
O contato mais freqüente, da enfermeira com a pessoa internada, provavelmente, tem trazido a esta
profissional, uma maior sensibilização para esta problemática, promovendo a busca de alternativas para favorecer um
ambiente mais humano e menos estressante para a mulher e para a equipe que lhe presta o cuidado.
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Dessa forma, o fenômeno aqui desvelado é a vivência das enfermeiras autoras deste estudo, durante a
atividade profissional nesta clínica, quando têm buscado minorar as barreiras de comunicação através da visita ao
leito – atitude que deveria ser diária, mas que, muitas vezes, os demais afazeres hospitalares têm tornado pouco
comum.
Experenciando, profissionalmente, a inter-relação enfermeira-paciente, observamos o evoluir diferenciado
da mulher, quando o processo de admissão, internação, assistência pré-operatória, cirurgia, acompanhamento pósoperatório imediato e mediato e alta é assistido pela enfermeira de forma integrada e contínua. Essa paciente mostrase mais confiante, participativa e cooperativa no processo admissão/alta. O interesse no autocuidado leva à
recuperação rápida e eficaz e a equipe de enfermagem consegue obter eficácia na assistência prestada. Essa realidade
confirma o estudo de Farias et al. (1999), quando relataram que durante o trabalho com mulheres no pós-operatório
de mastectomias, após a intervenção humanista da enfermagem, encontraram esta clientela mais adaptada à nova
situação, mostrando reações positivas, que as levaram a inferir que o menor impacto emocional foi resultado do
suporte social recebido por ocasião da assistência de enfermagem, que lhes proporcionou a satisfação das
necessidades interdependentes.
Em geral, os procedimentos pré-operatórios são realizados, logo após a admissão da paciente, ainda na noite
anterior à cirurgia. A tricotomia e o esvaziamento do intestino, quase sempre, causam desconforto e timidez por ser
um momento quando a mulher sente sua intimidade exposta a pessoas estranhas. Por isso, essa ação deve ser
precedida de um tempo de interação, promovendo a oportunidade da paciente esclarecer dúvidas e expressar seus
sentimentos de angústia e medo.
Nesta etapa operatória, providencia-se a embrocação vaginal, com o objetivo de promover a assepsia do
colo uterino e paredes vaginais. Percebe-se mais uma vez, o constrangimento da mulher por ter sua genitália exposta
a olhares de pessoas consideradas estranhas. Vale ressaltar que a sensibilidade e a humanização do atendimento é
fator importante para a tranqüilidade da paciente. Outra medida pré-operatória rotineira e importante para o preparo
da cirurgia é o jejum que se inicia na maioria das vezes às 22 horas do dia anterior. A suspensão da dieta causa
desconforto à clientela, sendo primordial a orientação da importância e da necessidade da adesão a essa etapa préoperatória, a fim de evitarmos complicações anestésicas e obtermos o sucesso da terapêutica cirúrgica.
Em conjunto com as demais medidas pré-operatórias, dependendo do estado emocional da paciente, é
prescrita e administrada uma medicação para aliviar a tensão emocional, além de promover o relaxamento e o somo,
também, às 22 horas do dia anterior. É importante o olhar individualizado à paciente, para que se observe essas
nuances e atenda a essas necessidades humanas básicas afetadas.
Outro momento importante na comunicação entre os profissionais de enfermagem e a paciente, ocorre na
manhã da cirurgia, uma vez que, a enfermeira, ao receber o plantão, é informada da dinâmica da clínica cirúrgica no
turno anterior. Essa dinâmica influi diretamente na perspectiva do planejamento das ações de enfermagem a serem
realizadas no decorrer do turno da sua equipe.
Nesta etapa, na maioria das vezes, a interação entre enfermeira e paciente é passiva, porque, apesar da troca
de plantão ser realizada ao lado do leito, esta é feita entre a equipe que está terminando o turno de trabalho e a que
está assumindo o plantão. A enfermeira que está iniciando as atividades, deve aproveitar o momento para se
apresentar sua equipe, definindo para a paciente, os papéis de cada componente.
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Após a passagem de plantão, enquanto o pessoal auxiliar toma conhecimento das atividades a serem
desenvolvidas, a enfermeira inicia a visita individual a cada paciente. Neste momento, inicia-se outro momento de
interação enfermeira/paciente que chamamos de visita pré-operatória e favorece a troca de informações sobre os
aspectos físicos e emocionais relacionados ao procedimento a ser realizado.
No primeiro diálogo, a enfermeira começa indagando sobre o repouso: é importante saber se a mulher
conciliou o sono durante a noite, uma vez que, o atendimento a essa necessidade, pode determinar o nível de
ansiedade da mulher. Em seguida, informa a rotina hospitalar durante o seu internamento:
1.
A ordem de encaminhamento para o centro cirúrgico, estimando o provável horário que
acontecerá a cirurgia;
2.
O tempo cirúrgico médio relacionado ao procedimento a que ela será submetido, tendo o
cuidado de enfatizar que, após algumas horas na sala de recuperação pós-anestésica, a
mulher retornará ao leito que ocupa naquele instante. Essa simples referência reforça a
idéia de que o ato cirúrgico a ser realizado ocorrerá sem intercorrências;
3.
Os cuidados a serem tomados com próteses, visto que esses objetos devem ser retirados
antes do encaminhamento ao centro cirúrgico e, em geral, esse cuidado traz
constrangimento e vergonha;
4.
O tempo médio de internamento hospitalar. Essa informação tranqüiliza a mulher por
vislumbrar a idéia de retorno ao lar e à família;
A transferência da paciente ao centro cirúrgico, na maioria das vezes, quando esta não está sedada, ocorre sem
utilizar os artefatos de transporte – cadeiras de rodas ou macas, visto que a mulher vai deambulando, acompanhada
por um membro da equipe de enfermagem.
Ao chegar o momento de encaminhamento ao centro cirúrgico, é importante o apoio da paciente, no sentido de
ressaltar que em breve, ela voltará ao seu leito e que seus objetos pessoais estarão guardados até que ela retorne.
Em geral, após a permanência de seis horas na sala de recuperação pós-anestésica – tempo definido como pósoperatório imediato, a mulher é transportada, em uma maca ou uma cadeira de rodas, ao leito de origem. Nesta etapa,
a enfermeira recepciona a paciente e cuida para que sejam realizados os procedimentos necessários para a sua
instalação no leito.
Quando esta se encontra bem instalada, a enfermeira inicia as orientações pertinentes ao momento pósoperatório:
1.
O momento da liberação da dieta e o tipo de alimento a ser ingerido de acordo com o período
do pós-operatório;
2.
A medicação prescrita e a ser administrada, informando a via de administração e horários;
3.
A importância e o tempo de permanência da soroterapia;
4.
Cuidado com a ferida cirúrgica, envolvendo a troca de curativos e a observação da paciente
quanto a alterações percebidas no intervalo entre os curativos;
5.
Retirada de drenos, sondas e outros artefatos utilizados na terapêutica;
5
6.
O início da deambulação e os passos a serem seguidos – iniciar lentamente, elevando a
cabeceira do leito, permanecendo sentada por algum tempo, levantando e caminhando ao
redor do leito, para posteriormente, iniciar a deambulação a distâncias mais longas;
7.
Retorno aos cuidados de higiene pessoal, bem como a eliminações espontâneas;
8.
Informações sobre o tempo de internação, a alta, os cuidados no domicílio e a importância do
retorno para consulta de revisão da cirurgia.
Feitas essas orientações, a enfermeira reforça a idéia de disponibilidade da equipe, lembrando que, em
qualquer necessidade, a campainha eletrônica acima do leito pode ser acionada, para que a equipe tome
conhecimento da solicitação e compareça o mais rápido possível ao leito da mulher para atender à sua solicitação.
Terminadas todas as explanações, a enfermeira se despede, evidenciando que a partir daquele momento, a
paciente precisa repousar, uma vez que enfrentou momentos de estresse e de forte impacto emocional.
COMENTÁRIOS FINAIS
O grande desafio das enfermeiras que se propõem a promover a comunicação durante a visita ao leito,
envolve, além de uma faceta importante da atenção, que seria disponibilizar um tempo para esta atividade, outro
aspecto importante da assistência de enfermagem, que representa a valorização da paciente como ser humano carente
de uma atenção humanizada. Muitas vezes, significa se despojar do que Boehs (2002) chama de armadura do modelo
profissional, para ver a cliente no seu mundo e entender suas necessidades, sem no entanto deixar de ser a enfermeira.
A questão da disponibilidade do tempo deve ser avaliada seriamente, pois, em geral, a visita ao leito
promove uma maior interação entre cuidador e cuidado e verifica-se que a mulher sente-se mais a vontade para falar
de suas ansiedades e tirar suas dúvidas quanto aos procedimentos as quais será submetida, de maneira que esta
atividade, por exigir maior tempo junto à paciente deve ser contabilizada como uma ação demorada para evitar atraso
nas demais. É importante que esta seja encarada como uma atividade que poderá prevenir complicações futuras e
que, certamente, favorecerá ao bem estar do sujeito de nossa atenção: a mulher que está sob os cuidados da equipe de
enfermagem.
Considerando que a atenção humanizada promove uma recuperação mais rápida, vislumbrar a paciente
como um ser necessitado deste tipo de atenção, não só garante o bem estar desta clientela, como também promove
condições para diminuir o tempo de internação e evita complicações que possam surgir a partir da falta de orientação
quanto à rotina de cada procedimento cirúrgico e dos cuidados que cada mulher precisa ter em cada caso
individualizado.
Vale evidenciar que esta prática traz benefícios não só para a mulher, que tem oportunidade de receber as
orientações devidas, como para a equipe de enfermagem, que pode prestar uma atenção mais pessoal e
individualizada. Assim, pode-se afirmar que esta atividade é de grande importância para todos os atores envolvidos
no processo de hospitalização e tem alto significado na dinâmica da clínica cirúrgica por favorecer uma maior
interação entre os profissionais de enfermagem e a paciente e diminuir os riscos de complicações advindas da não
adesão ao tratamento cirúrgico prescrito para cada paciente.
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