1 AVALIAÇÃO DO IMPACTO DE POLÍTICAS PÚBLICAS: UMA PROPOSTA DE MEDIDA DA EFETIVIDADE DAS AÇÕES DE GOVERNO – EDUCAÇÃO E EMPREGO NA REPÚBLICA DA UTOPIAi João Bosco de Oliveiraii Paulo Emílio Matos Martinsiii 1. Introdução Uma metodologia de avaliação de impacto de políticas públicas, estruturada para medir a efetividade das ações de governo, deve utilizar uma modelagem que favoreça o aperfeiçoamento dos processos de formulação, gestão e controle dos programas governamentais em congruência com as demandas sociais, políticas e econômicas identificadas e analisadas pela administração pública. Desde o momento em que se torne objeto de interesse, tal metodologia deve atuar como catalisador do conhecimento de informações relacionadas ao ambiente no qual a política pública é implementada, tais como: as razões para sua inserção na agenda governamental; as premissas que a fundamentam; o mix de recursos locais, regionais nacionais e/ou internacionais alocados; as características institucionais do ambiente; a dinâmica da relação sociedade-estado; o público alvo; o intervalo de tempo envolvido; os efeitos permanentes alcançados – previstos e não previstos1; outras políticas públicas, concomitantes ou não, sendo implementadas no mesmo recorte ambiental; os patrocinadores, avaliadores e destinatários da avaliação de impacto. A metodologia de avaliação de impacto deve ser adequada à medição e interpretação das alterações ambientais introduzidas pelas ações de governo, incorporando o estado da arte da administração pública. Deve utilizar modelagem que favoreça a compreensão do significado de suas variáveis, quer seja pela administração, como pelo público alvo, ou ainda pelo próprio avaliador. Finalmente, essa modelagem não pode olvidar a incorporação da casuística do serviço público no contexto cultural abrangido pelas intervenções governamentais. O momento da avaliação de impacto de uma ou de um conjunto de políticas públicas em sinergia comporta reflexões muito abrangentes. No momento presente, os países em desenvolvimento vivem um clima de grande esperança individual e coletiva, face aos desafios para sua integração aos fluxos de prosperidade mundial. Este i Trabalho exposto ao e publicado nos anais do 1o Congresso Nacional da Administração Pública – Os Vectores da Mudança - ; Instituto Nacional de Administração; Lisboa, 10 a 11 de novembro de 2003. Modelo teórico apresentado à XXXVIII Asamblea Anual CLADEA – La Gerencia: Retos y Nuevos Paradigmas -; Consejo Latinoamericano de Escuelas de Administración; Lima, 21 a 24 outubro de 2003. ii Mestre em Administração Pública - EBAPE/FGV. iii Professor Titular – EBAPE/FGV. FGV/EBAPE, Programa de Estudos Administração Brasileira, Biblioteca Virtual de Administração Brasileira 2 momento é propício à adoção – como prática comum – de metodologias para medir a efetividade das ações de governo. Encontram-se hoje presentes, em muitas nações que integram o bloco das economias retardatárias, pelo menos cinco condições favoráveis a essa iniciativa: (1) ordem – interna e externa – representada pelo fortalecimento de suas instituições democráticas nacionais e internacionais; (2) segurança jurídica – pública e privada, coletiva e individual – representada pela universalização do sistema democrático representativo em todo o seu território; (3) governo, mercado e sociedade civil, melhor organizados e em interatividade dinâmica em suas dimensões social, política e econômica; (4) sistemas aperfeiçoados de controle social e gestão das ações governamentais, com garantia de acessibilidade aos dados analíticos oficiais ou privados, nacionais e estrangeiros; (5) – liberdade de expressão – de resposta, e julgamento – representada pelo estado democrático de direito e pelos sistemas de comunicação de massa locais e internacionais. Reunidas, estas condições tornam possível medir, correlacionar, interpretar e avaliar o impacto de políticas públicas segundo critérios de intensidade (quantitativamente) ou atributo (qualitativamente) implicados na relação sociedade-estado. 1.1 É Tempo de Avaliação A partir dos anos 90, dois novos paradigmas passaram a produzir, simultaneamente, em todo o mundo fatos importantes para o estudo das medidas da efetividade das ações de governo. O primeiro deles foi a institucionalização da questão ambiental, desejada e legítima, disciplinada na Conferência das Nações Unidas para o Meio Ambiente e o Desenvolvimento (ECO 92), realizada na cidade do Rio de Janeiro, sob o patrocínio da Organização das Nações Unidas e que resultou na Carta do Rio de Janeiro (Agenda XXI), que contém um conjunto de políticas públicas a serem implementas inter alia pelos países membros, com foco no desenvolvimento sustentável do conjunto das sociedades. O segundo paradigma marcou o início de uma nova era para as políticas e relações internacionais no campo do comércio e das finanças. Com o suporte de tecnologias limpas e de sistemas de comunicação mundializados, organismos como a Organização Mundial do Comércio (OMC) e diversos fóruns supranacionais mudaram os projetos de desenvolvimento das nações, fazendo-os convergir para o desenvolvimento da pessoa humana e a preservação do planeta. Homologados em tratados e acordos internacionais estes paradigmas têm influenciado todas as sociedades e os estados, determinando e redirecionando o pensamento e o comportamento das autoridades, de seus cidadãos, líderes, pensadores, agentes econômicos e dirigentes de organizações do terceiro setor. Tendo em vista os relatórios sobre o desenvolvimento mundial, novas questões se colocam para o desenvolvimento da pesquisa e ensino da Administração Pública, tais como: Como avaliar o impacto de políticas públicas no período em curso? Que importâncias relativas passaram a ter outros vetores do desenvolvimento como, ciência e tecnologia, educação, segurança, saúde, previdência e meio ambiente? Permanecerão estas questões estanques? As administrações públicas adotarão metodologias compatíveis na avaliação de impacto das ações de governo? O fortalecimento do sistema democrático representativo nas sociedades desenvolvidas tem apontado para a construção de uma consciência social sustentada FGV/EBAPE, Programa de Estudos Administração Brasileira, Biblioteca Virtual de Administração Brasileira 3 nos: equilíbrio fiscal, combate à corrupção, cumprimento de promessas de campanha eleitoral, distribuição justa da prosperidade nacional e acesso universal aos níveis de qualidade de vida veiculados pela propaganda multimídia 2. Nesse novo cenário, a metodologia ora proposta sugere um instrumento para as administrações públicas avaliarem o impacto de suas realizações e para os cidadãos interpretarem e avaliarem se as ações governamentais realizam as transformações previstas em Lei. 1.2 Objeções à Avaliação de Impacto São três as principais objeções antepostas à avaliação de impacto de políticas públicas: 1 – dificuldade de mensuração; 2 – dificuldade de divulgação dos resultados; e 3 – inutilidade da avaliação de impacto. As duas primeiras objeções contêm implicações imediatas contra o exercício da cidadania e, conceitualmente, afrontam o sentido dos processos orçamentário público, de prestação de contas e da gestão de ambos. A segunda objeção, combinada com a terceira, expõe a necessidade de serem rediscutidas as premissas e fundamentos orientadores do ciclo das políticas públicas. Em conjunto, as três objeções se situam na contra-mão do que a sociedade espera da relação sociedade-estado: congruência entre o discurso político e a efetividade das ações de governo. Nesta primeira década do novo milênio parcelas significativas das sociedades organizadas conquistaram o poder e vêm educando a população para o exercício pleno da cidadania; usam o voto para julgar; buscam conquistar oportunidades de participação ativa em conselhos comunitários, na discussão dos orçamentos públicos, nos movimentos e manifestações populares, nas organizações não-governamentais, nas igrejas, nos veículos de comunicação de massa e no ainda limitado acesso à rede mundial da Internet. Esses movimentos têm em comum a refutação das citadas objeções e a busca da avaliação de impacto das ações de governo. Não medir, avaliar e divulgar os resultados das políticas públicas significa posicionar-se em oposição ao exercício do controle social. A avaliação de impacto dos atos de governo, ao contrário, aperfeiçoa o compromisso de accountability3 dos executivos públicos. Como sociedade democrática e educada, o Estado contemporâneo é subjugado, pela sociedade assumindo forma transitória e multifacetada, portanto, que requer permanente avaliação de suas realizações. Essa avaliação deve ser feita, preferencialmente, pelos poderes próprios ou pelas vias de direito próprias, sempre mediante metodologia adequada. Christofoletti4 esclarece que o controle social põe em funcionamento um conjunto de normas, valores e instituições que garantem solidariedade e integração ao universo de eventos que dão eficácia à relação sociedadeestado. A globalização dos meios de comunicação passou a revelar ser este um tema atualíssimo em todo o mundo neste início de milênio. Reflexões agudas de experts sobre a era pós-industrial5 e a crise da modernidade6 têm motivado novos argumentos sobre a missão dos governos e da democracia, com suporte nos sistemas econômicos e políticos, para o desenvolvimento da qualidade da vida humana. Em muitos países seus cidadãos têm debatido, em sucessivos fóruns, alternativas para políticas públicas como combate à fome, justiça tributária, previdência social, renda, segurança pública, saúde, educação e tantas outras conducentes a níveis mais elevados de vida. FGV/EBAPE, Programa de Estudos Administração Brasileira, Biblioteca Virtual de Administração Brasileira 4 A accountability nas ações de governo garante, não só a eficiência, mas também a eficácia e a efetividade da execução dos planejamentos orçamentários, cujos recursos devem realizar a satisfação dos cidadãos. E é, ainda, um precioso instrumento de avaliação dos efeitos permanentes, agregados ou não, das ações das ações de governo, com fundamento na prestação obrigatória de contas. 1.3 Medindo a Efetividade das Ações de Governo Franco e Cohen7 destacam que a política pública se insere entre uma situação existente e outra desejada, como demonstrado na Figura 1. Situação Pré-existente (Ex-Ante) Ações de Governo (Políticas Públicas) Situação Modificada (Impacto) (Ex-Post) Figura 1 Essa figura favorece a compreensão de que a situação modificada contém o impacto a ser avaliado; permite perceber que a situação modificada, necessariamente, é um fenômeno derivado, portanto, passível de ser medido, interpretado e analisado. A situação modificada contém a gênese e a história das ações governamentais desde a situação pré-existente. Assim, uma medição do efeito previsto para as intervenções governamentais poderá ser feita com sucesso na situação modificada mediante sua comparação com aquela pré-existente. No espaço político em que as ações de governo são implementadas, concomitantemente, ou subseqüentemente, atuam ainda outras políticas, de diferentes esferas, que, não necessariamente, contemplam os mesmos objetivos. Esta situação requer competência profissional dos avaliadores e visão multidisciplinar para medir a efetividade das políticas públicas. Existem diferentes metodologias8 para medir, interpretar e avaliar o efeito agregado das intervenções estatais. Todas elas seguem trilhas semelhantes: partem da inserção da intervenção colimada na agenda política, onde é especificado o foco da ação de governo, que pode ser rastreado no seu processo de formulação e vinculação a uma área de governo. Assim sendo, uma política pública deve objetivar a satisfação de um conjunto de demandas da sociedade. Esse efeito deve ser medido por um indicador de atendimento das necessidades previamente captadas, interpretadas e qualificadas, indicador este que deve garantir a fidelidade da medição do impacto das ações de governo. A modelagem de uma avaliação de impacto contextualizada, por certo, deve considerar, necessariamente, o conhecimento das variáveis subjetivas determinantes da satisfação do público alvo. Para que tal aconteça, planejadores, gestores e avaliadores devem trabalhar com um mesmo conjunto-solução, cujos elementos retratem fielmente o contexto social: as dimensões de análise (cultural, política e econômica); os fatores FGV/EBAPE, Programa de Estudos Administração Brasileira, Biblioteca Virtual de Administração Brasileira 5 condicionantes da ação pública; os fundamentos que estruturam o modelo de avaliação e o referencial teórico que o suporta. O Quadro 1 (página seguinte) resume esse conjunto-solução. Dimensões de Análise Condicionantes da Ação Pública Modelo Proposto (fundamentos) Referencial Teórico Sócio-Cultural (Valores) Autoritarismo Patrimonialismo Idéia de que o ato público é de difícil mensuração e avaliação objetivas Efeito-demonstração9 Continuísmo no poder Etc. Utilização de indicadores sociais, políticos e econômicos objetivos, ponderados em consonância com seus determinantes históricos, negociados e/ou consentâneos com o impacto previsto Dror10 Subirats11 Franco e Cohen12 Warren 13 Hood 14 Sen15 Freyre16 Souza Santos17 Riggs18 Política (Poder) Norma jurídica Estado de direito Democracia direta Public choice Processo decisório participativo Cidadania Relação sociedade-estado Relação público-privado Multilateralidade Etc. Accountability das ações de governo Prestação de contas Moralidade dos atos públicos Publicidade dos atos de governo Medida de satisfação Eficácia Efetividade Motta19 Campos20 Pinto21 Cardoso e Faletto22 Dror Hood Marini23 Monteiro24 Subirats Arruda25 Econômica Eficiência Sustentabilidade Equilíbrio fiscal Nível de atividade Sistema Financeiro Balanço comercial Etc. Racionalidade Comparabilidade Prestação de contas Publicidade Economicidade Sustentatilidade Eficiência Sen Baran26 Delors27 Amaral et all28 Furtado29 Gini30 Hirsch31 Monteiro Santos32 Simonsen 33 Crejeira34 CONJUNTO SOLUÇÃO DO MODELO QUADRO 1 Nesse quadro é feita a associação entre aquelas dimensões de análise, os condicionantes de políticas públicas referidos na literatura e os fundamentos teóricos que orientam o modelo proposto. 2. Metodologia Proposta 2.1 Identificando as Transformações Líquidas FGV/EBAPE, Programa de Estudos Administração Brasileira, Biblioteca Virtual de Administração Brasileira 6 Chamando de Fn a um conjunto de fenômenos modificados por uma política pública PP; de n o momento “situação pré-existente”; de An+m a um conjunto de ações sociais, políticas e econômicas transformadoras de Fn, durante um período de tempo m (momento de implementação da política pública); e de Fn+m a um conjunto resultante da combinação de atos e fatos atribuíveis a PP, observados por um avaliador situado num instante n+m (momento “situação modificada”); a metodologia deverá permitir seja medido um impacto Ipp tal que seja verdadeira a igualdade: Ipp = ƒ (PP) Embora o impacto da política pública deva ser uma função direta das variáveis constituintes da mesma, na prática, nem o impacto, nem as variáveis constituintes da política pública são assim imediatamente correspondentes entre si, com o rigor de uma igualdade. Explicações subjetivas são oferecidas para tentar dar consistência racional a dificuldades de ordem prática, capazes de levar alguns teóricos a defender a impossibilidade da avaliação de impacto de políticas públicas. Discutir tais explicações escapa ao objetivo deste documento, comprometido com um esforço de aperfeiçoamento dos sistemas de acompanhamento e promoção da qualidade das ações de governo. É quase intuitivo verificar que Ipp deverá corresponder a uma relação de causa, efeito e pertinência entre fatos resultantes (Fn+m) (situação modificada), ações transformadoras (An+m) (durante a implementação da política pública), e fenômenos de um setor objeto da sociedade a serem modificados (Fn) (situação pré-existente), de tal modo que esses conjuntos de fatos sejam passíveis de identificação qualificada e quantificada. O impacto Ipp deverá ser o resultado objetivo de uma relação lógica e delimitada com a seguinte expressão: Fn+m ⊂ Fn ∪ An+m Ou seja: Na situação modificada (Fn+m) é possível identificar tanto as matrizes da situação pré-existente (Fn) quanto as ações (An+m) que modificaram permanentemente aquelas matrizes. Na prática, como afirmamos acima, razões discricionárias das administrações públicas, associadas à cobrança insuficiente por parte dos contribuintes, têm feito a lógica desse raciocínio parecer quase inviável. Não obstante, o impacto da política pública (IPP) deverá equivaler a uma diferença modular, quantitativa e/ou qualitativa do intervalo [Fn , Fn+m]que pode ser escrita com uma notação de identidade, assim: Ipp ≡ [Fn , Fn+m] Ipp deverá, também, ser equivalente às dessemelhanças entre os elementos fenomênicos Fn+m e Fn, cuja notação indica discriminação avaliativa (ou seja, não conter), como: Ipp ≡ Fn+m ⊄ Fn Essa identidade modular, obrigará o profissional de avaliação a fazer uma análise de valor do sinal vinculado a essas dessemelhanças. À luz dos fatos, o significado de um impacto IPP positivo ou negativo poderá requerer do avaliador uma nova análise das premissas da política pública avaliada. As hipóteses a seguir exemplificam algumas situações possíveis: FGV/EBAPE, Programa de Estudos Administração Brasileira, Biblioteca Virtual de Administração Brasileira 7 Ipp > 0 implicaria, numa política pública de redução da pobreza, num impacto negativo! Ipp > 0 indicaria um impacto positivo, por exemplo, numa política pública de oferta de trabalho; Ipp = 0 sugerirá seja feita uma reavaliação de todas as premissas ou medições, porque o avaliador estará diante de um conjunto vazio, uma política pública inócua. Seria isto possível de ocorrer no caso em avaliação? Tais situações vinculam conexões lógicas como as seguintes: Fn foi adequadamente quantificado e descrito no momento “antes” pelos formuladores da política pública. Esta situação permitirá ao avaliador encontrar An+m contido em Fn+m no momento “depois”; Fn não se encontra adequadamente identificado para o avaliador. Se parcialmente identificável, o avaliador poderá realizar um trabalho adicional de resgate de Fn (na situação antes) e, assim, medir um certo Ipp (impacto presumido a partir de fatos e assunções com fundamentação em pesquisa de campo) e avaliá-lo; Fn não pode ser conhecido absolutamente. Neste caso, serão razoáveis duas hipóteses para um avaliador profissional: (1) A política pública seria introdutora de algo inédito; uma novidade transformadora da realidade. Neste caso, todo o impacto Ipp seria atribuível a essa política pública; isto é, a modificação permanente da realidade observada depois seria creditada integralmente à política pública. (2) Inexistência de registros de informações essenciais à avaliação de impacto. 2.2 Nível Sintético A Figura 2 mostra os fluxos de recursos alocados pelo Estado em uma política pública PP. Esta forma de representação possibilita uma visão integrada dos processos de orçamento, controle, gestão e avaliação de impacto da política pública. Esse diagrama é útil para estimular não especialistas a visualizarem um modelo coeso de avaliação do impacto Ipp e tentarem interpretar suas variáveis integrantes. RECURSOS: Internacionais OUTRAS POLÍTICAS PÚBLICAS (CONCOMITANTES) Nacionais POLÍTICA PÚBLICA PP Regionais Locais OUTRAS POLÍTICAS PÚBLICAS (ANTERIORES) NÍVEL SINTÉTICO IMPACTO IPP DIMENSÃO SOCIAL (S) DIMENSÃO POLÍTICA (P) DIMENSÃO ECONÔMICA (E) Figura 2 Este modelo contempla as dimensões: sócio-cultural (S), política (P) e econômica (E). Certamente, esta modelagem poderá comportar qualquer número de FGV/EBAPE, Programa de Estudos Administração Brasileira, Biblioteca Virtual de Administração Brasileira 8 dimensões (variáveis da função Ipp). Essas dimensões poderão ter diferentes importâncias relativas entre si (pesos), segundo critérios subjetivos ou estatísticos. Se desejável, poderão ainda ser usados coeficientes ambientais para discriminar as dessemelhanças relativas das dimensões incluídas. Esta flexibilidade torna o modelo tão específico e contextualizado quanto a discricionariedade dos agentes públicos recomende. Tais coeficientes ambientais podem e devem ser diferentes. Adotando-se as letras iniciais do alfabeto grego para representar esses coeficientes, a função Ipp , no seu nível sintético, é definida pela fórmula: αS + βP + χE Ipp = α + β +χ NÍVEL SINTÉTICO Existindo acessibilidade de dados sobre S, P e E, ainda que estimados (grosso modo), mas confiáveis, o impacto Ipp já poderá ser calculado nesse nível (sintético) de informações agregadas. Este modelo, entretanto, comporta mais dois níveis de segmentação, para permitir que seja alcançada mais precisão e qualidade nos processos de medição, interpretação e avaliação do impacto Ipp. 2.3 Nível Intermediário As dimensões S, P e E, do nível sintético do modelo podem ser convenientemente segmentadas em atributos descritivos das mesmas, num segundo nível de análise. O Quadro 2 ilustra essa flexibilidade do modelo apresentando dois possíveis atributos para cada uma dessas dimensões. Nível Sintético Dimensões Sócio - Cultural (S) Política (P) Econômica (E) Nível Intermediário Atributos Nível de Educação (Se) Emprego (Sr) Adequação Política (Pa) Propriedade Política (Pp) Sustentabilidade Fiscal dos Beneficiários (Eb) Sustentabilidade Fiscal da Política Pública (Ef) QUADRO 2 Neste Quadro, no seu nível intermediário, as dimensões S, P e E são segmentas em dois atributos para cada uma: para a dimensão social (S): nível de educação (Se) e Emprego (Sr); para a política (P): adequação política (Pa) e propriedade política (Pp); e para a econômica (E): sustentabilidade fiscal dos beneficiários (Eb) e sustentabilidade fiscal da política pública (Ef). A expressão matemática do modelo, com a incorporação desses seis atributos, assume a seguinte apresentação: FGV/EBAPE, Programa de Estudos Administração Brasileira, Biblioteca Virtual de Administração Brasileira 9 α( Ipp = δSe + εSr δ+ε ) + β( φPa + γPp φ+γ ) + χ( ηEb + ιEf η+ι ) α + β +χ NÍVEL INTERMEDIÁRIO Reiterando a observação feita na exposição do nível sintético do modelo, quanto à acessibilidade e confiabilidade de dados para sua aplicação, neste nível intermediário de detalhamento, o Ipp pode ser mensurado e avaliado com nível de maior precisão. 2.3.1 Coeficientes Ambientais dos Atributos do Impacto Ipp Os coeficientes dos atributos do impacto Ipp (δ, ε, φ, γ, η, e ι) ponderadores dos atributos das dimensões de análise do modelo buscam a inclusão da vontade popular no processo de avaliação e na interpretação da efetividade da política. Isto é, os valores assumidos para esses coeficientes deverão ser estabelecidos em consonância com as preferências do público beneficiário, reveladas através cuidadosa consulta da opinião pública. Por definição, a soma dos coeficientes adotados deverá ser igual à unidade. Assim, são previsíveis alguns casos particulares: (1) δ e/ou ε são nulos - conclusão: eleição de dois outros atributos diferentes de equidade e/ou qualidade de vida; (2) δ e ε seriam idênticos - conclusão: atribuir 0,5 para cada. (3) δ e ε são positivos e diferentes (situação mais provável) - conclusão: δ + ε = 1. De modo análogo, estas considerações deverão ser aplicadas aos coeficientes φ, γ, η, e ι. 2.4 Nível Analítico No Quadro 3 é apresentada a segmentação do modelo no seu nível mais analítico e de maior precisão. Neste nível de análise é requerido da administração pública a disponibilidade de sistemas de controle e gestão razoavelmente sofisticados, de tal modo que possa ser garantida a disponibilidade e confiabilidade dos dados e informações alimentadores do modelo. FGV/EBAPE, Programa de Estudos Administração Brasileira, Biblioteca Virtual de Administração Brasileira 10 A fórmula matemática a seguir retrata o modelo de análise proposto no seu nível maior precisão: δ α Ipp = See Sre φ +ε Set δ +ε Srt +β Pae Ppe η +γ Pat Ppt φ+γ Ebe Efe +ι Ebt +χ Eft η+ι α+ β +χ NÍVEL ANALÍTICO A incorporação das variáveis (See), (Set), (Sre), (Srt), (Pae), (Pat), (Ppe), (Ppt), (Ebe), (Ebt), (Efe), (Eft) – indicadores de sucesso relacionados aos atributos das dimensões de análise do impacto (Ipp) discriminadas nos Quadros 2 e 3 – objetiva, através da relação genérica (quociente) Ie/It, onde Ie representa a situação ’de fato’ de qualquer um dos atributos utilizados e It uma situação ideal, prevista em lei ou de aceitação universal como um parâmetro de excelência, comparar os desempenhos das ações de governo medidas pela ótica desses indicadores, com as medidas padrões ou ideais aplicáveis ao fenômeno avaliado. Assim como no nível intermediário, esses quocientes, representativos dos atributos, sofrem a influência das ponderações aplicáveis aos atributos e dimensões que medem. 3. A República da Utopia na Era da Informação: Uma Ilustração da Metodologia de Avaliação de Impacto de Políticas Públicas 3.1 – O Cenário Atual Desde 1516, quando Sir Thomas Morus fundou a República da Utopia 35, sua população nacional vem experimentando o eutopos36 da proposta original de seu criador. Entretanto, com o tardio ingresso da economia do país na onda que a nova revolução científico-técnica traz, seu governo tem enfrentado problemas na competição globalizada, face aos níveis relativamente baixos da produtividade da economia da ilha. Concomitantemente, a introdução da tecnologia microeletrônica por algumas empresas nacionais, sem que o governo central tenha elaborado qualquer política pública para enfrentamento dos desafios dessa nova tecnologia, tem feito com que os níveis de desemprego cresçam de modo preocupante, acarretando significativo aumento nos gastos públicos com o Seguro Social. Com a morte, há quatro anos, do Ádemo 37 que estava à frente do governo daquela República, há mais de duas décadas, o colégio dos Filarcas38 elegeu um novo FGV/EBAPE, Programa de Estudos Administração Brasileira, Biblioteca Virtual de Administração Brasileira 11 Príncipe que, ao assumir a chefia do governo, submeteu ao Senado da República um programa de governo com foco na sinergia das políticas educacionais e de combate ao desemprego.39 A seguir detalhamos essa política pública aprovada pelo Parlamento local: República da Utopia Conselho dos Traníboras Lei N° 100 – Define a Política Pública de Governo Nacional para o Quadriênio 2000 - 2003 Artigo Único: É intenção do atual governo da República da Utopia elevar a mediana dos anos de escolaridade da população nacional, na faixa etária dos 18 aos 35 anos de idade, dos atuais 7,2 para 8,0 anos de educação (~11,11 %) no quadriênio 2000 - 2003. Simultaneamente, essa política objetiva, ainda, reduzir em $ 1,6 milhões os gastos públicos anuais efetivos com o Seguro Desemprego pago á população alvo (~8,42 %). No que concerne à dimensão política desse programa de governo, é expectativa de seus formuladores alcançar índices mínimos de adequação e propriedade desta política pública da ordem de 55 %. Finalmente, o atual governo objetiva, também, conceder uma redução da carga tributária de até 3 % na situação fiscal da economia do país, medida pelos atributos: Sustentabilidade Fiscal dos Beneficiários e Sustentabilidade Fiscal da Política Pública. Este esforço objetivo complementar o estímulo da República à oferta de novos postos de trabalho suportados por expansão dos investimentos privados domésticos e externos. Amaurota, 31 de dezembro de 1999 O Quadro 4, página seguinte, resume o cenário e as metas definidas na Lei N° 100 de 31/12/1999: FGV/EBAPE, Programa de Estudos Administração Brasileira, Biblioteca Virtual de Administração Brasileira 12 Nível Sintético Nível Intermediário Nível Analítico Situação Dimensão Sócio-Cultural (S) Atributo Indicadores de Sucesso E x -Ante Nível de Educação (Se) Emprego (Sr) Adequação Política (Pa) Política (P) Mediana dos Anos Escolaridade da População com [18; 35] anos de idade (See) Mediana Ideal dos Anos Escolaridade da População com [18; 35] anos de idade (Set) 7,2 anos 8,0 anos Gasto efetivo do Governo com Seguro Desemprego (Sre) $ 20,6 x 106 Receita Governamental com Seguridade Social (Sr t) $ 40 x 109 Adequação política efetiva da ação de governo (Pa e) 43,7 % Adequação política prevista (Pat) 55,0 % Satisfação efetiva dos beneficiários com a Propriedade Política ação de governo (Ppe) (Pp) Satisfação dos beneficiários prevista (Ppt) 40,6 % 55,0 % Sustentabilidade Fiscal dos Beneficiários (Eb) Econômica (E) Sustentabilidade Fiscal da Política Pública (Ef) Tributos efetivos provenientes dos beneficiários (Ebe) Tributos aplicados nas ações de governo destinadas aos mesmos beneficiários (Ebt) Valor efetivo dos benefícios disponibilizados pelas ações de governo (Efe) $ 48,3 x 109 $ 3,2 x 109 $ 3,9 x 109 Valor contábil das mesmas ações de governo (Eft) $ 2,4 x 109 QUADRO-RESUMO DOS CENÁRIOS EDUCACIONAL / EMPREGOS NA REPÚBLICA DA UTOPIA ANTES DA IMPLEMENTAÇÃO DA POLÍTICA PÚBLICA DEFINIDA PELA LEI N° 100 DE 31/12/1999 QUADRO 4 3.2. A Situação ao Final do Quadriênio de Implementação da Lei N° 100 O Quadro 5, a seguir, apresenta o resultado da avaliação de impacto da política pública definida pela Lei N° 100, ao final do quadriênio 1999 – 2003: FGV/EBAPE, Programa de Estudos Administração Brasileira, Biblioteca Virtual de Administração Brasileira 13 Nível Sintético Nível Intermediário Nível Analítico Situação Dime n s ã o Sócio-Cultural (S) Atributo Indicadores de Sucesso Ex-Post Nível de Educação (Se) Emprego (Sr) Adequação Política (Pa) Política (P) Mediana dos Anos Escolaridade da População com [18; 35] anos de idade (See) Mediana Ideal dos Anos Escolaridade da População com [18; 35] anos de idade (Set) 7,7 anos 8,0 anos Gasto efetivo do Governo com Seguro Desemprego (Sre) $ 19,1 x 106 Receita Governamental com Seguridade Social (Sr t) $ 39,6 x 109 Adequação política efetiva da ação de governo (Pae) 43,9 % Adequação política prevista (Pat) 56,4 % Satisfação efetiva dos beneficiários com a Propriedade Política ação de governo (Ppe) (Pp) Satisfação dos beneficiários prevista (Ppt) 47,9 % 57,3 % Sustentabilidade Fiscal dos Beneficiários (Eb) Econômica (E) Sustentabilidade Fiscal da Política Pública (Ef) Tributos efetivos provenientes dos beneficiários (Ebe) Tributos aplicados nas ações de governo destinadas aos mesmos beneficiários (Ebt) Valor efetivo dos benefícios disponibilizados pelas ações de governo (Efe) $ 52,4 x 109 $ 3,8 x 109 $ 5,9 x 109 Valor contábil das mesmas ações de governo (Eft) $ 3,7 x 109 QUADRO-RESUMO DA SITUAÇÃO EDUCACIONAL / EMPREGOS NA REPÚBLICA DA UTOPIA APÓS A IMPLEMENTAÇÃO DA POLÍTICA PÚBLICA DEFINIDA PELA LEI N° 100 DE 31/12/1999 QUADRO 5 Considerando as singularidades da conjuntura social, econômica e política da Ilha – cada vez mais comprometedoras do ideal de fundação do Estado utopiano -, e seus determinantes históricos, os analistas de políticas públicas do governo adotaram as seguintes ponderações para os coeficientes ambientai40s utilizados na avaliação do impacto das ações de governo deflagradas com a implementação da Lei N° 100: a – peso da dimensão Sócio-Cultural (S) = 50 ß - peso da dimensão Política (P) = 30 ? - peso da dimensão Econômica (E) = 20 d - peso do atributo Nível de Educação Se) = 30 FGV/EBAPE, Programa de Estudos Administração Brasileira, Biblioteca Virtual de Administração Brasileira 14 e - peso do atributo Emprego Sr) = 70 ? - peso do atributo Adequação Política (Pa) = 50 ? - peso do atributo Propriedade Política (Pp) = 50 ? - peso do atributo Sustentabilidade Fiscal dos Beneficiários (Eb) = 60 ? - peso do atributo Sustentabilidade Fiscal da Política Pública (Ef) = 40 De acordo com a metodologia de análise de políticas públicas adotada, tais variáveis devem adequar-se ao momento histórico e às características situacionais do contexto objeto da transformação colimada, como já visto. A aplicação das variáveis constantes dos Quadros 4 e 5 e seus ponderadores ao modelo de avaliação proposto neste artigo nos leva aos seguintes valores e interpretações: As medidas das dimensões Sócio-Cultural; Política e Econômica Ex-Ante foram, respectivamente: Se = 5,42; Pe = 0,77; Ee = 9,70 Enquanto as medidas das dimensões Sócio-Cultural; Política e Econômica, ExPost, são, respectivamente: St = 5,11; Pt = 0,81; Et = 8,91 A medida do Impacto da Política Pública (Lei No 100) na situação antes da mesma ser implementada era: Ippe = 488,10 O impacto medido pela avaliação dos mesmos indicadores com o emprego da mesma metodologia no instante ex-post, resulta: Ippt = 458,00. De acordo com a metodologia de análise aqui proposta o impacto da política pública (Lei No. 100) assume a expressão numérica do quociente: Ipp = Ippt / Ippe = 0.94. No item seguinte analisamos e discutimos o significado dos valores acima. 4. Analisando o Impacto da Lei No 100 de 31/12/1999 De modo geral a política pública não impactou significativamente as dimensões S e P (o que pode ser calculado dividindo-se, respectivamente, cada valor dos indicadores de sucesso, depois/antes). Esta constatação deve ser problematizada através questions du depart tais como: O que seria necessário (fazer melhorar na ação de governo) para tornar Se muito maior que St? Este mesmo raciocínio seria repetido para as dimensões P e E. Quais variáveis componentes de S, P e E, representadas na fórmula (modelo matemático), são mais sensíveis à ação de governo? Por que elas são mais sensíveis? Como se comportam tais variáveis? Que medidas administrativas elas requerem? FGV/EBAPE, Programa de Estudos Administração Brasileira, Biblioteca Virtual de Administração Brasileira 15 A Lei No 100 contempla (indica especificamente objetivos a serem alcançados. Estes objetivos foram efetivamente atingidos? Em que medida? Com que grau de satisfação para o público alvo? Como esta política pública contribui para uma avaliação política favorável do governo? A política pública implementadora da Lei Nº 100 foi parcialmente eficaz ao elevar em 6,94 % o atributo Nível de Educação (Se), contra uma previsão 11,11 %. Do mesmo modo, no atributo Emprego (Sr), foi atingida uma redução do Gasto Efetivo com o Seguro Desemprego (Sre) da ordem de 7,28 % quando o previsto era 8,42 %, alcançando deste modo 86,46 % da meta prevista na Lei. De modo análogo ao raciocínio acima devem ser analisados os indicadores de sucesso (nível analítico) e atributos (nível intermediário) das demais dimensões. É importante destacar que embora o impacto da Lei Nº 100 no atributo Sustentabilidade Fiscal dos Beneficiários tenha atingido 8,68 %, cerca de três vezes a concessão prevista (3,0 %), a metam não foi plenamente alcançada. Resta, assim, ao avaliador especializado aprofundar nos questionamentos: O que funcionou na PP? O que não funcionou? Por que funcionou ou não? Como funcionou a favor ou contra? O que fazer, então? 5. Conclusão A metodologia de avaliação da efetividade das ações de governo aqui proposta, além de endereçar à casuística do serviço público e aos determinantes históricos das sociedades em desenvolvimento, procura superar a situação de acomodação a uma cidadania induzida e prestações de contas obrigatórias por parte das autoridades públicas. Antecipa, de forma fundamentada, uma nova era para a relação sociedadeestado, contribuindo para uma sensata ‘destruição construtiva’41 das instituições implicadas no processo de construção e consolidação de verdadeiras democracias propulsoras de desenvolvimento social, político e econômico centrado nos beneficiários obrigatórios das ações de governo – os cidadãos. Graças aos avanços disponibilizados pelos sistemas de comunicação mediados pela microeletrônica, tornou-se viável para uma nova geração de cidadãos conectados em rede mundial cogitar sobre a cobrança de melhores desempenhos das administrações públicas. Os sistemas decisórios praticados nas atividades de planejar, organizar, dirigir e controlar empreendimentos sofisticados, típicos das ações de governo orientadas para o desenvolvimento, pode passar a disponibilizar informações reveladoras das competências gerenciais dos agentes estatais. Essa nova realidade deve ser suportada por uma metodologia de avaliação objetiva, focada na congruência entre o discurso dos dirigentes do Estado e as correspondentes realizações, todas, necessariamente, passíveis de medição, discussão e julgamento. Nesse contexto de cidadania dinâmica e democrática, a avaliação de impacto das ações de governo, dispondo de informações mais precisas sobre diferentes cenários, públicos, privados ou mistos, configura-se como instrumento gerencial estratégico para o Estado e a sociedade enfrentarem, ambos, o desafio de rompimento com a submissão às tendências históricas – renovando e inovando, destruindo e construindo – mediante corajosa formulação, implementação e avaliação de transformações permanentes das condições atuais das sociedades em acelerado processo de mudança. FGV/EBAPE, Programa de Estudos Administração Brasileira, Biblioteca Virtual de Administração Brasileira 16 Os tempos atuais são de inclusão consciente, democrática e responsável dos cidadãos nas decisões de governo – quer as domésticas como as internacionais – para a formulação de uma nova ordem global. Em todo o mundo42 as políticas públicas e sua pertinente avaliação têm merecido aguda atenção. Mesmo nas sociedades mais desenvolvidas, a consulta popular pode ser considerada uma prática em desenvolvimento,43 no que concerne a ouvir o cidadão sobre sua satisfação com as ações de governo e sobre quais políticas públicas ele priorizaria na agenda. As premissas inspiradoras dos novos paradigmas mundializados, lembrados na introdução deste documento, deixam aberto um caminho para os gestores capazes de exceder os limites da administração legislada e exercê-la com o profissionalismo requerido dos políticos e governantes dotados das competências que o novo século cobra como, por exemplo, aquelas especificadas por Dror44: § Intervir em processos históricos; § jogar politicamente fazendo escolhas críticas que irão modelar o futuro; § apoiar e impelir processos sociais criativos e evolutivos; § arquitetar ativamente as estruturas e processos sociais rumo à inovação; § lidar habilmente com complexidades crescentes, além da compreensão disponível; § escolher prioridades entre valores ambíguos e em constante mudança; § mobilizar apoio para uma dolorosa e inevitável destruição construtiva. É, precisamente, com esses conceitos e valores que propomos a metodologia objeto deste ensaio e que, esperamos, ela possa contribuir para o desenvolvimento e progresso da humanidade neste mundo de tão insuportáveis diferenças, desperdícios, prepotência e aneticidade. Notas 1 SARAVIA, 1993. Há trinta anos Jan Drewnoski realizou um estudo extenso sobre a medição da qualidade de vida, publicado em On measuring and planning the quality of life. The Hague: Mouton, 1974. 3 CAMPOS, 1990 : 30-50. 4 CRISTOFOLETTI, 1972. 5 O Fórum Social Mundial realizado de 25 a 30 de janeiro de 2001, em Porto Alegre-RS, Brasil.. < www.fittel.org.br/formacao/forum_social/fms.htm>. 6 SOUZA SANTOS, 1996. 7 FRANCO, 1992. 8 LOBATO, 1997: 30-48. 9 Ação de governo que se suporta exclusivamente pelos efeitos ‘pirotécnicos’ que provoca. 10 DROR, 1982. 2 FGV/EBAPE, Programa de Estudos Administração Brasileira, Biblioteca Virtual de Administração Brasileira 17 11 SUBIRATS, 1989. FRANCO, Rolando; COHEN, Ernesto, 1992. 13 WARREN, Ilse S-; FERREIRA, José M. C. (orgs), 2002. 14 HOOD, Christopher C., 1976. 15 SEN, Amartya, 1979 e 1970. 16 FREYRE, Gilberto, 1983. 17 SOUZA SANTOS, 1996. 18 . RIGGS, Fred W., 1964. 19 MOTTA, 1997. 20 CAMPOS, Anna M., 1990. 21 PINTO, Luiz F. da S. Sagres, 2000. 22 CARDOSO e FALLETO, Fernando H. e Enzo, 1981. 23 MARINI, Ruy M., 1982. 24 MONTEIRO, Jorge V., 1997. 25 ARRUDA, José J.; Fonseca, Luís A. da (orgs)., 2001. 26 BARAN, Paul A., 1977. 27 DELORS, Jacques, 1971. 28 AMARAL, João F. do et all., 1992. 29 FURTADO, Celso., 1980. 30 GINI, Corrado, 1914. 31 HISCH, Fred, 1979. 32 SANTOS, Theotônio dos, 1977. 33 SIMONSEN, Mario H., 1978 e 1992. 34 CREJEIRA, Carlos A. et all., 1982. 35 Utopia, do grego outopos: lugar nenhum. 36 Eutopos, do grego: lugar melhor. 37 Barzame ou Príncipe; mais alto magistrado local. 38 Ou Sifograntes, do grego: que amam; eleitos anualmente pelos membros de um conjunto de trinta famílias. 39 Ver a forma de organização de governo da Utopia em: MORE, 1972. 40 Ver item 2.3.1. 41 SCHUMPETER, Joseph, 1989 e 1951. 42 Veja-se, por oportuno, o pensamento de HENDRICH, Klaus-Jürgen, 1996. 43 No Brasil tem-se procurado educar o cidadão de forma a convencê-lo quanto à necessidade do seu envolvimento com o tema do orçamento público. Iniciativas como a do BNDES no endereço <www.federativo.bndes.gov.br/dicas/D092%20-%20Orçamento%20participativo.htm> disponibilizam conceitos e metodologias para cidadãos individualmente ou através organizações sociais se integrarem no balance da relação sociedade-estado. 44 Dror (Op.Cit.) observou existirem duas pré-condições para implementar este estilo de administração pública: (1) obter apoio político; (2) conseguir que os líderes políticos tomem parte ativa no movimento rumo a uma administração pública tipo delta. 12 Bibliografia AMARAL, João F. do et all. The Portuguese economy towards 1992. Boston: Kluwer, 1992. ARRUDA, José J.; Fonseca, Luís Ada. (orgs). Brasil-Portugal: História, agenda para o milênio. Lisboa: ICCTI, 2001. BARAN, Paul A. A economia política do desenvolvimento. Rio de Janeiro: Zahar, 1977. CAMPOS, A. M. Accountability: quando poderemos traduzi-la para o português? in Revista de Administração Pública. Rio de Janeiro: FGV, 1990, 24 (2): 30-50. 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