Campus de Francisco Beltrão
Rua Maringá, 1200 – Bairro Vila Nova – Caixa Postal 371.
Fone (046) 3520-4848 – CEP.: 85605-010 – Francisco Beltrão – PR
Serviço de Neurologia e Neurocirurgia
Dr. Frederico Rodrigues
Campus de Joaçaba
Rua Getúlio Vargas , 2125. Bairro Flor da Serra
Fone (049) 3551-2000 - CEP: 89600-000 – Joaçaba - SC
TROMBOSE DE ARTÉRIA CARÓTIDA INTERNA POR LESÃO DE PALATO: RELATO DE CASO
Mateus Batista Silva; Caroline Solana de Oliveira; Isadora Cavenago Fillus – Discentes de Medicina da UNIOESTE, campus de Francisco Beltrão – PR.
Talita Conte – Discente do Curso de Medicina da UNOESC, campus de Joaçaba – SC.
Carlos Frederico de Almeida Rodrigues – Neurocirurgião do Hospital Policlínica de Pato Branco e Docente no Curso de Medicina da UNIOESTE, campus de Francisco Beltrão – PR.
INTRODUÇÃO
Os acidentes vasculares encefálicos (AVE) apresentam-se como
importantes causas de morbimortalidade em todas as faixas etárias. Na
infância, cerca de metade dos casos ocorre em crianças com doenças de
base, principalmente cardiopatias (DOMI et al., 2008). Nos Estados Unidos
da América do Norte, estima-se que ocorram 2,7 casos de AVE por 100.000
crianças/ano, com sua maior incidência no primeiro ano de vida (CHUNG e
WONG, 2004) . A taxa de mortalidade nesse país é de 3,1 por 100.000 em
menores de um ano e 0,4 por 100.000 entre um e quatro anos e 0,2 por
100.000 para aquelas entre cinco e 14 anos, existindo predominância pelos
homens, como identificado pelo International Pediatric Stroke Study que
envolveu 30 centros em dez países (LO, STEPHENS e FERNANDEZ, 2009) .
Os fatores de risco exibem variabilidade geográfica e étnica. Múltiplas
variáveis podem coexistir e se somar, como traumas, infecções, predisposição
genética, fatores pró-trombóticos, arteropatias e doenças cardíacas, que
permanecem como os principais fatores de risco para AVE.
Quando relacionados à trombose da artéria carótida interna, os sinais e
sintomas podem surgir de uma a 60 horas após o evento lesivo, sendo a
artéria cerebral média a mais acometida, resultando em hemiplegia do lado
oposto, hemianopsia homônima e afasia (ALMEIDA, HOSSOTANI e MOURA,
2012).
Já nos casos de AVE hemorrágico após trauma oral - evento bastante raro
- é imperativo que se descartem outras enfermidades e que se investiguem
doenças cardíacas congênitas ou adquiridas, alterações vasculares,
processos infecciosos vigentes, medicamentos em uso e, principalmente,
distúrbios sanguíneos que podem predispor a tal evento na presença de um
fator desencadeante, como o trauma.
OBJETIVO
Descrever caso de trombose de artéria carótida interna secundária a
trauma de palato mole em criança.
METODOLOGIA
Descrição de caso clínico.
RELATO DE CASO
O presente caso foi aprovado pelo Comitê de Ética do Hospital Policlínica
Pato Branco (resolução 002/2015) e teve o consentimento dos pais de forma
livre e esclarecida.
Criança de um ano e sete meses, sexo masculino, previamente hígida,
deu entrada no setor de emergência do nosso serviço com história de queda
da própria altura há 7 horas com ferimento do palato provocado por lápis.
Apresentava-se choroso aos estímulos, sonolento e hemiparético à direita.
Segundo relato da mãe, também apresentava afasia. O paciente era
proveniente de outra unidade de saúde onde havia realizado a sutura do
palato e encaminhado para domicílio, pois não apresentava déficit após o
trauma.
Encaminhado para TAC de crânio, RMN de crânio e Doppler transcraniano.
Encaminhado para unidade de terapia intensiva, onde realizou exames de
triagem na busca de comorbidades, que foram negativos.
Tratado de forma conservadora e com medidas de suporte, apresentou
melhora da força muscular em MMII direito e permanece em
acompanhamento ambulatorial.
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Dr. Frederico Rodrigues
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TROMBOSE DE ARTÉRIA CARÓTIDA INTERNA POR LESÃO DE PALATO: RELATO DE CASO
Mateus Batista Silva; Caroline Solana de Oliveira; Isadora Cavenago Fillus – Discentes de Medicina da UNIOESTE, campus de Francisco Beltrão – PR.
Talita Conte – Discente do Curso de Medicina da UNOESC, campus de Joaçaba – SC.
Carlos Frederico de Almeida Rodrigues – Neurocirurgião do Hospital Policlínica de Pato Branco e Docente no Curso de Medicina da UNIOESTE, campus de Francisco Beltrão – PR.
A tomografia de entrada não apresentou hemorragia ou lesão expansiva. Uma área isquêmica em território de artéria cerebral média esquerda
foi detectada por RNM (Fig. 1) no dia seguinte; isquemia presente também na TAC de controle 3 dias após a injúria (Fig. 2).
Fig 1: RNM demonstrando área isquêmica em
território de a. cerebral média esquerda.
Fig. 2: TAC de controle mostrando a mesma isquemia.
O Doppler transcraniano, realizado três dias após a injúria, demonstrou lesão da camada íntima das artérias carótida interna e cerebral média com
restabelecimento do fluxo sanguíneo.
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Talita Conte – Discente do Curso de Medicina da UNOESC, campus de Joaçaba – SC.
Carlos Frederico de Almeida Rodrigues – Neurocirurgião do Hospital Policlínica de Pato Branco e Docente no Curso de Medicina da UNIOESTE, campus de Francisco Beltrão – PR.
DISCUSSÃO
As lesões intraorais são comuns em crianças e as causas
catalogadas incluem objetos pontiagudos como canetas, pirulitos,
brinquedos, entre outros (JOSEPH e LEWIS, 2002). A maioria das
lesões orais é mínima e não incorre em consequências mais graves. A
maior parte dos pacientes evolui sem complicações significativas, além
de sangramento de pequena intensidade e dor local (BORGES et al.,
1999). Entretanto, o potencial para uma complicação neurológica
devastadora existe em qualquer trauma penetrante do palato. Os
relatos apontam para uma taxa de mortalidade de 30% e morbidade de
85%(GRAHAM, SCHWARTZ e STACY, 1991).
A trombose da artéria carótida interna com déficit neurológico
subsequente é uma complicação bem documentada dos ferimentos
corto-contusos desta região. Quando a mesma é lesada,
desenvolvem-se
alterações
cognitivas,
vômitos,
sonolência,
manifestando-se, em média, entre 2 e 48 horas após o trauma
(ALMEIDA, HOSSOTANI e MOURA, 2012).
Na maior parte das vezes o objeto não perfura ou penetra na
artéria, mas há compressão do vaso contra a vértebra ou base do
crânio, causando uma lesão da camada íntima que ocasiona um
processo localizado de trombogênese que explica o intervalo até o
aparecimento dos sintomas.
O tratamento é controverso, não se percebe diferença de
prognóstico entre pacientes submetidos a tratamento com
anticoagulantes e aqueles que não receberam tratamento específico
(MAINS e NAGLE, 1989). A abordagem cirúrgica tem obtido resultado
variável (MAINS e NAGLE, 1989).
CONCLUSÃO
Apesar de ser um evento raro, o AVE secundário ao trauma
orofaríngeo em crianças é um diagnóstico bem estabelecido e exige do
pediatra um conhecimento da causa base, além de um alto grau de
suspeita. Outro ponto importante é a necessidade de conhecimento
deste evento para orientação de familiares e responsáveis quanto aos
sinais de alerta e necessidade de retorno ao departamento de
emergência quando da sua presença.
REFERÊNCIAS
1 - Domi T, Edgeli DS, McCrindle BW,Williams WG, Chan AK, MacGregor DL et al.
Frequency predictors and neurologic outcomes of vaso-occlusive strokes
associated with cardiac surgery in children. Pediatrics 2008; 122: 1292-8.
2 – Chung B, Wong V. Pediatric stroke among Hong Kong Chinese subjects.
Pediatrics 2004; 114: e206-12.
3 - Lo W. Stephens J. Fernandez S. Statement of correction: pediatric stroke in the
United States and the impact of risk factors. J Child Neurol 2009; 24: 194-203.
4 - Almeida FS. Hossotani MH, Moura JG. Trombose de artéria carótida interna
relacionada a trauma de palato em criança. Ver. Paul. Pediatria 2012; 30 (1): 144-47
5 – Joseph MM, Lewis S. Stroke after penetrating trauma of the oropharynx. Pediatr
Emeg Care 2002; 18: 179-81.
6 – Borges G. Ramina R. Fernandes YB. Zambelli HJL. Marques EL. Menezes JR.
Zanard V. dos Santos SF. Trombose da artéria carótida interna devida a trauma
penetrante no palato mole. Arq. Neuro-psiquiatria; 1999:vol 57 (4).
7 – Graham CJ. Schwartz JE, Stacy T. Stroke following oral trauma in children. Ann
Emerg Med 1991: 20: 1029-31.
8 – Mains B. Nagle M. Thrombosis of the internal carotid artery due to soft palate
injury. J. Laryngol Otol 1989; 103: 796-7.
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relato de caso.