MAURO VIEIRA
www.zerohora.com
PARAÍSO
AMEAÇADO
Pesca ilegal e lixo tornam
difícil a sobrevivência de
animais marinhos no Parque
Nacional da Lagoa do Peixe
Páginas 18 e 19
ALERTA DO ENEM
Escolas do RS estão abaixo
da média e longe do topo
Além de 65% dos estabelecimentos apresentarem índice inferior à média nacional no exame,
o colégio gaúcho melhor colocado no ranking aparece só na 73ª posição. Páginas 24 e 25
Olho no futuro
Dicas para ser
um bom líder
Documentos guardados na casa
de ex-chefe do DOI-Codi mostram
como foi arquitetada a manobra
para ocultar a autoria do
atentado que abalou a ditadura.
No comando
Os homens de
confiança de Tarso
PÁGINAS 29 a 32
Círculo integrado por petistas
acumula poder e gera tensão
com secretarias. Página 6
YR A
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ARTE SOBRE FOTO DE ANIBAL PHILOT, AG, BD, 30/04/1981
PORTO ALEGRE, DOMINGO, 25 DE NOVEMBRO DE 2012 - ANO 49 - Nº 17.216
BRUNA
MARQUEZINE:
“DESENCANEI
DA CELULITE”
CONFIRA NO PENSE IMÓVEIS.
SC/PR - R$ 4,50/ DEMAIS REGIÕES - R$ 7,50/ URUGUAI - $ 70
R$ 4,00
Geral
ZERO HORA DOMINGO, 25 DE NOVEMBRO DE 2012
29
A MANOBRA MILITAR NO
ATENTAD
Documentos encontrados na casa de coronel assassinado na Capital revelam como o Exército se articulou para
ocultar a autoria das explosões que tinham como alvo o show com cerca de 20 mil pessoas no Rio, há 31 anos
HUMBERTO TREZZI e JOSÉ LUÍS COSTA
M
RICARDO CHAVES, BANCO DE DADOS
issão Nº 115. Esse era
o nome oficial da vigilância desencadeada
pelos serviços de espionagem do Exército no
centro de convenções Riocentro, no Rio,
em 30 de abril de 1981, quando 20 mil
pessoas ali se reuniam para um show musical em protesto contra o regime militar.
Duas bombas explodiram lá, e os agentes
“supervisores” da ação foram as únicas
vítimas do episódio, que lançou suspeitas
sobre atividades terroristas praticadas por
militares e mergulhou em agonia uma
ditadura que vinha desde 1964 e acabaria
sepultada em 1985.Tudo isso a população
brasileira já intuía,por meio de depoimentos. O que até agora permanecia oculto
– e está sendo revelado por Zero Hora,em
primeira mão – são registros de militares
envolvidos no episódio e manobras de
abafamento do incidente,arquitetadas por
servidores da repressão.
O segredo está em arquivos que eram
guardados em casa pelo coronel reformado do Exército Julio Miguel Molinas
Dias – assassinado aos 78 anos, em 1º
de novembro, em Porto Alegre, vítima de
um crime ainda nebuloso. Molinas Dias
era, na época do atentado, comandante
do Destacamento de Operações e Informações - Centro de Operações de Defesa
Interna (DOI-Codi) do Rio de Janeiro,
conhecido como Aparelhão. O arquivo do
coronel continha 200 páginas, várias delas
encabeçadas pelo carimbo “confidencial”
ou “reservado”. O calhamaço evidencia
que o aparelho repressivo militar tentou
maquiar o cenário do Riocentro para fazer
com que as explosões parecessem obra de
guerrilheiros esquerdistas.
Os registros estavam guardados pelo
minucioso oficial.A unidade comandada
por Molinas era reponsável por espionar
e reprimir opositores ao regime militar. O
DOI-Codi era localizado dentro do 1º Batalhão de Polícia do Exército, na Rua Barão de Mesquita,no bairro da Tijuca.Ao se
aposentar,o coronel levou para casa documentos preciosos, contando pormenores
da sigilosa rotina da caserna.O dossiê deixa transparecer que a bomba no Riocentro também fez estragos dentro da sede
do DOI-Codi, distante 30 quilômetros do
centro de eventos.
Em meio aos papéis, surgem evidências de que oficiais forjaram fatos. Há
inclusive uma orientação para simular o
furto do veículo pertencente ao sargento que morreu na explosão, no sentido
de desaparecer com pistas que seriam
comprometedoras.
Oficiais forjaram
cenário da ação
O acervo de Molinas foi arrecadado pela Polícia Civil gaúcha após o assassinato
dele e revela detalhes inéditos do lado de
dentro dos portões de uma das mais temidas unidades das Forças Armadas durante os anos de chumbo.
ZH teve acesso a memorandos datilografados e também manuscritos, no qual
o coronel registra a mobilização que se
instalou naquele quartel-sede da espionagem política do Brasil, imediatamente
após a explosão. São ordens, contraordens e telefonemas com a finalidade de
evitar que fatos e versões indigestas ao
Exército viessem à tona.
Os papéis contêm medidas de prevenção para segurança de militares, recomendações para não serem fotografados
e relação de bombas e artefatos explosivos no paiol do quartel para destruição
coletiva e individual. Mas o mais espesso
lote de documentos do coronel é do tempo em que ele dava as ordens no comando do DOI-Codi.
De próprio punho, o coronel Molinas
teria redigido parte desses memorandos, divididos em dias, horas e minutos.
Trabalho facilitado porque era detalhista.
Um verdadeiro soldado espartano. Em
meio à papelada sobressaem-se relatórios sobre o desastroso atentado no centro de convenções Riocentro. Uma das
duas bombas que explodiram durante
um show musical acabou matando o
sargento Guilherme Pereira do Rosário e
ferindo com gravidade o capitão Wilson
Luiz Chaves Machado, chefe da seção de
Operações do DOI-Codi.
Os papéis do coronel Molinas mostram
que Rosário tinha o codinome de Agente
Wagner e Wilson era chamado Dr. Marcos (militares de baixa patente eram chamados de agentes e oficiais eram doutores,na gíria da espionagem).
Acompanhe, nas páginas a seguir, o teor dos documentos secretos e os desdobramentos da Operação Centro, a desastrada Missão Nº 115 do Aparelhão.
[email protected]
[email protected]
A BOMBA NO RIOCENTRO
●
●
●
●
BOMBA EXPLODIU
NO COLO DE AGENTE
DO DOI-CODI
Na noite de 30 de abril de 1981, um show
em comemoração ao Dia do Trabalhador
era realizado no centro de convenções do
Riocentro, na Barra da Tijuca, no Rio.
Cerca de 20 mil pessoas foram assistir a
apresentações de Beth Carvalho, Alceu
Valença, Cauby Peixoto, Elba Ramalho e
Gonzaguinha, entre outros.
O DOI-Codi monitorava manifestações e
planejou explodir duas bombas durante o
show com a intenção de atribuir o crime à
organização de esquerda VPR.
Um dos artefatos explodiu antes da hora,
dentro de um Puma, no colo do sargento
Guilherme Pereira do Rosário, que morreu
no local, e feriu o dono do carro, o capitão
Wilson Luiz Chaves Machado. Outro artefato foi detonado 15 minutos depois, na casa
de força. Ninguém ficou ferido.
SEGUE >
Geral
ZERO HORA DOMINGO, 25 DE NOVEMBRO DE 2012
0h40min – Coronel Cinelli – Falamos
sobre a ida da perícia da PE (Polícia do
Exército) à paisana e a retirada do corpo.
1h1min – Tenente-coronel Portella liga ao
HCE (Hospital Central do Exército) para receber o corpo do Robot (sargento Rosário).
À 1h5min, Molinas recebe ligação de
uma pessoa,à qual identifica como Dr.Rodolfo, atualizando notícias sobre o capitão
Wilson Machado,ferido na explosão:
1h5min – Está sendo operado, dilaceração nas vísceras.
As anotações se tornam esporádicas:
4h24min – Um Chevette aberto cinza
metálico com bagageiro placas RT-1719
estava ao lado do carro Puma,com um emblema do 1º BPE.
6h5min – Justifico telefonema dizendo
que está na cirurgia,Dr.Marcos (codinome
do capitão ferido),ortopédica nos braços.
17h – Fui para casa.
SÁBADO,
2 de maio de 1981
A BOMBA
QUINTA-FEIRA,
30 de abril de 1981
O relatório de atividades externas do
Destacamento de Operações e Informações - Centro de Operações de Defesa
Interna (DOI-Codi) do Rio descreve a
movimentação da unidade naquele 30 de
abril de 1981. Batizada de Missão Nº 115
– Operação Centro, a ação previa que os
militares fizessem a espionagem do show
no Riocentro, celebração do Dia do Trabalhador, que virou manifesto contra a ditadura. Foram escalados dois agentes, com
previsão de saída às 18h40min e retorno
às 4h20min, usando um Fusca. Outros
dois, de forma clandestina, usaram um
Puma particular. Por volta das 21h15min,
tudo seguia na rotina até uma bomba explodir no Puma em que estavam os dois
integrantes do DOI-Codi. À noite, de próprio punho,o coronel Julio Miguel Molinas
Dias,comandante do DOI-Codi,fez o relato de como foi informado do atentado.Ele
assistia, em casa, à primeira partida da final do Campeonato Brasileiro de 1981, no
Olímpico,vencida pelo Grêmio por 2 a 1.
Intervalo do jogo do Grêmio x São Paulo,
telefonema do agente Reis (codinome de
um militar). Disse que um cabo PM telefonara avisando que haveria um acidente
com explosivo com uma vítima. Deu o nome quente Dr.Marcos...
Doutor Marcos era o codinome do capitão Wilson Luiz Chaves Machado,chefe da
Seção de Operações do DOI-Codi, ferido
na explosão. O relato do coronel Molinas
continua, falando de como foi informado
da morte do sargento Guilherme Pereira
do Rosário,ao manipular a bomba:
(...) Por volta das 22h30min, cheguei ao
órgão... dirigi-me à vaga n.1 do coman-
do. (...) O Dr. Wilson (codinome de outro
agente), que estava na operação, chegou
logo a seguir. O agente Reis, que já chegara,
avisou que recebera outro telefonema do
mesmo elemento, dizendo que um sargento
estava no local,irreconhecível.
A seguir, o coronel descreve como foi a
longa noite pós-atentado:
23h30min – O Globo (talvez referindose à notícia que ouviu na Rádio Globo ou
na TV) – estouraram duas bombas no estacionamento, destruindo dois carros e uma
moto.No segundo carro não houve vítimas.
23h30min – Dr. Araújo (codinome de
oficial) telefona para saber o que houve.
Molinas relata o estado de saúde do capitão Wilson, motorista do Puma e ferido
na explosão:
23h30min – Hospital Miguel Couto...
Tá sendo operado, vísceras do lado de fora.
Estado grave.
De próprio punho, o coronel registra
que foram dois os explosivos levados para
o Riocentro:
23h35min – Uma bomba na casa de
força (central de energia do Riocentro) e
uma no carro.
Às 23h45min,Molinas afirma ter telefonado ao coronel Leo Frederico Cinelli,chefe do serviço de inteligência do 1º Exército,
relatando os fatos. Minutos depois, recebe
notícias de alguém sobre o sargento morto e registra:
23h50min – O Robot (menção a quem
leva bomba) está morto.Tem uma granada
que estava no carro e botaram no chão.
SEXTA-FEIRA,
1º de maio de 1981
As anotações de Molinas prosseguem
madrugada adentro. Ele trata da remoção
do corpo do sargento para o hospital:
Molinas retorna ao DOI-Codi e manda
recado ao capitão ferido para que não se
pronuncie a respeito do acidente:
8h30min – Chegada ao destino (...)
Transmitida mensagem ao Dr. Marcos (codinome do capitão ferido) para não fazer
esforço para falar,tranquilizando-o.
(...) Comandante do DOI e comandante
do 1º Exército foram ao enterro e hospital.
Foi dada ordem para oficial de permanência ficar em tempo integral no DOI.
A FARSA
Ainda no dia 2, um manuscrito com
letra diferente à do coronel Molinas revela uma tentativa de encobrir a autoria
do atentado. Foi anotada (talvez por um
ordenança do coronel) a necessidade de
encontrar o carro particular do sargento
morto e providenciar o seu recolhimento
ao DOI-Codi.O objetivo pode ter sido evitar que material comprometedor, dentro
do veículo, fosse apreendido pela Polícia
ou fotografado pela imprensa:
Foi feito contato com a secretaria de segurança para localizar o carro do Wagner
(codinome do sargento morto) e comunicar ao DOI (carro roubado). Existe equipe
de sobreaviso para“puxar”(levar) o carro.
RICARDO CHAVES, BANCO DE DADOS
30
A anotação segue:
Foi mandado ao 1º Exército (coronel
Cinelli) as fotografias das placas com Vanguarda Popular Revolucionário (VPR) para aproveitamento na imprensa.
A frase de Molinas só ganhou sentido
tempos depois, quando ex-integrantes
da ditadura revelaram que agentes do
DOI-Codi picharam placas de sinalização
de trânsito nas imediações do Riocentro
com a sigla da organização de luta armada de extrema esquerda VPR. O objetivo
dos militares com a pichação era atribuir
a autoria do atentado à VPR. Seria uma
explosão planejada para botar a culpa em
esquerdistas, como descreve o ex-delegado da Polícia Civil Cláudio Guerra no livro
Memórias de uma Guerra Suja.
O coronel Molinas avança seu memorando pelo dia 2 de maio,relatando supostas ameaças de bomba na casa do capitão
ferido e no hospital Miguel Couto:
13h01min – Família do Dr. Marcos (codinome do capitão) liga para o Dr. Carmelo (codinome de um oficial) no hospital e
participa a existência de um embrulho suspeito na porta do apartamento. O Dr. Carmelo telefona ao Dr. Maurício (codinome),
oficial permanente, que está providenciando o deslocamento de uma equipe para o
local. (...) sob o tapete da porta de entrada
tem uma bolsa do Carrefour de material
translúcido e dentro tinha dois pães, um inteiro e outro faltando um pedaço.
As supostas ameaças contra integrantes
do DOI prosseguem ao longo do dia 2:
16h10min – O delegado Tufic,da 14ª DP,
telefona para dizer que recebeu dois telefonemas anônimos dando conta de que o capitão Paulo Renault iria jogar uma bomba
no quarto do capitão hospitalizado.
16h18min – Telefonema para a residência do capitão Paulo Renault, que não
atende.
16h20min – Ligação para a portaria do
prédio que diz que, possivelmente, o capitão
estaria viajando.
Conforme o blog do jornalista Ricardo Noblat, o capitão seria Paulo Renault,
engenheiro eletrônico, perito judicial e
também ex-agente do Serviço Nacional
de Informação (SNI). Em 2005, esteve envolvido no escândalo da CPI dos Correios.
Estaria disposto a fazer revelações em depoimento à Justiça, mas desistiu ao ter a
casa metralhada.
PICHAÇÃO EM PLACA DE
SINALIZAÇÃO TERIA SIDO
FEITA POR MILITARES
Geral
ZERO HORA DOMINGO, 25 DE NOVEMBRO DE 2012
31
Os dois segredos de Molinas
DOMINGO,
3 de maio de 1981
Molinas anota telefonema recebido de
um colega coronel:
8h25min – Telefonema do coronel Prado, dizendo que o JB (Jornal do Brasil) tem
reportagem em que um médico diz que o
capitão estaria em condições de falar. O assunto é tratado com o coronel Cinelli.
Mais tarde, outro telefonema – ainda
mais preocupante – fala que os agentes
se tornam suspeitos de explodir a própria
bomba que os feriu:
15h50min – Agente Hugo (codinome
de policial) liga dizendo que o segurança do
Riocentro está comentando que o atentado
seria nosso.
Para mudar o foco e jogar a culpa do
atentado fracassado no Riocentro na esquerda, Molinas rascunha uma lista de
incidentes anteriores, como a suposta
tentativa de ataques a unidades militares. O texto é datilografado e enviado ao
coronel Cinelli.
Antecedentes – Viemos apresentar
alguns fatos que comprovam a intenção
das esquerdas em atingir os órgãos de
segurança, em especial os DOIs, tanto no
campo da agressão física como em ações
psicológicas com objetivo único de desmantelar o aparato repressor ou destruí-lo.
No final de 1980 ficaram encarregados
de eliminar o Exmo senhor general Antônio
Bandeira, no Sul do país... O atentado seria
com risco da própria vida.
Molinas conclui:
Face aos atos e fatos apresentados, somados a uma orquestração pela imprensa,
acusando os DOIs como responsáveis por
tudo que ocorre de mal contra as esquerdas
(...) cada elemento do órgão passou a ser
um alvo de justiçamento. (...) Quanto ao
atentado em si,qualquer conclusão cairá no
campo da especulação, correndo o risco de
atentar contra a honra e a integridade de
um oficial e de um sargento.
Riocentro – A parte mais volumosa do
dossiê de Molinas envolve o atentado
no Riocentro, duas bombas explodidas
em 1981 no centro de eventos do Rio
de Janeiro. O episódio acontece durante
um show de protesto contra a ditadura
militar. Um sargento do Exército morre
e um capitão fica ferido, com uma das
explosões, ocorrida dentro do veículo
em que estavam. Os dois trabalhavam
no DOI-Codi, sob ordens do coronel Molinas. A versão oficial do Exército é que a
esquerda teria preparado os atentados,
mas papéis que o próprio Molinas guardava indicam que o DOI-Codi maquiou o
cenário para fazer as explosões parecerem obra de guerrilheiros esquerdistas.
MISTÉRIO SOBRE SUMIÇO
DE RUBENS PAIVA
COMEÇA A SER DESVENDADO
SEGUNDA-FEIRA,
4 de maio de 1981
QUARTA-FEIRA,
13 de maio de 1981
O diário é recheado de documentos.
Um deles, um ofício que chega ao DOICodi do coronel Luiz Antônio do Prado Ribeiro, encarregado do inquérito
policial-militar (IPM) que investiga o
atentado. Ele convoca o coronel Molinas
para depor às 14h do dia seguinte no
9º andar do Palácio Duque de Caxias,
sede do comando 1º Exército.
Documento afirma que, às 22h de 10
de maio, no bar do Hospital Miguel Couto
um homem,em voz alta, acusa o DOI-Codi pelas bombas colocadas no Riocentro e
no jornal Tribuna da Imprensa. O homem
e um amigo dele são levados para a 14ª
DP. Lá são interrogados e liberados. São
eles: José Augusto Alves Neto, da Rádio JB,
e CarlosVieira Peixoto Filho,do JB (jornal).
Datado deste dia,um manuscrito contém
duas perguntas e respostas atribuídas ao
agente Guarany (amigo do sargento morto)
sobre as habilidades com bombas do agente
Wagner (codinome do sargento):
Wagner é técnico em explosivos? Não.
Qual o curso ou estágio que fez: Nenhum.
É um autodidata.
QUINTA-FEIRA,
7 de maio de 1981
Uma relato datilografado informa que
às 17h40min, o capitão ferido foi do CTI
para a sala de radiografia. E aparece no
CTI uma mulher, vestindo calça e jaleco
branco, dizendo-se médica, perguntando
ao PM da segurança onde é o CTI.A mulher usa sapato verde e o PM desconfia
dela. O crachá está virado e, ao desvirar,
lê “visitante do IBGE”.A mulher é levada
para fora do hospital e embarca em uma
Brasília do Jornal do Brasil.
SEXTA-FEIRA,
8 de maio de 1981
Documento confidencial relata um telefonema ao DOI-Codi, às
15h, repassando dados
sobre uma mulher de nome Mariangela ou Ângela Capobianco e o local do trabalho do marido
dela.O interlocutor descreve a mulher:
“Mais ou menos 45 anos, estatura média, meio gorda, cabelo pintado de caju. É
importantíssima, está autorizada (muito
cuidado). Trabalha na diretoria de vendas
ou arrecadação”.
Para entender: Ângela era uma diretora do Riocentro e, segundo livros sobre o
tema, é suspeita de ter colaborado com os
militares.Após afastar das funções o chefe de segurança do Riocentro, na noite do
atentado, ela teria sido responsável pelo
fechamento com cadeados da maioria dos
portões de saída da área do show.A medida, em caso de explosão de uma bomba,
poderia amplificar o número de vítimas.
QUARTA-FEIRA,
20 de maio de 1981
Em um documento reservado, enviado
ao chefe do serviço de inteligência do 1º
Exército, Molinas comunica os nomes dos
RICARDO CHAVES, BANCO DE DADOS
E continuam as supostas ameaças no
dia 2, tentando transformar o capitão
de terrorista em vítima. Molinas pede
segurança:
22h25min – Telefonema do Dr. Marino (codinome de um oficial) avisando
de um telefonema anônimo para o Hospital Miguel Couto, avisando que colocariam um petardo na casa do Dr. Marcos
(capitão ferido).
22h30min – Telefonema para o tenente-coronel Roberval e pede providências
junto à PM.
●
REPRODUÇÕES
O dia 2 de maio de 1981 continua interminável, nas anotações de Molinas.Agora
surge outra notícia de plano para matar
o oficial ferido, talvez uma manobra para
enfatizar que o capitão do DOI-Codi tinha
sido vítima de um atentado:
16h45min – Dr. Wilson (codinome de
oficial) liga dizendo que o pessoal do hospital acha bom chamar o plantão policial e a
imprensa,dizendo que tinham conhecimento de um plano para eliminar o Dr. Marcos
(o capitão ferido).
●
Rubens Paiva – O coronel Molinas
guardava em casa a mais importante
prova material de que o deputado federal
cassado Rubens Paiva deu entrada no
DOI-Codi – e não desapareceu, como era
até então a versão oficial do fato. Esse registro oficial, revelado por ZH, é uma folha
de ofício amarelada, denominada “Turma
de Recebimento”, que contém o nome
completo do político, de onde ele foi trazido (o QG-3), a equipe que o trouxe (Centro de Inteligência da Aeronáutica), a data
(20 de janeiro de 1971) e uma relação de
papéis, pertences pessoais e valores em
dinheiro encontrados com o ex-deputado.
A papelada é assinada, provavelmente
pelo próprio Paiva.
agentes do DOI-Codi escalados oficialmente para “cobrir” o show: sargento da
Aeronáutica Carlos Alberto Henrique de
Mello e o soldado da Polícia Militar Hirohito Peres Ferreira. O ofício afirma que o
chefe da Seção de Operações, capitão Machado, e o sargento Rosário (os vitimados
na explosão no Puma) foram ao Riocentro para supervisionar a equipe. Seria a
primeira vez que os nomes de Machado e
Rosário aparecem em um documento oficial como tendo participado da desastrada
Missão Nº 115.
SEGUNDA-FEIRA,
25 de maio de 1981
Documento confidencial encaminhado
às unidades militares
pelo comando do 1º
Exército sob o título“Atentado Terrorista no Riocentro
– informação 312/81”determina ponderação, serenidade e isenção diante de“notícias
apresentadas por certos setores da comunicação sensacionalistas e alguns políticos,que
muitas vezes não correspondem à verdade”.
O documento afirma que o
coronel Luiz Antônio do Prado Ribeiro, encarregado da
investigação militar do atentado,foi substituído,pois está
“baixado no HCE (Hospital
Central do Exército) desde 18
de maio para observação, foi
submetido à junta de saúde,
cuja ata do exame recomenda que lhe sejam concedidos
30 dias de licença para tratamento de saúde”.
Anos depois, viria a público a versão de que Ribeiro foi afastado do inquérito
porque se recusara a acatar
ordenssuperiores.Teriasido,
inclusive,chantageado para
reunir provas que apontassem grupos de esquerda
como autores do atentado.
DOI-CODI ESTARIA POR
TRÁS DE BOMBAS QUE
DESTRUÍRAM JORNAL
SEGUE >
32
Geral
ZERO HORA DOMINGO, 25 DE NOVEMBRO DE 2012
Missão 115 - REVELAÇÕES DO CASO RIOCENTRO
O MANUAL DO
ARAPONGA
Entre o acervo do DOI-Codi que o coronel
Julio Miguel Molinas Dias mantinha em sua
residência, em Porto Alegre, está uma cartilha
orientando como militares dos serviços
de inteligência e espionagem deveriam se
comportar no dia a dia para evitar eventuais
atentados de“subversivos”.
O documento indica que as medidas de
segurança foram compiladas e distribuídas aos
militares após Carlos Marighella lançar um
minimanual da guerrilha urbana, em 1969.
São 57 recomendações denominadas“medidas
de segurança”distribuídas em 10 páginas.
Veja algumas delas:
A pé
●
●
●
Em bares
Evitar andar desarmado e NUNCA usar a arma
●
de modo ostensivo
Jamais tente, por conta própria, dar uma cana
(prender alguém). Caso a situação exija, chame a
polícia ostensiva.
Porte apenas documentos necessários a sua
identificação, JAMAIS use o quente e o frio (falso)
ao mesmo tempo.
●
de modo a não ficar de costas para estranhos.
●
●
●
●
Em bancos e comércio
Não use e nem deixe armas no porta-luvas.
Antes de entrar no veículo, faça inspeção geral
●
Não portar cheques em branco previamente as-
●
Em supermercado, não coloque sua capanga
sinados.
quanto à possível violência nas portas, vidros,
etc...
● Nas paradas obrigatórias em sinais de trânsito
ou nos engarrafamentos, procure ficar atento a
quem se aproxima.
● Evite nestas ocasiões ouvir música e namorar.
ou bolsa contendo arma, dinheiro e documentos
dentro do carrinho de compras.
Na residência
●
●
●
●
Não exceder no consumo de bebida alcóolica.
Procure não se tornar NOTADO pelos demais.
Evite se tornar frequentador assíduo e muito conhecido, principalmente em locais de aperitivos.
No automóvel
●
Nunca permaneça de costas para rua.
Procure ocupar mesa junto à parede dos fundos,
No transporte público
Sendo possível, use cães de guarda.
Instrua familiares e empregados para não
●
entregar objetos ou volumes a estranhos que se
apresentarem verbalmente em seu nome.
Nas residências térreas é conveniente instalar
alarmes.
Nas residências em prédios de apartamentos,
nunca confie inteiramente em porteiros ou vigias.
Eles podem ser subornados ou mesmo dominados.
●
Procure sentar-se nos últimos bancos quando
viajar de ônibus, e próximo às portas quando for
de trem.
Em ônibus interurbanos nunca coloque na mala a capanga, bolsa ou casaco contendo armas,
documentos ou dinheiro fora do seu alcance.
Lembre-se que poderá dormir e acordar sem seus
pertences.
Granadas, petardos e cargas explosivas
Os serviços de inteligência das Forças
Armadas operavam uma azeitada estrutura para monitorar opositores ao regime
e mantinham agentes infiltrados em movimentos sociais para sufocar manobras
da esquerda. O arsenal armazenado pelo
DOI-Codi, uma semana antes das explosões no Riocentro, continha granadas de
mão, petardos, cordéis detonantes, pasta
adesiva com cargas explosiva e espoleta.
O coronel Julio Miguel Molinas Dias
colecionava uma série de registros confidenciais, a maioria com o título“Evolução
de atividades subversivas – novas formas
de atuação”. Os papéis revelam uma preocupação constante em evitar o ingresso
de jornalistas nos quartéis e que militares
com atividades secretas fossem fotografados e as imagens,divulgadas pela mídia.
OinformeNº33doserviçodeinteligência
da Aeronáutica, em 18 de janeiro de 1980,
expressa especial atenção com um grupo de
estudantes do Maranhão,que teriam instalado diretório acadêmico na Igreja São João
Batista,em São Luiz,com o apoio do pároco,
o padre italiano Marcos Passerine.
A parte final dos arquivos de Molinas
contém duas listas com a quantidade de
material explosivo armazenado no paiol
do DOI-Codi, sete dias antes de um atentado que entraria para história do período militar.
O ARSENAL PARA DESTRUIÇÃO INDIVIDUAL OU COLETIVA
●
●
●
●
●
●
●
●
●
●
●
Cordel detonador
Estopim hidráulico
Cordão de tropeço
Espoletas EOT M4
Estopim hidráulico
Granada de mão M3
Granada de mão M4
Granada de bocal
Granada lacrimogênea
Pasta adesiva para carga explosiva
Petardo de TNT de um quilo
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